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SÃO PAULO
A Foram examinadas as cavidades orais de 42 animais (N=42), dos quais 19 eram jovens (45%), 23 eram adultos
(55%), 18 eram machos (43%) e 24 eram fêmeas (57%), oriundos de seis instituições no Estado de São Paulo.
Dentre os animais avaliados, 57% (24) apresentaram gengivite, 52% (22) apresentaram cálculo dental, 48% (20)
apresentaram ausência dental, 26% (11) apresentaram fratura dental, 14% (6) apresentaram retração gengival,
14% (6) apresentaram exposição de polpa, 7% (3) apresentaram desgaste dental, 2% (1) apresentaram bolsa
periodontal, 2% (1) apresentaram hiperplasia gengival, 2% (1) apresentaram dentes supra-numerários, 2% (1)
apresentaram giro-versão, 2% (1) apresentaram apinhamento dental, 2% (1) apresentaram maloclusão e 2% (1)
apresentaram fístula infra-orbital. O presente trabalho pôde evidenciar o alto índice de prevalência de lesões
orais em macacos-prego mantidos em cativeiro no estado de São Paulo, onde 57% dos animais apresentavam
algum tipo de lesão. Dentre as lesões, aquelas relacionadas à doença periodontal (57%) e as fraturas dentais
(26%) mostraram-se mais prevalentes. Além disso, pôde-se evidenciar que a profundidade do sulco gengival
variou entre 0,5 e 1,0 mm.
ABSTRACT
The oral cavity of 42 animals (N=42) were examined, of which 19 were young (45%), 23 were adult (55%), 18
were male (43%) and 24 were female (57%), origineted from six institutions of the State of São Paulo, Brazil.
Among the examined animals, 57% (24) presented gingivitis, 52% (22) presented dental calculus, 48% (20)
presented dental abscence, 26% (11) presented dental fracture, 14% (6) presented gingival retraction, 14% (6)
presented pulp exposure, 7% (3) presented dental wear, 2% (1) presented periodontal pocket, 2% (1) presented
gingival hiperplasia, 2% (1) presented super-numerary teeth, 2% (1) presented teeth version, 2% (1) presented
dental crowding, 2% (1) they presented maloclusion and 2% (1) they presented infra-orbital fistula. The present
work could evidence the high prevalence of oral lesions in capuchin monkey maintained in captivity in the state
of São Paulo, where 57% of the animals presented some type lesion. Among the lesions, those related to the
periodontal disease (57%) and the dental fractures (26%) were more prevalent. Besides, it could be evidenced
that the depth of the gengival sulcus varied between 0,5 and 1,0 mm.
............................................................................................................................... 4
Figura 7: Secção horizontal de dente jovem, demonstrando a formação da cavidade pulpar com seus vasos,
Figura 11: Anatomia do órgão dental humano, demonstrando dente e periodonto ........... 16
Figura 12: Elemento dental (canino) de Macaco-prego (Cebus apella), com visualização da porção
Figura 13: Micrografia eletrônica de cortes transversais de prismas de esmalte humano maduro
................................................................................................................................ 18
Figura 15: Sistema endodôntico demonstrando a disposição dos odontoblastos, os túbulos dentinários e o
Figura 16: Histologia do periodonto de um incisivo central superior humano, demonstrando camada de
cemento conectado ao osso alveolar adjacente por um fino ligamento periodontal e a gengiva protegendo o
osso ....................................................... 23
Figura 18: Anodontia de pré-molares e molares por provável osteodistrofia fibrosa em Macaco-aranha-de-
(Ateles belzebuth marginatus), onde se notam: gengiva eritematosa, edemaciada e retração gengival nos
caninos .................................................
Figura 22: Cárie dental em incisivos superiores de Gorila (Gorilla gorilla), evidenciada radiograficamente
.............................................................................................................. 33
Figura 23: Ausência de incisivo lateral inferior direito em Macacos-prego (Cebus apella) 42
...............................................................................................................................
