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Corpo1
Escolhi para minha análise o poema “Corpo” de Sophia de Mello Breyner Andresen. Eu não
conhecia nenhuma das duas autoras, mas o poema chamou minha atenção por seu título.
Logo depois da primeira leitura, fiquei com mais curiosidade. Ao ler as primeiras estrofes, eu
pensei que o eu lírico estava falando de seu próprio corpo, mas quando cheguei à terceira
estrofe, duvidei. Fala realmente de seu próprio corpo ou está falando de alguém mais? Essa
dúvida pequena, mas importante, incitou-me a querer analisar o poema para tentar
esclarecer quem e para quem se fala nesses versos.
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BREYNER ANDRESEN, Sophia de Mello. Coral e outros poemas. São Paulo: Companhia das
Letras, 2018.
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Lara Pettignano
Literatura Feminina Portuguesa
Na segunda estrofe, as referências à infância continuam com as imagens dos joelhos, que
ainda não são marcados pelas quedas que acontecem ao longo da vida, escurecendo-os. O
espelho rasgado poderia significar que fala de sua própria infância indo embora, mas
também poderia estar falando de algum filho que está crescendo e afastando-se de seus
pais.
Já na terceira estrofe se evoca uma lembrança que convida a pensar que o eu lírico não
fala de si mesmo. A imagem que se descreve só pode ser uma lembrança de alguém mais,
já que não é possível uma pessoa ver-se as costas se não é através de um espelho.
A última estrofe muda essa primeira impressão de efemeridade que trazem as estrofes
anteriores. Pelo contrário, as palavras e imagens que evoca dão sensação de constância,
durabilidade e repetição, que também se acentua com a aliteração dos sonidos s/z. O
primeiro verso poderia estar fazendo referência ao nascimento: a nudez intensa, total, com
a que a pessoa vem ao mundo. O segundo verso refere-se ao crescimento, as sucessivas
ondas, os anos vividos ou as batidas que a vida tem dado a ela. O terceiro e último verso da
estrofe fecha o poema apontando de novo à serenidade e a constância a que refere-se o
primeiro verso, fazendo da leitura do poema uma leitura circular.
O final do poema alude ao mar, um tema recorrente na obra poética de Sophia de Mello
Breyner Andresen. Neste caso, a imagem do mar, referida pela desnudez e as ondas, tem
ligação com a memória.
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Lara Pettignano