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OLHOS E MENTE
Recursos didáticos para laboratório e museu de educação
matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff
(Organização)
Projeto Gráfico
Marcos Maurity
Fotografia
Marco Brandt
Rosangela Figueira Dornas (Acervo LEG)
K14n
CDD: 516
Ana Kaleff
VENDO COM AS MÃOS, OLHOS E MENTE:
Recursos didáticos para laboratório e museu de educação matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff (Organização)
TEXTO 1
Estávamos em uma cidade bem progressista do interior, fora do estado do Rio de Janei-
ro. Era um evento organizado pela prefeitura municipal, em conjunto com a equipe do Labo-
ratório de Ensino de Geometria (LEG) e por professores do curso de especialização a distância
Novas Tecnologias no Ensino de Matemática da UFF (NTEM), no âmbito do Sistema Universidade
Aberta do Brasil (UAB).
Para o evento, de três dias, a equipe local era formada por três tutores presenciais da UAB,
enquanto que, na do LEG, éramos dois professores, três tutores a distância, e, ainda, oito alunos
bolsistas da licenciatura presencial em Matemática da UFF, em Niterói.
A principal função dos tutores e bolsistas era a de atuar como monitores das ações dos vi-
sitantes a uma exposição do Museu de Educação Matemática (LEGI), o museu interativo itinerante
do LEG, a ser realizada durante o evento, sob nossa coordenação.
No primeiro dia de atuação, viajamos mais de 600 quilômetros e a equipe levou quase
oito horas na montagem do Museu LEGI, em um recinto de exposição espaçoso, bem apare-
lhado para a instalação de uma mostra como a que o acervo permite.
A exposição tinha ficado muito bonita!
são ‘barra pesada’ e devem tomar cuidado para que não haja nenhum incidente desagradável ou
roubo do material exposto”.
Ficamos chocados e apreensivos. Em todos os muitos anos que viajamos expondo o
LEGI, isso nunca havia acontecido. Nunca tivemos furtos ou situações de risco para o nosso
pessoal ou para o material exposto.
Fechamos todas as portas laterais do recinto da exposição. Deixamos aberta somente a da
entrada principal. Apesar de toda a experiência da equipe do LEGI, nossa expectativa era grande.
Todos estavam preocupados. Os monitores novatos, ainda mais!
Chegaram três ônibus apinhados de estudantes. A maioria, homens e mulheres de meia
idade ou mais velhos. Rostos enrugados, semblantes sofridos, sulcados pelas agruras intensas
da vida. Alguns com roupas rotas, porém cuidadas.
Nem a metade dos alunos era de jovens. Percebemos que esses tinham roupas de me-
lhor procedência do que os mais velhos, porém pouco cuidadas. Muitos cabelos desgrenha-
dos, coloridos, alguns do tipo moicano, bonés e tênis sem grifes famosas.
O Estranhamento
Imediatamente, chamou a atenção da equipe o fato de todos chegarem tímidos. Geral-
mente, com as mãos nas costas, cabisbaixos, com olhares furtivos, que se desviavam dos nossos.
Pareciam estar estranhando o que viam. Tudo indicava não estarem entendendo o que
estavam fazendo ali ou o que se esperava deles...
Aquele recinto enorme, todo preparado para eles adentrarem, lhes parecia ser algo mui-
to estranho. Apesar dos cartazes motivadores colocados entre os materiais expostos, escri-
tos com letras garrafais sugerindo “TENTE”, “MEXA”, “QUER USAR UMA VENDA?”, ninguém fazia
nada. Só se entreolhavam...
Sugerimos a alguns dos professores visitantes acompanhantes dos alunos que se apro-
ximassem dos materiais expostos nas mesas do museu. Pedimos para que mexessem nos apa-
relhos. Mesmos esses profissionais agiam timidamente.
Os estudantes mais velhos não se moviam. Não tomavam qualquer iniciativa.
O silêncio era grande. Poucos diálogos se ouviam entre os alunos homens, muito menos
entre eles e os monitores do LEGI.
Nós, professores da equipe, tomamos mais algumas iniciativas de aproximação junto
com parte dos monitores. Outros desses ficaram na vigia dos materiais.
Era uma tarefa difícil para todos, pois pela primeira vez, estávamos nos dando conta de que
precisávamos efetivamente cuidar da integridade do material do Museu. No entanto, por nossas
trocas de olhares, percebíamos que toda a equipe se questionava se isso era realmente necessário.
Percebemos que os visitantes também pareciam se proteger, pois quando alguma aluna
era abordada por um dos monitores, várias outras mulheres, em grupo, também se aproxi-
mavam. Entre os homens, se um era abordado, se aproximava sozinho, sem que os demais o
acompanhassem. Embora esses ficassem na espreita para ver o que iria acontecer na sequên-
cia e só se aproximavam quando solicitados.
Não percebemos a formação de grupos mistos de homens e mulheres, somente alguns
poucos casais, que mais estavam interessados na paquera entre eles do que nos materiais.
Estes casais, ainda mais arredios dos que os demais grupos, pareciam querer sair do recinto
da exposição. Pareciam pouco motivados pelo que viam no ambiente. Eles próprios lhes eram
mais importantes.
As Mudanças
Aos poucos, as mudanças começaram a acontecer: os grupos foram se aproximando
dos materiais expostos e se interessando pelo que propúnhamos. Começaram, timidamente,
a mexer nos aparelhos e a pegar nas peças dos jogos. Embora, alguns alunos precisassem ter
os materiais praticamente colocados nas mãos para que se atrevessem a tocá-los, quando os
oferecíamos.
Percebemos que as atividades com espelhos cilíndricos começaram a interessar aos visi-
tantes mais jovens, bem como o desafio da colocação de venda para realizarem os quebra-ca-
beças planos, como se fossem pessoas com deficiência visual. Os paqueradores começaram a
se exibir para as suas paqueras, no enfrentamento dos desafios propostos nas atividades.
As mulheres mais velhas se interessavam mais pelos quebra-cabeças tridimensionais do
cubo-soma e frac-cubo, bem como pelos jogos de montagem dos lagartos. Tomavam, como
um grande desafio, construir as diversas formas geométricas com as peças. O cubo a ser cons-
truído com o cubo-soma as fascinava. A forma do lagarto ocupando a mesma área da de um
hexágono regular pareceu lhes interessar.
Os homens se juntaram mais a volta dos computadores e dos móbiles iluminados pela luz
da lanterna. Os modelos de cones de fios cortados pelo feixe de raio laser motivaram a todos.
Figura 1: Aparelho com laser para estudo das cônicas com modelos de cones de fio. Foto: Acervo do LEG.
O Desvelamento do Desconhecido
O desvelamento do desconhecido começava a intrigar os visitantes mais arredios, ou
seja, descobrir o que estava por trás de cada aparelho, de cada jogo, mesmo não entendendo
bem o que cada um modelava e o que tinha a ver com a tal da “matemática”.
Perguntas começaram a aflorar.
__
Professora, por que isso acontece? Moço, isso também é matemática? Tia, o que tem de
matemática nisso ai? Por quê?
Aos poucos, parecia que a beleza das formas construídas com as peças dos quebra-
-cabeças; o dominar e ser vencedor do desafio proposto em cada atividade, e o voltar a agir
como crianças e jovens, começavam a agir sobre aquelas mentes.
Tudo nos indicava que a magia do lúdico, que entrelaça as atividades e os materiais ex-
postos, ia tomando conta daqueles semblantes sofridos, depósitos de mentes desesperançosas.
Figura 2: Atividades para o estudo de volume com o jogo cubo-soma. Foto: Acervo do LEG.
Figura 3: Alunos vendados realizam atividades com jogos de encaixe. Foto: Acervo do LEG.
Outros alunos pararam em frente à mesa com a mini biblioteca dos livros para crianças
com deficiência visual. Frente aos bonecos com a cela braile no peito, começaram a formar
uma enorme fila de espera para cada um aprender a escrever o nome com pontinhos em
braile. Sem dúvida, apresentaram o mesmo comportamento que já havíamos observado com
crianças menores, pois essa atividade é a que mais agrada aos pequenos.
Ouvimos alguns perguntarem aos professores visitantes que os acompanhavam:
Ei, professor, por que na nossa escola não temos um brinquedo desse tipo? Professor, quan-
__
do vamos ter uma coisa assim na escola? Isso daria para nós construirmos na nossa sala? É fácil?
Figura 4: Bonecos Brailinda e Brailino para ensinar braile. Foto: Acervo do LEG.
Contrariando o Esperado
Contrariando todo o prognóstico e as expectativas, nenhum incidente desagradável e
inesperado aconteceu; nenhuma falta de respeito, nem para conosco da equipe, nem em re-
lação aos materiais expostos.
Não ocorreu nenhuma atitude negativa contrária à ética.
Só alegria e deslumbramento!
O Encantamento!
A magia da transformação do estranhamento ao novo em encantamento, pela desco-
berta de algo desconhecido e mitificado como “matemático”, mais uma vez acontecera.
Após duas horas dessa visitação, precisamos fechar a exposição. Já eram 21 horas e
horário do local do evento ser fechado.
Com pesar, fomos obrigados a pedir que todos se retirassem. Ouvimos protestos de
decepção, pois muitos alunos disseram que gostariam de ficar mais.
Surgiram mais perguntas: Quando vocês vão trazer novamente esse material para nós?
Quando poderemos voltar para ver isso? Amanhã, posso trazer o meu irmão para ver?
Já na semana seguinte, soubemos que os professores dessas turmas estavam se empe-
nhando para criar um laboratório na sua escola (pública) com a ajuda dos alunos.
Meses depois, tivemos notícia de que alguns professores e estudantes perguntaram aos
tutores locais do evento, quando haveria uma nova exposição...
Com este relato, caro leitor(a), pretendemos mostrar-lhe que o LEGI não é uma ficção e
como ele, cujas bases são bem fixadas na realidade da escola e do professor brasileiros, mais
uma vez, cumprira a sua missão de desvelar, motivar e chamar a atenção para a beleza da
Matemática que está na vida à nossa volta.
O LEGI permite o aluno ir do estranhamento ao encantamento por meio da descoberta
de novos aspectos da ciência Matemática.
Figura 5: A equipe do LEGI encaixota o material para a viagem de volta. Foto: Acervo do LEG.
Porém...
Ao final do evento, outra vez, esse mundo de magia pareceu ter acabado, pois foi encai-
xotado e, de volta a Niterói, guardado nas prateleiras do LEG...
Figura 6: Guardando o LEGI nas prateleiras e paredes da salinha do LEG no IME. Foto: Acervo do LEG.
No entanto, esse mundo tão encantador de materiais manipulativos não está morto e
nem adormecido! Ele está bem vivo e crescendo a cada dia pelas mãos dos bolsistas atuantes
nos projetos desenvolvidos no LEG. A todo o momento, surgem ideias para a criação de novos
aparelhos e jogos de baixo custo, bem como suas atividades. Essas inovações permitem que
esse mundo de magia se amplie, reapareça e venha a encantar outros corações na próxima
exposição, além de ajudar os professores a levar mais dinamismo para as suas salas de aula.
Os recursos manipulativos desenvolvidos no LEG ainda são utilizados para a melhoria
do ensino de Matemática em aulas da Licenciatura (principalmente nas disciplinas obrigató-
rias Laboratório de Educação Matemática e Educação Matemática-Geometria), permitindo ao
licenciando da Matemática da UFF vivenciar experiências pouco habituais nos cursos de for-
mação de professores dessa área de conhecimento.
Um convite
Quer saber mais como construir, com poucos recursos monetários, materiais
didáticos para a sua sala de aula e para um museu c Se quiser, venha tam-
bém nos ajudar a organizar e participar da próxima exposição itinerante
do museu, em algum lugar do Brasil, talvez em uma cidade bem próxima
a você.
Ana Kaleff
TEXTO 2
Nas páginas a seguir, buscamos dar ênfase à importância do recurso didático e de suas
atividades para o ensino de alguns tópicos de matemática elementar, que nem sempre são
bem difundidos, apesar da existência de grandes questionamentos sobre como se ensinar
Matemática e de como se modificar a prática em sala de aula.
Muitos educadores buscam ir para além do discurso e das ideias. Nós também, no LEG,
buscamos formas de colocarmos ideias em práticas para a sala de aula, principalmente para a
de Geometria, tanto para o aluno com visão normal, quanto para aqueles com deficiência visual
(com baixa visão ou cego)
O presente volume tem como meta principal a in-
dependência e a autonomia do profissional, ou seja, com
ele pretendemos dar ao licenciando(a) e ao(à) professor(a)
condições para preparar um material didático de baixo
custo, de construção viável e adequado às suas aulas na es-
cola e para um museu interativo de Educação Matemática.
Este volume pretende levar você, leitor(a), a revisitar
alguns tópicos da matemática escolar, bem como também
dar-lhe a oportunidade de vivenciar, de maneira dinâmica e
objetiva, alguns conteúdos matemáticos pouco explorados
nos programas escolares.
Aqui, incluímos relatos sobre a experiência didática
que vem sendo realizada, há mais de 20 anos, no LEG, com
licenciandos do Curso de Matemática e com professores
em formação continuada, em cursos de especialização
(pós-graduação lato sensu, presencial e a distância) e de
treinamento (extensão).
Figura 1: Cartaz tátil Foto: Acervo do LEG.
lações seriam desenvolvidos pelo aluno em cinco níveis de entendimento, por meio de fases
bem determinadas de ensino. Partindo do nível da visualização do conceito, seguido pelo ní-
vel da análise, através do nível da ordenação informal e do nível da ordenação formal, o aluno
atingiria o nível do rigor da conceituação do ente geométrico.
Também recorremos a pesquisas realizadas por vários educadores matemáticos que en-
volvem aspectos da interdisciplinaridade com diversas áreas de conhecimento e da vida cotidia-
na. As atividades para os alunos cegos ou com baixa visão são baseadas principalmente nos ar-
tigos publicados na Revista Benjamin Constant (http://www.ibc.gov.br/?catid=4&itemid=408).
Na Primeira Parte deste volume, apresentamos alguns princípios teórico-metodológi-
cos ligados à habilidade da visualização, que você, como professor(a) de Matemática deve
conhecer para trabalhar com materiais didáticos manipulativos concretos ou virtuais, e estar
bem instrumentado para o exercício de sua prática profissional. Esses princípios visam a fun-
damentar sua base como professor, para poder enfrentar principalmente as transformações
advindas da tecnologia e a inclusão do aluno com deficiência visual nas escolas regulares. Para
tanto, incluímos observações sobre as principais características da habilidade da visualização;
apresentamos aspectos do PNAIC e PCN, relacionados com a criatividade e aprendizagem sig-
nificativa em Matemática; aspectos de um laboratório de Educação Matemática e de um mu-
seu interativo itinerante para o ensino de Matemática na escola.
As unidades temáticas são apresentadas em textos entremeados por quadros denomi-
nados de QUESTIONAMENTO AO LEITOR, os quais trazem questões relativas ao assunto trata-
do e à formação do professor.
Na Segunda Parte, cada unidade é composta por vários textos que ampliam as reflexões
anteriores e ilustram como podemos construir e trabalhar alguns recursos didáticos manipula-
tivos e relacioná-los a conceitos matemáticos. Apresentamos algumas atividades para o aluno
e procedimentos a serem realizados em sala de aula ou museu. Na medida do possível, entre-
meamos esses textos com observações sobre as aplicações que realizamos com alunos com
deficiência visual.
Apresentamos atividades introdutórias à geometria euclidiana para o ensino dos cinco
primeiros axiomas da geometria plana e uma introdução ao estudo dos polígonos regula-
res, convexos e não convexos. Em seguida, trazemos alguns instrumentos para o ensino de
medidas de comprimento e de área plana, seguidos por atividades que envolvem jogos do
tipo quebra-cabeça plano, um desafio muito interessante e um enfeite natalino que permite
a representação de progressões arimeticas inesperadas. Antenados com a tecnologia apre-
sentamos práticas interdisciplinares criativas em um conjunto de experimentos educacionais
concretos e virtuais, que permitem a interação do aluno em jogos interativos tanto manipula-
tivos concretos quanto eletrônicos. Finalizamos, buscando lhe apresentar, leitor(a), atividades
introdutórias à aritmética dos sistemas numéricos, trazendo o recurso dos blocos lógicos alter-
nativos e vários tipos de ábacos artesanais.
Caro leitor(a),
Boa leitura!
METAS
Esta unidade apresenta a importância da habilidade da visualização e da sua rela-
ção com as figuras, desenhos, diagramas, gráficos, ícones etc. utilizados na sala de
aula de matemática inclusiva, com foco no aluno com deficiência visual.
OBJETIVOS
Ao final desta unidade você deve:
• compreender a importância da habilidade da visualização para a aprendizagem
matemática na escola;
• identificar exemplos de operações mentais relacionadas à habilidade da visua-
lização;
• entender como o ensino da matemática inclusiva do aluno com deficiência vi-
sual é considerado por documentos governamentais para a alfabetização e para
a escola básica.
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TEXTO 3
Antes de tratarmos de recursos didáticos para a sala de aula e para um museu, preci-
samos refletir sobre o mundo em que hoje vivemos e em como enfrentar os desafios que a
escola nos coloca para a aprendizagem e para o ensino de matemática elementar.
Em nossos dias, assistimos a filmes em três dimensões com auxílio de óculos especiais.
