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3/17/22, 11:13 AM jurisprudência.

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jurisprudência.pt

Supremo Tribunal
de Justiça
Processo

06P3761
Relator

CARMONA DA MOTA
Sessão

09 Novembro 2006
Votação

UNANIMIDADE
Meio Processual

REC PENAL.
Decisão

PROVIDO.

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CORRUPÇÃO ACTIVA MEDIDA DA PENA

MEDIDA CONCRETA DA PENA

PREVENÇÃO GERAL PREVENÇÃO ESPECIAL

PRINCÍPIO DA NECESSIDADE DA PENA

SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA PENA

CONDIÇÃO DA SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA


PENA

Sumário
I - É sabido que, de um modo geral, «a medida da
pena há-de ser encontrada dentro de uma moldura
de prevenção geral positiva», vindo a ser
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«definitiva e concretamente estabelecida em


função de exigências de prevenção especial,
nomeadamente de prevenção especial positiva ou
de socialização».

II - No caso (em que a moldura penal abstracta do


crime de corrupção activa é a de prisão de 0,5 a 5
anos), o ponto óptimo de realização das
necessidades preventivas da comunidade - ou
seja, a medida de pena que a comunidade
entenderia necessária à tutela das suas
expectativas na validade e no reforço da norma
jurídica afectada pela conduta dos arguidos situar-
se-á nos 3,5 anos de prisão (ante o facto de ambos,
no exercício da actividade de lobbying a que se
dedicavam, no seio da empresa E, haverem
intermediado, a troco de uma remuneração de
cerca de 15% da verba disponibilizada pelo
corruptor [606.000 DM, correspondente, então, a
49.622.920$00 e, hoje, a cerca de € 545.000], a
corrupção de X, para que este, abusando dos seus
poderes funcionais, privilegiasse a empresa de
projectos e engenharia, já pré-qualificada para a
apresentação de uma proposta para a
consultadoria de G, no ajuste directo dessa
missão).

III - Mas, «abaixo dessa medida (óptima) da pena de


prevenção, outras haverá - até ao “limite do
necessário para assegurar a protecção dessas
expectativas” - que a comunidade ainda entenderá
suficientes para proteger as suas expectativas na
validade da norma». O «limite mínimo da pena que
visa assegurar a finalidade de prevenção geral»
coincidirá, pois, em concreto, com «o
absolutamente imprescindível para se realizar essa
finalidade de prevenção geral sob a forma de
defesa da ordem jurídica» (e não,
necessariamente, com «o limiar mínimo da
moldura penal abstracta»). E, no caso, esse limite
mínimo (da moldura de prevenção) poderá
encontrar-se por volta dos 2,5 anos de prisão (uma
vez que não veio a ter lugar o acto ilícito visado
pelo acto de corrupção e que, sobre o termo, em
05-04-89, da intervenção corruptora dos arguidos
já decorreram, entretanto, mais de 17 anos).

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IV - E, se bem que, «os limites de pena definida


pela necessidade de protecção de bens jurídicos
não poderão ser desrespeitados em nome da
realização da finalidade de prevenção especial, que
só poderá intervir numa posição subordinada à
prevenção geral», a verdade é que, concorrendo o
objectivo penal de prevenção especial, dentro dos
limites da moldura de prevenção geral, para a
concretização da pena, o comportamento anterior
dos arguidos (sem condenações criminais), a sua
conduta ulterior (omissão quanto à devolução - ou,
sequer, ao seu depósito condicional no processo -
da «comissão» cobrada ao corruptor por conta da
sua acção de corrupção junto da autoridade
corrompida), a sua idade (45 anos à data e agora 62
anos, um dos arguidos, e 55 anos então e hoje 72
anos, o outro), o seu enquadramento sócio-
económico («Os arguidos encontram-se inseridos
familiar e socialmente e todos eles têm situação
económica abastada e pertencem à alta
burguesia») e o muito tempo entretanto decorrido
(mais de 17 anos) poderão invocar-se para aferir o
quantum exacto da pena de cada um, impelindo-as
- a ambas - para o sopé [2,5 anos] - da moldura de
prevenção.

V - É sabido - e será esse, aliás, o fundamento


substantivo da extinção do procedimento criminal
por prescrição (arts. 118.º e ss. do CP) - que «a
necessidade da pena, do ponto de vista retributivo
e da prevenção geral, e ainda do ponto de vista do
fim ressocializador da pena, se dilui a pouco e
pouco com o decurso progressivo do tempo e
acaba finalmente por desaparecer» - Leal-
Henriques e Simas Santos, CP Anotado, 3.ª edição,
1.º volume, p. 1213.

VI - Daí que, tendo-se diluído com o tempo as


exigências preventivas (apesar de, inicialmente,
imperiosas) de uma pena de prisão, se entreveja
agora - decorridos, sobre o último episódio do
crime dos arguidos, mais de 17 dos 18 anos de
prescrição do procedimento - alguma abertura à
sua substituição por um pena de «suspensão», na
medida em que esta, no novo contexto, já se
mostrará apta «a realizar de forma adequada e
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suficiente as finalidades da punição» (art. 50.º, n.º


1).

VII - Mister será, porém, que cada um dos


arguidos/recorrentes abra mão, com a maior
brevidade, de 1/3 da quantia hoje correspondente
(cerca de 90.000 €) à que eles (e outro, entretanto
falecido) retiveram (a título de «comissão de
lobbying» ou outro) da que, em 05-01-89,
receberam para entrega a X. Aliás, o art. 111.º, n.º 1,
do CP, considera «perdida a favor do Estado toda a
recompensa dada aos agentes do facto ilícito
típico». *
* Sumário elaborado pelo Relator.

Texto Integral
Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

1. Os factos

A Empresa-A é uma empresa alemã de projectos e


engenharia, presidida pelo Engenheiro AA e da qual
é director administrativo BB. Conhecedora do
Projecto de Construção do Aeroporto Internacional
de Macau, cujo anteprojecto/Plano Director fora
elaborado e ultimado no início de 1988, pela
empresa alemã "Aeroportos de Frankfurt", a
Empresa-A, através do eng. AA e BB, pretendeu
obter um contrato para projectar aquele Aeroporto
e/ou intervir em qualquer fase desse Projecto. Para
alcançar esse objectivo, BB e eng. AA, associaram-
se, em Abri de 1988, ao arguido CC. Este arguido
conhecia o eng. DD, o eng. EE e o dr. FF, sócios da
empresa Empresa-B. Sabia o arguido CC que entre
eles havia relações de natureza político-partidária
desde há longo tempo, área política a que CC
também pertencia. Mais sabia que tais relações
abrangiam o então Governador de Macau, que, com
aqueles e outros, fora sócio fundador, em 1987, da
empresa Empresa-B. O arguido CC sabia ainda que,

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através daqueles três arguidos, teria acesso


facilitado e preferencial ao então Governador de
Macau e à Administração do Território. Era do
conhecimento do eng. AA e de BB que o arguido CC
tinha os conhecimentos, atrás referidos, com os
arguidos FF, EE e DD. O eng. AA, em nome da
Empresa-A, encarregou BB e o arguido CC de
concretizar os objectivos já acima aludidos, o que
foi aceite por estes. Na sequência, BB e o arguido
CC deslocaram-se a Lisboa, no dia 28/04/88, à
sede da Empresa-B e reuniram com os arguidos
EE, DD e FF. Ficou então acordado, entre os
arguidos CC, FF, EE e DD, que os futuros contactos
da Empresa-A com o Governador seriam
preferencialmente promovidos pelos arguidos FF e
EE, que possuíam um número de telefone
confidencial do então Governador de Macau, a fim
de obterem instruções para a actuação da
Empresa-A, instruções que depois transmitiriam a
CC e a BB. Na sequência, o arguido FF, dias depois
e após prévia contacto com o então Governador de
Macau, comunicou ao BB e ao arguido CC que se
deslocassem a Macau, onde deveriam contactar a
secretária do Governador, D. GG. No dia 02/05/88,
BB enviou um fax ao então Governador de Macau,
para o Palácio do Governo de Macau, comunicando
o interesse da empresa Empresa-A no Projecto do
Aeroporto de Macau e solicitando-lhe que o
recebesse e a CC, nos dias 9, 10 e 11 desse mesmo
mês de Maio de 1988. Seguindo as instruções do
arguido FF, BB e CC deslocaram-se no dia
09/05/88 a Macau, onde este último contactou a
secretária do Governador, que lhe comunicou que
nesse mesmo dia tinham uma reunião agendada.
Nesse mesmo dia, BB e CC foram recebidos no
Palácio do Governo pelo secretário-adjunto para os
Grandes Empreendimentos, eng. HH, a quem
apresentaram a Empresa-A e os seus propósitos
de intervir no Projecto do Aeroporto de Macau,
tendo-lhes o eng. HH dito para se apresentarem à
fase de pré-qualificação dos concursos. No dia
imediato, 10/05/88,o então Governador de Macau
marcou uma reunião, com o arguido CC e BB, na
sua residência oficial de Macau. Esta reunião só
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não se realizou por doença súbita do então


Governador de Macau, que se ausentou a Hong-
Kong para tratamento de uma cólica renal. A
13/5/88, o eng. HH informou o arguido CC de que
teria considerado a Empresa-A para apresentação
de uma proposta para o Projecto do Aeroporto. No
dia 16/05/88, BB enviou da sede da empresa
Empresa-A, em Estugarda, um fax dirigido ao eng.
HH, para o Palácio do Governo de Macau,
solicitando a confirmação por escrito da
informação dada CC no dia 13/05/88. Porque, a
20/05/88, BB ainda não obtivera resposta àquele
fax, informou do facto o arguido FF, a quem CC
telefonou nos dias 20 e 23 de Maio desse ano para
saber do que se passava e da razão da não
resposta. No dia 31/05/88, da sede da empresa
Empresa-A, BB e o arguido CC enviaram novo fax
ao secretário-adjunto, eng. HH, para o Palácio do
Governo de Macau, solicitando-lhe informação
sobre os últimos desenvolvimentos relativos ao
Projecto do Aeroporto de Macau. No original do
referido fax, que ficou em arquivo na empresa, fez-
se constar uma anotação manuscrita, para
informação ao arguido Dr. FF, de que este era o
segundo fax sem resposta. Em 08/06/88, o arguido
CC e BB reuniram-se em Estugarda para fazerem o
ponto da situação relativo ao projecto do
Aeroporto de Macau. A 16/05/88, BB enviou um fax
ao arguido FF, para a sede da Empresa-B, dando-
lhe a conhecer que o eng. HH o tinha informado de
que recebera já o estudo de viabilidade da empresa
"Aeroportos de Frankfurt" e que se deslocaria na
semana seguinte a Lisboa para discutir o projecto
com os representantes da Empresa-A, bem como o
informou ainda de que o convite, para aquela
empresa fornecer propostas, ocorreria na segunda
quinzena de Julho, o que só viria a concretizar-se,
no entanto, em finais do ano. Em Lisboa, o eng. HH
entregou em mão à Empresa-A o convite para
apresentar a proposta relativa à consultadoria do
Gabinete do Aeroporto Internacional de Macau
(GAIM). Após contactos telefónicos que se
repetiram no tempo, quer para Macau quer para os
arguidos FF, EE e DD, feitos por CC, de comum
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acordo com BB, este deslocou-se em 15/09/88 a


