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Avaliação e recomendações

nutricionais para idosos


O envelhecimento é considerado processo natural, dinâmico,
progressivo e irreversível, no qual ocorrem alterações
MORFOLÓGICAS, BIOQUÍMICAS, FISIOLÓGICAS,
COMPORTAMENTAIS E PSICOSSOCIAIS.

Essas modificações são frequentes e consideradas específicas do


envelhecimento;

Podem provocar perda progressiva da capacidade de adaptação ao


ambiente e prejuízo na forma de se alimentar (SILVA, 2010).
Essas condições tornam o indivíduo mais vulnerável e aumentam a
incidência de má nutrição e de processos patológicos nesse grupo

Muitas vezes é difícil distinguir:


doenças x alterações naturais do envelhecimento.

IMPORTANTE CONHECER ESSAS MODIFICAÇÕES E SEUS FATORES DE


RISCO ASSOCIADOS
Evitar erros no processo de avaliação e diagnóstico quando há
enfermidades presentes (SILVA, 2010).
Alterações organicas, fisiológicas e metabólicas
Mudança na composição corporal: redução progressiva em todos os
compartimentos corporais: massa magra (massa muscular, água e tecido ósseo)
e massa gorda;
Membros superiores e inferiores apresentam maior redução de massa magra,
relacionado a redução de atividade física;
 A massa gordurosa aumenta com o envelhecimento??
SARCOPENIA = perda involuntária de massa muscular
Diminuição da força muscular, comprometendo a capacidade funcional
(independência e autonomia) e, consequentemente, a qualidade de vida dos
idosos (VITOLO, 2014).
• Osteoporose: comum nos idosos devido à:
• menor ingestão de fontes cálcio;
• menor absorção e maior excreção de cálcio;
• menor síntese de vitamina D;
• menor exposição à luz solar;

... Maior risco de fraturas por quedas domésticas.

Marchini et al., 2009. Nutrição no idoso.


Diminuição da Acuidade Sensorial: As alterações abrangem a visão, a audição,
o olfato, o paladar e o tato. Geralmente são parciais, mas interferem tanto no
apetite como no comportamento alimentar

- Visão: os problemas oftalmológicos mais


frequentes são: progressiva redução do
campo visual, dificuldade em focalizar
objetos próximos devido à perda da
acomodação e diminuição da acuidade
visual.

- Audição: há uma condição frequente, na


fase geriátrica, a hipoacusia (SERRO AZUL,
1981).
Diminuição da Acuidade Sensorial:
- Paladar: redução das gemas gustativas nas
papilas línguais; gostos primários (doce,
amargo, salgado e ácido), está associada ao
olfato;

- Olfato: importante função na sensibilidade


dos sabores; relacionada à utilização de
medicamentos, à falta de higiene bucal, ao
desequilíbrio do sistema nervoso central e
ao hábito de fumar, do que,
necessariamente, ao processo natural de
envelhecimento (SILVA, 2010).
Diminuição do metabolismo basal:
Com o avanço da idade, o idoso apresenta redução, aproximada, de 10 a 20%
do metabolismo basal;

TMB: quantidade de energia (kcal) necessária para o corpo se manter em


repouso.
Tem como variantes: SEXO, IDADE, PESO E ESTATURA

Essa situação de diminuição acontece devido à mudança da composição


corporal, diminuição da prática de atividade física, ou, ainda, à adaptação do
organismo às alterações do processo de envelhecimento (SERRO AZUL, 1981).
Alterações na cavidade oral
Principais alterações: perda de dentes, atrofia da elasticidade dos tecidos da cav. oral,
diminuição dos níveis de saliva = problemas de mastigação

- Xerostomia = diminuição da saliva (Boca seca)


Afeta cerca de 70% dos idosos Doenças
Medicamentos
- Sialorréia = salivação excessiva/ perda involuntária

EDENTULISMO (ausência, parcial ou total, de dentes): NÃO deve ser considerado


consequência natural do envelhecimento (SILVA, 2014).
• Alterações orais estruturais comuns em pessoas idosas:
• perda de dentes/uso de próteses;
• redução da capacidade mastigatória;
• gengivite;
• xerostomia;
• glossite.

