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arte e esporte na

arquitetura do espaço público

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA | UFSC


Trabalho de Conclusão de Curso • Arquitetura e Urbanismo | 2015.2
Acadêmica: Ivana Cristina Bernart • Orientadora: Karine Daufenbach • Coorientador: Américo Ishida
Florianópolis, março de 2016
Que a rua não seja apenas um percurso rápido, temeroso, entre um muro
e outro. Que nela existam as mais diversas expressões de afeto e construções de
significados coletivos, que garantam o acesso, a preservação e a construção
da memória de seu povo, pois “o tempo da memória, afinal, não é apenas o
tempo que já passou, mas o tempo que nos pertence”. (CANTON, 2012, p. 58).
1. INTRODUÇÃO

Vive-se um momento em que o cenário das trocas e relações humanas vem sendo
drasticamente afetado pela sociedade. As novas formas de viver e se relacionar com o
outro e com a cidade colocam em risco a permeabilidade entre o dentro e o fora, entre
a rua e o muro, decodificando como intrusão e ameaça. A rua e o espaço público, que
seriam o lugar de todos, passam a ser o lugar de niguém e, o que se nota, é a gradativa
perda da capacidade e apatia dos relacionamentos interpessoais, tornando cada vez
mais difícil o convívio e respeito com o espaço do outro.
Encontra-se, porém, na arte e no esporte grande potencial educativo de
autodesenvolvimento e relações com o próximo. É o espírito do “crescer junto” do trabalho
em equipe e os ensinamentos de uma arte que aceita e acolhe a expressão que for que
rompem com a ilusão da auto suficiência humana - presente na era digital - e abrem
portas a outros horizontes e perspectivas de vida, proporcionando trocas e contribuindo
como agentes de resistência e construção da identidade coletiva de uma sociedade.
A visão de arquitetura aqui incorporada tem a pretensão de deslocar a arquitetura
do âmbito dos objetos (como edificação pura e simples) para o âmbito das relações,
como um conjunto de interações entre os usuários que é mediado pela edificação. O
corpo em movimento é a peça chave como o agente que articula o tempo e o espaço
no evento, pois a arquitetura é irreversível, mas o vazio relacional que ela propõe propicia
as trocas e faz dela uma arquitetura que se faz e refaz na relação com o usuário, que
altera a qualidade desse espaço quando nele de movimentam.
A partir do momento em que o uso social da rua e dos espaços públicos não são
pensados, há desperdício da riqueza das trocas que só acontecem nesses lugares e que
fazem as cidades serem tão únicas e diferentes entre si.
Há uma necessidade social e uma inquietação pessoal do resgate da rua como um
espaço qualificado para ser vivido, e não apenas percorrido.
Um equipamento aberto à comunidade é uma pausa urbana que oferece um
lugar de encontro e troca, trocas pelas quais a sociedade vem tendo dificuldade em
estabelecer por conta de seu novo modo e ritmo de vida, em que “nem mais parecemos
habitar o tempo e o espaço, e sim a viver a velocidade instantânea, a fosforescência das
imagens, a instantaneidade hipnótica.” (Pelbart Pál; Peter, Tempos Agonísticos).
Sendo assim, “o tempo contemporâneo surge como um elemento que perfura o
espaço, substituindo a sensação de objetivação cronológica por uma circularidade
plena de instabilidade. Turbulento, esse tempo parece fugaz e raso. Retira as espessuras
das experiências que vivemos no mundo, afetando inexoravelmente nossas noções de
história, de memória, de pertencimento.” (CANTON, 2012, p. 20).
1. INTRODUÇÃO

Entende-se que melhorar a qualidade de vida das pessoas é também papel da


arquitetura e do que ela oferece para a cidade enquanto espaço público. A arte, a
cultura e o esporte entram em cena para contribuir na “promoção de cidades vibrantes,
cidadãos saudáveis e comunidades fortes.” (COLKER, 2015). Entretanto, muitas vezes os
espaços de arte e esporte, por serem institucionalizados, acabam negligenciando em seus
aspectos formais o seu espírito de coletividade, relações e trocas. Essas manifestações
culturais podem e devem ocupar o espaço da rua, produzir para a cidade, romper com
os limites impostos por galerias, museus, ginásios, em que existe o “lugar de”. O lugar
de todas essas expressões não poderia ser mais rico sob a forma de disseminação e
democratização dos espaços, de modo a trabalhar a cidade como um grande palco
de produção cultural e manifestação da vida pública.