Portugal e reuniu na sede da Empresa-B com CC e
FF para discutirem as últimas informações sobre o
projecto do Aeroporto de Macau. Nessa mesma
reunião, o arguido FF forneceu ao arguido CC e BB
a lista das seis empresas concorrentes ao projecto
global do Aeroporto de Macau e informou-os de
que o Governador de Macau pretendia que a
Empresa-A fosse o planeador principal e revelou-
lhes a forma pela qual ele pretendia constituir a
Companhia do Aeroporto de Macau (CAM), que iria
executar o projecto, a ser constituída por um
consórcio na qual se integraria a Empresa-A com
uma participação de 25%. O arguido FF informou-
os ainda de que o concurso seria em princípios de
1989 e de que deveriam contactar, a partir de então
e com muita frequência, o eng. HH, seguindo as
instruções que lhes fossem dadas por si e pelos
arguidos EE e DD, no que todos acordaram. Em
data não apurada, mas anterior a 04/10/88, o
arguido FF combinou com o então Governador de
Macau, que este recebesse BB e CC para tratarem
dos assuntos referentes à participação da
Empresa-A no projecto do Aeroporto de Macau. No
dia 04/10/88, o arguido FF, em telefonema para o
arguido CC, informou-o de que se deveria deslocar
com BB a Macau para marcar, através da sua
secretária, uma reunião com o Governador.
Seguindo as instruções recebidas do Governador,
através do arguido FF, o arguido CC chegou a
Macau no dia 12/10/88 e telefonou à secretária do
Governador, pedindo que lhe marcasse uma
reunião com o então Governador de Macau para o
próximo dia 14/10/88, pelas 10,15 horas, no Palácio
do Governo. Em virtude de atraso na chegada BB a
Macau, aquela reunião foi adiada para 17/10/88,
pelas 10,30 horas, no Palácio do Governo, data em
que veio efectivamente a ocorrer a reunião entre o
então Governador de Macau e CC e BB. Nesta
reunião, o então Governador de Macau discutiu
com aqueles o Projecto do Aeroporto e a
participação nele da Empresa-A e sugeriu-lhes que
se associassem, para o efeito, à Empresa Geral do
..), para o que deviam contactar o eng. II. Ainda
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nesse mesmo dia, 17/10/88, pelas 16:30, e por


determinação do então Governador de Macau, BB e
o arguido CC reuniram com o dr. JJ, chefe de
gabinete do eng. HH, para que aquele lhes
fornecesse as directivas para o projecto do
Aeroporto. Pelas 18:30 desse mesmo dia, 17/10/88,
o arguido CC telefonou ao arguido FF a informá-lo
do conteúdo da reunião havida e combinaram novo
contacto telefónico para mais tarde, a fim de ao
arguido CC serem dadas novas instruções de
actuação, telefonema que viria a ocorrer às 00:40
horas do dia 18/10/88. No dia 02/11/88, BB, CC, DD,
FF e EE reuniram na sede da Empresa-B, em
Lisboa, para assentarem no contacto com a EGF.
Nesse mesmo dia, 02/11/88, cumprindo as
indicações do Governador de Macau após a reunião
na Empresa-B, a Empresa-A contactou, através de
BB, a empresa EGF, na pessoa do eng. II, propondo-
lhe a associação daquelas duas empresas para a
apresentação de proposta no âmbito do projecto
do Aeroporto de Macau. No mês de Novembro de
1988, aproximando-se a data em que sabiam ir ser
proferida a decisão de pré-qualificação para a
consultadoria do GAIM, os arguidos EE, DD e FF
exigiram a CC, BB e AA a entrega da quantia de
606.000 marcos, valor que havia sido assente no
acordo celebrado, com os objectivos adiante
discriminados, fixando como data limite para essa
entrega o dia 05/01/89. Em 16/12/88, o então
Governador de Macau proferiu despacho (1) , sob
proposta do chefe de gabinete do secretário-
adjunto para os Grandes Empreendimentos, dr. JJ,
e que recebera a concordância deste, autorizando
o ajuste directo, com consulta às empresas
"Empresa-C e, Empresa-A", para contratação como
consultores do GAIM, assim as pré-qualificando.
No dia 20/12/88 foram elaboradas cartas-convite
para a Consultadoria do GAIM, a entregar às
empresas "Empresa-C" e "Empresa-A", assinadas
pelo director do GAIM, dr. KK, que viria a enviar à
Empresa-A, entre 20/12/88 e 12/1/89,
documentação relativa ao projecto. No dia
21/12/88, o dr. JJ enviou do Palácio do Governo de
Macau um fax à Empresa-A, para BB, informando-o
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de que o eng. HH o receberia, na Missão de Macau


em Lisboa, no dia 29/12/88. Neste mesmo mês, o
arguido FF deslocou-se a Macau onde reuniu com o
então Governador de Macau, que lhe entregou uma
cópia de um livro do Governo de Macau, do qual
constava uma ideia geral do Projecto do Aeroporto
de Macau, determinando-lhe que o entregasse em
mão à Empresa-A, em Estugarda, para onde ele se
dirigiu depois. No dia 21/12/88, FF reuniu na sede
da Empresa-A, em Estugarda, com CC e AA,
discutindo a entrada da empresa no Projecto do
Aeroporto. Nessa mesma altura, o FF entregou
àqueles a tal cópia e informou-os de que seriam
bem recebidos pelo Governador de Macau,
voltando a exigir-lhes a entrega da quantia de
606.000 marcos. No dia 28/12/88, em Lisboa, no
Hotel Tivoli, BB e os arguidos CC e DD reuniram-se
para preparar a reunião que, no dia seguinte,
aqueles dois primeiros arguidos iriam ter na Missão
de Macau com o eng. HH, e de cujo resultado
informariam depois DD. Naquele mesmo dia
28/12/88, e no mesmo local, pelas 23:00 horas, BB
e CC reuniram-se com o eng. MM, da EGF, tendo o
eng. DD abandonado previamente o hotel. A
29/12/88, conforme o agendado, teve lugar na
Missão de Macau, em Lisboa, pelas 10 horas, a
reunião entre o eng. HH, BB e CC. Nesta reunião
discutiram-se as questões que interessavam ao
concurso de Consultadoria do GAIM, tendo o eng.
HH entregue em mão a carta-convite de pré-
qualificação da Empresa-A, com a indicação dos
objectivos e do prazo para apresentação da
proposta, actuação esta que o eng. HH já havia tido
com a "Empresa-C". Neste mesmo dia, 29 de
Dezembro de 1988, conforme o acordado no dia
anterior, CC e BB reuniram-se com o arguido DD,
relatando a este o teor da reunião havida com o
eng. HH. Naquela reunião, DD voltou a insistir com
o arguido CC e com BB para que pagassem a tal
quantia de 606.000 marcos, até à fixada data limite
de 05/01/89. Em finais de Dezembro de 1988, a
Empresa-A, que desde Abril desse ano tinha
acesso directo ao Governador de Macau, obtivera
informações e instruções de actuação relativas ao
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Projecto do Aeroporto de Macau, directamente ou


através dos arguidos DD, EE e FF, e fora pré-
qualificada para apresentação de uma proposta
para a Consultadoria do GAIM, pelo processo de
ajuste directo, decorrendo nessa altura, o prazo
para apresentação da sua proposta para posterior
decisão. Face às exigências, por parte dos
arguidos EE, DD e FF, dos tais 606.000 marcos, BB
e AA decidiram proceder àquele pagamento (2). No
dia 02/01/89, a Empresa-A enviou a CC o cheque nº
0000604898, do banco ...,de Stuttgart, no
montante de 606.000 marcos, em nome de CC,
assinado por BB e datado desse mesmo dia
02/01/89. Juntamente com este cheque, BB enviou
um fax (3) a CC instruindo-o para que (...) o
montante constante daquele título fosse entregue
até 05/01/89 aos arguidos EE, DD e FF. De posse do
referido cheque, o arguido CC veio a Lisboa, no
05/01/89 e apresentou-se na sede da Empresa-B,
onde pretendeu fazer a entrega aos arguidos EE,
DD e FF. Porém, estes arguidos recusaram-se a
receber tal cheque, exigindo a CC o pagamento em
notas do Banco de Portugal. Face a esta recusa e à
urgência quanto à data limite para o pagamento,
CC telefonou para o seu amigo dr. LL, gerente da
agência da União de Bancos Portugueses, em ... e
pediu-lhe que, com muita urgência, lhe
convertesse o cheque em dinheiro, logo pela
manhã do dia seguinte. CC, que se deslocara a
Lisboa de avião, regressou por esse mesmo meio
de transporte, ao Porto, no mesmo dia. No dia
seguinte, 06/01/89, logo à hora de abertura dos
bancos, apresentou-se na Agência da União de
Bancos Portugueses, em ..., para trocar o referido
cheque por notas do Banco de Portugal. Porque
aquela agência não dispunha então de tal quantia
em dinheiro, adquiriu ao arguido CC o referido
cheque alemão e em troca emitiu a favor de CC um
outro cheque bancário sobre a União de Bancos
Portugueses, do Porto, Rua Sá da Bandeira, no
montante de 49.662.920$. O dr. LL telefonou à
União de Bancos Portugueses, do Porto, agência
da Rua Sá da Bandeira, avisando que ali se
deslocaria o arguido CC, nesse mesmo dia, para
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receber, em notas do Banco de Portugal, a quantia


constante do cheque bancário referido. Ainda na
manhã desse mesmo dia 06/01/89, o arguido CC, de
posse do referido cheque bancário, apresentou-se
na agência da União de Bancos Portugueses, na
Rua Sá da Bandeira, no Porto, sita no edifício
conhecido por "...,onde trocou aquele cheque por
notas do Banco de Portugal, pedindo, que as
embrulhassem em papel grosseiro, a fim de não
ser notado o seu transporte. A quantia referida foi-
lhe entregue em notas de 5.000$, numa caixa de
papelão para impressos do Banco, na qual
constavam os dizeres "...", escritos a vermelho, e
embrulhada, por sua vez, em papel pardo (4) . De
posse das notas do Banco Portugal, já referidas, o
arguido CC, ainda nesse mesmo dia 06/01/89,
voltou de avião a Lisboa, onde tinha no aeroporto à
sua espera o carro e o motorista do arguido FF, que
o transportou à sede da Empresa-B. Aí o arguido
CC entregou aos arguidos EE, FF e DD, a quantia
em dinheiro referida, que estes receberam no
gabinete do arguido FF, a qual foi de imediato
retirada daquela caixa e guardada no cofre da
empresa "Empresa-B". Após esta entrega pessoal
do dinheiro, o arguido CC, no mesmo dia, regressou
de avião ao Porto, onde, no dia 09/01/89, enviou um
fax ao então Governador de Macau a comunicar-lhe
que a Empresa-A recebera o convite para a
proposta à consultadoria do GAIM, e que o
informara que iria apresentar tal proposta, em
Macau, no dia 16/01/89 e que pretendia ter com ele
uma reunião. No dia 12/01/89, o eng. MM, da EGF,
deslocou-se à sede da Empresa-A, em Estugarda,
para elaboração conjunta da proposta à
Consultadoria do GAIM, a qual foi elaborada no dia
13 desse mesmo mês e ano. Neste dia 13/01/89, o
arguido CC e BB reuniram e telefonaram a FF e a
EE, a quem informaram do ponto da situação. No
dia 16/01/89, BB e CC, em Macau, entregaram em
mão a referida proposta da Empresa-A ao dr. JJ,
chefe de gabinete do eng. HH. Nesse mesmo dia, o
arguido CC telefonou para Lisboa e informou os
arguidos DD e FF desses factos. Nos dias 19 e 20 de
Janeiro de 1989, o então Governador de Macau
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adquiriu em leilão da firma "Empresa-D" sete peças


de antiguidades e obras de arte, (...) no valor total
de 15.492.790$. Para o pagamento deste valor, o
então Governador de Macau deu instruções ao
arguido EE para que liquidasse tal débito. Em
cumprimento destas instruções, o arguido EE, com
conhecimento e o acordo do arguido FF e do DD,
em data não determinada, mas que será próxima
do dia 20 de Janeiro de 1989, pediu à drª PP que
abrisse o cofre da Empresa-B e dai retirasse a
importância em dinheiro correspondente ao débito
do então Governador de Macau à firma “Empresa-
D". O arguido EE pediu à dr.ª PP, que o
acompanhasse às instalações daquela firma,
invocando que ia fazer um pagamento e precisava
de uma testemunha. Na sequência, o arguido EE e
a drª PP dirigiram-se àquela empresa (...), onde
aquele pagou em dinheiro a D. NN a importância de
15.492.790$ devida pelo então Governador de
Macau. Este deu ainda instruções ao arguido EE
para que depositasse na conta bancária de OO,
senhora com quem o então Governador de Macau
vivia à época e há já alguns anos, em união de
facto, e hoje sua esposa, a quantia de 12.000.000$ (
5). Dando execução ao determinado pelo então
Governador de Macau, o arguido EE, com o
conhecimento e aceitação dos arguidos DD e FF,
deu ordem no dia 26/01/89 à Dr.ª PP para retirar do
cofre da Empresa-B 12.000.000$ em notas do
Banco de Portugal e para os depositar naquela
conta bancária de D. OO. Quando a drª PP ia a sair
da Empresa-B, para depositar aquela quantia que
já retirara do cofre daquela empresa, DD disse-lhe
para aguardar, porquanto pretendia que tal
depósito fosse efectuado por cheque nominativo,
para poder ficar com documento comprovativo do
depósito (6. Já no ano de 1990, o arguido FF
determinou à dr.ª PP ( 7) que colocasse no cofre da
empresa Empresa-B um envelope aberto, que lhe
entregou, contendo uma fotocópia da factura de
20/01/89, referente ao pagamento em numerário
de 15.492.790$ à "Empresa-D", uma fotocópia do
documento de depósito do cheque da "Empresa-E"
na conta da D. OO, no montante de 12.000.000$,
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efectuado em 27/01/89, e ainda duas fotocópias


