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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2021.0000753580

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1000933-88.2021.8.26.0011, da Comarca de São Paulo, em que é apelante OLBERDAM
DE OLIVEIRA SERRA, são apelados ELECTRONIC ARTS NEDERLAND BV e
ELECTRONIC ARTS EUROPE LIMITED.

ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO


PAZINE NETO (Presidente) E CARLOS ALBERTO DE SALLES.

São Paulo, 14 de setembro de 2021.

VIVIANI NICOLAU
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

VOTO Nº : 37044
APELAÇÃO Nº : 1000933-88.2021.8.26.0011
COMARCA : SÃO PAULO
APELANTE: OLBERDAM DE OLIVEIRA SERRA
APELADAS: ELECTRONIC ARTS LIMITED E
ELETRONIC ARTS NEDERLAND BV

JUIZ SENTENCIANTE: VALENTINO APARECIDO DE


ANDRADE

“APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. USO


INDEVIDO DE IMAGEM. Dano moral. Ação de indenização
por dano moral c.c. pedido cominatório. Sentença de
improcedência. Inconformismo do autor. PRESCRIÇÃO.
Ocorrência. Pretensão indenizatória regida na forma do art. 206,
§3º, V, do Código Civil. Entendimento firmado pelo STJ no
julgamento do REsp 1.861.295/SP, no sentido de que o marco
inicial do prazo prescricional se dá com a disponibilização, pela
requerida, do jogo eletrônico ao mercado, divulgando a imagem
do autor sem sua autorização. Superação do entendimento
anteriormente adotado por este Tribunal, no sentido de que a
violação persistiria com o tempo. Precedentes. Sentença
confirmada. Sucumbência recursal do autor. NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO”. (v. 37044).

OLBERDAM DE OLIVEIRA
SERRA ajuizou a presente “ação de indenização por dano c.c.
pedido cominatório” em face de ELECTRONIC ARTS
LIMITED e ELETRONIC ARTS NEDERLAND BV,
alegando, em síntese, que é jogador de futebol, tendo atuado em
renomados clubes do futebol nacional (Atlético Paranaense) e
internacional (Marítimo e SC Braga de Portugal e Rapid
Bucaresti da Romênia). Em agosto de 2020 descobriu que sua
imagem, apelido desportivo e características pessoais estariam
sendo utilizadas pelas rés, sem sua prévia autorização, em jogos
eletrônicos por elas comercializados, quais sejam, “FIFA
SOCCER” edições de 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e
2013; e “FIFA MANAGER” edições de 2007, 2008, 2009, 2010,

Apelação Cível nº 1000933-88.2021.8.26.0011 -Voto nº 37044 - DVN 2


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2011, 2012 e 2013. Por tais motivos postulou a condenação das


rés ao pagamento de indenização por danos morais decorrentes
da utilização não autorizada de sua imagem, bem como a
condenação das requeridas à retirada dos referidos produtos de
circulação.
A r. sentença de fls. 2.176/2.183,
proferida em 19 de abril de 2021, julgou improcedente a
demanda, reconhecendo a prescrição da pretensão formulada na
inicial. O autor foi condenado ao pagamento das custas, despesas
processuais e honorários sucumbenciais dos representantes das
rés, arbitrados em 10% sobre o valor da causa (R$ 140.000,00
fls. 36).
Apela o AUTOR, alegando, em síntese,
que a prescrição não estaria caracterizada no caso em tela, uma
vez que a utilização de sua imagem se daria de forma contínua, e
não somente no momento de disponibilização dos referidos jogos
eletrônicos ao mercado consumidor. Aponta precedentes do
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA nesse sentido. Afirma que a
violação de direitos de sua personalidade, sem a correspondente
reparação, representaria violação a dispositivos constitucionais.
Por tais razões, postulou a reforma da sentença, para afastar o
reconhecimento da prescrição e julgar procedente o mérito (fls.
2.186/2.237).
O recurso é tempestivo, foi preparado
(fls. 2.253/2.254, com complemento às fls. 2.289/2.290),
contrariado (fls. 2.257/2.283) e os autos foram remetidos a este
Tribunal. Nova petição das apeladas às fls. 2292/2296. Houve
oposição à realização de Julgamento Virtual, por parte das
apeladas (fls. 2.292).

É O RELATÓRIO.

O recurso é desprovido.
A sentença recorrida não comporta
reforma no ponto em que declarou a prescrição da pretensão
inicial.
Embora esta TERCEIRA CÂMARA DE

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DIREITO PRIVADO adotasse, anteriormente, entendimento no


sentido de que os danos à imagem do jogador seriam
permanentes, decorrentes da comercialização do produto, o C.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA no julgamento do Recurso
Especial nº 1.861.295/SP, passou a adotar entendimento em
sentido contrário, nos seguintes termos:

“CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO


ESPECIAL. INDENIZAÇÃO. USO INDEVIDO DE IMAGEM.
JOGO ELETRÔNICO. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. DATA
DA VIOLAÇÃO DO DIREITO. PRECEDENTES.
1. Ação de indenização pelo uso não-
autorizado da imagem do autor, jogador de futebol, em jogo
eletrônico que reproduz personagem com suas características.
2. O Código Civil vigente adotou, como regra
geral, a data da lesão do direito - e não a da respectiva ciência -
em prol da segurança jurídica, escopo da prescrição, evitando,
assim, impor a alguma das partes o ônus da dificílima prova da
data da ciência do fato, o que deixaria a fluência do prazo, em
muitas hipóteses, a critério do autor da ação, sendo as exceções a
essa regra dependentes de previsão legal específica (p. ex.: §1º,
inciso II, alínea "c", do art. 206, do Código Civil e art. 27 do
CDC). Precedentes.
3. Hipótese em que a conduta de alegada
violação ao direito ocorreu no momento do lançamento dos jogos
e a sua colocação no mercado de consumo (distribuição),
divulgando a imagem do autor sem a devida autorização.
4. Marco inicial da prescrição que, no caso
concreto, depende do exame de questões de fato, devendo os autos
retornar à origem para exame da prescrição à luz da vertente
objetiva da teoria da actio nata.
5. Recurso especial parcialmente provido
(Recurso Especial nº 1.861.295/SP, Quarta Turma, Relator Ministro
MARCO BUZZI, Relatora para Acórdão Ministra MARIA
ISABE LALLOTTI, data do julgamento: 24/11/2020, DJe de
12/03/2021, destaque não original)”.

Com efeito, com base no entendimento


adotado no julgado referido, o fato de ainda existirem exemplares
do jogo eletrônico circulando no mercado não pode caracterizar
violação continuada do direito, não acarretando renovação
indefinida do termo inicial da prescrição. Assim, a violação do

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direito, e a consequente pretensão de reparação, surgem na data


em que os jogos são disponibilizados no mercado de consumo.
Conforme se depreende dos autos, o
autor postula indenização em razão da utilização de sua imagem
em jogos eletrônicos comercializados pelas rés entre os anos de
2007 e 2013.
É pacífico que o prazo prescricional
aplicável ao caso em tela é o de três anos, previsto no art. 205,
§3º, inciso V do Código Civil. Contudo, a presente ação foi
ajuizada somente em fevereiro de 2021.
Portanto, correto o reconhecimento da
prescrição da pretensão inicial.
Nesse sentido já se posicionou, mais
recentemente, esta TERCEIRA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO
em caso semelhante:

“INDENIZATÓRIA. USO INDEVIDO DE


IMAGEM EM JOGOS ELETRÔNICOS FIFA SOCCER (edições
2006, 2007 e 2009) e FIFA MANAGER (edições 2006, 2007 e
2009). I- Reparação que se submete ao prazo prescricional trienal
previsto no artigo 206, §3º, inciso V, do Código Civil. Termo a quo
da prescrição. Aplicação do disposto no artigo 189 do Código
Civil, ou seja, violação do direito. Violação do direito, na diretriz
traçada pelo STJ, no REsp 1.861.295-SP, que ocorre no momento
do lançamento dos jogos e a sua colocação no mercado de
consumo (distribuição), apartando-se, neste particular, o
entendimento anterior dessa Câmara acerca do marco inicial da
prescrição, considerada a natureza permanente da lesão.
Prescrição trienal, no caso, operada, já que a presente ação foi
proposta em novembro de 2020. Extinção da ação, com resolução
do mérito, nos termos do disposto no artigo 487, inciso II, do
CPC. II- Embargos de declaração. Aplicação da multa prevista no
artigo 1026, §2º, do CPC. Natureza infringente dos embargos, per
si, não autoriza a penalidade. Discussão, outrossim, sobre a
prescrição e os seus contornos, não estabelece a presunção de
caráter protelatório dos embargos. Penalidade afastada.
SENTENÇA REFORMADA, COM O AFASTAMENTO DA MULTA
APLICADA ÀS FLS. 1955. APELO PROVIDO. (Apelação Cível
1009444-12.2020.8.26.0011; Relator Desembargador DONEGÁ
MORANDINI, com a participação dos Des. BERETTA DA
SILVEIRA e VIVIANI NICOLAU; Órgão Julgador: 3ª Câmara de

Apelação Cível nº 1000933-88.2021.8.26.0011 -Voto nº 37044 - DVN 5


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Direito Privado; Foro Regional XI - Pinheiros - 4ª Vara Cível; Data


do Julgamento: 22/06/2021; Data de Registro: 23/06/2021, destaque
não original)”.

Portanto, o recurso é desprovido,


confirmando-se a sentença que declarou a prescrição da pretensão
inicial.
Por fim, com a manutenção da sentença,
o autor permanece sucumbente e arcará com as custas, despesas
processuais e honorários advocatícios dos representantes das rés,
os quais são majorados para 12,5% sobre o valor atualizado da
causa na forma do art. 85, §2º e 11 do CPC.
Ante o exposto, NEGA-SE
PROVIMENTO AO RECURSO.

VIVIANI NICOLAU
Relator

Apelação Cível nº 1000933-88.2021.8.26.0011 -Voto nº 37044 - DVN 6

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