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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA


INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO
TOCANTINS
CAMPUS COLINAS DO TOCANTINS

Nutrição de ruminantes

José Mário L. Rocha


Zootecnista - Dr. Ciência Animal Tropical
PRODUÇÃO ANIMAL POSSUI TRÊS BASES:

 GENÉTICA: Procurar melhores reprodutores a fim


de obter animais produtivamente superiores.

 SANIDADE: Animais saudáveis (vacinação em dias,


vermifugação, controle sanitário e etc)

 NUTRIÇÃO: Esta é a área onde pode-se obter


resultados mais precocemente (70 a 80 % dos
custos);
Para melhor compreensão da nutrição de ruminantes,
alguns termos devem ser entendidos:

NUTRIÇÃO: É a utilização adequada dos principais nutrientes, por parte


do organismo, para satisfação das necessidades nutricionais dos animais.

NUTRIENTES: Constituinte alimentar, ou grupo de constituintes do


alimento de composição química que entra no metabolismo celular. Os seis
grandes grupos químicos são proteína, carboidratos, lipídios, vitaminas,
minerais e água.

ALIMENTO: É uma mistura complexa de nutrientes. Os constituintes do


alimento podem ser expressos na base seca (matéria seca) ou na base
úmida (considerando também a umidade, ou seja, o teor de água.
Presente)
RAÇÃO: É todo o alimento que o animal ingere num período
de 24 horas.

DIETA: Indica os componentes de uma ração, ou seja, é o


ingrediente alimentar ou mistura de ingredientes, incluindo a
água, a qual é ingerida pelos animais.

INGREDIENTES: Componente de qualquer combinação ou


mistura que constitui um alimento.

RAÇÃO BALANCEADA: É uma mistura de alimentos


convenientemente equilibrada para fornecer todos os
nutrientes exigidos pelos animais.
MATÉRIA ORGÂNICA (M.O.):
É obtida diminuindo as cinzas da matéria seca, queimando a amostra a 500
°C

% M.O. = % de MS - % de CINZAS

MINERAIS ou MATÉRIA INORGÂNICA (MI)

Constituem aproximadamente 5% do peso vivo do animal. Os minerais são


classificados conforme a quantidade em que os mesmos aparecem nos
tecidos (Chaves, 1985).

Esta divisão classifica-os em dois grupos:

1.Macronutrientes: Cálcio, fósforo, sódio, potássio, magnésio, enxofre e


cloro.
2.Micronutrientes: Cobre, ferro, manganês, zinco, iodo, molibdênio e
selênio.
EXIGÊNCIA NUTRITIVA:
Quantidade de cada nutriente requerida por determinada
espécie e categoria de animal, para sua boa manutenção, sua
produção e reprodução eficientes.

DEFICIENCIA NUTRITIVA:
Inexistência ou insuficiência de um nutriente essencial.

CARÊNCIA:
Quadro sintomático apresentado pelo animal como
consequência de deficiência nutritiva.

DIGESTIBILIDADE:
Representa em porcentagem capacidade que o alimento tem de
ser digerido pelo animal.
PRINCIPAIS NUTRIENTES NA MATÉRIA SECA

PROTEÍNAS:

Definição:
 São nutrientes orgânicos nitrogenados presentes em todas as células
vivas, portanto, essencial à vida do animal. Depois da água, são os
compostos mais abundantes.

 Ela forma o principal constituinte do organismo animal, sendo, pois,


indispensável para o crescimento, reprodução e produção.

 São formadas por unidades básicas chamadas de aminoácidos.

 A junção de vários aminoácidos forma em cadeia polipeptídica, que


constitui uma proteína.
 Cerca de 20 aminoácidos são encontrados nas proteínas de
plantas, animais e micro-organismos;
Funções das Proteínas:

 Formação dos tecidos

 Transportadores

 Fonte de nutrientes

 Secreção de glândulas (hormônios)

 Anticorpos e Equilíbrio Ácido - Básico

 Enzimas
PROTEÍNAS PARA OS RUMINANTES DIVIDIDA EM:

 Proteína verdadeira  Compreende o nitrogênio vindo de


cadeias longas (ligações peptídicas) de ligações entre
aminoácidos. Ex: Farelo de soja, farelo de algodão.