Viajamos pela tela de um smartphone, tablet, ou computador. Por meio desses
dispositivos eletrônicos incríveis visitamos museus e vemos as mais diversas obras de
artistas famosos. Maravilhamo-nos com figuras em telas e desenhos que parecem saltar
do plano.
Como, há bem pouco tempo, podíamos viver sem essas máquinas maravilhosas
e suas telas, sem os seus ícones coloridos e botões tão acessíveis, que nos levam ao
mundo virtual?
Gradativamente, mergulhamos nesse mundo virtual e computacional com sua
diversidade de representações cada vez mais reais que, cheias de cores, podem até ser
acompanhadas de sons, mas que em geral ainda não nos permitem ter estímulos táteis,
olfativos e gustativos.
Percebemos que cada vez mais dependemos do entendimento de ícones, sím-
bolos, desenhos, fotos, sinais, figuras, gráficos, tabelas, diagramas e seus traçados, nas
diversas mídias que, há poucos anos, nem sequer sonhávamos poder existir, ou seja, o
mundo virtual de nossos dias, no qual estão o livro didático, a TV mais comum e os
computadores mais sofisticados, é basicamente um mundo visual.
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Frente a tudo isso, o ato de interpretar desenhos, figuras, fotos etc., não é importante
por si só, mas está muito ligado com a vida do cidadão comum, pois a interpretação de infor-
mações visuais está presente tanto nos simples problemas do dia a dia como em desafios da
Engenharia, da Arquitetura, da Medicina, das Artes etc. Tais representações gráficas podem ser
o registro de indicadores numéricos em tabelas e gráficos de esboços de objetos, de imagens
impressas em fotos ou chapas de raio-X, de imagens observadas por meio de microscópios,
outros meios ópticos ou computadorizados, como ressonância magnética, e até mesmo na
forma de imagens pintadas por artistas representando a natureza ou suas visões imaginárias.
A interpretação de informações visuais está em jogo quando se trata, por exemplo, do
mais simples esboço de uma figura geométrica como o triângulo, ou de um mapa que indique
o caminho entre duas localidades, ou, até mesmo, de sofisticadas representações do gráfico
de uma planta de um prédio.
Por outro lado, como já salientamos, a Informática e as ferramentas advindas da compu-
tação criam, a cada dia, novas situações nas quais as formas virtuais ganham aspectos de uma
realidade quase material, abrindo novos rumos para o entendimento das formas visuais que
se apresentam no plano da tela do computador. A tecnologia nos leva do 2D ao 3D com um
clique ou com uma batida de tecla do teclado...
Aos professores se apresenta um desafio: como entender as características humanas
responsáveis pela percepção e compreensão desse mundo visual?
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
PARTE 1 | UNIDADE 1 29
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Devemos estar alertas para o fato de que, embora os objetos matemáticos tenham
tido sua origem histórica no mundo físico (com os sistemas de numeração e medições
de comprimentos, de áreas, de volumes, de peso etc.), atualmente, são considerados
abstrações matemáticas que necessitam de uma linguagem para serem expressados e
entendidos, portanto, representados no mundo exterior à nossa mente.
Para os matemáticos, por exemplo, não há dúvidas de que os elementos geomé-
tricos (ponto, reta, plano, sólidos etc.) pertencem ao mundo das idéias matemáticas
abstratas e necessitam de representações gráficas, isto é, necessitam de signos, sinais,
desenhos etc. para serem expostos ao mundo exterior ao da mente, expressados e per-
cebidos por outra pessoa. No entanto, na escola, essa mudança de concepção filosófica
sobre a natureza dos objetos matemáticos se mostra como um fator perturbador ao
entendimento do significado das definições matemáticas, as quais se apresentam como
uma grande dificuldade para os alunos, que não percebem os conceitos matemáticos,
principalmente os geométricos, como abstrações.
Frente a tudo isso, a maior parte dos estudantes, e até mesmo professores do Ensino
Básico, não aceitam que, ao observarem o desenho de uma figura matemática no livro didá-
tico, ou na lousa, ou até mesmo a imagem na tela do computador, estão, na realidade, vendo
apenas uma representação do objeto matemático, que é um conceito abstrato. Portanto, é
essa dificuldade do aluno enxergar com as mãos e os olhos, para poder ver com a mente tais
conceitos abstratos, é o que nos leva a trazer os recursos manipulativos concretos e virtuais
para a sala de aula.
A dificuldade de construção de uma imagem mental de um conceito matemático é ain-
da maior se pensarmos no aluno com deficiência visual (cego ou com baixa-visão), pois, para
ele a manipulação de um recurso concreto é imprescindível para que, por meio do tato, per-
ceba a forma, o tamanho, as texturas etc., que vão determinar as características do elemento
matemático modelado no recurso manipulativo.
É importante estarmos atentos para o fato de que, no caso do aluno necessitar visualizar
(na mente) um conceito matemático, um modelo concreto desse conceito pode servir de re-
presentação visual (ou tátil) para gerar uma imagem mental. Esta primeira imagem dá partida
a um processo de raciocínio no qual, dependendo das características do conceito matemáti-
co, o aluno recorre à habilidade da visualização para executar diversas operações mentais, as
quais geram outras imagens mentais ou representações do conceito. Essas representações
PARTE 1 | UNIDADE 1 31
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podem ser expressadas por meio de um desenho ou de outro modelo concreto do concei-
to matemático em questão. É por essa razão que a utilização de uma grande variedade de
modelos concretos representantes de uma mesma idéia matemática pode auxiliar o aluno a
reconhecer que algumas propriedades do conceito matemático transcendem as propriedades
materiais dos modelos, tais como tamanho, cor e textura e, portanto, essas não pertencem ao
mundo ideal da Matemática.
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Caracterizar essa habilidade não é uma tarefa fácil, pois envolve um conjunto de opera-
ções mentais, que foram sintetizadas por Abraham Arcavi, como se segue.
Percebemos que essa caracterização da habilidade, embora ampla, não é de fácil enten-
dimento. Por essa razão, há tempos, tentamos explicar alguns de seus aspectos, por meio de
situações mais familiares ao nosso contexto escolar (KALEFF, 2008).
Também aqui, apresentamos, a seguir, um resumo desse processo e das operações
mentais elementares envolvidas na habilidade de visualização, que consideramos mais im-
portantes para a aprendizagem da geometria escolar.
a) Identificar uma determinada figura plana, isolando-a dos demais elementos de um
desenho. Por exemplo, o aluno reconhecer uma forma geométrica de uma face quadrada
em um cubo, quando este se apresenta em um desenho em perspectiva, como aqueles
na Figura 1
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f ) Relacionar vários objetos, representações gráficas ou imagens mentais entre si. Por
exemplo, no caso em que o aluno é capaz de relacionar vários objetos (que está vendo) a
diversos tipos de representações desse objeto: como um desenho no papel, uma pintura
em um quadro, fotos, desenhos na tela do computador etc.
g) Comparar vários objetos, suas representações gráficas e suas imagens para identificar
diferenças e regularidades entre eles. Por exemplo, no caso em que o aluno reconhece
um indivíduo quando lhe são apresentadas suas fotos em vários tamanhos, ou quando
o retratam em diferentes fases da vida, ou ainda quando o reconhece em charges e
caricaturas.
Ainda na matemática escolar, existem outros procedimentos nos quais podemos perce-
ber a importância da habilidade da visualização, como no caso do tratamento e da análise de
dados de tabelas. Esses dois procedimentos são considerados, pelo PNAIC e PCN, como dos mais
importantes a serem adquiridos pelos alunos desde a alfabetização, para a numeração, geome-
trização e letramento matemáticos, e, no Ensino Básico, para a comunicação em Matemática.
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Poliedro Regular de
Nº de Faces (F) Nº de Vértices (V) Nº de Arestas (A) F + V- A
Platão
Tetraedro 4 4 6 2
Cubo 6 8 12 2
Octaedro 8 6 12 2
Dodecaedro 12 20 30 2
Icosaedro 20 12 30 2
TABELA 1 - Elementos da Relação de Euler
Como exemplo, a análise da Tabela 1 pode permitir ao aluno bem jovem, com ou sem
deficiência visual, com cerca de 10 anos de idade, inferir a relação de Euler dos poliedros regu-
lares de Platão, mesmo sem conhecer previamente a fórmula que expressa tal relação, a partir
da observação e da manipulação de modelos concretos das estruturas de arestas desses sóli-
dos, como os mostrados nas Figuras 2 e 3.
Figura 2: Modelos das estruturas das arestas dos Sólidos de Platão. Construídos com madeira e tubos de borracha.
Foto: Acervo do LEG.
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Figura 3: Modelos de estruturas das arestas de sólidos de Platão e seus duais. Construídos com canudos de textu-
ras diversas. Foto: Acervo do LEG.
É importante lembrarmos que uma boa utilização didática dos materiais manipulativos
em sala de aula, ao contrário do que muitos professores consideram, pode propiciar economia
no tempo do andamento do programa escolar, pois possibilita ao aluno alcançar mais facil-
mente os resultados almejados e a ultrapassar os desafios pertinentes a suas limitações físicas
e mentais.
Como levar tudo isso para a sala de aula por meio de um laboratório de ensino de
educação matemática e de um museu interativo é o que pretendemos apresentar nos textos
das unidades que se seguem. Porém, antes de continuarmos, apresentamos um panorama
da situação atual das leis sobre a inclusão do aluno com deficiência visual na sala de aula da
escola regular.
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TEXTO 4
PARTE 1 | UNIDADE 1 37
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PARTE 1 | UNIDADE 1 39
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QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Você sabia que o aumento de alunos incluídos, em conformidade com as leis, vai à
contramão do processo de capacitação dos docentes?
• Você, leitor, se sente capacitado para atuar em uma sala de aula inclusiva?
O que temos buscado no projeto Vendo com as Mãos, são condições que permi-
tam a realização de uma educação matemática inclusiva, principalmente do aluno com
deficiência visual, evitando a exclusão e o fracasso escolar.
Acreditamos que não basta colocar o aprendiz em sala de aula sem garantir-lhe o
envolvimento com práticas isentas de preconceitos, que o levem a romper com as bar-
reiras à aprendizagem e permitam o seu progresso científico e social.
Nas unidades que se seguem, relatamos algumas das ações que estamos realizan-
do no LEG.
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UNIDADE 2
METAS
Esta unidade apresenta elementos que permitem entender o que seja uma apren-
dizagem significativa criativa em Matemática, do ponto de vista do educador ma-
temático.
OBJETIVOS
Ao final desta unidade você deve:
• conhecer como são tratados os atributos, conceitos e definições do ponto de
vista de uma aprendizagem significativa da Matemática;
• conhecer as características do Educador Matemático e um laboratório de ensi-
no que permitem levar o aluno a uma aprendizagem significativa.
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TEXTO 5
Caro leitor, no texto que apresentamos a seguir, buscamos levá-lo a refletir sobre as
seguintes questões:
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
Para realizar essa reflexão, tecemos considerações sobre a criatividade e o ambiente escolar.
Apresentamos uma análise sobre como entendemos o que seja a atuação do professor como edu-
cador matemático frente às ações que podem ser realizadas em sala de aula ou em um laboratório
de ensino visando à aprendizagem significativa criativa de conceitos e relações matemáticas.
PARTE 1 | UNIDADE 2 43
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Variedade de oportunidades
fora da escola
Tratam de fatos e
descobertas sociais e
científicas dos séculos XVII a
XIX, e, nem sempre, do XX.
Permitem o acesso às
mais recentes descobertas
científicas e tecnológicas
Quadro 1.
Por sua vez, com frequência, o docente que atua em nossas escolas ainda está mais fa-
miliarizado com fatos e descobertas científicas que ocorreram nos séculos anteriores ao XX, do
que com aqueles que aconteceram nas últimas décadas. Isso se deve ao fato de que o profes-
sor, quase sempre, na sua formação profissional, não vivenciou recursos que o permitam dar
conta de uma nova e grande empreitada. Assim, percebemos que, cada vez mais, se apresenta
como tarefa desafiadora para o professor o lidar em sala de aula com situações interdisciplina-
res que o levem a incrementar o aparato mental do aluno, a incentivar as suas características
subjetivas e a sua criatividade.
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A sociedade atual, no entanto, nos ensina, desde a tenra idade, a refrear a nossa curio-
sidade, a evitar situações de perda ou de fracasso, a evitar circunstâncias sociais ambíguas e
pouco claras, a controlar nossos sentimentos e emoções. Muito cedo somos levados a criticar
e refrear os nossos impulsos e ideias. Somos regidos por uma censura precoce que geralmente
nos engessa e não nos permite explorar novas ideias, represando tudo aquilo que poderia ser
considerado ridículo ou motivo de crítica.
Por outro lado, há muito tempo, a nossa sociedade nos leva a acreditar que o talento,
inspiração e criatividade são resultado de fatores pertinentes a poucos indivíduos privilegia-
dos, ou considerados excêntricos. Infelizmente, no sistema escolar, ainda somos levados a crer
que sobre esses fatores temos pouco domínio, pois como vários educadores colocam:
Além de todas essas barreiras de natureza emocional, que constituem forças inibidoras
a um pensamento mais flexível e inovador, é ainda muito comum o desconhecimento, mesmo
por parte de adultos, de suas próprias habilidades e potencialidades.
Tudo leva a crer que, aulas tradicionais pouco contribuem para que o aprendiz,
ainda que adulto, se dê conta de sua própria capacidade e de seu potencial de ação e,
principalmente, de sua criatividade.
Ou seja, aquelas aulas centradas na figura e na atuação do professor, na apresen-
tação de conteúdos estabelecidos por um rígido programa escolar no qual as necessi-
dades sociais, psicológicas e cognitivas do indivíduo são pouco consideradas, pouco
contribuem para o desenvolvimento integral do aprendiz como um todo.
Frente a este quadro, envolto nessa ampla gama de conflitos que inibem a coragem de
criar, acreditamos que algumas ações típicas do educador matemático, quando realizadas em
procedimentos de sala de aula ou em um laboratório de ensino, possam vir a fazer uma grande
diferença no ambiente escolar. É o que apresentamos a seguir.
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QUESTIONAMENTO AO LEITOR
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OBSERVAÇÃO IMPORTANTE!!
Matemática: um Conjunto de Saberes Dinâmicos Ampliados a cada Dia
É importante observarmos que os documentos citados consideram a Matemáti-
ca como um conjunto de conhecimentos dinâmicos, construídos historicamente pela
reflexão e pela experiência humanas, na interação constante entre o meio ambiente,
o contexto social e o cultural. Ou seja, os Parâmetros já consideravam a ciência Mate-
mática como um conjunto de conhecimentos que se renovam e são ampliados pelos
matemáticos profissionais a cada dia, e cujas aplicações, no cotidiano, nas Ciências e
na Tecnologia são de grande importância. Dessa forma, os PCN admitem a Matemática
como um conjunto de saberes dinâmicos, contrapondo-os àqueles considerados como
acabados e enclausurados em si mesmos. Sendo, portanto, por meio desse dinamismo
que se encontra a interação da Matemática com os outros saberes científicos, sociais e
do cotidiano. É nessa mesma direção que o PNAIC (BRASIL, 2014a, 2014c) repensa e re-
considera a interdisciplinaridade, como uma consequência natural dessa interação en-
tre os saberes matemáticos e aqueles advindos dos demais campos de conhecimento,
pois na apresentação desses documentos, se apresenta que
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Cabe mencionar que, na nossa prática no LEG e em cursos de formação continuada, tan-
to presencial quanto no ensino a distância, temos observado que muitos docentes em exer-
cício e que procuram a atualização dos conhecimentos matemáticos/educacionais, criticam
a sua formação, alegando despreparo para se considerarem como educadores matemáticos.
Afirmam estar acostumados a reproduzir técnicas que não os capacitam para o estabeleci-
mento de recursos educacionais criativos, autônomos e em sintonia com as necessidades es-
colares atuais.
A maioria dos profissionais declara que grande parte das disciplinas específicas da sua
formação inicial tratou os conteúdos compartimentados em áreas de conhecimento isolados
(algumas até desconsideradas, como o caso da Geometria), de maneira formal, em sequências
demonstrativas. Tudo isso os levou e, muitas vezes, ainda os leva, reproduzir as informações
por meio da memorização, não as transformando em conhecimento próprio, autônomo, cria-
tivo e interdisciplinar. Também declaram não se sentir à vontade frente a estratégias didáticas
não demonstrativas, ainda que as admitam como importantes para a resolução de problemas.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
Pelo exposto, tudo indica que temos formado o professor de uma maneira, para que
trabalhe de outra. Buscando reverter essa situação na formação e atuação do professor,
comungamos com muitos educadores matemáticos e sugerimos várias práticas que permi-
tem ao docente tanto conhecer os conteúdos e procedimentos matemáticos, como também
relacioná-los de uma maneira mais criativa ao ensino e à aprendizagem interdisciplinar.
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Buscando tanto uma melhor formação matemática como pedagógica do futuro pro-
fessor e dos professores em exercício, é que, para muitos educadores matemáticos, vivências
específicas realizadas em sala de aula ou em laboratórios de ensino são importantes. Ou seja, é
importante o trabalho com materiais concretos e virtuais que permitem a modelação de con-
teúdos e de relações matemáticas, a resolução de problemas interdisciplinares, tendo como
consequência uma aprendizagem significativa e criativa. Aprendizagem que dê segurança
tanto ao sujeito quanto ao seu próprio conhecimento no enfrentamento de suas necessida-
des para a vida (cotidiana e científica) e o torne mais autônomo e respeitador frente ao saber
dos seus pares.
