n NO 240 n ABRIL/2022

Ilustração de Elifas Andreato (1946-2022)

utilizada na capa de uma publicação sobre os crimes da Ditadura Militar
 EDITORIAL
P R E S I D E N T E

Ditadura nunca mais!

E
sta edição do Pá-
gina 13 come-
çou a circular
no dia 31 de março de
2022. Na véspera come-
çou a circular a “ordem
do dia” assinada por
quatro comandantes
militares, reafirmando a
versão segundo a qual o
“movimento” militar de
- NO 240 - ABRIL/2022
A ordem do dia con-
firma que a cúpula das
forças armadas e grande
parte de seus integran-
tes não tem nenhum
compromisso com as
liberdades democrá-
ticas. Se isto é assim,
58 anos depois do gol-
pe de 1964, é porque a
classe dominante brasi-
autoproclamados de-
mocráticos da classe do-
minante, como é o caso
de um conhecido gol-
pista e neoliberal re-
cém-convertido em “so-
cialista”, optaram por
não punir os golpistas,
os torturadores, os as-
sassinos, os liberticidas.
Um dos efeitos disso é,
do povo de forma mais
violenta do que a adota-
da contra o inimigo em
uma guerra.
Por isto, mais impor-
tante do que falar em
“ditadura nunca mais” é
adotar medidas efetivas
para transformar pro-
funda e radicalmente
dência petista Articula-
ção de Esquerda publi-
cada nesta edição de Pá-
gina 13.
Impedir golpes futu-
ros exige ações concre-
tas, a começar por não
ter nenhuma ilusão no
suposto compromisso
democrático da classe
dominante, nos seus re-

hoje, termos Bolsona- as forças armadas e po-

1964 foi feito em defe- leira, em suas diferentes presentantes políticos e
ro e seu governo. Ou- liciais, na linha do pro-
sa da democracia, uma frações, é cúmplice des- nos seus instrumentos
tro efeito é uma política grama proposto na re-
sa conduta. de poder. 
reação ao autoritarismo de segurança militariza- solução aprovada pela
da esquerda. Mesmo os setores da, que trata a maioria direção nacional da ten- Os editores
Expediente
Página 13 é um jornal publicado sob responsabilidade da direção nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores. Circulação interna ao PT. Matérias assinadas não
refletem, necessariamente, a posição da tendência.
ISSN 2448-0150-186
Direção Nacional da AE: Damarci Olivi/MS, Daniela Matos/DF, Jandyra Uehara/SP, Julio Quadros/RS, Mucio Magalhães/PE, Natalia Sena/RN, Patrick Campos/PE, Valter Pomar/SP. Comissão de ética:
Jonatas Moreth/DF, titular; Sophia Mata/RN, titular; Izabel Costa/RJ, suplente; Pere Petit/PA, suplente.
Edição: Valter Pomar, Emilio C. M. Font. Secretaria Gráfica e Assinaturas: Edma Walker edmawalker@gmail.com

2 Endereço para correspondência: R. Silveira Martins, 147 conj. 11 - Centro - São Paulo - SP - CEP 01019-000 Acesse: www.pagina13.org.br
 CONJUNTURA
P R E S I D E N T E

Nossas tarefas
Página 13 publica abaixo resolução aprovada pela direção nacional da
tendência petista Articulação de Esquerda, no dia 27 de março de 2022

vitória ainda em primei- dominante brasileira. Não basta, para isso,

ro turno. Entretanto,
este não é o cenário
mais provável, pelas ra-
Entretanto, para que
prevaleça a interpreta-
ção correta dos fatos, é
“
Até o
falar do que fizemos
no passado, noutras
circunstâncias. Além
zões indicadas anterior- necessário travar uma momento não disso, apresentar desde
mente. Por outro lado, intensa luta política e apresentamos já nosso programa de
as pesquisas também ideológica, seja para ao país nosso governo é essencial pa-
indicam que a candida- evidenciar as responsa- programa de ra construir a vontade
tura de Bolsonaro pode bilidades de Bolsonaro política organizada ne-
governo. Como já
1.Faltam cerca de chegar em outubro em e de suas políticas ne- cessária para a execução
seis meses para o pri- melhores condições do oliberais, seja para de- dissemos antes, do próprio programa. É
meiro turno da eleição que hoje, a depender monstrar que existem este programa verdade que dispomos
presidencial de 2022. O principalmente do ce- alternativas (demons- é essencial para do chamado programa
cenário eleitoral segue nário econômico e so- trando que poderia e demonstrar que de reconstrução e trans-
sendo de polarização cial e da luta política. pode ser diferente). as coisas podem formação, aprovado pe-
entre as candidaturas lo DN. Este programa,
3.O cenário eco- 4.Sem esta intensa ser diferentes.
de Lula e Bolsonaro. Até apesar de suas debilida-
o momento, as candida-
turas da chamada “ter-
ceira via” não parecem
nômico e social segue
terrível, ao menos pa-
ra a grande maioria da
luta política e ideoló-
gica, pode prevalecer
– em camadas impor-
” des e lacunas, pode ser-
vir de base para a elabo-
ração de um programa
capazes de ir ao segun- população brasileira: tantes da população – de governo. Entretanto,
do turno. Ainda seguem desemprego, inflação, outra interpretação dos não apenas o progra-
em curso movimentos fome, Covid 19, desas- fatos. Além disso, o go- ma não foi elaborado,
no sentido de viabilizar sistência, violência são verno federal desenca- como além disso nossa
uma candidatura unifi- alguns dos problemas deou uma ofensiva em pré-candidatura emite
nosso grande desafio,
cada dos setores neoli- a atormentar a vida da todos os terrenos, uti- sinais contraditórios
do qual depende a vitó-
berais não bolsonaris- classe trabalhadora, lizando os recursos pú- neste terreno. O prin-
ria na eleição presiden-
tas. Entretanto, mesmo especialmente das mu- blicos com finalidades cipal desses sinais é a
cial de 2022, segue sen-
que esta unificação não lheres, dos negros e ne- eleitorais, numa ação crescente consolidação
do o mesmo de sempre:
ocorra, a mera existên- gras, da juventude, dos clientelista que - no am- da candidatura Alckmin
travar uma intensa luta
cia destas candidaturas, moradores da periferia. biente de crise econô- a vice-presidente: ter
política e ideológica. E
somada ao percentual Esta situação decorre da mica e social fomentada um golpista e neolibe-
é neste ponto que resi-
de eleitores ainda in- política adotada desde pelo próprio governo ral na vice emite sinais
dem as principais debi- - NO 240 - ABRIL/2022
definidos, indica que a o golpe de 2016, ini- - pode gerar dividendos confusos acerca de qual
lidades da candidatura
disputa presidencial de cialmente pelo governo na disputa presidencial. será, efetivamente, nos-
Lula e da ação do PT.
2022 só deverá ser deci- Temer e depois pelo go- Em 2018 construiu sua so programa. É sintomá-
dida no segundo turno. verno Bolsonaro. A Co- vitória a partir de condi- 5.Até o momento tico, neste sentido, que
vid 19 e, agora, a guerra ções relativamente mais não apresentamos ao o texto apresentado à
2.A candidatura de agravam a situação, mas difíceis do que as atu- país nosso programa de reunião do Diretório
Lula segue liderando este agravamento é ain- ais; hoje seu principal governo. Como já disse- Nacional dia 24 de mar-
em todas as pesquisas, da maior devido as op- flanco é o desempenho mos antes, este progra- ço, pelo grupo majori-
em alguns casos alcan- ções feitas por Bolsona- do governo, mas é pre- ma é essencial para de- tário, não contivesse,
çando percentuais que ro, por seus apoiadores ciso saber explorar este monstrar que as coisas entre as medidas pro-
tornariam possível uma políticos e pela classe flanco. Neste sentido, o podem ser diferentes. gramáticas propostas, 3
 CONJUNTURA
P R E S I D E N T E

