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Pedagogia profana - danças, piruetas e mascaradas - Jorge Larrosa

Pedagogia profana - danças, piruetas e


mascaradas - Jorge Larrosa

Escrito por Jennifer Tavares; Talita Ramos; Felipe Lucas; Vando Juvenal.
Categoria: Oficinas Acessos: 5260

A obra de Larrosa, se pudesse ser resumida em poucas letras, poderia ser dita uma provocação filosófica à abertura da
pedagogia a seu poder-ser uma outra pedagogia, outra de muito do seu sido, do seu sendo, dos seus cânones. O modo
como aparece esse porvir da pedagogia é apenas insinuado através dos textos, uma vez próprio aos textos, distintos
temporalmente entre si, na produção, o caráter intencional de uma busca ao reaprendizado, de uma reelaboração dos
saberes, linguagens e métodos dominantes de discurso e práticas pedagógicas. Nas palavras do autor, os textos, uma
antologia, “aspiram a ser indisciplinados, inseguros e impróprios porque pretendem situar-se à margem da arrogância e
1
da impessoalidade da pedagogia técnico-científica dominante” . Segundo ele, esse discurso está cada vez mais difícil
de ser pronunciado.

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Dividiu o filósofo à obra em três seções – três núcleos de interrogação que o inquietaram nos últimos anos. A primeira
articula a idéia de formação humana – a “paidêutica” – motora de todo e qualquer ideal pedagógico, a relação entre
homens e entre mundo e homem. a partir da dinâmica da auto-invenção do homem enquanto se reconhece e apropria
de si, possibilitado ou atrapalhado pela relação tensa com ensino e aprendizado, se dá o processo.

A segunda seção tenta repensar a questão da leitura em sua vigência atual na pedagogia, a fim de atualizar o ponto de
vista do controle e o da relação com o formar e o transformar nosso ser. Esse repensamento é radicalmente elaborado
por Larrosa: alguns casos da prática literária são dignas de “expulsão” como a dos poetas, da república platônica. No
caso atual, principalmente por seus preconceitos.

“Figuras do Porvir parte da hipótese de que a educação encarna nossa relação com o homem-por-vir, com a palavra-
por-vir, com o tempo-por-vir” (LARROSA: 2006, pg. 16). Nesta seção a articulação dos textos é em torno das condições
possibilitadoras do educar figurador do futuro e livre do autoritarismo, que não fabrique o futuro na fábrica produtora de
seus indivíduos. Visa a uma educação compatível “com a abertura de um porvir novo e imprevisível, de um outro porvir
que não seja o resultado daquilo que sabemos, daquilo que queremos, daquilo que podemos ou daquilo que
esperamos” (LARROSA: 2006, pg. 15).

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O texto iniciado na página 149, Agamenon e seu Porqueiro, faz um registro da produção, dissolução e uso da realidade
nos aparatos pedagógicos e nos meios de comunicação de massa. A discussão primeira do texto, o qual não é de
Larrosa mas do autor Antônio Machado, traz implícita na epígrafe a discordância entre Agamenon e um seu porqueiro –
em outros termos, o poder de produção da verdade e o “poder” de aceitação ou contestação e resistência a ela. O
poder do produtor da verdade, como no modelo marxista do modo capitalista de produção, está de antemão na posse
dos meios de produzi-la: Agamenon, na interpretação de Larrosa do texto, produz a verdade porque “possui” um filósofo
que a formula para si, possui guardas que lhe garantem o poder de produção, e possui até mesmo o receptor de sua
palavra verídica – o seu porqueiro. Justamente por constatar o caráter produtivo da palavra, o porqueiro decide não se
deixar convencer, sua única restante atitude digna, de resistência à verdade imposta de cima, pelo rei, pelo filósofo,
pela mídia, pela escola, caracteres do despotismo constrangedor do verdadeiro. O despotismo está no poder dizer
destes aspectos do poder, em detrimento do porqueiro, a quem resta conconrdar, de preferência, ou descordar, se
quiser assunmir os riscos.