Marchini et al., 2009. Nutrição no idoso.


Alterações intestinais
A função do intestino delgado pode estar comprometida, devido ao menor
número de células absortivas, causando diminuição da área disponível para a
absorção e consequentemente, prejudicando a capacidade funcional;

Outros fatores que também interferem na absorção: lentidão do


esvaziamento gástrico e redução do fluxo sanguíneo intestinal;

Há aumento da incidência de obstipação intestinal, devido à diminuição do


tônus muscular e da função motora do cólon (VITOLO, 2014).
Alterações Metabólicas
Com o envelhecimento, ocorrem alterações orgânicas e funcionais no pâncreas,
fígado e rins.
As alterações PANCREÁTICAS : diminuição da produção de enzimas
(prejudicando a digestão de alimentos) e de hormônios, principalmente, a
insulina, podendo predispor à intolerância à glicose e ao diabetes senil.
No FÍGADO, é comum ocorrer redução do fluxo sanguíneo, do tamanho dos
hepatócitos e da produção de ácidos biliares, prejudicando, principalmente, a
digestão de gorduras.
Os RINS, devido à capacidade funcional diminuída, apresentam dificuldade na
excreção de substâncias tóxicas e metabólitos não aproveitadas pelo organismo
(SILVA, 2010).
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL NO
IDOSO
1. ANAMNESE: queixa, história pregressa e familiar, hábito alimentares,
consumo alimentar, condições socioeconômicas;

2. EXAMES BIOQUÍMICOS: complementam a avaliação e diagnóstico;

3. ANTROPOMETRIA: método não invasivo, baixo custo, rápida aplicação


- ↓ massa muscular, ↑ gordura corporal, encurtamento das vértebras e
encurvamento da coluna;
- ↑ da flacidez da pele : interfere na mensuração das circuferências e dobras
cutâneas
• Levando em consideração todas as alterações no envelhecimento...

• A prevalência de desnutrição em idosos varia de 15 a 60%, dependendo do local


onde o idoso vive, instituições de longa permanência para idosos (ILPI), casa ou
hospital.

• A desnutrição pode ainda ter como fator agravante a presença de doenças


crônicas ou agudas.
Silva et al., 2015. Fatores associados à desnutrição em idosos institucionalizados.
- Fórmula para estimativa de peso
3.1 Peso corporal: corporal em idosos caso não seja
O peso é variável antropométrica possível a pesagem
importante e necessária ao processo de
avaliação nutricional, pois pode indicar se Fórmula de Chumlea e cols (1985 e
o indivíduo está com problema de 1988) para idosos:
excesso ou deficiência de peso, que
refletirá em seu estado nutricional
(CUPPARI, 2014).

- Balança de base larga, com examinador


sempre próximo;
- Cadeira na balança e idoso sentado :
subtração do peso da cadeira.
3.2 Estatura

E a dimensão corporal que se estende do topo da


cabeça até a base dos calcanhares;
Isoladamente, não permite a avaliação do estado
nutricional.
Normalmente, esse valor é utilizado para calcular o
índice de massa corporal (IMC - kg/m²) - razão entre
peso corporal (em kg) e estatura² (em m) - e também
para calcular necessidades energéticas;
Estima-se que ocorra declínio de 0,5 a 2cm/década,
embora não haja um consenso (CUPPARI, 2014).
- Najas, 2005 - BRASIL
Fórmulas para estimativa de altura em
idosos:
- Chumlea e cols, 1985
- Altura do Joelho (AJ)

 Pode ser medida com o indivíduo deitado ou


sentado;

 A técnica consiste em dobrar a perna esquerda


do indivíduo, que permanece em posição
supina, de maneira a formar ângulo de 90º, na
região do joelho (entre a perna e a coxa).