1.1. JUSTIFICATIVA
Diante da análise global, pode-se partir para uma aproximação da realidade do
local de intervenção e traçar possibilidades.
Viu-se, no local de implantação, grande potencial para trabalhar um espaço
para a comunidade, em que vários espaços públicos residuais, decadentes e, por
vezes, subutilizados, abrissem espaço para o exercício da vida pública e suas trocas e
manifestações culturais, assim como oportunizar o acesso à arte e ao esporte em um
espaço público de localização estratégica em relação ao transporte público, acessos e
heranças históricas locais que potencializam seu sentido de existir ali, nesse local.

1. 2. OBJETIVOS

1. 2.1. Objetivo Geral


Este trabalho tem como objetivo geral propor um Complexo Cultural e
Esportivo na cidade de Concórdia-SC, aberto à comunidade e que favoreça
as trocas e relações por meio de atividades educacionais voltadas à arte e ao esporte, e
compartilhando o espaço com áreas de lazer para toda a população, de acordo com
suas demandas locais e suas heranças históricas de seu local de implantação.
1. INTRODUÇÃO

1. 2. 2. Objetivos Específicos
Tem-se como objetivos específicos dar suporte espacial para que as atividades e as
trocas aconteçam de maneira a não negar possíveis experimentações de ocupações al-
ternativas para a prática das mesmas; acolher a demanda local com espaços para lazer e
manifestações culturais; incorporar o entorno ao projeto de maneira a qualificar o espaço
como um todo; proporcionar equipamentos e espaços de uso público e coletivo; incitar
a preservação do patrimônio edificado e da memória coletiva; acolher e incorporar ati-
vidades existentes no local de intervenção; propiciar o acesso da arte e do esporte para
todos; retomar o espaço público como espaço de vivência; estabelecer um contato mais
próximo com a comunidade.
2. O LUGAR
2.1. LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA

A proposta foi pensada para a cidade de


Concórdia-SC, situada no oeste do estado, cerca de
450km da capital Florianópolis.
A colonização em Concórdia iniciou através
dos trabalhos da companhia estrangeira Brazil
Development Colonization Company, que atraiu
colonos italianos e alemães do Rio Grande do Sul para
a região. A cidade caracterizou-se, inicialmente, pela SANTA CATARINA
pequena propriedade dedicada à agricultura.
Hoje, após 81 anos de sua fundação, Concórdia
tornou-se uma cidade de porte médio, com
aproximadamente 72 mil habitantes (CENSO IBGE
2014).
Sua economia é baseada na agroindústria,
agropecuária e serviços. Essas informações são
CONCÓRDIA
relevantes para entender o processo de formação da
cidade e sua população, pois foi em Concórdia que
foi fundada, em 1944, a empresa Sadia.
Localização da Sadia no mapa da cidade.

Mapa da cidade de Concórdia-SC. Fonte: Google Earth


2. O LUGAR

Vistas panorâmicas da fábrica e da cidade. Concórdia, 1954.


Acervo histórico da Sadia.

A fundação da Sadia trouxe para o município um grande impacto social, gerou


muitos empregos e por vários anos a população se colocou fortemente a serviço da
grande indústria. Com grandes jornadas de trabalho, pouco espaço restou para o lazer e
o exercício do desenvolvimento pessoal da comunidade, fator que trouxe consequências
na configuração espacial do município, com poucos espaços destinados ao lazer e à vida
pública.
A preocupação em inserir espaços destinados ao lazer e cultura na cidade são muito
recentes, como pode-se observar no mapeamento a seguir:

RECORTE DA
ÁREA CENTRAL

Mapeamento das atuais áreas destinadas ao lazer público


2. O LUGAR

1 | MEMORIAL ATTILIO FONTANA

Sediado na antiga residência do


fundador da Sadia, o memorial inaugurou
no ano 2000, transformando-se em espaço
cultural destinado à comunidade para
exposições artísticas, históricas e culturais,
cursos, eventos educacionais e musicais.

2 | CENTRO CULTURAL CONCÓRDIA

Ainda aguardando ser inaugurado,


o Centro Cultural irá abrigar o museu da
cidade, a biblioteca municipal (atualmente,
ambos têm suas instalações provisórias em
salas comerciais inadequadas), o arquivo
histórico e também algumas obras de
Leonardo Boff.