Visando a propor um caminho para uma prática mais integrada do professor com o
novo contexto escolar como aqui delineado, tratamos a seguir da aprendizagem significativa
criativa em ambientes de um laboratório de ensino.
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TEXTO 6
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Como podemos trabalhar em sala de aula como educador matemático com vistas a
uma aprendizagem significativa criativa? Inclusive no caso do aluno com deficiência
visual?
• Como quebrar com o estigma deixado por Bernard Shaw?
Muitas vezes, caro leitor, é por meio de um material pouco sofisticado e não eletrôni-
co que podemos obter um ambiente didático rico para auxiliar a criança – sobretudo aquela
com necessidades educacionais especiais, como no caso do aluno com deficiência visual –,
a desenvolver o pensamento em direção à autonomia como ser humano criativo e cidadão,
antenado com seu meio ambiente.
Temos percebido que, as vivências em laboratórios de ensino têm sido bem aceitas prin-
cipalmente por aqueles profissionais que trabalham em escolas regulares ou inclusivas com
poucos recursos didáticos, mas que buscam inovar a sua sala de aula em busca de uma apren-
dizagem significativa, por meio de desafios, brincadeiras, jogos e materiais manipuláveis, ain-
da que sejam construídos com sucata.
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Leitor, como poderá ver a seguir, na UFF, grande parte da vivência dessas experiências
se dá no LEG e no projeto Vendo com as Mãos.
Pelo observado há quase 20 anos no LEG, e como já apresentamos (KALEFF, 2003, 2007),
bem como pelos muitos relatos de educadores matemáticos que podem ser vistos nos artigos
reunidos por Sérgio Lorenzato, tem sido de grande valia a estratégia de se conscientizar o pro-
fissional e o licenciando sobre o papel das ações laboratoriais interdisciplinares na formação
do educando criativo e sobre como essas podem ser realizadas, ainda que o ambiente físico
no qual aconteçam essas ações não seja propriamente o de uma sala preparada como um
laboratório. (LORENZATO, 2010 a)
Esse é o caso do LEG, que também é um pólo divulgador de pesquisas em Educação Ma-
temática, principalmente daquelas que acontecem no IME-UFF, além de alocar uma pequena
biblioteca de Educação Matemática e todo o acervo didático de um museu interativo para o
ensino destinado à divulgação e democratização da Matemática (KALEFF, 2012).
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Mitos e Polêmicas
Desde a década de 1960, muitos educadores matemáticos têm estudado o papel
dos recursos e materiais concretos, também chamados de materiais didáticos para a
aprendizagem significativa. Porém, no ambiente escolar, ainda se apresentam alguns
mitos e até mesmo preconceitos contra a utilização de tais recursos. Um grande núme-
ro de professores alega que os materiais concretos são muito caros e, portanto, pouco
acessíveis com seus recursos advindos do salário como docente. Outros afirmam ter
pouco conhecimento de como trabalhá-los em sala de aula.
Nos últimos anos, no ambiente educacional, surgiram ainda outras polêmicas, pois
alguns profissionais alegam não ser mais necessário utilizar recursos concretos manipu-
láveis, pois os virtuais - advindos da informática, na forma de programas computacionais
educativos interativos - seriam suficientes para levar o aluno à aprendizagem matemática,
principalmente, quando se tratam de conteúdos geométricos e de sua visualização.
Em geral, os maiores mitos e polêmicas relacionam-se com a manipulação de
materiais concretos quando se visa a atingir conhecimentos matemáticos mais avança-
dos. Nesses casos, muitos professores e matemáticos, pouco ligados à pesquisa sobre a
aprendizagem, alegam que os recursos concretos dificultam a abstração e o ensino da
Matemática mais avançada.
As vivências didáticas do LEG se contrapõem a esses mitos e permitem cons-
tatar a importância dos experimentos educacionais que aliam recursos didáticos
concretos aos virtuais, no caminho para a abstração o qual não prescinde do fazer.
Cabe lembrar que muitos pesquisadores em Educação Matemática têm mostrado que a
eficácia dos materiais concretos e virtuais não depende somente da forma como o docente os
utiliza. O sucesso da aprendizagem por meio desses recursos depende do conteúdo a ser es-
tudado e da interdisciplinaridade, dos objetivos a serem atingidos, do tipo de método de en-
sino, da filosofia e até da política da escola, como pode ser constatado pelos relatos de alguns
autores (LORENZATO, 2010 a). Dessa forma, a utilização de um material didático está ligada a
uma ampla rede de fatores, na qual podemos destacar que o entendimento do professor é
fundamental sobre o que significa o papel dos atributos relevantes de um conceito frente à
sua definição matemática e do que seja o processo da aprendizagem significativa.
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É necessário ressaltar que o conceito de um objeto pressupõe um significado para cada su-
jeito, e, portanto para cada aluno. A aprendizagem significativa de um conceito está diretamente
vinculada à sua funcionalidade, pois os conhecimentos adquiridos devem ser efetivamente uti-
lizados quando a circunstância em que se encontra o aluno o exija. Relembrando novamente os
PCN, ”o significado da Matemática para o aluno resulta das conexões que ele estabelece entre
ela e as demais disciplinas, entre ela e seu cotidiano e das conexões que ele estabelece entre os
diferentes temas matemáticos” (BRASIL, 1998, p. 20).
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QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Caro leitor, percebeu que o professor precisa ter consciência de que o processo
mediante o qual se produz a aprendizagem significativa criativa requer uma intensa
atuação por parte do aluno, que necessita estabelecer uma rede de relações mentais
entre as informações referentes aos novos conteúdos e relações, e aquelas já disponí-
veis em sua estrutura mental?
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Por outro lado, o papel do docente é também determinante para o sucesso da apren-
dizagem significativa criativa, no que concerne à sua grande responsabilidade na escolha de
bons materiais manipuláveis, de ter domínio dos procedimentos interdisciplinares de manei-
ras de trabalhá-los com os alunos e, ainda, ter conhecimento do embasamento teórico reque-
rido para o desenvolvimento dos conceitos e de como o aluno pode ser levado a descobrí-los.
Além disso, o professor precisa ter conhecimento de que os recursos didáticos manipuláveis
não são escolhidos ao acaso, mas que os bons materiais devem ter características bem deter-
minadas, as quais resumimos a seguir.
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Reforçando o que aqui colocamos, podemos nos lembrar como outros autores consi-
deram os recursos didáticos como “[...] os recursos físicos utilizados com maior ou menor fre-
quência em todas as disciplinas, áreas de estudo ou atividades que visam a auxiliar o educando
a realizar sua aprendizagem de maneira mais eficaz…” (CERQUEIRA; FERREIRA, 1996, p. 24-25).
Esses autores comentam ainda que a utilização de recursos didáticos adaptados para o
aluno com deficiência visual deve respeitar alguns critérios, quando buscamos a eficiência dos
mesmos, destacando que interferem no trabalho em sala de aula:
• o tamanho do recurso a ser manipulado: de modo que não contenha detalhes tão pequenos
que não sejam percebidos pelo aluno com deficiência;
• adequação do material utilizado na confecção do recurso didático: para que não venha a ferir
ou machucar a pele;
• fidelidade na representação do modelo original;
• significação tátil, de modo que o recurso apresente relevo perceptível;
• segurança e facilidade no manuseio, bem como resistência para que não se estraguem com
facilidade.
É preciso enfatizar que o material didático utilizado pelo professor não basta por si só!
Para que o recurso didático seja uma ferramenta eficaz na sala de aula, é também rele-
vante que o professor tenha consciência da importância das suas funções para o desenvol-
vimento das habilidades e dos conceitos matemáticos. Ou seja, que o docente, ao recorrer
ao uso de um material concreto ou virtual como, por exemplo, a jogos do tipo quebra-cabeça
- mesmo quando apresentados com interações na tela do computador -, saiba que eles têm
uma função didática fundamental frente às habilidades que estão envolvidas no proces-
so mental do aluno e de como essas habilidades estão interligadas com o surgimento de
obstáculos cognitivos na construção dos conceitos e relações matemáticas.
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Por outro lado, observamos que, na escola, é muito natural que os jogos de encaixe
de peças, como os do tipo quebra-cabeça, sejam cada vez mais utilizados, pois geralmente o
aluno demonstra grande interesse pelo aspecto visual do material, pela diversidade das suas
formas e também pelos desafios propostos.
O uso pedagógico de um jogo, no entanto, deve ir além do prazer de jogar, pois, o jogo
para o aluno “pode ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem vei-
culados na escola, como também pode estar promovendo o desenvolvimento de novas estruturas
cognitivas” (MOURA, 1994, p. 21).
A criatividade e a habilidade da visualização são muito estimuladas por um quebra-ca-
beça, pois na medida em que as formas vão sendo criadas pelo encaixe das peças, o aluno é
levado a criar estratégias que beneficiam a percepção espacial.
Fechando Idéias...
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TEXTO 7
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visão e também escritas em braile, adequada ao visitante cego. A Ficha Técnica, correspon-
dente à atividade para os professores de tais alunos com deficiência, é encartada no final do
respectivo Caderno.
No que se segue, relatamos as peculiaridades gerais de duas mostras do LEGI, que consi-
deramos bem ilustrativas e que podem dar aos leitores uma ideia de como organizar e realizar
uma exposição desse tipo.
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Na ala esquerda do salão, montamos o conjunto Vendo com as mãos, objetivando se-
parar as atividades destinadas aos alunos com deficiência visual das demais. Neste conjunto,
estavam tarefas que incluem uma ampla coleção de materiais apropriados para o ensino da
aritmética, na forma de tabuleiros de encaixe, ábacos especiais e quebra-cabeças. Cada tabu-
leiro de encaixe é adequado para o uso com um desses jogos, pois é formado por uma prancha
plana com recortes em baixo relevo, o que delimita o espaço do jogo e permite o encaixe das
peças do quebra-cabeça. No caso do jogo para o ensino de frações, são 10 tabuleiros com
encaixes circulares.
Foram expostos quatro tipos de ábacos auxiliares nos procedimentos educativos dos
sistemas numéricos: o chinês, o japonês, o romano e o árabe. As atividades apresentam dados
importantes sobre os ábacos (o desenvolvimento histórico e geográfico, época e maneiras de
utilização etc.) e possibilitam realizar situações que permitem a construção de relações numé-
ricas envolvendo os sistemas de numeração.
Figura 2: Tangram geométrico com tabuleiro de encaixe e Ábacos diversos. Fotos: Acervo do LEG.
Nesta mesma ala, ainda se encontravam jogos do tipo quebra-cabeças planos que tem
por base situações geométricas e artísticas baseadas em gravuras do artista holandês Maurits
Cornelis Escher (KALEFF ET AL, 2011a). Além disso, estavam artefatos didáticos denominados
de pranchas dinâmicas utilizadas para a representação de polígonos equivalentes e ainda dois
tipos de teodolitos artesanais (teodolito de indicação direta e o teodolito do ângulo congruente),
que permitem uma introdução aos conceitos da trigonometria (KALEFF ET AL, 2011b e 2011c).
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O conceito de área pôde ser trabalhado pelo visitante, por meio de dois geoplanos (de redes
isométrica e quadriculada) e de atividades que apresentavam o pouco conhecido Teorema de
Pick. Esses aparelhos são adaptados para os alunos com deficiência visual, sendo que um deles
é um geoplano comum de madeira com uma rede formada por pregos, os quais são recobertos
com pedaços de canudo rígido. O outro geoplano foi construído com uma prancha de madeira
na qual foram feitos furos dispostos em uma rede (quadriculada ou isométrica). Nestes furos
são introduzidos, verticalmente, pequenos pedaços de canudo rígido, os quais servem como o
suporte aos anéis elásticos das figuras a serem construídas no geoplano.
Figura 3: Geoplanos adaptados para pessoas com deficiência visual. Foto: Acervo do LEG.
Figura 4: Aluno vendado brinca com redes e tabuleiros de encaixe com recursos em baixo relevo para os quebra-
-cabeças pitagóricos. Foto: Acervo do LEG.
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Figura 6: Geradores de modelos de sólidos de revolução, de superfícies regradas e do Teorema de Dandelin. Foto:
Acervo do LEG.
Figura 7: Aparelhos de projeção de luz sobre objeto e sua sombra sobre rede quadriculada. Foto: Acervo do LEG.
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O visitante também foi levado a observar o surgimento de curvas cônicas por meio da
projeção de feixes de luz, obtidos a partir de uma lanterna que emite feixe linear de raio la-
ser (portanto, não pontual) sobre modelos de cones criados com fios de linha (KALEFF ET AL,
2011e).
Foram apresentados vários instrumentos especialmente adaptados e criados para a me-
dição de comprimento e de área. Entre eles uma trena analógica de duas rodas e uma trena
flexível, ambas adaptadas de aparelhos utilizados na construção civil, as quais foram modifi-
cadas possibilitando se medir distâncias por meio do som e do tato e se destinam ao uso em
conjunto com um aparelho denominado ticômetro (confeccionado com partes de sucata de
bicicleta ou com material plástico usado em conexões hidráulicas). Esse aparelho é indicado
para medir distâncias em planos horizontais (chão).
Na parte central da exposição ainda estavam expostas atividades sobre curvas de nível,
introdução aos axiomas da Geometria Euclidiana e á Geometria do Táxi. Este é um modelo de
geometria não euclidiana destinado ao Ensino Médio, o qual é muito interessante pois essas
geometrias são importantes para a formação do professor, proporcionando-lhe uma poderosa
ferramenta para o reconhecimento de semelhanças e diferenças frente aos conhecimentos
euclidianos. Tais atividades são indicadas para uma ampla gama de aplicações pedagógicas
incluindo jogos e desafios algébricos (KALEFF; NASCIMENTO, 2004).
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Numa área ao fundo do salão, também estavam à disposição do visitante uma pequena
biblioteca com volumes infantis impressos em braile e uma “ilha” destinada à aprendizagem
do alfabeto dessa escrita tátil. O visitante era incentivado a representar o seu nome, fazendo
uso de um punção e de uma régua apropriada (reglete) marcando os símbolos em alto-relevo,
que lhe eram apresentados em uma célula braile, por um casal de bonecos artesanalmente
criados para esse fim. Essa atividade foi uma das mais solicitadas pelos visitantes que chega-
ram a fazer filas para usarem as duas regletes disponíveis.
Finalmente, na parte do fundo do salão, estava alocada uma câmera escura e sem luz, o
LEGI no Escuro. Neste ambiente, totalmente às escuras, o visitante com visão normal, usando
uma venda sobre os olhos, podia realizar experiências sensoriais táteis e olfativas, emulando o
mundo vivenciado por um cego.
Apresentamos, a seguir, outra mostra do LEGI e algumas observações sobre a influência
da comunidade escolar para a itinerância de um museu e a educação inclusiva.
Somente para ilustrar como agimos e das colaborações que recebemos, entre 2011 e
2013, foram realizadas sete mostras no IME; uma no campus da UFF em Volta Redonda-RJ; três
no campus de são Cristovão do Colégio Pedro II, seis em outras universidades do Rio de Janei-
ro; quatro em eventos patrocinados pelas prefeituras municipais no âmbito da Universidade
Aberta do Brasil (em Macaé-RJ, Araras-SP, Cubatão-SP e Lagoa Santa-MG); três em eventos pa-
trocinados pelas regionais da Sociedade Brasileira de Educação Matemática (em Brasília-DF, no
V Encontro Brasiliense de Educação Matemática-V EBREM; em João Pessoa-PB, no IV Encontro
Paraibano de Educação Matemática-IV EPBEM e em Curitiba-PR, no XI Encontro Nacional de
Educação Matemática-XI ENEM) e ainda uma mostra na VI Bienal da Sociedade Brasileira de
Matemática, na UNICAMP, em Campinas-SP.
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Figura 9: Vista Geral de duas Mostras do LEGI realizadas em 2012. Fotos: Acervo do LEG
A mostra em Brasília foi montada em duas salas da Escola de Aperfeiçoamento dos Pro-
fissionais da Educação (EAPE), visitada por cerca de 350 professores e 200 alunos. A viagem de
12 membros da equipe à Brasília só foi possível graças ao apoio das diversas instâncias que
patrocinaram o V EBREM e da UFF, por meio do seu Programa Pró-Aluno (programa da Pró-
-Reitoria de Graduação, PROGRAD). Pelo que observamos nessa mostra, várias abordagens di-
dáticas dos conteúdos apresentados surpreenderam muito positivamente os participantes do
evento, tanto pelo uso de materiais de baixo custo nos aparelhos disponíveis à manipulação,
quanto pela sua engenhosidade, principalmente no que concerne às mudanças realizadas
para tornarem os materiais mais adequados aos alunos com deficiência visual.
Sem falsa modéstia, é preciso dizer que a reação da comunidade brasiliense não foi di-
ferente daquela que uma mostra do LEGI geralmente propicia. Isso é motivo de grande sa-
tisfação para a equipe do LEG, pois acreditamos no potencial do laboratório de ensino como
instrumento transformador da formação de professores e, como consequência, da escola.
A boa receptividade ao LEGI vem ao encontro das nossas expectativas, pois considera-
mos que o mais importante para os visitantes de uma mostra, ser o fato de participarem de
vivências que o permitam perceber como pequenas modificações realizadas nas estruturas
dos aparelhos didáticos destinados aos alunos com visão normal podem trazer grandes bene-
fícios ao ensino e à aprendizagem daqueles com deficiência visual. Essas vivências permitem
transformar uma sala de aula comum, em um local no qual possam ser realizadas atividades de
inclusão, nas quais cada aluno seja reconhecido, aceito e valorizado como ser humano, segun-
do suas peculiaridades e necessidades. Dessa forma, a educação inclusiva do aluno com defi-
ciência visual pode se transformar em uma realidade educacional e não ser considerada como
um fantasma que assusta a grande maioria dos professores e licenciandos de Matemática.
