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23 de Março de 2022

Quais os direitos trabalhistas no afastamento por auxílio-


doença acidentário (espécie “91”)?

Publicado por Marcelo Trigueiros há 3 anos  27,5K visualizações

O empregado que recebe do INSS o benefício auxílio-doença acidentário,


tem direito ao recolhimento de FGTS durante todo o período de
afastamento. Além disso, terá direito a estabilidade de 12 meses após o
término do benefício. Não há lei prevendo esses direitos trabalhistas no
caso de afastamento por auxílio-doença "comum".

Neste artigo, vamos falar mais sobre esses direitos. Também


recomendamos o vídeo abaixo!
Por Marcelo Trigueiros, advogado e autor do Blog e Canal Explicar Direito

1- Auxílio-doença “comum” x acidentário

O trabalhador segurado do INSS que ficar temporariamente incapacitado


para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual, poderá ter direito ao
afastamento pelo órgão previdenciário e a um benefício chamado auxílio-
doença. Este benefício é devido e pago mensalmente pelo INSS enquanto
durar a incapacidade, quando preenchidas as condições para sua concessão
(artigos 59 a 63 da Lei 8.213/91).

Existem duas espécies de auxílio-doença. Elas são identificadas pelo INSS


sob diferentes códigos na Carta de Concessão e demais registros:

- espécie ou código “31” ou “B31” – auxílio-doença previdenciário ou


“comum”. É devido quando a incapacidade NÃO tem relação com o
trabalho. Por exemplo, como consequência de um acidente ocorrido em dia
de folga ou então de convalescença e tratamento de câncer, pneumonia, etc;

- espécie ou código “91” ou “B91” – auxílio-doença acidentário. É devido


quando a incapacidade decorre de acidente do trabalho ou de
outras situações que a lei atribui os mesmos efeitos que o acidente
de trabalho. É o caso das doenças profissionais ou do trabalho, bem como
do acidente de trajeto, entre outras.
Somente o segundo tipo de benefício, ou seja, o auxílio-doença
acidentário, espécie 91 ou B91, assegura os direitos trabalhistas
referidos neste artigo.

2- Recolhimento de FGTS pelo empregador

A Lei nº 8.036/90, que trata do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço,


estabelece expressamente no artigo 15, § 5º, a obrigatoriedade do
recolhimento de FGTS pelo empregador no caso de afastamento
por acidente do trabalho:

“O depósito de que trata o caput deste artigo é obrigatório nos casos de


afastamento para prestação do serviço militar obrigatório e licença por
acidente do trabalho.” (Incluído pela Lei nº 9.711, de 1998)

(grifamos)

Portanto, enquanto durar o afastamento por auxílio-doença


acidentário (espécie “91”), o empregador deverá recolher
mensalmente o FGTS na conta vinculada do trabalhador junto à
Caixa Econômica Federal.

3- Estabilidade de 12 meses após o final do benefício

O artigo 118 da lei 8.213/91 prevê que o trabalhador que retornar do


afastamento por auxílio-doença acidentário terá o emprego
garantido pelo prazo mínimo de 12 meses após o término do
auxílio-doença acidentário:

“ O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo


mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na
empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário,
independentemente de percepção de auxílio-acidente.”

Assim, ele não poderá ser demitido neste período, exceto por justa
causa.
É importante mencionar que existe a possibilidade de normas coletivas
preverem estabilidade também ao final do auxílio-doença comum. Porém,
isso não é muito comum e a lei estabelece o direito apenas em relação ao
auxílio-doença acidentário, como visto.

4- Aplicação dos direitos às doenças relacionadas com o trabalho


e às outras situações que a lei equipara a acidente do trabalho

Embora os dispositivos mencionados façam referência a acidente de


trabalho, eles se aplicam se o afastamento decorrer de doença relacionada
com o trabalho. De fato, conforme artigo 20 da Lei 8.213/91, as doenças
decorrentes de determinada atividade, ou surgidas ou agravadas
pelo trabalho ou condições de seu desempenho, são
consideradas acidente do trabalho (recomendamos este vídeo
para saber mais sobre isso).

Portanto, as doenças profissionais ou do trabalho podem implicar


afastamento por auxílio-doença acidentário. Neste caso, o trabalhador terá
direito ao recolhimento do FGTS pelo empregador durante o afastamento e
à estabilidade após alta.

Do mesmo modo, se o recebimento do auxílio-doença acidentário decorrer


das outras situações previstas no artigo 21 da Lei 8.213/91, o trabalhador
também fará jus àqueles direitos. Isso porque o dispositivo legal referido
equipara diversos eventos ao acidente de trabalho, como por exemplo o
acidente ocorrido no trajeto de ida ou volta do serviço, ato de agressão,
entre outros. Transcrevo, ao final, o artigo 21 da Lei 8.213/91, que indica
situações também equiparadas a acidente do trabalho.

Assim, se as situações que a lei equipara ao acidente do trabalho gerarem o


afastamento por auxílio-doença acidentário, o trabalhador terá direito ao
recolhimento de FGTS e a estabilidade após alta do INSS.

5- Conclusão

Como visto, apenas para o benefício de auxílio-doença acidentário, espécie


“91”, há previsão legal de recolhimento pelo empregador de FGTS durante o
período de afastamento e também de estabilidade após a alta. Por isso, se a
incapacidade decorrer de acidente do trabalho, doença relacionada com o
trabalho ou outras situações que a lei equipara ao acidente de trabalho, mas
mesmo assim o INSS conceder o auxílio-doença previdenciário ou comum
(espécie “31”), é interessante pedir a conversão, ou seja, a transformação do
tipo de benefício.

Se tais direitos não forem cumpridos ou respeitados pelo INSS ou pelo


empregador, pode ser necessária a adoção de medidas administrativas ou
judiciais.

Por fim, é importante mencionar que dependendo das condições, o


empregador pode ser responsabilizado por danos decorrentes de
acidente de trabalho ou doença relacionada com o trabalho.
Porém, tendo em vista que as correspondentes indenizações demandam
análise mais ampla e complexa e não decorrem automaticamente do
afastamento por auxílio-doença acidentário, optamos por deixar de
relacioná-las entre os direitos diretamente decorrentes do recebimento
daquele benefício. Para informações sobre esse assunto, recomendamos
nosso artigo anterior e também este vídeo.

Ficou com alguma dúvida? Mande para

contato@explicardireito.com.br

Para saber mais sobre Direito do Trabalho de um jeito simples e direto, se


inscreva no Canal Explicar Direito no Youtube

Blog: www.explicardireito.com.br

Link para o vídeo:https://youtu.be/pCC4E1ri7Kw

ARTIGO 21 DA LEI 8.213/91 – SITUAÇÕES EQUIPARADAS A ACIDENTE


DO TRABALHO:

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta


Lei:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa
única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para
redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão
que exija atenção médica para a sua recuperação;

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em


conseqüência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou


companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa


relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de


companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou


decorrentes de força maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no


exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de


trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da


empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar


prejuízo ou proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando


financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da
mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado,
inclusive veículo de propriedade do segurado;
d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para
aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de
propriedade do segurado.

contato@explicardireito.com.br

Disponível em: https://mtrigueiros.jusbrasil.com.br/artigos/697217227/quais-os-direitos-trabalhistas-


no-afastamento-por-auxilio-doenca-acidentario-especie-91

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