Foto: Ricardo Stuckert

a reindustrialização. Ao tuação tão complexa,
mesmo tempo em que agravada pela situação
um neoliberal se afirma mundial, o grupo que
como “socialista”, mui- controla o Diretório Na-
tos petistas promovem cional do PT não está
o rebaixamento de nos- demonstrando estar à
so programa. altura do desafio histó-
rico. Um exemplo disso
6.Até o momento a é a resolução aprovada
campanha não saiu das no dia 24 de março de
pesquisas e das cres- 2022, suprimindo a au-
centes manifestações tonomia das direções
espontâneas de apoio estaduais do Partido
(como vem ocorrendo na implementação da
em vários shows popu- tática eleitoral, o que
lares), para a fase de tende a agravar os pro-
uma campanha mili- blemas já existentes,
Lula no campus da UERJ, 30 de março de 2022.
tante sistemática, capi- especialmente porque
larizada, que disputa o “federação” com o PSB, muitos estados eleito- e lutas por toda a parte, na maioria dos casos
apoio popular em cada além das negociações ralmente importantes, mas não há um clima na- estes problemas de-
local de trabalho, em de cúpula com candida- nosso “palanque” esta- cional de lutas organiza- correm exatamente da
cada local de moradia, turas de partidos con- dual está sujeito a todo das. Noutras palavras, a política implementada
em cada local de estu- servadores. tipo de problemas. Vide luta fica concentrada no a partir da direção na-
do, em cada espaço de por exemplo algumas terreno eleitoral e fica cional do PT (sem falar
cultura e lazer. Foram 7.Até o momento situações ocorridas nos concentrada no bolso- no fato de que 25 dos
dados alguns passos segue existindo – e nos estados da Bahia, do Rio narismo. Para garantir a 27 diretórios regionais
neste sentido – com últimos dias cresceu – de Janeiro, de Minas Ge- vitória, um tipo vitória são controlados pelo
destaque para os comi- uma distância muito rais, do Pará, do Ceará, que constrói as melho- mesmo grupo que con-
tês populares de luta – grande entre a liderança de Pernambuco, do Rio res condições para go- trola a direção nacional,
mas o feito até agora é de Lula nas pesquisas e Grande do Norte e de vernar, e para que este o que demonstra que a
insuficiente e o tempo a situação de nossas can- São Paulo. governo possa enfren- supressão da autono-
é cada vez mais curto. didaturas ao governo de tar não apenas o bolso- mia dos estados é uma
Contribui para nossa ve- estado, ao senado, às as- 8.Até o momento narismo mas também o medida que no fundo
- NO 240 - ABRIL/2022

