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NUTRIÇÃO DE CÃES E GATOS

Apesar de ambos serem da ordem carnívora, eles são de subordens diferentes (caniformia e
feliformia), sendo muito diferentes geneticamente. Os canídeos estão geneticamente
próximos de animais com hábitos alimentares bem adaptados, uns até herbívoros (família
ursidae). Já os felinos estão geneticamente próximos a animais estritamente carnívoros.

O cão é um carnívoro com hábito alimentar mais oportunista, comendo o que estiver
disponível quando não há carne.

O profissional que trabalha com nutrição de animais de companhia tem que estar atento
também ao marketing daquele alimento, porque quem seleciona é o tutor infelizmente, então
tem que ser agradável e atrativo para ele (nutrição humanizada).

Particularidades do gato:

 Carnívoro estrito, na natureza ele só come carne de caça basicamente.


 O gato doméstico tem hábito solitário (com a humanização, isso mudou um pouco,
mas não é um comportamento natural de um gato),
 Faz pequenas refeições várias vezes ao dia (a forma alimentar é diferente da do
cachorro, ele come de 10 a 20 vezes ao dia). Isso porque na natureza o gato selvagem
só conseguia caçar pequenos animais, tendo que fazer várias caçadas ao dia.

OBS: Não é correto e normal ele comer grandes volumes de uma vez só, porque pode gerar
problemas como urolitíase. Quando o animal come bastante de uma vez só, há uma
alcalinização do sangue (maré alcalina, ocorre sempre depois de grandes refeições em todos
os animais). Com esse aumento do pH do sangue, há consequentemente o aumento do pH da
urina pra tentar melhorar o do sangue. Como o gato já não bebe muita água, a urina fica
concentrada e essa alcalinização predispõe a formações de cristais de estruvita (fosfato de
amônia).

 Gato ingere muita pouca água pela sua origem desértica, então ele é adaptado a beber
pouca água e seu sistema sensorial para notar a água é muito pouco desenvolvido
porque na natureza ele via pouca água, então é preciso ficar estimulando com água
corrente, barulho de água.

Aspectos bioquímicos:

 Ele tem alta atividade de enzimas catalíticas de aminoácidos, então por isso ele precisa
ter alta taxa de proteína na alimentação, porque ele não consegue parar de degradar
proteína.
 Não consegue sintetizar vitamina A, porque ele sempre comeu direto dos tecidos
animais na natureza, ele não comia cenoura pra sintetizar vitA, então não evoluiu para
produzí-la.
 Limitada síntese de ac araquidônico, porque ele sempre comeu só carnes, que tem
gordura que é rica nesse ácido, então ele não desenvolveu a capacidade de produzir,
ele não teve essa pressão evolutiva. Então é muito difícil formular dieta vegana e
vegetariana pro gato e precisa de muita suplementação.
 Não produz taurina e arginina a partir de outros compostos, porque ele sempre teve
direto da alimentação, então precisa estar suplementado na dieta. A arginina é
responsável pela conversão de ureia em amônia para ser excretada, então ela precisa
ser muito suplementada na dieta porque se não o gato é intoxicado pela amônia
gerada pela sua dieta de alto teor proteico.
 Baixa fermentação de fibra, porque não tem amilase salivar, só tem a pancreática e em
pequena quantidade, então ele digere carboidrato muito pouco.
 Baixa atividade de glicoquinase hepática, que fosforila a glicose dentro da célula e
permite seu uso (ele tem hexoquinase, que é menos eficiente). Isso porque na
natureza ele nunca precisou ficar digerindo carboidrato.
 TGI é curto e simples, com ceco pouco desenvolvido. Isso porque digestão de
proteínas é no TGI superior, inicia no estomago e termina no intestino delgado, então
não precisa ser muito desenvolvido.

Particularidades do cão:

 Os cães são descendentes dos lobos cinzentos.


 Como eles foram domesticados, acabaram se adequando a comer resto de comida.
 Como são animais que viviam em grupo, eles disputavam o alimento e aí comiam tudo
de uma vez, e aí quando acabava eles precisavam forragear e procurar outros restos
pra comer. Por isso, são considerados onívoros, mas são preferencialmente carnívoros.
 São animais gregários que apresentam hábito de competição alimentar quando vivem
em grupo.
 Eles fazem refeições volumosas e menos frequentes porque antigamente nem sempre
conseguiam caçar e quando caçavam precisavam comer o máximo pela competição.

Aspectos bioquímicos:

 Como a dieta era mais variada, eles tem maior regulação das enzimas catalíticas de
aminoácidos, porque nem sempre conseguiam comer proteína.
 Sintetizam arginina, taurina e vit A pela sua dieta onívora.
 Não tem amilase salivar, mas tem a pancreátiva.
 O TGI é mais longo que o dos gatos, com ceco mais desenvolvido.
 O cão tem maior capacidade de diferenciar sabores que o gato, porque comiam maior
variedade de coisas.
 O olfato também é mais desenvolvido, porque eles precisavam percorrer grandes
trajetos para caçar e tinham maior dificuldade e competição pra isso.

