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Unidade II
5 LIPÍDEOS
Os lipídeos são substâncias químicas relativamente apolares e, por isso, apresentam a característica
de serem solúveis em substâncias apolares (lipossolubilidade) ao mesmo que tempo não são solúveis em
água (hidrofóbicas), devido ao fato de a água ser um solvente polar. Em geral, os lipídeos são solúveis
em solventes orgânicos como, por exemplo, em acetona, álcool isopropílico, éter, clorofórmio e benzeno.
Quimicamente, pode‑se conceituá‑los como sendo ésteres de ácidos graxos, ou seja, substâncias
químicas obtidas a partir da reação entre um ácido graxo (composto orgânico que contém um
grupamento carboxila, COOH ou COO‑, na extremidade da cadeia carbônica que o caracteriza como um
ácido carboxílico cujo número de átomos de carbonos na cadeia carbônica é ≥ 4, como mostra a figura a
seguir) e um álcool (compostos orgânicos que possuem pelo menos uma hidroxila ligada a um carbono).
O
H3C (CH2)16 C ou C17H35 COOH
OH
Entre os álcoois importantes no que diz respeito aos lipídeos, pode‑se destacar o propanotriol ou
glicerol, popular e erradamente chamado de glicerina, já que o sufixo “ina” se refere às aminas e não
aos álcoois, e cada uma das três hidroxilas são capazes de reagir com três ácidos graxos para formar o
triacilglicerol ou triglicerídeo (figuras a seguir).
H H H
H C C C H
OH OH OH
H2C O H H O C C17H35
O
HC O H+H O C C17H35
O
H2C O H H O C C17H35
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
H2C O C C15H31
O
HC O C C15H31
O
H2C O C C15H31
Apesar de serem vistos como substâncias químicas ruins ou danosas, os lipídeos exercem diversas e
importantes funções, entre as quais podemos destacar:
• Fornecimento de energia para as células ou estoque energético: uma vez que os ácidos graxos
armazenam uma quantidade de energia muito superior à quantidade de energia encontrada nos
carboidratos, 1 g de lipídeo libera mais que o dobro de energia, cerca de 9 kcal/mol e 1 g de
carboidrato ou de proteína que libera 4 kcal/mol. Os lipídeos são insolúveis em água, o que faz
com que sejam armazenados de maneira mais concentrada do que os carboidratos, pois esses são
hidratados e, portanto, ocupam maior volume dentro da célula.
• Isolante térmico: em geral, a gordura é armazenada em células que se localizam abaixo da pele,
em uma camada chamada de hipoderme.
Observação
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Unidade II
Observação
Não se sabe ao certo a causa dessa doença, mas há indícios que sugerem
que a predisposição genética, a exposição a algum agente ambiental e até a
exposição a alguns vírus podem ter relação com o início da doença.
• Proteção mecânica: funciona como se fosse um suporte mecânico para alguns órgãos internos,
protegendo‑os contra choques e traumatismo.
• Função estrutural: exercida pelos fosfolipídeos, principais componentes das membranas celulares.
Quimicamente, os ácidos graxos possuem uma característica importante no que diz respeito
à polaridade, o caráter anfipático. Tal característica está relacionada ao fato de os ácidos graxos
apresentarem um grupo carboxila, que representa a parte polar da molécula (esquematizado por
um círculo), e a cadeia carbônica, que quanto mais longa for, maior será o seu caráter apolar
(representada como zigue‑zague ou simplesmente uma linha reta com um círculo na extremidade).
Assim, pode‑se entender que entre a polaridade do grupo carboxila e a apolaridade da cadeia
carbônica prevalece a característica apolar, uma vez que os ácidos graxos apresentam uma baixa
solubilidade em água. Ou seja, anfipático é ter uma parte polar e outra apolar na mesma molécula,
como mostra a figura a seguir.
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
No que diz respeito às propriedades físicas dos ácidos graxos, pode‑se estudar o ponto de fusão
(temperatura na qual uma substância passa do estado sólido para o estado líquido por meio da quebra
de ligações hidrofóbicas e intermoleculares), que depende diretamente da quantidade de carbonos que
compõem o tamanho da cadeia carbônica e da presença ou ausência de duplas ligações (insaturações).
