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Hipertensão arterial: como

orientar o paciente para


prevenção e tratamento?
Postado em 26 de abril de 2023 | Autor: Natália Lopes

Alimentação cardioprotetora, exercício físico e outros hábitos saudáveis


regulam a pressão arterial.
Conteúdo
 Como identificar um paciente com hipertensão?
 Dieta para prevenção e tratamento da hipertensão
o Padrão alimentar saudável
o Baixo consumo de sódio
o Aumentar o consumo de potássio
o Moderar o consumo de bebidas alcóolicas
o Outros nutrientes benéficos
 Outras orientações para prevenção e tratamento da hipertensão arterial

A hipertensão arterial (HA), popularmente conhecida como “pressão alta”, é


uma condição multifatorial e frequentemente assintomática, que pode levar à
doenças crônicas e à morte prematura. Segundo a OMS, cerca de ⅓ das
mortes mundiais ocorrem devido à hipertensão.

Para prevenir e tratar a HA, a maneira mais simples e eficaz são as


intervenções de estilo de vida, que ajudam a manter ou controlar a pressão
sanguínea elevada.

Neste artigo, você irá encontrar as principais recomendações de prevenção de


tratamento desta condição, com base em recentes diretrizes de cardiologia.

Como identificar um paciente com


hipertensão?
A hipertensão arterial é identificada como valores sustentados de pressão
arterial sistólica (PAS) maior que 140 mmHg, e/ou valores de pressão arterial
diastólica (PAD) maior que 90 mmHg (ou seja, valor igual ou maior a
140/90 mmHg).

A aferição deve ser realizada por um profissional de saúde, em pelo menos


duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva. O
diagnóstico final pode ser feito através de exames específico, o Monitorização
Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA), solicitado pelo médico.

Na tabela abaixo, encontram-se as classificações da pressão arterial de acordo


com a aferição.

Categoria Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmH


Ótima ≤ 120 ≤ 80
Normal 120 a 129 80 a 84
Pré-hipertensão 130 a 139 85 a 89
HA estágio 1 140 a 159 90 a 99
HA estágio 2 160 a 179 100 a 109
HA estágio 3 ≥ 180 ≥ 110

Como antes dito, a hipertensão arterial é muitas vezes assintomática. Estima-


se que 20% dos indivíduos hipertensos desconhecem a presença da doença, e
apenas metade deles conseguem controlá-la.

A falta de diagnóstico é muito perigosa, uma vez que a hipertensão costuma


evoluir para alterações estruturais e/ou funcionais em órgãos-alvos, com
coração, cérebro, rins e vasos sanguíneos. Como consequência, os casos mais
graves são marcados por dor de cabeça, alterações na visão, náuseas e
vômitos.

É por isso que aferições frequentes da pressão sanguínea são sempre


recomendadas, principalmente para indivíduos com histórico familiar e outras
doenças relacionadas (obesidade, diabetes, dislipidemia, etc). Além disso,
outros exames que servem para acompanhar o curso da doença são:

 Perfil lipídico;
 Sódio e potássio;
 Glicemia de jejum;
 Hemoglobina glicada;
 Creatinina;
 Ácido úrico.

Dieta para prevenção e tratamento da


hipertensão
A nutrição é uma das grandes aliadas para prevenir ou tratar a hipertensão,
tendo em vista a influência dos alimentos e nutrientes na pressão sanguínea.

A seguir, você encontra as principais estratégias nutricionais voltadas para


prevenção e tratamento desta enfermidade.

Padrão alimentar saudável


A principal recomendação alimentar para prevenir ou tratar a hipertensão é
seguir um padrão alimentar saudável como um todo, que inclua frutas,
vegetais, grãos integrais, laticínios baixos em gorduras e peixes, em
detrimento da carne vermelha, açúcares, sódio e gorduras saturadas.