locidade baixa o fato de sembleias legislativas e segue reduzida a mobi- neoliberalismo, é preci- revela apenas o descon-
parte importante da di- a à Câmara dos Deputa- lização direta e geral da so estimular mais lutas certo deste grupo com
reção do PT – inclusive dos. A política de “prio- classe trabalhadora, por de massa e mais mo- os efeitos deletérios da
aqueles supostamente rizar a candidatura Lu- suas reivindicações. As bilizações organizadas política que ele mesmo
responsáveis pela cam- la” foi encaminhada, em manifestações organiza- da classe trabalhadora. vem implementando).
panha presidencial – se- muitos estados, como das pelo Fora Bolsona- Neste sentido, ganham
rem candidatos a cargos sendo igual a abrir mão ro arrefeceram, o 8 de importância o Fora Bol- 10. Não se trata de
legislativos. Contribui, de candidaturas petis- março teve presença im- sonaro dia 9 de abril e o discutir a legitimidade
também, o precioso tas ou mesmo de can- portante mas inferior a Primeiro de maio. e a dedicação individual
tempo perdido nas ne- didaturas de esquerda. necessária. Há muita in- dos dirigentes. Trata-se
4 gociações da chamada O resultado é que, em satisfação, há protestos 9.Frente a esta si- de constatar, em primei-
 CONJUNTURA
ro lugar, que não existe
direção coletiva. O que
ocorreu no caso da Fe-
deração e o que vem
ocorrendo no caso da
candidatura de Alckmin
a vice são sinais disso: as
decisões vêm sendo to-
madas fora da direção,
em grupos informais,
sendo trazidas depois
para a direção chancelar
fatos consumados. Es-
te método de “maioria
presumida” e “a pos-
teriori” não é capaz de
enfrentar e vencer os
imensos desafios deste
momento histórico, de-
safios que não resumem
a vencer as eleições
presidenciais. A eleição
de Lula e o sucesso de
nossa próxima gestão
presidencial, ou será
uma tarefa coletiva ou
não será. E nesta tarefa
coletiva, o PT tem papel
insubstituível. Por isso,
enfraquecer o partido,
suas instâncias, sua de-
mocracia interna, seus
objetivos históricos, sua
militância, contribui no
esforço dos setores da
classe dominante que
buscam nos derrotar,
nos domesticar, nos co-
optar e nos degenerar,
por exemplo incenti-
vando o controle do
Partido pelas bancadas
e governos e abrindo o
P R E S I D E N T E
partido para políticos com o PV e com o PC- existem setores dispos- não há e seguirá não
tradicionais. Para cada doB preservem a auto- tos a fazer qualquer coi- havendo nenhuma va-
Roberto Requião, cuja nomia política e organi- sa para impedir a vitória cilação de nossa parte,
filiação democrática ao zativa do Partido. Cabe de Lula. na defesa do programa
PT saudamos e apoia- lembrar que na reunião democrático popular e
mos, há outros tanto do Diretório Nacional 12.Orientamos nos- socialista, na defesa de
novos filiados sem ne- do PT realizada no dia sa militância, também,
uma estratégia revolu-
nhuma trajetória de es- 24/3 a federação com a seguir organizando a
cionária, na defesa do
querda. o PV não foi unânime. tendência petista Arti-
PT e das organizações
A tendência petista Ar- culação de Esquerda.
da classe trabalhadora e
11. Diante deste ticulação de Esquerda, Neste momento em que
dos setores populares,
quadro tão complexo, crescem as pressões no
por exemplo, apresen- no esforço para recon-
orientamos nossa mili- sentido de transformar
tou proposta contrária, quistar a hegemonia da
tância a: o PT em um partido tra-
defendendo a federação esquerda junto ao con-
dicional, nossa resposta
• difundir os 13 pon- apenas com o PCdoB; junto da classe trabalha-
deve ser reafirmar a de-
tos de programa apre- dora brasileira.
• seguir lutando para fesa do PT. Nos últimos
sentados ao final desta garantir o funcionamen- 42 anos, muitos militan- 13.Apesar da pos-
resolução; to coletivo do partido, tes deixaram o Partido
tura e da política que
incluindo aí a luta por e tentaram construir
• construir comitês prevalecem no Diretó-
um encontro nacional alternativas. Nenhuma
populares de luta e rio Nacional do PT, é
de tática para deliberar dessas alternativas teve
iniciar já a campanha, preciso manter o foco
sobre a vice, único es- êxito. Pior ainda: várias
destacando no trabalho na tarefa principal: der-
paço legítimo para apre- organizações e lideran-
destes comitês o debate rotar o bolsonarismo e
sentar e aprovar um ças que no passado pro-
sobre o programa; o neoliberalismo, cons-
nome à altura da tarefa clamaram o “fim” do PT,
hoje estão não apenas truindo as condições
• seguir lutando por histórica; para implementar um
eleger candidaturas ma- aliadas ao PT, como mui-
tas veze defendem polí- programa em defesa da
joritárias e proporcio- • seguir estimulando e
ticas similares as políti- soberania nacional, do
nais de esquerda, com- participando das lutas e
cas do setor majoritário desenvolvimento, do
batendo as propostas mobilizações da classe
trabalhadora, a exem- do PT. Nós da tendência bem estar social, das li-
de apoio às candidatu- berdades democráticas
plo do 9 de abril e do petista Articulação de - NO 240 - ABRIL/2022
ras de direita; e do socialismo. 
Primeiro de Maio; Esquerda não vacilamos
• seguir lutando por em apontar os proble-
• seguir mantendo a mas, as contradições, Fora Bolsonaro,
uma candidatura a vi-
guarda alta: a recente os erros cometidos por seu governo e suas
ce-presidente compro-
decisão do TSE acerca todo o nosso partido ou políticas neoliberais
metida com o programa
democrático-popular: das manifestações de ar- por seu atual grupo di- Lula presidente!
Temer nunca mais! tistas contra Bolsonaro rigente. Mas, ao mesmo A direção nacional da
e a comprovada expan- tempo, não vacilamos tendência petista Arti-
• seguir lutando pa- são de grupos neona- em seguir defendendo e
culação de Esquerda
ra que o programa e o zistas indica que dentro construindo o PT. Neste
estatuto da “federação” e fora das instituições terreno nunca houve, 27 de março de 2022 5
 CONJUNTURA
NOSSOS 13 PONTOS
PROGRAMÁTICOS
1. A nosso ver, desta-
cam-se como prioridades:
i/as propostas emergen-
ciais para superar o desem-
prego, a inflação, a fome, a
carestia, a miséria; o apagão
na saúde; os retrocessos na
educação e na cultura; a fal-
ta de perspectivas para a ju-
ventude;
ii/as propostas
de natureza estru-
tural, de médio e
longo prazo, ca-
- NO 240 - ABRIL/2022
6 esquerda;
pazes de garantir a sobera-
nia, o bem-estar, a liberdade
e um desenvolvimento de
novo tipo para nosso país.
2. Entre as medidas e
ações, destacamos as se-
guintes:
1 . decretar situação de
emergência em âmbito na-
cional, para que o novo go-
verno tenha os meios legais
necessários para enfrentar o
caos herdado do governo
anterior, em particular
no enfrentamento
das necessidades
mais imediatas:
o alimento, a
moradia, a saúde, a educa-
ção o transporte, o empre-
go;
2 . corrigir imediatamen-
te o orçamento herdado do
governo anterior, principal-
mente ampliando a dotação
vinculada às áreas sociais e
ao desenvolvimento eco-
nômico, inclusive recupe-
rando a capacidade de in-
vestimento do BNDES, do
Banco do Brasil e da Cai-
xa Econômica Federal, bem
como das empresas estatais
como vetor do desenvolvi-
mento;
3. tomar as medidas ne-
cessárias para
estabele-
cer um
imposto
sobre gran-
des fortunas,
lucros e dividen-
dos, para contribuir
no financiamento das
medidas de reconstrução
e transformação nacional,
especialmente para dobrar
ao longo do primeiro biê-
nio de governo as receitas
do SUS (hoje de aproxi-
madamente 4% do PIB ou
4,00 per capita). Apoiar
as propostas de reforma
tributária já apresenta-
das pelos partidos de
P R E S I D E N T E
4 . retomada imediata
do programa Bolsa Família,
do programa Mais Médicos
e do programa Minha Casa
Minha Vida, com as devidas
alterações. Convocação de
concursos públicos emer-
genciais para recompor o
quadro de servidores públi-
cos federais;
5. revogação do “teto de
gastos” (através de emenda
constitucional), bem como
revogação da reforma pre-
videnciária, da reforma tra-
balhista e da autonomia do
Banco Central. Nos casos de
alteração constitucional, re-
alizar referendo revogató-
rio;
6 . como parte da defesa
da economia popular e do
combate à inflação, promo-
ver uma lei de reajuste do
salário mínimo, garantindo
ganho real capaz de recupe-
rar o poder de compra afe-
tado pela carestia; amplia-
ção imediata dos recursos
disponíveis para agricultura
familiar, principal fonte de
alimentos saudáveis e ba-
ratos; reduzir os preços da
energia elétrica, do gás de
cozinha, da gasolina e de-
mais combustíveis, pondo
fim ao atual sistema subor-
dinado à oscilação dos pre-
ços internacionais;
 CONJUNTURA
7. iniciar já em 2023 pla-
no de reconstrução da in-
fraestrutura e reindustriali-
zação nacional (através de
obras públicas nas estradas,
hidrovias, ferrovias, fontes
de energia, prédios e vias
públicas, habitação popular,
saneamento básico e medi-
das de proteção imediata
às populações em áreas de
risco), reconstrução da Pe-
trobrás como empresa de
desenvolvimento nacional,
com plena retomada do sis-
tema de partilha para explo-
ração do pré-sal e das medi-
das dinamizadoras da cons-
trução civil e da industrial
naval, incluindo a anulação
das criminosas vendas dos
ativos da empresa: o petró-
leo deve voltar a ser nosso;
8 . interrupção da des-
truição do meio ambiente,
moratória imediata da ex-
pansão do agronegócio es-
pecialmente na Amazônia,
retomada da demarcação
das áreas indígenas e das
comunidades quilombolas,
reconstrução do Ministério
do Desenvolvimento Agrá-
rio, com retomada e atuali-
zação das políticas de refor-
ma agrária;
www.pagina13.org.br
9. reconstrução do Mi-
nistério da Cultura, relan-
çamento da Empresa Brasi-
leira de Comunicação, im-
plementação das previsões
constitucionais contrárias
ao oligopólio privado da
mídia, recomposição do or-
çamento de ciência e tec-
nologia; retomada dos pro-
jetos de expansão e demo-
cratização do setor público
de educação, ampliando as
políticas de ação afirmativa
e desenhando políticas es-
pecíficas para avaliar e su-
perar as perdas provocadas
pela pandemia;
10. reconstrução das Se-
cretarias Especiais de Mu-
lheres, Igualdade Racial,
