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"Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos.)

Com esta primeira estrofe, podemos dizer que está presente o epicurismo (Se é impossível evitar a morte
mesmo que a vida continue até lá, é preciso aproveitar todo o tempo que se tem), Por meio da expressão
“que a vida passa”, o sujeito poético propõe à pastora Lídia sentar-se com ele para observar o decorrer
da vida, colocando o curso do rio como metáfora do passar da vida.

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida

Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,

Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

Nesta segunda estrofe, podemos ver a importância do pensamento para o sujeito poético, e no segundo
verso, dá nos a entender que o fluxo da vida é sem volta, assim como o rio segue o seu fluxo para o mar,
ou seja, a vida caminha rumo à morte.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.

Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes.

Na terceira estrofe, propõe à pastora que desenlacem as mãos, assim, não se amando pois o fim será
sempre a morte, acabando por aceitar as leis do destino pois nada vale a pena (Estoicismo) e que
pretende se afastar de tudo que possa causar dor e sofrimento, demonstrando o (epicurismo). No final do
segundo verso, está presente uma comparação e nos últimos dois versos há uma aliteração, com a
repetição dos som "S".

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,

Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,

Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

E sempre iria ter ao mar.

Nesta quarta estrofe, observa-se novamente o epicurismo.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,

Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,

Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Na quinta estrofe, apresenta a ideia de que o o sujeito poético, independentemente do que fizesse (trocar
beijos, abraços e carícias), a morte iria chegar, por isso, prefere apenas manter-se afastado de
sentimentos para quando chegasse a morte. Faz novamente a metáfora da vida com o rio.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as

No colo, e que o seu perfume suavize o momento -

Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,

Pagãos inocentes da decadência.

Na sexta estrofe, o sujeito poético contempla a natureza ao sentir o perfume das flores que se encontram
no colo da pastora. Ele diz para ser ela a pegar nas flores porque para ele, nada vale a pena.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois

Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,

Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.

Na sétima estrofe, o sujeito poético diz que se ele morrer primeiro, a Lídia terá lembranças dele que não
lhe causarão dor ou sofrimento, uma vez que viveram sem grandes sentimentos um pelo outro.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,

Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.

Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,

Pagã triste e com flores no regaço.

Na última estrofe, está presente a ideia de que, se a morte da Lídia fosse primeiro do que a do sujeito
poético, não o deixaria em sofrimento uma vez que era indiferente às paixões e amores. Está presente
também o eufemismo em que no verso "se for sombra antes" e "se antes do que eu levares o óbolo ao
barqueiro sombrio", suavizam a palavra morte.

Resumindo:

Neste poema, o sujeito poético propõe a Lídia, uma relação tranquila sem compromissos, em
conformidade com o epicurismo, que procura evitar as situações que causam dor ou sofrimento. Sem
envolvimento nem paixão, de forma a evitar possíveis emoções negativas provocadas pela separação
que a morte de um deles poderia trazer.

Tanto o epicurismo como o estoicismo estão presentes neste poema de Ricardo Reis:

· Se é impossível evitar a morte mesmo que a vida continue até lá, é preciso aproveitar todo o
tempo que se tem. (Epicurismo)

· Por outro lado, devemos viver com serena e disciplinada aceitação do destino, ou seja, aceitar a
morte como um fim. (Estoicismo)

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