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3/22/22, 11:07 AM jurisprudência.

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jurisprudência.pt

Supremo Tribunal
de Justiça
Processo

39/08.8GBPTG.S1
Relator

PIRES DA GRAÇA
Sessão

09 Julho 2015
Votação

UNANIMIDADE
Meio Processual

RECURSO PENAL
Decisão

REJEITADO O
RECURSO

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RECURSO PENAL PENA SUSPENSA

CONCURSO DE INFRACÇÕES

CONHECIMENTO SUPERVENIENTE

PENA ÚNICA PENA DE PRISÃO

MEDIDA DA PENA

IMAGEM GLOBAL DO FACTO

BEM JURÍDICO PROTEGIDO ILICITUDE

CULPA DOLO PREVENÇÃO GERAL

PREVENÇÃO ESPECIAL

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PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO

PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DO EXCESSO

Sumário

I  -   No concurso superveniente de crimes, nada


impede que na formação da pena única entrem
penas de prisão efectiva e penas de prisão
suspensa, decidindo o tribunal do cúmulo se,
reavaliados em conjunto os factos e a
personalidade do arguido, a pena única deve ou
não ficar suspensa na sua execução (se for
legalmente possível e caso se verifiquem os
respectivos pressupostos).

II -   Haverá que reflectir que apenas não é possível


considerar na pena única as penas suspensas cujo
prazo de suspensão já findou, enquanto não houver
no respectivo processo despacho a declarar
extinta a pena ou a mandá-la executar ou a ordenar
a prorrogação do prazo de suspensão. Na verdade,
no caso de extinção nos termos do art. 57.°, n.º 1,
do CP, a pena não é considerada no concurso, mas
já o é nas restantes hipóteses.

III -  Na determinação concreta da pena conjunta


importante será, a averiguação sobre se ocorre ou
não ligação ou conexão entre os factos em
concurso, a existência ou não de qualquer relação
entre uns e outros, bem como a indagação da
natureza ou tipo de relação entre os factos, sem
esquecer o número, a natureza e gravidade dos
crimes praticados e das penas aplicadas, tudo
ponderando em conjunto com a personalidade do
agente referenciada aos factos, tendo em vista a
obtenção de uma visão unitária do conjunto dos
factos, que permita aferir se o ilícito global é ou
não produto de tendência criminosa do agente,
bem como fixar a medida concreta da pena dentro
da moldura penal do concurso.

IV - Nos presentes autos o arguido foi condenado


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por acórdão do tribunal colectivo de cúmulo


jurídico das penas aplicadas em processos, nos
quais o arguido foi condenado pela prática como
co-autor de um crime de dano, p. e p. pelo art. 212°,
n.º 1, do CP, de um crime de dano qualificado p. e p.
pelos arts. 212.º, n.º 1 e 213.º, n.º 1, al. a), do CP, de
um crime de ofensa à integridade física
qualificada, p. e p. pelo art. 145.º, n.º 1, al. a), e n.º 2,
com referência aos arts. 143.º, n.º 1 e 132.º, n.º 2, al.
h), todos do CP, de dois crimes de ofensa à
integridade física, p. e p. pelos arts. 2.º, n.º 4, 260.º,
300.º, n.º 1 e 143.º, n.º 1, do Código Penal, e de um
crime de dano qualificado p. e p. pelos arts. 2.º, n.º
4, 26.º, 30.º, n.º 1 e 213.º, n.º 1, al. a), do CP, e como
autor de um crime de detenção de arma proibida,
p. e p. pelos arts. 2.º, n.º 1, al. az), 3.º, n.ºs 1 e 3, 5.º,
n.º 2, als. e) e g) e 86.º, n.º 1, al. c), da Lei 5/2006, de
23/02, de um crime de burla, p.p. pelo art. 217.º, n.º
1, do CP, de um crime de condução de veículo em
estado de embriaguez, p. e p. pelo art. 292.º, do CP,
de um crime de detenção de arma proibida, p. e p.
pelos arts. 86.º, n.º 1, al. c), com referência ao art.
3.º, n.º 6, al. c), ambos da Lei 5/2006, de 23/02 e um
crime de condução sem habilitação legal, p. e p.
pelo art. 3.º, do Dec. Lei 2/98, de 03/01, na pena
única de 6 (seis) anos de prisão e em 190 (cento e
noventa) dias de multa, à razão diária de € 5.00
(cinco euros), bem como na proibição de condução
de veículos motorizados, pelo período de 4 (quatro)
meses, nos termos do disposto no art. 69.º, n.º 1, al.
a), do CP.

V -   Considerando a natureza e gravidade dos


factos que ocorreram anualmente, por uma só vez,
em 2007, 2008, 2009 e 2010, as exigências de
prevenção geral na reposição contrafáctica das
normas violadas, as exigências de prevenção
especial, na dissuasão da reincidência, tendo
presente que o recorrente não desenvolveu
hábitos de trabalho, mantendo um estilo de vida
dependente, quer de apoios sociais, quer do apoio
de familiares, e perspectiva quando sair em
liberdade, reintegrar o agregado, uma vez que a
sua companheira continua a manifestar
disponibilidade para o acolher e apoiar, no
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Estabelecimento Prisional, tem vindo a manter um


comportamento adequado às normas
institucionais, denotando vontade para exercer
atividades ocupacionais e para adquirir
competências pessoais e formativas, aguardando a
sua admissão para frequentar a Escola - Curso EFA
Bl (1.º Ciclo), tendo presentes os limites da culpa
intensa na acção desvaliosa, levando em
consideração o conjunto dos factos e a
personalidade do arguido expressa nos mesmos,
atenta a moldura penal abstracta de entre 2 anos e
6 meses de prisão e 10 anos e 9 meses de prisão, e
entre 150 dias de multa a 230 dias de multa, a pena
única aplicada de 6 (seis) anos de prisão e em 190
(cento e noventa) dias de multa, à razão diária de €
5.00 (cinco euros), bem como na proibição de
condução de veículos motorizados, pelo período de
4 (quatro) meses, nos termos do disposto no art.
69.º, n.º 1, al. a), do CP, não se revela desadequada
ou desproporcional, sendo por isso, de manter.

Texto Integral

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça


_

No processo comum nº 39-08.8GBPTG, do 2º Juízo


da comarca de Portalegre, o tribunal colectivo
realizou a audiência de julgamento, a que alude o
artº 472º do CPP, para realização do cúmulo das
penas aplicadas ao arguido AA, devidamente id.
nos autos, após o que, proferiu acórdão em 14 de
Fevereiro de 2014, em que ao abrigo do disposto
nos arts. 77° nºs 1,2, e 3, e 78° nºs 1, e 2, do Código
Penal, o tribunal colectivo decidiu:
“A) Unificar as penas aplicadas ao arguido AA,
neste processo N° 39/08.8GBPTG e nos processos
nºs 4/07.2GEPTG, 18/09.8GCMDR, 42/09.0GTPTG e
15/08.0GEPTG, condenando-o na pena única de 6
(seis) anos de prisão e em 190 (cento e noventa)
dias de muIta. à razão diária de € 5.00 (cinco
euros). bem como na proibicão de conducão de

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veículos motorizados. pelo período de 4 (Quatro)


meses. nos termos do disposto no art. 69°. n° 1. al.
a), do Código Penal, sendo que o arguido deverá
entregar a carta de condução no prazo de dez dias
a partir do trânsito desta decisão, na secretaria
deste tribunal ou em qualquer posto policial, sob
pena de não o fazendo incorrer na prática de um
crime de desobediência e de o tribunal ordenar a
apreensão da referida carta nos termos do
disposto nos arts. 69°, nºs 1 e 3 do Código Penal e
500°, nºs 2 e 3, do Código de Processo Penal;
B) Determinar o cumprimento sucessivo da pena
de 8 (oito) meses de prisão a que o arguido foi
condenado no processo nº 127/11.9PECTR
C) Determinar que o período de prisão já sofrido
(e/ou o período de proibição de condução que já
tenha sido cumprido) seja descontado na pena
única ora fixada, nos termos do art. 78°, nº 1, in
fine, do Código Penal. “
Foram ordenadas as notificações e comunicações
legais,

Inconformado, recorreu o arguido para este


Supremo, que veio a proferir o acórdão de Julho de
2014, que decidiu: dar provimento ao recurso e
consequentemente, declarou nulo o acórdão
recorrido, nos termos do artº 379º nº 1 al. c) do CPP,
sobre a realização do cúmulo, devendo por isso,
ser reformulado, sem prejuízo da proibição da
reformatio in pejus (artº 409º nº 1 do CPP) tendo em
conta o disposto nos artºs 77º nºs 1 e 78º nºs 1 e 2 do
CP.,

Baixaram os autos, e oportunamente veio a ser


proferido na Instância o acórdão de 11 de Fevereiro
de 2015, que decidiu:
“A) Unificar as penas aplicadas ao arguido AA,
neste processo Nº 39/08.8GBPTG e nos processos
nºs 4/07.2GEPTG, 18/09.8GCMDR, 42/09.0GTPTG e
15/08.0GEPTG, condenando-o na pena única de 6
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(seis) anos de prisão e em 190 (cento e noventa)


dias de multa, à razão diária de € 5,00 (cinco
euros), bem como na proibição de condução de
veículos motorizados, pelo período de 4 (quatro)
meses, nos termos do disposto no art. 69º, nº 1, al.
a), do Código Penal;
B) Julgar integralmente cumprida a pena de multa
e a sanção acessória de proibição de condução de
veículos motorizados (arts. 78º, nº 1, in fine, e 81º, nº
1, do Código Penal);
C) Determinar o cumprimento sucessivo da pena
de 8 (oito) meses de prisão a que o arguido foi
condenado no processo nº 12/11.9PECTB.
 D) Determinar que o período de prisão já sofrido
pelo arguido seja descontado na pena única ora
fixada, nos termos do art. 78º, nº 1, in fine e 81º, nº 1,
do Código Penal.