Produção e dissolução da realidade, tais quais manipulação ou falsificação, diz a realização da mentira num “mundo no
qual (...) impera, quase sem simulação, a dupla verdade, a dupla mentira, a dupla moral e a dupla contabilidade”
(LARROSA: 2006, pg. 153). É muito importante a denúncia desse jogo da mentira dos jornais, do rádio, do cinema e da
televisão; é muito importante estar em guarda contra esse modo deproduçaõ ao qual tendemos a nos acostumar, a nos
conformar no sentido de ser conforme ele mesmo, enredados num processo de acomodação e padronização das
consciências, de um esquecimento, de uma radicação no impessoal, como diria Heidegger, cujo pensamento perpassa
a obra de Larrosa de ponta a ponta. Assim, adotando uma perspectiva ontológica hermenêutica, somos isso mesmo,
esse aparecer passivo no desenho do real cotidiano, enquanto concordamos com os vereditos despóticos, pois nesta
perspectiva, “a linguagem é um modo de aparição do ser e, portanto, o lugar da verdade” (LARROSA: 2006, pg. 156).
Os homens e as coisas não são dissociados dos nomes dados a eles. Na aceitação dos nomes, adimite-se sua
pertinência.

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Uma forma de reação à imposição da verdade “goela a dentro” é a relativização dos temas e dos enunciados
pronunciados como lugar comum, mediano e certo, real. O relativismo é tido como um desvio e uma queda, algo
indevido. Para o autor, o relativismo é considerado um “pecado” porque desmente a crença de haver uma realidade.
Essa crença “deve” ser mantida porque o estado em que se mantém a questão é o possibilitador da manutenção do
poder de seus construtores, isto é, os homens “verídicos”, aqueles que “sabem” a verdade e a realidade, como foi nos
tempos da Inquisição.

“Realidade” é um conceito recentemente criado pelos europeus, o qual sofreu uma desvinculação progressiva tanto da
linguagem quanto das relações sociais, e se tornou aos poucos no que passou a ser o real.

“O princípio de realidade funciona, então, como um potente princípio de controle da práxis” (LARROSA: 1998). Para
combatê-la se deve tomar a atitude do porqueiro de Agamenon colocando em dúvida o poder da realidade, para
combater a realidade do poder, assim como também é necessário combater a verdade do poder colocando em dúvida o
poder da verdade. Principalmente o âmbito educacional carece das múltiplas verdades, que constantemente se mantém
refém de uma verdade imperativa, única, dominada pelo educador, assim também como meios de comunicações,
aparatos educacionais e culturais titulados como verdadeiros do que titulamos como real.

Quando nos apegamos à verdade do poder acreditamos na verdade verdadeira, a única verdade, servindo a
Agamenon, porém às vezes duvidamos da verdade e tomamos a atitude do porqueiro, escapamos a esse domínio
forçado, ao império da verdade.

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TEXTO FILOSÓFICO PARA O ENSINO MÉDIO

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HÉRCULES – DOZE TRABALHOS E DOZE LIÇÕES

Os Mitos e a Liberdade Criadora do Homem

Segundo a mitologia grega, Zeus, o pai dos deuses e dos homens, quis criar um herói que os defendesse. Quando
encontrou Alcmena, mulher de um homem chamado Anfitrião, apaixonou-se por ela e, disfarçando-se como se fora seu
marido, passou a noite com ela. Foi desse romance que nasceu Hércules. O mensageiro dos deuses, Mercúrio, levou
Hércules ao céu, até Zeus e este, enganando Hera, sua mulher, fez o menino mamar em seus seios o leite divino.
Quando percebe o engodo, Hera arranca o bebê de seu seio, e o leite que espirra pelo céu dá origem à Via Láctea, o
aglomerado de estrelas em que se situa o nosso Sistema Solar.

Desde cedo Hércules mostrou sua força ao mundo. A mulher de Zeus, com ciúme, vivia tentando matar o menino. Mas
Hércules escapava sempre, se tornou um homem adulto, casou-se e teve filhos. Não satisfeita ainda, Hera lhe faz ter
um surto repentino, certa loucura, de modo que o semideus olha para a família e vê criaturas monstruosas, e mata a
todos com suas flechas. Quando volta a si, vê o seu engano e procura uma sacerdotisa para lhe orientar. Hera se
aproveitou então da ocasião para fazer com que o rei Euristeu, primo de Hércules, obrigue o herói a cumprir doze
tarefas para, só depois, ser perdoado por seu crime. Essas tarefas foram: matar o leão da Neméia; matar a hidra de
lerna; capturar uma corça de chifres de ouro; capturar o javali de Erimanto; limpar os currais do rei Áugias; matar as
aves do deus marte, no lago estínfale; buscar o cinturão e o véu de Hipólita, rainha das amazonas; combater os cavalos
monstruosos de Diomedes; trazer para Euristeu os bois do gigante Gerião; domar o touro bestial de Creta; apanhar as
maçãs de Hera no jardim da Hespérides; capturar Cérbero, o cão de três cabeças, nos infernos.