3 | RUA COBERTA

Inaugurada em 2015, a rua coberta


acolhe shows e eventos da cidade. Nos finais
de semana ela é exclusiva para pedestres,
que se apropriam das mais variadas formas.

4 | PRAÇA DOGELLO GOSS

A praça Dogello Goss está presente na


história mesmo antes da emancipação do
município. É a maior área verde de lazer
do recorte central da cidade e conta com
parque infantil, concha acústica, sanitários
públicos e uma fonte de água dançante.
2. O LUGAR

5 | ESTÁDIO MUNICIPAL

Com a construção do campo em 1962,


das arquibancadas em 1990 e da pista
de atletismo em 1995, o estádio municipal
é hoje a sede dos jogos do Concórdia
Atlético Clube e também conta com
escolinhas de futebol, atletismo e tênis
de mesa. A pista de atletismo também é
utilizada pela comunidade para a prática
de caminhadas.

6 | FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA


(CASA DA CULTURA)

O projeto é de 1989 e a casa oferece


oficinas gratuítas de dança, música, teatro
e artesanato. Situam-se também, no mesmo
edifício, o Teatro Municipal Maria Luiza de
Mattos e a sede do Coral Santa Cecília.

7 | PARQUE DE EXPOSIÇÕES

O parque situa-se a aproximadamente


3km do centro da cidade e é palco de
grandes feiras e eventos que reunem
sobretudo lazer e agronegócio. O maior
deles é a Expo Concórdia, realizada a cada
dois anos.

Com base na análise, pode-se concluir que atualmente a cidade procura proporcionar
espaços para desenvolvimento pessoal e interpessoal da população e, felizmente, isso se
dá porque a comunidade hoje é ciente da necessidade e importância desses espaços e,
assim, os exije.
Ainda assim, é notável que grande parte desses equipamentos conserva o modo
tradicional de edificações institucionalizadas, em que pouco se articulam com a rua e o
seu entorno próximo, a fim de trabalhar a cidade e a qualificação de seus espaços como
um todo. A rua continua sendo apenas um elemento de ligação e circulação de um
ponto ao outro da cidade.
3. AS PESSOAS

3.1. A COMUNIDADE

Concórdia sempre reconheceu em seu povo


forte mentalidade de convivência comunitária.
Mesmo com a carência de espaços públicos
qualificados na maior parte da sua história,
a população recebe e participa ativamente
de manifestações culturais, como as rodas de
chimarrão na praça e em casa de vizinhos e
RODA DE CHIMARRÃO E JOGO DE a tradicional festa do vizinho, que acontece
CARTAS NA PRAÇA DOGELLO GOSS.
todos os anos. Essas atividades traduzem uma
convivivência na escala de bairro, característica
forte da cidade. No entanto, nota-se que
tais atividades que incitam a preservação e
construção da identidade coletiva partem da
iniciativa da população de maior idade, assim
como também é possível notar que, com o gradual
crescimento da cidade, as relações de vizinhança
são afetadas pouco a pouco pela verticalização
do morar, sobretudo na região central, que altera
a escala das relações e distancia-se cada vez
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS - mais da identidade local.
CHIMARRÃO NA RUA COBERTA
Preparativos para a festa do vizinho.

FESTA DO VIZINHO - Todos os anos os bairros se


organizam e fazem uma festa da vizinhança.
Fecha-se uma rua do bairro e faz-se festa o dia
todo, com churrasco, chimarrão e brincadeiras.
3. AS PESSOAS

VERTICALIZAÇÃO NO CENTRO DA CIDADE.

A população jovem - assim como acontece no restante do mundo - vive um


momento em que o avanço da tecnologia e globalização acarreta em regresso das
relações humanas e crise de identidades locais. Padronizam-se costumes, esvaem-se
relações. A convivência parece não mais precisar ser tolerada, aceita e, sobretudo,
respeitada.

