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3/21/22, 2:35 PM jurisprudência.

pt - Pesquisa de jurisprudência Portuguesa

jurisprudência.pt

Tribunal da
Relação de Lisboa
Processo

1776/2004-1
Relator

FERREIRA PASCOAL
Sessão

08 Julho 2004
Votação

UNANIMIDADE
Meio Processual

APELAÇÃO
Decisão

CONFIRMADA

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LIQUIDAÇÃO EM EXECUÇÃO DE SENTENÇA

Sumário
I – Sem a prova dos danos não é possível qualquer
condenação.

II - A existência dos danos tem de ser provada na


acção declarativa e só na falta de quantificação
desses danos deve condenar-se no que vier a ser
liquidado.

Texto Integral
Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

(A) propôs esta acção ordinária contra UNIÃO DE

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BANCOS PORTUGUESES, S.A., posteriormente


denominada BANCO MELLO, S.A., que foi
incorporado no BANCO COMERCIAL PORTUGUÊS,
S.A., pedindo que o Banco réu fosse condenado a
pagar-lhe a indemnização que se liquidasse em
execução de sentença.

Alegou, em síntese, o seguinte:

Procedeu à abertura de um crédito no Banco réu,


conforme factura pró-forma, para importação de
material proveniente da Coreia, e de um outro
crédito para encomenda proveniente de Hong
Kong.

Tendo o fornecedor de Hong Kong pedido a


redução do valor da encomenda, com redução do
crédito documentário, e tendo o autor solicitado
essa redução ao Banco réu, este, por erro, reduziu
o crédito para a Coreia, o que provocou o atraso de
ambas as mercadorias.

Em consequência desse erro do Banco réu, o autor


viu canceladas as encomendas pelo Estado, seu
maior cliente.

Ao receber a encomenda proveniente da Coreia,


verificou que uma parte do material não
correspondia ao pedido na factura pró-forma e
outro era de péssima qualidade, tendo sido
rejeitado pelos clientes. O autor diligenciou junto
do Banco pelo não pagamento da transferência
bancária, mas este procedeu ao seu pagamento,
coagindo ainda o autor a assinar uma livrança para
pagamento da mesma.

Na sua contestação o Banco réu impugnou os


factos articulados pelo autor, alegando ter
cumprido as instruções deste, não podendo
recusar o pagamento.

Após a audiência de discussão e julgamento, foi


proferida sentença que julgou a acção
improcedente.

Inconformado com a decisão, traz o autor este


recurso de apelação, pedindo nas suas alegações
que se revogue a sentença recorrida e que o Banco
réu seja condenado a pagar-lhe uma indemnização
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pelo prejuízo por ele sofrido em consequência do


mandato, indemnização por danos morais e
patrimoniais a liquidar em execução de sentença.

Apresentou para esse efeito as seguintes


conclusões:

1 – O Apelante contratou com o Apelado e o


Apelante cumpriu com as suas obrigações.

2. – No cumprimento do contrato o Apelado


cometeu um erro grave e o seu erro causou
prejuízos ao Apelante, pelo que ficou obrigado a
indemnizar o Apelante, alínea d) do Art. 1167.º do
Código Civil e Arts. 231.º e seguintes do Código
Comercial.

3 – O Apelante para evitar prescrição, e uma vez


que não tinha elementos para fixar o objecto ou a
quantidade do pedido pediu a condenação do
Apelado R. no que se liquidar em execução de
sentença - n.º 2 do Art.º 661.º do Código de
Processo Civil.

4 – O tribunal da primeira instância não condenou


conforme pedido violando os Arts. 661.º, n.º 2,
alíneas c), d) e e) do n.º 1 do Art.º 668.º. todos do
Código Civil, e alínea d) do Art.º 1167º., do Código
Civil, bem como os Arts. 231.º e seguintes do
Código Comercial.

Nas suas contra-alegações o apelado defende a


confirmação da sentença recorrida.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

Na sentença recorrida foram considerados


provados os seguintes factos:

1 – O A. é fabricante, importador e representante de


material médico-hospitalar e nessa qualidade foi
convidado pela Kotra, Organismo do Estado, para
assistir em Dezembro de 1991 a uma exposição com
expositores coreanos.

2 – Negociou com um desses expositores, a Arim


Tradim e MFG. Corp., uma encomenda.

3 – Em 06-02-92, o autor dirigiu-se ao Banco réu,


com a respectiva factura pró-forma para abertura
de crédito, preenchendo o doc. junto sob o n.º 2 a
fls. 7.

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4 – O réu indica que efectuou a abertura de crédito,


conforme factura pró-forma de 22 de Janeiro, a
que alude o doc. junto como doc. 1 a fls. 6.

5 – No doc. 2 indica a operação, material hospitalar,


conforme pedido no n.º 45 desse mesmo
documento de crédito documentário, documento
que fica sempre junto à factura pró-forma.

6 – No doc. de fls. 8 a 9 o réu indica que efectuou a


abertura de crédito conforme factura pró-forma de
22 de Janeiro de 1992, a que se refere o doc. de fls.
6.

7 - O A. tinha efectuado no Banco R., em 30/3/92,


outra abertura de crédito, para outra encomenda,
crédito documentário n.º 300323-5, para outro país
e outro fornecedor, CICO ENGENEERING Co. Ltd.,
de Hong Kong.

8 - O A. dirigiu-se pessoalmente e entregou carta


em 11/10/92, ao Banco réu, comunicando as
diligências da encomenda e suspensão do
pagamento até regularização, conforme factura
pró-forma. Comunicava assim a suspensão do
pagamento desta encomenda que se vencia em
02/11/92, até regularização do pedido na factura
pró-forma.