Nesse sentido, pode‑se afirmar que os lipídeos que contêm maior cadeia carbônica, cadeia carbônica
saturada e maior quantidade de interações intermoleculares têm maior ponto de fusão. Por outro lado,
lipídeos que contêm menor cadeia carbônica, cadeia carbônica insaturada e menor quantidade de
interações intermoleculares têm menor ponto de fusão.
Assim, pode‑se afirmar que a temperatura na qual ocorre a fusão do lipídeo tende a diminuir com
o aumento do número de duplas ligações (insaturações) e aumenta com o aumento do número de
carbonos que constituem a cadeia carbônica.
Quanto aos tipos de ligações entre os carbonos da cadeia carbônica, de acordo com esse critério, os
ácidos graxos podem ser classificados mediante:
• Saturação: ácidos graxos saturados, quando apresentam somente ligações covalentes (formadas
a partir do compartilhamento de elétrons) entre os átomos de carbono, e insaturados, caso os
ácidos graxos apresentarem duplas ligações, que podem ser monoinsaturados e poli‑insaturados.
Além disso, as cadeias carbônicas dos ácidos graxos saturados são flexíveis e distendidas, enquanto
os ácidos graxos insaturados apresentam dobras rígidas na molécula no local da dupla ligação.
Existem ácidos graxos que não são produzidos bioquimicamente pelos seres humanos e devem ser
adquiridos da dieta. Eles são chamados de essenciais e são: ácido alfa linoleico (ALA), da família
ômega‑3, ácido linoleico (LA), da família do ômega‑6, e ácido araquidônico, que é um derivado do
ácido linoleico.
• Ponto de fusão de óleos e gorduras: de acordo com o estado físico, os lipídeos (ácidos graxos)
podem ser classificados como gordura ou óleo, sendo que as gorduras são ácidos graxos/lipídeos
que se apresentam no estado sólido em temperatura ambiente e são, geralmente, provenientes
de origem animal, como, por exemplo, a gordura de porco. Já os ácidos graxos/lipídeos que se
apresentam no estado líquido em temperatura ambiente são, normalmente, provenientes de
origem vegetal, são chamados de óleos e têm origem vegetal e animal.
A parte carboxila dos ácidos graxos, como é polar, tem afinidade por água (hidrofílica), e a parte
zigue‑zague ou reta, como tem carbonos e hidrogênios, é apolar e hidrofóbica (fobia significa medo
de água). Se forem colocados ácidos graxos na água (situação A) ou em um solvente apolar como
éter (situação B), os ácidos graxos se agrupam em estruturas chamadas micelas. Essa característica
explica a estrutura das membranas. No interior da célula há citoplasma, chamado de LIC, composto
basicamente de água, e no exterior líquido extracelular há o LEC, composto também basicamente por
água, ou seja, há água dentro e fora das células.
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Unidade II
A B C
Figura 41– Esquema de micela. A parte círculo, ou cabeça, é polar e se liga (se volta) a substâncias polares,
como a água; e as linhas conhecidas como cauda, que simbolizam a parte apolar, são hidrofóbicas (se escondem
da água). Então, pode‑se imaginar que a micela A está, por exemplo, em água e a micela B está em éter.
Em C há um esquema de uma membrana, pois há água dentro e fora da célula (dupla camada lipídica)
Pode‑se fazer as micelas em laboratório, com uma ou mais camadas fosfolipídicas, como as feitas
com lecitina, e inserir em seu interior ou encapsular substâncias hidrofílicas e/ou lipofílicas como
variados fármacos, inclusive para tratamento do câncer, terapia antimicrobiana, vacinas e agentes de
diagnóstico. Essas estruturas são chamadas de lipossomas, podendo ser absorvidas pela célula‑alvo
com libertação controlada e localizada, tornando o fármaco mais ativo no local onde é necessário
(compartimentos aquosos se for hidrofílico ou membranas se for hidrofóbico). Entre os lipossomas mais
encontrados em produtos cosméticos, pode‑se citar: lipossomas AE de vitamina A e vitamina E, utilizados
como hidratante, nutrição e antienvelhecimento da pele; lipossomas Coenzima Q10; lipossomas AHA; e
lipossomas pró‑capilar para controle da produção do sebo e alopecia.