            Sem tributação.


            Notifique.
             Remete cópia desta decisão ao Exmº(ª). Srº(ª)
Diretor(a) do Estabelecimento Prisional de Castelo
Branco.

            Após trânsito:


a) Remeta boletim ao registo criminal;
b) Remeta certidão desta decisão aos processos
identificados em 2) a 6);
            c) Remeta certidão desta decisão, com nota
de trânsito, ao TEP;
            d) Abra vista ao Ministério Público, tendo em
vista a liquidação da pena.

            Deposite (art. 372º, nº 5, do Código de


Processo Penal).”

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De novo inconformado, recorreu o arguido AA, para


este Supremo Tribunal, apresentando as seguintes
conclusões na motivação de recurso:
“Não teve o Douto Tribunal, salvo o melhor opinião,
em conta o fato de algumas penas já se encontram
extintas pelo cumprimento, e como tal não
deveriam ser mencionadas  para  a unificação das
penas.
Contudo, é de referir que a pena suspensa no
âmbito do Processo Coletivo  que corre termos na  
Comarca de Portalegre,  nº 4/07.2GE PTG., foi
revogada e da  mesma o arguido recorreu para o
Tribunal da Relação de Évora, como tal  não deveria
sequer ser mencionada neste Douto Acórdão.
“CÚMULO JURÍDICO. PENA SUSPENSA. Para haver
lugar a cúmulo jurídico de uma ou mais penas é
necessário que as mesmas tenham a mesma
natureza. Assim, estando em causa uma pena de
prisão efetiva e uma pena de prisão suspensa, não
poderá haver cúmulo jurídico, precisamente
porque são penas de natureza distintas. Com
efeito, a pena de prisão suspensa não se reconduz,
enquanto tal, a uma pena de prisão efetiva, não só
porque tem requisitos específicos de imposição,
como ainda porque tem, igualmente, regras
próprias de cumprimento, que podem abranger a
imposição de regras de conduta ou deveres
específicos, além das regras próprias de
revogação. Acima de tudo, distingue-se da pena
efetiva porque a sua imposição não priva o
condenado da sua liberdade, e cumular reclusão
com liberdade é operação que se mostra, em si
mesma, impossível. Por outro lado, ademais, uma
pena de prisão suspensa na sua execução não
pode ser objeto de cúmulo jurídico, uma vez que a
obrigatoriedade de cumprimento integral da pena
de prisão inicialmente fixada se mostra
incompatível com aquele instituto,
designadamente com a fórmula legal prevista para
a fixação da pena única.” in Acórdão Tribunal da
Relação de Lisboa, Acórdão de 11 Set. 2013,
Processo 108/08
Relator: ....
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Saliente-se que não se teve em conta as


declaraçoes do arguido e o relatório social
efetuado no EP de Castelo Branco onde este se
encontra e mantém um optimo comportamento.
O Arguido está profundamente arrependido de
todos os crimes que praticou, sabe que tem de
pagar a sua dívida para com a sociedade, pela sua
prática, mas acredita no futuro e é sua vontade
reestruturar a sua vida pessoal e familiar de forma
a integrar-se plenamente na sociedade
Logo que cumpra a sua pena, o arguido tenciona
reorganizar a sua vida, trabalhar e dar acima de
tudo uma vida confortável e equilibrada aos seus
filhos, pois sabe da importância desses factores no
desenvolvimento psíquico das crianças;
O Arguido porque sabe que a escolaridade é
essencial para a sua futura reintegração social
está também inscrito no Projecto Educativo
existente no Estabelecimento Prisional,
frequentando o com afinco todas as tarefas que
lhe são confiadas, por forma a adquirir o máximo
de habilitações literárias possíveis;
 Tem uma família numerosa e que está disponível
para lhe prestar todo o apoio possível na
reorganização e reinício da sua vida;
O Arguido ainda é muito jovem pelo que a sua plena
reintegração social, com a consequente
recuperação para a sociedade, ainda é possível;
-A condenação do Arguido numa pena única em
cúmulo Jurídico de 8  anos de prisão e 160 dias de
multa à taxa diária de € 5,00, o que não tem em
consideração de forma atenta todas as
circunstâncias supra expostas nem visa a
reintegração e reabilitação social do Arguido;
 Para que a reintegração e reabilitação social do
Arguido venha a ser uma realidade, não basta
apenas que aquele seja punido pelos crimes que
cometeu mas também que se tenha em
consideração a pessoa singular o seu
arrependimento e comportamento actual, sendo
imperativo que lhe seja dada outra oportunidade
de recomeçar;
Uma pena de 8 anos é demasiado “pesada” e longa
para que no fim do cumprimento da mesma ainda
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seja possível alcançar a almejada reintegração e


reabilitação social do Arguido.
Pelo que, salvo o devido respeito, existiu, também,
por parte do Tribunal “a quo” uma inadequada
ponderação de todas as circunstâncias pessoais e
de facto, quer passadas quer actuais, do Arguido,
conforme estabelecido no Art.º 77° n° 1 do Código
Penal;
Por tudo o supra exposto a decisão do douto
Tribunal “a quo” deveria ter sido necessariamente
no sentido de aplicar ao Arguido, em cúmulo
jurídico uma pena única de valor manifestamente
inferior;
Termos em que o Acórdão que efectuou o Cúmulo
Jurídico, ao Arguido e de que ora se recorre,
proferido pela Comarca de Portalegre, deverá ser
revogado e consequentemente ser aplicada ao
Arguido em Cúmulo Jurídico uma pena de prisão de
valor substancialmente inferior, e ser o mesmo
anulado no seu todo porque o mesmo engloba uma
pena ainda não  transitado em julgado.
No âmbito dos presentes autos, procedeu-se à
condenação do arguido, por cúmulo jurídico, na
pena unitária de 8 anos, resultante dos crimes
cometidos no âmbito de  todos os processos do
arguido supra referenciados. Assim, nos termos do
artº 77.º do Código Penal, tal constatação não deixa
evidenciar a injustiça da decisão;
A decisão viola o princípio da cumulação, por que
se regula o julgador na determinação da pena
única, ao abrigo do citado preceito
 Mais a mais, a pena de prisão de 3 anos aplicada ao
arguido, mas suspensa na sua pelo período de três
(3) anos, sob condição do pagamento de € 2500,00
(dois mil e quinhentos euros) condição que
cumpriu, já se acha extinta pelo cumprimento .
Por força do disposto no art 78.º do Código Penal, a
referida pena não podia ter concorrida para a a
determinação da pena única cujo Acórdão em que
foi decidida se acha agora em recurso;
O Acórdão violou os preceitos penais 77.º e 78º.e,
bem como os mais elementares princípios de
Direito Constitucional;

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Como é sabido, não é líquida a questão da


formação de uma pena única em caso de
conhecimento superveniente do concurso de
infracções, quando, entre outros, estão em
concurso, crimes pelos quais tenham sido
aplicadas penas de prisão suspensas na sua
execução, colocando-se o problema de saber se a
integração pressupõe ou não a anterior revogação
de tais penas aplicadas por decisões
condenatórias transitadas em julgado. Sendo que
no caso em apreço se encontra em recurso. 
Termos em que o Acórdão que efectuou o Cúmulo
Jurídico, ao Arguido e de que ora se recorre,
proferido pela Comarca de Portalegre, deverá ser
revogado e consequentemente ser aplicada ao
Arguido em Cúmulo Jurídico uma pena de prisão de
valor substancialmente inferior, e ser o mesmo 
anulado  no seu todo porque o mesmo engloba uma
pena ainda não  transitado em julgado.
 Assim se fazendo JUSTIÇA”

Respondeu o Ministério Público, através do Exmo


Procurador da República, à motivação do recurso,
concluindo:
A decisão do Tribunal “a quo” não violou qualquer
norma legal e foi correctamente aplicada face à
matéria de facto existente.
Revelando cuidadosa fundamentação, quer quanto
à matéria de facto quer no que concerne à matéria
de direito.
Expressando uma acertada subsunção dos factos
à lei.
E optando por pena única que se julga justa e
adequada face aos critérios consignados nos
artigos 71.º, 77.º e 78.º do Código Penal.
Louvando-nos, pois, no bem fundado do douto
acórdão recorrido somos de parecer que o recurso
dele interposto não merece provimento.
 Vossas Excelências, porém, com superior
apreciação e critério, farão, certamente,
Justiça.

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Neste Supremo, a Dig.ma Procuradora-Geral


Adjunta, emitiu douto Parecer no sentido de que
“enquanto não se mostrar revogada, por decisão já
insusceptível de recurso, uma pena de substituição
― seja ela a pena de multa prevista no artigo 43.º,
n.º 1 do CP ou outra pena de substituição ―, não é
possível fazer "renascer", fazendo executar, a pena
de prisão que fora substituída.”

Cumpriu-se o disposto no artigo 417º nº 2 do CPP.