Neste sentido, várias opções de dietas estão disponíveis. Por exemplo, a dieta
DASH (“Dietary Approaches to Stop Hypertension”) é fortemente
recomendada. Este é um padrão alimentar que foca em grupos alimentares
com propriedades hipotensoras, ricos em cálcio, magnésio, fibras e potássio.
Outras dietas, como a dieta mediterrânea ou vegetariana, também se
mostraram eficazes em reduzir a pressão arterial e diminuir/eliminar o uso de
medicamentos em alguns pacientes.

No Brasil, a alimentação cardioprotetora (Dica Br) é uma ótima opção para


guiar a dieta do paciente. Aqui, os alimentos são divididos em quatro grupos,
como mostra a tabela a seguir.

Grupo verde (alimentos cardioprotetores) Verduras, frutas, legumes, leguminosas, leite e iogurte
Pães, cereais, macarrão, tubérculos, farinhas, oleaginos
Grupo amarelo (consumo moderado) vegetais, mel e doces processados (goiabada, doce de a
cocada, geleias…)
Carnes, queijos brancos e amarelos, ovos, manteiga, le
Grupo azul (baixo consumo) condensado, creme de leite, doces caseiros (bolos, torta
mousses…)
Alimentos ultraprocessados (salgadinhos, biscoitos, ca
Grupo vermelho (evitar) processadas, sucos industrializados, refrigerantes,
achocolatados…)

Baixo consumo de sódio


O consumo excessivo de sódio é um dos principais fatores de risco
modificáveis para a prevenção e o controle da hipertensão arterial.

Estudos mostraram que a redução de 1.8 g/dia no consumo de sódio é


suficiente para reduzir em até 5.4 mmHg a pressão sistólica de indivíduos
hipertensos. Neste sentido, a maioria das diretrizes recomendam uma ingestão
máxima de 2 g/dia (ou 5 g de sal de cozinha), sendo que o ideal é < 1.5
g/dia.

A redução do sódio pode ser alcançada de diversas maneiras:

 Diminuir o sal adicionado no preparo das refeições;


 Diminuir alimentação ultraprocessados;
 Atenção ao rótulo de alimentos industrializados, para escolher aqueles com menor teor
de sódio;
 Não usar o sal de mesa;
 Optar por ervas, especiarias e misturas de temperos secos (sem sal);
 Utilizar substitutos de sal contendo cloreto de potássio e menos cloreto de sódio (30 a
50%).

Aumentar o consumo de potássio


O potássio reduz a pressão arterial por meio da melhora na vasodilatação. Sua
ingestão elevada parece reduzir o impacto negativo do consumo exagerado de
sódio. Por isso, a ingestão de alimentos ricos em potássio deve ser
incentivada.

Aqui, a alimentação é preferencial à suplementação, pois a presença de


outros nutrientes na matriz alimentar melhora sua biodisponibilidade. Além
disso, a suplementação é contraindicada na presença de doença renal crônica
ou sob uso de medicação que reduz a excreção de potássio.

O consumo diário recomendado é de 4.5000 mg/dia, facilmente alcançado


com um dos padrões alimentares citados anteriormente. Em estudos, a
ingestão de 3.500 a 5.000 mg/dia acarretou uma diminuição de 5,3 mmHg na
PAS e 3,1 mmHg na PAD.

Em particular, alguns alimentos ricos em potássio são: beterraba, acelga,


espinafre, batata, extrato de tomate e feijão azuki.

Moderar o consumo de bebidas alcóolicas


Estima-se que o consumo excessivo de álcool seja responsável por 10 a 30%
dos casos de hipertensão arterial. Por isso, é recomendado que o consumo de
álcool seja moderado. Pacientes abstêmios (que já não bebem) não devem ser
incentivados a beber.
Em uma metanálise recente, em indivíduos que bebiam mais do que dois
drinques por dia, a redução no consumo de álcool associou-se com uma
redução de 5,5 mmHg na pressão sistólica e 3,97 mmHg na pressão diastólica.

A orientação é que o consumo diário não ultrapasse 2 doses para homens,


ou 1 dose para as mulheres. Ficar livre de álcool durante a semana e evitar
seu consumo excessivo no fim de semana pode ser uma estratégia eficaz.