da Juventude e criação da
Secretaria Nacional LGBT-
QIA+, do Sistema Nacional
de Igualdade Racial e reto-
mada das políticas em defe-
sa dos idosos, das pessoas
com deficiência, dos povos
indígenas e quilombolas;
11 . medidas em defesa do
direito à memória e à verda-
de do povo brasileiro e res-
ponsabilização dos agentes
envolvidos em desrespei-
tos aos direitos, liberdades
e vida do povo desde o gol-
pe de 2016. Entre as medi-
das destaca-se, emergencial-
mente, a declaração oficial
do novo chefe de Estado e
de Governo sobre o con-
junto de ataques aos direi-
tos, liberdades e vida do po-
vo brasileiro desde o golpe
de 2016 até o governo Bol-
sonaro. Paralelamente à di-
fusão nacional da declara-
ção oficial do Estado brasi-
leiro, que sejam instaladas
Comissões da Verdade nos
Estados brasileiros, sob co-
ordenação do governo fe-
deral, para apuração/sis-
tematização detalhada lo-
calmente. Outras medidas
cabíveis: a)punição imedia-
ta dos responsáveis no que
estiver sob alcance do Exe-
cutivo; b) abertura de pro-
cedimentos administrativos
e judiciais contra todos que
tenham atentado contra os
direitos humanos durante a
administração anterior, es-
pecialmente os relaciona-
dos ao genocídio causado
por políticas negacionistas
frente à pandemia; c)devo-
lução imediata às Forças Ar-
madas de todos os militares
nomeados para cargos de
natureza civil;d)transferên-
cia para a reserva de todos
P R E S I D E N T E
os comandantes nomeados
no mesmo período; e) apre-
sentar PEC para revogar o
artigo 142 da Constituição,
contribuindo para acabar
com a chamada tutela das
forças armadas; f )apresen-
tar PEC para desmilitarizar
a segurança pública, com
o objetivo de deter a esca-
lada de violência contra as
populações pobres, perifé-
ricas e negras, combinado
com medidas para por fim à
denominada “guerra às dro-
gas”;
12 . retomar e intensificar
a presença do Brasil nos fó-
runs e organismos multila-
terais, em especial nos BRI-
CS. Construir uma agenda
de recuperação da imagem
do país em todo o mundo,
priorizando a luta pela in-
tegração latino-americana e
caribenha. Restabelecer as
relações com os países da
África, da Ásia e do Oriente
Médio;
- NO 240 - ABRIL/2022
13 . tomando como re-
ferência a resolução do 6º
Congresso do PT, abrir o
debate com a sociedade bra-
sileira acerca da convocação
de uma Assembleia Nacio-
nal Constituinte.
7
 OPINIÃO
O golpismo no Brasil
n Luiz Sérgio Canário
A
nossa história
é repleta de
golpes. Foram
dez desde a independên-
cia em 1822, uma média
de um a cada 20 anos. Os
golpes contabilizados pe-
los historiadores:
A “Noite da agonia”:
dissolução da Assembleia
Constituinte de 1823.
Dado por D. Pedro I con-
tra a primeira Constituin-
te brasileira, apenas um
ano depois da indepen-
dência
Golpe da Maioridade
em 1840. Com seis anos
de idade D. Pedro II foi
proclamado imperador,
apesar de ter que aguar-
dar a maioridade.
Proclamação da Repú-
blica em 1889. Um ma-
rechal do exército lidera
um golpe militar que põe
fim a monarquia.
Golpe de 3 de novem-
- NO 240 - ABRIL/2022
“Noite da agonia”: dissolução da Assembleia Constituinte de 1823. Dado por D. Pedro I
8 contra a primeira Constituinte brasileira.
bro de 1891. Deodoro,
o marechal monarquis-
ta que derrubou a mo-
narquia, em seu primei-
ro ano como presidente
eleito indiretamente, dis-
solveu, com um decreto,
o Congresso Nacional e
com outro estabeleceu o
Estado de Sítio no Brasil.
Primeira revolta da Ar-
mada em 1891. Vinte dias
depois do golpe Deodo-
ro renuncia à presidência
sob ameaças da Marinha.
Assume seu vice, Floria-
no Peixoto, que se recusa
a convocar eleições, co-
mo previsto na lei, assu-
mindo o poder.
Revolução de 1930.
Golpe civil-militar, lidera-
do por Paraíba, Rio Gran-
de do Sul e Minas Gerais,
depõe o presidente elei-
to, o paulista Julio Pres-
tes, e assume o gaúcho
Getúlio Vargas. Marca o
fim da República Velha.
Estado Novo em
P R E S I D E N T E
1937. Com a justificati- Dilma foi deposta através lo mundo, especialmen-
va de um iminente golpe de um processo de impe- te na América Latina e no
dos comunistas, Getúlio achment por uma coali- Caribe e na África, ao lon-
fecha o Congresso, can- zão jurídico-parlamentar, go de todo o século XX. A
cela as próximas eleições apoiada pelos militares. pregação democrática do
e assume como ditador. Essa lista evidencia a imperialismo vai até on-
Deposição de Getúlio instabilidade institucio- de seus interesses ou dos
Vargas em 1945. Os mes- nal de nosso país. Sem- seus subordinados locais
mos militares que colo- pre que se vê apertada a são afetados. Democracia
caram Getúlio no poder burguesia não hesita em liberal é somente uma vi-
dão um golpe com a jus- usar a força, derrubando trine do centro do impe-
tificativa da mudança do governos que não aten- rialismo para mostrar co-
contexto internacional dam mais suas necessi- mo eles são superiores.
com o fim da II Guerra dades. Os motivos são va- Países periféricos não vi-
Mundial. riados. Ora a corrupção, vem muito tempo ser ter
Golpe de 1964. Com ora o comunismo ou a um golpe de estado.
a desculpa, mais uma ameaça às instituições e As democracias frá-
vez, de conter o avanço aos bons costumes. Mui- geis, de facha e mesmo
do comunismo no gover- tas vezes inaugurando inexistentes, são alvo fá-
no de João Goulart, uma períodos longos de ex- cil para os golpes. Via
coalizão encabeçada pe- trema violência contra de regra não são golpes
los militares, mas com o povo, particularmente que atendam a um gran-
forte apoio em setores a esquerda e outras for- de clamor popular por
da sociedade civil, depõe ças que se opõem a seus algum tipo de mudança.
o presidente e os milita- avanços. Quando existe esse cla-
res assumem o poder até A participação dos mi- mor é produzido pela
1985. litares é constante, como propaganda golpista so-
Golpe de 2016. Inver- protagonistas ou como bre a necessidade de se
tendo os papéis em rela- garantidores da ordem. A tirar o poder de mãos in-
ção a 1964, a presidenta participação do governo devidas que irão arruinar
dos EUA, através do uso o país. Mesmo que nos
de sua diplomacia, suas seus porões se torture
centrais de inteligência e e mate há até mesmo si-
segurança e seus milita- mulacros de democracia,
res, é uma constante. Os como em 1964 quando
“irmãos do norte” nun- se manteve o Congresso
ca falham em apoiar os aberto e o Judiciário fun-
movimentos golpistas da cionando, mesmo que
nossa burguesia ou mes- sob controle severo dos
mo instigando os golpes, golpistas.
como em 1964 e tudo in- O Golpe de 2016 não
dica em 2016. foi exatamente uma quar-
Para que não nos telada, no sentido de ter
sintamos sozinhos, es- sido construído e lidera-
se cenário se repete pe- do por militares em seus
 OPINIÃO
quartéis, no que pese o
seu apoio e participação
no golpe. As razões para
o golpe são semelhantes
às de todos os outros. O
governo da vez deixa de
atender os interesses da
burguesia, ou de setores
expressivos dela, e pre-
cisa ser derrubado para
dar início a um novo ci-
clo de dominação. Em
2016, após ficar evidente
nas eleições de 2014 que
afastar o PT do governo
pelo voto seria muito di-
fícil, o caminho do golpe
é a alternativa. Se mesmo
após as manifestações de
2013 e na Copa do Mun-
do de 2014 Dilma se ree-
lege, a perspectiva de vi-
tória do PT em 2018 era
real. A resistência popu-
lar ao golpe é baixa e Dil-
ma deixa a presidência
em 2016 para deixar em
seu lugar o vice Michel
Temer.
O golpe não para por
aí e a chamada operação
Lava Jato processa, julga,
condena e prende Lula,
impedindo sua participa-
ção nas eleições de 2018.
O resultado de todo es-
se processo é a eleição
de Bolsonaro, que não
estava no script, mas foi
apoiado pela burguesia
pois era a alternativa ao
PT. E chegamos à tragé-
dia que nos acompanha.
Toda essa trajetória
golpista nesses 200 anos
P R E S I D E N T E
o pré-sal e de destruir as
empresas de engenharia
que atuavam com suces-
so em vários mercados,
atendendo as vontades
do império e as necessi-
dades de nossa classe do-
minante.
Concluindo, estar
atento e preparado pa-
ra a perspectiva de ha-
ver um golpe no Brasil é
sempre necessário. Nun-
Golpe de 1964. ca se sabe. Não podemos
subestimar a força e ca-
pacidade dos nossos ad-
versários. Parte impor-
tante da esquerda, es-
pecialmente o PCB, não
acreditava na possibilida-
de do golpe em 1964. A
repressão acabou por as-
sassinar muitos de seus
integrantes mais tarde.
Em 2016, no mesmo ca-
minho, muitos, especial-
mente no PT, não acha-
Golpe de 2016.
vam possível haver um
golpe. Houve. E o país
de independência deixa modelo por ele implanta- defender os interesses sofre os efeitos disso até
claro que o golpe não é do entra em colapso e já dos EUA. É cada dia mais hoje com o país entregue
um raio em céu azul em não atende aos interesses documentada a partici-
a Jair Bolsonaro, seus fi-
nossa história. É uma fer- da burguesia. Aí muitas pação do Departamento
lhos, seus amigos milicia-
ramenta permanente- vezes a normalidade "de- de Justiça dos EUA - DoJ
nos e ao que há de pior - NO 240 - ABRIL/2022
mente à disposição das mocrática" é aplaudida e - no golpe de 2016, espe-
nas igrejas evangélicas,
classes dominantes. É tão passa ser a melhor forma cialmente na construção
movidas, como se sabe
útil e comum como uma de tratar os problemas e e execução da Lava Ja-
a gora, a barras de ouro.
eleição. Está aí para ser as crises de nosso país. to. Moro frequentava os
usada sem pudor sem- Outra característica é corredores do DoJ e foi Ao fim e ao cabo o ou-
pre que necessário. E na a participação do impe- treinado e instruído por ro nem veio de Moscou
sequência esmagar com rialismo em quase todos eles. A Lava Jato foi a res- nem foi parar no cofre
a violência que lhes for esses golpes. A burgue- ponsável por tirar Lula da dos comunistas. 
necessária qualquer opo- sia periférica e subordi- disputa em 2018, de des- Luiz Sérgio Canário é
sição. E que os golpes só nada de nosso país es- nacionalizar a indústria militante petista em São
chegam ao fim quando o tá sempre a postos para do petróleo e entregar Paulo capital. 9
 OPINIÃO
P R E S I D E N T E