Não tendo sido requerida audiência e cumprida a


legalidade dos vistos, seguiu o processo para
conferência:

Consta do acórdão sub judicio:


            “II. Fundamentação de Facto
            Está provado com interesse para a
discussão:

1- Neste processo que sob o nº 39/08.8GBPTG,


corre termos pelo 2º Juízo deste Tribunal Judicial
da Comarca de Portalegre, por acórdão proferido
em 16 de novembro de 2011, transitado em julgado
em 9 de setembro de 2013 (cf. fls. 1701), o arguido
foi condenado como coautor dum crime de dano, p.
e p. pelo art. 212º, nº 1, do Código Penal, na pena de
8 (oito) meses de prisão, como coautor dum crime
de dano qualificado p. e p. pelos arts. 212º, nº 1 e
213º, nº 1, al. a), do Código Penal, na pena de 2 (dois)
anos e 4 (quatro) meses de prisão e como coautor
dum crime de ofensa à integridade física
qualificada, p. e p. pelo art. 145º, nº 1, al. a), e nº 2,
com referência aos arts. 143º, nº 1 e 132º, nº 2, al. h),
todos do Código Penal, na pena de 1 (um) ano de
prisão. Unificada a pena, foi o arguido condenado
na pena única de 3 (três) anos de prisão efetiva.

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Tal condenação teve como fundamento a seguinte


factualidade:

“1- No dia 8 de Agosto de 2008, por volta das


18H30M, os arguidos AA, BB e CC, dirigiram-se ao
posto de abastecimento de combustível, sito em
Gáfete, área desta comarca de Portalegre, onde
estacionaram as duas viaturas que conduziam,
uma de marca Peugeot, de cor escura, outra, de
marca Ford, modelo Escort, de cor escura, sendo
que o rádio duma dessas viaturas emitia som –
música – em volume muito alto.

            2- O arguido DD encontrava-se, então, a


atender um cliente (EE) e porque o tom alto da
música lhe dificultava a audição e a comunicação
com o dito cliente, dirigiu-se aos arguidos acima
identificados e pediu-lhes que baixassem o volume
do rádio.

            3- Contudo, AA, BB e CC, não acataram


aquele pedido e de imediato, de comum acordo e
em conjugação de esforços, começaram a agredir
DD, desferindo-lhe vários murros, após o que se
envolveram os quatro em confronto físico.

            4- Entretanto, separaram-se, e CC dirigiu-se


a uma das viaturas enquanto dizia, “a gente acaba
já com ele”; “a gente mata-o já”. 

            5- Ouvindo estas expressões e convencido


que aquele arguido se dirigia ao carro para se
munir duma arma, DD refugiou-se numa
construção que funciona como escritório do posto
de combustível, onde se fechou à chave.

            6- Os arguidos CC, AA e BB dirigiram-se às


referidas viaturas, de onde retiraram uma marreta,
um pé de cabra e um ferro.

            7- Em seguida, cada um daqueles arguidos,


munido de cada um daqueles instrumentos, de
acordo com plano ali delineado, e em conjugação
de esforços, acorreram em direcção das bombas
de gasolina e partiram os vidros dos mostradores
digitais das bombas, causando prejuízos no valor
de, pelo menos, € 2.417,44 (dois mil quatrocentos e
dezassete euros e quarenta e quatro cêntimos).

            8- Os mesmos arguidos rodearam a viatura


pertencente a EE, de marca Renault, modelo 5, e
partiram com os ditos objectos, o vidro traseiro da
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viatura, dois vidros laterais, bem como o vidro da


frente e amolgaram, ainda, o respectivo capot,
causando prejuízos no montante de, pelo menos, €
375,00 (trezentos e setenta e cinco euros).

            9- Depois, aqueles mesmos arguidos


dirigiram-se a um jeep, de marca Hyunday, modelo
Galloper, com a matrícula ...-JZ, bem como a uma
carrinha, de marca Nissan, pertencentes à
sociedade “DD, Ldª”, da qual o arguido DD é sócio-
gerente, e com os instrumentos já referidos,
partiram os vidros das mesmas, causando
estragos no valor total de € 2.363,91 (dois mil
trezentos e sessenta e três euros e noventa e um
cêntimos).

            10- DD encontrava-se, então, refugiado no


interior do escritório e ouvia o barulho de vidros a
partirem-se. Apercebendo-se que estavam a partir
os vidros do jeep, e porque no interior do mesmo
se encontrava uma mala, na qual se encontrava
uma arma de que era proprietário, aquele arguido,
com medo que qualquer dos outros arguidos a
pudesse encontrar e a vir a utilizar contra si, saiu
do escritório e dirigiu-se à dita viatura, de onde
logrou retirar a mala onde se encontrava a arma.    

            11- Nesse momento, e quando DD se


preparava para voltar a entrar no escritório, CC,
logrou aproximar-se dele e usando a marreta que
empunhava, bateu-lhe com a mesma na zona
lateral esquerda do tronco.

            12- DD conseguiu entrar de novo no


escritório, com a mala onde se encontrava a arma,
e fechar a respectiva porta, à chave, tendo CC
batido por diversas vezes com a marreta na porta
daquela dependência.

            13- Entretanto, CC, AA e BB, sempre munidos


dos referidos objectos e utilizando os mesmos,
desferiram com eles pancadas nas bombas de
abastecimento de combustível, nas janelas do
escritório, que partiram, e entrando na
dependência onde funcionava um estabelecimento
comercial, vulgo, “Café”, partiram as vitrinas do
balcão e janelas, causando prejuízos no valor de €
689,85 (seiscentos e oitenta e nove euros e oitenta
e cinco cêntimos), à sociedade que os explorava, a
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já referida, “DD, Ldª”.

            14- Refugiado no escritório, DD, apercebia-se


dos actos que continuavam a ser levados a cabo
pelos arguidos AA, BB e CC, e então, pegou na
arma que tinha retirado do interior do jeep, do
género revólver, de marca Taurus, com calibre 32
“... & ...”, com um tambor basculante de seis
câmaras e o número de série 0G86765, e carregou-
a.

            15- Abriu a porta do escritório, e vendo que os


arguidos AA, BB e CC, continuavam a utilizar os
instrumentos de que estavam munidos, com eles
estragando bens, nomeadamente, os supra
referenciados, disparou um tiro para o ar com a
intenção de os assustar e assim os levar a
afastarem-se do local e a cessarem,
consequentemente, a prática dos descritos actos.
De imediato, CC, que se havia apercebido que DD
havia saído, mais uma vez, do escritório, acorreu
na sua direcção, sempre com a marreta na mão,
precedido dos demais arguidos.

            16- Apercebendo-se que o primeiro tiro não


havia dissuadido os arguidos CC, BB e AA de
prosseguirem com as suas condutas e vendo CC a
aproximar-se de si com a marreta empunhada na
mão, DD disparou um segundo tiro para o ar, o que
não impediu CC de continuar a avançar para si, de
braços abertos, ao alto, com a marreta na mão,
atitude que lhe causou medo, pois apercebeu-se
que podia ser de novo agredido com o dito
instrumento, e de forma a poder causar-lhe,
inclusivamente, a morte. Temendo pela sua própria
vida, e quando CC se encontrava a uma distância,
não superior a dez metros, DD apontou a arma na
direcção daquele e disparou um terceiro tiro,
atingindo-o no tórax, tendo a bala perfurado o seu
corpo e saído pelas costas.

            (…)

            29- Em consequência da agressão descrita


supra, sob o ponto nº 11, DD teve de receber
tratamento hospitalar no Hospital de Elvas, onde
deu entrada no mesmo dia, apresentando como
lesões, hematoma lombar esquerdo de grandes
dimensões na região dorsal esquerda; status pós
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traumático com sufusão hemorrágica cutânea em


aparente estabilização, e discreta erosão cutânea
local atribuível ao traumatismo.   

            30- Aquelas lesões traduziram-se em várias


escoriações, paralelas entre si, na face anterior do
punho esquerdo, com comprimentos entre um e
seis centímetros; ferida com crosta com seis
centímetros de comprimento, dois e meio de
largura, na face posterior do terço médio do braço
direito; hematoma extenso, em faixa, na região
lateral esquerda e abdominal, medindo cinquenta
centímetros de comprimento por catorze
centímetros de largura, ao nível da zona média;
ferida circular com crosta com cerca de um
centímetro de diâmetro na face interna do
tornozelo direito, abaixo do maléolo interno.

            31- Tais lesões determinaram, para DD, um


período de doença de trinta dias, sendo quinze dias
de afectação para o trabalho em geral e trinta dias
para o trabalho profissional.

            32- Do evento não resultaram lesões


permanentes para DD nem mesmo perigo de vida.
            33- Os arguidos AA, BB e CC actuaram de
forma concertada, em conjugação de esforços e
com o propósito, alcançado, de molestarem
fisicamente DD, o que conseguiram, sabendo que
ao actuarem em grupo diminuíam as suas
hipóteses de defesa; e bem assim, com o propósito
de danificarem, quer a viatura pertencente a EE,
quer as bombas de abastecimento de combustível
e as viaturas automóveis pertencentes à sociedade
“DD, Ldª”, o que conseguiram, bem sabendo que
tais bens não lhes pertenciam, que actuavam
contra a vontade dos seus legítimos proprietários e
que, no que diz respeito aos bens pertencentes
àquela sociedade, causavam prejuízos de valor
elevado.

            34- Os arguidos sabiam que essas suas


condutas eram proibidas e punidas por lei, tendo
agido de forma livre, voluntária e consciente”.

2- No âmbito do Processo Comum Coletivo Nº


4/07.2GEPTG, que correu termos pelo Tribunal
Judicial da Comarca de Nisa, por acórdão proferido
em 17 de março de 2010, transitado em julgado em
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26 de abril de 2010, o arguido foi condenado como


coautor material de dois crimes de ofensa à
integridade física, p. e p. pelos arts. 2º, nº 4, 26º,
30º, nº 1 e 143º, nº 1, do Código Penal, nas penas de
2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão e de 1 (um)
ano de prisão, respetivamente, e como coautor
dum crime de dano qualificado p. e p. pelos arts.
2º, nº 4, 26º, 30º, nº 1 e 213º, nº 1, al. a), do Código
penal, na pena de 2 (dois) anos e 3 (três) meses de
prisão. Operado o cúmulo jurídico desta pena de
prisão, foi o arguido condenado na pena única de 3
(três) anos e 8 (oito) meses de prisão, cuja
execução foi suspensa por igual período de tempo,
subordinada ao dever do arguido pagar no prazo de
seis meses, aos lesados, a quantia de € 2.500,00
(dois mil e quinhentos euros). 