 NNP (Nitrogênio não protéico) Proteína vinda de compostos


que possuem nitrogênio em sua composição. Ex: Uréia, sais de
amônia.
CARBOIDRATOS

Definição:
São os nutrientes que fornecem energia e calor ao organismo.

Dependendo de como os elementos químicos estão ligados


entre si, temos:

-Compostos simples: açúcares e o amido – maior valor


alimentício, devido a fácil digestão - Ex: milho, tanto grão
como silagem; a batata doce; a cana ; a mandioca.

-Complexos: celulose e hemicelulose – para os ruminantes


é facilmente digerida (microrganismo do rúmen) - Ex: pastos,
gramíneas e leguminosas.
Função dos Carboidratos

 Fornecer energia para todas as atividades físicas: andar


mastigar, digerir, respirar e outras.

 Manter a temperatura corporal

 Formar gordura corporal

 Formar graxa e açucares do leite

 Manutenção da vida do feto.


LIPÍDEOS ou GORDURAS

Definição:
São substâncias insolúveis em água mas solúveis em éter, cloroformio,
benzeno e outros solventes orgânicos chamadosextratores.

Funções:

 Fornecem 2,25 vezes + energia do que os carboidratos e proteínas

 Isolamento térmico (toucinho)

 Fonte de AG essenciais (linolênico, linoleico, aracdônico)

 Precursor da vitaminas D2 e D3

 Auxilia na absorção de certas vitaminas

 Fazem parte de hormônios sexuais (testosterona, progesterona)


ENERGIA

 A energia deriva do metabolismo dos carboidratos (amidos,


açúcares, celulose, hemicelulose), proteínas e lipídeos
(gorduras).

 As vitaminas e outras substâncias também podem fornecê-


la, mais a quantidade é desprezível.

 Existem vários sistemas energéticos: NDT, Bruta, Digestível,


Metabolizável, Líquida.
NDT (Nutrientes digestíveis totais)

 É o mais utilizado para bovinos de corte e leite.

 Baseia-se na soma da fração da Proteína digerível (PD) +


Carboidrato Digerível +(2,25 x Gordura Digerível):

NDT % = %PD + %CD + (2,25 x %EED)


ANATOMIA DO TRATO DIGESTIVO DOS
RUMINANTES

Componentes do aparelho digestivo dos ruminantes:

 LÍNGUA Apreensão e deglutição do alimento;

 DENTES Ausência dos incisivos superiores; mastigação


pobre no momento da ingestão e intensa na ruminação;

 ESÔFAGO Órgão muscular e tubular, responsável por


levar o alimento até o rúmen e expelir os gases da
fermentação;
 Pré - estômagos:

1 - RÚMEN E RETÍCULO

- São separados por uma prega e podem ter um volume de 60 a


100 litros.

- Câmara de fermentação anaeróbica com gases presentes.

- Temperatura está entre 38 e 42º C.

- pH de 5,5 à 7

- População microbiana: Bactérias , Protozoários e Fungos.

- Responsável pela ruminação.


Anatomia e desenvolvimento do estômago de ruminantes

Rúmen

 Câmara fermentativa:
 1° compartimento do estômago;
 Mucosa interna - Papilas

Recém-nascido Ruminante

22 Nutrição de Ruminantes
Malafaia, PAM (2004)
Anatomia e desenvolvimento do estômago de ruminantes

Retículo

 Mucosa possui inúmeras pregas primária


que estão orientadas na forma de um
retículo ou “favo de mel”

23 Nutrição de Ruminantes
2- OMASO

 Função pouco definida, parece ser o selecionador de


partículas que seguem para o trato posterior ou
voltam para o rúmen.

 Possui numerosas pregas internas.

 Responsável pela reabsorção de líquidos e sais


minerais.
Anatomia e desenvolvimento do estômago de ruminantes

Omaso

 Orifício retículo-omasal;
 Laminas omasais;

25 Nutrição de Ruminantes
3- ABOMASO

 É o verdadeiro estômago (só aqui existe tecido de


secreção).

 Produção de suco gástrico.