MUDANÇA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS COM O AVANÇO DA TECNOLOGIA

Apesar disso, sabe-se que a parcela da população – especialmente jovens - que


tem a oportunidade de entrar em contato com atividades de desenvolvimento pessoal,
seja no campo da arte ou do esporte, tendem a interpretar a vida de forma mais coletiva,
sensível e humanitária, refletindo tais qualidades em suas ações sociais.
Felizmente, é possível identificar uma notável comunidade artística e esportiva na
cidade e, diante disso, analisar de que maneira suas expressões são manifestadas.
3. AS PESSOAS

3.1.1. ARTISTAS LOCAIS


Tornou-se costume nos últimos anos propagar a arte pela cidade nas mais variadas
formas. Performances de teatro, dança, música, pintura são comumente encontradas
fora do palco tradicional a fim de divulgar os trabalhos e tornar o contato com o público
mais direto, rompendo com os limites impostos pelas galerias e museus, bem como com
as relações verticais de artista e público. Com sucesso, essas iniciativas fomentaram a
participação por parte da população para tais atividades.

Espetáculo de dança ao ar livre, no Memorial Attilio Fontana.

Performance para alunos, no Memorial Attilio Fontana.


Apresentação de dança em
praça de alimentação.
4. AS ESCOLHAS

4.1. RECONHECIMENTO DO LUGAR


4.1.1. Equipamentos
Com o aumento do interesse por parte da comunidade em participar das atividades
artísticas e culturais da cidade, o aumento da demanda nas instituições se fez bastante
significativo.
Encontra-se, na Fundação Municipal de Cultura (também conhecida por Casa
da Cultura), uma oportunidade de atender esse aumento da demanda local. Com um
importante papel de inclusão social, a Casa oferece hoje, sem fins lucrativos, aulas de
dança, teatro, música e artesanato.
No entanto, seu espaço físico já não comporta essa demanda e a fila de espera é
bastante grande. Em levantamento feito no local, foi possível situar-se das atuais condições
da instituição, no qual tomou-se conhecimento de que não há vagas apenas por falta de
espaço físico, sendo que professores teriam disponibilidade de horários.

Levantamento realizado em abril


de 2015 em visita à instituição.

Fundação Municipal de Cultura (FMC) - Concórdia, SC.


4. AS ESCOLHAS

O terreno na Casa da Cultura compartilha espaço com o Estádio Municipal, todavia


não existe qualquer relação entre os dois equipamentos públicos, como é possível observar
abaixo.

Fundação Municipal de Cultura

Estádio Municipal
Domingos Machado de Lima

A ausência de relação entre os dois equipamentos


públicos - e entre cada um e a rua - se dá pela fachada
cega da Fundação - local onde se encontra a caixa cênica
do Teatro Municipal - e os fundos da arquibancada existente
no Estádio Municipal (que também possui um paredão cego,
sem uso abaixo das arquibancadas). As implantações não
levaram em consideração a proximidade dos equipamentos
e suas possibilidades de relações entre si e com o espaço
da rua, no qual também se nota a imponente presença do
muro do Estádio contornando grande trecho da quadra,
sem qualquer permeabilidade - assim como demanda, por
questões de segurança e logística, um Estádio de Futebol.

Muro do Estádio Municipal e, ao fundo, a Fundação Municipal de Cultura.

O Estádio Municipal também possui papel importante na inclusão social da


comunidade. Embora seja a sede dos jogos do Concórdia Atlético Clube, são nas
escolinhas de futebol de campo, atletismo e tênis de mesa que encontram-se o grande
potencial do equipamento comunitário. As escolinhas, assim como na Casa da Cultura,
não têm fins lucrativos e são as atividades que mais movimentam o local, principalmente
pela sua localização privilegiada – área central da cidade - que facilita o acesso.
Outra atividade bastante presente no Estádio são as caminhadas realizadas pela
população, que compartilha a pista de atletismo com a escolinha.
4. AS ESCOLHAS

Campeonato interno de atletismo - Encerramento de final de ano

Escolinha de atletismo Escolinha de futebol

A situação atual do Estádio Municipal é, porém, um pouco delicada. Há previsões de


mudanças pelo Plano Diretor da cidade, no qual a prefeitura propôs o deslocamento do
Estádio e do Terminal Rodoviário - que encontra-se ao lado - para fora da região central.
Ambos os terrenos já teriam novas previsões de uso: o Terminal Rodoviário se transformaria
em um Terminal Interurbano, que faria conexões com a nova rodoviária, e o local do
Estádio Municipal foi destinado a um uso social e comunitário através de uma área de
lazer para a comunidade. Sabe-se, porém, que as intenções de mudança do Estádio vem,
na verdade, de um interesse para a abertura do capital imobiliário, visto que se trata de
uma grande área em local privilegiado e de crescimento da cidade.
4. AS ESCOLHAS

Primeira proposta de Terminal Urbano


lançada no Plano “Concórdia 2030”.
Hoje a proposta é que se crie um Terminal
Interurbano, pois a cidade adotou o
sistema de cartão inteligente de ônibus.