O golpe de 2016 e as classes sociais

n Francisco Pereira para adoção do progra-
de Farias ma neoliberal, em cujos

D
eixos estão a abertura
entre as aná-
comercial e as privati-
lises das re-
zações. A recessão eco-
lações de Es-
nômica da década de
tado e economia no
1970, ligada ao aumen-
capitalismo contempo-
to do preço do petró-
râneo, o trabalho de
leo, havia levado à ex-
Nicos Poulantzas des-
plosão da dívida exter-
taca-se por contemplar
na brasileira, abrindo a
ao centro da dinâmica
oportunidade à contra-
sócio-histórica as rela-
ofensiva do Fundo Mo-
ções de antagonismo e
conflito de classes e fra- netário Internacional
ções de classe sociais, pelo corte de gastos e
uma vez que isto per- Pato amarelo da Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, utilizado em protestos da burguesia bancária
mite a decifragem do
contra a presidenta Dilma Rousseff. nacional em sua pers-
sentido da história con- pital monetário. O pro- tas constitucionalistas -, sociais) das condições pectiva de controle in-
temporânea para além grama desenvolvimen- bem como sociais - pa- de reprodução da classe flacionário da moeda.
das aparências institu- tista – controle cambial, tronato nacional e sindi- trabalhadora. O relativo Mas houve resistên-
cionais ou dos discur- crédito estatal, investi- catos de trabalhadores - sucesso deste modelo cias por parte da bur-
sos oficiais. Poulantzas mento em bens de capi- que a sustentavam. de Estado intervencio- guesia industrial e dos
indica à análise da re- tal – tende a privilegiar A ascensão do po- nista provoca, por sua trabalhadores, confluin-
produção do capital fi- os interesses do capital der financeiro no Brasil vez, a reação do setor do no movimento das
nanceiro - o conglome- produtivo dentro desse se dá por fatores gerais bancário do grande ca- “Diretas já” e a volta
rado econômico que capital financeiro. Foi o e particulares. No pla- pital, que passa a recla- da eleição presidencial,
envolve a diferenciação ocorrido com a política no geral, o compromis- mar de crescentes cus- embora esta tenha sido
de frações de classe ca- intervencionista do Es- so de capital industrial tos salariais e fiscais, já realizada pelo Congres-
pitalista, como a oposi- tado na Europa, após a e sindicatos dos traba- que esse setor, por não so Nacional. Deu-se as-
ção de indústria e ban- crise de 1929, política lhadores no pós-1985, se inserir na produção sim a formação do Go-
co - a ocorrência de dois que teve continuidade com a política da Nova mais-valia, adota como verno Tancredo-Sarney
caminhos: a dominân- em função das coalisões República, determina a estratégia de lucro basi- (1985-1989), sob a he-
cia do capital produtivo partidárias - liberais implementação de, por camente as práticas de gemonia da burguesia
ou o predomínio do ca- progressistas e socialis- um lado, uma política redução de custos. industrial, pois princi-
- NO 240 - ABRIL/2022

industrial que susten- No plano particular, pal força social benefi-

ta a rentabilidade das
empresas com base no
aumento de produtivi-
dade e, por outro lado,
uma política trabalhis-
ta que possibilita a am-
pliação direta (aumen-
tos reais de salários) e
indireta (implantação
10 e expansão de direitos
a ascensão do poder fi-
nanceiro se dá não por
desenvolvimento inter-
no, mas sim por con-
quista externa. O Go-
verno Figueiredo (1979-
1984) sofreu o início
das pressões da burgue-
sia financeira americana
(Governo Reagan, FMI)
ciária do Plano Cruza-
do, composto por uma
série de medidas hete-
rodoxas ou desenvol-
vimentistas de política
monetária, fiscal, credi-
tícia e orçamentária. Po-
rém, o insucesso do Pla-
no Cruzado, devido em
parte ao boicote do sis-
 OPINIÃO
P R E S I D E N T E

tema de bancos nacio- do a medida heterodo- dução de taxas de juros mais que a média mun-
nais e estrangeiros, fez
prevalecer na segun-
da metade do manda-
xa de controle da mo-
eda, com os confiscos
de ativos monetários e
e barateamento de pre-
ços de insumos às em-
presas industriais. Tais
dial (em 2012, os salá-
rios nacionais subiram
2,8%, enquanto a média
“
O aprofundamento
to presidencial a linha poupanças de assalaria- medidas ensejaram o global foi 1,2%). Mas o da compreensão
ortodoxa de estabiliza- dos, o que a veio a in- aumento da rentabili- aumento de salários di- do golpe político
ção monetária do Minis- compatibilizar com as dade do capital indus- reto (salário-mínimo) e de 2016 envolve,
tro Maílson da Nóbrega, diretrizes liberalizantes trial e estimularam os indireto (política social) em primeiro
que adotou medidas co- do capital hegemônico. ganhos de produtivida- estava previsto na alian- momento, se
mo a contenção ao cré- A nossa hipótese de de, pela adoção de no- ça de classes, arbitrada expor os traços
dito estatal e o corte or- trabalho sobre o fator vas tecnologias, apesar pelo Estado. Daí, a des- básicos sobre
çamentário em serviços. determinante em última de o aumento de com- peito da crítica à alta de a gestão da
Foi então que o can- instância da crise de in- petitividade na empre- impostos, as várias em- Presidenta
didato do Partido da terdição do mandato da sa industrial brasileira presas, descrentes nas Dilma Rousseff,
Reconstrução Nacio- Presidenta Dilma Rous- não ocorrer no ritmo expectativas de investi-
o Congresso
nal, Fernando Collor seff em 2016 se benefi- dos principais países mentos, tenderam a re-
converter os incentivos
Nacional, o
de Mello, com um dis- cia de analogia histórica emergentes, como Chi-
na e Índia. No entanto, creditícios e tributários capital financeiro
curso populista de defe- com o tipo de crise polí-
tica que derrubou o Pre- apesar de o Governo em aplicações no mer- (indústria e banco)
sa dos pobres (os “des-
camisados”), por meio sidente Collor em 1992. ter em vista a hegemo- cado monetário, fortale- e os setores
do combate ao parasitis- A raiz de ambos os pro- nia industrial, os repre- cendo o setor da empre- organizados da
mo no Estado (os “ma- cessos políticos seria a sentantes diretos des- sa ligado ao rentismo. classe assalariada
rajás”) e em nome dos crise de representação ta fração de classe tran- Enfim, o aprofunda- (produção e
valores da competição e dos interesses da fração sitaram para a postura mento da compreen- circulação).

”
da eficiência do merca- hegemônica do bloco de não fazer a defesa são do golpe político de
do econômico, elegeu- no poder. da política governamen- 2016 envolve, em pri-
-se em 1989 à Presidên- O Governo Dilma I tal diante das críticas do meiro momento, se ex-
cia da República. Mas a (2011-14) veio fortale- segmento bancário. por os traços básicos real da história brasilei-
influência do capital fi- cer a hegemonia políti- O motivo disso tal- sobre a gestão da Pre- ra da eleição de novem-
nanceiro internacional, ca do capital financeiro vez tenha sido que os sidenta Dilma Rousse- bro 2015 ao impeach-
materializada sobretu- com dominante indus- representantes indus- ff, o Congresso Nacio- ment de agosto 2016.
do nos meios de comu- trial. O intervencionis- triais estivessem insatis- nal, o capital financeiro Esse aprofundamento,
nicação, foi decisiva no mo adotado pela equipe feitos com o ritmo dos (indústria e banco) e os em segundo momen-
resultado do pleito elei- econômica do Governo resultados da política setores organizados da to, requer se explicar - NO 240 - ABRIL/2022
toral. A confluência de incidiu no investimento industrial de inovações classe assalariada (pro- as motivações imediatas
objetivos traduziu-se na produtivo por meio do tecnológicas, organiza- dução e circulação) –
que levaram ao resulta-
promulgação do Plano Plano de Aceleração do cionais e de produtos, averiguando, mais con-
do do impeachment, re-
Collor, cujas medidas Crescimento, focando cujos efeitos só se viria cretamente, as postu-
indicavam basicamen- em obras de infraestru- a sentir a médio prazo, ras das representações lacionando estas finali-
te a desregulamentação tura (portos, aeropor- com o salto de produti- associativas de indús- dades manifestas ao ne-
da economia e a priva- tos, estradas, fontes de vidade nas empresas e a trias (CNI, FIESP), ban- xo latente dos eventos.
tização de empresas es- energia), desonerações ascensão da rentabilida- cos (FEBRABAN, CNF) 
tatais, apesar de a Minis- fiscais e previdenciárias, de dos capitais. É verda- e trabalhadores (CUT, Francisco Pereira de
tra da Fazenda, Zélia de crédito subsidiado pe- de que os salários brasi- MST); busca-se apreen- Farias é filiado ao PT do
Mello, ainda ter adota- los bancos estatais, re- leiros estavam subindo der a conexão interna Piauí 11
 ENTREVISTA
P R E S I D E N T E

