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Cabala Prática – Parte 10

Segunda Parte: Os Fluxos da Mente e a Emoção

Tiféret: Desenvolvendo um Coração Sábio


O grande médico e filósofo do Século XII, Moshé Maimônides, aconselhava
os seus discípulos a procurarem sempre o caminho do meio.
O interessante é que ele aconselhava as pessoas raivosas e mesquinhas a ir
a extremos.
Ele dizia a uma pessoa irada para se tornar um pacifista, mesmo quando
isto parecia contradizer a lógica; e ele aconselhava um miserável a
combater os seus instintos e dar mais do que o quanto poderia suportar
normalmente.
Como já vimos nos dois capítulos anteriores, a raiva e a mesquinhez são as
verdadeiras antíteses da natureza doadora do Cosmos.
O conto Chassídico relatado a seguir ilustra este preceito:
Era uma vez um rei que tinha dois bons amigos que se rebelaram contra o
reino.
Neste caso, não restava outra opção ao rei senão a de aplicar a lei — a
pena de morte.
Mas ele não se sentia em condições de executar os seus amigos.
Assim, ao invés disto, ele erigiu uma corda bamba por sobre o pátio,
estendida a uma altura razoável.
Cada prisioneiro deveria atravessar para o outro lado da corda bamba para
alcançar a liberdade.
As chances eram escassas, mas, miraculosamente, o primeiro prisioneiro
conseguiu atravessar e ganhar a sua liberdade.
O segundo prisioneiro pedia orientação ao companheiro agora livre e grato.
Este respondeu-lhe à distância: "Todas as vezes que eu me sentia
desequilibrado, começando a pender para um lado, eu não esperava até
que todo o meu peso pendesse para aquele lado; eu imediatamente
compensava com o oposto!"
Este é o conselho de Maimônides.
Não espere até que as suas palavras e comportamento revelem um
desequilíbrio emocional.
Compense, mesmo antes de as expressões se tornarem visíveis.
Este é o caminho indicado para o equilíbrio da emoção conseguido através
da Sefirá de Tiféret.

