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Queli Fernandes de Souza - quelisouzajpab@gmail.com - CPF: 113.247.

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SUMÁRIO
Páginas

1. INTRODUÇÃO ...................................... 2

2. AFINAL, O QUE É TEOLOGIA


SISTEMÁTICA? .................................... 7

3. A BÍBLIA E A
REVELAÇÃO......................................... 10
3.1. A Bíblia e sua terminologia
........................................................10
3.2. Revelação ...................................... 11
3.2.1. Revelação geral ...........................11
3.2.2. Revelação específica ...................15

4. A BÍBLIA E A INSPIRAÇÃO ...................18

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4.1. Opiniões acerca da inspiração bíblica
.......................................................20
4.2. Nossa visão acerca da Inspiração
.........................................................22
4.3. Conceitos não bíblicos acerca da
inspiração ........................................ 24
4.4. Implicações da inspiração
......................................................... 31
4.4.1. Autoridade ..................................31
4.4.2. Inerrância e infalibilidade ............35
4.4.3. Curiosidades históricas da Bíblia
..................................................... 42
4.4.4. Clareza
.................................................... 48

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4.4.5. Necessidade
.................................................... 56
4.4.6. Suficiência
.................................................... 65
O cânon ..................................... 72
4.4.7.

5. COMO SE DEVE INTERPRETAR OS


TEXTOS BÍBLICOS?............................. 84

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
.............................................................. 99
1. INTRODUÇÃO
Quando viajamos pelo Brasil ou
pelo mundo,
percebemos que em grande parte dos
lares existe uma Bíblia. Além de
observamos exemplares das Sagradas
Escrituras na casa de cristãos, também as

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vemos na residência de espíritas,
mórmons, testemunhas de Jeová, entre
outros. Também encontramos
exemplares das Escrituras em hotéis,
escritórios, consultórios e em variados
estabelecimentos
comerciais.
Muitas destas
pessoas não
consideram a Bíblia
como Palavra de Deus,
inspirada, inerrante, suficiente, capaz de
transformar a vida de qualquer indivíduo
(2Timóteo 3.16, 17; Hebreus 4.12) e fazêlo
viver em atitude de gratidão a Deus
enfrentando qualquer circunstância
(Salmo 1.1,2; Filipenses 4.11-13). Pelo
contrário, estas enxergam a Escritura
como um amuleto, um instrumento de
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consolo em tempos difíceis ou apenas
como uma boa literatura.
Olhando para esse entendimento
que as pessoas têm acerca da
Bíblia, como posso
avaliar minha comunhão com Deus,
ouvindo Sua voz através da Sagradas
Letras? Qual o valor que tenho dado as
Escrituras? Minha atitude perante a
Palavra de Deus irá revelar quão profunda
ou superficial está minha intimidade com
o Criador.
Não nos enganemos, o
crescimento sadio da igreja só
acontecerá quando crescermos
espiritualmente, baseados na Palavra do
Senhor (Romanos 15.4-7). Enquanto não
estudarmos a Palavra de Deus com a

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atitude de reverência a Escritura Divina e
tendo como objetivo praticar suas
verdades, ouviremos sermões e aulas que
serão vazias e sem sentido para nós
(Salmo 119.129-131).
Esta apostila tem como objetivo
ser um instrumento que auxiliará
na sua compreensão
da Palavra de Deus, demonstrando a
importância que a Bíblia possui na vida de
todo cristão. Para isso, faremos um estudo
sistemático sobre a Escritura e suas
características.

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2. AFINAL, O QUE É TEOLOGIA
SISTEMÁTICA?
Definições:
Teologia é o “estudo
sobre a Pessoa, as obras e o
relacionamento de Deus.
Palavra que vem do grego:
τεοϑ (“Teou”) que significa Deus e λξγια
(“Logia”) que significa estudo,
conhecimento. A disciplina que busca
apresentar uma declaração coerente da
doutrina da fé cristã, baseada
principalmente nas Escrituras, colocada
no contexto da cultura geral, expressa no
idioma contemporâneo e relacionada com
a maneira de viver do homem”. Esta
disciplina é dividida em duas partes, sendo
elas:

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Teologia Bíblica – “focalizase em
porções
específicas da Bíblia, estudando-as
separadamente quanto às suas
peculiaridades, e vinculando-as
harmonicamente à revelação bíblica total.
Inclui o estudo de línguas originais,
hermenêutica, arqueologia bíblica e
exegese” 1 . Por exemplo, quando quero
saber detalhadamente o que o texto de
1Coríntios 13 fala sobre amor, examinarei
o texto minuciosamente, com o auxilio de
comentários bíblicos, examinando o
contexto em que foi escrito e o local.
Também pode ser feito um estudo na
língua original para saber se existem
palavras diferentes no texto em grego

1 A definição de exegese e hermenêutica encontra-se no anexo 2 desta apostila.

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para a palavra “amor” e qual o significado
de cada uma delas.
Teologia Sistemática – “processo de
coleta, disposição metódica,
comparação,
demonstração e defesa de todas as
informações e fatos sobre Deus e Suas
obras obtidos nos diversos ramos de
conhecimento humano; é também o
registro deste processo”. Para ficar mais
claro podemos dizer que fazemos
Teologia Sistemática quando pegamos a
palavra “amor” exemplificada acima e
estudamos sua ocorrência na Bíblia como
um todo. Além disso, na Teologia
Sistemática utiliza-se documentos extra-
bíblicos (documentos seculares,
dicionários, enciclopédias, etc) com a

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finalidade de comparação e defesa da fé
cristã.
3.A BÍBLIA E A REVELAÇÃO
3.1. A Bíblia e sua terminologia
Do grego βιβλιξμ (“Biblion”), 32
vezes, “rolo de papel ou pergaminho”,
“livro” (Lucas 4.17). Escritura - do grego
γοα η (“Grafe”), 51 vezes, “escrita”,
“letra”, “obra”. A frase “está escrito”
γεγοαπται (“gegraptai”) encontra-se 70
vezes e significa uma demonstração da
autoridade da citação (Mt 4.4-10).
Palavra de Deus – “heor” ou “kocor”
(“teos” ou “logos”) usada
freqüentemente com respeito a palavra
escrita, seja do Antigo ou do Novo
Testamento (Hebreus 4.12).

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3.2. Revelação Definição: “Revelação é
o processo pelo qual Deus
desvenda ao homem Seu caráter e
eterno desígnio, bem como o resultado
desse processo, qual seja, a verdade
divina manifesta ao homem”. Esta
revelação pode ser geral ou especial
(específica).
3.2.1. Revelação geral
Pode-se definir revelação geral como “o
processo pelo qual alguns atributos de
Deus
são manifestos ao homem através de
meios naturais ou não”.
A. Os meios da revelação geral
incluem:
• Natureza (Salmo 19.1-6;

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Romanos 1.19-20);
Providência (Mateus 5.45;

6.26,
30; Atos 17.24-28; Romanos
8.28);
Preservação do
• universo
(Colossenses 1.17);

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Consciência (moralidade)
humana (Gênesis 1.26; Romanos
1.32; 2.14, 15); Raciocínio
(Romanos 1.20-22, 25).
B. Questão: Uma pessoa pode
conhecer a Deus através da
revelação geral?
Sim, entretanto existirão algumas
limitações. São elas:
• Não expõe claramente a
natureza moral de Deus e do
homem;
• Não possui conteúdo redentor; e
Não influi no problema básico do

homem e acaba tendo um efeito


condenatório
sobre este.