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Figura 10: Vista parcial de uma das salas com o LEGI em Brasília. Foto: Acervo do LEG.
Como apresentado por Sérgio Lorenzato, no Brasil, existem muitos grupos de profes-
sores que vem se empenhando em rever os procedimentos laboratoriais, a busca de uma
educação matemática mais de acordo com as necessidades físicas e intelectuais dos alunos
(LORENZATO, 2010 a). Assim, professores dos estados do Distrito Federal, Bahia, Rio Grande do
Norte, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Sergipe, entre outros, já buscam
tornar a prática escolar mais humana com os recursos de um laboratório de ensino, apontando
para o fato de que a Educação Matemática já avança na busca da formação de cidadãos mais
conscientes da realidade científica e social, do meio ambiente e das suas próprias necessida-
des como seres humanos.
PARTE 1 | UNIDADE 2 73
PARTE 2
METAS
Esta unidade apresenta algumas atividades introdutórias à geometria
euclidiana.
OBJETIVOS
Ao final desta unidade você deve:
• compreender a importância dos axiomas no ensino da geometria euclidiana e
para a história da Matemática;
• saber como levar o aluno a descobrir os cinco primeiros axiomas euclidianos
de maneira prazerosa e utilizando materiais de baixo custo;
• saber levar o aluno à aprendizagem significativa de linhas poligonais,
polígonos convexos, não convexos e regulares.
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TEXTO 8
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
As atividades didáticas aqui relatadas têm como ponto de partida aquelas desenvolvidas
para alunos com visão normal, com cerca de 11 anos, e já apresentadas em outra publicação
(KALEFF, 2008). Os estudos apresentados por João Lucas Barbosa formam a fundamentação
matemática teórica para os axiomas da Geometria Euclidiana apresentados nos experimentos
a seguir (BARBOSA, 2004).
76 PARTE 2 | UNIDADE 3
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PARTE 2 | UNIDADE 3 77
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78 PARTE 2 | UNIDADE 3
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PARTE 2 | UNIDADE 3 79
VENDO COM AS MÃOS, OLHOS E MENTE:
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5º - Por um ponto do plano, não pertencente a uma determinada reta, passa uma e
somente uma reta paralela à reta considerada.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Você sabe como podemos ensinar os axiomas introdutórios à Geometria Euclidia-
na a nossos alunos, de uma maneira prazerosa e significativa, até mesmo para aque-
les com deficiência visual?
Os Experimentos Educacionais
Os dez experimentos educacionais aqui apresentados foram elaborados de maneira
que possam ser realizados individualmente por qualquer aluno. Tanto por aquele com visão
normal como o com deficiência visual, sem o auxílio de um professor. As atividades são
apresentadas em um caderno adaptado, denominado Caderno de Atividades e escrito tanto
em fonte impressa em tipo grande (no mínimo com 18 pontos, destinada ao aluno com visão
normal ou baixa) como em uma versão em braile (para os cegos).
80 PARTE 2 | UNIDADE 3
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Figura 1: Prancha de apoio e fichas com representação em alto relevo de retas concorrentes e de reta sobre
dois pontos. Fotos: Acervo do LEG.
PARTE 2 | UNIDADE 3 81
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82 PARTE 2 | UNIDADE 3
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abertas em qualquer posição sobre o plano de uma mesa. Pedimos ao aluno que coloque uma
folha de papel na prancha de apoio e fixe a régua aberta em uma posição qualquer sobre ela.
Então, deve contornar as bordas interiores das duas réguas. Finalmente, o aluno deve retirar
o papel da prancha e, virando-o, poderá perceber o desenho em alto relevo que fez e, além
disso, comparar esse desenho com a representação que está em uma ficha apresentada a ele.
Com esse procedimento esperamos que o aluno compreenda o conceito de ângulo.
Figura 2: Prancha de apoio, réguas sobrepostas e ficha com representação em alto relevo. Fotos: Marco Brandt
(esquerda) e acervo do LEG (direita).
No quinto experimento, com um disco de plástico rígido e uma ficha com a represen-
tação em alto relevo de uma circunferência, apresentamos ao aluno o conceito de círculo e de
circunferência e seus elementos.
Figura 3: Disco de plástico rígido e ficha com representação em alto relevo de circunferências com seus
respectivos raios. Fotos: Marco Brandt (esquerda) e acervo do LEG (direita).
PARTE 2 | UNIDADE 3 83
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84 PARTE 2 | UNIDADE 3
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Figura 4: Discos de madeira com perfuração central, prancha de apoio, disco de plástico rígido, pino de plástico
de apoio para esse disco e ficha com a representação em alto relevo de circunferências concêntricas. Fotos: Marco
Brandt (em cima) e acervo do LEG (embaixo).
PARTE 2 | UNIDADE 3 85
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Figura 5: Prancha de apoio com as tiras de papelão rígido e prendedores de papel, ficha com a representação em
alto relevo de retas perpendiculares e ficha com dois “bonecos”. Fotos: Marco Brandt (esquerda) e acervo do LEG
(centro e direita).
Para a introdução do conceito de retas paralelas, pedimos ao aluno que prenda a tira de
papelão ao longo do lado menor da prancha de apoio, assim como foi feito no procedimento
anterior. Orientamos para que a encoste uma régua qualquer na tira de papelão e faça a repre-
sentação de uma reta, depois ele deve deslizar a régua, ao longo da tira, sem desencostá-la,
para obter outras representações de retas. Em seguida, ele deve retirar o papel da prancha
e, virando-o, para novamente perceber o desenho em alto relevo que ele realizou, e poder
compará-lo com a forma desenhada na ficha apresentada. Nesse procedimento, levamos o
aluno a perceber a representação de um feixe de retas paralelas criadas em alto relevo. Além
disso, ele é questionado sobre quantas retas paralelas passam por um mesmo ponto fora
de uma determinada reta. O aluno pode perceber que há somente uma única reta paralela
àquela passando por esse ponto, e, assim ser introduzido à afirmação do 5º Axioma de Euclides,
segundo a versão de Playfair.
Para finalizar, no último experimento, e visando à introdução do conceito de direção,
apresentamos ao aluno uma ficha com a representação, em alto relevo, do esquema de dois
“bonecos” e o levamos a analisar
posicionamentos de “pés” e “mãos”,
como na Figura 6.
Para finalizar, no último expe-
rimento, e visando à introdução do
conceito de direção, apresentamos
ao aluno uma ficha com a represen-
tação, em alto relevo, do esquema
(a) (b) de dois “bonecos” e o levamos a
analisar posicionamentos de “pés” e “mãos”, como na Figura 6.
Figura 6: Bonecos
86 PARTE 2 | UNIDADE 3
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PARTE 2 | UNIDADE 3 87
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Figura 7: Alunos cegos desenham circunferências com discos sobre prancha de apoio no Museu. Foto: Acervo do LEG.
88 PARTE 2 | UNIDADE 3
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CONSTATAÇÕES INESPERADAS
Uma aluna cega (15 anos) enfatizou ter finalmente compreendido, durante os
experimentos, o que eram retas perpendiculares ao desenhar as retas perpendiculares
e paralelas utilizando as tiras de papelão, ela disse: “Que legal! Isso é que são retas perpen-
diculares?”
O entusiasmo demonstrado por ela, ao tocar no desenho em alto relevo, foi por
nunca ter lhe sido mostrado um modelo tátil dessas retas, pois nos afirmou que seus
professores apenas descreviam oralmente tais retas e ela as imaginava. Aparentemente,
era a primeira vez que a aluna se deparava com a forma de “cruz” apresentada em alto
relevo!
Leitor, observou que essa aluna é uma adolescente e que nunca lhe fora ensinado
algo tão comum ao nosso cotidiano como essa relação entre “duas retas perpendicu-
lares” e uma “cruz”, e tão elementar em termos geométricos?
Finalizando, deixamos registrado o depoimento entusiasmado de outra aluna
cega (16 anos) que bem esclarece o que o projeto Vendo com as Mãos significa para os
alunos com deficiência visual:
“Gostei de tudo, o material em si está bom, está bem perceptível. Gostei
da ideia da prancha, eu acho que os materiais podem ajudar a gente nas
nossas aulas de Matemática. Eu gosto muito das atividades que vocês
fazem aqui, acho que podem ajudar bastante e até mesmo para a prova do
ENEM que a gente vai fazer”.
PARTE 2 | UNIDADE 3 89
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TEXTO 9
Para introduzir o conceito de polígonos e suas classificações, para alunos com cerca de 11
anos de idade, criamos uma sequência de atividades cujo objetivo principal é levar o estudante
a observar exemplos e não exemplos dos conceitos envolvidos, a fim de que possa perceber as
características, seus atributos relevantes e não relevantes para a construção desses conceitos,
ideia esta defendida nos estudos liderados por Rina Hershkowitz (HERSHKOWITZ ET AL, 1994).
Nas atividades, seguindo os níveis do desenvolvimento do pensamento geométrico do
modelo de van Hiele, o aluno parte da visualização de peças modeladoras de atributos do
conceito até a organização informal dos seus atributos relevantes.
Como tantas vezes já assinalamos, temos uma grande preocupação com a democratização
da matemática buscando sempre desenvolver recursos didáticos de baixo custo. Dessa forma,
temos em vista o poder aquisitivo do professor da escola pública, para que ele possa construir
e utilizar tais recursos em sala de aula com seus alunos. Outra grande preocupação é a de
tornar cada um desses materiais acessível a alunos com deficiência visual e a suas famílias, pois,
estas podem também auxiliar a melhorar a aprendizagem dos estudantes com deficiência.
Partindo dessa filosofia, os materiais utilizados na confecção dos recursos para as atividades
de introdução aos polígonos foram: papelão cartonado do tipo Paraná, chapas de acetato
(reaproveitado de chapas radiográficas das quais foi retirada a película com depósito de prata, por
meio de solução de cloro a 70%), papel cartão, fio de linha encerada de boa espessura (2 mm),
percevejos, cola de isopor, fita adesiva colorida, uma prancha de apoio para desenho, folhas de
papel braile, uma caneta com ponta boleada e um geoplano de malha quadrada adaptado para o
aluno com deficiencia visual (visto no primeiro texto do presente volume).
90 PARTE 2 | UNIDADE 3
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Figura 1: Geoplano adaptado, prancha com fio, pranchas com figuras em alto relevo e moldes de figuras em
acetato. Fotos Acervo do LEG.
Para as atividades a seguir foi construída uma prancha com um fio (Figura 2). Esta foi
obtida com 5 camadas de papelão cartonado do tipo Paraná, coladas entre si com cola de
isopor e nela foram fixados dois percevejos. Preso a eles um fio de linha encerada, que tem por
objetivo ser usado como modelo de um segmento de reta. Todo o acabamento do material foi
feito de forma que as cores dessem o contraste necessário para que pessoas com baixa visão
percebessem bem a linha. Por isso utilizamos uma linha na cor preta e papel cartão amarelo
para o revestimento de toda placa de papelão. O acabamento desta prancha com fio foi feito
com fita adesiva colorida amarela.
PARTE 2 | UNIDADE 3 91
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Figura 3: Exemplo de prancha com desenho em alto relevo. Foto: Acervo do LEG.
92 PARTE 2 | UNIDADE 3
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PARTE 2 | UNIDADE 3 93
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QUESTIONAMENTO AO LEITOR
Figura 5: Pranchas com poligonais e polígonos em alto relevo desenhados em papel vegetal. Foto: Marco Brandt.
94 PARTE 2 | UNIDADE 3
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CADERNO DE ATIVIDADES
Conhecendo polígonos
ATIVIDADE 1
Para realizar esta atividade você deve ter em mãos o conjunto de duas pranchas (PRANCHAS
1 e 2) com figuras desenhadas em alto relevo.
a) Observe os desenhos em alto relevo nas duas pranchas, os quais indicam representações de
algumas linhas especiais.
Figura 6: Pranchas 1 e 2
SAIBA QUE!!!!!
Figura 7: Prancha 3
Os desenhos na Prancha 3 representam alguns exemplos de linhas poligonais ou
simplesmente poligonais.
PARTE 2 | UNIDADE 3 95
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f) Assinale, nos desenhos da Prancha 4, quais, em sua opinião, representam linhas poligonais.
Figura 8: Prancha 4
g) Observando as representações que você fez no geoplano, indique aquelas que são linhas
poligonais.
SAIBA QUE!!!
Observe, na atividade anterior, os elásticos e cada um dos ângulos formados nas figuras.
Os vértices dos ângulos são os vértices de uma linha poligonal. Em Geometria, os vértices
são indicados nos desenhos por letras maiúsculas A, B, C, D....
A E F I L
B C G H H J
Figura 9: Prancha 5
96 PARTE 2 | UNIDADE 3
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ATIVIDADE 2
SAIBA QUE!!!
Figura11: Prancha 8
PARTE 2 | UNIDADE 3 97
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LEMBRETE!!!
Observe que você tem aí nomeados os vértices e os lados de um polígono.
ATIVIDADE 3
a) Observe os desenhos da Prancha 10. Compare-os com as susa construções da atividade
anterior, observando se elas se parecem, isto é, se possuem as mesmas características.
SAIBA QUE!!!
98 PARTE 2 | UNIDADE 3
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d) Todos os seus desenhos representam polígonos convexos? Discuta suas conclusões com seus
colegas
PARTE 2 | UNIDADE 3 99
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ATIVIDADE 4
a) Dentre as peças em acetato que estão sobre a mesa, separe aquelas com forma de polígono
convexo. Pegue a prancha com o fio esticado.
b) Escolha uma das peças que você separou como polígono convexo. Coloque cada um dos lados
da peça inteiramente sob o fio.
c) O que você observa quanto à posição da peça em relação a esse fio (que parece um segmento
de reta)?
d) Escolha uma peça que não possua forma de polígono convexo.
e) Coloque cada um dos lados dessa peça (inteiramente) sob o fio.
f) O que você observa com respeito à posição da peça em relação ao fio?
g) Repita com outras peças o que você fez nos itens anteriores.
h) O que você pode concluir das suas observações quanto aos polígonos convexos? E quanto aos
não convexos? Discuta com seus colegas.
i) Desenhe algumas figuras que não representem polígonos convexos.
LEMBRETE!!!
Você deve ter observado que as peças que representam polígonos convexos ficam
sempre de um mesmo lado do fio, ou seja de uma reta que contem o lado, enquanto que
para os não convexos isso não acontece.
Você deve ter percebido também que as peças de acetato que você utilizou nessa
atividade não representam polígonos, mas têm forma de polígonos. Observe que nessa
representação com acetato, além dos pontos que formam o polígono, também foram
representados os pontos do plano que estão “entre” os lados do polígono, isto é, os pontos
internos do polígono. Assim, foram levados em conta todos os pontos que pertencem aos
segmentos de reta que ligam dois pontos quaisquer de dois lados do polígono.
Na Prancha 14, estão representadas figuras com formas de polígonos.
Observe ainda que dois lados do polígono formam um ângulo. Se quaisquer dois
pontos dos lados do ângulo podem ser ligados por um segmento de pontos internos do
polígono, então em Geometria, diz-se que este ângulo é um ângulo do polígono.
ATIVIDADE 5
a) Usando um pedaço de giz, desenhe no chão ou coloque uma corda, modelando polígonos de
cinco lados conforme os esquemas na Figura 17. Tente seguir fielmente o desenho! Prenda ao chão
cada vértice da corda com fita adesiva.
- Observe as Tabelas 1 e 2. Cada uma delas se refere a um dos percursos. Preencha-as indicando
cada mudança de direção, para direita ou para a esquerda, que efetuar no percurso.
- Observe como são os ângulos internos desses polígonos, são sempre menores do que 180º?
2a mudança 2a mudança
3a mudança 3a mudança
4a mudança 4a mudança
TABELA 1 TABELA 2
b) Desenhe no chão ou coloque uma corda modelando dois polígonos de seis lados conforme
indicado na Figura 12 e construa suas respectivas tabelas, indicando as mudanças de direção.
- O que você observa entre as tabelas dos percursos partindo de A e de B? E quanto aos ângulos
internos desses polígonos, são sempre menores do que 180º?
- Se você ainda não chegou a uma conclusão, construa as tabelas, para as figuras de sete lados
desenhadas na Figura 18.
c) Preencha a Tabela 3 e verifique a que tipo de polígono, convexo ou não convexo corresponde
ao indicado pelo ponto A e pelo ponto B, de cada item desta atividade.
LEMBRETE!!!
Você deve ter observado que os polígonos indicados por A são convexos e os por B são
não convexos. Nos primeiros, as mudanças são sempre na mesma direção, ou direita ou
esquerda, enquanto que nos outros há mudança de direção, isto é, vira-se para a direita e
depois para a esquerda e isso acontece devido aos ângulos serem maiores do que 180°.
ATIVIDADE 6
a) Desenhe em uma folha de papel braile as figuras com formas de polígonos convexos que você
separou na atividade 4 a, contornando-as com um lápis.
b) Vire a folha e observe as figuras que você desenhou em alto relevo. Indique as que possuem
todos os lados iguais.
c) Indique as figuras que têm todos os ângulos iguais.
d) Agora, observe e indique as que têm todos os lados e também todos os ângulos iguais.