Equilíbrio interior para o bem-estar


Todos os caminhos espirituais intimam o equilíbrio interior.
Também é a postura subjacente da abordagem médica da Ayurvéda
Oriental que Deepak Chopra tornou acessível.
A abordagem Ayurvéda do bem-estar vê a nossa natureza básica em
termos de três tipos corporais principais, chamados de "doshas", que se
combinam de dez diferentes maneiras.
As combinações resultam em dez subconjuntos tipológicos pelos quais,
individualmente, podemos ser acessados.
Estas tipologias são herdadas, resultando num "pacote de assinaturas" da
mente, do corpo e do comportamento.
Generalizações podem ser feitas sobre cada tipologia.
Por exemplo, os do tipo "vate" tendem a ser esbeltos, lépidos, com sono
leve, irritáveis, preocupantes, e propensos a repentinas explosões
energéticas.
Os do tipo "pitta" tendem a ter um porte corporal médio, são portadores de
um aguçado juízo e intelecto, são mais facilmente enraivecidos, articulados,
e são ordenados quanto às refeições.
Já os do tipo "kapha" tendem a ter uma constituição física mais forte, são
mais relaxados, têm uma compreensão mais vagarosa, são mais tolerantes,
e dormem por períodos mais longos.
Uma grande parte do tratamento Ayurvéda centraliza-se na restauração de
cada dosha ao seu "eu".
Mais ênfase é dada ao restabelecimento de um saudável equilíbrio naquele
indivíduo, cujo equilíbrio natural foi perturbado em decorrência de um
deslocamento no seu estilo de vida e em sua Mente-Emoção.
Um excelente livro, que faz uma apresentação destes conceitos e do modelo
Ayurvéda, é o Perfect Health: The Complete Mind/Body Guide, de Deepak
Chopra.
O interessante paralelo existente com a psicologia Chassídica e com a
Cabalá é a idéia de que todos nós temos o poder de conscientemente
intervir e alterar o estado de equilíbrio.
Ambos ensinam que a Mente tem uma poderosa influência em nosso
equilíbrio espiritual e físico.
A tradição Ayurvéda chama o equilíbrio natural original da pessoa de
"prakriti" — aquele existente por ocasião do nascimento.
A tradição Cabalística fala de um complexo critério onde o equilíbrio original
remonta ao momento da concepção.
Em ambas tradições, entende-se que a condição própria da vida pode
alterar este equilíbrio natural, requerendo práticas e abordagens
reparadoras.
O Chassidismo ensina que tudo aquilo que se refere à nossa dinâmica
interior e ao comportamento exterior pode ser mudado através da
intervenção consciente da Mente — através da reinterpretação dos
momentos da vida.
Uma pessoa criativa, um chacham, pode expressar a característica da
impulsividade e pode precisar equilibrar o fluxo de criatividade da Chochmá
com a prática reparadora da meditação (Biná).
Um convincente pensador, um mevin, pode se tornar frio e calculista, e
precisar de um reequilíbrio do fluxo de Biná através de maiores expressões
emocionais — que podem ser obtidas através da prática do Daat.
Um indivíduo prático, um Daatan, corre o perigo de se tornar um desalmado
tecnocrata e, neste caso, precisaria de um reequilíbrio do fluxo de Daat
através da atividade de dação — o fluxo de Chéssed.
Maimônides nos ensina que, muitas vezes, um equilíbrio pede um
deliberado comportamento em direção ao seu oposto.
Moshé Maimônides foi um brilhante médico da época medieval.
Dentre as suas medicações estava a hidroterapia, específicas combinações
de alimentos, exercícios, ambientes agradáveis, meditação, frutas da
estação, e, até mesmo, a direção em que deve estar a cabeceira da cama
(um toque de feng shui?).
O fluxo da compaixão
Se nós não pudéssemos conseguir a harmonia entre as nossas naturezas de
dar e de reter, o nosso clima emocional interior seria, simplesmente,
caótico.
Estaríamos, constantemente, num estado de guerra interna.
Sem o equilíbrio, nós acharíamos o nosso fluxo de Chéssed sobrepujando a
nossa Guevurót, e vice-versa.
Certamente, todos nós já sentimos um certo nível de indecisão emocional e
a exaustão física que a acompanha.
A grande maioria de nós é capaz de resolver este dilema através do fluxo de
Tiféret.
Nos indivíduos que carecem do fluxo do Tiféret, ou que não têm este fluxo
bem treinado, esta questão acaba se tornando um verdadeiro problema
emocional que requer orientação e aconselhamento.
A Sefirá de Tiféret proporciona uma influência harmonizadora.
Ela mescla o Chéssed e a Guevurá, tal como o Daat o faz com a Chochmá e
a Biná.
O Daat resulta na harmonia e na criatividade do desenvolvimento do
pensamento.
O Tiféret resulta na compaixão.
A compaixão não é um sentimento simples; é um composto de muitos
elementos.
A compaixão aflora quando escolhemos "dar", apesar das circunstâncias que
poderiam não justificá-lo.
Por exemplo, um juiz pode ponderar as circunstâncias e escolher a
compaixão em vez de um severo julgamento.
Pais que compreendem que o comportamento inadequado de seu filho é
resultado de um desarranjo emocional podem preferir ser compassivos em
vez de punitivos.
Um benfeitor pode demonstrar a sua compaixão através de sua contribuição
a alguém que não tem grandes dotes em lidar com finanças, mas que luta
para sobrepujar as suas limitações.
Em cada um destes casos, podemos perceber um elemento de contenção.
O juiz entende que um crime foi cometido; o pai entende que o filho tem
sido rude ou grosseiro; e o benfeitor entende que uma má administração de
fundos ocorreu.
Porém, ao mesmo tempo, esta continência de Guevurá do comportamento
inaceitável encontra uma compensação através da união do Chéssed da
conexão e da empatia.
O Tiféret funde os dois fluxos.
Idealmente, ele favorece o Chéssed e a bondade, resultando num novo
amálgama.
Assim como um pintor combina as cores primárias do azul e do amarelo
para obter uma nova cor, o verde, também a compaixão é um resultado da
necessidade e do gerenciamento, suavizado e dosado pela bondade e pelo
coração aberto.
Se tirássemos a Guevurá da mistura, nos restaria a "doação" que foi mal
direcionada ou indisciplinada, fazendo-nos "dar" sem o sentido de equilíbrio.
Por outro lado, se eliminássemos o Chéssed, nos restaria uma mistura
amarga de severa disciplina e uma rígida contenção.
Compaixão não significa fraqueza; ao contrário, significa força.
O Tiféret proporciona a oportunidade de criar um equilíbrio emocional no
momento.