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C. Posições quanto a revelação


geral:
Catolicismo Romano – a
natureza produz “fome” de maior
conhecimento, o que só pode ser obtido
nos ensinos da igreja (católica);
Liberalismo – a natureza nada diz

sobre Deus; os autores


bíblicos precisam ser
corrigidos;
Neo- ortodoxia 2 – a natureza

não revela Deus até que o


indivíduo tenha um
encontro existencial pessoal com Ele;

2 Ver definição de neo-ortodoxia no Anexo 2 na palavra barthianismo.

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• Alguns reformados – o pecado


tornou o homem insensível à
revelação geral; e
Evangélicos – a revelação é tanto
positiva como negativa: Revela algo sobre
Deus mas também resulta em condenação
em caso de rejeição.
Revelação específica Por
3.2.2.

revelação específica
entendemos ser “o
conhecimento proporcionado
da pessoa,
obra, mensagem e propósitos de Deus,
através de vários meios e por diversos
homens na história, que foi registrada
(senão exaustivamente, suficientemente)
como conteúdo das Escrituras”. A

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revelação específica ocorreu de vários


meios:
Deus falou a pessoas (Noé,

Abraão, Moisés, Elias, etc.);


Profecias;
Cristo (Hebreus 1.1-3);

Apóstolos.
A. Características da revelação
específica:
• Limitada àqueles que têm acesso
ao registro bíblico em forma
escrita ou oral; Eficaz em
promover a redenção (Hebreus
4.12). B. Bases
Bíblicas:

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• Hebreus 1.1-3 – “havendo


falado”, “muitas vezes”, “de
muitas maneiras”, “pelo Filho”.
• Jesus como revelação (Isaías
7.14; 9.6; Mateus 11.27; João
1.18; 14.9; Colossenses 1.15-17;
Hebreus 1.3).
A Bíblia como revelação
(1Coríntios 15.3, 4).
D. Posições quanto a Bíblia como
revelação
Catolicismo Romano – as

Escrituras são revelação quando


interpretadas de acordo
com os ensinos da única igreja verdadeira;
• Liberalismo – a Bíblia será
revelação quando for

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desmitologizada; seus relatos e


interpretações pressupõem dimensão
sobrenatural, que, de fato, é inexistente;
(Rudolf Karl Bultmann)
Neo-ortodoxia – a Bíblia contém

revelação feita a homens do


passado, servindo
apenas como testemunho dessa revelação
passada; (Karl Barth) e Evangélicos – a
Bíblia é revelação inerrante e infalível de
Deus ao homem.
A BÍBLIA E A INSPIRAÇÃO
4.

Como você definiria inspiração bíblica?


Certamente esta é uma expressão que
precisamos tomar muito cuidado ao usála,
pois corremos o risco de expressá-la
incorretamente devido a nossa falta de

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conhecimento sobre seu verdadeiro


sentido. A seguir faremos algumas
considerações sobre o assunto.
A palavra “inspiração” é
derivada da palavra grega
ΘΕΟΠΝΕΥΣΤΟΣ
(“theopneustos) que significa “soprada por
Deus”.
Definição: “Inspiração é o processo pelo
qual Deus assegurou um registro

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original inerrante e infalível de Sua
revelação através da ação controladora do
Espírito santo sobre os escritores
humanos, no pleno uso de suas
personalidades”.
4.1. Opiniões acerca da inspiração
bíblica
Racionalismo e

liberalismo3 – é um livro humano.


Seitas, misticismo e

espiritismo – normalmente têm


outra autoridade acima da Bíblia
(livro ou pessoa), a experiência
(pessoal ou coletiva) tem igual ou
maior autoridade, sendo usadas

3 As definições racionalismo e liberalismo encontram-se no anexo.

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como forma de interpretação.
Exemplos: O espiritismo possui
“O Evangelho segundo Allan Kardec”,
as Testemunhas de Jeová possuem a
literatura “Torre de Vigia”, os mórmons
possuem “O livro dos mórmons”, entre
outros.
Catolicismo Romano – •

a Bíblia é inspirada, mas sua


autoridade provém da
interpretação, também inspirada, dada
pela igreja (padres e papa).
Correntes evangélicas •

contemporâneas – algumas linhas


doutrinárias crêem em
inspiração parcial, ou seja, apenas algumas
partes da Bíblia são inspiradas. Outras
crêem em inspiração gradual, sendo

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algumas partes mais inspiradas que
outras.
Correntes ultra- •

fundamentalistas4 – Deus ditou a


Bíblia aos profetas palavra por
palavra.
Conservadores – a •

inspiração aconteceu de formal


verbal e completa, ou seja, toda
a Escritura foi inspirada por Deus, não
havendo diferenças de valor em qualquer
trecho.
4.2. Nossa visão acerca da Inspiração
Fonte – “inspirada por Deus”

(2Timóteo 3.16). Theopneustos –


soprado para fora. Essa inspiração diz

4 Veja a definição de fundamentalismo no anexo.

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respeito às Escrituras e não aos
escritores.
Extensão – (1 Timóteo 5.18; 2

Timóteo 3.16; 2 Pedro 3.16).


Note que no primeiro texto Paulo cita
passagens do Antigo Testamento
chamando-as de “Escritura” e na última
passagem Pedro refere-se aos escritos de
Paulo como parte das Escrituras, sendo
inspiradas por Deus e em igualdade de
importância com “as demais Escrituras”.
Processo – (2 Pedro 1.19-21)

“homens santos... movidos pelo


Espírito Santo”. “Movidos no grego
ϕεοξμεμξι (“feromenoi”) significa
“levantados”, “impelidos”,
“carregados” .

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Outros textos: Marcos 12.36; Atos 1.16;
4.24, 25; Hebreus 3.7; 10.15, 16.
4.3. Conceitos não bíblicos acerca da
inspiração
Inspiração extática – teoria que

afirma que a inspiração da Escritura


se deu num processo de transes
emocionais, êxtase, onde o escritor
não tinha a normalidade de suas
atividades mentais. Entretanto, esta
visão não consegue ser coerente com
a visão bíblica de inspiração.
Exemplos: Lucas 1.1-4; Judas 3.
Inspiração mecânica – ditado.

Problema: 1Coríntios 7.12, 25; Judas


3. O ditado exclui a personalidade dos
escritores humanos. Se esta visão

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fosse correta, como explicar os estilos
de literatura bíblica?
Inspiração natural – esta teoria

afirma que os escritores da Bíblia


foram homens geniais e que não
precisaram de ajuda sobrenatural
para escrever a Bíblia. Encontramos
vários problemas nesta visão, os quais
são:
Se a Palavra foi escrita sem nenhuma
ajuda sobrenatural, os próprios autores
criaram o conteúdo, sendo portanto
passível de erros. Não encaixa com
passagens claras da Escritura como, por
exemplo Mateus 5.18;
Este tipo de inspiração dá margem para
outros livros além da Bíblia serem
considerados inspirados, conforme a

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genialidade de seu autor. A passagens de
Provérbios 30.5-6 e Gálatas 1.8 são
contrárias a esta idéia;
Podem surgir livros inspirados a
qualquer momento, podendo trazer
ensinamentos conflitantes com a Bíblia,
pois o critério da inspiração é a genialidade
do autor. Refutação bíblica: Salmo 119.89-
92, 160; Gálatas 1.8;
2Pedro 1.19-21.
Inspiração mística ou dinâmica –

é uma “evolução” da teoria da


inspiração natural. Esta teoria afirma
que os escritores da Bíblia eram
homens geniais cheios do Espírito
Santo e orientados por Ele, como
qualquer outro cristão. Isso quer dizer
que eles apenas tinham uma

