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CONTROLE DA
QUALIDADE
Ligia Maria
Fonseca Affonso
A evolução histórica
da qualidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O conceito de qualidade e as técnicas utilizadas para melhorar a qualidade
evoluíram muito do século passado para cá. Antigamente, a qualidade
se restringia à inspeção do produto pronto no final do processo de fa-
bricação. Atualmente, a qualidade ganhou importância e agora é vista
como um processo de gestão.
Neste capítulo, você vai estudar a evolução do conceito da qualidade,
os aspectos do controle da qualidade adotados no século XX, a gestão
da qualidade atualmente e a ordem cronológica das principais fases da
evolução da qualidade.
Dessa forma, o controle da qualidade por muitos anos foi limitado à veri-
ficação, à contagem, à classificação pela qualidade e ao reparo nos produtos
rejeitados, sem a identificação do problema que causava tais falhas para
prevenir sua repetição, consideradas como fora do campo de atuação do depar-
tamento de inspeção (PARANTHAMAN, 1990; GARVIN, 2002). O objetivo
aqui era a obtenção da qualidade igual e uniforme em todos os produtos, ou
seja, ênfase à conformidade.
Em 1924, a importância da inspeção cede lugar à ênfase no estudo e na
prevenção dos problemas relacionados à qualidade. Vários estudos foram
desenvolvidos e, dentre eles, o trabalho de pesquisa voltado à resolução de
problemas de qualidade dos produtos da Bell Telephone Laboratories, nos
EUA, com a participação de Harold Dodge, Walter Andrew Shewhart, William
Edwards Deming e Joseph Moses Juran, levou ao surgimento do controle
estatístico de processos (CEP).
Tal complexidade faz com que a qualidade seja enfatizada de modo mais
amplo, desde o projeto até a utilização do produto, envolvendo todos os depar-
tamentos da empresa. Dessa forma, a ênfase deixa de ser na correção e passa
a ser na prevenção. Tal mudança se dá no início dos anos 60, tendo como base
os princípios do CQT (total quality control [TQC]) de Feigenbaum. Segundo
esses princípios, a qualidade de produtos e serviços é um trabalho de todos,
ou seja, todos os empregados devem participar para o desenvolvimento, a
manutenção e a melhoria de qualidade.
O controle tem início na elaboração do projeto, terminando apenas quando
o produto ou serviço chega ao consumidor, que fica satisfeito, envolvendo
também as áreas de engenharia do produto e do processo, produção, inspeção
e expedição, marketing e, principalmente, de gestão (FEIGENBAUM, 1994).
Essa abordagem buscou atuar sobre todas as potenciais causas da não con-
formidade, ou seja, o principal objetivo era executar um controle de prevenção,
em que era necessário o envolvimento de mais de uma área da empresa. O
trabalho de Feigenbaum foi o norteador das normas de sistemas de garantia da
qualidade em vários países e, mais tarde, originou as normas internacionais
ISO 9000 (BARÇANTE, [2009]).
A expansão do TQC teve grande participação de Juran, que defendia o
controle da qualidade como ferramenta de gestão, tendo como processos básicos
o planejamento, o controle e a melhoria da qualidade. Ele foi considerado o
responsável pela transformação da gerência japonesa, defendendo o envolvi-
mento da alta administração na administração da qualidade. Com isso, o foco
em aspectos tecnológicos cede lugar a aspectos relacionados ao gerenciamento
da organização como um todo, sem deixar de lado o CEQ, uma vez que para
executar o TQC é necessário identificar as causas dos problemas por meio de
métodos estatísticos. O que aconteceu, na verdade, foi a ampliação do CEQ,
uma vez que todos os setores e todos os empregados da empresa deveriam
participar do controle da qualidade. Foi esse envolvimento de todos que levou
Ishikawa, em 1962, e em parceria com a Japanese Union of Scientists and
Engineers (JUSE), a introduzir o conceito de círculos de controle de qualidade
(CCQs) e adequar o TQC no Japão, disseminando a utilização de ferramen-
tas de qualidade para todos os trabalhadores das fábricas, ou seja, todos os
empregados eram capacitados em técnicas estatísticas para trabalhar com as
chamadas sete ferramentas da qualidade, e, apesar de algumas já existirem,
foram organizadas por Ishikawa para aperfeiçoar o TQC.
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Kaoru Ishikawa: foi responsável pelos CCQs no Japão nos anos 60; organizou as
sete ferramentas da qualidade; foi criador do diagrama de causa-efeito (espinha
de peixe & Ishikawa).
JUSE: entidade que se tornou o centro de difusão das atividades de controle da
qualidade no Japão.
CCQ: grupo de pessoas que se reúnem de forma voluntaria e com regularidade,
visando a identificar, analisar e propor soluções para problemas de qualidade e de
produção. Podem ser formados por pessoas da mesma área de trabalho e nível
hierárquico ou por funcionários de diferentes áreas e níveis hierárquicos (FERRO;
GRANDE, 1997).
Tal abordagem foi ampliada por Genichi Taguchi, ao considerar que tudo
aquilo que se desviasse da perfeição geraria retrabalho, garantias, substituições
e devoluções, fazendo com que o produto fosse um gerador de perdas para
a sociedade. Dessa forma, reduzir perdas estaria relacionado à redução das
variações, reforçando a importância do CEQ (GARVIN, 2002).
Orientação: Orientação:
inspeção de qualidade controle da qualidade
Orientação: Orientação:
assegurar a qualidade (TQC) gerenciamento de qualidade (TQM)
(Continua)
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(Continuação)
Orientação: Orientação:
assegurar a qualidade (TQC) gerenciamento de qualidade (TQM)
Inspeção: existe desde o início dos tempos. No tempo dos artesãos, era
realizada informalmente com base em seus próprios critérios e de sua
equipe. Tratava-se, então, de um procedimento natural. Com o aumento
da produção e com a necessidade de peças intercambiáveis, a inspeção
passou a ser formal. Dessa forma, o foco principal era a verificação,
com ênfase na uniformidade do produto e os métodos utilizados eram
os instrumentos de medição. Era responsabilidade dos profissionais
da qualidade a inspeção, a classificação, a contagem, a avaliação e
o reparo, já a responsabilidade pela qualidade era do departamento
de inspeção. A inspeção era voltada ao produto acabado, visando a
identificar produtos defeituosos, sem, no entanto, produzir qualidade.
CEQ: as primeiras ideias apareceram por volta de 1900 na indústria
americana e os primeiros estudos têm início em 1920. O foco principal é
o controle, com ênfase na uniformidade do produto com menor inspeção.
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Leituras recomendadas
CORRÊA, H. L. Teoria Geral da Administração: abordagem histórica da gestão de produção
e operações. São Paulo: Atlas, 2003
JURAN, J. M.; GRYNA, F. M. Controle da qualidade handbook: conceitos, políticas e filosofia
da qualidade. São Paulo: Makron, McGraw-Hill, 1991. v. 1.
PALADINI, E. P. Gestão da qualidade: teoria e casos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
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