Um exercício de Tiféret
Entre novamente na sala.
Dirija-se à parede da direita e sinta o fluxo da "dação" — o Chéssed.
Deixe que, durante algum tempo, você sinta, novamente, este fluxo livre.
Vá agora em direção à parede da esquerda e sinta a sensação da
contenção, da retenção, da continência em seu âmago emocional.
Permita-se a oportunidade de familiarizar-se com uma sensação voltada
para dentro em vez de voltada para fora.
Dirija-se, agora, para o centro da sala.
Ali, no meio, você tem a percepção dos dois fluxos, o vindo da direita e o
vindo da esquerda.
Sinta o fluxo de Chéssed que vem de sua direita, através de uma força
angelical que suavemente o empurra — o anjo Michael.
Observe o seu fluxo "doador" sendo adulado por Michael.
Sinta o poder de Michael com a suavidade da água e associe-o com a cor
azul.
Sinta, agora, o fluxo de Guevurá que vem do seu lado esquerdo, através de
uma força angelical que suavemente o puxa — o anjo Gabriel.
Sinta a força de Gabriel como um fogo e associe-o com a cor amarelo-
alaranjada.
Você acolhe ambos em seu interior.
Agora, deixe que a água e o fogo se encontrem dentro de você.
O fogo da Guevurá vai se amainando, e a água do Chéssed vai se
aquecendo.
Você pode, a partir daí, sentir um estado geral de ameno calor em todo o
seu corpo.
Sinta esta candura se espalhando a partir de seu centro, o seu coração, e
irradiando-se por seu torso, seus membros, até as suas extremidades.
O calor suave faz você sentir-se confiante e aconchegado.
Aprecie durante alguns momentos o prazer do calor do Tiféret.
Invoque em sua mente alguém a quem você tenha censurado ou
repreendido recentemente.
Pode ser que tenha sido um parente, ou algum colega de trabalho, ou,
quem sabe, um amigo.
Ao fazê-lo, você sentirá, momentaneamente, o fogo da Guevurá.
Porém, volte imediatamente ao seu centro — o prazeroso calor do Tiféret.
Tente encontrar uma razão plausível para o comportamento ou postura
inadequada daquela pessoa.
Deixe que a razão se aloje em seu coração.
Enquanto você focaliza a pessoa em sua mente, veja-se projetando o seu
calor como ondas de compaixão.
Deixe que o calor da compaixão subjugue a dor egocêntrica que você
sentiu.
Veja a pessoa sentindo o seu compassivo calor.
Permita que um sorriso surja no semblante daquela pessoa.
Deixe que um sorriso também apareça em seu próprio interior.
Repita o exercício com um outro incidente, uma outra pessoa — uma outra
ocasião.
Agora olhe para o seu coração espiritual.
Aprecie a beleza de sua cor — o verde suave e claro da grama recém-
plantada.
A inocente beleza de suas tenras folhas pode ser sentida por quase todo o
seu ser.
Deixe-se alimentar pela suavidade do toque e da cor.
Prepare-se para deixar a sala.
Comece a mexer os seus dedos das mãos e dos pés.
Volte para o aqui e agora.