OBS: Lembrando que as proteínas não são armazenadas no organismo na forma de AA, o
excesso é eliminado, o que não foi usado na síntese proteica e manutenção da musculatura sai
na forma de ureia na urina.

O excesso de proteína na dieta de cães e gatos acaba fermentando no colon e geram


compostos que dão mau odor nas fezes, por isso que fezes de gato fede muito mais que a de
cão, porque consomem muito mais prot.

Se o gato tiver dieta pobre em AA ele continua degradando muita proteína porque ele não
consegue diminuir, então continua excretando muto nitrogênio na urina. Quanto mais onívoro
o animal, mais adaptado a diferentes dietas ele é, porque seu organismo é adaptado a
diferentes alimentações.

FEDIAF: guia ouro para alimentação de cães e gatos.

Na fase de crescimento o animal sempre precisa de mais proteína e teor de aminoácido


essenciais para se desenvolver.
A arginina, por exemplo, é muito importante pra gatos (enquanto o cão precisa de 0,5% de
suplementação, o gato precisa de 1%. Isso se dá pela dieta altamente proteica dos gatos).

Digestibilidade:

Proteínas

Não é porque o animal é carnívoro que a proteína tem que ser de origem animal, isso é
mentira. Tudo depende do processamento do alimento e da fonte desses ingredientes.
Estudos mostram que, para cães, a digestibilidade de glúten de milho 60 tem 92% de
digestibilidade, soja micronizada tem 88, farinha de soja tem 84, farinha de vísceras de aves
tem 82, farinha de carne e ossos tem 80.

Em gatos, gluten de milho 60 é 95, farinha de vísceras de aves é 92, soja micronizada é 87,
farinha de carne e ossos é 82 e farelo de soja é 80.

Mas esses valores dependem do processamento do produto também.

Não existe um organismo não conseguir digerir prot animal ou vegetal porque a composição é
a mesma, o que muda é o valor biológico e quais AA compõe essas proteínas. Há AA que só
estão presentes em proteínas animais, aí se usar a vegetal tem que suplementar.

Lipídeos

O gato precisa de mais lipídeo que o cão por conta do ácido aracdonico que ele não sintetiza
pela sua alimentação ancestral rica em gordura de origem animal e por outros processos.

Valores recomendados: cães em crescimento – 8,5; cães adultos – 5,5; gatos em crescimento –
9,0; gatos adultos – 9,0.

Amidos

Com a ração seca, aumentou muito o teor de amido na alimentação desses animais, porque
cereal é mais barato que carne e porque o processo de extrusão precisa de amido pra ração
ficar seca e crocante.

Estudos mostram que isso não gera problema em indivíduos saudáveis porque eles tem
amilase pancreatica e o amido é bem cozido (sendo altamente digestível), porém, se a ração
for consumida em excesso, a animal poderá ficar obeso. Aí, por causa da obesidade,
principalmente em gatos, há o desenvolvimento de diabetes tipo II.

Na média a digestibilidade de amido pra cães e gatos é a mesma e isso é possível porque o
processo de extrusão cozinha muito bem o amido e ele fica muito digestível e também porque
o gato come aos poucos, então consome pequenas quantidades e dá tempo de digerir tudo.

Arroz e mandioca tem maior digestibilidade (84), milho e sorgo tem média (78) e ervilha e
lentilha tem digestibilidade menor (em torno de 74).

É muito interessante suplementar o animal com prebióticos para manter a saúde intestinal.

De modo geral pra ver se a ração é boa se faz a associação entre os ingredientes e os níveis
nutricionais. O mínimo pro cachorro adulto de prot é 18%, se a ração só tem isso não é boa,
porque ta próximo do mínimo. Gordura é 5,5, se tem 6 por exemplo é baixo. É bom que seja
um pouco maior. A farinha de vísceras de aves, gluten de milho 60, farinha de torresmo, ovo
em pó são boas fontes proteicas. Farinha de pena e sangue tem digestibilidade MUITO baixa.
Farinha de carne e ossos tem ossos que aumentam o nível de cálcio, que não é muito bom.

Pontos mais importantes: ver se a quantidade ta próximo do mínimo, se tem farinha de


penas e sangue e, caso tenha farinha de ossos, olhar se a matéria mineral/cálcio não ta
muito alta. É o básico.

Cães e gatos não ativam a vitamina D através do sol, na dieta tem que oferecer
obrigatoriamente a vit D3 na forma ativa.

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