Lançamento de ideia do Complexo de


Cultura e Lazer - pela imagem, nota-se que
a área do Estádio daria lugar a um parque.

Ambas as propostas são projetos da prefeitura apresentados no caderno “Concórdia 2030”.


4. AS ESCOLHAS

Diante da análise das propostas de mudança pela prefeitura, considera-se que é


bastante conveniente para a população que se destine um espaço da região central
para o lazer, principalmente quando se trata de criar áreas livres, como parques e praças.
Hoje existe somente a praça Dogello Goss que cumpre esse papel no centro da cidade. No
entanto, é incabível transformar todo o espaço em um grande parque e desconsiderar a
função social que o uso do Estádio proporciona para a população através das atividades
gratuítas oferecidas.
A transformação do Terminal e a proposta de conexão entre eles, no entanto, condiz
com uma necessidade real de viabilizar linhas de ônibus, pois hoje o acesso à rodoviária é
um pouco dificultado por necessitar adentrar a cidade – aproximadamente 7km de pista
sinuosa – fazendo com que muitas linhas não aceitem fazer desvio do trajeto.

4.1. 2. Sítio
Com base na escolha do lugar, no reconhecimento das pessoas e dos equipamentos
com potencial de intervenção, o terreno surge não como uma escolha puramente física,
mas sim como o resultado de considerações históricos e sociais do seu local de implantação,
no qual surge uma possibilidade de resgate do espaço público junto a nova proposta de
intervenção, a fim de requalificar os equipamentos existentes.

Mapa da cidade de Concórdia e identificação do local de intervenção


4. AS ESCOLHAS

ÁREA DE INTERVENÇÃO PRAÇA DOGELLO GOSS

Vista aérea da cidade com o local de intervenção.


Na imagem acima, uma vista aproximada do terreno, situada pela flecha amarela na imagem aérea.

SAÍDA DA CIDADE - SENTIDO BR-153

Cabe destacar que a sua localização é extremamente estratégica no que diz respeito
a acessibilidade, pois encontra-se no recorte central da cidade, próximo a principais vias
e demais equipamentos importantes – como escolas e shopping - e ao lado do futuro
Terminal Interurbano.
4. AS ESCOLHAS
RECORTE DA ÁREA CENTRAL DA CIDADE

ESCOLA

ESCOLA

ESCOLA
700m
INSS
CORPO DE
VIA PASSARELA
BOMBEIROS
IGREJA E
CENTRO
COMUNITÁRIO

PREFEITURA PRAÇA
MUNICIPAL

ENTORNO - EQUIPAMENTOS SIGNIFICATIVOS (EM UM RAIO DE 700m):


|  1 escola de ensino fundamental da rede pública
|  2 escolas particulares
|  Praça Godello Goss
| Prefeitura
|  Igreja Católica e Centro Comunitário
| Corpo de Bombeiros Voluntários de Concórdia-SC
| INSS
|  Shopping Via Passarela

RUA DOUTOR MARURI - via principal que corta o centro da cidade

DEMARCAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

O entorno do terreno em estudo, ainda, apresenta alguns espaços públicos residuais


e, por vezes, decadentes e subutilizados, mas com grande potencial de incorporação a
proposta de qualificação do espaço como um todo.
4. AS ESCOLHAS
Terminal Rodoviário Estádio Municipal Casa da Cultura