SAIBA QUE!!!
Saiba que tais polígonos são chamados de polígonos convexos regulares.
ATIVIDADE 7
a) Construa no geoplano uma figura em forma de um polígono convexo de três lados e o desenhe
sobre uma folha de papel (se tiver deficiência visual, use a prancha de apoio e papel braile). Esse
polígono, como você já sabe, é chamado de triângulo.
b) Construa no geoplano uma figura em forma de um polígono convexo de quatro lados e o
desenhe sobre uma folha de papel. A esse polígono se dá o nome de quadrilátero.
c) Construa no geoplano uma figura em forma de um polígono convexo com cinco lados e o
desenhe. Essa representação chama-se pentágono (penta significa cinco em grego). Agora,
construa uma figura com forma de polígono convexo com seis lados e o desenhe. A esta
representação dá-se o nome de hexágono (saiba que hexa significa seis em grego).
d) Sabendo que hepta significa sete em grego, como você acha que se chamaria, em Geometria,
um polígono com sete lados?
e) Construa no geoplano figuras em forma de polígonos convexos de sete e oito lados e os desenhe
no papel. Como poderia se chamar um polígono com oito lados? E um polígono convexo de nove
lados, como seria chamado? E um polígono com n lados? Complete a Tabela 4 com os nomes.
n-lados eneágono
TABELA 4
ATIVIDADE 8
Tente agora, baseado em suas observações, dizer o que é linha poligonal; polígono; polígono
convexo; polígono não convexo e polígono convexo regular.
DESAFIO
Usando a prancha de apoio com o fio e as peças de acetato, você seria capaz de caracterizar
os polígonos convexos e não convexos de outra maneira daquela feita na Atividade 4?
METAS
Esta unidade apresenta alguns exemplos de recursos didáticos construídos
artesanalmente que podem ser utilizados como ferramentas para o cálculo de
comprimentos lineares e de áreas de superfícies.
OBJETIVOS
Ao final desta unidade você deve:
• Saber construir instrumentos de medidas de comprimento de muito baixo custo
que utilizam o som e o tato, podendo ser aplicados tanto no ensino do aluno com
visão normal como daquele com deficiência visual.
• Perceber como alunos reagem a esses materiais em aplicações em sala de aula
e no museu interativo.
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TEXTO 10
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Você conhece ferramentas de baixo custo para medir comprimento?
O ticômetro de sucata, como pode ser visto na Figura 1, é construído com sucata de
bicicleta, tendo uma haste de sustentação como suporte para uma roda presa por quatro
raios. Na haste, é adaptado e preso por uma braçadeira, um esbarro de metal que toca cada
raio ao movimentarmos a roda, produzindo o som de um tic. Nesse aparelho, portanto, um tic
corresponde à quarta parte da distância percorrida em uma volta pela roda.
Apesar da boa aceitação do ticômetro de sucata por estudantes das séries finais do
Ensino Fundamental, construímos um novo tipo, muito mais leve e portável, que denominamos
ticômetro plástico, que é mostrado na Figura 2. Ele é composto por uma roda plástica (com
20 cm de diâmetro) com seis raios e vários elementos obtidos de material hidráulico plástico
usado na construção civil: um pedaço de cano, um “joelho” e uma terminação em “T”. A roda
é conectada ao “joelho” por um parafuso de grande porte, com diâmetro compatível com a
espessura do cano e fixado por duas porcas de metal. Um pedaço de fita plástica, com pouca
elasticidade, e preso por uma braçadeira ao cano serve de esbarro aos aros da roda quando
essa se movimenta. Este esbarro é que produz o som do tic.
Figura 3: Ticômetros diversos expostos em mostra do Museu LEGI. Foto: Acervo do LEG.
Figura 4: Trena adaptada e suas marcações. Fotos: Acervo do LEG (cima e esquerda) e Marco Brandt
(direita).
Ainda com vistas ao ensino inclusivo, desenvolvemos mais dois aparelhos utilizados para
medir comprimentos, porém mais indicados para medições em um plano vertical ao do chão.
Esses chamamos de régua tátil de madeira e de régua tátil dobrável de papelão, como podem ser
vistos na Figura 5. A primeira régua foi construída com uma ripa de sucata de madeira, do tipo
usado como alisar em portas, e apresenta as marcações de medida na forma de um, dois ou três
furos vazados na madeira, indicando, respectivamente centímetros, decímetros e metros.
A segunda régua foi confeccionada com tiras de papelão Paraná, recobertas por filme
plástico adesivo, presas entre si por um fio de linha bem resistente. As marcações de medida
são feitas em cada tira, de maneira análoga à da régua em madeira, por meio de uma, duas ou
três tachas metálicas em alto relevo. A vantagem dessa régua dobrável é a sua portabilidade,
pois ela é leve e ocupa pouquíssimo espaço de armazenamento quando dobrada, enquanto a
régua tátil de madeira é grande, pesada e rígida.
Temos utilizado a régua tátil em uma atividade para o cálculo do Índice de Massa
Corporal (IMC), na qual o aluno pode verificar o seu peso e sua altura. No caso do aluno
com deficiência visual, percebemos que ele necessita do auxílio de uma pessoa vidente
somente para verificar o valor do peso na balança, pois como a trena é adaptada às suas
necessidades, o aluno tem autonomia para verificar sua altura.
Ao final dessas medições, disponibilizamos uma calculadora com números grandes
(para pessoas com baixa visão) e um ábaco do tipo sorobã (para uso dos cegos), para o
cálculo do IMC: peso dividido pela altura elevada ao quadrado.
A atividade de aplicação do ticômetro em conjunto com a régua tátil envolve quatro
etapas, as quais pretendemos que sejam realizadas individualmente ou em grupos de
dois alunos.
A primeira etapa é de apresentação e reconhecimento do material. Na segunda, os
alunos devem utilizar o ticômetro e, contando o número de tics, medir uma distância
determinada pelo professor. Na terceira, os alunos devem medir a mesma distância com
a trena adaptada. Por último, são comparadas as medidas encontradas com ambos os
aparelhos, considerando-se sempre as médias aritméticas dos valores encontrados, e,
finalmente, então, os alunos são desafiados a descobrir quanto mede um tic, em metros.
O uso conjunto dos dois aparelhos foi bem aceito por todos e motivou o surgimento de
estratégias interessantes para o cálculo do comprimento da roda e do trecho entre dois sons
consecutivos, sem fazer uso do ticômetro, ou seja, apenas com a medida encontrada na trena
e a média aritmética obtida da quantidade de tics que cada um ouvira.
Um dos alunos cegos chegou a usar o seu ábaco sorobã nos cálculos. Como esperado,
esse aluno, bem como a maior parte dos demais, percebeu que o resultado calculado no
sorobã era igual ao da medida encontrada anteriormente, em centímetros, do trecho entre
dois sons consecutivos. Após essa conclusão, foi apresentado a esses alunos o número π (pi),
com valor aproximado de 3,14, e solicitado que medissem o comprimento do raio da roda e
multiplicassem essa medida por duas vezes esse valor (6,28). Com o resultado desse cálculo,
os alunos perceberam que o valor encontrado era muito próximo ao do comprimento da roda
medido por meio da trena adaptada.
OBSERVAÇÃO INTERESSANTE!
Essa sessão de aplicação foi, sem dúvida, a mais dinâmica de todas as realizadas durante os
dois anos de ações do LEG no IBC, o que atribuímos tanto à intensa participação dos professores
no processo de aprendizagem, como ao fato de os alunos não terem ficado restritos a uma mesa
de apoio do material para a realização das tarefas, podendo circular livremente no ambiente da
sala de aula com os materiais disponíveis.
Figura 6: Alunos cegos manipulam os ticômetros. Fotos: Marco Brandt (esquerda) e acervo do LEG (direita).
TEXTO 11
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
Figura 1: Tapete e protetor de pia usados como redes quadriculadas. Acervo do LEG.
Faz parte do acervo uma prancha com malha de madeira com sulcos em baixo relevo
que foi feita com uma chapa quadrada de madeira tipo MDF, na qual foram talhados sulcos
(Figura 2). Essa não é uma malha artesanal e é, portanto, de alto custo, mas tem a vantagem
de ser durável e não exigir manutenção. No entanto, como sempre estamos buscando
materiais manipulativos de baixo custo, desenvolvemos um conjunto de pranchas artesanais
baseadas naquela prancha de apoio para desenho, como apresentada na Figura 2a. e já
descrita anteriormente, no texto sobre o ensino dos cinco axiomas introdutórios à geometria
euclidiana. É sobre esse conjunto que trataremos aqui.
2 a) 2b)
Figura 2: Prancha com malha de madeira com sulcos em baixo relevo e prancha de apoio para desenho.
Fotos: Acervo do LEG.
Dentre as pranchas com malhas artesanais com redes, das quais algumas podem
ser vistas na Figura 3, desenvolvemos a de prancha de sucata plástica com malha de tela
antiderrapante (Figura 3a). Esta é construída com uma folha de material plástico de sucata
obtido de um banner, no qual é colada uma tela quadriculada (com quadrados de 0,5 cm de
lado) obtida de um tecido sintético e antiderrapante usado em tapeçaria. A grande vantagem
dessa prancha plástica, além do baixo custo, é ser de material flexível de sucata, pois permite
que seja enrolada como o banner original, o que possibilita uma boa portabilidade. Outra
prancha artesanal é denominada de prancha de papelão com malha de tela antiderrapante
(Figura 3b) e é confeccionada com folha de papelão tipo Paraná, recoberta por plástico auto-
adesivo, sobre o qual é colada uma malha quadriculada adaptada a partir do mesmo tecido
antiderrapante utilizado na malha anterior. Os quadrados dessa malha têm cerca de 1,0 cm de
lado, obtidos por meio do recorte de cada duas quadrículas da malha do tecido antiderrapante
original. Essa técnica de recorte permite que os quadrados da malha sejam melhor percebidos
ao tato pelo aluno com deficiência visual, do que aqueles encontrados na tela original.
No acervo do LEG, ainda temos mais outra prancha, a qual tem se mostrado muito
adequada para o uso com alunos com deficiência visual, ou seja, a de papelão com malha
de quadrículas de linha (Figura 4a e 4c). Este recurso consiste em uma placa de papelão tipo
Paraná, recoberta por uma tela quadriculada, obtida pela colagem de uma rede de fios de
linha, cuja espessura permite uma boa percepção tátil. Para esse aparelho, tem sido utilizado
um fio resistente e um pouco mais grosso do que aquele empregado na construção de pipas.
Outra prancha com fios também tem sido aplicada e a denominamos de prancha
de papelão com malha quadrículas de linha recoberta por plástico (Figura 4 b). Essa tem
a mesma estrutura da anterior, mas é recoberta por uma placa de filme de plástico
adesivo. A vantagem desta sobre a outra é que os fios não descolam da prancha com
facilidade, devido ao manuseio.
Completando o conjunto de pranchas táteis, construímos duas outras bem menos
sofisticadas que as anteriores, mostradas na Figura 5. A primeira, prancha com malha de rede
plástica pontilhada (Figura 5a) é formada por uma placa de papelão tipo Paraná, recoberta
por uma tela quadriculada de plástico adesivo, na qual foi desenhada uma rede quadriculada
pontilhada obtida com uma carretilha formada por um feixe de raios. Essa carretinha é um
instrumento utilizado em artesanato para a marcação de pontos em tecido. A outra prancha,
que denominamos de prancha de papelão com malha de papel vegetal (Figura 5b), é recoberta
por uma rede obtida por dobraduras em alto relevo de uma folha de papel vegetal de gramatura
180g. Essas pranchas apresentam algumas desvantagens. Na primeira, o pontilhado se desfaz
com facilidade e, com o tempo, se torna imperceptível ao tato, obrigando a ser refeito. Na
segunda, a confecção das linhas retas da malha no papel vegetal é muito delicada, o que
exige grande perícia manual do seu construtor; bem como as linhas em alto relevo vão se
aplainando com o manuseio e ficam mais difíceis de serem percebidas pelo tato. Em ambas, a
maior vantagem é o baixo custo.
3 a) 3 b)
Figura 3: Prancha de sucata plástica e de papelão com malha de tela antiderrapante. Fotos: Acervo do LEG.
4 a) 4 b)
Figura 4: Pranchas de papelão com malha de quadrículas de linha. Fotos: Acervo do LEG.
5 a) 5 b)
Figura 5: Pranchas de papelão com malhas de plástico e papel vegetal. Fotos: Acervo do LEG.
Caro leitor, sabemos que deve estar curioso para ver como temos usado essas pranchas
com malhas.
Saiba que as utilizamos em todos os jogos do tipo quebra-cabeça planos que
desenvolvemos no LEG, para o cálculo da área das peças que os formam e das figuras que
podem ser construídas com elas. Esses jogos, chamados de tangrans, são utilizados na
introdução dos conceitos de área e de figuras planas com mesma área, ou seja, de figuras
equivalentes.
Algumas dessas aplicações serão apresentadas nos textos que se seguem no presente
volume. Outras se encontram, por exemplo, em Kaleff (2002), Kaleff et al (2011 a, 2011b, 2011c).
Na Figura 6, podemos ver uma foto de algumas pranchas com tela antiderrapante em
uma aplicação com os jogos dos tangrans pitagóricos.
Figura 6: Pranchas de malha de tela antiderrapante usadas com tangrans pitagóricos. Foto: Acervo do LEG.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES!
Cabe ressaltar que as testagens realizadas com os estudantes com deficiência nos
apontaram alguns fatores aos quais, como professores, precisamos dar muita atenção:
• A prancha com melhor aceitação foi a de papelão com malha de quadrículas de linha
(Figura 4 a), embora a com malha de tela antiderrapante tenha sido bem aceita (Figura 3b).
• A com menor aprovação é a com malha de rede plástica pontilhada, pois os pontos
parecem lhes ser agressivos ao tato, já que os alunos têm a sensibilidade nas pontas dos
dedos muito desenvolvida. Quanto ao o tamanho das quadrículas da malha, esse deve
ser adequado à faixa etária, pois os alunos mais novos do Ensino Fundamental, muitas
vezes apresentaram dificuldades na percepção tátil das quadrículas com menos de 1cm
de lado. É o caso das pranchas apresentadas na Figura 6. Dessa forma, para o uso com
esse nível escolar, passamos a privilegiar malhas com quadrados de 2cm de lado, como
na malha da Figura 4b.
• Sobre a cor da prancha com malha de fios: os estudantes do Ensino Médio nos
trouxeram várias sugestões que nos levaram a modificar a cor da prancha e dos seus
fios, buscando um contraste maior entre as cores. Por sugestão de um aluno (baixa visão,
14 anos, do 1º ano), modificamos a cor da superfície dessas pranchas. Essas, que eram
somente de papelão Paraná, como a da Figura 4a, passaram a ser recobertas por plástico
adesivo colorido (vermelho ou amarelo) antes de serem trançadas pelos fios, cuja cor deve
ser contrastante (branca ou preta) com a do plástico, como pode ser visto na Figura 4b e
ainda foram recobertas por plástico transparente, para terem uma maior duração.
Resumindo, podemos dizer que os recursos testados tem tido uma boa aceitação, tanto
pelos professores como pelos alunos, tanto com visão normal quantos com deficiência, o que
nos leva a apresentarmos nos textos a seguir mais exemplos de aplicações dessas malhas.
METAS
Esta unidade apresenta alguns exemplos de artefatos manipulativos e jogos
didáticos aplicados em atividades introdutórias ao ensino da área de uma
superfície plana.
OBJETIVOS
Ao final desta unidade você deve:
• Saber construir com material de baixo custo alguns artefatos e jogos do tipo
quebra-cabeça planos para o ensino de área de figuras elementares.
• Aplicar o material em uma classe inclusiva a busca da aprendizagem
significativa dos conceitos geométricos elementares.
VENDO COM AS MÃOS, OLHOS E MENTE:
Recursos didáticos para laboratório e museu de educação matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff (Organização)
TEXTO 12
Esses jogos têm sido fabricados com materiais mais modernos, como madeira e plásticos
diversos e, as novas gerações, cada vez mais se interessam por eles, incluindo os virtuais, uma
vez que este tipo de jogo instiga e desafia a criatividade. Exemplos desses jogos concretos
e virtuais também foram desenvolvidos no LEG, como os tangrans geométricos especiais,
artísticos e os pitagóricos (KALEFF; GARCIA; REI, 2003; KALEFF ET AL. 2011a; 2011b; 2011c).
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
No ensino de áreas, além de ser importante que o aluno saiba calcular as áreas dos
polígonos elementares, também é necessário saber o que são polígonos e figuras congruentes,
ou seja, aquelas têm a mesma forma e mesmo tamanho; como também o aluno precisa ainda
reconhecer figuras equivalentes, que são aquelas que possuem a mesma área, porém formas
diferentes. No mundo atual, no qual frequentemente movimentamos e modificamos figuras
na tela plana de um aparelho eletrônico, e consequentemente interagimos e precisamos
reconhecer suas formas e tamanhos, é necessário que habilitemos o aluno, ainda bem jovem,
para essas ações. E os jogos planos podem ser utilizados como um bom veículo para isso juntar
peças de um jogo plano, sem sobrepô-las, ajuda muito ao aluno a entender e diferenciar os
dois conceitos. No entanto, a utilização desses jogos no ensino só e possível porque existe
uma razão matemática para que o façamos. Como podemos constatar que:
regiões poligonais equivalentes não são, necessariamente, congruentes.