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consciência religiosa mais profunda
que outros povos, da mesma maneira
que os gregos se sobressaíam na
filosofia e os romanos na política. Esta
teoria possui os mesmos problemas
da anterior acrescida de que a Bíblia
não é a Palavra de Deus mas contém
a Palavra de Deus , podendo ser
usado como um livro de literatura
apenas. Problema: Como interpretar
Provérbios 30.5-6; 2Timóteo 3.16;
Hebreus 4.12 ?
Inspiração parcial – esta

corrente de pensamento entende que


a Escritura possui certos graus de
inspiração, ou seja, certos trechos da
Bíblia são mais inspirados que outros.
Em alguns casos, igrejas e

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movimentos que crêem ser correto
este conceito não consideram
algumas porções da Palavra como
inspiradas por Deus. Esta visão não é
coerente com o Salmo 119.160 e
2Timóteo 3.16, entre outros.
Uma das ramificações deste
pensamento crêem que as partes
inspiradas são aquelas que não haveria
possibilidade de conhecermos pela nossa
capacidade (criação, profecias) e que se
constituem em partes não inspiradas as
porções históricas, pois podem ser
conhecidas por documentos
contemporâneos.
Com relação a inspiração parcial
existem aqueles que não crêem nos
relatos sobrenaturais da Bíblia (Jonas no

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ventre do peixe, Moisés abrindo o mar,
etc) mas crêem que as porções da
Escritura que relatam fatos possíveis de
compreender com a mente humana
podem ser inspirados. Atenção:
Atualmente alguns movimentos
evangélicos tradicionais pregam esta
visão.
Inspiração conceitual – afirma

que os conceitos são inspirados mas


não as palavras e que estas podem
estar erradas em alguns casos. O
grande problema desta visão é que,
se as palavras podem estar erradas,
de que outra maneira pode-se
formular conceitos sem o uso de
palavras. Incoerência da visão: Isaías
40.6-11; Mateus 5.18.

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Inspiração Neo-Barthiana – Karl

Barth (1886-1968), considerado um


grande teólogo, ensinava que a
revelação está centrada em Cristo.
Isso até parece interessante,
entretanto o que os barthianos 5 (ou
neo-ortodoxos) pregam é que o
testemunho da Bíblia é desigual, ou
seja, certas partes são mais
importantes em seu testemunho que
outras. As partes mais importantes
são as que testemunham de Cristo,
embora estas não são
necessariamente precisas. Barth
afirmava que a Bíblia continha erros,
mas que pode tornar-se a Palavra de
Deus ao ser lida por nós. Problema

5 Veja a definição de barthianos no anexo 2.

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desta visão: Deuteronômio 6.6-9; Pv
4.20-22.
4.4. Implicações da inspiração
A doutrina cristã está baseada na
inspiração das Escrituras. Então, se isto é
verdade,
existem sérias implicações para o homem.
São elas:
4.4.1. Autoridade
Todas as palavras nas Escrituras
são Palavra de Deus.
a) Isso é o que a Bíblia afirma a
seu próprio respeito
No Antigo Testamento a frase
introdutória “assim diz o
Senhor” é encontrada

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centena de vezes. No mundo do Antigo
Testamento, essa frase seria reconhecida
como idêntica em forma à expressão
“assim diz o rei”. Quando um profeta
falava dessa forma em nome de Deus, cada
palavra dita vinha de Deus, senão ele seria
um falso profeta (Números 22.38;
Deuteronômio 18.18-20; Jeremias 1.9;
14.14; 23.16-22). Deus também fala por
intermédio do profeta (1Reis 14.18; 16.12,
34; Zacarias 7.7, 12). Assim, o que o
profeta diz em nome de Deus, é Deus
quem fala (Ageu 1.12, 13)
b) Acreditamos que a Escritura é
a Palavra de Deus à medida
que a lemos.
Nossa convicção que a Bíblia é a
Palavra de Deus vem apenas quando o

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Espírito Santo fala ao nosso coração nas
palavras da Escritura e por intermédio
delas, dando-nos a segurança de que essas
são as palavras do nosso Criador falando
conosco (1Coríntios 2.13, 14).
As palavras das Escrituras são
c)

autocorroborantes. Elas não


podem ser “comprovadas”
como Palavra de Deus
através de outras
fontes (exatidão histórica ou coerência
lógica, por exemplo). Se isso fosse
necessário, a Bíblia deixaria de ser nossa
autoridade máxima e absoluta,
tornandose dependente de outros
conhecimentos, colocando-os como
autoridade superior a Escritura divina.

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Deus não pode mentir nem
d)

falar com falsidade (Tito 1.2;


Hebreus 6.18).
Todas as palavras nas
e)

Escrituras são inteiramente


verdadeiras e nela não
há erro (Salmo 12.6; 119.89; Provérbios
30.5; Mateus 24.35).
f) As palavras de Deus são o
padrão definitivo da verdade.
A Palavra de Deus não é
simplesmente verdadeira, mas é a própria
verdade (João 17.17). As declarações que
se conformam com as Escrituras são
verdadeiras enquanto que as que não se
conformam não são verdadeiras.

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Portanto, verdade é o que Deus diz, e na
Bíblia temos o que Deus diz, de maneira
exata mas não exaustiva.
4.4.2. Inerrância e infalibilidade
Os conceitos de revelação e
inspiração produzem e
condicionam o conceito de
autoridade da Bíblia como Palavra de
Deus. Tais conceitos fundamentam e
sustentam toda a produção teológica. A
falta de conceitos corretos haverá não só
de fazer ruir toda a teologia conservadora,
como dará a luz toda a sorte de
deturpação doutrinária ou especulação
filosófica e/ou religiosa.
Duas definições são importantes:
Inerrância: os escritos originais
não continham qualquer erro.
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Infalibilidade: a Bíblia não ensina
nem induz ao erro.
Importância da inerrância e da
infalibilidade na atualidade
Os ataques de fora e de

dentro: Estabilidade doutrinária;


Inerrância e o método 

da teologia: Se a Bíblia não é a


Palavra de Deus, a teologia
também é falha.
Infalibilidade: Se nos faz

errar, não atinge seus propósitos.


Evidências da inerrância
A natureza de Deus:

João 17.3; Romanos 3.4;Tiago


1.17; Tito 1.2;

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O testemunho da 

própria Bíblia:
Deuteronômio 18.20-22;
Provérbios 30.5, 6; Mateus
5.17, 18; João 10.35.
O uso do texto por 

Jesus e pelos autores bíblicos:


Mateus 22.29-32 (cf. Êxodo
3.6); Mateus 22.41-46 (cf. Salmo 110.1);
Gálatas 3.8, 16 (cf. Gênesis 22.17, 18);
1Timóteo 5.18 (cf. Deuteronômio 25.4;
Lucas 10.7)

Questões práticas
Quando uma pessoa nega que a
Escritura é inerrante, algumas
questões doutrinárias podem
ser afetadas. São elas:

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A negação da queda de Adão, da
veracidade das experiências do
profeta Jonas, a
tentativa em explicar racionalmente os
milagres relatados na Bíblia, a tentativa de
redefinir o que seja pecado, salvação,
entre outros problemas.
Esta atitude também pode gerar
erros no estilo de vida do cristão.
São eles:
Uma visão liberal da seriedade do
adultério, da homossexualidade,
do divórcio e do
novo casamento. A pessoa também pode
fazer uma reinterpretação do papel da
mulher na família (submissão) e encarar a
Bíblia como um bom livro de literatura
apenas.