referentes a um depósito de 10.000.000$
efectuado em 09/03/89, pelo arguido FF, da sua
conta privada, na conta bancária do então
Governador de Macau, no Banco Totta & Açores,
agência do Marquês de Pombal, e de um depósito
de 3.975.000$ efectuado no dia 05/04/89 da conta
bancária solidária dos arguidos EE, DD e FF, como
administradores da Empresa-B, para a conta
bancária já referida do então Governador de Macau,
no Banco ..., agência do Marquês de Pombal (8) . A
17/01/89, dia imediato à entrega da proposta da
Empresa-A, foram abertas, pela comissão
designada para o efeito, as propostas das
empresas "Empresa-A" e "Empresa-C", que foram
entregues ao presidente do GAIM, eng. KK.
Correram posteriormente reuniões de trabalho
entre o eng. HH e o eng. KK, com os
representantes das empresas concorrentes
Empresa-A e Empresa-C, tendentes à correcção e
esclarecimento das propostas apresentadas e já
abertas. No dia 18/01/89, BB reuniu com o eng. HH,
reunião da qual resultou um protocolo que CC viria
posteriormente a entregar ao arguido EE, na sede
da Empresa-B. No dia 14/02/89, o arguido CC, BB e
um tal ..., técnico da Empresa-A, deslocaram-se a
Macau, onde chegaram no dia seguinte, 15 de
Fevereiro, para uma reunião com o eng. KK, por
este convocada, no âmbito das discussões da
proposta da Empresa-A. Antes da partida para
Macau, BB enviou da sede da Empresa-A um fax ao
governador de Macau, para o Palácio do Governo,
de Macau, comunicando-lhe a sua deslocação e de
CC, a Macau, a 14/02/89, e pedindo-lhe que os
recebesse. No dia 16/02/89, BB e CC reuniram em
Macau com o Director do GAIM, eng. KK, que lhes
comunicou que a proposta da Empresa-A ia além
do pretendido, abrangendo áreas de actividade do
âmbito da CAM e que era uma proposta muito cara.
No dia seguinte, 17/02/89, a Empresa-A reduziu o
preço e BB e CC reuniram no Palácio do Governo
com o então Governador de Macau a quem
informaram do ocorrido na reunião havida com o
Director do GAIM. Nesta reunião com o então
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Governador de Macau, este informou o arguido CC


e BB que a CAM, empresa em que o Território de
Macau detinha um terço do capital, iria começar a
funcionar, desenvolvendo os seus objectivos de
projecto e construção do Aeroporto Internacional
de Macau. Nessa mesma reunião, o então
Governador de Macau informou ainda BB e o
arguido CC da nomeação dos membros do
Conselho de Administração da CAM e de que o
acordo existente entre os arguidos poderia ser
alargado a áreas de competência da CAM, desde
que esta estivesse de acordo com todas as partes.
De seguida, BB e o arguido CC regressaram a
Estugarda, onde se reuniram no dia 20/02/89, na
sede da Empresa-A. Daí enviaram uma missiva
confidencial ao então Governador de Macau, e com
referência à reunião havida com ele em Macau no
dia 17/02/89, convidando-o a ir a Estugarda. No dia
28/02/89, sobre um parecer/proposta do GAIM de
22/02/89, face à melhor valia técnica e ao muito
mais baixo preço da proposta da empresa
"Empresa-C", o eng. HH, secretário-adjunto para os
Grandes Empreendimentos, decidiu – decisão que
não comunicou à Empresa-A - que se negociasse o
contrato para consultadoria do GAIM com a
empresa “Empresa-C”. No dia 08/03/89, foi
concedida à empresa CAM a concessão da
construção e exploração do Aeroporto de Macau.
No dia 16/03/89, em Estugarda, BB revelou ao
arguido CC a sua preocupação pelo facto de a
Empresa-A ir fazer o seu balanço e não ter como
justificar o pagamento dos 606.000 marcos
efectuado aos arguidos EE, FF, DD, dado que ainda
não fora obtida nenhuma posição negocial no
projecto do Aeroporto de Macau. Por isso, foram
feitos telefonemas entre BB e os arguidos CC e Dr.
FF, no sentido de urgentemente ser conseguida
uma posição contratual da Empresa-A no projecto
global do Aeroporto de Macau. E ocorreu uma
reunião na sede da Empresa-B, em Lisboa, no dia
20/03/89 entre os arguidos FF e CC. No dia
04/04/89, CC, BB e FF reuniram-se na sede da
Empresa-B. No dia 05/04/89, ocorreu uma reunião
na Missão de Macau, em Lisboa, entre BB e o então
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Governador de Macau. Em 06/04/89, CC telefonou


para Macau ao eng. KK, Director do GAIM,
comunicando-lhe que iria a Macau com BB no dia
13 desse mesmo mês e ano para apresentarem
uma nova proposta/candidatura à consultadoria do
GAIM com grande redução de preços e que
pretendiam discuti-la com ele, eng. KK. Este
telefonema foi confirmado por fax de BB dirigido
ao eng. KK em 07/04/89. No dia 10/04/89, o eng.
KK respondeu a BB, por fax, referindo que as
propostas anteriormente apresentadas estavam a
ser analisadas e comparadas, não sendo
aconselhável tal deslocação a Macau. BB, no
mesmo dia 10/04/89, enviou um fax ao então
Governador de Macau, no qual, aludindo às
conversações entre eles havidas a 05/04/89,
afirmou que a Empresa-A estava fortemente
interessada em fornecer serviços de assessoria ao
GAIM, propondo a realização de um encontro com o
eng. KK, no dia 13/04/89, a fim de com este discutir
uma proposta modificada. Nesse mesmo fax, BB
afirmou que essa proposta alterada correspondia
ao pretendido pelo então Governador de Macau na
referida reunião de 05/04/89. No dia seguinte,
11/04/89, BB enviou um novo fax ao eng. KK, no
qual referiu um telefonema entretanto havido entre
este e o arguido CC e anunciou que ia a Macau para
com ele reunir no dia 13. No dia 14, o arguido CC e
BB reuniram em Macau, no Palácio do Governo,
com o eng. HH e com o eng. KK, convocado para
aquela reunião pelo secretário-adjunto. Na reunião
de 14/04/89, a Empresa-A, pelo arguido CC e BB,
apresentou uma nova proposta com o preço
reduzido. Nesse mesmo dia, aquela nova proposta
foi recusada pelo secretário-adjunto, eng. HH, sob
informação nesse sentido do eng. KK, por se
mostrar extemporânea e por existir já uma decisão
preliminar do eng. HH a preferir negociações de
contrato com a Empresa-C. Esta decisão foi
comunicada à Empresa-A bem como a preferência
dada à empresa “Empresa-C”. No dia 17/04/89, em
Lisboa, o arguido CC entregou a EE um protocolo
relativo ao "processo do Aeroporto de Macau". A
04/05/89, reuniram em Lisboa os arguidos CC e EE
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para de novo tratarem do assunto relativo ao


projecto do Aeroporto de Macau. No dia 11/05/89,
BB enviou um fax ao eng. HH, na sequência de uma
conversa telefónica entre eles havida no dia 8 de
Maio de 1989, anunciando-lhe a sua chegada a
Macau a 21/05/89 e solicitando-lhe uma reunião
para o dia seguinte, 22/05/89. Em resposta, o eng.
HH, por fax de 12/05/89, confirmou a reunião
solicitada, a realizar também com a presença do
presidente da CAM, dr.SS. Nesse mesmo dia
12/05/89, o então Governador de Macau, face à
ultimação das negociações do eng. KK com os
“Empresa-C” relativas ao contrato a celebrar e
decididas pelo eng. HH a 28/02/89, despachou,
sobre informação do GAIM, a aprovação da minuta
do contrato a celebrar com aquela empresa, como
consultora do GAIM, e dispensou expressamente o
concurso público, autorizando de novo a
adjudicação por ajuste directo. No dia 22/05/89, no
Palácio do Governo de Macau, o eng. HH reuniu, tal
como fora acordado, com BB e o arguido CC e com
o Presidente da CAM, dr.SS, que para o efeito
convocara. Nessa reunião, o eng. HH informou o
arguido CC e BB de que o projecto do Aeroporto de
Macau estava já todo distribuído, perguntando-
lhes, se estavam interessados em obter da CAM (9)
a subconcessão para projectar, construir, financiar
e explorar o terminal de passageiros daquele
Aeroporto. Com as informações recebidas do eng.
HH na reunião de 22/05/89, pois haviam perdido o
concurso do GAIM, o arguido CC e BB telefonaram
para Lisboa ao arguido EE a informá-lo do
sucedido, respondendo-lhes este que iria
contactar o então Governador de Macau a pedir
instruções e que depois lhas transmitiria. Pelas
23:30 horas desse mesmo dia, o arguido EE
telefonou a CC, para Macau, informando-o de que,
de acordo com as instruções do então Governador
de Macau, este recebê-lo-ia, a si e a BB, no dia
seguinte. O arguido eng. EE instruiu-o ainda para
que telefonasse à secretária do Governador, cujo
número de telefone lhe forneceu, a solicitar da sua
parte, EE, a marcação imediata de uma reunião
com o Governador e que lhe dissesse (à secretária)
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que este já estaria informado do assunto. Seguindo


estas instruções, o arguido CC, na manhã do dia
seguinte, 23/05/89, telefonou para a secretária do
governador e nesse mesmo dia, pelas 13:15, teve
lugar no Palácio do Governo uma reunião entre o
então Governador de Macau e os arguidos CC e BB.
Nesta reunião, o então Governador de Macau
conversou com CC e BB sobre a possibilidade de
obterem um contrato com a CAM relativo ao
terminal de carga e passageiros do Aeroporto de
Macau. BB e o arguido CC, ainda nesse mesmo dia
23/05/89, entregaram em mão ao presidente da
CAM, dr.SS, uma pretensão da Empresa-A para
prestarem serviços à CAM, designadamente
quanto ao projecto do complexo de carga e ao
terminal de passageiros do Aeroporto de Macau, ao
mesmo tempo que entregaram cópias ao eng. HH e
informaram o eng. EE. No princípio de Junho de
1989, BB enviou ao dr.SS, na sequência da
pretensão da CAM, em 23/05/89, a proposta formal
da Empresa-A para a concessão do projecto dos
terminais de carga e passageiros do Aeroporto de
Macau. Porque tal proposta só referia o projecto
dos terminais e não também, como a CAM
pretendia, a sua construção, exploração e
financiamento, o dr.SS não respondeu à Empresa-
A ( 10) . A 05/07/89, pelas 11:30, BB reuniu a sós, na
Missão de Macau, com o então Governador de
Macau, a quem referiu a preocupação da Empresa-
A por ter perdido o concurso de consultadoria do
GAIM e querendo saber se aquela empresa poderia
intervir noutra área do projecto do Aeroporto de
Macau. O então Governador de Macau respondeu-
lhe que ainda havia muito a fazer naquele projecto
e disse-lhe para procurarem a CAM, aguardando
até finais de Agosto de 1989 a decisão que
eventualmente lhes poderia atribuir a
subconcessão do projecto dos terminais de carga
e passageiros do Aeroporto de Macau. Após esta
reunião, BB almoçou no Hotel ... com os arguidos
CC e EE, tendo relatado o teor da conversa havida
com o então Governador de Macau, ao que o
arguido EE comentou: “Como vocês vêem, está
tudo a correr bem”. A 14/07/89, BB enviou a CC um
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fax confidencial no qual refere que “tal como lhe


afirmei pelo telefone encontro-me pessoalmente
sob grande pressão devido às promessas relativas
a Macau, ainda não cumpridas até ao presente; os
pagamentos para Lisboa foram efectuados, como
sabe, em Janeiro, sendo nós agora, relativamente
à nossa entrevista, forçados a esperar até finais de
Agosto”. BB referiu, no fax, a reunião que tivera
com o então Governador de Macau a 05/07/89, e
disse que aguardaria uma decisão positiva até ao
prazo limite de 30/09/89, data a partir da qual se
teria de providenciar pelo reembolso dos 606.000
marcos já pagos. A 20/07/89, teve lugar uma
assembleia geral da Empresa-B na qual se votou
contra o aumento do capital social desta empresa
de 100.000.000$ para 2.000.000.000$, por
subscrição particular através da emissão de novas
acções, a realizar em dinheiro e a entrada da
empresa F numa posição não inferior a 30% no
novo capital social da Empresa-B. Esta
intervenção da Empresa-F na Empresa-B havia
sido sugerida ao arguido FF (?) pelo então
Governador de Macau, tendo-lhe aquele
respondido que votaria contra essa participação, o
que fez, por não querer conotações entre a
Empresa-B e o Território de Macau, dado que
soubera que a Empresa-F esperava obter
contrapartidas, em termos de adjudicações no
Território de Macau, para assim poder concretizar
a sua participação no referido aumento de capital
na Empresa-B. Na sequência destas ocorrências,
EE abandonou a Empresa-B e cortou relações com
DD e FF, mantendo as suas boas relações com o
então Governador de Macau, com quem até então
fora o interlocutor privilegiado no que toca às
pretensões da Empresa-A. O arguido FF alertou o
arguido CC e BB de que a ruptura com o arguido EE
trouxera como consequência ficar diminuída a sua
capacidade negocial relativamente aos assuntos
de Macau, dado que também o acesso ao
Governador de Macau teria ficado assim
prejudicado. A partir dessa altura, CC, apesar de
sucessivas tentativas, não conseguiu falar nem
com o arguido EE nem com o então Governador de
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Macau, que por sua vez se recusava a recebê-lo.