Fala Jandyra

E
ntre as maiores estudar e compreender finalmente pela eleição samos em Jango, nos
vítimas do gol-
pe de 1964 e da
ditadura militar está
os períodos 1961/1964
e 1964/1985, pois daí
devemos extrair mui-
de Bolsonaro, que des-
de sempre fez apologia
à ditadura militar. Mi-
“
É preciso
estudantes, nos artis-
tas, na luta armada.
E a classe trabalha-
a classe trabalhado- tas lições para a clas- lhares de militares es- entender dora? E o movimento
ra brasileira. A respei- se trabalhadora, tanto tão espalhados em to- que um dos sindical durante o
to deste tema, Página em relação à repressão das as áreas e setores determinantes golpe e durante a di-
13 entrevistou Jandyra política, assassinatos, do governo, compactu- para o processo tadura?
Uehara, secretária na- perseguições e aniquila- ando com a entrega das do golpe de 2016
mento de organizações riquezas do país para o O período que ante-
cional de políticas so- foi o fato das
da classe trabalhado- grande capital interna- cedeu o golpe militar de
ciais e direitos huma- forças armadas 1964 foi de luta inten-
nos da CUT. ra, quanto dos proces- cional, com a perda da terem conspirado
sos de corrupção, de- soberania nacional, com sa pelas chamadas re-
e atuado pelo formas de base. Os tra-
Página 13: Mais um pendência econômica o genocídio e a corrup-
impeachment da balhadores da cidade e
primeiro de abril se e crescimento da dívida ção na pandemia da Co-
externa implementados vid-19 e com a destrui-
presidenta Dilma, do campo se organiza-
aproxima. Continua pela condenação vam no Comando Ge-
atual falar do golpe, durante a ditadura mi- ção de direitos da classe
litar. trabalhadora. e prisão de Lula, ral dos Trabalhadores
da ditadura e do pa-
pela interdição de (CGT), na Confedera-
pel das forças arma- Mas sobretudo é pre- Antes de completar ção Nacional dos Traba-
sua candidatura
das? ciso entender que um 100 dias no cargo, Bol- lhadores na Agricultura
e finalmente
dos determinantes pa- sonaro autorizou a co- (CONTAG) e nas Ligas
Jandyra: Sim, com pela eleição de
ra o processo do golpe memoração nas unida- Camponesas. Exigiam
certeza. É fundamental Bolsonaro.
de 2016 foi o fato das des militares do 31 de reforma política, sindi-
forças armadas terem
conspirado e atu-
ado pelo im-
março de 1964, data em
que teve início a ditadu-
ra militar no Brasil. Fora
” cal, educacional, fiscal
e agrária. Como se vê,
estas lutas vêm de lon-
peachment seu constante desrespei- nhecimento de que as ge e permanecem atu-
da presi- to às vítimas sobreviven- violações ocorridas no ais, pois as classes do-
denta Dil- tes dos crimes e atroci- Brasil durante a ditadu- minantes forjam golpes
ma, pela dades cometidas pelo ra foram crimes contra a toda vez que o povo am-
condena- Estado Brasileiro duran- humanidade, não passí- plia sua organização e
ção e pri- te a ditadura, o ex-capi- veis de prescrição, anis- seus espaços de reivin-
são de Lula, tão do Exército impõe tia ou qualquer outro dicação. Especialmen-
pela inter- obstáculos à busca por obstáculo à justiça. te o mês de março de
- NO 240 - ABRIL/2022

dição de sua justiça e ao cumprimen- 1964 foi de intensa agi-

candidatu- to das decisões da Corte Temos, portanto, um
grande caminho a per- tação social, a exemplo
ra e Interamericana que de- do comício em apoio às
terminam que a Lei de correr para que a dita-
dura militar seja um te- Reformas de Base, que
Anistia não seja inter- reuniu mais de 150 mil
pretada para impe- ma do passado, e isto
exige colocá-lo na or- pessoas no Rio de Janei-
dir a investigação e
dem do dia. ro.
punição de graves
violações de direi- O CGT, a CONTAG
tos humanos, as- Geralmente falamos e as Ligas Campone-
12 sim como o reco- da ditadura e pen- sas foram violentamen-
 ENTREVISTA
P R E S I D E N T E

te perseguidas, sedes CR$ 68,93 em 1970. A

de sindicatos foram in-
vadidas, seus dirigentes
presos, cassados, tortu-
concentração de renda -
índice de GINI - que era
de 0,50 na década de
“
Nos 21 anos de
rados e até mesmo as- 1960, chegou a 0,59 na ditadura militar
sassinados. Para conter década de 1980. Inten- no Brasil, entre
qualquer possibilidade sificou-se o processo de 1964 e 1985, os
de reação dos trabalha- exploração do trabalha- trabalhadores e
dores, foi imposta toda dor, com aumento da trabalhadoras
uma legislação de cer- jornada e precarização foram as
ceamento das liberda- do trabalho e piora nas principais vítimas
des democráticas, co- condições de vida. Uma do regime militar,
mo a lei de greve, a lei das consequências des-
como mostraram
do fim da estabilidade ta superexploração foi
as investigações
no emprego, a lei de se- a posição de “campeão
gurança nacional, a lei mundial de acidentes
da Comissão
de imprensa, entre ou- de trabalho”, alcançada Nacional da
tras. Tudo isso, combi- pelo Brasil em 1976. Verdade. Milhares
nado com um progra- de pessoas
Ao mesmo tempo, foram presas,
ma de desenvolvimento
instalou-se nas fábricas,
dependente do capital torturadas,
especialmente nas mul-
internacional, ao qual perseguidas e
tinacionais, uma aliança
se submetiam empresá- vigiadas nas
dos empresários com os
rios e latifundiários, foi empresas, e
militares e com agentes
seguido de arrocho sa- algumas centenas
da repressão infiltrados ração com o regime mi- lhares de pessoas foram
larial, desemprego, in- desaparecidas e
entre os operários, re- litar está reconhecido e presas, torturadas, per-
tenso êxodo rural, con-
primindo todas as for- comprovado. Empresas seguidas e vigiadas nas assassinadas.
centração das proprie-

”
mas de organização e estatais como a Petro- empresas, e algumas
dades, da renda e da
manifestação coletiva. brás foram militarizadas centenas desaparecidas
riqueza, e aumento da
Sindicalização, partici- e transformadas em ver- e assassinadas.
miséria nas grandes ci- Trabalhadores (PT) e da
pação em assembleias, dadeiros laboratórios
dades. A lei de greve de Mesmo em meio ao CUT (Central Única dos
oposições aos colabo- de como se fazer vigi-
fato acabou com este di- desmantelamento das
racionistas pelegos fo- lância e repressão con- Trabalhadores).
reito. No caso do setor organizações e de inten-
ram, na prática, proibi- tra os trabalhadores. - NO 240 - ABRIL/2022
público, a proibição era sa repressão dentro das
das, o que dificultou ou O PT fez um progra-
expressa, assim como Enfim, nos 21 anos fábricas e do setor pú-
inviabilizou a ação sin- ma de reconstrução
para os chamados “ser- de ditadura militar no blico, tivemos as heroi-
dical combativa. Os de- e transformação e
viços essenciais”, greves Brasil, entre 1964 e cas greves de Contagem
partamentos de RH das não fala nada sobre
de solidariedade e aque-
empresas forneciam as 1985, os trabalhadores (MG) e Osasco (SP), em
las consideradas de “na- forças armadas. Um
listas daqueles que de- e trabalhadoras foram 1968, e as grandes gre-
tureza política, social ou futuro governo Lula
veriam ser demitidos as principais vítimas do ves que iniciaram o pro-
religiosa”. deveria tomar quais
ou presos, a exemplo regime militar, como cesso de derrota da di-
medidas sobre esse
O valor do salário mí- do caso da Volkswagen, mostraram as investi- tadura entre 1978/1981,
tema?
nimo real caiu de CR$ cujo sistema de vigilân- gações da Comissão Na- impulsionando o surgi-
112,52, em 1961, para cia, repressão e colabo- cional da Verdade. Mi- mento do Partido dos É preciso que o PT 13
 ENTREVISTA
P R E S I D E N T E

priorize esse debate es- administrativos e judi- lhada do que houve em não é mais uma opção,