Descobrindo a suavidade do coração


A palavra "rachamim" significa, literalmente, "compaixão".
Rachamim está relacionado com a palavra que, em hebraico, é empregada
para "ventre" — "rechem".
Apesar das dores do parto, uma mãe estabelece uma invencível ligação com
sua cria, que supera o desencanto e raiva que a criação de um filho
freqüentemente traz.
(Certamente, respostas relacionadas ao sexo vêm se tornando cada vez
menos significantes, a medida que os homens aprendem a honrar o seu
lado feminino).
Como sabemos, a compaixão é o mais belo sentimento, e Tiféret significa,
literalmente, "beleza".
Em seu livro, Kitchen Table Wisdom, Rachel Naomi Remen recorda o
trabalho de cura que fez com um sobrevivente do Holocausto, cuja reação à
enormidade da dor espiritual com a qual ele convivera foi a de encarcerar
os sentimentos em relação a outrem e de ser "cauteloso com o seu
coração".
A Dra. Remen relata que ele a procurou numa fuga, depois de ter sido
diagnosticado com câncer.
Inicialmente, ele era beligerante, agressivo e refratário a estranhos; porém,
através de exercícios de paz interior e de introspecção, ele passou por uma
experiência transformacional.
Certo dia, enquanto meditava, ele sentiu uma profunda luz rosada
emanando de seu peito.
Ele se sentiu como que envolvido por uma belíssima rosa.
Tocado por aquela experiência, ele foi fazer uma caminhada pela praia e
iniciou um silencioso diálogo com D'us.
Ele perguntava ao Criador se estava certo amar estranhos.
A resposta de D'us sacudiu-o: "É você quem faz os estranhos, não Eu!"
Naquele instante, o sentimento de distanciamento das pessoas daquele
sobrevivente do Holocausto começou a se desvanecer.
Os estranhos deixaram de ser estranhos.
Estava tudo bem em amar um estranho.
A Cabalá nos diz que o fluxo de Chéssed é branco e que o fluxo da Guevurá
é vermelho.
Ambas as cores produzem a cor rosa.
Talvez tenha sido a cor rosa do Tiféret que brilhou a partir do coração
daquele homem.
Estendendo esta imagem, notamos que a rosa tem treze pétalas.
Na Cabalá, a compaixão de D'us é expressa por uma seqüência de treze
palavras, a qual faz parte da prece judaica recitada nos dias santificados.
As treze pétalas envolveram o enfermo sobrevivente do Holocausto num
casulo rosa.
Uma meditação sobre a Estrela de David

Inspire.
Tome consciência de seus sentidos.
Reconheça o seu paladar esfregando a sua língua por seus dentes de cima e
de baixo.
Deixe que o cheiro do ambiente em que você está penetre em seu ser.
Quais os sons que estão entrando em sua consciência?
Em que os seus dedos estão tocando?
Em que estão focalizados os seus olhos?
Feche os olhos.
Deixe que os seus pensamentos o atravessem suavemente, sem pressa ou
urgência.
Você está seguro.
Ainda com os olhos fechados, vislumbre um lindo gramado em formato de
uma grande Estrela de David.
Imagine-se caminhando por sobre a grama.
Você pode sentir a sua suavidade e maciez.
Você está sendo alçado por uma suave brisa.
Veja-se pousado numa enorme pétala de rosa,
Sinta a sua suavidade e maciez.
A brisa balança levemente a pétala, e você pode sentir a sensação de sua
vida interior — a sua simbólica relação com a natureza.
Sinta o seu poder de crescer, de desabrochar e de se fechar.
Perceba o seu próprio poder de desenvolvimento, de crescimento e de
amadurecimento espiritual.
Identifique-se com a flor.
Você é a flor.