Em 15/08/89, BB enviou ao dr.SS uma nova
proposta, segundo a qual a Empresa-A parecia
estar fora do projecto e pediu-lhe que confirmasse
tal informação, a qual, a ser verdadeira, implicava
que se exigisse uma compensação, conforme lhe
referira no fax de 14/07/89. Dois dias depois, a
30/08/89 [ (11) ], BB enviou um fax (12) ao
Governador de Macau para a sua residência
naquele território: “O Sr. CC tem tentado contactar
V. Ex.ª durante estes últimos dias, tendo a sua
secretária, Sr.ª GG, dito que informaria V. Ex.ª de tal
facto. Na sequência da nossa conversa tida em
Julho [13) ], ficaríamos gratos a V. Ex.ª se nos
informasse sobre a actual situação da nossa
proposta”. Durante os meses de Agosto e
Setembro de 1989, o arguido CC solicitou por
diversas vezes a FF que, na falta de uma decisão
favorável sobre a proposta da Empresa-A à CAM,
lhe fosse devolvida a importância dos 606.000
marcos referida supra, respondendo-lhe aquele
que pedisse o dinheiro ao então Governador de
Macau, que teria levado a maior parte. No dia
26/09/89, o arguido CC reuniu em Estugarda com
BB, que, em 6 de Outubro de 1989, lhe enviou um
fax, alargando para 15/10/89, o prazo que fixara até
30/09/89, para o reembolso dos 606.000 marcos
ou para a obtenção da concessão do projecto à
CAM. No dia 16/10/89, CC reuniu na sede Empresa-
B, em Lisboa, com os arguidos DD e FF, a quem
pediu a restituição dos 606.000 marcos já
referidos e a quem disse que nunca mais
conseguira contactar com o então Governador de
Macau, respondendo-lhes aqueles que pedisse tal
quantia ao então Governador de Macau. O arguido
FF disse ainda a CC para que contactasse nesse
sentido o Governador de Macau. No dia 18/10/1989,
AA enviou um fax ao então Governador de Macau
para a sua residência naquele Território, para o já
referido número reservado, que foi recepcionado
no respectivo aparelho de fax (de número
reservado e confidencial). Nesse fax, (...) AA
lamentou a ausência de resposta por parte do
então Governador de Macau, quanto à decisão
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sobre a pretensão da Empresa-A ao projecto dos


terminais do Aeroporto de Macau, referindo ainda a
ausência de resposta por parte do governador aos
telefonemas que AA, BB e CC lhe vinham fazendo,
sem resultado, e a ausência de resposta aos faxes
que lhe tinham enviado. No mesmo fax, referiu
ainda o eng. AA contactos havidos com o então
Governador de Macau, ao longo de 18 meses, o
adiamento sucessivo da sua decisão e salientou
que, pela sua parte, cumprira os desejos
financeiros do então Governador de Macau, pelo
que lhe solicitou a devolução dos 606.000 marcos
que lhe pagara, de acordo com as instruções por
ele dadas, caso o então Governador de Macau já
não tenha interesse em conceder à Empresa-A
qualquer posição no projecto do Aeroporto de
Macau. O texto deste fax foi ditado
telefonicamente pelo arguido FF ao arguido CC,
que, após a concordância de BB, o transmitiu ao
eng. AA, por via telefónica, sendo este que viria a
assinar o documento, dactilografado na Empresa-
A, enviando-o ao então Governador de Macau, com
o objectivo de lhe exigir a devolução do dinheiro
que alegadamente pagara e que, apesar das
múltiplas insistências, não fora devolvido.

Em 19/12/89, BB enviou um fax a CC para que o


problema da devolução do dinheiro fosse resolvido
até ao fim do ano. Em 19/01/90, BB enviou novo fax
a CC para que este providenciasse o reembolso
imediato da denominada “comissão Macau”,
traduzida pelos 606.000 marcos, informando-o que
precisava do reembolso do mesmo até à primeira
semana de Fevereiro de 1990. Em 30/01/90, BB
enviou novo fax a CC, aludindo a um telefonema
deste, segundo o qual o então Governador de
Macau e os arguidos EE, DD e FF precisavam de um
prazo até fim de Fevereiro de 1990 para devolver
aquela importância de 606.000 marcos que haviam
recebido, e pediu que o arguido CC confirmasse,
por escrito, a devolução daquela quantia até àquela
data de finais de Fevereiro de 1990. Na l.ª quinzena
de Fevereiro, em dia não apurado, o arguido FF
forneceu uma cópia do fax à jornalista TT, que o fez
publicar na edição de 16/02/90 do semanário “O
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Independente”.

Os arguidos FF, EE e DD deram conhecimento ao


então Governador de Macau de estar a Empresa-A
disposta a pagar a final uma quantia não apurada,
desde que por este Governador, e no exercício das
suas funções, fosse dado à Empresa-A, no âmbito
das pré-qualificações em concursos, adjudicações
e posições contratuais, atinentes ao “Projecto do
Aeroporto Internacional de Macau”, um tratamento
mais favorável do que a terceiros, de modo que lhe
permitisse (à Empresa-A) ser a empresa pré-
qualificada em tais concursos e a que obtivesse,
por fim, as referidas adjudicações. Mais deram
aqueles arguidos, FF, EE e DD, conhecimento ao
então Governador de Macau de que a aludida
quantia dos 606.000 marcos alemães, entregue na
Empresa-B em 06/01/89, constituía parte do
pagamento da quantia referida. Deram ainda tais
arguidos, FF, EE e DD, conhecimento de que fora
da importância de 606.000 marcos que saíram os
já referidos 27.492.790$. Em nome da Empresa-A e
com o conhecimento e acordo prévio de AA, BB e o
arguido CC, foi proposto por estes, aos arguidos
FF, EE e DD, pagar-lhes a final uma quantia não
apurada e dispondo-se a Empresa-A ao pagamento
imediato de 606.000 marcos alemães, importância
a dividir em proporção não apuradas entre os
arguidos FF, EE, Menano Amaral do então
Governador de Macau. Os pagamentos prometidos
visavam a prática, pelo então Governador de
Macau, por si ou interposta pessoa, de actos que
conduzissem ao tratamento da empresa Empresa-
A de uma forma favorável e com parcialidade,
vantajosamente desigual, relativamente a outros
eventuais concorrentes ao Projecto do Aeroporto
de Macau, que não disporiam daquelas condições
de acesso, informação e decisão. Os arguidos DD,
EE e FF, aceitaram a proposta que lhes foi
apresentada e de comum acordo, decidiram
apresentar, por intermédio de um dos arguidos DD,
EE ou FF, ao então Governador de Macau, a
proposta já descrita, prometendo pagar-lhe
quantia não determinada para a prática por si, no
exercício das suas funções de Governador de
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Macau ou por interposta pessoa, dos factos


referidos. Cada um dos arguidos CC, EE, Menano
do Amarai e FF, ao agir como descrito em toda a
matéria dada como provada, fê-lo consciente e
voluntariamente, sabendo que tal actuação não
lhes era permitida por lei e conhecendo a
qualidade do então Governador de Macau e só por
isso tiveram aquele comportamento.

Os arguidos não têm antecedentes criminais. Os


arguidos FF e DD não prestaram confissão. O
arguido CC prestou alguma colaboração com a
entidade policial e o tribunal, dispondo-se após
instâncias das autoridades competentes a
fornecer elementos, que se mostraram decisivos
no apuramento da verdade material, não obstante
sempre ter negado em audiência o seu
envolvimento em acto ilícito, alegando apenas ter
servido de intermediário entre a Empresa-A e os
arguidos administradores da Empresa-B. Os
arguidos FF e DD prestaram declarações, alegando
que a sua actividade com os alemães se inseria em
prática de "lobbying" no tocante aos assuntos de
Macau (...). Todos os arguidos se encontram
inseridos familiar e socialmente e têm hipóteses
de realização profissional. Todos os arguidos têm
situação económica abastada e quanto à sua
condição social pertencem à alta burguesia.

CC foi portador da quantia de 50.000.000$, dados


pela Empresa-A, para entrega aos arguidos FF, EE
e DD.

A Empresa-A é uma prestigiada empresa de


engenharia, com sede na Alemanha, que pretendia
alargar a sua actividade na área do Projecto do
Aeroporto de Macau e, como referido, contactou os
arguidos FF, EE e DD, administradores da
Empresa-B. Os arguidos FF, EE e DD conheciam
Macau, porque tinham estabelecido vários
contactos no território, em ordem à realização de
investimentos naquele território no domínio das
telecomunicações e tinham também em curso, em
Portugal, vários projectos de investimento através
da Empresa-B. O objecto da colaboração
pretendida pela Empresa-A estava fora do objecto
social da Empresa-B e os três arguidos, FF, EE e
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DD, propuseram-se actuar como de facto


actuaram. Em razão do conhecimento pessoal e
das relações de amizade, que estes três arguidos
mantinham com o então Governador de Macau,
sabiam dos seus múltiplos projectos para o
Território e que este procurava atrair empresas
portuguesas e europeias para colaborarem técnica
e financeiramente naqueles empreendimentos.
Estes três arguidos iniciaram os seus contactos
junto do governo de Macau e facilitaram os
contactos entre a Empresa-A e os serviços
daquele governo. Para o projecto de consultadoria
do GAIM, foram convidadas duas empresas: os
"Empresa-C" e a "Empresa-A", tendo o projecto sido
adjudicado aos "Empresa-C" e não à “Empresa-A”.
Esta empresa apresentou a concurso uma
proposta deficientemente elaborada, indo além do
pretendido, abrangendo áreas de actividade da
CAM. Esta estava interessada em conceder a
exploração do Terminal de passageiros do
Aeroporto (subconcessão para projectar, construir,
financiar e explorar o Terminal). O então
Governador de Macau procedeu ao "endosso" das
acções que detinha na Empresa-B, em data
anterior ao início destes autos de processo-crime.
Foi o arguido EE que procedeu ao pagamento da
factura de compra de antiguidades, cuja fotocópia
consta de fls. 120. O arguido EE e o então
Governador de Macau mantinham relações
pessoais de amizade desde há muitos anos. Os
arguidos FF e DD tomaram conhecimento de que o
arguido EE tinha levantado da caixa, comum aos
três, cerca de 15.000.000$. Os três arguidos
sabiam que o então Governador de Macau, era, de
há muito coleccionador de antiguidades. No
próprio dia, em que os três arguidos receberam os
cerca de 50.000.000$ da Empresa-A, depositaram
em dinheiro, na conta da Empresa-B, 31.000.000$.
O arguido FF sabia que o arguido EE tinha
levantado os referidos cerca de 15.000.000$ para
pagamento da factura de antiguidades de fls. 120.
As relações entre o arguido FF e os restantes
accionistas da Empresa-B tinham-se deteriorado e
aquele mantinha a convicção de que eles o
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pretendiam afastar da posição de liderança que


mantinha na Empresa-B. Houve várias tentativas
para a admissão de novos accionistas na Empresa-
B, entre os quais a Empresa-F empresa com fortes
interesses comerciais em Macau e a que
apareciam associados anteriores accionistas da
Empresa-B, como era o caso do dr. YY. A entrada
da Empresa-F na Empresa-B não se concretizou.
Verificou-se o afastamento do arguido EE da
actividade do dia a dia da Empresa-B, tal se
devendo à discordância com a liderança do arguido
FF. O financeiro e falecido ... teve projectos de
associação com a Empresa-B no domínio da
comunicação social.

O ex-arguido EE era administrador da Empresa-B,


por força da sua experiência em empresas de
comunicação social, tais como a ANOP, RTP, CEIG
e ... .... .... A Empresa-B propunha-se ser a "holding"
de um conjunto de sociedades anónimas
destinadas a intervir na comunicação social na
imprensa escrita, rádio e televisão. Os arguidos,
administradores da Empresa-B, pretendiam
desenvolver um conjunto de actividades e
iniciativas, nas áreas dos transportes,
telecomunicações e turismo, para as quais
procuravam sócios, tentando implementar
diversas "joint ventures". O pagamento à "Empresa-
D" foi feito na data de 16/02/89. (...)

O Governo de Macau tinha projectado um


consórcio, para constituir a CAM, que iria executar
o projecto, a ser constituída por um consórcio, no
qual se poderia integrar a Empresa-A, com uma
participação de 25%. Outro projecto, diverso no
seu significado económico, era o da consultadoria
do GAIM. (...) No dia em que os arguidos FF, EE e DD
receberam os cerca de 50.000.000$ da Empresa-
A, depositaram em dinheiro na conta da Empresa-
B, 31.000.000$. Nesta altura, as relações pessoais
entre o arguido DD e o então Governador de Macau
estavam praticamente rompidas. Porém, o arguido
DD nada teve a ver com a emissão e publicação
posterior do fax.

