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ANTROPOLOGIA
INTRODUÇÃO
Na última aula, o professor proferiu sentença de que a Antropologia busca imprimir nova
metodologia na abordagem dos grupos semânticos, principalmente, os mais desprovidos de
representação política, priorizando aproximação aos contextos vivenciados por esses grupos e que
remetem a especificidade das consciências que se delimitam por estruturas, totalmente, diversas.
Portanto, cabe aos envolvidos nos projetos afetos a essas comunidades compreenderem o real
significado do que é desenvolvimento para essas populações. Entretanto, ressaltou o professor que
a despeito de todo o esforço da universidade em formar pessoas engajadas em entender os
significados a partir do escopo estrutural dessas formações sociológicas, o que se observa é a
continuidade e consolidação do que Foucault denomina de normalidade.
Então, em outras palavras a realidade empírica verificada demonstra adesão voluntária ou não,
mas não há como negar a permanência de ações e comportamentos que reverberam e potencializam
um dos graves problemas da realidade brasileira e que se acentua nos bolsões de miséria da baixada
fluminense; o da segregação. Importante frisar que essa adesão se expressa na conformação de
políticas públicas que supostamente são desenvolvidas para o bem estar da população, mas que
seus efeitos imediatos e incontestáveis é a segregação. Pode se discordar dessa afirmação, mas,
então, é necessário preceituar qual a função das ilhas de excelência no mar de lama da baixada.
CONCEITUAÇÃO
É importante ponderar, que a premissa metodológica que permite esse entendimento parte da
vertente antropológica de examinar desde às micros relações iniciais até o resultado final obtido.
Entretanto, é necessário suplantar essas ações, circunstâncias, tomadas de decisões e os interesses
difusos para se decodificar o padrão que se estabelece. A dificuldade se apresenta na compreensão
dessa essência encontrada no padrão, e transcrita nas relações. E, para ajudar nessa compreensão
é necessário contemplar a figura proposta pelo autor;
Destarte, aparece ferramenta que poderá ajudar na elucidação tanto da etnografia de Hélio R.
Silva quanto das ponderações do professor Dias Monteiro. Então, Durkheim sublinha e ressalta as
Dessa forma, é necessário enriquecer o entrelace entre relações e circunstâncias com inúmeros
detalhes do comportamento, do cenário e dos pequenos incidentes, para como preceituado por
Malinowski; acrescentar algo de essencial ao esboço rudimentar (pag. 31). Os detalhes
evidenciarão que para compreender a complexidade das relações entre o técnico, o político e o
morador no empreendimento governamental Nova Baixada, será necessário encontrar o sentido
essencial de suas ações. Porque, além de reconhecer nestas relações as propriedades do fato social
que serão utilizadas na compreensão das complexidades estruturais estabelecidas nos padrões, faz-
se imprescindível detectar o sentido essencial dessas ações, pois são indissociáveis. Sendo assim,
Clifford Geertz diz que é quase impossível extrair de fato essa essencialidade, pois são trens com
destinos diversos e contrários. Todavia, Durkheim, afirma que são trens que trafegam em trilhos
fixos, que possuem destinos conhecidos, além de locais de partida e chegada reconhecidos.
É aqui que começa ponderação ao professor, pois existe um trem em cima de um trilho. O pacto
federativo que retira o imposto estadual das exportações é um fato, a sub-representação eleitoral
dos estados mais populosos e que continuam a receber fluxo intenso e contínuo de imigrantes é
outro fator preponderante no desenho de qualquer política pública.
Talvez, seja mais simples o discurso de culpar o morador da Zona Sul que pagou dois milhões
pelo seu apartamento, dispende mensalmente quinze mil reais de condomínio, cinco mil anuais
pelo IPVA e desconta trinta por cento de seus ganhos para o imposto de renda. A culpa da ocupação
da Rocinha é desse sujeito que anseia passear pela orla sem que seja morto pelo seu cordão de
ouro. O problema, antes que alguém diga alguma coisa, nunca estará no imigrante, mas o intenso
nível do fluxo de imigração é preocupante. Mas, não ficou satisfeito em culpar o mauricinho, então,
concentra-se em culpar o institucionalismo informal advindo da representação política que não
tem interesse em mudar o atual estado das inflexões. E, para reafirmar esse hiato da representação
democrática o acadêmico demonstra a diferença primordial do porquê a constituição brasileira é
muito mais fácil de emendar que a americana. Entretanto, Marta Mendes da Rocha e Raquel
Mas, ainda falta o técnico. O indivíduo que se formou em Política Públicas e que precisa estar
preparado para apresentar soluções dentro do que Geertz denomina de locus temporário para este
confronto, uma expressão momentânea da própria existência destas duas partes, de sua separação
permanente, e de sua necessidade, também permanente, de serem mantidas em uma ordem
apropriada (Saber Local, pag. 94).
E para dificultar ainda mais Clifford Geertz exemplifica o que é essa ordem apropriada.