A descrita condenação fundou-se nos seguintes


factos:
“1- No dia 23 de Fevereiro de 2007, cerca das
23H30M, os arguidos encontravam-se no interior
do estabelecimento comercial “... Bar”, sito na Rua
Dr. Alves Proença, em Tolosa, nesta comarca de
Nisa, titulado por EE e por si explorado
conjuntamente com o seu marido, FF.
2- Estavam os mesmos acompanhados de duas
outras pessoas, do sexo feminino, cujos nomes não
foram apurados, e bem assim, duma criança com
cerca de dois anos de idade, que se encontrava a
dormir num “puff” existente no local.
3- Atenta a idade daquela criança, EE advertiu a
mulher que se encontrava junto dela, de que a
mesma não podia permanecer no interior do dito
estabelecimento comercial.
4- Acto contínuo, uma das pessoas que se
encontravam naquele grupo disse “Aqui quem
manda somos nós”,
5- E de imediato, e sem que nada o fizesse prever,
todos os arguidos acercaram-se da ofendida e em
conjunto, desferiram-lhe várias bofetadas na cara,
murros na cabeça e pontapés que a atingiram em
várias partes do seu corpo, ao mesmo tempo que a
puxavam pelo cabelo, arrastando-a pelo chão, no
local em que todos se encontravam.

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6- Ao ver os actos que estavam a ser perpetrados


contra a sua mulher, e na tentativa de os fazer
cessar, FF dirigiu-se para junto do local onde tudo
estava a suceder, tendo sido, imediatamente,
cercado por todos os arguidos que passaram a
desferir pontapés sobre o seu corpo, fazendo com
que caísse no solo, continuando sempre a desferir-
lhe murros e pontapés.
7- Enquanto os arguidos perpetravam estes actos
contra FF,EE conseguiu esconder-se num
armazém existente no interior do referido
estabelecimento comercial, no que foi depois
seguida pelo marido, que entretanto conseguiu
fugir dos quatro arguidos.
8- Imediatamente, e novamente em conjunto, os
arguidos começaram a arremessar em várias
direcções diversos objectos que se encontravam
no local, designadamente, cadeiras, mesas,
candeeiros, garrafas, copos e máquinas diversas,
bens que ficaram partidos.
9- Entretanto, alguns dos clientes que se
encontravam ainda no interior do estabelecimento
comercial, conseguiram colocar os quatro
arguidos no exterior.
10- Já no exterior, os arguidos galgaram um muro
que dá acesso a um pátio, o qual, por seu turno,
tem acesso ao armazém do estabelecimento onde
estavam refugiados EE e FF.
11- Alguns dos arguidos – em concreto não
identificados – conseguiram aceder ao interior do
armazém através da porta dessa divisão que dá
para o dito pátio, enquanto outros voltaram a
entrar no estabelecimento comercial, donde
lograram aceder ao mesmo armazém.
12- Já no interior do armazém, os arguidos
acercaram-se de EE e do marido, que ali se tinham
refugiado e, de imediato, desferiram-lhe
indistintamente murros e pontapés, atirando
contra os mesmos diversos objectos que ali se
encontravam como garrafas, vassouras, paus de
esfregona, atingindo-os em múltiplas zonas dos
respectivos corpos, após o que saíram para o
exterior.

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13- Já na rua, o arguido AA dirigiu-se à viatura onde


se fazia transportar com os demais arguidos e
munido dum objecto em concreto não
determinado, que dali retirou, partiu os vidros
laterais esquerdos e o vidro traseiro do veículo
automóvel de matrícula ...-TR, propriedade de FF e
de EE, após o que todos os arguidos abandonaram
o local.   
14- Como consequência directa e necessária das
condutas dos arguidos, EE sofreu traumatismo da
coluna cervical e do ombro esquerdo, o que lhe
causou dores, e vivenciou um quadro clínico de
stress traumático, caracterizado por grande
angústia, medo de sair de casa e de possíveis
represálias por parte de todos os arguidos, o que a
obrigou a tratamentos psiquiátricos durante vários
meses, que lhe determinaram um período de
doença por 30 (trinta) dias com afectação da
capacidade para o trabalho geral e por 303
(trezentos e três) dias com afectação da
capacidade para o trabalho profissional.
15- Ainda como consequência directa e necessária
do comportamento de todos os arguidos, FF
sofreu dores.
16- Ao partirem mobiliário, candeeiros, máquinas e
os demais objectos identificados que se
encontravam no interior do sobredito
estabelecimento comercial, os arguidos causaram
a FF e à mulher, um prejuízo de valor não inferior a
€ 10.000,00; e ao partirem os vidros do veículo,
causaram-lhes um prejuízo não inferior a €
2.000,00, sendo que este último valor foi coberto
pelo seguro automóvel.
17- Os arguidos actuaram com o propósito
concertado e concretizado de molestar o corpo de
ambos os ofendidos.
18- Os arguidos de forma livre, voluntária e
consciente partiram mobiliário, candeeiros e
máquinas que se encontravam no interior do
estabelecimento comercial explorado por EE e FF
e quiseram partir os vidros do veículo supra
identificado, sabendo que tais bens não lhes
pertenciam e que pela respectiva natureza e no

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seu conjunto, tinham necessariamente valor


elevado.
19- Os arguidos agiram sempre livre, voluntária e
conscientemente, em conjugação de esforços e
intentos, bem sabendo que as suas condutas eram
proibidas e puníveis por lei.
(…)”.
3- No âmbito do processo nº 12/11.9PECTB, que
correu termos pelo 2º juízo do Tribunal Judicial da
Comarca de Nisa, o arguido AA foi condenado, por
sentença proferida em 28 de novembro de 2011,
transitada em julgado em 4 de junho de 2012, como
autor de um crime de detenção de arma proibida,
p. e p. pelos arts. 2º, nº 1, al. az), 3º, nºs 1 e 3, 5º, nº 2,
als. e) e g) e 86º, nº 1, al. c), da Lei nº 5/2006, de 23
de fevereiro, na pena de 8 (oito) meses de prisão,
pela prática dos seguintes factos:
“1. No dia 3 de Novembro de 2011, pelas 8 horas e 38
minutos, o arguido tinha no interior do porta luvas
do seu veículo de marca Opel, modelo Astra, com a
matrícula ...-AT-..., que se encontrava na Avenida
Zhuhai, nesta cidade, uma pistola de marca FN
Browning, calibre 7,65 mm, com o nº. 471339, com
carregador municiado com 6 munições do mesmo
calibre.
2. O arguido actuou de forma livre, deliberada e
consciente, conhecendo as características da
referida arma de fogo, bem sabendo que não a
podia possuir, querendo isso mesmo.
3. O arguido sabia que a sua conduta era proibida
pela lei penal”.
4- No âmbito do processo nº 18/09.8GCMDR, que
correu termos pela secção única do Tribunal
Judicial de Macedo de Cavaleiros, o arguido AA foi
condenado por sentença proferida em 11 de
fevereiro de 2011, transitada em julgado em 3 de
março de 2011, como autor material de um crime de
burla, p. e p. pelo art. 217º, nº 1, do Código Penal, na
pena de 12 meses de prisão, cuja execução foi
suspensa por idêntico período de tempo,
subordinada ao dever do arguido pagar ao
ofendido, no prazo de um ano, metade da
indemnização que àquele foi fixada, no montante
de € 2.250,00.
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Esta condenação assenta no seguinte quadro


factológico:
“1. No mês de Fevereiro de 2009, em dia não
concretamente (…) apurado, o arguido dirigiu-se à
localidade de Águas vivas, concelho de Miranda do
Douro, e travou conhecimento com José dos Anjos
Neto, a quem solicitou ajuda para que o mesmo
indicasse pessoas que tivessem carros de bois
para venda.
2. Na sequência da conversa que manteve com GG,
o arguido tomou conhecimento que aquele
pretendia adquirir um veículo ciclomotor de quatro
rodas, com caixa aberta, ao que o arguido de
imediato se prontificou a auxilia-lo a encontrar um
veículo usado e com bom preço.
3. No dia 18 de Março de 2009, o arguido,
acompanhado de uma pessoa do sexo feminino
cuja identidade não foi possível apurar, dirigiu-se à
residência de GG, sita na Rua da Capela, em Águas
Vivas e disse-lhe que tinha encontrado o veículo
que procurava o qual pertencia a uma pessoa que
havia ficado paralisada na sequência de uma
trombose e que a sua mulher o vendia por 4.000,00
€.
4. Acrescentou que o veículo se encontrava numa
terra distante e, caso o mesmo pretendesse vê-lo,
lhe daria boleia até esse local.
5. Nessa ocasião, o arguido transmitiu a GG que a
pessoa que vendia o veículo era muito desconfiada,
que só aceitaria o pagamento em “dinheiro vivo” e,
por essa razão, o mesmo deveria dirigir-se a uma
agência bancária a fim de efectuar o levantamento
do dinheiro.
6. Nessa sequência, o arguido transportou José
Neto, no seu veículo automóvel, até à agência da
Caixa Agrícola Mútuo de Sendim, concelho de
Miranda do Douro, a fim de aquele efectuar o
levantamento do dinheiro tendo ficado a aguardar
pelo mesmo no interior do veículo acompanhado
pela pessoa referida em 3..
7. A conselho de uma funcionária do Banco, GG
acabou por não efectuar o levantamento o dinheiro
e regressou ao veículo do arguido com um cheque.