Saiba mais
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
duplas ligações e podem ser chamados de essenciais, pois os seres humanos não conseguem colocar
as duplas ligações nesses locais. São representantes dessas famílias ou séries: série ômega‑3, com
ácido alfa‑linolênico (ALA), ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA); e série
ômega‑6, com ácido linoleico (LA) e ácido araquidônico (AA) (MOREIRA; CURI; MANCINI FILHO, 2002;
BORGES et al., 2017).
• Ômega‑3 (OM‑3): são ácidos graxos que apresentam diversas ligações duplas e poli‑insaturados,
sendo que a primeira ligação dupla pode ser encontrada nos terceiro e quarto átomos de carbono
(a primeira insaturação está entre 3 ºC e 4 ºC a partir do radical metila), tendo como ponto de
partida a extremidade oposta do grupo funcional, grupo ácido carboxílico que é a parte final da
cadeia carbônica. De modo geral, quando ingeridos, abaixam os triglicerídes e LDL‑colesterol e
aumentam o HDL‑colesterol, controlando doenças cardiovasculares inflamatórias e hipertensão.
Diversos estudos publicados demonstraram que dietas ricas em OM‑3 são capazes de diminuir a
intensidade do processo inflamatório (efeito anti‑inflamatório) e as disfunções e sequelas cardíacas
causadas pela ocorrência de infarto do miocárdio (YOKOYAMA et al., 2007; SCHACKY, 2018). Além disso,
foi observado que tais substâncias reduziram a taxa de mortalidade em pacientes com insuficiência
cardíaca (TAVAZZI et al., 2008; SCHACKY, 2018), assim como também houve redução da concentração
plasmática de diversas citocinas inflamatórias, como, por exemplo, o fator de necrose tumoral ou
tecidual (TNFα) e as interleucinas (IL‑1 e IL‑6), relacionadas à morte súbita em modelos animais de
epilepsia (CALDER, 2017; NEJM et al., 2015).
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Unidade II
Observação
O ácido araquidônico (AA) é um ácido graxo essencial, da família dos ômega‑6, formado por
uma cadeia de 20 carbonos com quatro duplas ligações (ácido eicosatetraenoico) nas posições 5, 8,
11 e 14, sendo caracterizado como 20:4 (5,8,11,14), que é liberado dos fosfolipídeos com a ajuda da
enzima fosfolipase A2. O AA pode ser substrato das enzimas lipo-oxigenase (LOX) e ciclo-oxigenase
(COX), e, entre os vários eicosanoides (moléculas derivadas de ácidos graxos com 20 carbonos das
famílias ômega‑3 e ômega‑6), pode‑se citar os LT (leucotrienos); entre os prostanoides, pode‑se
citar PG (prostaglandinas), PC (prostaciclinas) e TX (tromboxanos). Os eicosanoides ômega‑6 são
geralmente pró‑inflamatórios, enquanto os ômega‑3 exercem bem menos essa função. Para inibir
a inflamação caracterizada por dor, calor (febre), rubor (vermelhidão) e tumor (edema), deve‑se
ingerir medicamentos anti‑inflamatórios que podem ser AIEs (anti‑inflamatórios esteroidais ou
corticosteroides) e AINEs (anti‑inflamatórios não esteroidais). Os AIEs agem inibindo a enzima
fosfolipase A2, responsável pela formação de ácido araquidônico dos fosfolipídeos; já os AINEs
agem inibindo a enzima COX. Dessa forma, os anti‑inflamatórios apresentam propriedades
anti‑inflamatórias, analgésicas e antipiréticas (figura a seguir).
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
PL A2
Ácido aracdônico
LOX COX
LT PG, PC, TX
O
COOH
OH OH
Prostaglandina E1 (PGE1)
• Ômega‑9: ácido graxo monoinsaturado, ou seja, contém apenas uma insaturação entre o 9 ºC
e o 10 ºC. Não é um ácido graxo essencial, já que pode ser sintetizado pelo organismo humano
a partir da ingestão do ômega‑3 e ômega‑6. O nome ômega‑9 significa uma ligação dupla C=C
no nono carbono a partir da extremidade oposta à carboxila. É importante para a regulação da
temperatura do corpo, produção de hormônios sexuais, como o estrogênio e a progesterona, e
contribui para o aumento da absorção de vitaminas A, D, E e K no corpo. Os alimentos que os
contêm são: sementes de girassol, avelã, macadâmia, óleo de soja, azeite, amêndoa e nozes. Um
dos mais importantes é o ácido oleico (18 carbonos). O ômega‑9 é muito indicado para quem
pratica exercícios regularmente, pois é uma ótima fonte de energia.
