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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO


HISTÓRIA

LUIZ CLAUDIO CONCEIÇÃO MAIA

RACISMO CIENTÍFICO – BRASIL SÉCULO XIX

Petrópolis-RJ
2010
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LUIZ CLAUDIO CONCEIÇÃO MAIA

RACISMO CIENTÍFICO – BRASIL SÉCULO XIX

Trabalho apresentado ao Curso de História da UNOPAR


- Universidade Norte do Paraná, para a disciplina
Produção do conhecimento histórico. Professora Cyntia
Simioni França.

Petrópolis
2010
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1-Introdução

Na verdade, a discussão sobre o racismo e as formas de combatê-lo


atingem o âmago do auto-entendimento da nação brasileira e de cada um
de seus membros, pondo a nu a contradição entre, de um lado o
festejamento discursivo do país livre de preconceitos e, de outro as práticas
sociais e culturais que insistem em reproduzir as hierarquias raciais.
(HOFBAUER, 2006, Prefácio de Sérgio Costa)
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1 DESENVOLVIMENTO

Desde a produção do Projeto de TCC até os dias atuais, surgiram


algumas certezas e inúmeras incertezas. Dentre as certezas, a principal que
podemos citar, seria a de que o tema era de grande relevância, uma vez que visa
atender ao disposto na Lei 10.639/2003 que estabeleceu a obrigatoriedade da
inclusão do estudo das relações étnico-raciais no ensino de História. Com relação às
incertezas, a maior delas, seria que a fonte trabalhada “Os Africanos no Brasil”, de
Nina Rodrigues não forneceu subsídios suficientes para o desenvolvimento do tema,
tendo que ser trabalhado uma segunda fonte do autor, intitulada, “As raças humanas
e a Responsabilidade Penal no Brazil”. Nesta fonte, torna-se claro o quanto a ciência
do século XIX, fortaleceu a crença na “evolução” da Raça Humana, subdividindo a
humanidade em "raças inferiores” e "raças superiores” contribuindo para oficializar o
“racismo cientifico”, como mecanismo de exclusão social.
Nina Rodrigues se destaca dos demais autores, por vários motivos:
Primeiro: Ao mesmo tempo em que ele apóia os cientistas da época baseando-se
nas escolas Italianas e Francesas, na questão do evolucionismo, que promove uma
subdivisão racial, ele procura promover uma visão jurídica “protetora” ao negro,
através da comprovação de uma suposta “inferioridade”, baseada nas questões
biológicas, e principalmente por considerá-la uma “raça” em evolução, em que ele
conclui:
No emtanto, o exame que tenho feito me autorisa plenamente, parece, a
concluir que os negros e indios, de todo irresponsaveis em estado
selvagem, teem direitos incontestaveis a uma responsabilidade attenuada.
(RODRIGUES, 2007, p.86)

Segundo: A partir do momento em que a ciência passa a ter domínio da verdade,


que antes pertencia às concepções religiosas cristãs da classe dominante, esta
passa possuir a última palavra, sempre se apoiando nas questões ligadas a
evolução da raça humana através do progresso e do racismo cientifico.
Mas o que tudo isso tem haver com a construção da identidade afro-
brasileira? Acreditamos que muito, uma vez que, a lacuna criada entre a abolição da
escravidão até a chegada dos imigrantes europeus já no século XIX, acrescentando
aí uma boa dose de abandono social, somando a estes, a determinação de que era
cientificamente comprovado de que os negros são inferiores, muito pouco restou,
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para que os afro-brasileiros pudessem se apegar para sustentar uma identidade


étnica.
A principio surge no negro à necessidade de não mais ser visto
como negro, para não ser ligado, diretamente à escravidão, a pobreza e
consequentemente condenado a inferioridade
Nina Rodrigues cita o caso de um professor mestiço, que negava
segundo ele ajudar a própria raça, relata ele:

De um mestiço, dos mais distinctos professores desta faculdade, conta-se


que costumava justificar a sua franca hostilidade aos negros e mestiços
candidatos ao diploma de medico ou a alguma das cadeiras do
professorado, declarando que — de negros na escola bastava elle.
(RODRIGUES, 2007,p.104) .

Era necessário se distanciar de tudo que pudesse servir de ancora,


capaz de prendê-los a um estigma praticamente imutável, ou seja, a condição de ser
negro. Para driblar a esta sina, a união com pessoas de pele mais clara, seria uma
forma de renegar a negritude, afinal, a questão agora era não mais ser negro, para
isso valia tudo, principalmente alisar os cabelos com pentes de ferro aquecidos na
brasa.
De que valia para o negro livre, ser dono de seu próprio caminho se
este caminho não o levava a lugar algum? É certo, que a maioria sobreviveu à duras
penas até os dias de hoje, mas a que preço?
Coube ao negro, construir sua identidade, com os fragmentos da
escravidão de que ele não queira mais voltar, com abandono social e a miséria em
que ele se encontrava e principalmente a falta de esperança e de motivação capaz
de guiá-los na certeza de que um dia o respeito e a dignidade seriam resgatados.
Tudo isso, fez com que os negros acreditassem que todo esse
processo de inferioridade estava ligada diretamente a questão a cor da pele, e que o
único meio de amenizar essa condição seria a de negar a própria “raça”, ou melhor,
dizendo a própria etnia e tudo o mais que fosse ligada a ela.
Claro que não podemos generalizar, muitos negros e principalmente
mestiços, conseguiram se destacar em vários segmentos sociais, mas ainda eram
minoria, perante a quantidade enorme de negros marginalizados.
Outro fator preponderante em relação à questão da identidade, é
que ela atingiu não somente aos negros, mas também aos mestiços, que por
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herdarem características físicas européias, procuravam negar o sangue negro em