Outros nutrientes benéficos


Alguns alimentos e nutrientes vêm sendo investigados pela ciência, dado aos
seus possíveis efeitos benéficos na hipertensão arterial. Veja-os adiante.

Café: seu consumo tem sido associado a um efeito discreto de redução no


risco de hipertensão, que pode ser explicado pela cafeína e por seus seus
compostos bioativos (polifenóis, magnésio, e potássio). As diretrizes
recomendam que não se ultrapasse o consumo de 200 mg/dia, e os hipertensos
com pressão não controlada devem evitar a cafeína.

Chás: alguns chás ricos em antioxidantes e antocianinas parecem reduzir a


pressão arterial. São eles: chá de hibisco, chá verde e chá preto.

Magnésio: pode ajudar a moderar a pressão, compete com o sódio pelos


locais de ligação em células vasculares, e reduz a disfunção endotelial em
pacientes hipertensos.

Ácido fólico: em estudo anterior, mulheres que consumiam uma alta


quantidade de folato (≥ 1000 μg por dia) tinham apenas ⅓ de risco de
desenvolver hipertensão, em comparação àquelas que consumiam menos de
200 μg/dia.
Demais alimentos/nutrientes com sugestão da pressão arterial são: alho, cacau,
chocolate 70%, soja, linhaça, ômega-3, vitamina C, vitamina D3 e nitratos
orgânicos.

Outras orientações para prevenção e


tratamento da hipertensão arterial
Além da alimentação, outras recomendações podem ser feitas a fim de
prevenir e tratar a hipertensão arterial.

O tabagismo, por exemplo, é o único fator de risco totalmente evitável de


doença e morte cardiovascular. Por isso, evitar experimentar cigarros ou
cessar seu uso são recomendações plausíveis na hipertensão.

Além disso, a atividade física diminui o risco de hipertensão em 10 a 20%.


Para aqueles que já estão hipertensos, uma recente revisão demonstrou a
eficácia dos treinos de força em reduzir significativamente a pressão arterial.
Profissionais capacitados devem ser procurados.

Juntamente à dieta e à atividade física, o controle do peso deve ser uma


prioridade na prevenção ou tratamento da hipertensão. Em pacientes
hipertensos, a cada quilo perdido, é esperada uma diminuição de 1 mmHg na
pressão.

Como vimos, são diversas as formas de evitar ou promover o manejo da


hipertensão arterial. Dentre elas, a nutrição exerce um importante papel.

De modo geral, um padrão alimentar saudável e equilibrado, em conjunto com


a baixa ingestão de sódio, bebidas alcoólicas e outras intervenções de estilo de
vida podem promover uma mudança significativa nos níveis de pressão
sanguínea.
Leia também:

 Hipertensão gestacional – Diretrizes, causas e recomendações


 Dieta DASH ou perda de peso: o que controla hipertensão?
 Questionário de frequência alimentar para pessoas com hipertensão

Referências:

Benjamin EJ, Virani SS, Callaway CW, Chamberlain AM, Chang AR, Cheng
S, et al. Heart disease and stroke statistics-2018 update: A report from the
American Heart Association. Circulation. 2018;137(12):e67-492.

Barnard ND. Hypertension. In: Physicians Committee for Responsible


Medicine, ed. Nutrition Guide for Clinicians. 3rd ed. PCRM; 2021.

Correia, R. R., Veras, A. S. C., Tebar, W. R., Rufino, J. C., Batista, V. R. G.,
& Teixeira, G. R. (2023). Strength training for arterial hypertension treatment:
a systematic review and meta-analysis of randomized clinical trials. Scientific
Reports, 13(1), 201.

Lichtenstein, A. H., Appel, L. J., Vadiveloo, M., Hu, F. B., Kris-Etherton, P.