Várias são as reações entre ácidos graxos/lipídeos, mas aqui serão estudadas apenas a esterificação,
a saponificação, a hidrogenação e a halogenação.
5.1.2.1 Esterificação
Reação em que se forma um éster. Essa reação ocorre quando um ácido carboxílico (ácido graxo) se
une a um álcool (glicerol), formando um éster e água. Na figura anterior, chamada Estrutura química
de um triglicerídeo e formação de um éster, pode‑se observar a reação e o grupamento característico
desse grupo de substâncias.
5.1.2.2 Saponificação
Reação inversa da esterificação. É uma reação de hidrólise (quebra com auxílio de água) em
meio alcalino (básico), formando um sal orgânico (sabão) e um álcool. Esse processo é utilizado
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Unidade II
HC OOC R’ + 3NaOH
H2C OOC R”
Glicéride
H2C OH R COO-Na+
HC OH + R’ COO-Na+
H2C OH R” COO-Na+
Glicerol Sabões
5.1.2.3 Hidrogenação
Reação com o hidrogênio. Quando óleos vegetais líquidos e insaturados são transformados em
gorduras sólidas (mais estáveis à temperatura ambiente), pela reação de hidrogenação (quebra das
duplas ligações com a entrada de hidrogênio nesse local), podem produzir um tipo de gordura conhecida
como “ácidos graxos trans” ou “gordura trans” (resultado da adição do hidrogênio na dupla ligação do
óleo, sendo que os hidrogênios não ficam do mesmo lado, mas na transversal, ou seja, trans, se ficar
do mesmo lado, se chama gordura cis.
Grande parte dos alimentos processados contém muita gordura, principalmente a do tipo hidrogenado
(figura seguir).
Saturado Gordura
H2
Insaturado Óleo
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
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Unidade II
Saiba mais
5.1.2.4 Halogenação
É caracterizada pela adição de halogênios (F2, Cl2, Br2 e I2) nas insaturações dos ácidos graxos presentes
em óleo vegetais e gorduras. Portanto, o índice de iodo (chamado de II) é a medida da quantidade de
insaturações de uma gordura ou óleo, e os resultados são dados como massa de iodo (em gramas), que
reage com 100 gramas de amostra. As gorduras insaturadas têm II maior do que as gorduras saturadas;
assim, gorduras moles têm II maior.
A importância do II na indústria é grande, pois por meio dele pode‑se determinar o teor de ácidos
graxos insaturados, controlar o processo de hidrogenação, verificar adulteração no óleo/gordura (por
exemplo, permite dizer se o produto analisado é apenas azeite de oliva ou se foi adulterado com a
adição de outros tipos de óleo mais baratos que o azeite) e medir a rancidez (rancificação é a hidrólise
de gorduras e óleos ou oxidação quando expostos ao ar, à luz ou à umidade ou por ação bacteriana,
resultando em sabor e odor desagradáveis).
5.1.3 Classificação
Para melhor estudar os lipídeos, pode‑se classificá‑los em duas classes mediante sua complexidade:
simples e compostos. Alguns autores colocam mais uma classificação: simples, compostos e lipídeos
derivados, substâncias produzidas na hidrólise ou na decomposição dos lipídeos, como os ácidos graxos
saturados e insaturados, o glicerol e os esteróis.
Os ácidos graxos insaturados possuem dupla ligação na molécula, e os saturados possuem ligação
simples. Os lipídeos que apresentam nas suas fórmulas moleculares somente átomos de carbono,
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
hidrogênio e oxigênio são chamados de simples, enquanto os compostos são aqueles que apresentam
nas suas fórmulas moleculares átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio e outros átomos ou grupos
químicos, por exemplo, carboidratos ou fosfato ou ainda outra substância.
