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Vive-se um momento em que o cenário das trocas e relações humanas vem sendo
drasticamente afetado pela sociedade. As novas formas de viver e se relacionar com o
outro e com a cidade colocam em risco a permeabilidade entre o dentro e o fora, entre
a rua e o muro, decodificando como intrusão e ameaça. A rua e o espaço público, que
seriam o lugar de todos, passam a ser o lugar de niguém e, o que se nota, é a gradativa
perda da capacidade e apatia dos relacionamentos interpessoais, tornando cada vez
mais difícil o convívio e respeito com o espaço do outro.
Encontra-se, porém, na arte e no esporte grande potencial educativo de
autodesenvolvimento e relações com o próximo. É o espírito do “crescer junto” do trabalho
em equipe e os ensinamentos de uma arte que aceita e acolhe a expressão que for que
rompem com a ilusão da auto suficiência humana - presente na era digital - e abrem
portas a outros horizontes e perspectivas de vida, proporcionando trocas e contribuindo
como agentes de resistência e construção da identidade coletiva de uma sociedade.
A visão de arquitetura aqui incorporada tem a pretensão de deslocar a arquitetura
do âmbito dos objetos (como edificação pura e simples) para o âmbito das relações,
como um conjunto de interações entre os usuários que é mediado pela edificação. O
corpo em movimento é a peça chave como o agente que articula o tempo e o espaço
no evento, pois a arquitetura é irreversível, mas o vazio relacional que ela propõe propicia
as trocas e faz dela uma arquitetura que se faz e refaz na relação com o usuário, que
altera a qualidade desse espaço quando nele de movimentam.
A partir do momento em que o uso social da rua e dos espaços públicos não são
pensados, há desperdício da riqueza das trocas que só acontecem nesses lugares e que
fazem as cidades serem tão únicas e diferentes entre si.
Há uma necessidade social e uma inquietação pessoal do resgate da rua como um
espaço qualificado para ser vivido, e não apenas percorrido.
Um equipamento aberto à comunidade é uma pausa urbana que oferece um
lugar de encontro e troca, trocas pelas quais a sociedade vem tendo dificuldade em
estabelecer por conta de seu novo modo e ritmo de vida, em que “nem mais parecemos
habitar o tempo e o espaço, e sim a viver a velocidade instantânea, a fosforescência das
imagens, a instantaneidade hipnótica.” (Pelbart Pál; Peter, Tempos Agonísticos).
Sendo assim, “o tempo contemporâneo surge como um elemento que perfura o
espaço, substituindo a sensação de objetivação cronológica por uma circularidade
plena de instabilidade. Turbulento, esse tempo parece fugaz e raso. Retira as espessuras
das experiências que vivemos no mundo, afetando inexoravelmente nossas noções de
história, de memória, de pertencimento.” (CANTON, 2012, p. 20).
1. INTRODUÇÃO
1.1. JUSTIFICATIVA
Diante da análise global, pode-se partir para uma aproximação da realidade do
local de intervenção e traçar possibilidades.
Viu-se, no local de implantação, grande potencial para trabalhar um espaço
para a comunidade, em que vários espaços públicos residuais, decadentes e, por
vezes, subutilizados, abrissem espaço para o exercício da vida pública e suas trocas e
manifestações culturais, assim como oportunizar o acesso à arte e ao esporte em um
espaço público de localização estratégica em relação ao transporte público, acessos e
heranças históricas locais que potencializam seu sentido de existir ali, nesse local.
1. 2. OBJETIVOS
1. 2. 2. Objetivos Específicos
Tem-se como objetivos específicos dar suporte espacial para que as atividades e as
trocas aconteçam de maneira a não negar possíveis experimentações de ocupações al-
ternativas para a prática das mesmas; acolher a demanda local com espaços para lazer e
manifestações culturais; incorporar o entorno ao projeto de maneira a qualificar o espaço
como um todo; proporcionar equipamentos e espaços de uso público e coletivo; incitar
a preservação do patrimônio edificado e da memória coletiva; acolher e incorporar ati-
vidades existentes no local de intervenção; propiciar o acesso da arte e do esporte para
todos; retomar o espaço público como espaço de vivência; estabelecer um contato mais
próximo com a comunidade.
2. O LUGAR
2.1. LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA
RECORTE DA
ÁREA CENTRAL
Com base na análise, pode-se concluir que atualmente a cidade procura proporcionar
espaços para desenvolvimento pessoal e interpessoal da população e, felizmente, isso se
dá porque a comunidade hoje é ciente da necessidade e importância desses espaços e,
assim, os exije.
Ainda assim, é notável que grande parte desses equipamentos conserva o modo
tradicional de edificações institucionalizadas, em que pouco se articulam com a rua e o
seu entorno próximo, a fim de trabalhar a cidade e a qualificação de seus espaços como
um todo. A rua continua sendo apenas um elemento de ligação e circulação de um
ponto ao outro da cidade.
3. AS PESSOAS
3.1. A COMUNIDADE
Estádio Municipal
Domingos Machado de Lima
4.1. 2. Sítio
Com base na escolha do lugar, no reconhecimento das pessoas e dos equipamentos
com potencial de intervenção, o terreno surge não como uma escolha puramente física,
mas sim como o resultado de considerações históricos e sociais do seu local de implantação,
no qual surge uma possibilidade de resgate do espaço público junto a nova proposta de
intervenção, a fim de requalificar os equipamentos existentes.
Cabe destacar que a sua localização é extremamente estratégica no que diz respeito
a acessibilidade, pois encontra-se no recorte central da cidade, próximo a principais vias
e demais equipamentos importantes – como escolas e shopping - e ao lado do futuro
Terminal Interurbano.