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Os mitos são, entre outras possíveis interpretações, símbolos do modo como se processa a existência humana. Os
feitos heróicos tipificam as possibilidades humanas de ação, na liberdade de determinar a própria existência. Podemos
na verdade construir muitas outras lições, ou reduzi-las a dez, nove, ou a uma única lição. Sempre somos livres para
criar outras possibilidades e reinterpretar os fatos, da mesma forma que Hércules, obrigado a fazer tantas coisas tão
complicadas, ainda assim conseguia fazê-las de um jeito bem próprio. No episódio da lavagem dos estábulos do rei
Augias, por exemplo, ele aproveitou a situação adversa para prosperar – ganhou com seu trabalho forçado nada menos
que a décima parte dos bois do pecuarista. Isso nos leva a concluir que sempre há uma possibilidade de fazermos as
coisas do nosso jeito.

Assim pensou o filósofo francês Jean-Paul Sartre, mais conhecido como Sartre. Segundoele, apesar de tudo aquilo que
influencia nossa vida contra a nossa vontade, sejam as forças da natureza, sejam as outras pessoas, ou ainda a nossa
situação sócio-econômica, nós sempre somos aquilo que fazemos do que fazem de nós. Em outras palavras, somos
livres para criar um novo sentido, para transformar as situações de maneira tal que elas nos favoreçam. É à medida que
as transformamos que exercemos nossa liberdade.

Hércules remodelou seu castigo, mesmo sendo o tempo todo perseguido pela deusa Hera. Nem os deuses puderam
cercear definitivamente sua liberdade criadora. Ele transformou o destino que lhe foi imposto em algo favorável. Essa é
uma possibilidade que só ao homem é dada – a de criar sentido, seja para sua existência, seja para o mundo. Da
história de Hércules podemos tirar doze, dez lições, ou nenhuma, ou ainda quantas lições quisermos. Aqui escolhemos
doze, por simples conveniência. Elas mostram que temos o poder de reinterpretar isso que chamamos realidade, pois
não é uma coisa fixa, estável e determinada de uma vez por todas.

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- 1ª Lição

Nós limitamos nossas possibilidades quando reduzimos as situações que se apresentam a uma única interpretação.
Também às vezes limitamos nossa visão qualitativa das coisas a duas hipóteses, tendência do nosso modo
maniqueísta de ver: o bem e o mal, a luz e as trevas, o certo e o errado, o possível e o impossível. O leão é idealizado
por todos como o mais temível animal vivo, e os filmes querem colocá-lo como inimigo mortal do homem. Mas o leão
não caça os homens para comê-los; ele ataca quando invadem seu território ou lhe reduzem, com a caça predatória, os
alimentos. Não há animais bonzinhos e animais malvados, como nos desenhos animados, em Tubarão ou em Free
Willy. Os animais não julgam como nós e, portanto, não lhes cabem esses adjetivos. De forma parecida, podemos
transformar o que nos parece um mal numa coisa boa – e foi exatamente isso que Hércules faz quando usa a pele
do leão de Neméia como agasalho e até como proteção contra as penas dos pássaros do lago Estínfale. De certo
modo, podemos dizer que o leão que antes o atacava, agora era usado para sua defesa.

- 2ª Lição

Uma das versões mitológicas da hidra de Lerna diz que a cada cabeça cortada do monstro, duas ressurgiam em seu
lugar. A batalha contra a hidra pode representar situações tão adversas que nos dão a impressão de que qualquer coisa
que fazemos para resolvê-las só tende a piorá-las. São momentos em que parece melhor a rendição do que a
insistência. Contudo isso pode se mostrar não tão verdadeiro assim. Ainda que em alguns momentos pareçamos
totalmente perdidos, no último momento podemos ter uma idéia que nos ajude a começar a virar o jogo. O fogo
impediria que as cabeças continuassem a reaparecer.