Figura 24: Doença periodontal generalizada, onde se notam: gengiva eritematosa e edemaciada,
além de retração gengival e acúmulo de cálculo dental nos dentes caninos de Macaco-prego
Figura 26: Fratura dental com exposição de polpa em dente canino, evidenciada com auxílio de explorador
Figura 27: Fístula infra-orbital decorrente de lesão endodôntica de canino superior esquerdo (203), com
Figura 28: Retração gengival de 4 mm em dente canino inferior esquerdo evidenciada com auxílio da
sonda periodontal milimetrada. Notar também severa retração gengival em dente canino inferior direito e
Figura 29: Vestibularização dos dentes incisivos superiores, caracterizando maloclusão. Notar a
Figura 30: “Ausência” de incisivo central superior direito em Macaco-prego (Cebus apella), porém
........................................................................................................... 49
Figura 31: Radiografia intra-oral evidenciando dentes caninos não erupcionados em Macaco-prego (Cebus
apella) ..................................................................................... 50
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Distribuição percentual dos animais avaliados segundo sexo e faixa etária ..... 34
LISTA DE TABELAS
cosmopolita, enquanto que os demais se distribuem em função do meio ambiente que lhes
O Brasil figura como o país onde existe a maior diversidade de fauna e flora do
(AURICCHIO, 1995).
Doenças orais que afetam animais em cativeiro são resultado de um ou mais fatores:
no estado de São Paulo forneceram dados essenciais para a conservação ex situ da espécie,
destes animais.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Egito descobriu-se o documento mais antigo sobre este tema, que data do ano 1550 a.C. e se
escritos numerosos remédios para abscessos bucais, gengivites e implantes a base de cominho
antigo chinês, em 600a.C., na qual "conhecia-se" a idade dos cavalos graças ao estudo da
coroa de seus dentes incisivos. Mas a importância que tinha o estudo da arcada dental eqüina,
durante essa época, demonstra-se em um dos mais antigos livros chineses ainda conservados,
o Zuo Zhuan ou “Livro dos Animais”. Neste se explica como cada cavalo se diferencia, a
partir de sua arcada dental, realçando a importância da identificação equina por este método
(PEYER, 1968).
grande médico da arte dental. No Indicus é citada a extração dos dentes caninos e a
amputação parcial da língua para uma melhor adaptação à mordida nos eqüinos (SAN
Pelagonius, 350 a.C., reuniu um catálogo de notas e cartas sobre o tratamento médico
cavalo como um sintoma e não como uma síndrome, advertindo que, se a condição não
dentes. Trepanava-se a face lingual da coroa dental e penetrava-se na câmara pulpar. Nessa
época, a obturação era realizada com uma cera a base de um pó de excremento de rato e
capítulos de grande extensão ao estudo das enfermidades da boca e dentes, do mesmo modo
que A. Redondo fez em seu Obras de Albeyteria, publicado em 1677, e no entitulado Arte de
Albeyteria, além de outro autor chamado Conde, em 1707, com sua obra De Albeyteria
(PEYER, 1968).
(França), no ano de 1762, graças a Claude Bourgelat (1712 – 1779). Iniciava-se a Veterinária
com base científica para o conhecimento racional das enfermidades. Edward Mayhew publica
em 1862 O Ilustrado Doutor de Cavalos, no qual descreve, já de uma maneira mais profunda
No início do século XIX ocorrem alguns fatos notórios que contribuem para a
importância das enfermidades dentais. Um deles é o auge dos zoológicos e todo interesse que
produz os aspectos relacionados a eles, sendo um dos casos mais publicados pelos jornais da
época o de um elefante chamado Chunie, do Change Strand (Londres), que foi eutanasiado
em 1826 por sua agressividade, fruto de uma “presa” fraturada e infeccionada (SAN
tratamento das doenças dentais dos animais de companhia (SAN ROMAN, 1999).
Figura 2: Capa da revista Lê Pêle-Mêle, publicada na França em 1913.
Fonte: SAN ROMAN (1999).