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2. A condenação

Com base nestes factos, a 3.ª Vara Criminal de


Lisboa, em 13Jul06, condenou FF (-16Abr44) e DD
(-08Jan34), como co-autores materiais «de um
crime de corrupção activa para acto ilícito, p.
artigos 374º nº 1 e 26º do Código Penal/95» [prisão
de 6 meses a 5 anos], nas penas, respectivamente,
de 3 anos e 6 meses de prisão e de 3 anos de
prisão:

Os arguidos CC, FF (...) e DD encontram-se


acusados da prática em co-autoria de um crime de
corrupção activa p. p. art. 423º nº 1, com referência
aos art.s 420º nº 1 e 437º, todos do Código Penal, a
conjugar com as disposições dos artigos 2º e 4º do
Decreto-Lei nº 371/83, de 6 de Outubro e ainda art.
26º também do Código Penal, a que correspondia, à
data da prática dos factos, uma pena de prisão de 1
(um) a 6 (seis) anos e multa de 50 a 150 dias.
Etimologicamente, "o termo corrupção designa a
acção de decomposição, de apodrecimento. A sua
acepção directa refere-se aos constituintes
orgânicos, que entram em decomposição logo que
o ser vivo, planta ou animal, morre. O sentido
metafórico é mais amplo, que o sentido restrito.
Refere-se, normalmente ao afastamento de uma
certa matriz tida por modelo de perfeição. No seu
uso mais vulgar, refere-se à falta de honestidade,
que deve acompanhar o desempenho de
determinadas funções, especialmente de carácter
público. Os funcionários e as pessoas investidas
nos altos cargos do Estado, quando deixam
influenciar as suas decisões por uma recompensa,
normalmente financeira, pagamento, subsídio,
suborno ou qualquer outra forma de contrapartida
da vantagem concedida, são apelidados de
corruptos. Regista-se aqui um afastamento da
matriz de honestidade, tida por perfeita dentro da
escala de valores em vigor na sociedade. Deste
modo, diz-se que há corrupção quando as pessoas
encarregues da Administração e de determinadas
tarefas públicas mudam a justiça, a equidade, a
ordem de precedências, o montante dos
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pagamentos, o volume das indemnizações, as


adjudicações, os contratos, as sanções ou
qualquer transferência económica, em favor
daquele grupo ou daquela pessoa, que oferece uma
contrapartida de qualquer tipo. A corrupção pode
ocorrer não somente naqueles que desempenham
uma função que implique poder de decisão, como
também naqueles em que foi delegada a
capacidade de decidir com eficácia. Geralmente,
as leis de todos os países prestam uma atenção
muito especial à Corrupção e castigam tanto o
corrompido como o agente corruptor." de A. ....in
"Enciclopédia Pólis da Sociedade e do Estado",
Editorial Verbo. Antes de mais, convém referir e
acentuar a existência e diferença entre o crime de
corrupção passiva e o corrupção activa. Os
doutrinadores e as legislações já concluíram,
maioritariamente, no sentido de não serem as
corrupções activa e passiva, o verso e o anverso de
um mesmo delito, antes pelo contrário,
consideram-nas infracções independentes
subsumíveis a dois tipos legais de crime "a se" -
essa a posição do Direito francês desde o século
passado, assim como do Direito alemão. Também
no direito português e como brilhantemente
conclui Almeida e Costa "Sobre o Crime de
Corrupção", edição de 1987, págs. 20 a 41- "Numa
perspectiva "de jure condendo" é o caminho que se
apresenta como sendo o mais correcto,
constituírem as corrupções "activa" e "passiva" dois
tipos legais de crimes independentes". (...) Além do
mais e nessa perspectiva, permitir-se-á
estabelecer com mais nitidez, certas diferenças de
regime, exigidas por critérios de razoabilidade ou
por motivos de ordem substancial. Isso ocorrerá,
por exemplo, quanto ao critério, que preside à
determinação qualitativa e quantitativa da peita,
que diverge consoante se esteja perante uma
corrupção "activa" ou uma corrupção "passiva".
Entende-se que a corrupção activa "de jure
condendo" e "de jure condito" reveste a natureza de
crime "formal" ou de mera “actividade". Na órbita de
tal perspectiva, a promessa ou a oferta de suborno,
embora não aceites, constituem verdadeiras
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corrupções activas consumadas, ou seja, o artigo


423º do Cód. Penal equipara no tocante à
corrupção activa, o "desvalor-de-acção" ao
“desvalor-de-resultado". Neste sentido, "o crime de
corrupção activa, do art. 423º do CP, consuma-se
com o oferecimento das importâncias para a
corrupção o funcionário, e não com o efectivo
recebimento delas por este, em virtude de não ser
crime de comparticipação necessária" (RL
24/02/88; CJ, XIII, tomo 1, 163); "A prática de um
crime de corrupção passiva – art. 420º do CP - e de
um crime de corrupção activa – art. 423º, nº1- pode
fundar-se, quer em mera omissão, quer por
comportamento positivo do arguido, nada tendo
sido alterado em tal matéria, pelo Dec. Lei nº
371/83, de 6 de Outubro" (S.T.J. 23/04/88, BMJ 376,
385); "O crime de corrupção activa do art. 423.º do
Cód. Penal consuma-se com o simples
oferecimento de dinheiro ou valores ao
funcionário, com propósito ilícito, pelo que se tem
que ter como verificado (e consumado) com a
oferta, mesmo que o funcionário visado recuse o
oferecimento" (RL 22/02/89, CJ XIV, tomo 1, 156).
Importa, neste momento, ter em conta o bem
jurídico que subjaz ao crime de corrupção activa.
Na opinião de Luís Osório -notas ao Cód. Penal de
1886 vol. II, pág. 695: "com este tipo de crime é
protegido o interesse administrativo do Estado em
que aqueles que desempenham funções públicas
sejam imparciais e honestas, punindo aqueles que
se deixam corromper por dádivas ou presentes".
Como bem sintetiza Almeida Costa na obra já
citada, pág. 94 “o bem jurídico de corrupção
consiste na autonomia intencional da
Administração, isto é na "legalidade
administrativa". O objecto de protecção de
corrupção será, como a nossa tradição jurídica,
expressamente aponta, a tutela da "legalidade
administrativa". Neste domínio, é imperioso ter
presente a legalidade formal da actividade da
administração publica e a noção de que o conteúdo
material dos seus actos deve obedecer a princípios
plasmados, quer na lei ordinária, quer no art. 266º
da Constituição da República. Em síntese, o
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principio da imparcialidade e prevalência do


interesse publico, da legalidade, da igualdade no
tratamento dos cidadãos e da justiça de actuação.
Tudo isto é violentado com o cometimento dos
crimes de corrupção, associados ao mercadejar do
cargo. A consideração da legalidade material da
administração como bem jurídico leva à
consideração do crime de corrupção passiva como
crime de dano. A actuação do funcionário corrupto
fere a dignidade e credibilidade do Estado. O que
se pretende é a "manutenção" da integridade da
esfera de actuação administrativa do Estado.
Como assinala Almeida Costa, pretende-se evitar
que "o funcionário se substitua ao Estado,
manipulando o seu aparelho e prejudicando pois a
"autonomia intencional da administração''. Neste
sentido também se pronunciou Figueiredo Dias, "A
corrupção e a Lei Penal", Jornadas sobre o
fenómeno da corrupção, ps. 60 e ss., ed. da
A.A.C.C., Janeiro de 1991, onde diz, entre outras
verdades basilares, que "a corrupção é um tema
incómodo para muitos". Também neste sentido, se
pronunciou o presidente Mário Soares, na tomada
de posse do Alto Comissário contra a corrupção,
coronel Costa Braz, em 26/10/88: "O regime
democrático é por excelência, um regime de
transparência. É também o que tem por objectivo
essencial a igualdade de oportunidades dos
cidadãos perante a Lei, e a garantia da
possibilidade de verem abertos, os caminhos da
realização pessoal, de acordo com as suas
vontades e apetências. Por isso, o regime
democrático não pode tolerar desvios inaceitáveis
das normas democraticamente acordadas e
decididas. Desvios da justa oportunidade
económica. Mas também desvios de tratamento
tanto no campo económico, como no social. O
regime democrático respeita a dignidade do
homem. Não confere por isso, seja a quem for,
privilégios iníquos. Reconhece o mérito; fomenta-
o, quando ele for socialmente útil. Mas não
consente abusos ou atropelos. A corrupção, quer
ela seja económica quer ela envolva outras formas,
é a antinomia de tudo isso e um crime pelas
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desigualdades que gera. É um comportamento


anti-social e anti-solidário. É também
antidemocrática e contrária à justiça e à
dignidade. Por isso, é combatida pelas sociedades
democráticas, com forças ao seu alcance. A
corrupção é também eticamente condenável, é um
"pecado". E é uma afronta. Que se torna violenta.
Ainda mais violenta, quando se ostenta
provocante, lado a lado com carências e
dificuldades. A corrupção deprava os indivíduos.
Abastarda a sociedade e instituições; fere o
regime democrático e avilta os sentimentos de
solidariedade; agride o Homem. A corrupção deve
ser combatida. Com todos os instrumentos
disponíveis. Mas em primeiro lugar nas
consciências". A corrupção viola princípios
fundamentais do Estado de direito democrático,
como sejam os princípios de igualdade e de não
discriminação. Na opinião de José António Pinto
Ribeiro: "O valor fundamental que a corrupção viola
é a igualdade. A corrupção não deveria ser
entendida e configurada como a conduta dirigida à
violação ou manipulação da autonomia intencional
do Estado como violadora da "dignidade",
"prestígio", "operacionalidade" ou "eficácia" do
Estado, mas sim como a conduta dirigida à
violação ido principio da igualdade, do
constitucional e legal direito dos cidadãos, à não
discriminação". Neste quadro deve privilegiar-se a
prevenção criminal, sem esquecer a vertente da
repressão social. É, de facto, uma criminalidade
perigosa, em especial quando organizada. (...) É um
crime sem vítima visível; o regime democrático e o
cidadão comum são as vítimas da corrupção. (...)
Voltando ao caso "sub judice", depois de tecidas
todas estas considerações, de carácter geral, e
tendo em conta a matéria de facto dada como
provada, verifica-se terem, na verdade, os arguidos
cometido o crime de corrupção activa pelo qual
vinham acusados, já que se encontram
preenchidos todos os elementos objectivos e
subjectivos de tal tipo legal de crime. A postura
destes arguidos foi de tal evidente, assim como as
suas estratégias de defesa. Caracterizaram-se, por
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terem sintomáticos comportamentos, tendentes à


ocultação do crime e à obstaculação da
descoberta da verdade material; houve uma
protecção recíproca dos arguidos, e das suas
declarações, aferiu-se da sua "credibilidade" e das
suas alterações a nível processual; os arguidos
tentaram ocultar os vestígios ("maxime" os acordos
não ficaram escritos, os pagamentos não tiveram
recibo e foram efectuados em sigilo e por forma a
dificultar a prova). Verificaram-se os pagamentos
em numerário, os depósitos em contas de
terceiros, as compras de objectos valiosos por
interpostas pessoas de forma a "branquear" os
pagamentos. Impera entre todos os intervenientes
a conhecida "lei do silêncio". "A corrupção afirma-
se na mútua protecção do intervenientes e
desenvolve uma lógica, que raramente se consome
num único acto, antes busca continuidades – numa
relação dialéctica entre interesses e o poder, pacto
de sujeição, de que o silêncio é o expoente"
(relatório da Alta Autoridade contra a Corrupção,
relativo ao ano de 1989). "A corrupção em que se
introduza, para mais, um factor político (seja ele
partidário ou de tráfico de influências de e jogos de
poder) rodeia-se frequentemente de uma alegada
respeitabilidade e firma-se numa rigorosa lei do
silêncio – aqui geralmente, apresentada, como
referida a um pretenso interesse colectivo, de
grupo ou mesmo nacional" (relatório do Alto
comissário contra a Corrupção de 1987). Cumpre
realçar aqui o seguinte: o arguido CC, que foi o elo
mais insignificante de toda a cadeia de contactos
atrás descrita, prestou alguma colaboração com a
entidade policial e com o tribunal, dispondo-se,
após instâncias das autoridades competentes, a
fornecer elementos que se mostraram decisivos ao
apuramento da verdade material, não obstante,
sempre ter negado em audiência de julgamento o
seu envolvimento em acto ilícito, alegando apenas
ter servido de intermediário entre a Empresa-A e o
grupo da Empresa-B. Quanto aos arguidos FF e DD,
nas declarações que prestaram, alegaram que a
sua actividade com os alemães se inseria em
prática de "lobbying", no tocante aos assuntos de
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Macau referidos e a uma associação para


constituição de empresas, o que não se provou,
sempre negando a prática dos factos criminosos
imputados e provados. Por um lado, se à culpa do
agente se impõe uma retribuição justa, há também
que ter em conta as exigências decorrentes do fim
preventivo especial, ligadas à reinserção social do
delinquente e às exigências decorrentes do fim
preventivo geral, ligadas à contenção da
criminalidade e à defesa da sociedade. Na
determinação da medida concreta da pena, ter-se-
á em conta o disposto no art. 72º do Código Penal e
nomeadamente, facto de: - os arguidos não terem
antecedentes criminais; - estarem inseridos
familiar e socialmente; - o desvalor do resultado; -
o lapso de tempo já decorrido (cerca de dezassete
anos); - a sua respectiva inserção dentro da cadeia
dos factos de intermediação entre a Empresa-A e
o então governador de Macau (sendo aqui de
anotar, mais uma vez, o facto de o arguido CC ser o
elo mais insignificante nesta cadeia de actuações
e ainda o facto de não se poder comparar a
amizade e o ascendente que os arguidos FF e EE
tinham em relação ao então governador de Macau,
em nada equiparadas, na altura, às quase
inexistentes relações pessoais entre o arguido DD
e o então governador de Macau); e por outro lado,
funcionando como agravante, o facto de os
arguidos pretenderem corromper o então
governador de Macau, que era o representante do
Presidente da República e do Estado Português no
Território de Macau (cfr. Lei n.º 253/79 de 14 de
Setembro); e ainda por não terem prestado
confissão (...); e também por não terem mostrado
arrependimento. A ilicitude dos factos mostra-se
de grande intensidade. A culpa dos arguidos
molda-se no dolo directo e revela muita
intensidade. Os motivos que determinaram a
conduta dos arguidos foram o aumento do
respectivo património (...). Há pois, que graduar as
penas, tendo em conta a actividade própria de
cada um dos arguidos neste processo e o decidido
pelo STJ, nos acórdãos de 13/5/98 e 02/03/06.
Porém, há que ter em conta a entrada em vigor em
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1 de Outubro de 1995, da nova versão do Código