4. AS ESCOLHAS
RECORTE DA ÁREA CENTRAL DA CIDADE
ESCOLA
ESCOLA
ESCOLA
700m
INSS
CORPO DE
VIA PASSARELA
BOMBEIROS
IGREJA E
CENTRO
COMUNITÁRIO
PREFEITURA PRAÇA
MUNICIPAL
PISTA DE SKATE
“QUINTAL” DO INSS
4. AS ESCOLHAS
MAPA DO ZONEAMENTO DA
CIDADE DE CONCÓRDIA-SC
Equipamentos
preexistentes de
relevância social
Acessos
principais
Acesso
secundário
Vento
predominante -
sudoeste
Eixos a serem
explorados
6. 2. A PROPOSTA
6. O PROJETO
EXISTENTE:
ÁREA DE INTERVENÇÃO =
APROXIMADAMENTE 38.000m²
BR 153
CENTRO DA CIDADE
A PROPOSTA:
BR 153
CENTRO DA CIDADE
6. O PROJETO
3 casas antigas e em más condições de uso | 1 loja de máquina agrícolas | 1 lavação de carros | 1 chaveiro.
6. O PROJETO
A proposta consiste em, inicialmente, garantir que acessos e permeabilidades sejam criadas
ao longo de toda a quadra. Para isso, fez-se necessário duas medidas: romper com a conexão de
duas vias de intensidade baixa que segregam o local de intervenção com duas áreas residuais
e públicas com potencial de integração ao projeto, a fim de tornar um dos acessos principais
exclusivo para pedestres e garantir a fluidez deste.
Outra medida necessária foi a desapropriação de algumas edificações próximas, com o
intuito de liberar acessos na porção leste da área – hoje inacessível por conta da ocupação de
todos os terrenos. As duas casas escolhidas nessa porção foram de acordo com as más condições
de conservação e a proximidade com os eixos a serem explorados pelo projeto.
Uma das principais diretrizes que norteou este trabalho, no processo projetual, foi traçar as
articulações do novo projeto com as edificações preexistentes, de modo que o conjunto propicie
relações horizontais que vão além do estabelecido pelos eixos e acessos do térreo.
Para isso, criou-se uma conexão horizontal entre as três centralidades da proposta: a Casa
da Cultura e o Terminal Interurbano – ambos preexistentes – com a nova área edificada (área de
ampliação e novas atividades). Essa junção se dá por uma passarela de pedestres que interliga as
funções, e suas dimensões permitem que esta não seja apenas um local de passagem e ligação,
mas sim um lugar de trocas e relações entre diferentes atividades, podendo ter exposições,
performances, além de funcionar também como um mirante para toda a área, integrando-a
visualmente.
Também norteou o processo a decisão de manter a existência de uma pista de caminhada
e atletismo, muito utilizada pelas escolinhas e pela população. Entretanto, a pista possui rigidez no
que diz respeito às suas dimensões e orientação, ocupando boa parte da área de intervenção.
A estratégia aqui sugerida, foi, portanto, elevar essa pista, integrando-a e conectando as outras
atividades propostas no 1º andar, e liberar o térreo para maior fluidez dos espaços. A pista já serve
de cobertura para diversas funções que se conformam ao longo do térreo, além de oferecer, em
alguns locais, percurso sombreado para os usuários.
As decisões projetuais seguintes levaram em consideração essas duas estratégias iniciais.
Ao redor do edifício, um perímetro público com pomar, estares, áreas livres e espaços de
possibilidades (vazios relacionais) favorece a apropriação do terreno bem como o exercício de
novas relações da comunidade entre si e com o local.
6. O PROJETO
6.3. IMPLANTAÇÃO
A ciclofaixa e todas as suas conexões com a cidade não foram objeto de estudo para este trabalho. No entanto,
ela foi pensada como um lançamento de ideia possível de ser deselvolvida pelas observações feitas. A caixa desta
via (a Rua Doutor Maruri, principal da cidade) possui 17m, na qual se encontram duas pistas simples de mão dupla
(3,5m cada), duas faixas de estacionamento nas laterais (2,5m cada) e duas calçadas nas laterais (2,5m cada).
Sugere-se que uma das faixas destinada à estacionamento seja apropriada por uma ampla calçada trabalhada
com vegetação e que se destine uma ciclofaixa que conecte a área de intervenção com o centro da cidade, e a
partir daí que se distribua, conforme as viabilidades, com os bairros.
Hoje já se tem uma ciclofaixa na rua coberta (apresentada anteriormente neste trabalho em “O LUGAR”), que tem
possibilidade de conexão com a nova proposta, visto que hoje ela se restringe à propria rua.
6. O PROJETO
A explicação das intenções do projeto com suas ambiências e relações estão contidas
nas imagens presentes no painel de apresentação, enviadas em anexo junto ao CD.
6.4. ESTRUTURA
A fim de gerar grandes vãos livres para atender às necessidades físicas que
demandam os espaços de aulas de arte e esporte, o edifício se estrutura a partir de
pilares e vigas de concreto armado e laje nervurada. A estrutura metálica também foi
empregada, porém apenas na passarela que conecta os blocos, com o objetivo de
atribuir leveza e menos pontos de apoio, além de não interferir visualmente e fisicamente
na fluidez dos espaços livres.
6.5. VEGETAÇÃO
As intenções de vegetação que compõem o espaço - cor, noções de altura,
fechamentos, vazios e ritmos - encontra-se exemplificadas no modelo 3D, juntamente
com as ambiências propostas. Privilegia-se o uso de espécies nativas, como araucária,
angico, pata de vaca, cedro rosa, araça amarelo, cereja do mato, chuva de ouro, pau
brasil ornamental, entre outras.