“
É preciso que
tratégico sobre Defesa
Nacional e Forças Ar-
madas. Não é possível
ciais contra todos que
tenham atentado contra
os direitos humanos du-
cada território. É preci-
so apresentar PEC pa-
ra revogar o artigo 142
mas uma necessidade,
se quisermos estancar
o genocídio da juventu-
o PT priorize ter um projeto nacio- rante o governo Bolso- da Constituição, contri- de negra nas periferias
esse debate nal soberano, popular e naro, especialmente os buindo para acabar com das grandes cidades, se
estratégico democrático sem deba- relacionados ao genocí- a chamada tutela das quisermos uma polícia
sobre Defesa ter e ter propostas cla- dio causado por políti- Forças Armadas, que au- que atue na prevenção
Nacional e Forças ras sobre esses temas. cas negacionistas frente toriza a intervenção mi- da criminalidade e pro-
Armadas. Não é Um novo governo Lula à pandemia. É preciso litar quando julgarem teja a população. A mi-
possível ter um precisa enfrentar essas colocar na reserva todos necessário. Ao mesmo litarização da segurança
projeto nacional questões, revogar todas os comandantes nomea- tempo, apresentar PEC pública está para além
soberano, popular as medidas de Bolso- dos após 2018. para desmilitarizar a se- da militarização das po-
naro que serviram para gurança pública, com o lícias militares. Mas nas
e democrático São imprescindíveis
iniciar um processo de objetivo de deter a esca- polícias militares é al-
sem debater e ter medidas em defesa do
militarização dos ser- lada de violência contra go direto, estrutural,
propostas claras viços públicos, inclusi- direito à memória e à as populações pobres, operacional, discipli-
sobre esses ve de escolas. Bolsona- verdade do povo brasi- periféricas e negras. nar, ideológico, condu-
temas. ro colocou cerca de 10 leiro e responsabiliza-
zido pelo princípio da

” mil militares em cargos ção dos agentes envol-

Muita gente não en- guerra, de atacar o “ini-
estratégicos e importan- vidos em desrespeito
tende o que queremos migo”, no caso as clas-
tes, em vários ministé- aos direitos, liberdades
dizer quando defen- ses populares, ou se-
rios, órgãos de governo e vida do povo desde
demos a "desmilitari- ja, a maioria de pobres
e empresas estatais. Es- o golpe de 2016. De-
zação" da segurança e pretos que vivem nas
ses militares devem re- vem ser instaladas Co-
pública, das polícias. periferias do nosso país.
tornar para os seus pos- missões da Verdade nos
O que você pode nos
tos, ao mesmo tempo Estados brasileiros, sob Nas polícias milita-
dizer a respeito?
em que o novo gover- coordenação do gover- res, tudo é tratado co-
no deve fazer a aber- no federal, para apura- A desmilitarização mo combate, como
tura de procedimentos ção/sistematização deta- da segurança pública guerra. E no Brasil isto
- NO 240 - ABRIL/2022

14
 ENTREVISTA
foi determinado a par-
tir de três características
permanentes na nossa
história: a superexplo-
ração da força de traba-
lho que carrega as mar-
cas de quatro séculos
de escravização e o ra-
cismo estrutural que se
impôs no processo de
desenvolvimento do pa-
ís, uma mentalidade co-
lonizada de acordo com
os interesses do impe-
rialismo e a permanen-
te ameaça às liberdades
democráticas da maio-
ria do povo.
São muitos os aspec-
tos que devem ser apre-
sentados e discutidos
diante da questão da
desmilitarização da se-
gurança pública, mas os
principais têm a ver com
os reflexos que a milita-
rização causa à socieda-
de e aos profissionais
da segurança. A violên-
cia policial, por exem-
plo, está estritamente
relacionada ao princí-
pio de guerra presente
desde a origem das po-
lícias no Brasil, tendo se
agravado por ocasião da
ditadura militar instituí-
da em 1964. Nessa oca-
sião, o método de guer-
ra revolucionária, que
foi desenvolvida pelos
franceses nas guerras
coloniais da Indochina
e da Argélia, e ensinada
pelos estadunidenses
P R E S I D E N T E
aos militares dos países
das Américas para as di-
taduras implantadas no
século passado durante
a Guerra Fria, tornou-
-se a especialização mili-
tar da violência contra o
próprio povo. Isso não
ficou apenas no âmbi-
to das Forças Armadas,
mas alcançou o sistema
de segurança pública,
tornando-se um princí-
pio norteador.
A desmilitarização
da segurança pública
é uma tentativa de se
romper com esses la-
ços, com essa herança
da ditadura. Espera-se a res não gozam da plena litar, é um exército à toritarismo e o militaris-
diminuição da violência cidadania, se são bruta- disposição dos gover- mo historicamente per-
policial e a superação lizados, desrespeitados nos, mas para que este- verso presente nas polí-
do princípio de guerra e condicionados para ja completamente à dis- cias reagirão de alguma
do sistema de seguran- agir como numa guerra, posição, precisa haver forma. Diante disso,
ça pública. Entretanto, como podem assegurar identificação entre a po- pulso firme, convicção,
isso apenas não basta, os direitos e respeitar lítica de segurança pro- conscientização e for-
é necessária uma trans- princípios de preserva- posta pelo governo e a mação são fundamen-
formação social profun- ção da vida e dos direi- instituição policial. tais.
da, a superação das de- tos humanos? Essa con-
tradição é insuperável Nossa política de se- Também não pode-
sigualdades econômicas
e sociais e a ampliação na condição militar da gurança pública não po- mos esquecer que o
das liberdades demo- polícia. de se dobrar à ideologia controle sobre as tropas
cráticas. de guerra da polícia mi- policiais são exercidas
litar. Nossos governos - pelos corpos de coman-
Desmilitarizar as Po- O governo de São - NO 240 - ABRIL/2022
não apenas em São Pau- do. Assim, o coman-
lícias Militares é uma Paulo tem na PM um
lo, mas em todo o pa- do de dez ou mil deve
necessidade urgente, exército à sua dispo-
ís - devem iniciar a sua ser tratado com a mes-
inadiável, é imprescin- sição. Se o próximo
relação com as polícias ma prioridade, porque
dível para a sociedade, governador for petis-
de forma muito clara, é através do corpo hie-
para a democracia, pa- ta, qual deveria ser
expondo a sua política rárquico que o gover-
ra a classe trabalhadora a nossa política de
e criando mecanismos no controla ou perde a
e também para os (as) segurança pública es-
para que seja de fato im- sua polícia. Isso signifi-
profissionais que inte- tadual?
plementada. Claro que ca que nosso governo
gram essas corporações.
De fato, a PM, espe- isso terá resistências! O deve ter atenção espe-
Se os policiais milita- cialmente por ser mi- conservadorismo, o au- cial ao comando geral 15
 ENTREVISTA
P R E S I D E N T E

desmilitarização da po- disposição em enfren-

lícia, o que podemos
fazer é alterar algumas
colunas que mantêm a
estrutura atual, trans-
formando alguma coisa,
melhorando a realida-
de, mas sem resolver o
problema.
O momento exige
ver a segurança pública
em sua complexidade e
voltar nossos esforços
para mudar a mentali-
dade policial a partir da
formação profissional,
da hierarquia de coman-
ser tratados com respei- as é nas camadas popu-
tar essa questão, pois se
não mudarmos a menta-
lidade presente no sis-
tema de segurança pú-
blica, nada do que fi-
zermos terá efeito. Para
transformarmos essa re-
alidade, precisamos da
colaboração de todos
os (as) envolvidos (as)
no sistema de seguran-
ça pública, e essas pes-
soas só colaborarão ca-
so estejam convencidas
de que isso é o melhor,
ou seja, pela disputa po-
lítica ideológica associa-