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- 3ª Lição

A idéia de pedir a ajuda a Iolau marcou a hora da virada para Hércules. Mesmo sendo um semideus, ele não abriu mão,
na hora do aperto, da ajuda de outra pessoa, um simples mortal. Do mesmo modo há pessoas que agem como se não
precisassem de ninguém. Ocorre, porém, de a vida trazer a ocasião em que não resta outra opção a não ser gritar por
socorro, por mais que isso seja desagradável para elas. Alguns chegam mesmo a se envergonhar de fazê-lo, por causa
da sua arrogância anterior; deve ser bem chato ter de pedir ajuda a alguém que antes se esnobou, por exemplo. Não foi
o caso de Hércules, mas o importante é que ele, um homem tão forte, o filho de Zeus, precisou de ajuda e isso foi
decisivo para seu sucesso. Todos precisam uns dos outros, em uma ou em outra hora.

- 4ª Lição

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A terceira tarefa que Euristeu impôs a seu primo foi a captura da corça de chifres de ouro. Na verdade havia cinco
corças similares, sendo que quatro delas estavam atreladas ao carro da deusa Diana. Tratava-se de animais sagrados,
motivo pelo qual o herói não quis matá-lo, satisfazendo-se em capturá-la e leva-la viva ao rei, ainda que tenha gastado
um ano inteiro. Disso podemos concluir que cabe sempre respeitar as coisas que são tidas como sagradas, ainda que
não acreditemos nelas. Nesse caso o respeito é na verdade devido às outras pessoas, que acreditam nas coisas
sagradas. Cada um de nós tem alguma coisa que considera “sagrada”, intocável. Não costumamos aceitar que façam
menção duvidosa a nossa mãe, por exemplo. Compramos as brigas dos nossos filhos, nem aceitamos que outras
pessoas se aproximem com segundas intenções das nossas parceiras ou parceiros. Por que eles são sagrados para
nós. Do mesmo modo é importante respeitar o que for sagrado para as pessoas, ainda que nós não levemos a
sério.

- 5ª Lição

 
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Na maioria das vezes, por mais que os problemas nos apresentem tarefas hercúleas, com inteligência e criatividade,
mais do que pela força, podemos resolver muita coisa que nos pareça complicada. Qual foi o grande problema
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para Hércules quando se apresentou ao rei Augiaspara limpar os estábulos? O tempo. Qualquer um poderia fazer o
trabalho com um pouco de paciência. Além do mais, o mito não diz qual o tamanho dos estábulos nem a quantidade
exata dos bois. Então, dependendo desses dados e da distância entre o rio e os estábulos, mesmo um homem normal
poderia abrir a vala em um dia, com a mesma pá que Hércules usou, depois de derrubar a parede com uma marreta. E
será que era tão sobre-humano imaginar usar água para fazer a faxina?

- 6ª Lição

Assim como a corça dos chifres de ouro, o Javali do monte Erimanto foi capturado vivo. Mas não porque fosse sagrado.
O rei Euristeu, que mandava e desmandava em Hércules, inventando as mais difíceis coisas a serem feitas, ele mesmo
não era lá um exemplo de bravura. Tanto que quando sabe que Hércules vem trazendo o animal vivo aos ombros,
correu e se escondeu de medo. Nós também às vezes somos muito valentes com quem pode menos que nós. Às vezes
exigimos das pessoas tarefas que nós mesmos não seríamos capazes de executar, somente para vê-las em maus
lençóis. Às vezes é o chefe, às vezes é o professor, às vezes é qualquer um de nós quando se acha em situação
vantajosa, tira partido dessa vantagem e maltrata ou explora alguém. As melhores atitudes provavelmente são as
que tomamos depois que refletimos um pouco enos colocamos no lugar dos outros.

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- 7ª Lição

No episódio do encontro com Hipólita, a rainha das amazonas, apesar de seu sucesso inicial, Hércules se vê obrigado a
lutar por causa de mais uma intriga da deusa Hera, autora de todas as suas penas. Mostrando mais uma vez que não
lhe faltava disposição, Hércules começa mais um massacre, e acaba por conseguir o que foi buscar. As intrigas nem
sempre dão um bom resultado, e às vezes o feitiço vira contra o feiticeiro. A tendência é ninguém querer amizade de
quem vive espalhando boatos maldosos e infundados.

