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CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA FOLHA DA MORINGA (Moringa

oleifera Lamarck) EM PÓ

CARACTERIZACIÓN FISICOQUÍMICA DE LA HOJA DE MORINGA (Moringa


oleifera Lamarck) EN POLVO

PHYSICO-CHEMICAL CHARACTERIZATION OF MORINGA (Moringa oleifera


Lamarck) LEAF POWDER

Apresentação: Pôster

Marcos André Ferreira Gueiros1; Layra Catarina de Almeida Xavier 2; Krause


Gonçalves Silveira Albuquerque3; Suzana Pedroza da Silva4

Introdução
Moringa oleifera Lamarck é uma planta pertencente à família Moringaceae, nativa do
norte da Índia e amplamente cultivada nos trópicos de todo o mundo. É uma planta de fácil
cultivo, devido a sua capacidade de sobrevivência em períodos de seca, e que viabiliza o
proveito dos seus frutos, flores, folhas e sementes.
Devido ao seu elevado potencial nutricional, a Moringa pode ser utilizada no
enriquecimento de alimentos ou preparações cujos níveis de determinados nutrientes sejam
naturalmente baixos. Os produtos enriquecidos ou fortificados são alimentos aos quais foram
inseridos um ou mais nutrientes essenciais contidos naturalmente ou não no alimento, a fim
de favorecer o seu valor nutritivo e prevenir ou reparar a deficiência em um ou mais
nutrientes, na alimentação humana.
Em 4 de junho de 2019, foi publicada a Resolução nº 1.478 que proíbe a
comercialização, distribuição, fabricação, importação, propaganda de alimentos que
apresentem Moringa oleifera na sua composição, bem como Moringa oleifera como insumo
para alimentos baseada na ausência de avaliação e comprovação de segurança do uso da
espécie Moringa oleifera em alimentos. Juntamente devido a ocorrência de comercialização e

1
Bacharelado em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
marcosf_gueiros@hotmail.com
2
Bacharelado em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
layracatarina@gmail.com
3
Bacharelado em Engenharia de Alimentos, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
albuquerque.k.g.s@gmail.com
4
Doutora em Engenharia Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco, suzpedroza@gmail.com
divulgação irregular de produtos denominados e/ou constituídos de Moringa Oleifera com
alegações terapêuticas não permitidas para alimentos (BRASIL, 2019).
Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo a caracterização físico-química
da folha de Moringa Oleifera Lamarck em pó comercializada no município de Garanhuns
para fins de informação científica quanto ao produto.

Fundamentação Teórica
Segundo Olson e Fahey (2011) a Moringa oleifera Lam. é considerada uma hortaliça
de grande porte e longo ciclo de vida, além de apresentar elevada capacidade de sobrevivência
em diversas condições climáticas, inclusive em solos áridos.
Aliada à sua alta capacidade de adaptação, a moringa é uma hortaliça que permite o
aproveitamento das folhas, frutos verdes, flores e sementes torradas, com quantidades
representativas de nutrientes (OKUDA et al., 2000).
De acordo com Nkakwana et al. (2014) as folhas de Moringa oleífera Lam. têm
elevado potencial nutricional, tendo altos teores de proteínas, aminoácidos essenciais, fibras,
minerais e compostos antioxidantes, como vitaminas e polifenóis, carotenóides e cálcio.
Devido ao alto teor de proteínas, a farinha feita das folhas de moringa pode ser uma
alternativa no combate da desnutrição em curto prazo , principalmente em lactentes e crianças
(ANWAR et al., 2007).
Dentre os minerais encontrados nas folhas de moringa, destaca-se o ferro como o mais
relevante. Entre os carotenóides, destacam-se ß–caroteno e luteína, que além de conterem
baixos teores de substâncias antinutricionais, fazem com que a folha de moringa possa ser
consumida sem prejuízo nutricional (TEIXEIRA, 2012).
A Moringa oleífera Lam. é apontada como significativo suplemento de potássio,
vitamina do complexo B, além de possuir todos os aminoácidos essenciais. Cerca de vinte
gramas de folhas de moringa frescas por dia podem fornecer a quantidade necessária de
vitaminas A e C para uma criança (MATHUR, 2005).
Além de serem ricas em nutrientes, as folhas de moringa têm sabor agradável,
podendo ser consumidas de diversas formas, sendo seu sabor ligeiramente picante. As folhas e
hastes podem ser secas e usadas como condimento, polvilhando sobre os alimentos
(HELVIOB, 2007).
Metodologia
As folhas de moringa em pó utilizadas foram adquiridas em uma loja de produtos
naturais na cidade de Garanhuns. O fabricante informou apenas que a mesma foi obtida por
método de secagem por estufa. Os experimentos foram realizados no Prédio de Laboratórios
Multiusuários (LACTAL), no Laboratório de Análise de Alimentos da UAG/UFRPE.
Foram analisados os seguintes parâmetros: determinação de umidade, utilizando estufa
para secagem e esterilização FANEM, modelo 515-C a 105 ºC por 4 h; cinzas em mufla a
550 ºC por 3 h; atividade de água utilizando o PRE Water Activity Meter; pH com pHâmetro
TECNOPON MPA-210; acidez total titulável por método titulométrico utilizando solução de
NaOH 0,1 N e indicador fenolftaleína g ácido glutâmico/100g amostra; sólidos solúveis totais a partir
de refratômetro analógico (ARLA32)-SBC10; açúcares redutores pelo método
espectrofotométrico com DNS; determinação de lipídios pelo método de extração tipo Soxhlet
e proteínas pelo método de Kjeldahl com uso do destilador de nitrogênio Te-0363. Todas as
análises foram realizadas em triplicata, de acordo com as metodologias descritas por Detmann
et al. (2012), Maldonade, Carvalho e Ferreira (2013) e Instituto Adolfo Lutz (2008).