“
do, do monitoramento da a mudanças efetivas
to e cuidado. lares, nas classes traba-
da violência policial, da nas condições de vida e
lhadoras, e com elas de-
É preciso É preciso resolver melhoria das condições de trabalho da base das
vem ter identidade.
prestigiar a uma grande contradi- de vida dos (as) servido- polícias militares.
base da polícia, ção que os governos Nossa política de res (as) da área. Deve-
tucanos mantiveram, governo estadual deve mos investir na preven- Enquanto não des-
com valorização
trabalhar intensamen- ção primária, que traba- militarizarmos a segu-
salarial, ou seja, remunerações
te a formação profissio- lha na raiz, na origem rança pública, isso é um
condições de muito desiguais entre
nal. Temas como direi- da violência e crimina- pouco do que podemos
trabalho para os postos e graduações
tos humanos e cidada- lidade, por meio de po- fazer. Evidentemente, a
aqueles e aquelas na Polícia Militar [isso
nia devem ser tratados líticas públicas capazes realidade concreta e o
que efetivamente também serve para as
de forma permanente de alterar as causas des- processo político social
atendem e servem polícias civis]. É preci-
e estrutural, não como sa violência e criminali- devem apresentar com
a população. so prestigiar a base da o tempo novos proble-
polícia, com valorização apêndices do processo dade - segurança públi-

” formativo. ca não se resume às po- mas e novas saídas e so-

salarial, condições de luções possíveis. Os go-
lícias, leis e cárcere, mas
- NO 240 - ABRIL/2022

trabalho para aqueles e Em âmbito nacio- vernos petistas devem

da Polícia Militar e aos aquelas que efetivamen- fundamentalmente no
nal, é preciso alterar a enfrentar o problema
diversos comandos da te atendem e servem a enfrentamento às de-
Constituição Federal de da segurança pública,
capital e do interior que população. É absoluta- sigualdades sociais, in-
1988, cujos avanços não governar não é seguir
formam a rede ou a pi- cluindo um processo de
mente fundamental que aconteceram na área receitas prontas, mas é
râmide de comando. Os reforma urbana.
soldados, cabos e sar- militar e da segurança imprescindível ter co-
serviços de inteligência gentos sejam incorpora- pública. Isso quer di- Mas, insisto, tudo co- mo diretriz ganhar este
devem ser especialmen- dos numa nova política zer que enquanto não meça com o posiciona- exército para uma polí-
te observados, pois são de segurança, lembran- conseguirmos alterar mento seguro e diferen- tica de segurança pre-
indispensáveis à segu- do sempre que a origem a Constituição Federal ciado dos nossos gover- ventiva e de proteção da
16 rança pública e devem destes/as trabalhadores/ de forma a possibilitar a nos frente ao problema, classe trabalhadora.
 LUTAS
P R E S I D E N T E

O Serviço Público e a Garantia de

Direitos à Classe Trabalhadora Foto: @scarlettrphoto/Sinasefe
n Mariuza Aparecida
Camillo Guimarães

O
serviço pú-
blico brasi-
leiro é uma
das áreas com impactos
nunca antes visto neste
país. Desde o golpe de
2016, o que se tem vis-
to são tentativas de des-
monte das políticas pú-
blicas construídas no
país, sobretudo, aquelas
dos períodos pós dita-
dura militar e, de forma
mais específica, as dos
governos petistas.
conjuntura adversa a re- caso aprovada, será o cos universalizados co-

“
O Brasil caracteriza-
forma trabalhista, a re- golpe de misericórdia mo nos casos da saúde,
do como ‘em desenvol-
forma da previdência, sobre o estado brasilei- com o Sistema Único de
vimento’, teve cresci- Em 2021, em
a aprovação da Emenda ro e as políticas públi- Saúde (1990) e a educa-
mento significativo nos plena pandemia
Constitucional 95/2016, cas, sobretudo, aquelas ção básica obrigatória
governos petistas, en- do Coronavírus,
entre outras medidas que se constituem em de 4 a 17 anos (2011),
tretanto, após o golpe com mais de
de retirada de direitos, políticas de compensa- Sistema Único da Assis-
muitos dos avanços so- meio milhão de
houve luta. Diversas ção, voltadas aos grupos tência Social (2005), en-
freram brutais retroces- mortos, o governo
manifestações locais e mais vulneráveis da so- tre outras garantias de
sos.
nacionais. ciedade, necessária em de extrema direitos.
As contrarreformas razão do capitalismo a direita instalado
promoveram um pro- Em 2021, em plena la brasileira, que é cen- no Palácio Além da luta em de-
cesso de intimidação pandemia do Coronaví- trado na agropecuária, do Planalto, fesa dos serviços pú-
das categorias dos/as rus, com mais de meio no latifúndio e na supe- empreendeu blicos, as categorias do
servidores e servidoras milhão de mortos, o go- rexploração. serviço público federal - NO 240 - ABRIL/2022
diversos
do serviço público fe- verno de extrema direi- estão se mobilizando
O Brasil, como resul- movimentos
deral, a organização sin- ta instalado no Palácio pela reposição salarial,
tado da luta da classe políticos na
dical que já vinha em do Planalto, empreen- que desde 2015 acom-
trabalhadora, vinha em tentativa de
refluxo em razão das deu diversos movimen- panha as ações de des-
uma constante desde a aprovar a PEC
reformas neoliberais, tos políticos na tenta- truição das carreiras,
década de 1980, para ci- 32/2020, que trata
acusou o golpe e preci- tiva de aprovar a PEC desvalorização dos salá-
32/2020, que trata da
tar apenas período mais da Contrarreforma rios e a perda significati-
sou de um tempo para
se reorganizar. Contrarreforma Admi-
recente, consolidando a Administrativa. va do poder de compra

”
democracia e amplian-
nistrativa. dos salários.
Mas, deve-se ressal- do as garantias de direi-
tar que apesar dessa Essa contrarreforma, tos, de serviços públi- As perdas de uma 17
 LUTAS
Vigília em frente ao Ministério da Economia
forma geral somam em
torno de 35%. Mas da-
da a conjuntura, uni-
ficando a luta dos/das
Servidores/as públicos/
as reivindica-se a repo-
sição salarial de 19,99%.
Grande parte das cate-
gorias já tiraram indi-
cativo de greve, cujas
ações iniciaram-se no
dia 23.03.2022. Dentre
as ações desencadeados
- NO 240 - ABRIL/2022
pelo Fórum das Entida-
des Nacionais dos Servi-
dores Públicos Federais
(FONASEFE) destacam-
-se:
Vigília permanente
na porta do Ministério
da Economia;
23 de março - Entre-
18 ga de ofício das entida-
des que compõe o FO-
NASEFE, solicitando au-
diência com o governo;
29, 30 e 31 de mar-
ço - Caravanas para Bra-
sília;
30 de março - Ato
Ocupa Brasília;
1º de abril - Ato dita-
dura nunca mais – Ato
pelas Liberdades Demo-
cráticas convocado pe-
lo ANDES-SN em Porto
Alegre/RS;
7 de abril - Atos em
Defesa do SUS;
9 de abril - Dia Na-
cional pelo Fora Bolso-
naro;
Estas são algumas
das atividades que se
P R E S I D E N T E
“
Além da luta
em defesa dos
serviços públicos,
as categorias do
serviço público
federal estão se
mobilizando pela
reposição salarial,
que desde 2015
acompanha
as ações de
destruição
das carreiras,
desvalorização
dos salários e a
pretende realizar como Pela Greve Geral co- perda significativa
estratégias de mobiliza- mo instrumento de lu- do poder de
ção para a luta em de- tas; pelo Fora Bolsonaro; compra dos
fesa dos serviços públi- e, contra a PEC 32! 
salários.
”
cos; em defesa da vida; Mariuza Aparecida
pela reposição salarial
Camillo Guimarães
imediata de 19,99% pa- é vice-presidenta da
ADUFMS (seção sindical),
ra a categoria de servi- dirigente do PT e da AE
dores/as públicos/as. em Campo Grande (MS)
16 de março, dia Nacional de Mobilização e Luta pela recomposição salarial emergencial de 19,99%