- 8ª Lição

 
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Para colher as maçãs no jardim das Hespérides Hércules foi bastante ousado. E achando que fosse se dar bem, Atlas
executou a tarefa para ele. Na verdade, Hércules aplicou dois ardis, e o primeiro foi levar o próprio pai das Hespérides a
colher as maçãs; o segundo foi fazê-lo segurar o céu “só um pouquinho”, e deixa-lo de novo ali mesmo, em seu lugar.
Também nós, com criatividade e insistência, podemos conseguir mesmo aquelas coisas que parecem ser as
mais difíceis.

- 9º Lição

No meio de toda essa guerra, uma pergunta poderia ser feita: por que Hera persegue Hércules, se Zeus é o
responsável por todo o seu desgosto? A verdade é que ela, não podendo contra o marido, procura se vingar em
Hércules. Deixa o verdadeiro problema de lado – já que Zeus a estava sempre traindo – e se concentra no mais fraco.
Ela transfere a culpa de Zeus para Hércules, não tão forte, o que não era justo. Cada um deve arcar com as próprias
responsabilidades, e não devemos discriminar ninguém por causa do que seus parentes ou pessoas próximas
nos fizerem. Isso não significa que essa pessoa seja igual às outras.

 
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- 10ª Lição

Como no caso da pele do leão, outros detalhes das lutas do herói nos revelam o poder criador do ser humano. Após
matar a hidra, o sangue do monstro foi usado para envenenar a ponta das flechas e assim garantir mais uma vantagem
nos futuros confrontos. De maneira similar, sempre podemos procurar por uma alquimia que transforme ocasiões
desfavoráveis em algum benefício. Assim como usamos o veneno das cobras e de outros animais para fabricar os
antídotos contra picadas deles próprios, também podemos ganhar experiência nas situações adversas, as quais nos
preparam para o futuro.

- 11ª Lição

A constelação onde está situado o planeta Terra, segundo o mito grego, surgiu do leite que escapou do seio de Hera,
quando por engano amamentava Hércules. Esse é o motivo do nome da constelação, Via Láctea, que significa o
caminho do leite. Aceitando como instrumento do pensamento a alegoria que o mito nos trouxe, poderíamos dizer que
se Hera ficasse “chorando o leite derramado”, não haveria a Via Láctea, o aglomerado de estrelas onde está localizada
a Terra. Claro, é só um modo de dizer. Mas fazendo uma comparação, dizemos então que muitas árvores já
nasceram das sementes das frutas que caíram das bolsas das pessoas.

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-12ª Lição

De um modo geral, as tarefas de Hércules podem ser pensadas como tipo das tarefas humanas ou da existência
humana como um todo. A vida muitas das vezes nos apresenta situações extremamente adversas, às quais parece que
não temos como escapar ou resolver; tanto que dizemos que são impossíveis, o que nem sempre é verdade. Mas
Hércules não tentou em momento algum escapar às suas tarefas. Nós, seres humanos normais, entretanto, às vezes
precisamos mesmo tentar escapar de certas adversidades; nem sempre a fuga é sinal de covardia – pode ser até
mesmo um ato de coragem. Por exemplo, na segunda semana de Junho de 2007, um adolescente americano de
doze anos fugiu sem roupas pela janela do banheiro onde estava para pedir ajuda aos vizinhos, ao perceber que havia
assaltantes com sua avó, na sala. Neste caso, de nada adiantaria ir “enfrentar” os vagabundos, pois ele simplesmente
se tornaria mais um refém, se não tomasse um tiro por tentar bancar o herói. Para nós, simples mortais, os heróis de
verdade geralmente são pessoas que morreram em seu ato de coragem. Por ter fugido do banheiro, o garoto salvou a
avó: a polícia prendeu os invasores.

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BIBLIOGRAFIA

- MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Tomo II. Tradução de Maria Stela Gonçalves, Adail U. Sobral, Marcos
Bagno e Nicolás Nyimi Campanário. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

- JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1989.

- MÉNARD, René. Mitologia Greco-Romana. vol. III. Tradução de Aldo Della Nina. São Paulo: Opus Editora,
1997.

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1 - LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana – Danças, piruetas e mascaradas. pg. 7. Trad. Alfredo Veiga-Neto. 4ª
ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

2 - Esperar pela resposta da turma. Uma resposta válida é o tempo para a execução do trabalho.

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