 Ocorre a digestão de nutrientes da mesma maneira


que nos monogástricos.
Anatomia e desenvolvimento do estômago de ruminantes

Abomaso

 “Estômago verdadeiro”
 Epitélio glandular;
 Secreção de enzimas;
 Semelhante ao estômago do
monogástrico.
 Pregas abomasais;

27 Nutrição de Ruminantes
Compartimentalização ruminal

30 Nutrição de Ruminantes
Dinâmica ruminal

Objetivos

 Homogeneizar a digesta;

 Inocular microrganismos na digesta;

 Impede que o material fibroso (leve) flutue;

 Colabora na absorção de AGV;

 Colabora na taxa de passagem;

 Colabora na ruminação e na eructação.

31 Nutrição de Ruminantes
4 - INTESTINO

Converte os alimentos em componentes químicos que são


absorvidos pela corrente circulatória.

 Intestino delgado

- Sítio de digestão e absorção.

- Sistemas enzimáticos ativos - proteínas e lipídeos.

 Intestino Grosso

- Principal sítio de absorção de água possui atividade de


fermentação.
ENERGIA
MICROORGANISMO

1° 3°


METABOLISMO DE CARBOIDRATOS NO RÚMEN

1 ° passo: Carboidrato (amido, celulose ou hemicelulose) da


alimentação entra no rúmen e é quebrado pelos micro-
organismos (bactérias, protozoários e fungos).

2º passo: As bactérias utilizam a glicose da quebra desses


carboidratos, para produzirem energia necessária às suas
funções vitais.
3° passo: O subproduto formado pelas bactérias são
os Ácidos graxos voláteis (AGV’s); que são utilizados
pelo animal como fonte de energia.

4° passo: Os ácidos graxos principais são : Em maior


quantidade o Acetato, propionato e butirato, que são
absorvidos na parede do rúmen.
DESTINO DOS AGV’S
 Os AGV’s são produtos finais da fermentação sendo absorvidos
pelo TGI do ruminante, são importante fonteenergética.

-Acetato fígado : tecido adiposo (gordura de reserva) e glândula


mamária (formar a gordura doleite)

- Propionato fígado: glicose (principal destino)

- Butirato  parede do rúmen: utilizado como energia

RELAÇÃO ACETATO/PROPIONATO  FORRAGEM/CONCENTRADO


METABOLISMO DAS PROTEÍNAS E UTILIZAÇÃO DO
NITROGÊNIO NÃO PROTÉICO PELOSRUMINANTES
1° passo: Os alimentos compostos por proteína verdadeira ou
nitrogênio não protéico (NNP) quando entram no rúmen são
quebrados pelos micro-organismos.

2° passo: O nitrogênio dessa quebra somado à energia vinda


dos carboidratos é utilizado pelo micro - organismo, para
formarem as proteínas do seu próprio corpo (proteína
microbiana).

3° passo: Quando os micro-organismos findam seu ciclo de


vida, eles passam do rúmen para o abomaso (estômago
verdadeiro) onde são digeridos como qualquer outroalimento.
Proteína da ração
Uréia
Metano e CO2

Energia

Proteína
LIPÍDEOS NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES

 Os micro-organismos ruminais não utilizam gorduras como


fonte de energia.

 Pelo contrário, a gordura causa efeito tóxico nos micro-


organismos que digerem a fibra.

 Utilizar no máximo: 5 a 6 % da dieta (digestibilidade da fibra).


FIBRAS NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES
 O funcionamento normal do rúmen requer uma quantidade
mínima de fibra na dieta.

 Pelo menos 17 % de Fibra bruta.

 Fermentação normal.

 Porcentagem normal de gordura no leite.

 Não existência de doenças metabólicas: acidose ruminal,


laminite e etc.
MINERAIS

São essenciais em uma dieta corretamente balanceada.

São divididos em:

- Macro minerais: Ca, P, Mg, K, Na, Cl e S (exigência entre


0,2 a 1 % da Matéria seca).

- Micro minerais: Co, Cu, I, Fe, Mn, Se, Mo, eZn.


CLASSIFICAÇÃO DOS ALIMENTOS

1- Alimentos volumosos: “+” de 18 % de fibra bruta (FB) na


matéria seca e englobam forrageiras secas e grosseiras (fenos e
palhas), pastagens cultivadas, pastos nativos, forrageiras verdes e
silagens.