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8. Ao tomar conhecimento do referido, o arguido


disse a José Neto que assim não seria possível
concretizar o negócio, insistindo que o vendedor
do veículo era uma pessoa muito desconfiada e
que apenas aceitaria “dinheiro vivo” como forma de
pagamento pelo que sugeriu que se deslocasse a
uma outra agência bancária para levantar o
dinheiro.
9. Aceitando essa sugestão, o arguido transportou
GG à agência da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de
Mogadouro, onde o mesmo efectuou o
levantamento de 4.000,00 € e dirigiu-se de novo
até ao veículo do arguido onde retomaram a
viagem para compra do veículo.
10. Durante a viagem, quando se encontrava junto a
Macedo de Cavalheiros, o arguido insistiu com
José Neto para que o mesmo lhe entregasse o
dinheiro pois assim seria muito mais fácil a
realização do negócio ao que o mesmo acedeu,
entregando o envelope que continha o dinheiro.
11. Ao chegarem a Vale de Asnes, em Mirandela,
cerca das 15h30m, o arguido disse a José Neto
para sair do veículo e aguardar numa sombra, junto
a uma casa, enquanto o mesmo iria chamar o
proprietário do veículo para realizar o negócio.
12. GG aguardou no local indicado pelo arguido,
conforme combinado, durante cerca de duas
horas, mas aquele não compareceu tendo ficado
com o dinheiro.
13. O arguido não sabia da existência de qualquer
veículo automóvel de quatro rodas para venda, ao
contrário do que fez crer a GG, nem tinha o
propósito de auxiliar este último na aquisição de
um veículo ciclomotor de quatro rodas.
14. Não obstante estar ciente de que não tinha
conhecimento da existência de qualquer
ciclomotor para venda, transmitiu a GG que sabia
dessa existência a um bom preço para venda,
tendo como propósito, com tal conduta, induzir
esta a acreditar na veracidade das informações
prestadas, como efectivamente sucedeu, e a
entregar-lhe o dinheiro para a sua aquisição.
15. Agiu o arguido livre, voluntária e
conscientemente, com o propósito de obter para si
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o montante de 4.000,00 € que sabia não lhe ser


devido e causar deste modo um prejuízo
patrimonial nesse montante.
16. Sabia, além disso, que a sua conduta era
proibida e punida pela lei penal como crime”.         
5- No âmbito do processo sumário nº
42/09.0GTPTG, que correu termos pelo 1º Juízo, do
Tribunal Judicial de Portalegre, o arguido AA foi
condenado por sentença proferida em 4 de agosto
de 2009, transitada em julgado em 9 de setembro
de 2009, como autor material de um crime de
condução de veículo em estado de embriaguez, p.
e p. pelo art. 292º, do Código Penal, na pena de 80
dias de multa, à razão diária de € 5,00 e na
proibição de conduzir veículos motorizados pelo
período de 4 meses, em conformidade com o
disposto no art. 69º, nº 1, al. a), do Código Penal,
com referência à prática dos seguintes factos:
“1. No dia 02-08-2009, pelas 06h45m, o arguido
conduzia o veículo ligeiro de passageiros de
matrícula ...-XO, na E.N. 18, Km 168,7, área desta
comarca, quando foi interveniente em acidente de
viação, tendo abandonado o local.
2. Interceptado por militares da GNR, foi o mesmo
submetido ao exame de pesquisa de álcool no ar
expirado através do aparelho Drager, modelo 7110
MKIII P, tendo acusado uma TAS de 1,28 g/l.
3. Agiu o arguido com vontade livre e consciente,
bem sabendo que se encontrava sob a influência
do álcool, em limites superiores aos legais e que,
nessas circunstâncias, lhe estava vedada por lei a
condução do referido veículo motorizado.
(…).”
6- No âmbito do processo nº 15/08.0GEPTG, que
correu termos pela secção única do Tribunal
Judicial de Nisa, o arguido AA foi condenado por
sentença proferida em 26 de maio de 2011,
transitada em julgado em 9 de dezembro de 2011,
como autor material de um crime de detenção de
arma proibida, p. e p. pelo art. 86º, nº 1, al. c), por
referência ao art. 3º, nº 6, al. c), ambos da Lei nº
5/2006, de 23 de fevereiro, na redação dada pela
Lei nº 59/2007, de 4 de setembro, na pena de 150

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dias de multa à razão diária de € 5,50, com


referência à prática dos seguintes factos:
“1. No dia 16 de Setembro de 2008, pelas 03h45, o
arguido AA foi interceptado pela Guarda Nacional
republicana na E.N. 18, no desvio da I.P.2 para a
localidade de Alpalhão, quando se encontrava no
interior do veículo de matrícula 86-46-XO, de marca
Peugeot, modelo 607.
2. Dentro do aludido veículo encontrava-se uma
espingarda de caça com o nº 71469, de marca
Sarriugarte, de calibre 12 com 2 canos, a que
corresponde o livrete de manifesto nº H!5633,
emitido em 07 de Setembro de 1993 e oito
cartuchos, de calibre 12, propriedade do (…).
3. O arguido AA não é titular de licença de uso e
porte de arma que o habilite a deter a arma que lhe
foi apreendida e que trazia consigo, nem tem
autorização para deter as necessárias munições.
(…)   
6. …a arma não pode ser cedida, como foi, ao
arguido AA.
7. Os arguidos AA e (…) não são titulares de licença
de uso e porte de arma que os habilite a deter,
conservar e manusear armas de classe D, bem
como, as munições correspondentes, o que
sabiam.
8. Os arguidos AA e (…) agiram de forma livre, com
o propósito concretizado de deter a referida arma
e munições, bem sabendo que para tal
necessitavam de ser titulares de licença de uso e
porte de arma emitida pelas entidades oficiais
competentes, o que representaram.
9. Sabiam os arguidos que a sua conduta era
proibida e punida por lei.”

            6- AA é proveniente de uma família cigana,


tendo sido educado segundo os hábitos e
costumes próprios da etnia. Viveram quase
sempre na zona de Tolosa, numa pequena
localidade onde coexistia um reduzido número de
elementos da etnia. Embora convivendo
regularmente com elementos fora do seu grupo
étnico, a sua aculturação foi efetuada
maioritariamente no seio familiar, com algum

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isolamento das rotinas e hábitos do meio de


residência.
7- O arguido dedicou-se à venda ambulante desde
a infância, junto com os progenitores e embora
tenha frequentado a escolaridade, em Tolosa,
nunca se adaptou aos hábitos e rotinas escolares.
8- A venda ambulante era realizada com a família,
de forma não sistemática e irregular, tendo a
família deixado de exercer esta atividade há vários
anos, sendo beneficiária de apoios estatais. Assim,
AA não desenvolveu hábitos de trabalho, mantendo
um estilo de vida dependente, quer de apoios
sociais, quer do apoio de familiares.
9- O arguido estabeleceu união de facto há cerca
de sete anos, segundo as tradições da etnia a que
pertence, com HH, tendo desta relação nascido
dois filhos, tendo aquele outro filho, atualmente
com oito anos de idade, fruto de uma relação
afetiva anterior.
10- No período que antecedeu a presente reclusão,
AA vivia com a sua companheira e os dois filhos de
ambos, atualmente com 5 anos e 17 meses de
idade, respetivamente. Dado o agregado não
dispor de habitação própria, permaneciam junto
das famílias de origem do arguido e/ou da sua
companheira, nas zonas de Tolosa e Gáfete. Há
cerca de dois meses fixaram residência em casa
arrendada, localizada na cidade de Castelo Branco.
11- O arguido dedicava-se ao negócio de velharias e
o agregado familiar era beneficiário do
Rendimento Social de Inserção, no valor mensal de
€ 300,00, contanto ainda com o apoio económico
dos familiares. Atualmente, o suporte familiar de
que AA dispõe é propiciado, essencialmente, pela
sua companheira e a família de origem desta, com
residência em Gáfete.
12- Quando sair em liberdade, o arguido perspetiva
reintegrar o agregado, uma vez que a sua
companheira continua a manifestar
disponibilidade para o acolher e apoiar.
13- No meio social e de residência, a imagem do
arguido não é considerada negativa, uma vez que é
pouco conhecido e a comunidade étnica em que
está inserido é tolerada pela sociedade envolvente.
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14- As relações do arguido são estabelecidas


predominantemente dentro da sua etnia,
mantendo um estilo de vida centrado nos rituais e
hábitos ciganos.
15- No Estabelecimento Prisional, AA tem vindo a
manter um comportamento adequado às normas
institucionais, denotando vontade para exercer
atividades ocupacionais e para adquirir
competências pessoais e formativas, aguardando a
sua admissão para frequentar a Escola - Curso EFA
B1 (1.º Ciclo).
 16- O arguido AA tem inscrita no seu Certificado de
Registo Criminal, a seguinte condenação:
- No âmbito do Processo Abreviado Nº
507/03.8SILSB do Tribunal de Pequena Instância
Criminal de Lisboa, por sentença proferida a 29 de
Outubro de 2003, transitada em julgado a 21 de
Maio de 2004, foi condenado por um crime de
condução sem habilitação legal, p. e p. pelo art. 3º,
do Dec. – Lei nº 2/98 de 3/01, praticado a 25 de
Fevereiro de 2003, na pena de 120 dias de multa à
taxa diária de € 5,00, pena julgada entretanto
extinta, por prescrição (art. 122º do Código Penal).”

O que tudo visto, cumpre apreciar e decidir.