último capaz de outorgar o título de especialista em Odontologia Veterinária, após uma série
As modificações sofridas pelos dentes desde o início de sua formação até sua erupção
e oclusão nos arcos dentais (figura 3), estão intimamente relacionadas à formação e
circunda este órgão, chamado saco dental, originará o cemento e o ligamento periodontal
lâmina dental (WIGGS e LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977; SICHER,
1966), a partir da qual formam-se os órgãos do esmalte (HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977;
SICHER, 1966). Cada órgão do esmalte passa por três estágios distintos durante sua evolução:
1985; DELLA SERRA, 1976; SICHER, 1966). A ele é atribuída grande importância na
morfogênese da coroa e da raiz, bem como a histogênese do esmalte (DELLA SERRA, 1976).
SICHER, 1966)
esmalte corresponde à área central do disco adamantino (DELLA SERRA, 1976; SICHER,
1966).
campanuliforme devido à multiplicação ativa das células de sua borda livre. O pedículo que
mantém o órgão do esmalte vai sendo perfurado pelo mesênquima circunjacente, que acaba
por liberar o órgão da lâmina dental que lhe deu origem (DELLA SERRA, 1976; SICHER,
1966).
a papila dental e o saco dental (WIGGS e LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE,
Constituído por uma camada de células planas (epitélio externo), uma camada de
células cilíndricas (epitélio interno) e uma zona intermediária, cujas células poliédricas se
(SICHER, 1966).
SICHER, 1966).
Formado pelo tecido mesenquimático que envolve o órgão do esmalte. O saco dental
A partir deste ponto, inicia-se a diferenciação final das estruturas que compõem o
órgão dental.
2.2.7 Dentinogênese
dental. A matriz dentinária é secretada e, depois, impregnada pela deposição de sais de cálcio,
tecido remanescente forma os vasos, nervos e tecido conjuntivo que compões a polpa
esmalte. Na formação da matriz orgânica, os prismas de esmalte são formados por secreções
A formação da coroa ocorre antes da formação da raiz. (HARVEY, 1985; SICHER, 1966).
A conformação da raiz ocorre após ter sido formada a coroa. A deposição de dentina
LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977; SICHER, 1966). Spencer (2003)
aponta uma relação entre a superfície radicular e o tipo de alimentação, na qual os primatas
com itens alimentares mais duros em sua dieta, teriam maior superfície radicular,
nervos com ramificação dispersa são circundados por dentina, formando-se os ductos de um
delta apical, e não a formação de um único forame (DELLA SERRA, 1976; SICHER, 1966).
Figura 9: Etapa de cementogênese durante o desenvolvimento dental.
Fonte: BHASKAR (1978).
humana e comparada, sobre a qual estão baseadas outras ciências de não menor mérito
animais, os primatas são classificados como: Heterodontes (do grego heteros = diferente),
animais cujos dentes possuem morfologia diversa, de acordo com seu aspecto, função e
Bunodontes (bunos = colina, altura), dentes cuja superfície mastigatória é formada por
crescimento limitado (WIGGS; LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; DELLA SERRA, 1976;
PEYER, 1968). Isso permitiu grande avanço evolutivo, já que, não sendo especializada, sua
1− 2 0 −1 1− 3 2−3
2x ( ) (AURICCHIO, 1995), sendo a dos macacos-prego (Cebus
1− 3 0 −1 0 − 3 2−3
2 1 3 3
apella): 2x ( ) (WIGGS; LOBPRISE, 1997).
2 1 3 3
Na concepção atual, o dente deve ser considerado como parte de um órgão muito
importante e complexo - o órgão dental - constituído pelo elemento dental (dente) e pelo
periodonto (WIGGS; LOBPRISE, 1997; HARVEY, 1985; PICOSSE, 1977; DELLA SERRA,
{ Esmalte
{ Dente { Dentina
{ { Polpa
Órgão dental {
{ { Cemento
{ Osso alveolar
{ Gengiva
2.3.1 Dente
ossos próprios (ossos alveolares), anexados à maxila e à mandíbula; dispostos em duas fileiras
esmagar, moer e/ou triturar os alimentos (WEST-HYDE; FLOYD, 1997; DELLA SERRA,
(HARVEY, 1993; PEYER, 1968). Nesta última, parece haver correlação entre a assimetria
dos dentes caninos e a seleção do parceiro sexual, por parte das fêmeas de 21 espécies de
2.3.1.1 Esmalte
das estruturas do organismo (WIGGS; LOBPRISE, 1997). Composto por 96% de sais
1977).