Penal e aí, constata-se que o crime de corrupção
activa se encontra p. no art. 374º nº1 com pena de
prisão de 6 meses a 5 anos. Assim sendo, há que
encontrar as penas concretas nos dois regimes
abstractamente aplicáveis e, depois, aplicar o
regime legal e respectiva pena concreta, que for
mais favorável ao arguido, de acordo com o art. 2º
nº 4 do Código Penal, (tanto do Código Penal/82,
como no de 1995). No regime do Código Penal/82,
entende-se: - condenar, pela prática, em co-
autoria material, de um crime de corrupção activa
p. p. artigos 423º nº 1, com referência aos artigos
420º nº1 e 437º todos do Código Penal, a conjugar
com as disposições dos artigos 2º e 4º do Decreto-
Lei nº 371/83, de 6 de Outubro e ainda artigo 26º,
também do Código Penal: 1- o arguido CC, na pena
de 3 (três) anos de prisão e em 90 dias de multa à
taxa diária de 7.000$ (€ 34,92), o que perfaz
630.000$ (€ 3.142,43) ou em alternativa em 60 dias
de prisão; 2 - o arguido FF na pena de 4 (quatro)
anos e 6 (seis) meses prisão e em 130 dias de multa
à taxa diária de 7.000$ (€ 34,92), o que perfaz
910.000$ (€ 4.539,06) ou em alternativa em 86 dias
de prisão; 3 - o arguido DD, na pena de 4 (quatro)
anos de prisão e em 110 dias de multa, à taxa diária
de 7.000$ (€ 34,92), o que perfaz 770.000$ (€
3.840,74), ou em alternativa em 73 dias de prisão.
No âmbito do Código Penal/95 e tendo também em
conta, o decidido pelo STJ nos seus acórdãos de
13/05/98 e 02/03/06, nestes autos, entende-se
condenar, pela prática, em co-autoria material, de
um crime de corrupção activa, p. e p. pelos artigos
374º nº1 e ainda artigo 26º, também do Código
Penal: 1 - o arguido CC, na pena de 2 (dois) anos e 3
(três) de prisão; 2 - o arguido FF na pena de 3 (três)
anos e 6 (seis) meses de prisão; 3 - o arguido DD, na
pena de 3 (três) anos de prisão. Verifica-se que o
regime penal que mais beneficia os arguidos é o do
Código Penal/95, que será, pois, o aplicado. De
acordo com o art. 14º nº 1 al. b) da Lei nº 23/91, de 4
de Julho, e art. 8º nº 1 al. d) da Lei nº 15/94, de 12 de
Maio, declaram-se perdoados, aos arguidos FF e
DD, dois anos de prisão. No entanto, no que se
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refere ao arguido CC, atendendo a que prestou


colaboração importante nos autos e à sua postura
em audiência e porque se entende que a simples
censura dos factos e a ameaça da pena bastarão
para afastar o delinquente da criminalidade e
assim satisfazer as necessidades de reprovação e
prevenção do crime, o tribunal colectivo, de
harmonia com o art. 50º nº 1 do Código Penal/95,
decide suspender-lhe a execução da pena de
prisão, pelo período de 3 (três) anos.

3. O recurso

3.1. Inconformados, os arguidos recorreram em


28Jul06 ao Supremo, pedindo uma «pena não
superior a 3 anos de prisão, suspensa na sua
execução»:

O acórdão recorrido não ponderou na


determinação da medida da pena, como lhe fora
ordenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, o
«longo tempo decorrido sobre a prática dos
factos», o que acarreta a nulidade da decisão, nos
termos da 1ª parte da al. c) do n.° 1 do art. 379° do
CPP. Admitindo, por mera hipótese de patrocínio,
que o acórdão recorrido ponderou o muito tempo
decorrido sobre a prática do crime, como lhe fora
ordenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, não
referiu na sentença os fundamentos da medida da
pena, tendo em conta especialmente essa
ponderação, tendo assim violado o que
expressamente dispõe o art. 71°, n.º 3, do Código
Penal, o que acarreta também a nulidade da
decisão, nos termos da al. a) do n.° 1 do CPP. Ao não
especificar no acórdão as razões por que
considerou irrelevante o longo decurso do tempo
sobre a prática dos factos, cuja ponderação lhe
fora ordenada pelo Supremo Tribunal de Justiça, a
decisão violou não só o art. 71º, n.° 3, do Código
Penal, mas também o art. 32°, n.° 1, da Constituição
da República Portuguesa, ao impossibilitar ou pelo
menos dificultar o exercício do direito de recurso
dos arguidos. A audiência designada para o dia 13
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de Julho de 2006 destinou-se exclusivamente à


leitura do acórdão como consta da respectiva acta
e das notificações feitas ao advogado dos arguidos
e ao arguido DD, não tendo sequer o arguido FF
sido notificado para a audiência de leitura do
acórdão, irregularidade não obstante suprida no
que respeita à simples leitura do acórdão. Anulada
a anterior decisão pelo Supremo Tribunal de
Justiça e ordenada a baixa do processo para que
em 1ª instância fosse ponderada a sucessão das
leis no tempo e o longo tempo decorrido, impunha-
se, por obediência aos princípios constitucionais
da estrutura acusatória e do contraditório, que
fosse aberta a audiência para que os arguidos
pudessem tomar posição sobre aqueles elementos
que eram relevantes para a medida da pena e
relativamente aos quais nunca antes tinham sido
ouvidos pelo tribunal de 1ª Instância, e assim a
decisão recorrida violou a estrutura acusatória do
processo, o princípio do contraditório e o direito de
defesa do arguido, direitos constitucionalmente
impostos pelos n.ºs 1 e 5 do art. 32° da Constituição
da República Portuguesa. A estrutura acusatória
do processo implica a participação constitutiva
dos arguidos na definição do direito do caso pelo
que toda e qualquer decisão atinente à questão da
sanção tem de reger-se pelo princípio da
contraditoriedade e assentar na possibilidade de o
arguido tomar posição sobre qualquer elemento
relevante para a medida da pena, o que foi negado
aos arguidos ora recorrentes pelo tribunal a quo,
violando desse modo os referidos n.ºs 1 e 5 do art.
32° da Constituição da República Portuguesa. O
acórdão recorrido não ponderou ou não valorou
como devia o longo decurso do tempo sobre os
factos imputados aos arguidos, tempo que à data
do acórdão era de dezassete anos, seis meses e 7
dias, violando desse modo o disposto no art. 40°,
71º e 72° do Código Penal. O decurso de cerca de
dezassete anos sobre a prática do crime imputado
aos arguidos - concretamente 17 anos, seis meses
e 7 dias - constitui uma circunstância atenuante de
valor considerável, devendo ser valorada na
determinação da medida da pena, o que não
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sucedeu, como resulta do confronto da decisão


tomada 12 anos antes, em que o tribunal condenou
precisamente na mesma pena. Aliás, essa
circunstância, atendendo ao longo tempo
decorrido, superior em sete anos ao tempo normal
de prescrição do procedimento, deveria ser
considerada com valor atenuante especial e
consequentemente ser valorada não para efeito do
art. 71.º do CP, mas para atenuação especial da
pena, nos termos do disposto nos art.s 72° e 73° do
Código Penal. No Código Penal vigente, toda a pena
serve finalidades exclusivas de prevenção, geral e
especial, mas no acórdão recorrido continua a
referir-se, como factores determinantes da medida
da pena, que «à culpa do agente se impõe uma
retribuição justa», como se nenhuma relevância
tivesse tido a alteração introduzida nos art.s 40°,
71° e 72° do Código Penal pela revisão de 1995.
Servindo a pena finalidades exclusivas de
prevenção, sendo a pena concreta limitada, no seu
máximo inultrapassável, pela medida da culpa, a
pena deve ser determinada, dentro da moldura de
prevenção geral de integração, em função de
exigências de prevenção especial. Por isso que o
longo tempo decorrido sobre a prática dos factos,
mantendo os agentes boa conduta, é elemento de
especial valor na determinação da pena concreta,
porquanto as exigências de prevenção especial,
porventura muito fortes logo a seguir ao
cometimento do crime, tornam-se
progressivamente sem sentido e donde que a sua
não consideração ou sua insuficiente valoração
corre o risco de frustrar as finalidades de
socialização dos condenados. O acórdão recorrido,
ao não considerar, como devia, o especial valor da
circunstância do decurso de mais de dezassete
anos sobre a prática do crime imputado aos
arguidos, fez letra morte do disposto no art. 40° do
Código Penal vigente, que decorre do art. 18°, n.º 2
da Constituição da República Portuguesa, com o
que foram também violadas estas disposições da
lei ordinária e da Constituição da República
Portuguesa. O acórdão de 13.05.98 do Supremo
Tribunal de Justiça deve ser considerado apenas
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para efeito da proibição da reformatio in pejus,


definindo o limite máximo da pena concreta a ser
aplicada, pois entretanto alteraram-se as
circunstâncias, nomeadamente o longo decurso de
tempo - de mais de oito anos sobre a prolação
daquele acórdão - como o reconheceu o STJ ao
determinar que o tribunal a quo ponderasse o
relevo a dar à circunstância do longo tempo
decorrido sobre a prática do crime. Em razão da
circunstância do muito tempo decorrido sobre a
prática do crime - superior a dezassete anos -
mantendo os arguidos boa conduta, deveria a pena
concreta aplicada aos arguidos ser inferior a 3
anos de prisão, ou por valorar aquela circunstância
como comum para efeito da determinação
concreta da pena, nos termos do art. 71° do Código
Penal, ou considerando-a como circunstância
atenuante de valor especial, para efeitos da
determinação da penalidade, nos termos dos art.s
72° e 73° do Código Penal e, ao não proceder nessa
conformidade, o tribunal a quo violou as referidas
disposições legais. A pena concreta a aplicar aos
arguidos, inferior a três anos, deve ser suspensa na
sua execução, com ou sem sujeição a deveres ou
injunções, nos termos do disposto nos art.s 50°, 51º
e 52° do Código Penal, considerando que uma pena
efectiva de prisão não realiza já as finalidades da
punição que decorrem do art. 40° do Código Penal,
sendo por isso a censura do facto e a ameaça da
prisão suficientes para realização daquelas
finalidades. Entender-se, como entendeu o
tribunal a quo, o disposto no art. 375° do Código de
Processo Penal, isto é, que a sentença
condenatória que especifica os fundamentos que
presidiram à escolha e à medida da pena aplicada
não impõe ao tribunal que recolha prova
actualizada sobre os antecedentes criminais do
arguido, sobre a sua personalidade à data da
sentença e no tocante ao relatório social, tudo
conforme imposto pelo art. 369° do CPP é
interpretação normativa violadora do disposto no
n.° 1 do art. 32º da Constituição da República
Portuguesa. Entender-se, como entendeu o
tribunal recorrido, que, ordenada pelo Supremo
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Tribunal de Justiça a reapreciação da escolha e


medida da pena aplicada, ponderando a sucessão
de leis no tempo e o longo tempo decorrido sobre a
prática do crime imputado, não é exigível a
reabertura da audiência para que eventualmente
fosse produzida a prova referida na conclusão
anterior e, sobretudo, sem que se procedesse à
fase das alegações, seguida das declarações finais
dos arguidos, tudo para garantia do direito de
defesa e cumprimento do princípio do
contraditório, constitui interpretação dos art.s
360°, n.º 1, 361º, n.º 1, 369° e 371°, n.º 1, do CPP,
desconforme à Constituição da República por
violação dos princípios da estrutura acusatória e
do contraditório e da necessidade de presença do
arguido consagrados pelos n.os 1, 5 e 6 do art. 32°
da Lei Fundamental.