9 - O Banco R. não respondeu ao A. sobre esta


carta.

10 – Insistiu o A. em 26/10/92.

11 - Em 22/10/92 o R. respondeu à carta de 11/10/92


e em 27/10/92 respondeu à carta de 26/10/92.

12 - O A. contratou assim com a Arim Trading a


compra de diverso material a que corresponde a
factura pró-forma n.º AR-920122, datada de
22/01/92.

13 - Na referida factura os coreanos indicam o


Banco da Coreia para onde deve ser feita a
transferência bancária de Portugal, através dos
mecanismos legais.

14 - Na mesma factura indicam os ITEM


requisitados.

15 - Em 13/02/92, recebeu o A. do R. a confirmação


da abertura de crédito n.º 300454.0.

16 – O Fornecedor de Hong Kong CICO


ENGENEERING CO., LTD. pediu ao A. para autorizar
e informar o R., para reduzir o valor da encomenda
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n.º 300323-5, referente à factura pró-forma datada


de 08/02/92, de Hong Kong.

17 - Face ao pedido de Hong Kong o A. foi ao Banco


R., com o doc. n.º 4 e este ficou com uma cópia
para efectuar a respectiva redução na encomenda
de Hong Kong.

18 - Entretanto recebe o A. da Coreia vária


correspondência, de que estes tinham ficado
surpreendidos com a redução do crédito.

19 - O R. em vez de reduzir o crédito para Hong


Kong tinha reduzido o crédito para a Coreia.

20 - O embarque da mercadoria estava


inicialmente previsto até 30/03/92.

21 – O A. só veio a receber a mercadoria em meados


de Outubro.

22 - O R. contra a vontade do A. informou-o de que


procederia ao pagamento do crédito documentário
na data do seu vencimento.

23 – O A. efectuou o pagamento ao R. do montante


respeitante a esse crédito.

24 - Em conformidade com as instruções do A., o


Banco R. instruiu o seu correspondente e este
informou o vendedor da mercadoria que estava
aberto a favor deste, por ordem do A., um crédito
de USD 16.895,40, para pagamento da mercadoria
cuja compra/venda tinha sido ajustada entre o
ordenante e o beneficiário do crédito.

25 - Quando o importador tem necessidade da


mercadoria, na falta da qual a sua actividade pode
ser seriamente afectada e por via de
compromissos assumidos perante terceiros, pode
pedir ao seu banqueiro que seja incluída na
abertura de crédito uma cláusula prescrevendo
que o mesmo ó se tome operativo depois da
apresentação, pelo beneficiário, de uma garantia,
cobrindo o bom cumprimento do contrato.

26 – O A. não sujeitou a abertura de crédito a tal


condição.

27 - O A. tomou exclusivamente para si os riscos de


eventual quebra do contrato.

28 – O A. após ter questionado a divergência entre


a factura comercial e a factura pró-forma,
regularizou o pagamento do crédito documentário.

29 – O Banco R. dirigiu ao seu correspondente em


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Seoul a comunicação a que alude o doc. de fls. 8 a


9.

30 - Na correspondência trocada com o R., nunca o


A. mencionou o caso referente ao CDI n.º 300325-5,
nem o apontou como causa de quaisquer prejuízos.

Apreciemos agora, perante estes factos, o mérito


do recurso.

O apelante alega que o Banco réu lhe causou


prejuízos, em consequência do erro que cometeu,
pelo que devia ter sido condenado no que se
liquidasse em execução de sentença, nos termos
do n.º 2 do art.º 661.º do C.P.C.. É esta a única
questão a decidir.

Que o Banco réu cometeu um erro, não há dúvidas:


“em vez de reduzir o crédito para Hong Kong tinha
reduzido o crédito para a Coreia” (n.º 19 dos factos
provados). Por isso, responde o Banco réu pelos
danos que tiverem resultado desse erro (art.º 238.º
do Código Comercial).

Resta, pois, apurar se houve danos pelo facto de o


Banco réu não ter agido em conformidade com as
instruções recebidas.

Daquele erro – alegou o autor, ora apelante –


resultaram prejuízos, nomeadamente os que foram
incluídos nos quesitos 8.º, 9.º, 10.º, 11.º, 13.º e 18.º,
mas as respostas a esses quesitos foram
negativas.

Assim, não tendo o autor feito a prova de que


sofreu os prejuízos que alegou na petição inicial,
não pode o réu ser condenado a pagar-lhe qualquer
indemnização. Efectivamente, como decidiu o
acórdão da Relação de Coimbra, de 1-7-1980, BMJ
301, pág. 469, para que alguém possa ser
condenado a pagar a outrém o que se liquidar em
execução de sentença, necessário é que o julgador
tenha perante si duas certezas: a) que a primeira
pessoa tenha causado danos à segunda; b) que o
montante desses danos não esteja averiguado na
acção declarativa, desde logo, por não haver
“elementos para fixar o objecto ou a quantidade”.
Sem a prova dos danos não é possível qualquer
condenação: a existência dos danos, como
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pressuposto da obrigação de indemnizar, tem de


ser provada na acção declarativa só sendo lícito
relegar para a execução de sentença a
determinação meramente quantitativa do seu valor
(acórdão da Relação de Coimbra, de 11-1-2000, Col.
Jur. 2000, 1.º, pág. 7).

O recorrente não tem, pois, razão.

Nestes termos, julga-se improcedente a apelação,


confirmando-se a douta sentença recorrida.

Custas pelo apelante.

Lisboa, 8/7/04

Ferreira Pascoal

Pereira da Silva

Pais de Amaral

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