PISTA DE SKATE

“QUINTAL” DO INSS
4. AS ESCOLHAS

4.1.3. Intenções e possibilidades de Intervenção


Com base no exposto, viu-se uma oportunidade de aproveitar o equipamento já
existente da Casa da Cultura – que encontra-se em boas condições de uso - e ampliar o
seu espaço (que já não condiz com a demanda atual) e suas possibilidades, de maneira
a relacioná-la com a cidade e seu entorno próximo. Foi importante trabalhar com
preexistências físicas de maneira a não negar as heranças históricas e culturais do local, e
sim incorporá-las e valorizá-las a fim de introduzir, através de estratégias de projeto, noções
sutis de preservação do patrimônio edificado, sem abrir mão do novo equipamento que
se faz necessário.
Foi necessário também reavaliar o uso do Estádio Municipal em seu local de
implantação. Considerando a análise feita anteriormente das mudanças previstas pelo
Plano Diretor do Município, optou-se por propor um espaço que não mais se caracteriza
como um estádio oficial - que possui usos e acessos restritos e apresenta impermeabilidades
espaciais, pois necessita que seu perímetro seja fechado por conta dos dias de jogos. O
novo espaço evidencia um equipamento aberto à comunidade e com diversidade de
usos, de forma a garantir espaços de lazer para a população sem abrir mão dos usos
preexistentes mais significativos que o Estádio proporciona hoje, que são as escolinhas
esportivas.
Estes espaços, de arte e esporte, se relacionam e compartilham espaços de maneira
a promover trocas de diferentes manifestações culturais e respeito ao espaço do outro
através da convivência coletiva.
Com base nessas intenções, inicia-se o processo projetual do objeto de estudo.
5. CONSIDERAÇÕES LEGAIS

A partir da clareza das intenções iniciais, foi necessário analisar se as considerações


legais eram compatíveis com as intenções para a área de intervenção.
Segundo o macrozoneamento da cidade, o terreno situa-se na Zona Central e, de
acordo com o zoneamento, a classificação é de Zona Central 3, conforme mostram os
mapas abaixo:

MAPA DO MACROZONEAMENTO DA CIDADE DE CONCÓRDIA-SC

DEMARCAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO


5. CONSIDERAÇÕES LEGAIS

MAPA DO ZONEAMENTO DA
CIDADE DE CONCÓRDIA-SC

DEMARCAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO


5. CONSIDERAÇÕES LEGAIS

Segundo a legalidade, a implantação de um equipamento comunitário municipal


(E2) na Zona Central 3 é classificada como tolerável, ou seja, as intenções estão de acordo
com a lei municipal.

TABELA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO RETIRADA DO PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO.


6. O PROJETO

6.1. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO


Tomando como base as análises e tomadas de decisões até aqui e respeitando as
preexistências físicas e sociais do local de implantação, as estratégias de intervenção
para a área são:
|  Respeitar a insolação e ventilação natural;
|  Avaliar o uso e importância das vias existentes a fim de melhor incorporar a
proposta em benefício do pedestre;
|  Respeitar os eixos e acessos sugeridos pelas edificações preexistentes;
|  Minimizar o impacto visual no pano de fundo do entorno próximo, a fim de
conformar um respiro para a crescente verticalização do centro da cidade;
|  Garantir a articulação e permeabilidade física e visual do local de implantação;
|  Incorporar e integrar as edificações preexistentes de relevância social;
| Respeitar um programa que seja funcional e que esteja de acordo com as
necessidades locais;
| Explorar as diferentes formas de relações dos usuários entre si e com o local,
através do exercício de atividades artísticas, esportivas e de lazer;

Equipamentos
preexistentes de
relevância social

Acessos
principais

Acesso
secundário

Vento
predominante -
sudoeste

Eixos a serem
explorados

Síntese das Estratégias de intervenção.

6. 2. A PROPOSTA
6. O PROJETO

A partir das estratégias de intervenção, chegou-se a uma proposta que libera a


área frontal do terreno – estabelecido pelos principais fluxos e acessos – para o acesso e
áreas de lazer, encontro e convivência.
No entanto, na situação atual do local, encontram-se duas vias caracterizadas por
baixa intensidade de uso e que conformam duas pequenas quadras. A via também
segrega o terreno público da Casa da Cultura e Estádio Municipal com outros dois
terrenos públicos e residuais, já apresentados anteriormente, que são a pista de skate,
hoje subutilizada, e um “quintal” do INSS. Ao propor o rompimento da conexão dessas
duas vias, nota-se que a necessidade pela existência de ambas continua sendo atendida,
e ganha-se um espaço significativo de acesso e convivência em prol do pedestre.

