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Resumo: Este artigo se propõe a analisar o poema “Inverno”, de Cecília Meireles, e correlacionar
com o pessimismo e a melancolia, características marcantes na produção poética da autora. Além de
comparar com o poema otimista “Assim eu vejo a vida”, de Cora Coralina, que se opõe à taciturnidade
de Meireles, mantendo uma postura sábia e realista, mas com certo lirismo em relação ao seu
cotidiano. Com o objetivo de evidenciar a existência de temas e perspectivas tão distintas durante a
mesma época literária.
Introdução
Cecília Meireles foi uma poetisa brasileira que nasceu no século XX, 1901, figura
feminina importante no Modernismo no Brasil, sua poesia correntemente transita entre a ideia
de efemeridade e eternidade, a solitude e a profundeza de sentimentos. Na sua obra poética
Viagem: Vaga Música há uma combinação entre a poesia e símbolos naturais, conjuntamente
com viagens marítimas a partir da idealização da poeta, incluindo a aproximação com o
movimento literário Simbolista, por seu subjetivismo, crenças e excesso de metáforas. O
poema “Inverno” presente no livro, refere-se já no título à uma estação do ano, mais fria entre
os doze meses e com dias curtos que escurecem mais cedo, contudo há poucas referências na
poesia sobre isso. Há, também, um distanciamento da autora em relação ao mundo criado em
Inverno, a voz do eu-lírico na segunda pessoa e o tempo verbal no pretérito perfeito
demonstram uma narrativa a qual se ocupa de um passado que se perpetua no presente.
Choveu tanto sobre o teu peito
que as flores não podem estar vivas
e os passos perderam a força
de buscar estradas antigas.
Parece haver referências a uma sucessão de eventos infortúnios que fizeram com que o
destinatário da poesia abandonasse qualquer resquício de esperança de se libertar de uma
característica inerente ao seu ser: a melancolia.
Em muitas noites houve esperança
abrindo as asas sobre as ondas.
Mas o vento era terrível!
Mas as águas eram tão longas!
Autora modernista e goiana, Cora Coralina deu início à suas produções literárias
quando era ainda adolescente, mas, apesar de ter sido reconhecida pelos intelectuais da época
- foi convidada para participar da semana de arte moderna de 1922 - não considerava a escrita
como sua profissão, antes de publicar seu primeiro livro, aos 75 anos. A temática de grande
parte de suas poesias está relacionada à acontecimentos do cotidiano, sempre carregados de
uma intensa profundidade.
Em contrapartida à visão melancólica de Cecília Meireles, em Assim eu vejo a vida,
de Cora Coralina, é possível perceber uma perspectiva bastante positiva em relação à vida. As
marcas de pronomes em primeira pessoa dão a impressão de que, nesse poema, o eu-lírico se
aproxima da autora, o poema se torna uma espécie de relato autobiográfico.
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher
No entanto, apesar de sua perspectiva otimista em relação ao mundo, o eu-lírico não
representa uma figura alienada no que se refere às adversidades da vida, reconhece seu
passado duro e desafortunado. Acredita que a vida tenha dois lados que se contrastam, mas
que são igualmente importantes, pois essas experiências o ensinaram a viver.
A vida tem duas faces:
Positiva e Negativa
O passado foi duro
Mas deixou seu legado
Saber viver é grande sabedoria
A pedra é um elemento que aparece no poema duas vezes e demonstra uma dualidade
de significados atribuídos à mesma palavra. Em um primeiro momento, a pedra aparece como
um objeto que oferece estrutura. O eu-lírico, como “pedra de segurança”, parece tentar
impedir que valores humanos (talvez já extintos para a sociedade) não se desmoronem para
ele. Posteriormente, a concepção de pedra reaparece, mas apresenta-se como um obstáculo/
problema, que precisa ser desviado e ultrapassado.
Aceitei contradições
Lutas e pedras
Além disso, durante todo o poema, é possível perceber o valor que é dado ao
conhecimento empírico, ou seja, como a experiência de ter nascido “em tempos rudes”,
permitiu que a autora aprendesse a agir melhor ao se deparar com os infortúnios que aparecem
com a realidade da vida. Especialmente nos versos finais do poema, fica claro que todas as
suas vivências lhe geraram sabedoria.
Conclusão
O poema “Divisão” foi produzido a partir da dicotomia entre as duas ideias do anexo
neste presente trabalho, a obscuridade presente na poesia de Meireles e o desfecho favorável
de Cora Coralina. Além de tentar ao máximo se aproximar de símbolos que representassem
sentimentos.
Divisão
A chuva caia
sob a janela do meu quarto
e transformava em vidro
o meu retrato
E no caminho néscio
a esperança desmoronava
mas vi na minha desilusão
a mão estendida de um querubim
Encontrei forças e,
pelas frestas de minha alma maltratada,
brotaram raios de respladêcencias.
Referências bibliográficas
CORA, Coralina. “Assim eu vejo a Vida”. In: Folha de São Paulo, São Paulo, 4 jul. 2001.
Folha Ilustrada
MEIRELES, Cecília. “Inverno”. In: Viagem: Vaga música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1982, p. 40
MELO, Maria Ivone Souza. Moínho do tempo: todas as vidas em Cora Coralina. Porto
Alegre, 2011.
Anexo
Inverno
Choveu tanto sobre o teu peito
que as flores não podem estar vivas
e os passos perderam a força
de buscar estradas antigas.