 Como se aludiu no anterior acórdão deste
Supremo, proferido nos autos, o artigo 77º nº 1 do
Código Penal, ao estabelecer as regras da punição
do concurso, dispõe: “Quando alguém tiver
praticado vários crimes antes de transitar em
julgado a condenação por qualquer deles é
condenado numa única pena. Na medida da pena
são considerados, em conjunto, os factos e a
personalidade do agente.”
            Por sua vez, o artº º do mesmo diploma
substantivo prescreve:
            “1. Se depois de uma condenação transitada
em julgado, se mostrar que o agente praticou
anteriormente àquela condenação, outro ou outros
crimes, são aplicáveis as regras do artigo anterior,
sendo a pena que já tiver sido cumprida

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descontada no cumprimento da pena única


aplicada ao concurso de crimes.
            2. O disposto no número anterior só é
aplicável relativamente aos crimes cuja
condenação transitou em julgado.”
O caso julgado relativo à formação do cúmulo
jurídico entre as penas de um processo vale rebus
sic stantibus, ou seja nas circunstâncias que
estiverem na base da sua formação, Se as
circunstâncias se alterarem por, afinal, do
concurso fazer parte outro crime e outra pena, há
uma modificação que altera a substância do
concurso e a respectiva moldura penal, com a
consequente alteração da pena conjunta. Daí que,
não subsistindo as mesmas circunstâncias ou
elementos que presidiram à formação da primitiva
pena única, o caso julgado em que esta se traduziu
tenha de ficar sem efeito, adquirindo as penas
parcelares nela contidas toda a sua autonomia
para a determinação da nova moldura penal do
concurso. (Ac. do STJ de 27 de Junho de 2001,
proc. nº 1790/01-3ª; SASTJ, nº 52, 48)
O concurso de crimes tanto pode decorrer de
factos praticados na mesma ocasião, como de
factos perpetrados em momentos distintos,
temporalmente próximos ou distantes.
Por outro lado, o concurso tanto pode ser
constituído pela repetição do mesmo crime, como
pelo cometimento de crimes da mais diversa
natureza. Por outro lado ainda, o concurso tanto
pode ser formado por um número reduzido de
crimes, como pode englobar inúmeros crimes. (Ac.
deste Supremo e desta 3ª Secção, de 06-02-2008
Proc. n.º 4454/07).
Com efeito, deve proceder-se a cúmulo jurídico das
penas – mesmo em caso de cúmulo superveniente
- quando o crime de que haja conhecimento
posteriormente tenha sido praticado antes da
condenação anteriormente proferida, de tal modo
que esta devia tê-lo tomado em conta, ou seja
quando a prática dos crimes concorrentes tenha
tido lugar antes do trânsito em julgado da
condenação por qualquer deles (Ac. deste

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Supremo e desta 3ª Secção de 21 de Abril de 1994 in


proc. nº 46.045).
Daqui resulta que, não há que proceder a cúmulo
jurídico das penas quando os crimes foram
cometidos depois de transitadas em julgado as
anteriores condenações (Ac. deste Supremo e
desta 3ª Secção de 23 de Junho de 1994, proc. nº
46860)
Ou seja, as penas dos crimes cometidos depois de
uma condenação transitada em julgado não podem
cumular-se com as penas dos crimes cometidos
anteriormente a essa condenação (v. ac. do STJ de
20 de Junho de 1996 in BMJ, 458, 119).
Para efeito de realização do cúmulo, há que
correlacionar a data da prática dos factos com o
trânsito em julgado das decisões condenatórias.
O que implica uma conferência cronológica entre a
data dos factos e as respectivas condenações com
trânsito em julgado, com vista a apurar quais as
penas que entre si podem formar o cúmulo.
As datas da prática dos crimes e as datas do
trânsito em julgado das respectivas decisões é que
definem a relação ou relações de concurso, em
termos de cúmulo, demarcando as fronteiras do
círculo de condenações objecto de unificação.
A prática de crimes depois da decisão
condenatória transitada que unifica o concurso,
afasta a unificação, formando-se outras penas
autónomas, e porventura outros cúmulos, de
execução sucessiva.
Se os crimes conhecidos forem vários, tendo uns
ocorrido antes de proferida a condenação anterior
e outros depois dela, o tribunal proferirá duas
penas conjuntas, uma a corrigir a condenação
anterior, outra relativa aos crimes praticados
depois daquela condenação; a ideia de que o
tribunal deveria ainda aqui proferir uma só pena
conjunta contraria expressamente a lei e não se
adequaria ao sistema legal de distinção entre
punição do concurso de crimes e da reincidência.
A posterioridade do conhecimento «do concurso»,
que é a circunstância que introduz as dúvidas, não
pode ter a virtualidade de modificar a natureza dos
pressupostos da pena única, que são de ordem
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substancial. O conhecimento posterior (art. 78.°,


n.º 1, do CP) apenas define o momento de
apreciação, processual e contingente.
A superveniência do conhecimento não pode, no
âmbito material, produzir uma decisão que não
pudesse ter sido proferida no momento da primeira
apreciação da responsabilidade penal do agente
(cf. Figueiredo Dias, As Consequências Jurídicas
do Crime, págs. 293-294).
Há, assim, para a determinação da pena única,
como que uma ficção de contemporaneidade. A
decisão proferida na sequência do conhecimento
superveniente do concurso deve sê-lo nos mesmos
termos e com os mesmos pressupostos que
existiriam se o conhecimento do concurso tivesse
sido contemporâneo da decisão que teria
necessariamente tomado em conta, para a
formação da pena única, os crimes anteriormente
praticados; a decisão posterior projecta-se no
passado, como se fosse tomada a esse tempo,
relativamente a um crime que poderia ser trazido à
colação no primeiro processo para a determinação
da pena única, se o tribunal tivesse tido, nesse
momento, conhecimento da prática desse crime.
A formação da pena conjunta é, assim, a reposição
da situação que existiria se o agente tivesse sido
atempadamente condenado e punido pelos crimes
à medida que os foi praticando.
Por outro lado, o STJ tem ainda vindo a entender
que não são de admitir os cúmulos por
arrastamento: as penas dos crimes cometidos
depois de uma condenação transitada em julgado
não podem cumular-se com as penas dos crimes
cometidos anteriormente a essa condenação –
v..v.g. Acs. de 20-06-1996, BMJ 458.º/119, de 04-12-
1997, CJSTJ, tomo 3, pág. 246, de 06-05-1999,
Proc. n.º 245/99, e de 15-03-2007, Proc. n.º 4796/06
- 5.ª.
O repúdio da operação de cúmulo por
arrastamento está no entendimento de que a
reunião de todas as penas aniquila a teleologia e a
coerência interna do ordenamento jurídico-penal
ao dissolver a diferença entre as figuras do
concurso de crimes e da reincidência. (v. Ac. deste
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Supremo e desta Secção de 10-09-2009, Proc. n.º


181/08.5TCPRT.P1.S1.)  
Na verdade, seria destruir-se a razão de ser da
dogmática legal sobre esses institutos, e
desprezar-se os fins das penas, se a pena única
tivesse necessariamente de corresponder a uma
aglutinação de todas as penas,
independentemente da localização temporal da
prática dos crimes e do trânsito em julgado das
respectivas decisões condenatórias.
Em suma:
Resulta dos próprios termos do artº 78º do CP,
quando faz remissão para o artigo antecedente,
que o caso julgado cede alguma da sua
intangibilidade nos casos de conhecimento
superveniente de concurso, pois só assim se
compreende que as penas parcelares aplicadas,
não obstante o trânsito das sentenças respectivas,
sejam objecto no fim de contas, a uma nova
apreciação global em julgamento, nomeadamente
à luz dos factos e personalidade do agente. (Ac. do
STJ de 19 de Abril de 2002,, proc. nº 1218/2002- 5ª
SASTJ, nº 60,80.), tendo por referência factos
praticados antes de ter havido decisão transitada
em julgado referentes a factos anteriores.
Por outro lado ainda, cumpre assinalar, que,
anteriormente à revisão do Código Penal operada
pela Lei nº 59/2007 de 4 de Setembro, exigia-se
que a pena constante da condenação anterior
ainda se não mostrasse cumprida, prescrita ou
extinta
Porém, actualmente, por força da revisão da
citada, Lei, o artº 78º passou a dispor no seu nº 1
que:
“Se, depois de uma condenação transitada em
julgado, se mostrar que o agente praticou,
anteriormente àquela condenação, outro ou outros
crimes, são aplicáveis as regras do artigo anterior,
sendo a pena que já tiver sido cumprida
descontada no cumprimento da pena única
aplicada ao concurso de crimes.”
Como se assinala no acórdão deste Supremo e
desta secção, de 30-05-2012 , proc. nº
15/06.5JASTB-A.S1 
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O art. 78.º, n.º 1, do CP, na redacção introduzida


pela Lei 59/2007, de 04-09, estatui que em caso de
a pena ter sido cumprida ela é descontada no
cumprimento da pena, suprimindo o requisito do
antecedentes de a condenação se não mostrar
ainda cumprida, prescrita ou extinta, trazendo
evidente vantagem ao arguido no caso de a
anterior pena se -mostrar cumprida.