EXISTENTE:

ÁREA DE INTERVENÇÃO =
APROXIMADAMENTE 38.000m²

BR 153

TERRENOS PÚBLICOS SEGREGADOS


POR DUAS VIAS DE INTENSIDADE DE
USO BAIXO (vias em amarelo)

CENTRO DA CIDADE

A PROPOSTA:

BR 153

DESCONECTAR AS DUAS VIAS PARA


LIBERAR O ESPAÇO PARA O PEDESTRE

CENTRO DA CIDADE
6. O PROJETO

Criou-se no térreo, a partir da análise do entorno, um eixo central de acesso e


permeabilidade visual, assim como eixos secundários de acessos e articulações entre o
espaço edificado e seu entorno. Também estabeleceu-se um gabarito de 13,5m (altura
do shopping Via Passarela, que encontra-se em frente ao terreno) a fim de minimizar a
interferência visual no plano de fundo das edificações preexistentes no local.
Com o intuito de garantir a articulação e permeabilidade física e visual de toda
a quadra, precisou-se avaliar possibilidades de aberturas e criações de novos eixos de
conexão na porção leste da área, no qual hoje é caracterizada, na sua maioria, por
residências unifamiliares, mas que vem mudando por conta das previsões de uso e
ocupação do solo e localização privilegiada, em que casas dão lugares a edifícios
residenciais de 7 pavimentos com térreo destinado à galeria comercial, segundo o plano
diretor da cidade.
Nesse sentido, buscou-se aproveitar e integrar esse térreo comercial. Sugere-se que
seja incorporado ao plano diretor que, as construções realizadas a partir do presente
momento passem a ter a galeria comercial voltada para as duas fachadas – frente e
fundo – para permitir a integração do comércio com os espaços de lazer da área de
intervenção, assim como evitar fundos e impermeabilidades indesejáveis para um local de
uso público.
Ainda no quesito desapropriação, as casas escolhidas da porção leste foram duas
residências identificadas como as mais antigas e em piores estados de conservação na rua.
Além do mais, as duas casas coicidem com os eixos a serem explorados nas estratégias de
intervenção. Identificou-se ainda, na porção sudoeste – ao lado da pista de skate – uma
casa antiga em más condições de
uso que está à venda, uma lavação
de carros, um chaveiro e uma loja de
máquinas agrícolas. Todos ocupam
um espaço muito qualitativo e
privilegiado e, assim, seria melhor
aproveitá-lo como parte do projeto
para proporcionar áreas de lazer
e promover melhor fluidez do
espaço para o pedestre.

Tabela de uso e ocupação do solo.


6. O PROJETO

MAPEAMENTO DAS DESAPROPRIAÇÕES:

3 casas antigas e em más condições de uso  |  1 loja de máquina agrícolas  |  1 lavação de carros  |  1 chaveiro.
6. O PROJETO

Além disso, buscou-se incorporar e integrar as edificações preexistentes de relevância


social. A edificação do Terminal Rodoviário, que dará espaço ao Terminal Interurbano
na nova proposta, seria aproveitada e reformada para abrigar as novas necessidades
do terminal, e não construída do zero como assim mostra a proposta apresentada pela
prefeitura. A localização de um terminal interurbano junto à área proposta potencializa
o uso do espaço pela facilidade de acessos e conexões com o restante da cidade e
municípios vizinhos, além de incentivar o uso do transporte público.
Outro equipamento social preexistente que faz parte do projeto é a Casa da
Cultura. Optou-se por aproveitar seu espaço físico – que encontra-se em boas condições
de uso – a fim de reconhecer e valorizar as heranças históricas do local e incentivar a
preservação do patrimônio edificado.
Entre as duas edificações, encontra-se a área de intervenção projetual (área que
hoje está situado o Estádio Municipal). Uma das principais diretrizes que norteou este
trabalho foi traçar as articulações do novo projeto com os espaços existentes, de modo
que o conjunto da edificação propicie relações horizontais que vão além do estabelecido
pelos eixos e acessos do térreo.