 Em seguida, posiciona-se o equipamento


específico e mede-se a distância entre a base
do calcanhar e a parte superior da patela
(SILVA, 2005)
- Hemienvergadura do braço:
 Ainda, para estimativa da estatura, pode-se utilizar a medida de um dos braços,
da ponta do dedo médio até o meio do peito sobre o esterno, e multiplicar o valor
obtido por dois (CUPPARI, 2014).
3.3 IMC: Índice de Massa
Corporal

O IMC é calculado segundo a relação entre o valor


de peso corporal (em kg), dividido pelo quadrado
do valor da estatura (em m).

IMC = peso(kg)
estatura(m)²

Ele não permite a avaliação da composição


corporal, pois não é possível distinguir os
compartimentos de massa magra (massas óssea
e muscular) e massa adiposa.
3.4 Circunferências e DCT:

- Circunferência da Braço (CB)

- Dobra Cutânea Tricipital (DCT)

- Circunferência Muscular do Braço /


(CMB) = CB - ( ‫ ח‬x DCT)

- Circunferência da Panturrilha

Variáveis antropométrica utilizadas para avaliar o estado nutricional do indivíduo, pois


reflete reservas corporais, de proteína e de gordura;
Valores são analisados juntamente com as tabelas de percentis de adequação
- Circunferência da Cintura (CC):

 Variável antropométrica, e seu valor, mesmo


isoladamente, é utilizado como indicador de risco
para doenças metabólicas, associadas à obesidade,
como diabetes mellitus e doenças cardiovasculares.

 A CC não deve ser utilizado para avaliação do estado


nutricional.

 Tem-se verificado que elevada quantidade de tecido


adiposo visceral ou abdominal está fortemente
associada a risco para essas doenças.
4. SEMIOLOGIA NUTRICIONAL:
A Semiologia Nutricional é o exame clínico que pode auxiliar a conduta
profissional tanto na prevenção quanto na evolução das carências nutricionais
que o indivíduo já possa estar apresentando.

Exame físico da cabeça aos pés


(cabelo, pele, face, olhos, lábios, ENXERGUE
SEU
boca, língua, unhas, tórax,
dorso, membros, abdômen,
tecido subcutâneo, sistema
músculo-esquelético). PACIENTE!
Face
- Fácies aguda: - Fácies Crônica:
Exausto, cansado, não consegue Paciente parece deprimido, triste, pouco
manter olhos abertos por muito diálogo.
tempo. Estado de humor comprometido.
Músculos orbiculares palpebrais Muitas vezes o que está motivando um
são os primeiros que se cansam. paciente a se comportar como deprimido é
a desnutrição. (Avaliação psicológica e
nutricional)
Pele e mucosa - Coloração: - Hidratação
 Palidez nas mucosas:  Produção de saliva
ANEMIA??  Turgor da prega
 Hiperemia (pinçando)
 Cianose Pele desidratada, a prega
 Ictérica : ↓ absorção vit se desfaz lentamente
lipossolúveis
Musculatura Temporal e Bola de
Bichart
Atrofia temporal, como tudo em propedêutica nutricional tem que
ocorrer bilateralmente.

Atrofia unilateral, descartar causa neurológica.

Atrofia bitemporal, nos mostra que o paciente parou de mastigar ou


deixou de usar a mastigação como fonte principal de ingestão alimentar
(dieta hipocalórica).
3 a 4 semanas já existe atrofia da musculatura.
Bola gordurosa de Bichart (BGB)
 A perda da bola gordurosa de Bichart
esta relacionada com redução
prolongada de reserva calórica (massa
gorda);

Primeiramente o paciente atrofia a


musculatura temporal, o consumo da
BGB fica para uma fase mais tardia;

Sinal “asa quebrada” - perda de BGB e


musculatura temporal (Duarte, 2002).
Cavidade oral
Língua: Magenta, glossite (complexo B), branca (falta mastigação), queilite
angular (Riboflavina e Vitamina C), monilíase (imunodeficiência), deficiência de
zinco.
Massa muscular
 Região do pescoço e clavícula:
Supra e infraclaviculares e da
fúrcula esternal

 Atrofia destas regiões indica que o


paciente já perdeu massa
muscular há muito tempo (perda
crônica).