Dançando um "Pas-de-Deux" da Emoção


Qual é a sua percepção da beleza?
Uma pintura de Matisse, com a sua vívida mescla de cores profundas e
curtas pinceladas, mexe com você?
Ou será um brilhante ocaso num deserto que o toca?
Pode ser que você conheça alguém, maior do que a vida, cuja fé face a uma
adversidade e cuja dedicação ao bem-estar de seu semelhante o inspire.
Ou, talvez, ainda, seja a elegância de uma simples fórmula científica.
As nossas emoções procuram o equilíbrio.
Nós aspiramos à bondade, à pose e à graça, a uma beleza interior e
exterior — uma fluida sefirá de Tiféret.
Os mestres Chassídicos nos ensinam que qualquer coisa que os nossos
olhos vêem é uma deliberada ferramenta de ensino do Cosmos.
Eis, a seguir, um ensinamento:
O ocaso é o momento final em que o sol se põe em reverência, curvando-se
em homenagem ao seu Criador.
A passagem do sol no firmamento ao longo do dia é uma imagem de sua
genuflexão.
Os últimos momentos de sua expressão de humildade são simbólicos de
toda a natureza.
Os insetos começam a entoar em canto as suas preces de alegria.
Os pássaros alegremente esvoaçam de uma árvore para outra, gorjeando
em uníssono.
Um ar de expectativa permeia aquele momento.
A brisa pára.
Enquanto isto, o azul de um céu de verão mescla-se de tons de rosa que,
de forma mágica, se transformam num intenso púrpura.
Tão logo o sol mergulha no oceano, os púrpuras e negros começam a
anunciar a saída real.
Tal como o ego do sol deixa de existir, é-lhe garantido o renascimento.
Trilhões de suas filhas-estrelas, cintilando por toda a aveludada abóbada
azul escura, envolvem a nossa visão.
O dia e a noite fluem, um para o outro, da mesma maneira como o Chéssed
e a Guvurá se misturam na beleza do Tiféret — tudo na alma da
humanidade.
Quando nos pomos a meditar sobre como é que a natureza presta a sua
homenagem ao Criador, nós criamos a mesma beleza interior.
O "pas-de-deux" do Chéssed e da Guevura, dançando em perfeita
harmonia, transforma-se no novo equilíbrio do Tiféret.
A sensata e sábia escolha de ações e palavras também expressa a beleza
do fluxo de Tiféret.
A nossa inclinação de amar a "dação" deve ser equilibrada pela força da
contenção, para ajustá-la à capacidade do receptor.
Palavras por demais efusivas, fortes e prolixas podem criar um desconforto,
ao invés de aproximação.
O entusiasmo deve ser combinado com a cautela, ou poderemos afugentar
os passarinhos que estamos tentando alimentar.
Quando o equilíbrio ideal é atingido, passamos a ter uma expressão da
beleza por meio do Tiféret.
O equilíbrio interior se reflete em nossa beleza física exterior.
O nariz pode ser um pouco mais comprido, os olhos um pouco pequenos
demais, e as orelhas maiores do que gostaríamos, mas a aparência geral
pode ser de marcante beleza.
A beleza não está nos componentes individuais, mas em seu somatório
geral.
E a percepção de quem vê é apenas parte da verdade.
Conexão (Chéssed) e objetividade (Guevurá) resultam numa nova
percepção.
Eis aí a beleza do Tiféret.