Em função de seu elevado teor energético e por serem insolúveis em água, o organismo é capaz
de armazená‑los em quantidade muito maior (e em volume mais compacto) que o glicogênio. Caso
o TG tenha apenas AG saturados, podem ser chamados de gordura, são de origem animal e estão no
estado sólido ou pastoso a temperatura ambiente. Caso tenha AG insaturados, podem ser chamados
de óleos, que são líquidos em temperatura ambiente (25 ºC), e podem ser de origem vegetal (soja,
milho, girassol, canola, oliva) ou de origem animal (óleo de peixe).
Observação
Por sua vez, os cerídeos são lipídeos compostos por um álcool de cadeia longa (chamado de álcool
superior) e AG. Podem ser fabricados por plantas (presentes em frutos e folhas) e animais (abelhas,
aves aquáticas e outros animais). No caso dos vegetais, a função primordial é de impermeabilização,
ou seja, a de evitar a perda excessiva da água no processo de evaporação (por exemplo:
C15H31 – COOC26H53 – palmitato de cerila encontrada na cera de carnaúba). Em animais como as aves,
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Unidade II
a função é de impermeabilizante das penas das aves aquáticas para permitir que elas nadem sem afundar;
para os seres humanos, o cerume (cera de ouvido) protege contra a proliferação de microrganismos e
nas abelhas encontradas nos favos das colmeias (C25H51 – COOC15H31 – cerotato de cetila, formadora da
cera de abelhas). As ceras podem ter outras aplicações práticas, como na fabricação de velas, ceras de
assoalhos, graxas para sapato, moldes dentários etc.
C15H27COO C H O
+
H2C O P O CH2 CH2 N(CH3)3
O-
Uma lecitina
ácido graxo
glicerol
esfingosina
ácido graxo
ácido graxo
colina — ácido
fosfoglicerídeo fosfórico
6 COLESTEROL
O colesterol é caracterizado como um tipo de gordura, pois suas características físico‑químicas são
semelhantes às dos lipídeos, mas, literal ou bioquimicamente falando, não o é. O lipídeo é um éster de
ácido graxo por definição, enquanto o colesterol é um álcool policíclico de cadeia longa, composto por
27 átomos de carbono, possuindo o núcleo ciclopentanoperidrofenantreno (figura a seguir), sendo o
principal esterol sintetizado pelos animais e classificado como esteroide. É encontrado nas membranas
celulares e transportado no plasma sanguíneo de todos os animais. Os vegetais sintetizam um esterol
parecido com o colesterol chamado fitosterol, e os fungos produzem o ergosterol, um esterol que é
precursor da vitamina D2.
CH3
CH3
CH CH2 CH2 CH2 CH
CH3 CH3
CH3
HO
Colesterol
Como o colesterol não pode ser dissolvido ou solubilizado pelo sangue, proteínas chamadas
lipoproteínas o transportam pelo sangue até vários órgãos.
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Unidade II
Alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras e legumes, alimentos integrais, aveia, amaranto,
quinoa e chia (linhaça e peixes como sardinha, atum e salmão); azeite de oliva extravirgem e óleo de
coco; e tubérculos, como inhame, mandioquinha e batata‑doce, além de conterem ômega‑3, também
apresentam quantidade de colesterol baixa, fato que protege o corpo contra os efeitos deletérios do
colesterol (figura a seguir).
Figura 50 – Frutas, verduras e legumes são alimentos com baixa quantidade de colesterol
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
Lembrete
6.2 Função
O corpo utiliza o colesterol para produzir hormônios esteroides, que são agrupados em três classes:
Observação
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Unidade II
CH3
HO O
Estradiol Testosterona
Lipídeos
Proteínas
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
A vitamina D2 é de origem vegetal e pode ser encontrada em cogumelos (shitake e shimeji, por
exemplo). Durante muito tempo os pesquisadores acreditavam que as vitaminas D2 e D3 fossem
equivalentes e intercambiáveis, mas aparentemente a D2 possui uma bioeficácia menor do que a vitamina
D3, embora ambas ajudem a prevenir os efeitos de falta de vitamina D, como: problemas cardíacos,
osteoporose, câncer, gripe, resfriado e doenças autoimunes, como esclerose múltipla e diabetes tipo 1.
Em mulheres grávidas, a deficiência de vitamina D aumenta o risco de aborto, favorece a pré‑eclâmpsia
e pode elevar as chances de a criança ser autista.