2.3.1.2 Dentina
trajeto paralelo entre si. Além disso, possuem uma matriz calcificada onde, no interior dos
Três tipos de dentina estão presentes durante a vida do animal: dentina primária,
presente nos dentes decíduos; dentina secundária, formada ao longo da vida do animal; e a
("absorve choques"); possui resposta protetora da dor, via movimentação de fluido nos
2.3.1.3 Polpa
A polpa é dividida em duas partes: polpa coronária, que reproduz a forma exterior da
coroa e a polpa radicular, que preenche o canal radicular e se comunica com os tecidos
periapicais ao nível do forame apical. É através deste orifício que penetram e saem os
elementos vasculares, nervosos e o tecido conjuntivo. O forame apical permite a relação entre
gatos, o forame apical não é único, possuindo inúmeras foraminas que conferem uma
apella) a morfologia da comunicação entre a polpa radicular e os tecidos periapicais ainda não
foi descrita, porém acredita-se que seja um forame apical único, como na maioria dos
primatas.
A cavidade pulpar, inicialmente ampla no dente jovem, vai diminuindo de volume pela
produção de novas camadas de dentina. A polpa, pela diminuição de seus elementos figurados
e acúmulo de fibras colágenas, torna-se cada vez mais reduzida (DELLA SERRA, 1976).
e terciária; pela resposta de dor nervosa à irritação do dente (teoria hidrodinâmica somada à
estimulação dos nervos sensitivos não mielinizados); além de manter a nutrição e oxigenação
2.3.2 Periodonto
tecido mole (gengiva e ligamento periodontal) e tecido duro (osso alveolar e cemento), todos
FLOYD, 1997).
Figura 16: Histologia do periodonto de um incisivo central superior humano, demonstrando
camada de cemento (CE) conectado ao osso alveolar adjacente (AB) por um fino ligamento
periodontal (PDL) e a gengiva (G) protegendo o osso.
Fonte: http://www.fosjc.unesp.br/periodontia.
2.3.2.1 Cemento
O cemento é uma camada osteóide que reveste a porção radicular da dentina, desde o
colo dental até o ápice radicular (WIGGS; LOBPRISE, 1997; PICOSSE, 1977), mantendo
e reveste toda porção radicular da dentina, exceto o ápice radicular; e o cemento celular,
formado por cementócitos (semelhantes aos osteócitos) e reveste o ápice radicular (PICOSSE,
São feixes de fibras colágenas que abarcam o espaço entre o osso alveolar e o cemento
ligamento periodontal dos demais tecidos conjuntivos fibrosos é sua arquitetura particular,
pois as fibras colágenas são mais numerosas e agrupam-se em feixes que se dispõem da raiz
ao alvéolo, obedecendo às forças de pressão e tração que se exercem sobre a peça dental
(PICOSSE, 1977). Tais feixes são divididos em: feixe gengival, partem do colo dental e
irradiam-se para a derma gengival; feixe transeptal, irradiam-se sobre o septo alveolar em
direção ao colo dental vizinho; e feixe da crista alveolar, fixam-se na parte mais alta dos
cargas transmitidas pelo dente durante o ato da mastigação, transforma as forças de pressão
exercidas sobre a coroa do dente em forças de tração sobre o cemento e a parede alveolar,
sustenta o dente em seu alvéolo); função biológica (confere higidez ao elemento dental);
função formadora (estimula a formação dos cementoblastos e osteoblastos); e função sensitiva
O osso alveolar é o osso subjacente ao dente, que abriga suas raízes e desenvolve
Basicamente, o osso alveolar é formado por: osso alveolar da cavidade, com a lamina
dura radiograficamente diferenciada; osso cortical ou compacto, que forma a parede externa
do processo alveolar; e osso trabecular inter-radicular, localizado entre as raízes dentais (entre
É o termo aplicado aos tecidos epiteliais e conjuntivos que cicurdam e aderem-se aos
(JAC); epitélio juncional, extendendo-se desde a margem gengival até a linha mucogengival;
forças de atrito e pressão, durante o ato mastigatório, sobretudo quando os alimentos possuem
certo grau de dureza. Por isso, esta parte da mucosa bucal diferencia-se do restante
(PICOSSE, 1977). Ademais, a gengiva é fundamental para a vitalidade dentária ou, ao menos,
para a manutenção dos dentes nas arcadas alveolares (PICOSSE, 1977; DELLA SERRA,
1976).