Será que foi a vontade encerrada em si mesma que definiu os parâmetros de onde implantar os
projetos básicos das obras de infraestrutura nos bairros, ou a existência de premissa maior violou à
consistência dialética das consciências para que as alterações significativas de ordem social devessem
priorizar a maior proporção de chefes com renda na faixa entre 3 e 5 salários (pag. 8). Talvez, o mais
importante desta etnografia fosse descobrir os fundamentos dessa ordem apropriada, mas o autor em
todo o seu discorrer elucida com uma sensibilidade incrível que o fator micro e macroeconômico
nortearam essas ações.
Então, essa conceituação da ordem apropriada tem a função de distribuir os papeis sociais e Hélio
Silva ilustra bem essa distribuição:
Torna-se evidente a essencialidade do critério; local com amplas vias de acesso que interligam
os centros de produção, importante estoque de mão de obra qualificada, alto contingente no exército
de reserva, força de trabalho condicionada ao deslocamento e o baixo nível de idade da população
economicamente ativa. Importante seria qualificar como se deu essa construção do sentido puramente
econômico. Essa escolha é da segunda ou terceira presidente do Cide e suas fanfarronices, ou se trata
do efeito perverso das descontinuidades impostas pela partidarização das responsabilidades, quem
sabe essa escolha foi das duas dezenas de crianças, proibidas de sair daqueles buracos, pois três delas
já tinham sido chupadas pela leptospirose (pag. 23) Mas, Foucault pode ajudar nesse entendimento:
CONCLUSÃO
Toda essa argumentação tenta demonstrar que o caráter isolado das intervenções visa provocar
padrão na percepção e reação dos moradores de bairros contíguos face ao merecimento dos eleitos e
ao critério de eleição. Exacerba-se o contraste para despertar o sentimento de injustiça, pela exclusão
geral que cria o regime de privilégio excepcional, essa excepcionalidade dissolve-se na invisibilidade
(adaptação ao texto O Técnico, o Político e o Morado, pag.10). Dessa forma, o técnico inflexível, os
Não são ações e relações aleatórias, mas trama cerrada de coerções materiais que irão incitar o que
o próprio autor denomina de “distanciamento crítico (...) orientando comportamentos e posturas para
produzir fronteiras” (pag. 14). Portanto é necessário compreender qual o sentido inercial das Políticas
de Estado, como se encaixam nas políticas públicas dos diferentes entes federativos e no Programa
Nova Baixada. Conjunturas interligadas, pois o financiamento do BID somente será liberado com as
garantias econômicas da União.
Destarte, o critério, puramente, econômico poderá ter seu sentido essencial muito distante da
vontade do sujeito, vontade individual, encerrada em si mesma tanto do técnico, do político quanto
do morador. E, análise mais apurada poderá indicar que o critério econômico utilizado é apenas um
dos mecanismos de coerção do fato social.
Mas, esse fato social se dissolve nessa invisibilidade. É como o acúmulo dos entraves obscurecidos
pelo entusiasmo que na verdade frutifica no corte súbito. É como se o fruto podre da decepção,
repentinamente exposto, estivesse na verdade apodrecendo há muito tempo. E, a experiência desse
tempo permite que tudo se revele em um instante, como uma epifania, um insight, uma serendipidade
(pag. 20).
Essa proposta quer demonstrar que, talvez, até mesmo à experiência exitosa de conscientização e
mobilização com reflexos nítidos no bairro Rancho Fundo que se tornou modelar e quem se aproxima
do bairro pela quase intransitável avenida que lhe dá acesso, via Posse, percebe as diferenças gritantes
em termos de limpeza urbana, asfaltamento e arborização, além de inúmeras outras realizações menos
visíveis, como a exemplar Biblioteca Paulo Freire e outras realizações como cursos e trabalho
voluntário de ajuda a famílias que passam dificuldades (pag. 24), tenha os memos efeitos encontrados
na Chatuba. Então, a propalada conscientização e mobilização ascendentes poderão desempenhar a
mesma função do critério, puramente, econômico.
Análise dos mecanismos infinitesimais da macro política do estado brasileiro, as políticas públicas
locais que se interligam e enviesam seus sentidos inerciais nos mais diversos programas de prestações
de serviço à população permitem ultrapassar o material morto, e indicar a exacerbação do contraste
como fator de dominação. O indivíduo pode até ansiar em diminuir esse distanciamento crítico, mas
os mecanismos de coerção impedem a própria construção da vontade. Foucault, parece concordar que
não existem diferenças, nas consistências dialéticas das consciências, entre o técnico, o político e o
morador, todas derivam do mesmo discurso de verdade.
Talvez, o contexto geral dessa proposta possa indicar certo pessimismo quando indica barreiras
quase intransponíveis na consecução dos resultados que, realmente, atendam os requisitos de bem-
estar da população, principalmente, os mais desprovidos de representação política. Entretanto, a
literatura prescreve que o início da solução é reconhecer de fato qual e onde está o problema.