Essa diferença dá origem a muitos jogos de quebra-cabeça. Por exemplo,
na Geometria Euclidiana, um triângulo equilátero é equivalente a um
quadrado, mas eles não são congruentes (ANDRADE, 2013, p. 115).
Na Caixa 1, está uma peça com o formato de seta; na Caixa 2, duas peças, uma com o
formato de um triângulo isósceles e outra com o de um quadrado. Na Caixa 3, três peças, uma
com a forma de um triângulo isósceles e outras duas com formatos de triângulos retângulos e,
por último, na Caixa 4, estão quatro peças, com formatos de triângulos retângulos.
As peças dos Jogos da Seta foram confeccionadas com duas placas de papelão do tipo
Paraná, coladas com cola de isopor. Sendo que, em cada placa, foi colocada uma pequena
alça de fio de linha encerada, de modo que esta facilite o manuseio das mesmas por parte
dos alunos com deficiência visual. O acabamento das bordas de cada peça foi feito com fita
adesiva colorida (Figura 4)
Figura 4: Conjunto das peças dos Jogos da Seta. Foto: Acervo do LEG.
A prancha com a área vazada da seta também foi confeccionada com o mesmo tipo de
papelão e de acabamento. A construção de diversas pranchas com malhas quadriculadas já foi
mostrada anteriormente neste volume.
Figura 5: Prancha vazada, uma prancha com malha quadriculada e todas as peças dos jogos da Seta: Fotos: Acervo
do LEG (esquerda) e Marco Brandt (direita).
Os Jogos da Seta foram divididos em quatro atividades, cada uma delas contendo
uma caixa de material manipulativo. A primeira atividade pede que o aluno manuseie a peça
contida na Caixa 1 (uma seta inteira) e a prancha vazada com forma de seta, reconhecendo a
forma, o tamanho e suas diferenças. Logo após, o aluno é levado a calcular a área da peça e
da região vazada, utilizando a malha quadriculada com o auxílio da observação da região em
baixo relevo vazada na prancha.
As atividades seguintes são repetições da primeira, mudando apenas as peças contidas
nas caixas, sem menosprezar a observação, reconhecimento, diferenciação e comparação de suas
formas e tamanhos. Assim, agora, além de estabelecer relações entre as peças e a região vazada
(seta), o aluno deverá notar relações entre o tamanho e as áreas das peças que estão sendo
avaliadas e as peças das caixas anteriores. O aluno então vai sendo levado a perceber as partições
da seta e a estabelecer as relações de equivalência entre os polígonos modelados nos jogos.
O objetivo dessas atividades é que o aluno consiga estabelecer uma linha de raciocínio
que o permita perceber que uma mesma região de uma superfície plana pode ser dividida
em partes diferentes, como a vazada na prancha de apoio. É a partir da união das peças que
formam a região vazada, que o estudante observará a decomposição de uma figura, no caso
desses jogos, a de uma seta. Bem é dessa observação que estabelecerá as áreas dos polígonos
e sua equivalência.
Cada peça do quebra-cabeça, como as dos jogos anteriores, foi confeccionada com duas
placas de papelão do tipo Paraná coladas com cola para isopor. Em cada peça foi colocada
ainda uma alça pequena de fio de linha encerada. Esta tem por objetivo, facilitar o manuseio
da peça por parte dos alunos com deficiência visual. O acabamento de cada peça foi feito com
fita adesiva colorida.
As atividades se iniciam com uma breve apresentação do jogo; é pedido que o aluno
observe atentamente suas peças, a fim de reconhecer as suas formas e verificar se, dentre
elas, existem formas iguais. Além disso, o aluno deverá observar se existem peças com
formatos diferentes, porém com mesmo número de lados. Em seguida, pedimos que o aluno
construa uma figura de sua imaginação , utilizando todas as peças do tangram estrelado. Nas
ações seguintes, propomos que o aluno faça construções sucessivas de algumas figuras pré-
determinadas (Yoda, Pomba e Nave). Como todas as peças do jogo utilizadas em cada uma
das construções, instigamos o aluno a perceber a relação entre as áreas das figuras que ele
construiu, introduzindo desse modo, o conceito de figuras equivalentes. Posteriormente, são
realizadas atividades similares, porém utilizando formas de polígonos já conhecidos, como
triângulo, retângulo, paralelogramo e trapézio.
Após a realização dessas atividades, e com o auxílio de uma malha quadriculada, pedimos
ao aluno que faça a contagem das quadrículas, das áreas ocupadas pelas figuras construídas
anteriormente. A partir disso, tentamos fazer com que o aluno deduza as fórmulas das áreas de
alguns dos polígonos citados anteriormente. Finalmente, é proposto um desafio, no qual, após
todo o estudo que envolveu figuras equivalentes e áreas, o aluno deverá construir a caixa ideal
para guardar o tangram estrelado. Desta forma, o aluno será conduzido a fazer a transição do
conceito de polígono não convexo para o de convexo, uma vez que a caixa ideal deverá ter
a forma de um prisma de base retangular, cujo cálculo da área é muito mais fácil. Ou seja, o
aluno estará trabalhando o conceito de polígonos equivalentes.
TEXTO 13
Figura 1: Artefato manipulativo original para resolução do Desafio e Caderno de Atividades. Foto: Acervo do LEG.
DESAFIO
Dois Quadrados Superpostos
Para resolver o Desafio dos Dois Quadrados Superpostos, elaboramos uma sequência de
atividades cujo objetivo principal é se achar a área de cada uma das possíveis configurações
para a figura formada pela interseção obtida pela superposição dos dois quadrados.
O segundo caso é aquele em que a interseção dos dois quadrados possui a forma de um
triângulo. Com ideia semelhante ao do primeiro caso, o quadrado inicial é particionado em
quatro triângulos iguais, como mostra a Figura 4. Disso podemos concluir que a medida da
área de interseção também vale um quarto da medida da área do quadrado inicial.
O terceiro e último caso pode parecer um pouco mais complicado de ser entendido,
aquele em que a figura de interseção dos dois quadrados possui a forma de um quadrilátero
qualquer (Figura 5). Neste caso, o aluno é levado a trabalhar com uma decomposição do
quadrilátero, com o objetivo de formar um quadrado (Figura 6).
Este caso de congruência pode ser facilmente verificado, visto que, como A é o centro
do quadrado e, C e F são pontos médios dos lados, devido à observação da malha quadriculada,
então os segmentos AF e AC são congruentes. Assim, como decorrência desse mesmo fato,
temos que os triângulos ABC e ADF são retos em C e F, respectivamente. Por fim, temos que
os ângulos FAD e BAC são congruentes, visto que ambos são complementares ao ângulo DAC.
Portanto, pelo caso de congruência conhecido como Ângulo-Lado-Ângulo, temos que os dois
triângulos são congruentes.
Após o estudo desses três casos, o aluno deve ter concluído que a área independe da
forma que possui a figura formada pela superposição dos dois quadrados do Desafio, ou seja,
sua área sempre medirá um quarto da medida da área do quadrado inicial.
Figura 8: Versão atual do artefato manipulativo para o Desafio. Foto: Acervo do LEG.
Figura 9: Primeira versão e a atual do Artefato Manipulativo Adaptado. Fotos: Acervo do LEG (esquerda) e Marco
Brandt (direita).
Cabe lembrar ainda que, podemos desenvolver as atividades para resolver o Desafio
também no ambiente virtual. A situação-problema e todas as atividades elaboradas para tal
resolução foram reconstruídas no software de geometria dinâmica Geogebra e podem ser
realizadas da mesma maneira proposta que aquela para o Artefato Manipulativo.
Figura 10: Versão virtual de uma atividade de resolução do Desafio. Foto: Acervo do LEG.
Figura 11: O Desafio no I Encontro de Educação Matemática de Cubatão-SP. Foto: Acervo do LEG.
TEXTO 14
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Você seria capaz de dizer com quais tipos de materiais podemos construir um
modelo de Flor Natalina?
• Você seria capaz de estimar quanto de material é necessário para a construção de
uma Flor Natalina?
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Observe a imagem da Flor Natalina a seguir. Você deve ter reparado que a Flor
Natalina é composta por pétalas. Quantas pétalas formam o modelo apresentado?
• Observe a imagem de uma das pétalas na Figura 2. Observe ainda que, em algumas
partes dela, existe um encontro de dois pontos. Se você fosse capaz de desfazer a
união desses dois pontos e planificasse a pétala, qual seria a forma dessa planificação?
Ora, como muitos exemplos encontrados na natureza, é fácil reparar que a Flor Natalina
é formada por pétalas que, nesse caso, são idênticas em forma e em tamanho. Então, como
construir um modelo parecido com o que ganhamos? Quanto de material utilizar? O segredo
estava na desconstrução de uma das pétalas, e assim foi feito.
Para tal, construímos alguns modelos da Flor Natalina semelhantes ao original, com
plástico emborrachado fino (4 mm) do tipo EVA, nas cores vermelha e verde. Para a realização
dessa atividade, fizemos um modelo diferente do original e usado como adorno, pois, ao invés
de usarmos um tipo de cola para fazer as uniões das partes de forma permanente, costuramos
pequenos pedaços de fita plástica adesiva do tipo velcro que possibilitam a desconstrução e a
reconstrução do modelo de cada pétala.
Você deve ter reparado que a atividade descrita anteriormente tem como
exigência capacidades que envolvem a habilidade da visualização. Observe que, neste
caso, a presença de um material manipulativo se torna importante para aqueles alunos
que ainda estão desenvolvendo tal habilidade. Ao contrário do que muitos acreditam,
a utilização de tal recurso didático não torna impossível a abstração de determinados
conceitos e de um ensino de uma Matemática mais avançada. No entanto, como citado
por Lorenzato:
Os conceitos evoluem com o processo de abstração e esta ocorre
pela separação mental das propriedades inerentes aos objetos. [...]
Esse processo começa com o apoio dos nossos sentidos e, assim ele é
aparentemente paradoxal, porque para se chegar ao abstrato, é preciso
se partir do concreto. (LORENZATO, 2010a, p.22)
Observe, ainda, que esses recursos, importantes para alunos videntes, se tornam
essenciais para alunos com alguma deficiência visual, já que esses não contam com
o apoio desse sentido para realizar as etapas imaginativas das atividades. Para mais
detalhes sobre essa situação e alternativas que buscam a inclusão de alunos com
deficiência visual que se faz cada vez mais presente em classes regulares, leia em Kaleff ;
Rosa (2012) na Revista do Instituto Benjamin Constant (IBC).
Figura 4: Molde para construção da pétala da Flor Natalina. Foto: Acervo do LEG.
Como de costume, nas atividades adaptadas aos deficientes visuais de nosso laboratório,
além do texto e das imagens impressas em tinta, contamos com a escrita braile dos textos nos
Cadernos de Atividades, seguindo as demandas advindas da necessidade de uma educação
inclusiva.
Ainda, confeccionamos uma ficha especial, representando o diagrama anterior. Tal ficha
foi elaborada, usando um conjunto de boleadores e de papel vegetal com gramatura de 180g
e, dessa forma, conseguimos fazer as etapas da construção do molde em alto relevo. Essas
etapas foram coladas em pranchas de papelão Paraná, como mostrado na Figura 5 a seguir.
Figura 5: Ficha especial adaptada em papel vegetal com passo-a-passo para construção da pétala da Flor Natalina.
Foto: Acervo do LEG.
Para de fato montar a pétala, após cortar e dobrar as devidas partes, o aluno deve
juntar as pontas dos quadrados semelhantes, porém unido-as em lados contrários, fazendo o
processo inverso do realizado na desconstrução.
Figura 6: Divisão em malha triangular do molde da pétala: versão para aluno vidente e para aluno com deficiência
visual, em papel vegetal. Foto: Acervo do LEG.
Feita essa divisão, adotamos um dos triângulos da malha como unidade de medida de
área, ou seja, convencionamos que um triângulo corresponda a 1u.a. (uma unidade de área).
A partir do centro do molde, ou seja, do encontro das diagonais, denotamos o Triângulo 1,
Triângulo 2, Triângulo 3, e assim sucessivamente. Utilizando a unidade de medida de área,
pedimos ao aluno que determine a medida de cada um desses triângulos.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
Nessa atividade e também nas outras a seguir, pedimos aos alunos que organizem os
dados obtidos com as medições em uma tabela. Essa é uma prática comumente adotada
nas atividades de nosso laboratório. Salientamos a importância da tabela na organização do
pensamento analítico do aluno e na condução do processo de aprendizagem de determinado
conceito. O preenchimento e a análise de tabelas, como as dos exemplos na Figura 6, permite
com mais facilidade ao aluno inferir e verificar proposições matemáticas relevantes dentro de
um processo de aprendizagem de constatação e verificação de fórmulas.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
Contando: um, dois e meio, três, quatro e meio,...
Caro leitor.
Atente para o fato de que o molde da Flor Natalina é propositalmente dividido em
uma malha triangular. Além de permitir uma variação do usual estudo com malhas
quadriculadas, permite trabalhar com a sobreposição de uma malha quadriculada a
esta triangular.
A contagem do total de unidades de área, ou seja, a obtenção do valor da área de
uma forma poligonal em uma malha triangular, usada em conjunto com uma malha
quadriculada, permite o fracionamento das unidades de área na contagem.
Como você já deve ter lido em outros capítulos desse volume, alunos em estágios
iniciais ou que não tenham desenvolvido habilidades com o uso de malhas e redes para
o cálculo de áreas, tendem a encontrar dificuldades nesse fracionamento e precisam
vivenciar atividades elementares introdutórias no ensino de área. A aplicação dessas
duas malhas pode ser uma oportunidade para se trabalhar esse importante conceito.
Para mais informações sobre essa dificuldade, assim como alternativas de atividades
introdutórias, veja em Kaleff, Rosa, Mourão, Oliveira (2013).
Figura 8: Flor natalina e equipe do LEGI - VI Encontro Paraibano de Educação Matemática. Fotos: Acervo do LEG.
METAS
Esta unidade apresenta experimentos educacionais com softwares interativos
que permitem atualizar os procedimentos didáticos na sala de aula.
OBJETIVOS
Ao final desta unidade você deve:
• compreender a importância dos experimentos educacionais com recursos
concretos e virtuais para a aprendizagem matemática;
• ver um exemplo de prática interdisciplinar criativa que relaciona Geometria às
Artes;
• perceber como pode adaptar jogos do tipo quebra-cabeça virtuais para o aluno
com deficiência visual .
VENDO COM AS MÃOS, OLHOS E MENTE:
Recursos didáticos para laboratório e museu de educação matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff (Organização)
TEXTO 14
Caro leitor, no presente volume não podemos deixar de lhe apresentar alguns recursos
virtuais interativos, com os quais pretendemos que venha a atualizar os procedimentos
didáticos na sua sala de aula, pois lhe damos algumas ferramentas para levar o seu aluno a
interagir com o meio virtual.
Os experimentos educacionais aqui apresentados foram criados no LEG ao longo de
muitos anos, em diversos projetos de extensão da UFF, e posteriormente ampliados para o
ambiente da internet, no âmbito do projeto Conteúdos Digitais para o Ensino e Aprendizagem
da Matemática e Estatística do Ensino Médio (CDME). Este projeto obteve subsídios do Projeto
Condigital (CAPES/MEC/MCT) entre os anos de 2007 e 2010 e foi patrocinado pela Secretaria de
Educação a Distância (SEED/MEC).
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
4) Cônicas
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.html?id=31801
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.html?id=31194
O programa tem como propósito prover auxílio financeiro, através da concessão de valor
mensal, durante a vigência do edital, aos servidores técnico-administrativos em educação do
quadro ativo da UFF, ocupantes de cargo efetivo e em exercício nesta instituição, que estejam
matriculados em cursos de nível superior ou de pós-graduação lato sensu e stricto sensu.
Os jogos do Lagarto e do Lagarto Geométrico são formados por sete peças poligonais
advindas de cortes sobre a figura do lagarto do mosaico, as quais, conforme são trabalhadas e
justapostas, permitem obter tanto um hexágono regular quanto uma figura maior com a mesma
forma do lagarto original, a qual é também a de um polígono muito irregular, como pode ser visto
nas Figuras 2 e 3. Como ambas são formadas pelas mesmas peças, o aluno vivencia a experiência
de obter duas figuras muito diferentes, mas com a mesma medida de área.
Nesse experimento educacional, colocamos um desafio que relaciona os dois quebra-
cabeças ao questionarmos o aluno em como deve construir uma caixa para armazenar as sete
peças do Jogo do Lagarto, portanto, adequando-o à resolução de um problema do cotidiano.
Além disso, nas versões eletrônicas desses jogos, colocamos um indicador que apresenta
a medida da área de cada peça do jogo, em uma rede quadriculada. Na tela de cada o jogo,
apresentamos ainda um termômetro o qual serve como ferramenta incentivadora da criatividade
do jogador, pois ele permite, por meio da indicação de quente e frio, com que o usuário perceba
os seus erros e acertos, a adequação dos movimentos e dos encaixes das peças.
Figura 5: Pranchas e tabuleiros vazados para os Jogos dos Lagartos no museu LEGI. Fotos: Acervo do LEG.
Figura 6: Tabuleiro plano e Mosaico dos Lagartos em material concreto para a educação inclusiva, em http://www.
uff.br/cdme/jogos_artisticos_geometricos/aluno01.html. Fotos: Acervo do LEG.