(AMAND; TINKELMAN, 1985), servindo como modelo aos estudos que envolvem
cáries (PACHALY; GIOSO, 2001). Entretanto, novas lesões têm sido recentemente
2.4.2 Herpesvirose
quadros em saguis e macacos da noite; e a transmissão ocorre pelo contato com humanos
conjuntivite e doença respiratória, podendo evoluir para quadros neurológicos e óbito em dois
a cinco dias. A prevenção é de extrema importância e deve ser feita com o isolamento de
transmissão ocorre principalmente por portadores sadios de macaco aranha (Ateles sp) e mico
Figura 19: Lesões herpéticas em língua e mucosa oral de Sagüi (Callithrix sp).
Fonte: DINIZ (1997).
"corte" intencional dos dentes caninos (iatrogenia) (PACHALY; GIOSO, 2001; PACHALY,
1997; ROBINSON, 1979). A infecção bacteriana instalada na polpa exposta gera abscesso
dento-alveolar, podendo originar fístula sinusal malar (arcada superior) ou fístula mandibular
(arcada inferior) (PACHALY; GIOSO, 2001; PACHALY, 1997; ROBINSON, 1979); além
Figura 20: Exposição pulpar traumática em dente canino evidenciada com auxílio de
explorador clínico em Macaco-prego (Cebus apella).
Fonte: arquivo pessoal (2005).
2.4.4 Doença Periodontal
A diferença entre a dieta oferecida em cativeiro e aquela que o animal tinha acesso em
cárie e esta é muito mais encontrada em animais cativos do que em animais de vida livre
1985; ROBINSON, 1979). Diversos fatores contribuem para a instalação da cárie, como as
cárie, com materiais do tipo amálgama de prata ou resinas compostas. Em casos mais
(ROBINSON, 1979).
Figura 22: Cárie dental em incisivos superiores (seta) de Gorila (Gorilla gorilla), evidenciada
radiograficamente (foto menor).
Fonte: Foto gentilmente cedida por João Luiz Rossi Jr.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Foram examinados 42 animais (N=42), entre jovens e adultos (Gráfico 1), oriundos de
Fêmea
Macho
Adultos
Jovens
Gráfico 1 - Distribuição percentual dos animais avaliados segundo sexo e faixa etária.
específicos para primatas (anexo 1). Nestes odontogramas consta o exame do órgão dental,
diferentes: uma com a vista vestibular dos dentes e outra com a vista oclusal. A numeração
A partir desta resenha odontológica foi realizado o exame físico propriamente dito.