Observação
Os ácidos biliares são a principal forma de excreção do colesterol, além de apresentarem funções
digestivas. Aproximadamente 95% dos ácidos biliares agem nas porções iniciais do duodeno, tendo
função de detergência, ou seja, emulsificando ou envolvendo os triglicerídeos da dieta, diminuindo sua
tensão superficial para que ocorra a quebra ou hidrólise pela lipase pancreática e liberem ácidos graxos
e glicerol. Os ácidos biliares são produzidos exclusivamente no fígado a partir do colesterol e agregados
à bile, podendo ser ligados aos aminoácidos glicina e taurina, formando os sais biliares e, logo após,
armazenados na vesícula biliar.
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Unidade II
Lembrete
6.2.1 Tipos
Pouco solúvel em água, o colesterol deve ser transportado na corrente sanguínea com a ajuda
de proteínas, as chamadas de apolipoproteínas, que são solúveis em água e levam tanto o colesterol
quanto os triglicerídeos para vários órgãos. As primeiras lipoproteínas a serem formadas após a absorção
de triglicerídeos se chamam quilomícrons (QM) e são formadas após os ácidos graxos passarem pelo
intestino e se ligarem à apolipoproteína chamada de apo B‑48. Quando os QM chegam ao fígado, liberam
a proteína apo B‑48 e se ligam à proteína apo B‑100, se transformando em lipoproteínas de densidade
muito baixa (VLDL), liberadas no sangue. Após chegarem ao fígado novamente são transformadas em
lipoproteínas de baixa densidade (LDL).
Quanto mais tempo o LDL fica no sangue, mais se oxida (LDLox), e os receptores das artérias se
ligam às partículas de LDLox e as colocam dentro do endotélio. A invaginação dessas partículas diminui
o tamanho do interior das artérias, dificultando a passagem do sangue, e por isso o LDL é chamado
de mau colesterol. Os monócitos, um dos tipos de glóbulos brancos presentes no sangue, atraídos
pelas partículas de gordura, se invaginam e penetram na parede dos vasos na tentativa de proteção ou
remoção dessas substâncias. Os monócitos, dentro do tecido, são denominados macrófagos e fagocitam
o LDLox. Infelizmente não conseguem digeri‑lo, incrementando essa placa de lipídeo (chamada de
ateroma), que diminui mais a luz (interior) do vaso, aumentando a pressão arterial no início do processo
de arteriosclerose, até bloquear a passagem de sangue.
O aumento da pressão arterial pode levar o indivíduo a ter um infarto ou um AVC (ou AVE). A
pressão máxima ou sistólica corresponde à contração do ventrículo esquerdo (sístole), que bombeia
sangue arterial para o interior da artéria aorta, com cerca de 120 mmHg (normalmente é mencionado
o valor 12). A pressão mínima ou diastólica ocorre quando o ventrículo esquerdo recebe sangue arterial
(diástole) do átrio esquerdo, e a pressão sanguínea no interior da artéria aorta diminui, correspondente
a cerca de 80 mmHg (normalmente é mencionado o valor 8).
Pode‑se medir a pressão arterial utilizando‑se o esfigmomanômetro, como mostra a figura a seguir.
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
Quando o corpo precisa de energia, o tecido adiposo libera triglicerídeos, que se movimentam no
sangue como HDL (lipoproteína de alta densidade, cuja proteína se chama A‑I) e chegam ao fígado para
gerar energia. Por exercer essa função, são também conhecidos como colesterol bom, pois resultam em
produção de energia, além de dificultar a entrada de LDLox no interior das artérias.
Lembrete
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Unidade II
Quando se tem alto LDL‑col ou VLDV‑col e baixo HDL‑col, pode‑se dizer que essa situação
se chama dislipidemia. Os altos níveis de colesterol no sangue (hipercolesterolemia) podem
levar ao entupimento das artérias, processo chamado de arteriosclerose, pois o colesterol se
infiltra no interior das paredes das artérias e, quando a artéria é obstruída, pode levar à menor
irrigação das células pelo sangue. Assim, recebe menos oxigênio nos tecidos, caracterizando
síndrome coronariana aguda, angina e infarto agudo do miocárdio (IAM), AVC, complicações
renais, trombose, entre outros.