Figura 7: Mosaico dos Lagartos e observação do posicionamento das figuras. Fotos: Acervo do LEG.
Após as modificações sugeridas, ainda em 2009, no IBC, realizamos outra aplicação com
os alunos. Essa foi realizada por três membros da equipe do LEG e se deu durante uma sessão
de duas horas. Dela participaram treze alunos: cinco cegos e oito com baixa visão, do 3° e 4°
anos do Ensino Fundamental, com idades entre 9 e 16 anos, e os mesmos seis professores que
já haviam testado os materiais anteriormente.
O grupo foi dividido em duplas: aluno cego e com baixa visão; baixa visão e com baixa
visão, e aluno cego com cego. Percebemos que em algumas situações a dupla de cegos se saiu
melhor do que a dupla de baixa visão, como na atividade de encaixe levando em consideração
as texturas. Em geral, os alunos se mostraram muito interessados e gostaram das atividades e
dos materiais. As atividades fluíram normalmente, pois houve muita interação entre os alunos
e professores. Os estudantes se mostraram muito curiosos, pois assim que receberam os mate-
riais já começaram a manuseá-los.
Um fato interessante é que os alunos nada sabiam sobre os aplicadores, ou seja, que
eram professores de matemática. No entanto, concluíram por eles mesmos, que as ativi-
dades tinham alguma coisa relacionada à matemática e passaram a nos questionar, alegando
que, apesar de que ali havia algo de matemática, nada daquilo era parecido com o que eles
estavam acostumados. Assim, eles nos deram a motivação para explicarmos como é possível
estabelecer relações de interdisciplinaridade entre Matemática e as Artes, o que também nos
permitiu aproveitar o tema para falar um pouco sobre quem foi o artista Escher.
Em 2011, a mesma atividade foi aplicada a três alunos cegos, na faixa etária entre 15 e 18
anos, do 1º e do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Pedro II.
Antes de iniciar a atividade do Mosaico dos Lagartos, um dos aplicadores questionou se
os alunos conheciam um lagarto, se sabiam o que era. Alguns disseram que tinham somente
uma noção, então foi proposto o reconhecimento de cada peça com a forma desse animal. Os
alunos identificaram e separaram (classificaram) as texturas diferentes das peças, mas tiveram
um pouco de dificuldade para encaixá-las para obterem o Mosaico. Quando foi pedido para
que encaixassem mais lagartos e que levassem em conta a condição “de duas texturas iguais
não se encontrarem”, eles passaram a dar mais atenção ao encaixe das peças, não se esque-
cendo mais da condição inicial, que era de manter o primeiro lagarto sobre aquele represen-
tado com lixa na prancha do Mosaico. Então, passaram a perceber como as peças estavam
posicionadas sobre a prancha e a simetria das formas colocadas foi estabelecida com o uso do
fio de linha.
Foi nessa testagem, que nos alertamos para a necessidade de substituirmos, no tabu-
leiro plano do Mosaico dos Lagartos, a figura representada em lixa, pois percebemos que ao
tatearem esse tipo de material, a pele dos dedos do aluno poderia vir a ficar prejudicada e ter
diminuída a sensibilidade tátil. Um dos alunos apontou para esse fato o que nos levou a subs-
tituir a lixa por um tipo de EVA de espessura bem fina, com uma textura macia que lembra um
tecido felpudo.
De maneira geral, os participantes gostaram dos materiais e das atividades. Fato impor-
tante é que acharam interessante os Cadernos de Atividades se apresentarem também
escritos em braile, embora não apresentassem predileção pela leitura e nos pedissem
constantemente que lhes lêssemos as terefas.
Salientamos que o bom humor dos participantes foi sempre uma constante nessas apli-
cações, tanto no IBC, quanto no CPII. Tudo indica que os alunos tinham consciência de lhes
proporcionamos uma experiência inovadora e enriquecedora .
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE!
Por outro lado, nos ficou muito claro que tanto a criança como o adulto com defi-
ciência visual nem sempre possui a imagem mental do objeto espacial ao qual nos refe-
rimos, para que possam reconhecer uma representação desse objeto. A pergunta da
professora cega “Eu nunca vi um lagarto, como vou identificar um?” aponta para esse fato.
Assim, é preciso que, ao levarmos para a sala de aula materiais com formas planas
que representem objetos espaciais, também apresentemos algum boneco, miniatura
3D, maquete etc., que o represente para que seja manipulado e reconhecido pelo indi-
víduo com deficiência visual.
Figura 9: Jogos do Lagarto e Tangrans Geométricos no Museu LEGI. Foto do Acervo do LEG.
Figura 10: Tangrans Geométricos sendo manipulados por aluno vidente no Museu LEGI. Foto do Acervo do LEG.
METAS
Esta unidade visa a apresentar materiais e como adaptá-los ao ensino do aluno
com deficiência visual sobre temas introdutórios à aritmética
OBJETIVOS
Ao final desta unidade você deve:
• compreender a importância de se adaptar para o ensino do aluno, com deficiência
visual ou não, um material comercial muito conhecido no meio escolar: os blocos
lógicos;
• conhecer um tema ligado à etnomatemática: cinco aparelhos do tipo ábaco e
suas adaptações;
• entender a importância dos ábacos para o ensino dos sistemas numéricos;
conhecer as adaptações dos diversos ábacos para o ensino do aluno com
deficiência visual;
• conhecer versões virtuais dos diversos ábacos;
• conhecer algumas atividades com os ábacos árabe, japonês e binário.
VENDO COM AS MÃOS, OLHOS E MENTE:
Recursos didáticos para laboratório e museu de educação matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff (Organização)
TEXTO 18
Como salientamos por diversas vezes no presente volume, dois dos principais objetivos
do LEG e do Museu LEGI são a democratização e a popularização da Matemática. Nessa
direção, temos ampliado o acervo do laboratório para outros assuntos matemáticos além dos
geométricos, não nos atendo somente a temas relacionados às Geometrias (euclidiana e não-
euclidianas). No que se segue, apresentamos um experimento educacional desenvolvido para
o ensino de temas introdutórios à aritmética.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
Dentre as diversas atividades que podem ser exploradas com esse recurso, as mais
aplicadas são para o ensino da noção de sequência considerando observações relacionadas às
características das peças.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• O que você poderia dizer sobre as formas geométricas das peças dos blocos lógicos?
As peças desse jogo comercial, geralmente ao serem apresentadas aos alunos, são
denominadas, por exemplo, de: retângulo grande amarelo grosso e retângulo grande amarelo
fino. Tal identificação de fino e grosso acontece em relação a todas as peças, o que pode
acarretar um problema na aprendizagem da geometria, pois essa denominação induz
o estudante a identificaras peças como figuras geométricas planas ao invés de figuras
geométricas espaciais. É dessa maneira que, nesse recurso didático comercial, a espessura
do material é uma característica fundamental que pode influenciar o pensamento do aluno
e levá-lo a um obstáculo cognitivo, o qual pode vir a prejudicar o ensino de sólidos espaciais.
Ou seja, a ênfase na observação da espessura das peças pode levar o aluno a confundir o
modelo de um prisma de base retangular ou quadrada com o de um retângulo ou quadrado,
ou induzir o aluno a interpretar um modelo de um prisma de base triangular como se fosse o
de um triângulo, o de um prisma de base quadrada com o quadrado ou ainda confundir um
cilindro com um disco ou círculo (“redondo”, como é comumente denominado).
Sendo assim, após estudos realizados no LEG, verificamos que este recurso didático
comercial pode acarretar problemas devido à natureza do material com que foi fabricado, o
que o torna um tanto inadequado não só para o ensino de alunos com visão normal, como
principalmente à aprendizagem dos estudantes com deficiência visual, por não diferenciarem
a modelação concreta de objetos bidimensionais dos tridimensionais, como apontam os
registros realizados no LEG (KALEFF, 2006).
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
Figura 2: Blocos lógicos alternativos com peças de mesma espessura. Foto: Acervo do LEG.
Material liso
Material felpudo
OBSERVAÇÃO INTERESSANTE
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Você saberia propor um modo de levar o aluno a construir sequências utilizando as
peças dos blocos lógicos alternativos?
• Utilizando os blocos lógicos alternativos, você seria capaz de criar uma alternativa para
levar o aluno a classificar, ordenar e comparar?
• Você saberia estabelecer uma ligação entre a noção de número e o sistema numérico
decimal?
Como parte integrante do recurso didático blocos lógicos alternativos, foram elaborados
dois cadernos de atividades. O primeiro possui nove atividades e tem por objetivo introduzir o
aluno no raciocínio lógico sequencial. O estudante é levado a observar as diferenças entre as
características das peças dos blocos e a identificar sequências delas, assim como completá–las
e construir novas.
Leitor, a seguir, observe um exemplo de atividade desse caderno.
Exemplo de Atividade:
Utilizando as peças dos blocos colocados à sua frente, tente realizar os procedimentos a seguir.
a) Você seria capaz de representar um caminhão utilizando cinco peças dos blocos? Compare a
sua representação do caminhão com as dos seus colegas.
Observe a a seguir.
Figura 04
b) Você seria capaz de representar esta Figura 04 trocando uma mesma característica de cada
peça?
c) Você seria capaz de representar a Figura 04 trocando uma característica de cada peça?
Leitor, observe que, nesta atividade, o aluno é levado a explorar as formas das peças
e, em seguida, a identificar suas características e tentar substituí-las. Vale salientar que não
existe uma única resposta para esses questionamentos e que o professor deve estar atento às
possíveis respostas.
O segundo caderno é composto de onze atividades e tem por objetivo levar o aluno a
construir a noção de número. Para isso, ele é levado a classificar, ordenar e comparar os blocos.
Além da construção da noção de número, o aluno é estimulado a observar a disposição da
localização dos mesmos, introduzido, assim, o sistema de numeração como uma sequência e,
por fim, lhe apresentamos o sistema de numeração decimal.
Exemplo de Atividade:
Observe as Figuras 5 e 6 e tente realizar os procedimentos a seguir.
Figura 05
Figura 06
a) Você seria capaz de dizer se as peças da Figura 5 estão em sequência? E as peças da Figura 6?
b) Você percebeu qual é a diferença entre uma determinada peça e a sua anterior nas duas Figuras?
c) As peças representadas pelos desenhos da Figura 5 formam uma classe? Como você descreveria
essa classe? E as peças da Figura 6, também formam uma classe?
d) Observe novamente as sequências das duas Figuras. Você seria capaz de dizer qual sequencia
possui mais peças?
e) Você seria capaz de dizer quantas peças tem a sequência da Figura 5 e qual é a ultima posição
dessa sequência?
f) Você seria capaz de dizer quantas peças tem a sequência da Figura 6 e qual é a ultima posição
dessa sequência?
g) Você seria capaz de dizer qual é a peça que ocupa a ultima posição da sequência da Figura em
cada um das Figuras?
h) Observe novamente as sequências das duas Figuras. Observe se há peça comum nas duas
sequências, ou seja, há peças que estão nas duas sequências?
i) Observe qual é a posição do circulo grande vermelho e áspero nas duas sequências. Você seria
capaz de dizer se essa peça ocupa a mesma posição nas duas sequências?
Caro leitor, note que, nesta atividade, o aluno é levado a identificar a existência de uma
sequência, observando qual característica esta sendo substituída. Além disso, são exploradas
as habilidades de classificar, ordenar e comparar objetos.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
Figura 7: Tabela para aluno com visão normal e que identifica as peças. Foto: Acervo do LEG.
Figura 8: Tabela adaptada em pranchas com miniaturas das peças originais. Foto: Acervo do LEG.
Figura 9: Tabela adaptada com recortes identificadores de cada peça do conjunto, em papel vegetal. Foto: Acervo
do LEG.
Figura 10: Blocos lógicos alternativos no Museu LEGI. Foto: Acervo do LEG.
Cabe acrescentar que esse experimento educacional com os blocos lógicos alternativos
faz parte de um conjunto de recursos didáticos que levou a bolsista, autora do presente texto,
a receber o 1º Prêmio Josué de Castro, na área de Educação, na 18ª Semana de Extensão da UFF,
em 2013.
TEXTO 17
Cada ábaco foi construído com uma prancha retangular de papelão grosso (do tipo
corrugado e utilizado em embalagens comerciais de grande porte), recoberta por papel
colorido e revestido por filme plástico adesivo. Na prancha, foram presos fios grossos de linha
de nylon, do tipo das utilizadas em pescaria, e neles foram introduzidas contas plásticas,
daquelas usadas em bijuteria.
Figura 1: Duas coleções de ábacos artesanais para museu e para a sala de aula. Ábacos: romano, japonês ou soroban,
chinês e árabe. Foto: Acervo do LEG.
Cada coleção de aparelhos é constituída por quatro diferentes ábacos: o chinês, o japonês
(muitas vezes denominado de soroban), o romano e o árabe, os quais são acompanhados de
seu respectivo Caderno de Atividades. Esses apresentam dados importantes sobre o aparelho (o
seu desenvolvimento histórico e geográfico, maneira de utilização etc.) e possibilitam realizar
uma coletânea de tarefas que relacionam os diversos aparelhos e permitem ao estudante
vivenciar situações que favorecem à numerização. Além disso, os aparelhos permitem ao aluno
aprender a realizar as quatro operações elementares com números inteiros e a ser iniciado na
adição e subtração dos fracionários.
Em uma segunda etapa de estudos, em 2006, esses ábacos e suas atividades foram
desenvolvidos em versões virtuais, com auxilio do software Régua e Compasso, pela bolsista de
extensão Bárbara Gomes Votto. A partir de 2008, já no âmbito do projeto Vendo com as Mãos, os
aparelhos também sofreram adaptações para serem utilizados por alunos com deficiência visual.
Caro leitor, o presente relato apresenta uma revisão dos estudos realizados sobre os
diversos ábacos e uma alternativa para o ensino de sistemas de numeração e operações
desenvolvidas com base no trabalho de educadores matemáticos e em seus estudos sobre
tais aparelhos. Dentre os sistemas de numeração apresentados, salientamos a alternativa
desenvolvida no projeto de monitoria Iniciação à Docência para a Melhoria do Ensino de
Geometria sob Perspectiva da Educação Matemática da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade
Federal Fluminense (PROGRAD/UFF) realizado em nosso laboratório a partir de 2008. Em
particular, desde 2013, o estudo vem sendo realizado pelo autor desse texto e trata do sistema
de numeração binário, extremamente importante para o entendimento do funcionamento de
dispositivos eletrônicos que são cada vez mais utilizados nos dias de hoje.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
Saiba que para estar ciente do que se tem produzido tecnologicamente e, principalmente,
ser capaz de produzir novas tecnologias, o indivíduo deve saber se comunicar com os meios
advindos dessas inovações de forma a ser entendido, e essa comunicação, como muitos de
nos já tem conhecimento, é dada com procedimentos que envolvem os chamados números
binários, os quais podem ser representados em um ábaco binário.
Visando à formação de um indivíduo que venha a estar antenado com tudo o que aqui foi
colocado, incorporamos novas versões ao conjunto dos ábacos artesanais já existentes no LEG
apresentado anteriormente, ainda melhores e adaptadas aos alunos com deficiência visual.
As respectivas atividades, que compõem o Caderno de Atividades que acompanha cada um
dos aparelhos, foram revisadas e objetivam a construção dos dois importantes conceitos da
matemática elementar: o de número e o de sistema de numeração, bem como a apresentação
de vários sistemas de numeração, como a do nosso sistema atual, o denominado decimal e o
que envolve os números binários: o binário
Toda essa coleção de aparelhos artesanais foi também reapresentada em versões virtuais
utilizando softwares de geometria dinâmica.
O ábaco árabe é constituído por certo número de hastes que possuem dez contas móveis
cada. Se em um procedimento de cálculo, em uma dada haste, o número de contas atingir ou
ultrapassar a dezena, basta substituir dez dessas contas por uma na haste à sua esquerda.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE!
Sobre o “vai um” e o “pedir emprestado”.
No LEG, para a construção dos novos modelos de ábacos árabes artesanais, foram
utilizados materiais de baixo custo, assim como de costume em nosso laboratório. Sobre uma
placa de papelão do tipo Paraná, ou plástico rígido fino (tipo PVC), foram passados fios de nylon
para representar as hastes do ábaco e neles colocadas contas do tipo miçanga, comumente
utilizadas em bijuteria.
Com a aplicação desse material, percebemos a necessidade de adaptá-lo para alunos
com deficiência visual. Apesar da boa percepção tátil das miçangas, notamos que elas ficavam
muito suscetíveis a movimentações involuntárias e indesejadas, o que prejudica o seu
manuseio e o domínio do aparelho pelo aluno com a deficiência. A alternativa encontrada
foi inserir, entre a placa de papelão e os fios de nylon, que representam as hastes do ábaco,
uma placa de emborrachado fino do tipo EVA (Espuma Vinílica Acetinada), como mostrado
na Figura 3. O emborrachado aumenta o atrito das contas com a placa da base do aparelho e
evita movimentos involuntários das contas nos fios.
Figura 3: Modelo adaptado do ábaco árabe e modelos de ábaco árabe acompanhados do Caderno de Atividades.
Foto: Acervo do LEG.
Para a utilização do ábaco árabe escrevemos um caderno com atividades que conduzem
o aluno a aprender a utilizar o ábaco como instrumento para representar e operar os números.
As atividades conduzem o aluno a reconhecer representações dos números no ábaco, como
somar e subtrair tais números.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
1ª ATIVIDADE
Neste quadro estão representados números no ábaco árabe. Observe com atenção e tente
representá-los no ábaco árabe que está sobre a mesa:
Será que você conseguiria representar os números 9, 25, 342 e 5.081 no ábaco?