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Argumentos contra a inerrância
e refutações bíblicas
Participação humana 

(Falibilidade)
Refutação: Jesus Cristo era (e é)
Deus e homem, sem mancha.
Então, o ser humano não
necessita de erro. Assim como o Verbo de
Deus foi feito carne como nós em todas as
coisas, exceto no pecado, assim também
as palavras de Deus, exprimidas em
linguagem humana, sem erro. O resultado
é uma Palavra inspirada que é rica em
significado, mais rica do que o autor
humano pudesse imaginar. Isto é certo
com respeito à Escritura e a inerrância.
 Há erros na Bíblia.
Refutações:

39

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Há erros nas cópias, 

mas esses erros não arranham


nenhuma doutrina
essencial. Alguns erros podem ser apenas
aparentes.
O conceito de 

inerrância só diz respeito aos


manuscritos originais. Nós não
os temos; por isso o debate não
tem sentido.
O que importa é o

códice6: uma cópia perfeita tem


o mesmo valor do
original.
A Bíblia mesma fala

de suas cópias anteriores

6 Ver definição de códice no anexo 2.

40

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(Deuteronômio 10.2, 4; 17.18;
Jeremias 36.8). Os autores do
Novo Testamento não tinham o
original do Antigo, mas o
próprio Jesus destacou a
inerrância do códice deste (João
10.35).
Atualmente, há 

mais do que 5.000 manuscritos


do Novo Testamento, com 350
códices (Sinaiticus, Vaticanus,
Alexandrinus); mais de 86.000
citações bíblicas nos escritos dos
pais da igreja e em antigas
traduções (latina siríaca,
egípcia). O códice original não
está perdido, mas está dentro
dos manuscritos que temos.

41

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Com respeito a 

inerrância das Bíblias que temos,


elas têm algumas palavras discutidas com
respeito ao autógrafo original. Mas ainda
estas Bíblias de hoje são a verdadeira
Palavra de Deus, inspirada e inerrante à
medida que ela reflete a obra original de
Deus. E, à luz da ciência do criticismo
textual, podemos ter grande confiança de
que a Bíblia que possuímos é
extraordinariamente exata.
4.4.3. Curiosidades históricas da Bíblia
Cópias dos escritos começaram a ser
feitas desde o princípio, para enviar a
outras
igrejas e para preservar a Escritura, a
medida que as outras cópias iam sofrendo
a ação do tempo.

42

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Códice – No 2º século d. C. os livros
do Novo Testamento
começaram a ser feitos à
maneira de “Códice”, isto é, à maneira dos
livros de hoje, no qual, de um número
qualquer de folhas, podia-se fazer um
volume com páginas numeradas. Isto
tornou possível fazer volumes de coleções
maiores de livros do Novo Testamento, o
que não se podia fazer no formato de rôlo.
Os três mais antigos, completos,
conhecidos e mais valiosos
manuscritos (Códices) são
o Sinaítico, o Vaticano e o Alexandrino, que
originalmente foram Bíblias completas.
O manuscrito Sinaítico foi
descoberto por um alemão chamado
Tischendorf, em 1844, no mosteiro de
43

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Santa Catarina, no Monte Sinai.
Encontrou-os num cesto de papéis velhos
que haviam sido separados para queimar.
Tischendorf havia encontrado partes de
manuscritos datados da metade do século
IV d.C. Quinze anos depois conseguiu o
restante dos manuscritos com o
mordomo do local.
Foi adquirido pela Biblioteca
Imperial de São Petesburgo, onde
permaneceu até 1933,
época em que foi vendido ao Museu
Britânico por meio milhão de dólares. Este
manuscrito contém 199 folhas do Antigo
Testamento e o Novo Testamento inteiro.
O manuscrito Vaticano foi feito no
4º século. Encontra-se na

44

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Biblioteca do Vaticano desde
1841. Faltam alguns fragmentos do Novo
Testamento. Este e o Sinaítico são os dois
mais antigos e de maior valor. Tischendorf
pensava que talvez foram feitos por
uma mesma pessoa e pertencessem
ao número dos 50 encomendados por
Constantino7.
O manuscrito Alexandrino foi feito
no 5º século em Alexandria.
Encontra-se no
Museu Britânico desde 1627. É a Bíblia
inteira, faltando alguns fragmentos,
contendo também as “Epístolas de
Clemente” e os “Salmos de Salomão”.
Pauta para dificuldades bíblicas8

7 Para saber mais sobre os manuscritos de Constantino ver anexo 2.


8 Veja exemplos no anexo1.

45

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As citações não precisam
1.

ser citações exatas. Ex: Compare


Mateus 27.37; Marcos 15.26; Lucas
23.38; João 19.19.;
Nem tudo que está na
2.

Bíblia é eticamente aprovado por ela.


Ex: Observe Gênesis 20.2;
Um relatório parcial não é
3.

necessariamente um relatório falso.


Ex: Compare Mateus 20.30, Marcos
10.46 e Lucas 18.35;
Relatórios diferentes não
4.

são necessariamente contraditórios.


Ex: Compare Mateus 26.57 com João
18.13;
Palavras diferentes
5.

podem ter o significado igual (e

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viceversa). Ex: Compare Mateus 20.29,
Marcos 10.46 e Lucas 18.35;
A linguagem bíblica sobre
6.

o mundo é, as vezes, fenomenológica


(aparente). Observe Josué 10.12-13;
Descrições inexatas não
7.

são necessariamente falsas. Ex:


Compare Mateus 28.5, Marcos 16.5 e
Lucas 24.4;
As dificuldades que ainda
8.

não têm explicações não


necessariamente
ficarão sem explicações no futuro.
Esse tópico vai ser dedica a explanação
da autoridade bíblica como infalível e
inerrante. Já de início pode-se concluir
que, desobedecer a Escritura ou negar sua

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autoridade, constitui em desobediência a
Deus e falta de fé no Deus onipotente.

4.4.4. Clareza
Vimos anteriormente trechos das
Escrituras difíceis de serem
interpretados. Entretanto,
sabemos que a Bíblia como um todo pode
ser considerada de fácil compreensão.
Pedro, quando se refere as epístolas
paulinas declara que “”há certas coisas
difíceis de entender” (2Pedro 3.16). Note
que Pedro fala “certas coisas” e não
“todas as epístolas paulinas”. Pode-se
notar nos versículos 14-18 Pedro estimula
seus leitores a buscarem o conhecimento
da Escritura. Este tópico destina-se a
expor a clareza da Palavra de Deus.

48

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a) A Bíblia afirma sua própria
clareza
A clareza da Bíblia e a
responsabilidade dos crentes em
geral de lê-la e compreendê-
la são freqüentemente enfatizadas.
Moisés já enfatizava a importância desta
atitude (Deuteronômio 6.6-7). Aplicando a
Bíblia em nossas vidas, entendemos que
todo crente deve ser capaz de
compreender as palavras das Escrituras, e
compreendê-las bem o bastante para
ensinar filhos e irmãos em Cristo. Da
mesma forma, o Salmo 1 chama de
“bemaventurado” e digno de ser imitado o
aquele que medita na Lei do Senhor “de
dia e de noite” (Salmo 1.2).