Beleza e Verdade
O Chassidismo também explica o Tiféret como sendo a qualidade da
verdade.
Conforme nos é ensinado, a "verdade" é a imagem que emerge quando
todas as peças que a compõe são juntadas.
Nós olhamos para uma pessoa e, algumas vezes, notamos dissonâncias
complicadas e desconcertantes.
A pessoa é boa, gentil e atenciosa na vida profissional, enquanto que, por
outro lado, é vil, explosiva e insensível em sua vida privada.
Por que será que isto acontece?
É quando descobrimos aquela verdade da pessoa, a razão para a
dissonância, que a cura pode ser iniciada.
Lembro-me de alguém me dizendo que todo comportamento é, sem
exceção, razoável, no sentido de que uma razão se esconde por trás de
todos eles.
Todas as combinações de comportamento e expressão revelam a verdade
interior.
De fato, a palavra "emet", em hebraico, significa "verdade".
A primeira letra da palavra é "alef' , que também é a primeira letra do
alfabeto hebraico.
A letra final desta palavra é "tav", a última letra do alfabeto.
A letra central da palavra, a que está bem no meio, é o "mem" .
Nós aprendemos a partir dos ensinamentos Chassídicos que, porquanto
nem todas as coisas são, separadamente, verdadeiras, a verdade pode
estar na integração de todos os seus componentes do começo ao fim,
incluindo-se os elementos do meio.
A natureza possui muitas verdades.
Os doutos se empenham em tarefas científicas, especulações filosóficas e
estudos históricos — tudo em busca das verdades eternas.
O Criador oculta estas verdades, mantendo-as fora do alcance da
compreensão humana, tirando de nós a eterna busca — o jogo Cósmico do
esconde-esconde.
Quando nós brincamos de esconde-esconde, gostamos do jogo somente
porque sabemos que existe alguém que está à nossa procura.
Não faria sentido esconder-se se soubéssemos que ninguém está à nossa
procura.
Quanto mais esperto for o nosso esconderijo, maior será o desafio.
O Cosmos joga este mesmo jogo.
Quanto mais procuramos a beleza da vida, maior é a alegria da descoberta.
Quanto mais profunda a verdade, maior a alegria do Criador ao ser
encontrado.
O momento da descoberta é o mais doce e belo de todos.
Uma união é conseguida, e uma nova face da verdade é revelada.
Chéssed procura.
Guevurá esconde.
Tiféret encontra.

O paradigma do Tiféret
O Patriarca Jacob é associado com o paradigma do Tiféret.
Lembre-se de que foi Jacob quem enganou o seu pai, Isaac, que era cego,
ao obter a sua bênção como primogênito em lugar de seu irmão mais velho,
Esaú.
A Bíblia nos dá conta de que ele compareceu perante seu pai envergando
uma roupa especial, que vinha sendo passada ao longo do tempo, de
geração em geração, desde o seu portador original, um caçador, Caim.
Quem quer que envergasse aquela roupa tinha o domínio do reino animal.
As vestes eram incrivelmente belas e cobertas de vívidas ilustrações das
feras criadas por D'us.
Vemos que Jacob, um homem ligado ao estudo e à contemplação, usou
uma roupa de caçador — representando a sua antítese — com intuito de
atingir o seu objetivo.
Jacob combinava as qualidades de seu pai, pessoa prática e amante da paz,
Isaac, com as qualidades de seu carismático avô, Abraão, fazendo com que
possuísse o espírito criativo de Abraão e a dedicação de Isaac.
Foi Jacob quem criou as Doze Tribos de Israel e se tornou o progenitor do
Povo de Israel.
Da mesma maneira, o Tiféret transpõe as Emoções interiores em reais
relacionamentos.
O Tanya observa que Jacob personaliza a natureza da verdade — isto é, a
transposição daquilo que é "potencial" em "realidade".
Como vimos, o Tiféret também representa a "verdade".
Jacob é o ponto focal da linhagem judaica.
Precederam-no os pioneiros formativos, seu pai e seu avô.
Sucederam-no as Doze Tribos.
Os sábios da tradição mística chamam Jacob de "eixo do meio".
Na expressão da tábua Sefirótica de três pilares, Tiféret está ao centro,
alinhado com Keter, Yessod e Malchut — "o eixo do meio".

Até aqui, temos analisado as disposições emocionais.


Chéssed, Guevurá e Tiféret não "estendem a mão".
São todas Emoções internas.
Elas somente podem ser manifestadas no mundo real através dos
relacionamentos, e com a ajuda da tríade de fluxos Sefiróticos seguintes:
Netsach, Hod e Yessod.
Os três próximos capítulos exploram a natureza dos relacionamentos e a
clara e evidente manifestação da combinação Mente/Coração.
Comecemos com Netsach e exploremos a busca pelo início de um
relacionamento com outro.
Uma meditação sobre a letra Vav
A letra vav representa o número 6.
Note como ela parece um anzol.

Medite sobre como Tiféret pode fisgar você para que revele seu ser interior
para o mundo exterior.
Medite Vav sobre como esta abertura em cima o torna completo.
Perceba como a letra vav parece como um pilar.
Do mesmo modo, Tiféret é chamada de o "Pilar da Verdade".

Continua

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