2ª ATIVIDADE
Represente o número 31 no ábaco árabe. Agora, volte para a posição inicial do ábaco a bolinha
que representa o algarismo 1 no número 31. Que número você obteve?
Você seria capaz de responder qual é o número obtido se voltarmos à posição inicial do ábaco a
bolinha que representa o algarismo 3 no número 31?
3ª ATIVIDADE
Agora represente o número 642:
a) Qual é o número obtido se voltar à posição inicial do ábaco as bolinhas que representam
os algarismos 6 e 4?
b) E se fizermos a mesma coisa com os algarismos 6 e 2?
c) E com os algarismos 4 e 2?
Represente o número 3.581:
Voltando, ao mesmo tempo, à posição inicial do ábaco as bolinhas que representam os algarismos
seguintes, qual será o número obtido?
a) 3, 5 e 8 b) 3, 5 e 1 c) 3, 8 e 1 d) 5, 8 e 1
4ª ATIVIDADE
Observe o quadro a seguir. Nele estão representadas as adições 4 + 6= 10 e 13 + 9 = 22.
5 + 3 = 8 + 9 = 23 + 8 =
6 + 7 = 15 + 7 = 29 + 5 =
LEMBRETE!!!!
Possível resposta para Atividade 4
Para que tenha o resultado 4 + 6 = 10, basta combinar a posição das bolinhas nos dois
ábacos, subindo 6 delas na mesma haste do ábaco onde está representado o número 4.
Toda vez que completar 10 bolinhas em uma haste, deve trocar por 1 bolinha na
primeira haste à esquerda.
Para a segunda adição do quadro, que corresponde a 13 + 9 = 22, você tem que realizar
o seguinte processo: primeiro marcar o número 13 no ábaco. O próximo passo é
colocar 9 bolinhas na haste onde se encontra o número 3, o que será impossível pois
em cada haste só cabem 10 bolinhas e terá que 3 + 9 = 12.
Como visto, todas as vezes que se completam 10 bolinhas em uma haste, você deve
trocar essas 10 bolinhas por uma da primeira haste à esquerda.
Logo, se tiver 12 bolinhas em uma haste, troque 10 bolinhas por uma à esquerda e fique
apenas com 2 (observe o quadro anterior).
Figura 4: Modelo Adaptado de Ábaco Romano e modelos de Ábaco Romano acompanhados do Caderno de
Atividades. Foto: Acervo do LEG.
Caro Leitor, observe, nas atividades a seguir, como podemos conduzir os alunos a
representar as frações unitárias e números mistos no ábaco romano.
1ª ATIVIDADE
Observe as representações de algumas frações nos ábacos desenhadas a seguir. Para
representá-las utilize os fios coloridos.
LEMBRETE!!!!
Observe que nos cinco primeiros quadros dos ábacos romanos estão frações que são
representadas por apenas uma bolinha. Nos três últimos, estão frações representadas por mais
de uma bolinha, ou seja, a fração é o resultado da soma dos valores das bolinhas.
2ª ATIVIDADE
Você já observou os ábacos desenhados na atividade anterior. A fração 1/4 é representada por três
bolinhas. Cada uma dessas bolinhas vale 1/12. Como são três bolinhas, então
1/12 + 1/12 + 1/12 = 3/12. Dividindo a parte de cima e a parte de baixo da fração obtida na
resposta por 3, então 1/4. Agora tente completar as lacunas abaixo:
a) A fração 1/3 é representada por quatro bolinhas. Cada uma dessas bolinhas vale ____.
Como são quatro bolinhas, então: ____ + ____ + ____ + ____ = ____. Dividindo a parte de
cima e a parte de baixo da fração obtida na resposta por ____, então: 1/3.
b) A fração 1/8 é representada por quatro bolinhas. Uma bolinha vale ____ e a outra bolinha
vale ____. Se adicionar o valor das duas bolinhas, então: ____ + ____ = ____ (cuidado, pois
agora as frações não possuem o mesmo denominador!). Dividindo a parte de cima e a parte
de baixo da fração obtida na resposta por ____ , então 1/8.
c) Como você faria para representar a fração 6/12 no ábaco romano? Há como representar
a fração obtida na resposta da seguinte adição: 6/12 + 5/12?
LEMBRETE!!!!
A resposta da letra c) é:
6/12 + 5/12 = 11/12.
Obtenha a representação da
resposta no ábaco, subindo as
bolinhas referentes às frações:
11/12
3ª ATIVIDADE
Observe as representações dos números mistos no quadro abaixo. Tente representá-las no ábaco
romano que está sobre a mesa.
5 + 1/24 3 + 1/6
20 + 1/3 11 + 1/36
4ª ATIVIDADE
Observando os ábacos da página anterior, você seria capaz de representar no ábaco
romano os seguintes números mistos?
LEMBRETE!!!!
Figura 5: Modelos de ábaco chinês adaptado e de ábaco chinês acompanhados com Caderno de Atividades. Foto:
Acervo do LEG.
Cada conta na parte inferior representa uma unidade e as contas na parte superior
representam cinco unidades, possibilitando registros de números de 0 a 15 em cada haste
(sistema hexadecimal). Com algumas adaptações a esse ábaco é possível construir o ábaco
japonês, popularmente conhecido como soroban, cuja origem histórica é muito interessante,
como nos apontam Peixoto, Santana e Cazorla (2006, p. 19):
O suan pan foi trazido da China para o Japão em 1622, onde recebeu o nome
de soroban. Após a segunda guerra mundial, ele passou por várias mudanças e
sua estrutura foi sendo aprimorada até a forma atual. (...) A primeira adaptação
feita no Japão foi a retirada de uma das contas superiores, pois no Japão utiliza-
se o sistema decimal. Mesmo assim, podia-se escrever desde o 0 até o 10 em
cada haste. Depois houve a exclusão da quinta conta da porção inferior. Outra
modificação feita ocorreu com o formato das contas. Originalmente redondas
ou ovaladas, passaram a um formato losangular. Esta pequena mudança
possibilitou aumentar a velocidade de manipulação e precisão dos movimentos,
facilitando o manuseio e o desempenho no cálculo. Assim, nasceu o soroban
moderno.
Figura 6: Modelos de ábaco japonês acompanhados com Caderno de Atividades. Foto: Acervo do LEG.
Por conta ainda do seu apelo tátil, o suan pan e o soroban são extremamente favoráveis
à utilização por indivíduos com algum tipo de deficiência visual. Por esse motivo, mesmo
atualmente, é possível encontrar no mercado modelos desses aparelhos sendo comercializados
como sorobã. Tais modelos podem ser vistos na Figura 7.
Soroban: é destinado a pessoas com visão normal e tem o formato original japonês.
Nesse aparelho as contas deslizam rapidamente, permitindo altas velocidades, como
visto em alguns vídeos japoneses.
Sorobã: Aparentemente é o mesmo aparelho, mas adaptado do original para pessoas
com deficiência visual. As contas não deslizam com facilidade, para permitir tateá-las. Nas
bordas do instrumento há uma borracha que aperta as hastes contra a base do aparelho.
Dessa forma, a pessoa com deficiência pode utilizar o soroban sem ter a preocupação de
que serão realizados movimentos aleatórios e involuntários das contas.
FONTE: http://www.sorobanbrasil.com.br/soroban/20-soroban-ou-soroba-qual-a-diferenca-entre-os-dois
No caso do sorobã comercial, o adaptamos para uma versão alternativa de baixo custo
que possibilita um uso ainda mais autônomo por parte dos alunos com alguma deficiência
visual. O modelo apresentado na Figura 9 foi construído utilizando uma prancha de papelão
tipo Paraná, emborrachado fino do tipo de EVA (que permite uma maior aderência às contas)
e um recorte de sucata de uma pasta corrugada plástica. Neste foram introduzidas hastes finas
de metal (obtidas da sucata de pastas suspensas usadas em arquivos) nas quais foram
introduzidas contas de bijuteria. Para melhor entendimento, apresentamos a Figura 8.
Figura 8: Cadernos de Atividades para o uso do Sorobã com versão comercializada e versão artesanal construída
com materiais de baixo custo. Foto: Acervo do LEG.
Como pode ser observado, o modelo artesanal apresentado na Figura 8 alterna contas de
mesma cor quando representam algarismos de uma mesma classe, atendendo às necessidades
do aluno com baixa visão. Além disso, quando essa mudança ocorre, um percevejo do tipo
bailarina foi inserido na placa, para que o aluno cego também pudesse observá-lo por meio
do tato e percebesse a mudança de classe.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
• Quer conhecer como foram realizadas as atividades para conduzir os alunos a aprender
a multiplicar e dividir usando o soroban no Caderno de Atividades do Sorobã?
1ª ATIVIDADE
Tome o número 42 (4 dezenas e 2 unidades) como multiplicando e o numero 4 (unidades) como
multiplicador. Para tanto, na 7ª classe (contada a partir da direita), no eixo das unidades, coloque
o algarismo 2 e , no eixo das dezenas, o 4.
Pule uma classe (à direita) e use a 5ª classe (contada a partir da direita) para registrar o algarismo
4 no eixo das unidades.
O produto deverá aparecer na 1ª classe (contada a partir da direita), se necessário, use a 2ª classe
também.
Observação Importante: Percebeu que, se você fosse mexer com uma mão as constas do
multiplicando e com a outra as do multiplicador, precisaria de mais uma mão para as do produto,
mas como isso não é possível...
o Memorize como ficaram as contas do multiplicador e use as mãos para os outros fatores.
o Comece multiplicando as unidades 4x2. Cujo resultado é 8.
o Registre esse resultado no eixo das unidades da 1ª classe.
Figura 9: Caderno de Atividades e ábaco binário em duas versões artesanais. Foto: Acervo do LEG.
QUESTIONAMENTO AO LEITOR
1ª ATIVIDADE
Observe a representação de alguns números no ábaco binário.
Agora é sua vez! Observe as Figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6 a seguir e tente responder o que se pede.
a) Você seria capaz de reconhecer qual figura do Ábaco Binário representa o número 5? Existe
alguma outra representação possível para o número 5?
b) E o número 6, você seria capaz de reconhecer? Existe alguma outra representação possível para
o número 6?
LEMBRETE !!!!
Uma Possível Resposta para a Atividade 1
Você deve ter respondido que a representação referente ao número 5 se encontra nas
Figuras 4 e 5. E a representação do número 6, nas Figuras 6 e 3.
A partir desse momento, você deve assumir que as Figuras 5 e 3 são as únicas
representações para os números 5 e 6, respectivamente.
Você observou que, por exemplo, na representação do número 5, apenas uma conta da
primeira ordem e uma conta da terceira ordem estavam levantadas? Ou seja, se indicar
com algarismos, escreva como a seguir:
5 = 4 + 1= 1002 + 12 = 1012 6 = 4 + 2 = 1002 + 102 = 1102
Você deve convencionar ainda que para representar os números binários, a partir
de agora, apenas uma conta pode estar levantada em cada ordem. Toda vez que em
uma ordem duas contas estiverem levantadas, você deve abaixá-las e levantar uma da
ordem seguinte e, com algarismos, indique com um pequeno 2, sob o ultimo 0 ou 1.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
Os Ábacos em Ambiente Virtual: A Adaptação Usando Geometria Dinâmica
Caro leitor, saiba que também foram projetados ábacos virtuais utilizando programas
de geometria dinâmica, possibilitando assim a realização das atividades por meios
digitais. Os ábacos foram repaginados em meios computacional com os software
Geogebra e Régua e Compasso (C.A.R). Apresentamos nas Figuras 10 e 11, as versões
digitais do ábaco japonês desenvolvida usando o software Régua e Compasso e o a
versão digital do ábaco binário desenvolvida no Geogebra.
Considerações Finais
Caro leitor, é importante que você observe que com a utilização de ábacos não apenas
se dá ao aluno a oportunidade de fazer com que aprenda matemática por meio de materiais
lúdicos, mas como também o permite fazer um passeio histórico que o ajudará a compreender
um pouco do conceito de número.
Introduzir os ensinamentos dos cálculos por meios algorítmicos pode ser
extremamente penoso para os alunos que ainda não estão cientes do processo histórico e
sobre as complexas noções de agrupamento e troca. De acordo com Fernandes: “introduzir os
símbolos, propriamente ditos, diretamente, caracteriza uma violência pedagógica e, muitas
das vezes, transforma o manuseio dos contadores mecânicos num verdadeiro obstáculo à
aprendizagem”. (2006, p. 12)
O que se espera com atividades tais como as descritas nesse texto, além dos objetivos
específicos já apresentados, é uma inserção adequada dos alunos na matemática escolar, de
maneira que os conceitos sejam descobertos e construídos. Desta forma, acreditamos que
o aluno irá se desenvolver de maneira autônoma e se sentirá incentivado a também fazer
matemática e não só a reproduzir uma sequência de comandos pré-estabelecidos assimilados
durante sua formação.
Finalmente, cabe acrescentar que esperamos lhe ter passado como foi gratificante
e instigante realizar um estudo que já dura mais de 15 anos, com um tema historicamente
antigo e aparentemente ultrapassado, como é o caso dos ábacos.
O estudo foi gratificante, pois levou a muitas renovações no LEG, tanto do ponto de vista
do desenvolvimento dos materiais utilizados como matéria prima, quanto dos computacionais,
pois passamos do uso do papelão de sucata de caixas de embalagens a placas de PVC e EVA;
bem como, de desenhos manuais para a representação dos aparelhos à utilização de recursos
da geometria dinâmica, conforme a evolução da tecnologia computacional foi avançando,
permitindo, hoje em dia, a representação virtual dos ábacos e de seus movimentos.
Por outro lado, o estudo foi instigante, pois envolveu vários licenciandos extremamente
interessados que se empenharam em busca da renovação dos recursos empregados e foram
eles que tiraram do esquecimento acadêmico esses aparelhos tão úteis ao ensino e que
permitem, ainda hoje, cálculos engenhosos que encantam a muitas crianças e jovens visitantes
do Museu LEGI e das escolas onde os utilizamos.
Bom Trabalho!!!!
Caro leitor(a),
da sua escola para que novas oportunidades de inovação e renovação surjam, por
mais difíceis que sejam as condições ambientais e sociais que ela enfrente.
Esperamos que você, caro leitor(a), tome a educação pela Matemática em suas
mãos e aja como se tivesse as melhores condições para realizá-la.
Não se acanhe e não se envergonhe por usar materiais de baixo custo ou sucata,
pois o importante é que tente construir um laboratório de Educação Matemática
ou até mesmo um pequeno museu, para que incentive a curiosidade de todos e
aproxime a matemática escolar da vida de cada um.
Não tente realizar tudo sozinho, mas busque ações colaborativas, pedindo ajuda
a outros professores e aos pais de seus alunos, pois mesmo que as condições sejam
adversas, sempre encontrará parceiros que queiram melhorar a escola e o ambiente
no qual as próprias crianças estudam.
Com certeza, os seus alunos o ajudarão e agradecerão pela oportunidade de
vivências transformadoras.Você verá muitos rostos sorridentes e o desabrochar do
amor por uma matemática escolar mais humanizada.
Ver com as mãos, olhos e mente pode ajudar a muitos meninos e meninas;
homens e mulheres a verem com o coração. A verem com amor conteúdos
matemáticos, tão belos para nós professores, mas pouco compreendidos pela grande
maioria das pessoas. Agindo dessa forma, permitirão com que uma nova geração
dê significado a esses conteúdos, os integre à sua vida e os ame como nós.
Mãos a obra!
Muita coragem e bom trabalho!
Ana Kaleff
referÊncias
ANJOS, H. P.; ANDRADE, E. P.; PEREIRA, M. R. A inclusão escolar do ponto de vista dos
professores: o processo de constituição de um discurso. Revista Brasileira de Educação, v.
14, n. 40, p. 116-129, jan./abr. 2009.
BARBOSA, J. L. M. Geometria Euclidiana Plana. 5ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Sociedade Brasileira
de Matemática. 2004. 203p.
BERTONI, N. E. Número fracionário: primórdios esclarecedores. Rio Claro, SP: SBHMat. 2005.
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Referências 211
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Ana Maria Martensen Roland Kaleff (Organização)
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______. Casa Civil. Lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de
Educação e dá outras providências. Brasília, DF, 2001c.
212 Referências
VENDO COM AS MÃOS, OLHOS E MENTE:
Recursos didáticos para laboratório e museu de educação matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff (Organização)
______. Casa Civil. Lei n° 13.005, de 25 de julho de 2014. Aprova o Plano Nacional de
Educação e dá outras providências. Brasília, DF: MEC/ SEB. 2014d.
CARRAHER, T. N. (Org.) Aprender pensando. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1989.128p.
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ESCHER, M. C. Escher on Escher: exploring the infinite. Nova York: Abrams Publishers. 1989.
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Referências 213
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Recursos didáticos para laboratório e museu de educação matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff (Organização)
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8 – Matemática. Por quê e Para quê ? Rio de Janeiro, RJ: Sociedade Brasileira para o Progresso
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214 Referências
VENDO COM AS MÃOS, OLHOS E MENTE:
Recursos didáticos para laboratório e museu de educação matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff (Organização)
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VENDO COM AS MÃOS, OLHOS E MENTE:
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matemática inclusiva do aluno com deficiência visual
Ana Maria Martensen Roland Kaleff
(Organização)