3.2. Na sua resposta de 22Set06, o MP pronunciou-


se pelo improvimento do recurso:

A corrupção apresenta-se como um dos maiores


flagelos das sociedades modernas e viola
princípios fundamentais do Estado de Direito
democrático, como sejam os princípios da
igualdade e da descriminação. É, assim,
inquestionável, a gravidade do crime pelo qual os
arguidos/recorrentes foram condenados, não
merecendo qualquer reparo as penas de prisão
efectiva que lhes foram aplicadas. Tem sido
entendimento dos tribunais superiores que não há
lugar à atenuação especial da pena, quando não
existam circunstâncias anteriores ou posteriores
aos crimes praticados, ou contemporâneas deles
que diminuam de forma acentuada a ilicitude dos
factos ou a culpa doa agentes. Com efeito, o
decurso de vários anos entre a prática dos factos e
a data da decisão motivada por iniciativas
processuais e sucessivas dos arguidos não
permite, de modo algum, considerar diminuída a
ilicitude dos factos e a culpa dos autores e, como
tal, não permite a aplicação do instituto da
atenuação especial. Entendemos, igualmente, que
as necessidades de prevenção e repressão não
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justificam a aplicação da suspensão da execução


da pena mesmo que, no caso concreto, tal fosse
legalmente admissível, designadamente se
houvesse lugar a uma redução da pena do arguido
DD. Na verdade, para além da natureza e gravidade
dos crimes, nenhum dos arguidos demonstrou o
mínimo arrependimento, não confessaram os
factos e actuaram com dolo directo e muito
intenso. No acórdão recorrido, o tribunal “a quo" já
aplicou o perdão de dois anos de prisão para cada
arguido, ao abrigo das Leis 23/91 de 4 de Julho e
15/94 de 11 de Maio, pelo que não se percebe a
razão de tal questão estar a ser suscitada em sede
do presente recurso. Assim, por não ter violado
qualquer das disposições penais invocadas pelos
arguidos, deve o acórdão recorrido ser confirmado
nos seus precisos termos.

4. BREVE HISTORIAL DO PROCESSO

I. Acórdão condenatório de 13Fev94 (3VCL): a) CC,


co-autor de um crime de corrupção activa (art.
423.1 do CP/83), pena – suspensa por 5 anos – de 3
anos de prisão e 630.000$ de multa
complementar; b) FF, idem, pena de 4,5 anos de
prisão e 910.000$ de multa complementar; c) DD,
idem, pena de 4 anos de prisão e 770.000$ de
multa complementar;

II. Acórdão confirmatório de 03Mai95 (STJ);

III. Acórdão complementar de 13Mai98 (STJ): a) CC,


co-autor de um crime de corrupção activa (art.
374.1 do CP/95), pena – suspensa por 3 anos – de 2
anos e 3 meses de prisão; b) FF, idem, pena de 3,5
anos de prisão; c) DD, idem, pena de 3 anos de
prisão;

IV. Acórdão de 02Dez98 (TC), que, julgando


inconstitucional o art. 374.2 do CPP/87, na
interpretação segundo a qual a fundamentação das
decisões em matéria de facto se basta com a
simples enumeração dos meios de prova,
determinou a reformulação da decisão recorrida;

V. Acórdão de 27Jan99 (STJ), que, reformulando as


suas anteriores decisões, determinou a baixa dos
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autos à 3.ª Vara Criminal de Lisboa para


suprimento da nulidade decorrente de «a
fundamentação da decisão em matéria de facto se
ter limitado à indicação dos meios de prova, sem
explicitação do processo de convicção do
tribunal»;

VI. Acórdão aclaratório de 01Mar99 (STJ);

VII. Acórdão de 24Mai99 (3VCL), publicado em


02Jul99, limitado à «fundamentação do acórdão
dos autos»;

VIII. Acórdão de 17Mar04 (STJ), que, desatendendo


a «excepção de prescrição do procedimento»,
declarou a «nulidade do acórdão recorrido» e
determinou a reelaboração da decisão em
obediência à estruturação do art. 374.º do CPP,
com pronúncia sobre a sucessão de leis no tempo
e «considerando-se a invocada circunstância do
decurso do longo prazo sobre a comissão do delito,
naquilo que aquela for de relevar»;

IX. Acórdãos de 07Abr05 (logo recorrido) e 14Jul05


(reparatório da nulidade, invocada no respectivo
recurso, do primeiro) da 3.ª VCL, que, neles
integrando a «nova fundamentação», renovou –
perdoando 1 ano de prisão a FF e a DD (art. 14.1.b da
Lei 23/91 de 4Jul - a condenação inicial: a) CC,
como co-autor de um crime de corrupção activa
(art. 423.1 do CP/83), na pena – suspensa por 5
anos – de 3 anos de prisão e 630.000$ de multa
complementar; b) FF, idem, na pena de 4,5 anos de
prisão e 910.000$ de multa complementar; c) DD,
idem, na pena de 4 anos de prisão e 770.000$ de
multa complementar;

X. Acórdão de 02Mar06 (STJ), que sob recurso dos


arguidos DD e FF, que, quanto à excepção da
prescrição, se remeteu para o acórdão de 17Mar04
(que decidira que a prescrição do procedimento
criminal só teria lugar «decorridos 10 anos sobre a
prática dos factos, acrescidos de metade e
ressalvados os 3 anos de suspensão entre 25Set90
e 25Set93); e que, reconhecendo que o acórdão
recorrido não cumprira a determinação do
Supremo quanto à «pronúncia sobre a diversa
sucessão de leis no tempo, quanto ao crime
imputado aos arguidos, estabelecendo o regime de
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maior favor» e à «consideração da invocada


circunstância do decurso do longo prazo sobre a
comissão do delito, naquilo que aquela for de
relevar» (tendo-se limitado a este respeito a
considerar o «lapso de tempo já decorrido - cerca
de cinco anos», quando, na verdade, este era muito
mais dilatado), «anulou o acórdão recorrido» e
determinou a sua reformulação, «conhecendo-se
também da medida concreta da pena e da
aplicação da lei no tempo, com a limitação
resultante do acórdão do STJ de 13Mai98 (14) ;

XI. Acórdão, de 13Jul06 (3ª VCL), ora sob recurso.

5. O ACÓRDÃO DO SUPREMO DE 02Mar06

5.1. Tendo o Supremo, no seu acórdão de 02Mar06,


reconhecido que o acórdão de 03Jul05 da 3.ª Vara
Criminal de Lisboa não cumprira a sua anterior
determinação quanto à «consideração da invocada
circunstância do decurso do longo prazo sobre a
comissão do delito, naquilo que aquela fosse de
relevar» (tendo-se ele limitado, a este respeito, a
considerar o «lapso de tempo já decorrido - cerca
de cinco anos», quando, na verdade, este era muito
mais dilatado), «anulou o acórdão recorrido» e
determinou a sua reformulação.

5.2. A 3.ª Vara Criminal de Lisboa deu então nova


versão ao acórdão condenatório, tendo-se
proposto, «na determinação da medida concreta
da pena», «ter em conta o disposto no art. 72º do
Código Penal e nomeadamente, (...) o lapso de
tempo já decorrido (cerca de dezassete anos)»,
mas, ao «graduar as penas, tendo em conta a
actividade própria de cada um dos arguidos neste
processo e o decidido pelo STJ nos acórdãos de
13/05/98 e 02/03/06», não alterou as penas que o
Supremo, ante a superveniência entretanto do
CP/95, definira em 1998 (quando, sobre o crime,
haviam decorrido não 17 mas, apenas, 9 anos).

5.3. A questão que, por isso, se poderá colocar


terá, pois, a ver, não – como pretendem os
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recorrentes – com a desconsideração (15) dessa


circunstância (o que, por omissão de pronúncia,
constituiria nulidade, porventura suprível em
recurso), mas, eventualmente, com uma sua
incorrecta consideração (o que já constituiria erro
de julgamento, decerto reparável em recurso).

5.4. O Supremo, em 02Mar06, anulou, apenas o


«acórdão recorrido» para que o tribunal a quo, na
nova formulação que lhe viesse a dar, cumprisse a
anterior determinação do STJ quanto à «pronúncia
sobre a diversa sucessão de leis no tempo, quanto
ao crime imputado aos arguidos, estabelecendo o
regime de maior favor» e à «consideração da
invocada circunstância do decurso do longo prazo
sobre a comissão do delito, naquilo que aquela for
de relevar» (tendo-se limitado a este respeito a
considerar o «lapso de tempo já decorrido - cerca
de cinco anos», quando, na verdade, este era muito
mais dilatado).

5.5. Porém, não determinou que – para o efeito – se


reabrisse previamente a audiência. E isso,
obviamente, por que as questões a decidir ou os
dados a (re)considerar já haviam sido amplamente
discutidos, não só nos sucessivos acórdãos de 1.ª
instância e dos tribunais superiores como nas
sucessivas motivações e contramotivações de
recurso. E se «o juiz deve observar e fazer cumprir,
ao longo de todo o processo, o princípio do
contraditório, não lhe sendo lícito, salvo caso de
manifesta desnecessidade, decidir questões (...)
sem que as partes tenham tido a possibilidade de
sobre elas se pronunciarem» (art. 3.3 do CPC), a
verdade é que, já tendo sido todas elas
profusamente discutidas pelas partes em
sucessivos momentos processuais, se tornava
«manifestamente desnecessário» repetir esse
contraditório, perante o tribunal de 1.ª instância,
antes da quarta reformulação que este, em
13Jul06, deu ao seu acórdão de 13Fev94.

5.6. Por outro lado, estando o tribunal de 1.ª


instância adstrito à determinação que o Supremo
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lhe fizera de, mais uma vez, «reformular o


acórdão», não se lhe impunha que, antes de o
reformular, se perguntasse – a respeito de uma
questão que o tribunal superior, em recurso, não
lhe impusera que considerasse (a da eventual boa
conduta dos arguidos durante os anos entretanto
decorridos) - sobre a «necessidade de produção de
prova suplementar (16) para determinação da
medida da sanção a aplicar» (art. 369.2 do CPP).

6. A MEDIDA DA PENA

6.1. É sabido que, de um modo geral, «a medida da


pena há-de ser encontrada dentro de uma moldura
de prevenção geral positiva», vindo a ser
«definitiva e concretamente estabelecida em
função de exigências de prevenção especial,
nomeadamente de prevenção especial positiva ou
de socialização» (17).

6.2. No caso (em que a moldura penal abstracta do


crime de corrupção activa é de a prisão de 0,5 a 5
anos), o ponto óptimo de realização das
necessidades preventivas da comunidade – ou
seja, a medida de pena que a comunidade
entenderia necessária à tutela das suas
expectativas na validade e no reforço da norma
jurídica afectada pela conduta dos arguidos DD e
FF – situar-se-á nos 3,5 anos de prisão (ante o
facto de ambos, no exercício da actividade de
lobbying a que se dedicavam, no seio da empresa
Empresa-B, haverem intermediado, a troco de uma
remuneração de cerca de 15% (18) da verba
disponibilizada pelo corruptor [606.000 DM,
correspondente, então, a 49.662.920$ e, hoje, a
cerca de € 545.000] (19), a corrupção do então
governador do território de Macau, para que este,
abusando dos seus poderes funcionais,
privilegiasse a «Empresa-A», empresa alemã de
projectos e engenharia, já pré-qualificada para
apresentação de uma proposta para a
consultadoria do GAIM (Gabinete do Aeroporto
Internacional de Macau), no ajuste directo dessa
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missão)

6.3. Mas «abaixo dessa medida (óptima) da pena de


prevenção, outras haverá – até ao “limite do
necessário para assegurar a protecção dessas
expectativas” - que a comunidade ainda entenderá
suficientes para proteger as suas expectativas na
validade da norma». O «limite mínimo da pena que
visa assegurar a finalidade de prevenção geral»
coincidirá, pois, em concreto, com «o
absolutamente imprescindível para se realizar essa
finalidade de prevenção geral sob a forma de
defesa da ordem jurídica» (e não,
necessariamente, com «o limiar mínimo da
moldura penal abstracta»). E, no caso, esse limite
mínimo (da moldura de prevenção) poderá
encontrar-se por volta dos 2,5 anos de prisão (uma
vez que não veio a ter lugar o acto ilícito visado
pelo acto de corrupção e que, sobre o termo, em
05Abr89, da intervenção corruptora dos arguidos
já decorreram, entretanto, mais de 17 anos).

6.4. E, se bem que «os limites de pena definida


pela necessidade de protecção de bens jurídicos
não poderão ser desrespeitados em nome da
realização da finalidade de prevenção especial, que
só poderá intervir numa posição subordinada à
prevenção geral», a verdade é que, concorrendo o
objectivo penal de prevenção especial, dentro dos
limites da moldura de prevenção geral, para a
concretização da pena, o comportamento anterior
dos arguidos (sem condenações criminais), a sua
conduta ulterior (omissa quanto à devolução – ou,
sequer, ao seu depósito condicional no processo -
da «comissão» cobrada ao corruptor por conta da
sua acção de corrupção junto da autoridade
corrompida), a sua idade (FF: 45 anos à data e
agora 62 anos; DD: 55 anos então e, hoje, 72 anos),
o seu enquadramento socio-económico («Os
arguidos encontram-se inseridos familiar e
socialmente e todos eles têm situação económica
abastada e pertencem à alta burguesia») e o muito
tempo entretanto decorrido (mais de 17 anos)
poderão invocar-se para aferir o quantum exacto
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da pena de cada um, impelindo-as – a ambas - para


o sopé [2,5 anos] da moldura de prevenção (20) .

6.5. A 1.ª instância, ao atribuir ao arguido FF uma


pena mais gravosa que a atribuída ao co-arguido
DD, fê-lo a coberto da circunstância de «não se
poder comparar a amizade e o ascendente que o
arguido FF tinha em relação ao então governador
de Macau, em nada equiparadas, na altura, às
quase inexistentes relações pessoais entre o
arguido DD e o então governador de Macau», mas
esqueceu que foi o arguido FF, ao fornecer ao
semanário «Independente» (21), cópia do telefax
remetido pela Empresa-A em 18Out89 ao
governador de Macau (o famigerado «fax de
Macau») (22, espoletou o «escândalo político» que
viria a dar lugar – por (previsível) arrastamento - à
sua própria perseguição e condenação criminais.