49

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As Escrituras afirmam que até os
“inexperientes” podem ler e
entender a Bíblia,
tornando-se sábios (Salmo 19.7; 119.30).
Inexperientes ou símplices são pessoas
que carecem de capacidade intelectual
bem como de juízo correto para não ser
desencaminhada.
Numa época em que é comum as
pessoas nos dizerem que é muito
difícil interpretar
corretamente as Escrituras, é bom lembrar
que no evangelhos nunca
encontramos Jesus declarando: “
Percebo que vocês estão em dúvida. Não
os culpo, pois a Escritura é muito obscura
sobre isso”. Pelo contrário, em vários

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momentos Cristo exclamou: “Não lestes...”
(Mateus 12.3, 5; 19.14; 22.31),
“Nunca lestes nas Escrituras...” (Mateus
21.42) ou mesmo “Errais, não conhecendo
as Escrituras nem o poder de Deus...”
(Mateus 22.29; cf. Mateus 9.13; 12.7; 15.3;
21.13; João 3.10). Percebe-se nestes
versículos que Jesus falava tanto a eruditos
como a pessoas incultas, tendo a certeza
que essas pessoas não podiam culpar a
Escritura por uma má compreensão de um
ensinamento. Pelo contrário, a culpa é
daquele que compreende erroneamente
ou não aceita o que está revelado na
Palavra.
Semelhantemente, a maioria das
epístolas do Novo Testamento não
foram escritas

51

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para líderes de igrejas, mas a
congregações inteiras (1Coríntios 1.2;
Gálatas 1.2; Filipenses 1.1). Paulo entende
que seus leitores irão compreender o que
ele escreve, e incentiva o envio de suas
cartas a outras igrejas (Colossenses 4.16;
2Coríntios
1.13; Efésios 3.4; Tiago 1.1, 22-25)
b) As qualidades morais e
espirituais são necessárias para a
correta
compreensão
O Novo Testamento afirma não
poucas vezes que a capacidade de
compreender corretamente as Escrituras
é mais moral e espiritual que intelectual
(João 7.17; 8.43; 1Coríntios 2.14;
2Coríntios 3.14-16; 4.3-4, 6; Hebreus 5.14;

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Tiago 1.5-6). Portanto, apesar da Escritura
ser uma revelação clara, ao mesmo tempo
esta não será compreendida
corretamente por aqueles que não se
dispuserem a receber seus ensinamentos.
c) Por que as pessoas
compreendem erradamente as
Escrituras?
Vemos no Novo Testamento que
os próprios discípulos de Jesus
demonstravam não
entender o Antigo Testamento e até os
ensinos de Cristo (Mateus 15.16; Marcos
4.10-13; 6.52; João 8.27). Embora às vezes
isso se devesse ao fato de que eles
simplesmente precisavam aguardar
eventos futuros da história da redenção,
especialmente da vida do próprio Cristo

53

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(João 12.16; 13.7), também houve
oportunidades em que isso se deveu à sua
falta de fé ou dureza de coração (Lucas
24.25).
A doutrina da clareza das
Escrituras não implica que todos
os crentes vão concordar
sobre todos os ensinamentos, mas nos
mostra que o problema não está no texto
em si, mas em nós mesmos.
d) O incentivo prático derivado
desta doutrina
A doutrina da clareza das
Escrituras nos diz que nos pontos
em que há desacordo

54

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doutrinário ou ético (batismo, livrearbítrio,
predestinação 9 , governo da igreja) só
pode haver duas causas para essas
discordâncias:
Pode ser •que estamos
afirmando pontos em que as
Escrituras se calam (ex:
métodos de evangelização, estilos de
ensino bíblico, tamanho da igreja, etc);
• Existe a possibilidade de termos
cometido erro na interpretação
das Escrituras. e) O papel dos
estudiosos
Ensinar claramente as Escrituras,
transmitindo o seu conteúdo aos outros

9 Veja as definições de predestinação e livre arbítrio no Anexo 2.

55

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(1Coríntios 12.28; Efésios 4.11), examinar
novos campos de compreensão das
Escrituras, defender os ensinamentos da
Bíblia contra os ataques de outros
estudiosos (2Timóteo 2.25; Tito 1.9; 2.78)
e complementar o estudo da Bíblia em prol
da igreja (ex: ensinar, mostrando o
contexto cultural, histórico e econômico
onde os fatos aconteceram, fazer uso das
línguas originais, etc).
4.4.5. Necessidade
Para que necessitamos da Palavra
de Deus? Qual é a sua função em nossa
vida moral e espiritual? A Bíblia tem
alguma parcela de influência em nosso
relacionamento com Deus? Quais são as
circunstâncias em que a Bíblia não é

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necessária? Este tópico é destinado a
responder estas questões.
a) A Bíblia é necessária
para conhecer o

Evangelho Romanos 10.13-


17. Este texto explica que:
•O homem precisa invocar o
nome do Senhor (Jesus) para ser
salvo (v.13, cf. v. 9);
• As pessoas só podem invocar o
nome de Cristo se crêem Nele
como Salvador;
• As pessoas não podem crer em
Cristo a menos que tenham
ouvido falar Dele;

57

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• Não ouvirão falar de Cristo, a
menos que alguém fale Dele; e
A fé vem pelo ouvir, e esse ouvir

a mensagem do evangelho vem


pela pregação
de Cristo.
Outros textos: João 3.18; 14.6;
1Timóteo 2.5, 6.
A conclusão é que somos salvos pela fé
em Cristo. Podemos nos perguntar:
“Como os
crentes da antiga aliança (crentes antes da
vinda de Cristo) foram salvos?”
A resposta é que os crentes da antiga
aliança também foram salvos pela fé em
Cristo,

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ainda que fosse uma fé de expectativa
baseada na promessa divina que viria o
Messias ou Redentor (João 8.56; Hebreus
11.13, 26) A Palavra de Deus, nos tempos
mais remotos, vinha em forma bastante
breve, mas desde o princípio temos provas
de palavras de Deus que prometiam uma
salvação futura (Gênesis 3.15; 4.3-4, 7;
Hebreus 11.4, 39).
b) A Bíblia é necessária para
sustentar a fé espiritual
Negligenciar a leitura regular da
Palavra de Deus é tão prejudicial
à saúde quanto negligenciar o
alimento físico é prejudicial a
saúde (Mateus 4.4 cf.
Deuteronômio 8.3). Moisés
também enfatiza a

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importância da Palavra de
Deus
(Deuteronômio 32.47). Como verdadeiros
cristãos, devemos desejar o verdadeiro
alimento espiritual (1Pedro 2.2).
c) A Bíblia é necessária para o
conhecimento seguro da
vontade de Deus
Todas as pessoas têm algum
conhecimento da vontade de
Deus por intermédio de sua
consciência. Mas esse conhecimento é
muitas vezes indistinto e não pode
proporcionar certeza. Não podemos
confiar apenas em experiências,
conselhos ou na consciência, pois é
impossível obter a certeza acerca da
vontade de Deus num mundo caído, onde

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o pecado distorce nossa percepção de
certo e errado, introduz raciocínios falhos
e nos faz render-nos ao testemunho da
nossa consciência (Jeremias 17.9;
1Coríntios 8.10; Hebreus 5.12-14;
1Timóteo 4.2).
Na Bíblia, porém, temos
afirmações claras e precisas sobre
a vontade de Deus. Ele
não nos revelou todas as coisas, mas nos
revelou o suficiente para conhecermos a
Sua vontade. Deus não nos revelou o que
queremos saber - Ele revelou o que
precisamos saber (Deuteronômio 29.29;
Salmo 1.12; 119.1; 1João 5.3).
d) A Bíblia não é necessária para
saber que Deus existe

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Mesmo sem a Escritura, é possível
ter algum conhecimento de Deus,
ainda que este
conhecimento não seja absolutamente
seguro.As pessoas podem obter o
conhecimento de que Deus existe e de
alguns de Seus atributos, simplesmente
pela observação de si mesmas e do mundo
que as cerca (Salmo 19.1; Atos 14.16-17).
Mesmo aqueles que, pela impiedade,
suprimem a verdade, não podem evitar as
provas da existência e da natureza de Deus
na ordem criada (Romanos 1.19-21).
Portanto, todas as pessoas que vivem ou já
viveram têm provas da existência de Deus
através da criação.
e) A Bíblia não é necessária para