Resultados e Discussões
Na Tabela 1 têm-se as médias e desvios-padrão dos resultados da caracterização
físico-química da da Moringa Oleifera em pó avaliados.
O percentual de umidade encontrado nas amostras de Moringa oleifera em pó foi
9,986%. Valor que corroborou com o encontrado com o encontrado por Passos e
colaboradores (2012), que encontraram valor de 10,00% de umidade em folhas de moringa
secas. O valor de atividade de água na amostra analisada foi de 0,53. Valor próximo ao
encontrado por Passos e colaboradores (2012), onde foi encontrado valor de 0,39 para
atividade de água de folhas de moringa secas. Esses dois parâmetros estão entre os que mais
influenciam na qualidade de alimentos em pó, sendo de fundamental importância o seu
conhecimento para determinar melhores condições de conservação e armazenamento dos
mesmos, podendo influenciar diretamente na sua estabilidade e nas suas características
(SILVA et al., 2015). De acordo com Ordoñez (2005) alimentos com atividade de água
abaixo de 0,60 são microbiologicamente estáveis, não permitindo o crescimento de nenhum
microrganismo.
O teor de cinzas nas folhas de moringa em pó foi de 11,23%. O valor foi mais alto
que o encontrado por Pedral et al. (2015), no qual encontraram valor de 8,47 para cinzas em
folhas de moringa submetidas ao processo de desidratação por secagem convectiva.

Tabela 1: Resultados das análises físico-químicas da folha da Moringa Oleifera em pó.

Ensaio Valor

Umidade (% m.m.) 9,99 ± 0,02

Atividade de água 0,53 ± 0,03

Cinzas (% m.m.) 11,23 ± 0,244

pH 5,34 ± 0,01

Acidez total titulável (g ácido glutâmico/100g amostra) 2,80 ± 0,04

Açúcares redutores (% m.m.)* -

Proteínas (% m.m.) 20,21 ± 0,41

Lipídios (% m.m.) 8,96 ± 0,41


*(-) não foram encontrados valores para açúcares redutores
Fonte: própria.

Os valores de acidez total titulável e pH encontrados foram 2,80 e 5,34,


respectivamente. O valor de acidez encontrado foi menor que o encontrado por Santana et al
(2010) em folhas de moringa, que foi de 6,22. E o valor de pH encontrado foi próximo ao
encontrado por Passos et al (2012) em folhas de moringa secas, os quais encontraram valores
de 5,50. Não foram encontrados açúcares redutores em valores significativos (TABELA 01)
na folha de moringa.
O teor de proteínas encontrado na folha de moringa foi 20,21%. Valor inferior ao
encontrado por Santos e colaboradores (2019), que encontrou percentual de 29,84% de
proteínas em sementes de moringa. De acordo com Modesti et al. (2007) folhas verdes de
vegetais com alto teor de proteínas são apontados como alternativas alimentares no combate à
desnutrição, tendo em vista que essas folhas apresentam baixo custo e alta disponibilidade do
nutriente. Sendo assim, tem crescido o interesse na pesquisa por novas fontes proteicas não
convencionais para aplicação na indústria de alimentos.
O percentual de lipídeos, 8,96%, foi inferior ao encontrado por Guasqui et al. (2014)
que encontrou valor de 12,89% em farinha de Moringa oleifera. Os lipídeos são componentes
de grande importância na alimentação humana por conta das suas propriedades nutricionais,
funcionais e organolépticas. São fontes de ácidos graxos essenciais e transportadores das
vitaminas lipossolúveis A, D, E e K2 (PINHEIRO, PORTO E MENEZES, 2005). Portanto, é
importante considerar o impacto positivo da presença desse nutriente na formulação de novos
produtos.

Conclusões
Com os valores observados nesse trabalho, pode-se concluir que a folha de Moringa
Oleifera Lam. em pó apresentou alto potencial para a utilização na indústria de alimentos, por
conter elevado teor de proteínas, sendo atrativa para os consumidores, além de baixo valor de
umidade e atividade de água, sendo interessante a nível tecnológico. Sendo assim, pode ser
utilizada visando o desenvolvimento de novos produtos ou o enriquecimento de produtos já
em fase de deselvolvimento. Contudo, devido à ausência de conhecimento sobre a toxicidade,
cabem estudos mais aprofundados para verificar a viabilidade de seu uso nesse sentido.

Referências

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TEXEIRA, E. M. B. Caracterização química e nutricional da folha de Moringa (Moringa


oleífera Lam). Tese (Doutorado) – Universidade Federal Paulista. ”Julio de Mesquita Filho”.
Faculdade de Ciencias Farmaceuticas. Programa de Pós Graduacao em Alimentos e Nutricao.
p. 18. Sao Paulo, 2012.

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