Este exame consistiu em anamnese específica (após realizada anamnese geral), abrangendo os
aspectos prévios da problemática do animal, como o histórico dental (se existir), o histórico
como dentro da mesma instituição; porém, os itens alimentares eram basicamente: ração
esfera odontológica com o animal sob anestesia geral, possibilitando, desta forma, detalhado
assimetrias, bem como a avaliação do periodonto e do dente por inspeção visual direta e
Objetivou-se com este trabalho relatar a prevalência diferenciada dos variados tipos de
dental, retração gengival (mm), bolsa periodontal (mm), desgaste dental, escurecimento
dental, exposição de polpa, cárie, hiperplasia gengival, maloclusão dental, ausência dental e
Gengivite 24 57%
Desgaste dental 3 7%
Bolsa periodontal 1 2%
Hiperplasia gengival 1 2%
Supra- numerários 1 2%
Giro- versão 1 2%
Maloclusão 1 2%
Fístula infra-orbital 1 2%
Apinhamento dental 1 1%
Avaliando-se isoladamente os machos, 50% (9) apresentaram cálculo dental, 50% (9)
retração gengival, 56% (10) apresentaram ausência dental, 39% (7) apresentaram fratura
dental, 11% (2) apresentaram exposição de polpa, 6 % (1) apresentaram dentes supra-
Cálculo
Gengivite
11% 6% 6%6% Bolsa periodontal
50%
39% Retração gengival
Ausência dental
Fratura dental
56% 50% Exposição de polpa
28% 6% Supra numerário
Desgaste
Maloclusão
Já entre as fêmeas avaliadas, 58% (14) apresentaram cálculo dental, 67% (16)
ausência dental, 21% (5) apresentaram fratura dental, 13% (3) apresentaram exposição de
Cálculo
Gengivite
13% 4%4% 8% 4% Retração gengival
21%
Ausência dental
58%
42% Fratura dental
Exposição de polpa
8% Giro-versão
67% Apinhamento dental
Desgaste
Fistula infra-orbital
Dentre os adultos observados, 91% (21) apresentaram cálculo dental, 83% (19)
retração gengival, 4% (1) apresentaram hiperplasia gengival, 22% (5) apresentaram ausência
dental, 57% (13) apresentaram fratura dental, 26% (6) apresentaram exposição de polpa, 4%
apresentaram apinhamento dental e 13% (3) apresentaram desgaste dental. O gráfico 3 ilustra
57% 91%
22%
4%
26% 4% 83%
Cálculo Gengivite Bolsa periodontal
Retração gengival Hiperplasia gengival Ausência dental
Fratura dental Exposição de polpa Supra numerário
Giro-versão Apinhamento dental Desgaste
Dentre os jovens avaliados, 16% (3) apresentaram cálculo dental, 26% (5)
apresentaram gengivite, 79% (15) apresentaram ausência dental, 5% (1) apresentaram fratura
dental e 5% (1) apresentaram maloclusão. O gráfico 4 ilustra a prevalência das lesões nos
jovens.
Prevalência de lesões orais no jovens.
5% 5% 16%
26%
79%
Por meio da utilização do Teste Exato de Fisher, pôde-se estabelecer uma comparação,
das lesões encontradas, entre machos e fêmeas; e entre jovens e adultos. Empiricamente,
foram considerados jovens aqueles animais com idade inferior a três anos. Tal padrão foi
permanentes, a qual ocorre entre dois anos e seis meses e três anos de vida (FLEAGLE;
SCHAFFLER, 1982). Desta forma, foi possível caracterizar a faixa etária de animais com
idade desconhecida com certa acurácia, considerando-se adultos aqueles com dentição
permanente completa.
Além disso, pôde-se evidenciar que a profundidade do sulco gengival variou entre 0,5
e 1,0 mm.
Figura 26: Fratura dental com exposição de polpa em dente canino, evidenciada com auxílio
de explorador clínico odontológico.
Fonte: arquivo pessoal.
Figura 27: Fístula infra-orbital decorrente de lesão endodôntica de canino superior esquerdo,
com exposição do ápice radicular (evidenciado no detalhe).
Fonte: arquivo pessoal.
Figura 28: Retração gengival de 4 mm em dente canino inferior esquerdo evidenciada com
auxílio da sonda periodontal milimetrada. Notar também severa retração gengival em dente
canino inferior direito e ausência de incisivo lateral inferior direito.
Fonte: arquivo pessoal.
Figura 29: Vestibularização dos dentes incisivos superiores, caracterizando maloclusão.