2- Alimentos concentrados: “-“ de 18% de fibra bruta (FB) e


podem ser divididos em:

a) Concentrados energéticos: ”-“ de 20% de proteína bruta


(PB) como exemplos temos: milho, sorgo, trigo, aveia, cevada,
frutas, nozes, e algumas raízes.
b) Concentrados protéicos: “+” de 20% PB. Ex: farelos de
soja, de amendoim, de girassol, de algodão, glúten de milho,
subprodutos de origem animal como: farinha de sangue, farinha
de carne e farinha de peixe.

3- Suplementos minerais: São fontes de macronutrientes


que são expressos em percentagem e de micronutrientes que são
expressos em parte por milhão (ppm) ou miligrama por
quilograma (mg/kg).

4 - Suplementos vitamínicos
Misturas de vitaminas que são adicionadas às rações, para
complementar as deficiências dos alimentos.
5 - Aditivos
Os aditivos entram em pequenas quantidades nas rações que são
compostas de antibióticos, corantes, anabolizantes, hormônios,
antioxidantes e fungicidas.
CONCENTRADOS
ENERGÉTICOS
Milho

 Alimento energético padrão.

 Utilizado principalmente na forma de fubá ou quirela.

 É o alimento mais utilizado como base energética de rações de


bovinos, suínos, aves e outros animais.

 Limites de inclusão de 3 kg/animal/ dia.

 Quantidades maiores deve haver manipulaçãoruminal.


Sorgo

 Possui em média 90 % do valor nutritivo do milho.

 Menor percentagem de óleo e o teor de proteína é de 1 a 2 %


maior que o milho.

 O revestimento externo é fibroso, o que prejudica a digestão.

 Possue uma toxina chamada de tanino, que tem o poder de


inibir algumas enzimas do sistema digestivo.

 Limite de inclusão de 3 kg/animal/dia.


Farelo de trigo

 É obtido do tegumento que envolve o grão.

 É um subproduto que tem proteína de melhor qualidade que o


milho.

 Rico em Potássio, niacina e Fósforo.

 Pode ser usado em até 30 % de concentradospara bovinos.

 Possui grandes quantidade de fibra bruta, devendo ser usado


em % mais baixa em animais jovens.
Mandioca

 Usado tanto na forma de raspas (desidratada) ou in natura;

 Baixos conteúdos de Proteína bruta (PB) e Fibra Bruta (FB) e


uma alta concentração de energia (NDT > 80%);

 Problema: mandioca brava, possui ácido cianídrico, que pode


matar o animal.

 Resolve-se o problema: Desidratação da planta (folhas e


raízes) através dos raios do sol.
CONCENTRADOS
PROTÉICOS
Farelo de soja

 Base protéica da dieta animal, fonte protéica mais utilizada no


mundo.

 Possui mais de 45 % de PB.

 Rico em aminoácidos essenciais, principalmente lisina e


metionina.

 Sem limitações de usos.

 Subproduto  extração de óleo de soja


Farelo de algodão

 2° principal substituto do Farelo de soja.

 Boa palatabilidade.

 Qualidade é variável (inclusão de casca)

 28 % a 38% de PB.

 Vacas de leite fornecer até 3 kg/UA/dia.


Caroço de algodão

 Utilizado como fonte de energia, proteínas e fibras;

 Possui boa quantidade de gorduras, sendo liberado lentamente


no rúmen, sem atrapalhar a digestão da fibra.

 Recomendações de uso:

 Animais jovens: não fornecer

 Reprodutores: não recomendado (gossipol causa esterilidade)

 Vacas de leite: 2 kg/UA/dia


Uréia

 Fonte mais barata de PB.

 Proteína 100 % solúvel.

 Não fornece energia ao animal.

 Possui o equivalente a 280 % PB.


AO USAR NNP, OBSERVAR:

 Estádio de desenvolvimento dorúmen.

 Adaptação ao consumo de uréia (nem todas as bactérias


utilizam NNP).

OPÇÕES DE MISTURA

Sal Mineral 30-60%


Volumosos 0,5-1,0%
Concentrados 1,5-3,0%
Melaço 10%
PARA NÃO ESQUECER!

URÉIA MAIS CANA DE AÇÚCAR

- 1a Semana: 100kg de cana picada, usar 500g da mistura de


uréia + sulfato de amônia (diluir uréia em 4 litros de água).

- 2a Semana: 100kg de cana picada, usar 1000g da mistura


de uréia + sulfato de amônia. (diluir em 4 litros de água).
1ª semana
2ª semana

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