O posterior acórdão proferido em 11 de Fevereiro de


2015, na comarca de Portalegre, e ora recorrido,
encontra-se reformulado, na sequência, e de
harmonia com o decidido não anterior acórdão
deste Supremo.
O acórdão recorrido, agora refere:
“[…]    
No caso concreto constatamos não existir uma
situação de concurso entre todos os crimes por
que o arguido foi condenado em separado,
porquanto os factos por que foi julgado e
condenado no âmbito do processo nº 12/11.9PECTB
foram praticados depois do trânsito em julgado
das decisões preferidas nos processos
4/07.2GEPTG, 18/09.8GCMDR e 42/09.0GTPTG.
            Deste modo, impõe-se a exclusão da pena de
8 meses de prisão a que o arguido foi condenado
naquele processo nº 12/11.9PECTB, do cúmulo das
demais penas que se encontram efetivamente em
concurso entre si.   
            As penas de multa a que o arguido AA foi
condenado, respetivamente, nos processos nºs
42/09.0GTPTG e 15/08.0GEPTG e a sanção
acessória a que foi condenado naquele primeiro
processo, foram já julgadas extintas por
cumprimento. Sucede, porém, que por força do
disposto na parte final, do nº 1, do art. 78º, do
Código Penal, as penas extintas deverão ser
consideradas no cúmulo jurídico, mas sempre com
a ressalva de que o respetivo cumprimento deverá
ser descontado no cumprimento da pena única (cf.,
ainda, o 81º, nº 1, do Código Penal), pelo que as

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penas em questão, ainda que cumpridas,


integrarão o presente cúmulo.
V. Da pena única                    
No concurso de crimes, para se determinar a pena
única, segundo a interpretação mais comum na
jurisprudência, na esteira, aliás, de Figueiredo
Dias, do que se trata é de avaliar unitariamente a
personalidade do arguido em correlação com o
conjunto dos factos, como se estes constituíssem
um facto global, em ordem a saber se o agente
revela uma tendência para a prática do crime ou de
certos crimes, ou se a sua atuação delituosa é
devida a fatores ocasionais. Nisso consiste o
critério específico de determinação da pena
conjunta e, portanto, aí residirá também o ponto
nodal da fundamentação exigida no âmbito da
determinação da pena do concurso de crimes, que
se não confunde com a fundamentação exigida
para a determinação concreta das penas
singulares – fundamentação que, todavia, está
presente na determinação da pena conjunta,
acrescendo sempre a necessidade de ponderar o
efeito previsível da pena sobre o comportamento
futuro do agente (exigências de prevenção
especial da pena), como observa ainda, o mesmo
ilustre professor.
Também de acordo com a decisão tomada pelo
Supremo Tribunal de Justiça, em 16 de novembro
de 2011 (Processo Nº 150/08.5JBLSB.L1.S1), “para a
determinação da pena conjunta é decisivo que se
obtenha uma visão conjunta dos factos,
acentuando a relação destes entre si e no seu
contexto; a maior ou menor autonomia e
frequência da comissão dos delitos; a diversidade
ou igualdade dos bens jurídicos protegidos
violados e a forma de comissão, bem como o peso
conjunto das circunstâncias de facto sujeitas a
julgamento, mas também a receptividade do
agente à pena, o seu processo de socialização e
inserção social e ainda a avaliação das suas
circunstâncias pessoais tendentes a analisar uma
possível tendência criminosa”.
Estas regras, que não podem deixar de ser
observadas na fixação da pena unitária, encontram
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total apoio na parte final do nº 1, do art. 77º, do


Código Penal, onde se lê que: “(…) Na medida da
pena são considerados, em conjunto, os factos e a
personalidade do agente”, que é aplicável às
situações de conhecimento superveniente do
concurso por força do nº 1, do art. 78º, daquele
mesmo Código.
Nos termos do nº 2, daquele art. 77º, a pena
aplicável tem como limite máximo a soma das
penas concretamente aplicadas aos vários crimes,
com as limitações ali previstas e como limite
mínimo, a mais elevada das penas concretamente
aplicadas aos vários crimes.
Por seu turno, e nos termos do nº 3, daquele
mesmo normativo legal, “Se as penas aplicadas aos
crimes em concurso forem umas de prisão e outras
de multa, a diferente natureza destas mantém-se
na pena única resultante da aplicação dos critérios
estabelecidos nos números anteriores”.
No caso, e apreciando na globalidade os factos
praticados pelo arguido, constatamos que este
revela apetência para a prática de atos violentos,
quando cometidos em grupo, evidenciando
desrespeito relevante perante bens jurídicos
fundamentais, como a integridade física/psíquica
alheia e a integridade de bens patrimoniais,
nomeadamente de valor elevado, denotando ainda
capacidade para enganar terceiros de molde a
obter vantagens patrimoniais indevidas, à custa do
sacrifício do património alheio, bem como
desrespeito por outros bens jurídicos
fundamentais, conexos com a segurança da
pessoas e, também, com a segurança rodoviária.
A culpa, relativamente a cada um dos factos ora
sujeitos a apreciação situa-se num patamar acima
da média.
O arguido é de humilde condição social e
económica, apresenta reduzidas competências
profissionais – que tenta atualmente colmatar em
meio prisional frequentando curso profissional - e
manifesta dificuldade em cumprir regras e normas
sociais.
As suas competências pessoais são limitadas,
denotando dificuldade em estruturar um modo de
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vida assertivo, pelo que não se vislumbra que a


curto e/ou médio prazo consiga dar um rumo
diferente à sua vida, considerando a vivência
conhecida e a ausência de elementos capazes de
sustentar um juízo de prognose favorável sobre o
seu futuro comportamento.   
Por último, as necessidades de prevenção geral
apresentam-se relativamente elevadas,
ponderando o acréscimo de condutas violentas
que se vêm registando, sendo premente dissuadir
os demais indivíduos de práticas idênticas.
A pena única tem de ser determinada entre o
mínimo de 2 anos e 6 meses de prisão e 10 anos e 9
meses de prisão; e entre 150 dias de multa a 230
dias de multa.
            Sopesando as circunstâncias enunciadas,
reputa-se como justa, adequada e proporcional à
gravidade dos factos em apreço, a condenação do
arguido na pena de 6 anos de prisão e em 190 dias
de multa, à taxa diária de € 5,00 (ponderada a
situação económica e financeira do arguido – cf.
art. 47º, nº 2, do Código penal), bem como na
proibição de conduzir veículos motorizados, pelo
período de 4 meses, nos termos do disposto no art.
69º, nº 1, al. a), do Código Penal.
            Tendo em consideração os elementos
constantes dos autos quanto ao cumprimento das
penas de multa e ao cumprimento da sanção
acessória, bem como o regime jurídico decorrente
dos arts. 78º, nº 1, in fine, e 81º, nº 1, do Código
Penal, têm-se como integralmente cumpridas a
pena de multa e a sanção acessória.”
Tal fundamentação mostra-se legalmente
correcta, nada obstando à realização do cúmulo o
facto de ter sido revogada a suspensão da
execução da pena no âmbito do processo que
corre termos na Comarca de Portalegre,  nº
4/07.2GE PTG., e de o arguido ter interposto
recurso para o Tribunal da Relação de Évora.
Com efeito, no concurso superveniente de crimes,
nada impede que na formação da pena única
entrem penas de prisão efectiva e penas de prisão
suspensa, decidindo o tribunal do cúmulo se,
reavaliados em conjunto os factos e a
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3/22/22, 11:07 AM jurisprudência.pt - Pesquisa de jurisprudência Portuguesa

personalidade do arguido, a pena única deve ou


não ficar suspensa na sua execução. [se for
legalmente possível e caso se verifiquem os
respectivos pressupostos]
Sendo assim, há que reflectir que apenas não é
possível considerar na pena única as penas
suspensas cujo prazo de suspensão já findou,
enquanto não houver no respectivo processo
despacho a declarar extinta a pena ou a mandá-la
executar ou a ordenar a prorrogação do prazo de
suspensão. Na verdade, no caso de extinção nos
termos do art.º 57.º, n.º 1, a pena não é considerada
no concurso, mas já o é nas restantes hipóteses. (v.
acórdão deste Supremo, de 25-10-2012, proc. nº
242/10.00GHCTB.S1, 5ªsecção)
Por outro lado, o sistema de punição do concurso
de crimes consagrado no art. 77.º do CP, aplicável
ao caso de conhecimento superveniente do
concurso, adoptando o sistema da pena conjunta,
«rejeita uma visão atomística da pluralidade de
crimes e obriga a olhar para o conjunto – para a
possível conexão dos factos entre si e para a
necessária relação de todo esse bocado de vida
criminosa com a personalidade do seu agente».
Por isso, determinadas definitivamente as penas
parcelares correspondentes a cada um dos
singulares factos, cabe ao tribunal, depois de
estabelecida a moldura do concurso, encontrar e
justificar a pena conjunta, cujos critérios legais de
determinação são diferentes dos propostos para a
primeira etapa.
Nesta segunda fase, «quem julga há-de descer da
ficção, da visão compartimentada que esteve na
base da construção da moldura e atentar na
unicidade do sujeito em julgamento. A perspectiva
nova, conjunta, não apaga a pluralidade de ilícitos,
antes a converte numa nova conexão de sentido.
Aqui, o todo não equivale à mera soma das partes
e, além disso, os mesmos tipos legais de crime são
passíveis de relações existenciais diversíssimas, a
reclamar uma valoração que não se repete, de caso
para caso. A este novo ilícito corresponderá uma
nova culpa (que continuará a ser culpa pelo facto)
mas, agora, culpa pelos factos em relação. Afinal, a
https://jurisprudencia.pt/acordao/127066/ 34/39
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valoração conjunta dos factos e da personalidade,