suas vias.
Os principais objetivos em se escrever em relação à construção da
identidade afro-brasileiro, é procurar criar uma ponte entre as mentalidades da
época em questão, neste caso, o racismo cientifico no Brasil da Primeira Republica,
e seus reflexos nos dias atuais e da importância de se mudar o olhar pejorativo em
relação às questões que envolvam o negro como base cultural da sociedade
brasileira.
Procuramos apontar o quanto ainda se tem por descobrir e discutir e
aprender, quando se trata de identidade, principal base de estudo deste trabalho,
uma vez que acreditamos que qualquer ser humano registra sua passagem no
mundo através de sua identidade, dizendo para quem não nos conhece quem
somos, de onde viemos e o que queremos.
Nina Rodrigues sacramentou o racismo cientifico no Brasil, com
suas teses evolucionistas, em relação às “raças humanas”. Era o momento em que
o poder metafísico das religiões dominantes, cedia espaço ao poder do homem
provar tudo o que antes pertencia a Deus, através do poder da ciência. Porém
ambos perpetuaram o negro à inferioridade, ora negando a sua existência humana,
ora colocando abaixo da linha evolutiva da humanidade.
É verdade que Nina Rodrigues, em todo seu discurso, denunciava a
existência de injustiças praticadas contra os Negros, apontava uma perseguição que
ele mesmo caracterizava como discriminatória, quando se referira à perseguição as
Casas de Candomblé, onde sempre havia um excesso por parte da força policial,
mas dentro de sua concepção cientifica, atribuía a dificuldade dos negros em
seguirem a religião cristã, devido à fala de evolução mental da ”raça negra” que
ainda os projetava uma compreensão do universo de forma primitiva, fetichista e
animista.
Procuramos através deste trabalho, procurar apontar o quanto o
racismo cientifico sacramentou a inferioridade racial de tal forma, que fez com que
houvesse uma assimilação no imaginário coletivo refletindo na sociedade a idéia de
negro, ser inferior, preguiçoso, bêbado e incapaz, que mesmo que os colocasse em
condições sociais favoráveis, seria preciso muitas gerações, até o que negro fosse
capaz de evoluir ao nível dos europeus arianos, conforme Rodrigues, cita:
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Mas, a esta circumstancia, que já os impedia de ter a mesma consciencia


do direito e do dever, accresce que a sua organisação physio-psychologica
não comporta a imposição revolucionaria de uma concepção social, e de
todos os sentimentos que lhe são inherentes, a que só puderam chegar os
povos cultos evolutivamente, pela accumulação hereditaria gradual do
aperfeiçoamento psychico que se operou no decurso de muitas gerações,
durante a sua passagem da selvageria ou da barbaria á civilisação.
(RODRIGUES, 2007, p.56)

Todo esse processo evolucionista, faz com que os negros, busquem


uma espécie de “mecanismo acelerador”, capaz de criar uma identidade baseada no
branqueamento, para se conseguir algum tipo de inclusão social e resgate da
cidadania.
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2-CONCLUSÃO

Trabalhar a questão do racismo cientifico, introduzido e defendido


por Nina Rodrigues no Brasil, e suas conseqüências na construção da identidade
afro-brasileira, é apenas a ponta do iceberg para começar a entender os principais
fatores que contribuíram e ainda contribuem para a exclusão social do negro
brasileiro. A começar pelo próprio negro, que mesmo depois de muitas gerações,
ainda tem em sua essência, uma procura por um “branqueamento”, como meio de
inclusão na sociedade dominante.
Seja adquirindo patrimônio, seja alisando os cabelos, seja rejeitando
a sua identidade ancestral, com receio de ser diretamente relacionado à escravidão
e suas mazelas.
Sendo assim, se faz necessário procurar investir na construção de
conhecimentos inerentes a este tema, para auxiliar na viabilização de medidas
afirmativas de combate ao racismo, começando por entender os principais contextos
históricos, como o racismo cientifico que oficializou para o mundo a hierarquização
da humanidade em raças inferiores e superiores.
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REFERÊNCIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas para


apresentação de trabalhos. 2. ed. Curitiba: UFPR, 1992. v. 2.

FRANÇA, Cintia Simioni. Produção do conhecimento histórico. Apostila de


História UNOPAR. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.

RODRIGUES, Raimundo Nina. Os Africanos no Brasil. São Paulo: Madras, 2008.

INTERNET: RODRIGUES, Raimundo Nina, As Raças Humanas e a


Responsabilidade Penal no Brazil. BD Jur. 2007.
<http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/handle/2011/9989?show=full>Acesso em: 22.02.2009

HOFBAUER, Andreas. Uma história de branqueamento ou o negro em questão.


São Paulo. Editora UNESP. 2006.

AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda Negra, Medo Branco – O Negro no
imaginário das Elites Século XIX. São Paulo: Annablume, 2004.

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