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conhecer algo sobre o caráter e
sobre as leis
morais de Deus
Até os incrédulos que não têm
nenhum registro escrito das leis de
Deus têm na sua
consciência alguma compreensão das
exigências morais de Deus, portanto,
pode-se afirmar que os ímpios sabem que
a prática do pecado é errada (Romanos
1.32; 2.14-15). O conhecimento das leis de
Deus pelos incrédulos jamais será perfeito,
mas é suficiente para gerar a consciência
das exigências morais de Deus para toda a
humanidade.
É uma grande benção os
incrédulos terem um certo
conhecimento sobre as leis

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morais
de Deus, pois se não as conhecessem, não
haveria restrição social ao mal que os
homens fariam. Por existir determinado
conhecimento comum do certo e do
errado, os cristãos encontram certo
consenso com não cristãos em questões
de lei civil, parâmetros comunitários, ética
essencial para negócios e atividades
profissionais, bem como padrões
aceitáveis de conduta na vida comum.
Entretanto, o que deve ser ressaltado é
que, o caminho só pode ser encontrado
em Jesus, cujo conhecimento depende das
Escrituras, juntamente com a atuação do
Espírito Santo (João 14.6; 16.7-8; Romanos
10.13-14).

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4.4.6. Suficiência
Em nossa mente pode surgir a
pergunta: “_ Será que a Bíblia
pode responder de
maneira convincente às minhas dúvidas ou
preciso buscar outras fontes de
sabedoria?”. Este tópico tem como
objetivo tratar dessa questão.
a) Podemos encontrar tudo o que
Deus disse sobre temas
específicos e também
respostas às nossas perguntas
A suficiência das Escrituras é de
grande importância para nossa
vida cristã, pois nos
permite concentrar a busca das palavras
de Deus somente na Bíblia. Isso significa

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que podemos chegar a conclusões claras
sobre muitos ensinamentos da Palavra.
Embora exija um pouco de esforço, é
possível localizar todas as passagens
bíblicas relevantes para as questões de
casamento e divórcio, ou das
responsabilidades dos pais para com os
filhos, ou do relacionamento entre o
cristão e o governo civil (2Timóteo 3.1517;
1Pedro 1.23).
b) O volume de Escrituras dado
foi suficiente em cada estágio da
história da
redenção
O homem não pode acrescentar
por conta própria nenhuma
palavra àquela que Deus

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revelou. Diante disso, entendemos que
Deus não falou a humanidade outras
palavras que Ele exige que creiamos ou
observemos além daquelas que temos
hoje na Bíblia.
Deus sempre tomou a iniciativa de
nos revelar a Sua palavra. Ele é
quem decidiu o
que revelar e o que não revelar. Em cada
estágio da história da redenção, as
palavras que Deus revelara antes eram
para o Seu povo daquela época e eles
deveriam estudar, crer e obedecer a
Palavra.
No tempo de Moisés, os primeiros
cinco livros do nosso A.T. eram
suficientes para o

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povo de Deus da época. Mas Deus ordenou
que autores posteriores acrescentassem
novos ensinos, para que as Escrituras
fossem também suficientes para os
crentes de épocas posteriores. Para os
cristãos de hoje o A.T. e o N.T. são
suficientes.
Isso significa que podemos citar
textos bíblicos de qualquer ponto
da Bíblia para
demonstrar que o princípio da revelação
de Deus para o seu povo em cada época
específica permaneceu o mesmo
(Deuteronômio 4.2; 12.32; Provérbios
30.5-6; Gálatas 1.8).
c) Aplicações práticas
Portanto, conclui-se que a
suficiência da Escrituras:

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Deve nos incentivar a •

tentar descobrir aquilo que Deus


quer que pensemos e
façamos. Devemos nos convencer de que
tudo o que Deus quer nos dizer sobre esta
questão se encontra nas Escrituras
(Deuteronômio 29.29; 2Timóteo 3.17);
Nos lembra de que não •

devemos acrescentar nada a


Bíblia nem equiparar algum outro
escrito a ela (Gálatas 1.8);
Nos diz que Deus não

exige que creiamos em nada


sobre si mesmo ou sobre Sua
obra redentora que não esteja na
Bíblia (Provérbios 30.5-6);

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Nos mostra que

nenhuma “revelação moderna”


de Deus deve ser equiparada a
Bíblia no que diz respeito a
autoridade;
Com respeito à vida

cristã, ela nos lembra que não


existe pecado que não seja
proibido pelas Escrituras, quer
explícita quer implicitamente. A
menos que se possa provar algum
ensino específico ou algum ensino
geral que proíba algo, não
devemos tentar acrescentar
proibições além daquelas
expostas na Escritura. Lembremos
de que existem inúmeras
variantes do pecado, e o que vai

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ser julgado é a atitude. Ex:
Alguém pode perguntar: “_ Se a
Bíblia contêm respostas
suficientes para o ser humano,
como não encontro nada sobre
nenhuma proibição quanto ao uso
do computador, ou a assistir
filmes eróticos?”. A resposta é
que a Escritura não é um
almanaque ou enciclopédia. Ela
possui valores que vão direcionar
a vida do cristão. O uso do
computador em si não é pecado,
entretanto, quando usamos em
excesso a ponto de impedir o
momento devocional e a
comunhão com Deus, torna-se
pecado, pois colocamos o objeto
como prioridade em nossa vida

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(Tiago 4.1-5). Quanto a filmes
pornográficos, existem proibições
contra a sensualidade e o pensar
naquilo que não edifica (Gálatas
5.19-21; Filipenses 4.8).
4.4.7. O cânon
Terminologia – do grego καμξμ
(“kanon”), que significa regra, medida e
do hebraico qaneh, que significa junco,
vara de medir. Esta palavra também é
usada com o significando a lista de livros
inspirados que compõem a Bíblia (66
livros). Estes foram escritos entre 1400 e
400 a.C. (A.T.) e entre 50 e 90 d.C. (N.T.).
Uso bíblico: Gálatas 6.16 (cf.
2Coríntios 10.13, 15, 16).
Critérios de Canonicidade

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Para se verificar a inspiração dos
escritos antigos se adotavam
certos critérios. Esses
critérios podem ser resumidos pelas
seguintes perguntas:
O livro é autorizado?

Afirma vir da parte de Deus?


(Deuteronômio 6.6-9; João 21.24;
1Timóteo 1.15; 2Pedro 1.19-21).
É profético? Foi escrito

por um servo de Deus


reconhecido?
É digno de confiança?

Trás informações corretas?


É dinâmico? Provoca

transformação na vida dos

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leitores? (Hebreus 4.12; 2Timóteo
3.16-17).
É aceito pelo povo de •

Deus? È reconhecido como vindo


de Deus?
(1Tessalonicenses 2.13).
Então, é mais correto falar que a
inspiração dos livros não foi
determinada pela igreja primitiva,
mas que foi Deus quem
inspirou os livros no ato do seu registro. É
melhor dizer que a Bíblia é auto-
autenticada e que a igreja reconheceu a
inspiração dos livros. Fases: Inspiração
Reconhecimento Coleção/preservação.
Cânon do Antigo Testamento

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39 livros escritos entre 1400 e 400
a.C.
Jesus e os apóstolos

presumem a unidade do Antigo


Testamento (Mateus 23.35; Lucas
11.51). Gênesis é o primeiro e
Crônicas é o último livro da Bíblia
hebraica.
• Ben-Siraque definiu
em 132 d.C.: “Lei, Profetas,
Escritos”.
Josefo afirmou que a

profecia cessou em Artaxerxes


(465-430). Esdras, Neemias,
Malaquias.