de que fala o CP.
            Por outro lado, afastada a possibilidade de
aplicação de um critério abstracto, que se
reconduz a um mero enunciar matemático de
premissas, impende sobre o juiz um especial ónus
de determinar e justificar quais os factores
relevantes de cada operação de formação de pena
conjunta, quer no que respeita à culpa em relação
ao conjunto dos factos, quer no que respeita à
prevenção, quer, ainda, no que concerne à
personalidade e factos considerados no seu
significado conjunto.
Um dos critérios fundamentais em sede deste
sentido de culpa, numa perspectiva global dos
factos, é o da determinação da intensidade da
ofensa e dimensão do bem jurídico ofendido, sendo
certo que assume significado profundamente
diferente a violação repetida de bens jurídicos
ligados à dimensão pessoal em relação a bens
patrimoniais. Por outro lado, importa determinar
os motivos e objectivos do agente no denominador
comum dos actos ilícitos praticados e,
eventualmente, dos estados de dependência, bem
como a tendência para a actividade criminosa
expressa pelo número de infracções, pela sua
permanência no tempo, pela dependência de vida
em relação àquela actividade.
            Na avaliação da personalidade expressa nos
factos é todo um processo de socialização e de
inserção, ou de repúdio pelas normas de
identificação social e de vivência em comunidade,
que deve ser ponderado.      Ac. deste Supremo e
desta 3ª Secção, de 09-01-2008 in Proc. n.º 3177/07
Não tendo o legislador nacional optado pelo
sistema de acumulação material (soma das penas
com mera limitação do limite máximo) nem pelo da
exasperação ou agravação da pena mais grave
(elevação da pena mais grave, através da avaliação
conjunta da pessoa do agente e dos singulares
factos puníveis, elevação que não pode atingir a
soma das penas singulares nem o limite absoluto
legalmente fixado), é forçoso concluir que com a
fixação da pena conjunta se pretende sancionar o
https://jurisprudencia.pt/acordao/127066/ 35/39
3/22/22, 11:07 AM jurisprudência.pt - Pesquisa de jurisprudência Portuguesa

agente, não só pelos factos individualmente


considerados, mas também e especialmente pelo
respectivo conjunto, não como mero somatório de
factos criminosos, mas enquanto revelador da
dimensão e gravidade global do comportamento
delituoso do agente, visto que a lei manda se
considere e pondere, em conjunto (e não
unitariamente), os factos e a personalidade do
agente: como doutamente diz Figueiredo Dias
(Direito Penal Português – As Consequências
Jurídicas do Crime, págs. 290-292), como se o
conjunto dos factos fornecesse a gravidade do
ilícito global perpetrado.
Importante na determinação concreta da pena
conjunta será, pois, a averiguação sobre se ocorre
ou não ligação ou conexão entre os factos em
concurso, a existência ou não de qualquer relação
entre uns e outros, bem como a indagação da
natureza ou tipo de relação entre os factos, sem
esquecer o número, a natureza e gravidade dos
crimes praticados e das penas aplicadas, tudo
ponderando em conjunto com a personalidade do
agente referenciada aos factos, tendo em vista a
obtenção de uma visão unitária do conjunto dos
factos, que permita aferir se o ilícito global é ou
não produto de tendência criminosa do agente,
bem como fixar a medida concreta da pena dentro
da moldura penal do concurso. Ac. deste Supremo
e desta Secção de 06-02-2008, in Proc. n.º
4454/07
Será, assim, o conjunto dos factos que fornece a
gravidade do ilícito global perpetrado, sendo
decisiva para a sua avaliação a conexão e o tipo de
conexão que entre os factos concorrentes se
verifique. Na avaliação da personalidade – unitária
– do agente relevará, sobretudo, a questão de
saber se o conjunto dos factos é recondutível a
uma tendência (ou eventualmente mesmo a uma
«carreira») criminosa, ou tão-só a uma
pluriocasionalidade que não radica na
personalidade: só no primeiro caso, não já no
segundo, será cabido atribuir à pluralidade de
crimes um efeito agravante dentro da moldura
penal conjunta. De grande relevo será também a
https://jurisprudencia.pt/acordao/127066/ 36/39
3/22/22, 11:07 AM jurisprudência.pt - Pesquisa de jurisprudência Portuguesa

análise do efeito previsível da pena sobre o


comportamento futuro do agente (exigências de
prevenção especial de socialização). Figueiredo
Dias, Direito Penal Português, As Consequências
Jurídicas do Crime, Aequitas, Editorial Notícias,
1993,; . Acs de 11-10-2006 e de 15-11-2006 deste
Supremo  e 3ª Secção in Proc. n.º 1795/06, e Proc.
n.º 3268/04.
Assim, tendo em conta:
 A fundamentação do acórdão recorrido sobre a
situação fáctica determinantes da pena do cúmulo,
e a sua correlação ente os factos e personalidade
do arguido, e as exigências de prevenção e o limite
da culpa; que os factos provieram de tendência
criminosa; o efeito previsível da pena no
comportamento futuro do arguido, que nasceu em
14 de Dezembro de 1982, e que:

AA é proveniente de uma família cigana, tendo sido


educado segundo os hábitos e costumes próprios
da etnia. Viveram quase sempre na zona de Tolosa,
numa pequena localidade onde coexistia um
reduzido número de elementos da etnia. Embora
convivendo regularmente com elementos fora do
seu grupo étnico, a sua aculturação foi efetuada
maioritariamente no seio familiar, com algum
isolamento das rotinas e hábitos do meio de
residência.
O arguido dedicou-se à venda ambulante desde a
infância, junto com os progenitores e embora
tenha frequentado a escolaridade, em Tolosa,
nunca se adaptou aos hábitos e rotinas escolares.
A venda ambulante era realizada com a família, de
forma não sistemática e irregular, tendo a família
deixado de exercer esta atividade há vários anos,
sendo beneficiária de apoios estatais. Assim, AA
não desenvolveu hábitos de trabalho, mantendo
um estilo de vida dependente, quer de apoios
sociais, quer do apoio de familiares.
O arguido estabeleceu união de facto há cerca de
sete anos, segundo as tradições da etnia a que
pertence, com HH, tendo desta relação nascido
dois filhos, tendo aquele outro filho, atualmente
com oito anos de idade, fruto de uma relação
afetiva anterior.
https://jurisprudencia.pt/acordao/127066/ 37/39
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No período que antecedeu a presente reclusão, AA


vivia com a sua companheira e os dois filhos de
ambos, atualmente com 5 anos e 17 meses de
idade, respetivamente. Dado o agregado não
dispor de habitação própria, permaneciam junto
das famílias de origem do arguido e/ou da sua
companheira, nas zonas de Tolosa e Gáfete. Há
cerca de dois meses fixaram residência em casa
arrendada, localizada na cidade de Castelo Branco.
O arguido dedicava-se ao negócio de velharias e o
agregado familiar era beneficiário do Rendimento
Social de Inserção, no valor mensal de € 300,00,
contanto ainda com o apoio económico dos
familiares. Atualmente, o suporte familiar de que
AA dispõe é propiciado, essencialmente, pela sua
companheira e a família de origem desta, com
residência em Gáfete.
Quando sair em liberdade, o arguido perspetiva
reintegrar o agregado, uma vez que a sua
companheira continua a manifestar
disponibilidade para o acolher e apoiar.
No meio social e de residência, a imagem do
arguido não é considerada negativa, uma vez que é
pouco conhecido e a comunidade étnica em que
está inserido é tolerada pela sociedade envolvente.
As relações do arguido são estabelecidas
predominantemente dentro da sua etnia,
mantendo um estilo de vida centrado nos rituais e
hábitos ciganos.
No Estabelecimento Prisional, AA tem vindo a
manter um comportamento adequado às normas
institucionais, denotando vontade para exercer
atividades ocupacionais e para adquirir
competências pessoais e formativas, aguardando a
sua admissão para frequentar a Escola - Curso EFA
B1 (1.º Ciclo).
Os limites do quantum da pena concretamente
aplicável – entre 2 anos e 6 meses de prisão e 10
anos e 9 meses de prisão, e entre 150 dias de multa
a 230 dias de multa,
A natureza e gravidade dos factos que ocorreram
anualmente, por uma só vez, em 2007, 2008,2009 e
2010

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As exigências de prevenção geral na reposição


contrafáctica das normas violadas, as exigências
de prevenção especial, na dissuasão da
reincidência e os limites da culpa intensa na acção
desvaliosa
O arguido ainda tem o cumprimento sucessivo da
pena de 8 (oito) meses de prisão a que o arguido foi
condenado no processo nº 12/11.9PECTB.
O acórdão recorrido unificou as penas aplicadas ao
arguido AA, neste processo Nº 39/08.8GBPTG e nos
processos nºs 4/07.2GEPTG, 18/09.8GCMDR,
42/09.0GTPTG e 15/08.0GEPTG, condenando-o na
pena única de 6 (seis) anos de prisão e em 190
(cento e noventa) dias de multa, à razão diária de €
5,00 (cinco euros), bem como na proibição de
condução de veículos motorizados, pelo período de
4 (quatro) meses, nos termos do disposto no art.
69º, nº 1, al. a), do Código Penal;
Mas julgou integralmente cumprida a pena de
multa e a sanção acessória de proibição de
condução de veículos motorizados (arts. 78º, nº 1, in
fine, e 81º, nº 1, do Código Penal);
 E, determinou que o período de prisão já sofrido
pelo arguido seja descontado na pena única ora
fixada, nos termos do art. 78º, nº 1, in fine e 81º, nº 1,
do Código Penal.
Conclui-se do exposto, que a decisão recorrida não
violou o princípio da cumulação nem ofendeu
normas constitucionais, e a pena aplicada não se
revela desadequada ou desproporcional, sendo por
isso, de manter.

Termos em que, decidindo:


Acordam os deste Supremo – 3ª Secção – em negar
provimento ao recurso e, confirmam o acórdão
recorrido.
Tributam o recorrente em 5 UCs de taxa de Justiça.
Supremo Tribunal de Justiça, 9 de Julho de 2015
                                   Elaborado e revisto pelo relator
                                   Pires da Graça
                                   Raul Borges

https://jurisprudencia.pt/acordao/127066/ 39/39

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