7. A SUSPENSÃO DAS PENAS

7.1. A 1.ª instância fundamentou a substituição da


pena aplicada ao co-arguido CC (intermediário
entre a Empresa-A e a Empresa-B no aqui ajuizado
acto de corrupção do então governador de Macau)
na «colaboração importante [por ele prestada] nos
autos e à sua postura em audiência» (diversa da
dos demais arguidos, que «não prestaram
confissão nem mostraram arrependimento»).

7.2. A verdade, porém, é que – independentemente


desse aspecto (que, aliás, justificou, na própria
medida da pena, um tratamento privilegiado do
arguido mais «colaborante») – já decorreram
(sobre a prática – em 05Abr89 – do «último acto»
dos vários em que se dividiu, ao longo do tempo, o
trato sucessivo de corrupção activa, por parte dos
ora arguidos, do então governador de Macau) (23)
mais de 17 anos (no quadro de um prazo
prescricional de 18 anos – cfr., supra, 4-X).

7.3. Ora, é sabido – e será esse, aliás, o fundamento


substantivo da extinção do procedimento criminal
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por prescrição (art.s 118.º e ss. do CP) – que «a


necessidade da pena, do ponto de vista retributivo
e da prevenção geral, e ainda do ponto de vista do
fim ressocializador da pena, se dilui a pouco e
pouco com o decurso progressivo do tempo e
acaba finalmente por desaparecer» (cfr. Leal-
Henriques e Simas Santos, CP Anotado, 3.ª edição,
1.º volume, p. 1213).

7.4. Daí que, tendo-se diluído com o tempo as


exigências preventivas (apesar de, inicialmente,
imperiosas) de uma pena de prisão, se entreveja
agora – decorridos, sobre o último episódio do
crime dos arguidos, mais de 17 dos 18 anos da
prescrição do procedimento – alguma abertura à
sua substituição ( 24) por uma pena de
«suspensão», na medida em que esta, no novo
contexto, já se mostrará (25) apta «a realizar de
forma adequada e suficiente as finalidades da
punição» (art. 50.1).

7.5. Mister será, porém, que cada um dos


arguidos/recorrentes abra mão, com a maior
brevidade, de 1/3 da quantia hoje correspondente
(cerca de 90.000 euros) (26) à que (eles e o
entretanto falecido EE) retiveram (a título de
«comissão de lobbying» ou outro) da que, em
05Jan89, receberam para entrega ao então
governador de Macau.

7.6. Aliás, o art. 111.1 do CP considera «perdida a


favor do Estado toda a recompensa dada aos
agentes do facto ilícito típico».

8. DECISÃO

Tudo visto, o Supremo Tribunal de Justiça, reunido


em audiência para apreciar os recursos, de
28Jul06, dos cidadãos FF e DD, julga-os
parcialmente procedentes e, em conformidade:

I) Reduz a dois anos e meio de prisão a pena ( 27) a


cada um deles arbitrada em 13Jul06, por crime de
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«corrupção activa», pela 3.ª Vara Criminal de


Lisboa;

II) Substitui-as por «suspensão da execução da


pena de prisão»;

III) Fixa em dois anos o prazo da suspensão; e

IV) Condiciona a suspensão das penas ao depósito


a favor do Estado, por cada um dos respectivos
condenados, da quantia de trinta mil euros, no
prazo de 15 dias a contar da descida dos autos,
após trânsito, à 1.ª instância;

V) Os recorrentes pagarão as custas do recurso,


com 9 (nove) UC de taxa de justiça e 3 (três) UC de
procuradoria individuais.

Lisboa, 9 de Novembro de 2006


Carmona da Mota - (relator)

Pereira Madeira

Santos Carvalho

Costa Mortágua

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------------

(1) «Nesse despacho não se referiu expressamente


a dispensa do concurso público, o que só ocorreria
a 12/05/89».

(2) «O pagamento daquela importância de 606.000


marcos, efectuado pela empresa Empresa-A, foi
levado à sua contabilidade com a designação de
"Prov. Macau", com referência a "sub empreiteiro"
estrangeiro»

(3) «No mesmo fax referiu-se ainda que, face


àquela exigência, o pagamento daquele montante,
que deveria ser efectuado a partir dos Estados
Unidos, passasse a sê-lo sobre um banco alemão,
por questões de maior celeridade»

(4) «Esta caixa veio a ser apreendida num armário-


mesa de telefone, no gabinete de FF, na sede da
Empresa-B, em Lisboa, encontrando-se, ainda, no
seu interior, restos do papel pardo em que fora
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embrulhado, do fio, e parte das cintas e talões, que


cintavam o referido dinheiro»

(5) «Para tal, o então Governador de Macau,


forneceu ao arguido EE a identificação da conta
bancária de D. Maria do Rosário, a qual tinha o n.º
009-07512-000.7 da agência do Banco Espírito
Santo e Comercial de Lisboa, na ...»

(6) «De seguida, o arguido DD telefonou ao seu


amigo QQ, sócio da empresa Empresa-E, a quem
pediu que recebesse aquela quantia de
12.000.000$ em notas do Banco de Portugal,
emitindo em troca um cheque do mesmo valor a
favor de OO. Após a concordância de QQ, o arguido
DD mandou a dr.ª PP à Empresa-E, em Lisboa,
entregar-lhe a quantia de 12.000.000$, e receber
em troca o acordado cheque. No seguimento
destas determinações, a dr.ª PP entregou a QQ os
12.000.000$ em dinheiro e recebeu um cheque
assinado por RR, da "Empresa-E", a favor de OO,
que veio a ser depositado na conta bancária desta,
já referida, no dia 27/01/89. No dia 03/04/89, D. OO
emitiu um cheque daquela sua conta e a seu favor,
no montante de 9.000.000$, com o qual abriu uma
outra conta bancária, em seu nome, no Banco
Comercial Português. No dia 01/06/89, desta sua
nova conta bancária, D. Maria do Rosário emitiu um
novo cheque a favor da firma de leilões e
antiguidades "Empresa-D", de que é cliente
conhecido o então Governador de Macau, no
montante de 8.057.455$»

(7) «A dr.ª PP cumpriu o determinado, vindo aquele


envelope e as descritas fotocópias a ser
apreendidas no referido cofre durante a busca
efectuada, no âmbito destes autos, à empresa
Empresa-B»

(8) 15.492.790$ + 12.000.000$ + 10.000.000$ +


3.975.000$ = 41.467.790$.

(9) «A CAM é uma empresa privada, constituída em


18/01/89, com um terço do capital pertencente ao
Território de Macau e à qual foi concedida a
construção e exploração do Aeroporto de Macau,
podendo fazer subconcessões»

(10) «No dia 4/7/89, esteve marcada uma reunião


em Lisboa entre BB e os arguidos CC, DD, FF e EE,
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a ter lugar ao jantar, no restaurante Gambrinus,


para discussão do assunto, a qual foi no entanto
cancelada»

(11) «A data da emissão do referido fax, 30 de


Agosto de 1989, corresponde à data limite
estabelecida pelo então Governador de Macau, na
já articulada reunião de 5 de Julho de 1989, para
uma decisão sobre a proposta da Empresa-A ao
projecto dos terminais de carga e passageiros do
Aeroporto Internacional de Macau, no âmbito da
subconcessão da CAM»

(12) «O referido fax foi enviado para um aparelho de


fax, com um número reservado e confidencial, que
estava instalado na residência oficial do
Governador e que se destinava à recepção de
mensagens, do Presidente da República, que não
devessem passar pelos serviços do Palácio do
Governo. O referido número confidencial e
reservado era do conhecimento do arguido FF,
que, por sua vez, o forneceu a CC, que, por seu
turno, o forneceu a BB. Para este mesmo número
de fax viria a ser enviado, por AA, em 18 de Outubro
de 1989, o fax, cuja fotocópia publicada na edição
de 16 de Fevereiro de 1990 do semanário “O
Independente”, esteve na origem dos presentes
autos»

(13) «No dia 5 de Julho de 1989, na missão de Macau


em Lisboa»

(14) «O princípio da acusação subjacente à


estrutura acusatória do processo, impõe que os
casos em que a acusação se conforma com uma
decisão e o recurso é interposto apenas pelo
arguido, ou no seu interesse exclusivo, fiquem
necessariamente limitados os parâmetros da
decisão, estabelecendo-se com o recurso, em tais
casos, uma vinculação intraprocessual, no sentido
de que fica futuramente condicionado
intraprocessualmente o poder de decisão à não
alteração em desfavor do arguido. Nesse caso, a
decisão constitui o limite do conhecimento ou da
jurisdição do tribunal ad quem e também, por isso
mesmo, para obviar à reformatio indirecta, limite à
jurisdição do tribunal de reenvio, nos casos de
anulação ou de reenvio»

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(15) «Ao não especificar no acórdão as razões por


que considerou irrelevante o longo decurso do
tempo sobre a prática dos factos» ou, mais
precisamente, por que considerou tão relevante,
em 2006, o decurso de 17 anos sobre o crime como,
em 1998, o Supremo considerara o menor período
(9 anos) já então decorrido sobre a sua
consumação.

(16) Novos certificados do respectivo registo


criminal e actualizados relatórios sociais (art. 370.1
do CPP).

(17) Anabela Miranda Rodrigues, O modelo de


prevenção na determinação da medida concreta da
pena, RDCC 12-2, Abr/Jun02.

(18) 49.662.920 - 41.467.790$ = 8.195.130$ * 2,14 +


0,0275 = € 89.883.

(19) 49.662.920$ * 2,14 (factor de actualização entre


1989 e 2005) + 0,0275 (índice de inflação entre 2005
e 2006).

(20) «Nestas circunstâncias, compreende-se que à


medida das necessidades assim determinadas
corresponda um quantum exacto de pena: o
desvalor do facto é agora valorado à luz das
necessidades individuais e concretas de
socialização, que, sendo inexistentes,
desencadearão, sucessivamente, o funcionamento
das necessidades de intimidação e de segurança
individuais»

(21) «Na l.ª quinzena de Fevereiro [de 1990], o


arguido FF forneceu uma cópia do fax [de 18Out89]
à jornalista TT, que o fez publicar na edição de
16/02/90 do semanário “Independente”»

(22) «No dia 18/10/1989, AA enviou um fax ao então


Governador de Macau para a sua residência
naquele Território, para o já referido número
reservado, que foi recepcionado no respectivo
aparelho de fax (de número reservado e
confidencial). Nesse fax, (...) AA lamentou a
ausência de resposta por parte do então
Governador de Macau, quanto à decisão sobre a
pretensão da Empresa-A ao projecto dos terminais
do Aeroporto de Macau, referindo ainda a ausência
de resposta por parte do governador aos
telefonemas que AA, BB e CC lhe vinham fazendo,
https://jurisprudencia.pt/acordao/136837/ 49/50
3/17/22, 11:13 AM jurisprudência.pt - Pesquisa de jurisprudência Portuguesa

sem resultado, e a ausência de resposta aos faxes


que lhe tinham enviado. No mesmo fax, referiu
ainda o eng. AA contactos havidos com o então
Governador de Macau, ao longo de 18 meses, o
adiamento sucessivo da sua decisão e salientou
que, pela sua parte, cumprira os desejos
financeiros do então Governador de Macau, pelo
que lhe solicitou a devolução dos 606.000 marcos
que lhe pagara, de acordo com as instruções por
ele dadas, caso o então Governador de Macau já
não tenha interesse em conceder à Empresa-A
qualquer posição no projecto do Aeroporto de
Macau. O texto deste fax foi ditado
telefonicamente pelo arguido FF ao arguido CC,
que, após a concordância de BB, o transmitiu ao
eng. AA, por via telefónica, sendo este que viria a
assinar o documento, dactilografado na Empresa-
A, enviando-o ao então Governador de Macau, com
o objectivo de lhe exigir a devolução do dinheiro
que alegadamente pagara e que, apesar das
múltiplas insistências, não fora devolvido»

(23) 20/01/89 - Pagamento em numerário de


15.492.790$ a "Empresa-D", credora, dessa
importância, do então governador de Macau;
27/01/89 – Depósito de 12.000.000$, em cheque, na
conta da D. OO, companheira do então governador
de Macau; 09/03/89 - Depósito de 10.000.000$ na
conta, no Banco Totta & Açores, do então
governador de Macau; 05/04/89 - Depósito de
3.975.000$ na mesma conta bancária.

(24) À semelhança do que já está definitivamente


decidido relativamente ao condenado CC.

(25) Desde que – como se verá - subordinada ao


cumprimento de deveres destinados a reparar,
minimamente, o mal do crime (art.s 50.2 e 51.1 do
CP).

(26) 49.662.920 - 41.467.790$ = 8.195.130$ * 2,14 (v.


Portaria 429/2006 de 3Mai) = 17.537.578$ * 0,0275 =
18.019.861$ = € 89.883.

(27) De 3,5 e 3 anos de prisão, respectivamente.

https://jurisprudencia.pt/acordao/136837/ 50/50

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