Notar a diferenciada anatomia craniana decorrente da lesão (foto menor).
Fonte: arquivo pessoal.
6 DISCUSSÃO
odontológica veterinária. Além disso, diversos fatores podem interferir na saúde geral e oral
disputas territoriais e sociais, dentre outras. Isto deve ser considerado em todas as instâncias,
visto que a manifestação clínica de alguma enfermidade pode estar relacionada a estes fatores
macacos-prego mantidos em cativeiro no estado de São Paulo, onde 57% dos animais
Por meio da utilização do Teste Exato de Fisher, comparou-se a prevalência das lesões
orais entre machos e fêmeas; e entre jovens e adultos. Cada lesão foi analisada isoladamente
fêmeas. Porém, observou-se maior índice percentual de fratura dental em machos, podendo
estar relacionada a diversos fatores, como brigas na disputa de melhor condição hierárquica
constantemente aos traumas e fraturas. Além disso, o comprimento dos dentes caninos dos
machos é maior do que nas fêmeas, ficando sujeitos às maiores forças de tração e,
que são fornecidos em cativeiro itens alimentares diferentes daqueles obtidos pelos animais
em vida livre. Essa mudança nos itens alimentares parece diminuir a ação abrasiva dos
alimentos, frente à placa bacteriana, durante a mastigação e, consequentemente, predispor o
animal à doença periodontal. Sob este ponto de vista, os adultos parecem ter maior
manifestação de doença periodontal por estarem sujeitos a essa mudança durante um maior
período de tempo.
Quando comparada a prevalência das lesões orais entre jovens e adultos, nota-se maior
predisposição dos adultos ao cálculo dental, à gengivite, à retração gengival, à fratura dental e
à exposição de polpa. Porém, há maior predisposição dos jovens à ausência dental. Tais dados
são pouco conclusivos por si só, dada a variedade de componentes que podem interferir. De
um modo geral, a analise comparativa entre jovens e adultos portou-se como esperado, pois
evidenciou-se maior prevalência das lesões associadas à doença periodontal e traumas nos
adultos. Tal fato decorre dos adultos estarem expostos aos fatores etiológicos e agravantes
das lesões orais por mais tempo, dada idade mais avançada. Além disso, os jovens possuem a
vantagem dos cuidados maternos, diminuindo sua exposição aos conflitos por território,
comida e posição social, que podem predispor às lesões orais traumáticas. A predisposição
dos jovens à ausência dental é pouco, ou quase nada, conclusiva, pois caracterizou-se
ausência dental a não visualização do elemento dental. Ou seja, tais dados foram
contabilizados juntamente com dentes não erupcionados ou fraturas completas de coroa, visto
que em ambos os casos não há visualização do elemento dental. Portanto, acredita-se que na
grande maioria dos jovens, o elemento dental não havia erupcionado, porém não foi possível a
doença periodontal e fratura dental com exposição pulpar, porém não foram observadas lesões
apella).
7 CONCLUSÃO
A posse dos dados gerados com o desenvolvimento do trabalho permitiu apontar o alto
oral ainda é negligenciada durante a realização do exame clínico geral destes animais, pois
muitos animais apresentam lesões estomatológicas antigas, mesmo sendo contidos para a
preocupação nos valores nutricionais da dieta fornecida aos animais, porém pouca, ou
nenhuma, atenção nas características abrasivas dos itens alimentares que compõem a dieta,
podendo predispor estes animais à doença periodontal. A condição física dos recintos em que
ilhas parecem manifestar comportamento esteriotipado em menor grau que aqueles mantidos
Conclui-se, dessa forma, que a atual condição oral dos macacos-prego (Cebus
serem tomadas no que tange a profilaxia, diagnóstico e tratamento das lesões orais, de forma a
oral, fazendo com que os animais possam viver mais e melhor quando a saúde oral for
mantida em estado perto da higidez, além de promover a conscientização desta problemática a
todos aqueles que circundam e influenciam a qualidade de vida dos animais, como
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ANEXOS