Esquema de articulação das edificações novas e existentes


6. O PROJETO

6. 2.1 Síntese da Proposta

A proposta consiste em, inicialmente, garantir que acessos e permeabilidades sejam criadas
ao longo de toda a quadra. Para isso, fez-se necessário duas medidas: romper com a conexão de
duas vias de intensidade baixa que segregam o local de intervenção com duas áreas residuais
e públicas com potencial de integração ao projeto, a fim de tornar um dos acessos principais
exclusivo para pedestres e garantir a fluidez deste.
Outra medida necessária foi a desapropriação de algumas edificações próximas, com o
intuito de liberar acessos na porção leste da área – hoje inacessível por conta da ocupação de
todos os terrenos. As duas casas escolhidas nessa porção foram de acordo com as más condições
de conservação e a proximidade com os eixos a serem explorados pelo projeto.
Uma das principais diretrizes que norteou este trabalho, no processo projetual, foi traçar as
articulações do novo projeto com as edificações preexistentes, de modo que o conjunto propicie
relações horizontais que vão além do estabelecido pelos eixos e acessos do térreo.
Para isso, criou-se uma conexão horizontal entre as três centralidades da proposta: a Casa
da Cultura e o Terminal Interurbano – ambos preexistentes – com a nova área edificada (área de
ampliação e novas atividades). Essa junção se dá por uma passarela de pedestres que interliga as
funções, e suas dimensões permitem que esta não seja apenas um local de passagem e ligação,
mas sim um lugar de trocas e relações entre diferentes atividades, podendo ter exposições,
performances, além de funcionar também como um mirante para toda a área, integrando-a
visualmente.
Também norteou o processo a decisão de manter a existência de uma pista de caminhada
e atletismo, muito utilizada pelas escolinhas e pela população. Entretanto, a pista possui rigidez no
que diz respeito às suas dimensões e orientação, ocupando boa parte da área de intervenção.
A estratégia aqui sugerida, foi, portanto, elevar essa pista, integrando-a e conectando as outras
atividades propostas no 1º andar, e liberar o térreo para maior fluidez dos espaços. A pista já serve
de cobertura para diversas funções que se conformam ao longo do térreo, além de oferecer, em
alguns locais, percurso sombreado para os usuários.
As decisões projetuais seguintes levaram em consideração essas duas estratégias iniciais.
Ao redor do edifício, um perímetro público com pomar, estares, áreas livres e espaços de
possibilidades (vazios relacionais) favorece a apropriação do terreno bem como o exercício de
novas relações da comunidade entre si e com o local.
6. O PROJETO
6.3. IMPLANTAÇÃO

A ciclofaixa e todas as suas conexões com a cidade não foram objeto de estudo para este trabalho. No entanto,
ela foi pensada como um lançamento de ideia possível de ser deselvolvida pelas observações feitas. A caixa desta
via (a Rua Doutor Maruri, principal da cidade) possui 17m, na qual se encontram duas pistas simples de mão dupla
(3,5m cada), duas faixas de estacionamento nas laterais (2,5m cada) e duas calçadas nas laterais (2,5m cada).
Sugere-se que uma das faixas destinada à estacionamento seja apropriada por uma ampla calçada trabalhada
com vegetação e que se destine uma ciclofaixa que conecte a área de intervenção com o centro da cidade, e a
partir daí que se distribua, conforme as viabilidades, com os bairros.
Hoje já se tem uma ciclofaixa na rua coberta (apresentada anteriormente neste trabalho em “O LUGAR”), que tem
possibilidade de conexão com a nova proposta, visto que hoje ela se restringe à propria rua.
6. O PROJETO

A explicação das intenções do projeto com suas ambiências e relações estão contidas
nas imagens presentes no painel de apresentação, enviadas em anexo junto ao CD.

As plantas baixas, cortes e demais informações relevantes para o entendimento


deste projeto estão contidas nas pranchas em PDF e no painel de apresentação,
enviadas em anexo junto ao CD.

6.4. ESTRUTURA
A fim de gerar grandes vãos livres para atender às necessidades físicas que
demandam os espaços de aulas de arte e esporte, o edifício se estrutura a partir de
pilares e vigas de concreto armado e laje nervurada. A estrutura metálica também foi
empregada, porém apenas na passarela que conecta os blocos, com o objetivo de
atribuir leveza e menos pontos de apoio, além de não interferir visualmente e fisicamente
na fluidez dos espaços livres.

6.5. VEGETAÇÃO
As intenções de vegetação que compõem o espaço - cor, noções de altura,
fechamentos, vazios e ritmos - encontra-se exemplificadas no modelo 3D, juntamente
com as ambiências propostas. Privilegia-se o uso de espécies nativas, como araucária,
angico, pata de vaca, cedro rosa, araça amarelo, cereja do mato, chuva de ouro, pau
brasil ornamental, entre outras.

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