 Músculo Adutor do Polegar,


membros inferiores e superiores
Abdômen
 Plano
 Escavado ( depleção de
tecido adiposo)
 Ascítico (DPE)
 Globoso (perfil andróide)
 Avental (excesso de
tecido adiposo e sobra de
pele, provável perda de
peso recente)
Sinal de Cacifo

Edema
 Tornozelo, perna e região sacral
(↑ tempo acamado, ↑ grau de desnutrição).

 Pesquisa de edema desnutrição protéica


 Hipoproteinemia
 Hipoalbulminemia
 Valores inferiores a 5,0 g/l de PTN totais e
inferiores a 2,5 g/l de albumina são
capazes de gerar edema (CUPPARI, 2014)
Instrumentos de avaliação e triagem nutricional
ASG: Avaliação Subjetiva Global

MAN: Mini Avaliação Nutricional

NRS 2002 : Nutritional Risk Screening

SARC-F/SARC-F + CC: sarcopenia


ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
EUTRÓFICOS, SEM PATOLOGIAS OU FATORES DE RISCO:

- Evitar longos períodos de jejum (hipoglicemia)


- Consumo de 3 porções de frutas ao dia/ 2 porções de salada
- Consumir de 1 a 2 porções de proteína ao dia (carne bovina, suína, peixe,
frango, ovos)
- Consuma leite e derivados diariamente, evitando queijos gordurosos e
manteiga
- Quantidade adequada de água, em média 30mL por kg/peso
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
DESNUTRIDOS OU COM RISCO DE DESNUTRIÇÃO
- Aumentar consumo de alimentos que ofereçam mais calorias às refeições: azeite
de oliva, sementes e grãos, abacate, leite em pó;
- Caso haja falta de apetite, aumentar o fracionamento das refeições : 6, 7, 8 vezes
ao dia, dependendo da rotina e tolerância;
- Alimentos pastosos caso tenham dificuldade de mastigação ou de deglutição;
- Suplemento Nutricional Oral (SNO) a partir do momento em que a ingestão
nutricional tornar-se insuficiente.
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
OBESOS OU COM PATOLOGIAS RELACIONADAS : DM, HAS, DISLIPIDEMIAS
- Aumentar consumo de alimentos ricos em fibras: cereais e grãos integrais, frutas
com casca, adicionar aveia ou farelo de aveia em algumas refeições;
- Evitar alimentos fritos, retirar gordura das carnes;
- Evitar uso de temperos industrializados, dando preferência para temperos naturais
(Ex: sal de ervas);
- Açucares de adição e bebidas adocicadas devem ser evitadas;
IMPORTANTE!
Local das refeições: tranquilo, sem distrações de televisão ou ruídos;

Convivío com a família: importante para socialização;

Se possível, o idoso deve realizar sozinho o ato de comer;

Não ingerir líquidos próximos das refeições;

Desestimular uso de sal e açúcar à mesa

Retirar cascas e ossos que possam dificultar o manuseio e a a ingestão dos alimentos.
10 PASSOS PARA UMA
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
DA PESSOA IDOSA
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentação
saudável para a pessoa idosa: um manual para profi ssionais de saúde / Ministério da saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009. 36 p. –
(Série A. Normas e Manuais Técnicos)

CHEMIN, S. M.; MURA, J. D. P. Tratado de Alimentação Nutrição e Dietoterapia. 2°ed. São Paulo: ed. ROCA, 2010.
CUPPARI, L. Nutrição Clinica no Adulto. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar - Nutrição - Nutrição Clínica
no Adulto - 3ª Ed. 2014

NAJAS M.S.; SACHS, A. Avaliação nutricional do idoso. In: Papaléo Netto M, editor. Gerontologia. São Paulo:
Atheneu; 2005. p.242-7

SERRO AZUL, L. G. C. C.; CARVALHO FILHO, E. T. Clínica do Indivíduo Idoso. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
1981.

VITOLO, M.R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Ed. Rubio, 2014.
CHUMLEA, W.C; ROCHE, A.F.; STEINBAUGH, M.L. Estimatingstature from knee height for persons 60 to 90 years of
age. J Am Geriatr Soc. 1985; 33(2):116-20. http://dx.doi.org/10.1111/j.1532-5415.1985.tb02276

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