75

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O Sínodo de Jâmnia (90 •

d.C.) 10 : A decisão de Jâmnia


finalizou o processo de
canonização do Antigo Testamento, mas
demorou na aceitação por outros judeus.
Melito de Sardes (170 d.C.) e Jerônimo
(400 d.C.), os dois na Palestina,
confirmaram este cânon de 39 livros. O
cânon do Novo Testamento 27 livros entre
50 e 90 d.C.
a) O fim do cânon
neotestamentário.
A autoria apostólica (por escrever,
ditar ou sancionar) limita o cânon
à vida dos

10 O Sínodo de Jamnia era uma escola de rabinos que decidia a canonicidade.

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apóstolos (João 14.26; 16.13), pois a
posição do apóstolo foi limitada aos que
tinham visto a Cristo e foram
comissionados por Ele. A igreja primitiva
discerniu que a autoria canônica era
restrita. Existem diversas indicações
bíblicas com respeito ao término do Cânon
(Efésios 2.20; 2Timóteo 1.13; 3.1; Tito 1.9-
11; Hebreus 2.3, 4; 2Pedro 2.1-3; 1João
2.18-24; Judas 3, 4; Apocalipse 22.18-19).
b) História do Cânon: um processo
Policarpo (110-150):

exceto 2Timóteo, Tito, Filemom,


Hebreus, Tiago, 2Pedro, 3Jpão,
Judas e Apocalipse;
Irineu (130-202): todos os

livros, com exceção de Filemom,


Tiago, 2Pedro e

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3João;
O Cânon de Muratório •

(170): exceto Hebreus, Tiago, 1 e


2Pedro;
Tertuliano (150-220): •

exceto Filemom, Tiago, 2Pedro, 2 e


3João;
Cânon de Borocóccio •

(206): exceto Apocalipse;


• Cânon de Atanásio (367):
Todos;
• Concílio de Hipona (393):
Todos;
• Concílios de Cartago
(397419): Todos.
Categoria de livros

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Categorias históricas: Eusébio,
bispo de Cesaréia (280-340 d.C.).
Homologoumena – os
a.

livros aceitos por todos (A.T. – 34


dos 39; N.T.- 22 dos 27).
Antilegomena
b. - os
livros discutidos por alguns:
• Antigo Testamento – Cantares,
Eclesiastes, Ester, Ezequiel e
Provérbios.
• Novo Testamento – Tiago,
2Pedro, 2 e 3João e Judas. c.
Pseudepigrafes 11 - Livros
rejeitados por todos.

11 Pseudepígrafes – Ver anexo 2.

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• Antigo Testamento – Enoque,
Assunção de Moisés, etc (18
livros).

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Novo Testamento – Atos de


Paulo, O Pastor de Hermas, A
Epístola de Barnabé, O Didaquê.
d. Apócrifos – “Difícil de
entender, escondido”. Chamado pelos
católicos de Deuterocanônicos (segundo
cânon), em contraste com o nosso A.T.
que é por eles aceito e chamado de
Protocanônico (primeiro cânon).
No Oxford Annotated •

Apocrypha, há 15 livros, mas somente 12


destes foram
aceitos no Concílio de Trento (1546)12. São
eles:
Tobias, Judite, Sabedoria,
Eclesiástico, Baruque, Epístola de

12 Concílio de Trento – Ver anexo 2.

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Jeremias, 1 e 2 Macabeus, e os
acréscimos à Ester (em grego)13, Cântico
de Azarias, Cântico dos três jovens, e as
histórias de “Suzana” e “Bel e o Dragão”.
Por que rejeitamos estes livros?
• Alguns têm idéias contra o
ensino bíblico. Ex: Tobias fala
sobre salvação pelas
obras: “Dá esmola dos teus bens, e não te
desvies de nenhum pobre, pois assim
fazendo, Deus tampouco se desviará de ti”
(Tobias 4.7); “...porque a esmola livra da
morte: ela apaga os pecados e faz
encontrar a misericórdia e a vida eterna;”
(Tobias 12.9).

13 O Antigo Testamento é escrito em hebraico, com pequenas porções de aramaico.

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• Alguns têm histórias fantasiosas


e irreais. Ex: Bel e o Dragão.
Outros têm ensinos com erros

ou até imorais. Ex: Judite 9.1013.


Os apócrifos foram rejeitados
pelos judeus e por muitos líderes da
igreja primitiva: Filo, Josefo, Jâmnia,
Jesus Cristo, os apóstolos, os pais da
igreja incluindo Atanásio e Jerônimo
(tradutor da Vulgata14).

14 Vulgata – Ver anexo 2.

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5. COMO SE DEVE INTERPRETAR OS
TEXTOS BÍBLICOS?
1. Histórico gramaticalmente (no
sentido normal);
2. de acordo com todo o contexto
imediato;
3. em harmonia com toda a Bíblia:
• A Escritura interpreta-se a si
mesma;
Uma só declaração não pode

derrubar
uma doutrina clara em muitas passagens;
Textos obscuros devem ser

interpretados
à luz dos textos mais claros;
Trechos

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doutrinários
têm mais peso
do que
textos acessórios e
históricos;
• Devemos aceitar até mesmo
duas doutrinas (ensinos) claras
que pareçam contraditórias,
crendo que a solução reside em
Deus;

ANEXO 1 QUESTÕES PRÁTICAS


SOBRE DIFICULDADES BÍBLICAS
1. Por que a inscrição na cruz é
apresentada de forma diferente nos
evangelhos (Mateus 27.37; Marcos
15.26; Lucas 23.38; João 19.19)? A
inscrição foi feita em três línguas

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diferentes, a saber, o hebraico, latim e
grego. As diferenças podem ter se
originado por causa das diferentes
traduções
3. Quantos cegos Jesus curou naquela
ocasião? Mateus 20.30 (2); Marcos
10.46 (1); Lucas 18.35 (1).
É provável que, pelo fato de um deles
tomar a palavra e se destacar, Marcos e
Lucas não mencionam o outro, ou pelo
fato de Marcos e Lucas conhecerem
Batimeu.

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4. Jesus foi levado perante Anás (João
18.13) ou Caifás (Mateus 26.57)?
Anás fora deposto do sumo sacerdócio
pelos romanos em 15 d.C., mas
provavelmente era ainda considerado por
muitos o verdadeiro sumo sacerdote.
Segundo a lei judaica, ninguém podia ser
condenado no mesmo dia em que fosse
julgado diante do tribunal. Foram feitos
dois interrogatórios- o mencionado por
João feito por Anás e o mencionado por
Mateus, feito por Caifás. Podem ter sido
realizados a fim de dar alguma forma de
legitimidade aos procedimentos, além de
ganhar tempo, pois o primeiro
interrogatório aconteceu de madrugada,
algo ilegal segundo a lei judaica da época.

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Nota-se, que logo depois Jesus foi enviado
a Caifás (João 18.24).

5. Jesus, Seus discípulos e a multidão


estavam saindo de Jericó (Mateus
20.29) , chegando em Jericó (Marcos
10.46) ou ao aproximarem-se de Jericó
(Lucas 18.35)?
Jericó é uma cidade localizada a uns 8 Km
a oeste do Jordão e uns 24 Km a nordeste
de Jerusalém. Nos tempos de Jesus, a
Jericó do AT estava quase inteiramente
abandonada, mas uma cidade nova, ao sul
da antiga, fora edificada por Herodes, o
Grande. Portanto, Lucas referia-se à nova
Jericó, ao passo que Mateus e Marcos
referiam-se à antiga.