• Origem genética ou hereditária: o histórico familiar deve ser acompanhado, por isso a prevenção
da hipercolesterolemia é tão importante.
• Sexo e idade: a mulher na menopausa tem o risco aumentado de colesterol alto ou LDL‑col.
Nesse período pouco hormônio feminino é produzido, e uma das suas funções é dar efeito
protetor à arteriosclerose.
• Obesidade: o índice de massa corporal (IMC) de 30 ou mais coloca uma pessoa em maior risco
de colesterol alto sanguíneo, apesar de algumas pessoas magras terem colesterol alto no sangue.
Essa situação pode ser explicada por terem carga genética favorável à tal descompensação.
• Sedentarismo: não fazer exercícios aumenta o risco de colesterol LDL alto e HDL baixo.
• Fumo: pode diminuir o colesterol HDL e deixar as paredes arteriais mais suscetíveis ao acúmulo
de colesterol LDL‑col em seu interior.
• Diabetes mellitus: pessoas com diabetes possuem baixos níveis de colesterol HDL‑col e níveis
elevados de colesterol LDL‑col, e a alta concentração de glicose no sangue pode danificar as
paredes das artérias.
• Alimentação: as dietas ricas em gordura (saturada ou gordura trans) e açúcar podem elevar o
LDL‑col e os triglicerídeos no sangue.
Todo paciente com colesterol elevado deve se submeter a dieta, praticar exercícios físicos regulares
e, se estiver acima do peso, emagrecer. As dietas ricas em frutas, verduras, legumes e grãos são as
mais indicadas, pois as fibras ajudam na redução das taxas de colesterol. Todos os alimentos de
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origem animal possuem colesterol, por isso deve‑se dar prioridade ao peixe grelhado ou assado em
vez de frito e ingerir leite e derivados com índices baixos de gordura, como leite desnatado, iogurte
desnatado e sorvetes light.
Resumo
Exercícios
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Unidade II
Fosfolipídio
Figura 54
Considere a seguinte afirmativa: “Há uma relação direta entre as taxas de colesterol no sangue e a
incidência de ateromas, tromboses e infartos”.
D) O aumento das taxas de colesterol depende somente da alimentação e não é influenciado por
fatores genéticos, estresse, fumo e diminuição da atividade física.
E) A afirmativa é incorreta, pois não há provas significativas que correlacionem os níveis de colesterol
com a incidência de tromboses e infartos.
A) Alternativa incorreta.
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BIOQUÍMICA ESTRUTURAL
B) Alternativa correta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: alta concentração de LDL e baixa de HDL significam maior risco de infarto.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: o aumento das taxas de colesterol depende da alimentação e é influenciado por esses
fatores citados.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. (UFSC 2006, adaptada) Proteínas são moléculas essenciais à vida, atuando como enzimas,
hormônios, anticorpos, antibióticos e agentes antitumorais, além de estarem presentes nos cabelos, na lã,
na seda, em unhas, carapaças, chifres e penas dos seres vivos. Em relação às proteínas, é correto afirmar que:
A) São biopolímeros constituídos de aminoácidos, os quais são unidos entre si por meio de
ligações peptídicas.
B) A produção dessas moléculas se dá sem gasto de energia pelos organismos, já que os aminoácidos
provêm da alimentação.
C) Todas as proteínas possuem peso molecular idêntico, característica especial dessas moléculas.
E) A grande variabilidade biológica dessas moléculas permite sua utilização para fins de identificação
pessoal, da mesma forma e com a mesma precisão que os exames de DNA.
A) Alternativa correta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: os aminoácidos não essenciais são produzidos pelo nosso organismo, enquanto os
aminoácidos essenciais devem ser ingeridos para que haja uma funcionalidade adequada do organismo.
Ainda assim, na junção desses aminoácidos para formar proteínas, ocorre gasto de energia.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: cada aminoácido possui sua própria cadeia carbônica, com tamanhos e pesos
moleculares diferentes, diferindo‑se uns dos outros.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: pessoas diferentes que não possuam parentesco podem produzir as mesmas proteínas.
Entretanto, não terão todos os genes parecidos. Com isso, não se pode dizer que o uso de comparações
proteicas entre indivíduos seja tão fidedigno quanto a comparação de seus DNAs.
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