M., Rebholz, C. M., … & American Heart Association Council on Lifestyle
and Cardiometabolic Health; Council on Arteriosclerosis, Thrombosis and
Vascular Biology; Council on Cardiovascular Radiology and Intervention;
Council on Clinical Cardiology; and Stroke Council. (2021). 2021 Dietary
Guidance to Improve Cardiovascular Health: a Scientific Statement From the
American Heart Association. Circulation, 144(23), e472-e487.

Teixeira RAA, Abreu LQ, Alvares-Teodoro J, Marins TB, Silva MRF,


Silveira EA. Protocolo de Terapia Nutricional para Pacientes com Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS) Adulto. Hospital de Clínicas da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro. 2020.
Vieira, L. P., Gowdak, M. M. G., & Klein, M. R. S. T. Abordagem nutricional
na hipertensão arterial: recomendações das diretrizes Brasileira (DBHA),
Americana (AHA), Internacional (ISH) e Europeia (ESC). Hipertensão, v. 24,
Número 1, Ahead of Print, 2022.

Dieta DASH ou perda de peso: o


que controla hipertensão?
Postado em 6 de dezembro de 2021

O estudo foi realizado na Inglaterra e contou com 2.424 mulheres

Conteúdo
 O estudo populacional
o A dieta DASH e sua ligação com o IMC
Imagem: Shutterstock

De origem multifatorial, mas principalmente associada a alimentação,


sedentarismo e obesidade, a hipertensão (HAS) é uma das comorbidades mais
prevalentes no mundo.

Devido a importância da alimentação consumida, a dieta DASH (Dieta de


Abordagens Dietéticas para Parar a Hipertensão) foi desenvolvida e tem sido
recomendada como estratégia de tratamento para essa doença. Nesta dieta é
preconizada a adoção de uma alimentação rica em frutas, vegetais, grãos
integrais, peixes, nozes e laticínios com baixo teor de gordura, como forma de
prevenir a HAS.
No entanto estudos preliminares mostram que além de prevenir e reduzir os
sintomas da hipertensão, a dieta ainda teria efeitos contra eventos
cardiovasculares, câncer e na obesidade, logo que, teria relação com redução
do IMC nesses casos.

A fim de entender a relação um estudo britânico recente investigou os efeitos


da dieta DASH na redução do IMC (Índice de Massa Corporal) e hipertensão,
com enfoque na exploração das vias metabólicas relacionadas a esse declínio.

O estudo populacional
O recrutamento a partir dos inscritos no TwinsUK e incluiu 2.424 mulheres
gêmeas, com idade média de 58 anos, hipertensas em uso de medicamentos
anti-hipertensivos, sendo coletados dados de IMC, pressão arterial e ingestão
alimentar por um período de 3 anos por meio de um Questionário de
Frequência Alimentar (QFA).

Além disso, foi avaliada a adesão à dieta Dash a partir de um escore e


identificado um painel de metabólitos associado à dieta e ao IMC.

A dieta DASH e sua ligação com o IMC


Foi se observado que o efeito da dieta DASH na hipertensão está associado
diretamente com a redução do IMC das participantes, por aturem na mesma
via metabólica, ou seja, a redução de peso promovida pela dieta está mais
ligada com o controle da hipertensão do que a dieta em si.

Por fim, os pesquisadores ressaltam que essa descoberta pode trazer inúmeros
benefícios na saúde global e influenciar recomendações dietéticas na
prevenção da hipertensão, no entanto, novos estudos devem ser realizados
para se ampliar e entender melhor essa relação.
Veja também: Questionário de frequência alimentar para pessoas com
hipertensão

Referência

Louca, P, Nogal, A, Mompeo, O, Christofidou, P, Gibson, R, Spector, TD, et


al. Body mass index mediates the effect of the DASH diet on hypertension:
common metabolites underlying the association. J Hum Nutr Diet. 2021; 1–
9.

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Michelle Grillo Barone


Nutricionista. Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela BRASPEN.
Especialização em Fitoterapia pela Ganep. Especialização em Nutrição
Clínica pelo Centro Universitário São Camilo. Coordenadora de projetos e
inovação do Ganep Educação e Nutritotal

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