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7. As mulheres que foram ao sepulcro
onde Jesus fora colocado, encontram um
anjo (Mateus 28.5), um jovem (Marcos
16.5) ou dois anjos (Lucas 24.4)?
Encontraram dois anjos, visto que outra
passagem confirma este acontecimento
(João 20.12). Embora Mateus e Marcos
relatem a existência de apenas uma
personagem, isso não é estranho, porque
muitas vezes há referência apenas a quem
falou, sem menção da outra personagem.
ANEXO 2 – TIRE SUAS DÚVIDAS
Barthianismo – sistema teológico
ensinado por Karl Barth (1886-1968).
Enfatiza que Deus se revela
soberanamente através da Palavra, cujo
ponto máximo é Cristo. Para Barth, a
Bíblia é um instrumento falível que aponta

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para Cristo. Para os barthianos, as partes
da Bíblia que se referem a Cristo são mais
valorosas que outras passagens que não
fazem referência explícita a
Jesus.
Concílio de Trento (1546) – foi a resposta
da Igreja Católica Romana aos ensinos de
Martinho Lutero e da Reforma
Protestante que se espalhavam
rapidamente. Os livros apócrifos contêm
apoio para o ensino católico de oração
pelos mortos e de justificação pela fé com
obras, não pela fé somente. Ao declarar
que os apócrifos são parte do cânon, os
católicos romanos estariam alegando que
a igreja tem autoridade para designar uma
obra literária como “Escritura”, enquanto
os crentes têm sustentado que a igreja

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não pode fazer isso, mas apenas
reconhecer o que Deus já determinou que
fosse escrito como palavra Dele próprio.
Exegese – (do grego ενεξμαι
(“exegeomai”), explicar, interpretar,
contar, narrar, descrever. ΕΞΕΓΕΣΙΣ
(“Exegesis”) – narrativa, descrição,
explicação, interpretação). A exegese é a
aplicação interpretativa. Um exegeta é a
pessoa que assim explica. A tarefa da
exegese é explicar o significado de um
texto conforme o autor queria que fosse
compreendido, por isso, envolve a análise
das línguas originais.
Fundamentalismo – Um movimento que
surgiu nos Estados Unidos durante a
Primeira Guerra Mundial a fim de
reafirmar o cristianismo protestante

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ortodoxo e defendê-lo contra os desafios
da teologia liberal, do darwinismo e de
outros pensamentos considerados
danosos para cristianismo o
norteamericano. Até o tempo presente, o
fundamentalismo já passou por várias
fases, e o termo em alguns aspectos tem
conotação negativa pela postura radical e
as vezes tradicionalista de alguns adeptos.
Hermenêutica – (do grego ερμενευο
(“hermeneuo”), ερμενεια (“hermeneia”) –
é o estudo de princípios de interpretação
bíblica e a aplicação destes princípios no
estudo bíblico. Os termos acima citados
estão relacionados a Hermes – o deus
mensageiro de pés alados da mitologia
grega. Cabia a ele transformar o que
estava além do entendimento humano
em algo que a inteligência humana

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pudesse assimilar. Afirma-se que foi ele
quem descobriu a linguagem verbal e a
escrita, tendo sido o deus da literatura e
da eloqüência, dentre outras coisas. Ele
era o mensageiro ou intérprete dos
deuses e principalmente do pai, Zeus.
Assim, o verbo “hermeneuo” passou a
significar o ato de levar alguém a
compreender algo em seu próprio idioma
(logo, “explicar”) ou em outra língua (logo,
“traduzir”). Liberalismo – também
conhecido como modernismo, ele é a
grande mudança no pensamento
teológico, ocorrida no fim do século XIX. A
característica principal é o desejo de
adaptar as idéias religiosas a cultura e
formas de pensar modernas. Os liberais
insistem em que o mundo se alterou
desde os tempos em que o cristianismo foi

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fundado, de modo que as terminologias
da Bíblia e das crenças são
incompreensíveis às pessoas hoje. Um
segundo elemento do liberalismo é sua
rejeição da crença religiosa baseada
exclusivamente na autoridade. Todas as
crenças devem passar pela prova da razão
e da experiência, e nossa mente deve
permanecer aberta diante de novos fatos
e verdades, independentemente de sua
origem. Visto que a Bíblia é obra de
escritores limitados por seus tempos, ela
não é sobrenatural nem um registro
infalível da revelação divina e, portanto,
não possui autoridade absoluta.
Livre-arbítrio – Doutrina que afirma que o
ser humano tem liberdade para agir
conforme a sua própria vontade;

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autodeterminação. O homem decide crer
em Cristo e ser salvo.
Manuscritos de Constantino –
Constantino aceitou o cristianismo e fez
deste a religião da sua corte e do seu
império. Tinha por seu principal
conselheiro religioso Eusébio (264-340
d.C.). Um dos primeiros atos de
Constantino, ao ascender ao trono, foi
mandar preparar, sob a direção de
Eusébio e a cargo de hábeis copistas,
cinqüenta Bíblias para as igrejas de
Constantinopla, no mais delicado velo,
para serem trazidas em carruagens reais
de Cesaréia àquela cidade. Escreveu ele
em sua ordem a Eusébio:

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“Tenho pensado na conveniência de
instruir vossa prudência no sentido de
serem
encomendadas cinqüenta cópias das
Sagradas Escrituras, a provisão e o uso das
quais, como sabe, são muitíssimo
necessários à instrução da igreja. Deverão
ser feitas em pergaminho especial, de
modo legível e de uma forma cômoda e
portátil, por copistas bem práticos em sua
arte...”.
Predestinação – doutrina que afirma
haver um planejamento pré-temporal de
Deus do destino de Seus filhos, os eleitos,
ou seja, Deus escolheu antes da fundação
do mundo os que são salvos.
Pseudepígrafes – do grego ψευδξς
(“pseudo”) que significa falso e γοαφη

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(“grafe”) que significa escrito, Escritura.
Eram autores anônimos que colocavam
nomes de pessoas famosas na época,
buscando credibilidade para suas obras
literárias.
Racionalismo – afirma que a razão
humana por si só é suficiente para
resolver todos os problemas que dizem
respeito à natureza e ao destino do
homem. Foi impulsionado na área
religiosa por homens como Immanuel
Kant. Kant afirmava que é impossível à
mente humana absorver verdades
espirituais. Sua conclusão é que a Bíblia
não era revelação divina, mas um livro de
ética idealizado pelo próprio homem.
Vulgata – do latim “vulgare”, que significa
“fazer conhecido”, “publicar”. O nome da

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versão latina da Bíblia preparada por
Jerônimo a pedido do Papa Damasco (382
d.C.). No Concílio de Trento recebeu
autoridade canônica na Igreja Católica
Romana.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ERICKSON, Millard J.. Introdução à
teologia sistemática. São Paulo: Vida
Nova, 1997.
FERREIRA, João Marcos Cruz. Apostila de
Bibliologia. Primeira Igreja Batista de
Amparo, 2005.
GRUDEM, Wayne A.. Teologia
Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
HALLEY, Henry H.. Manual Bíblico – Um
Comentário Abreviado da Bíblia, 2ª ed..
São Paulo: Vida Nova, 1971.
HORREL, J. Scott. Apostila de Teologia
Sistemática, 3ª ed.. São Paulo: 1989.
(material não-publicado)

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JUSTINO, Rodrigo dos Santos. Apostila de
Hermenêutica. Atibaia-SP. Seminário
Bíblico Palavra da Vida, 2003.
RYRIE, Charles Caldwel. Teologia Básica –
Ao alcance de todos. São Paulo: Mundo
Cristão, 2004.
SILVA, Marcelo. Apostila de Teologia
Sistemática 1. Atibaia-SP: Seminário
Bíblico Palavra da Vida, 2003.

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