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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE-CCS


DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
DISCIPLINA: FARMACOLOGIA PARA MEDICINA
PROFª: FERNANDA REGINA DE CASTRO ALMEIDA

DETERMINAÇÃO DA DOSE LETAL EM Mus musculus

VICTOR LEAL DE VASCONCELOS


05S10302

TERESINA
NOVEMBRO DE 2006
INTRODUÇÃO

Quando um fármaco é lançado no organismo, esse pode se ligar a


receptores específicos de determinadas células para produzirem suas ações
que irão causar o efeito farmacológico observado. Nota-se que, a medida que a
dose do fármaco é aumentada, o efeito segue aumentando proporcionalmente.
Há, no entanto, um momento em que o aumento da dose não causa um
aumento do efeito na mesma proporção ou pode até não causar mais nenhum
aumento de efeito. Isso ocorre devido à saturação dos receptores específicos
do fármaco, o que faz com que , mesmo tendo moléculas do fármaco
disponíveis ao seu redor, a célula não consiga receber o estimulo da droga,
pois não há mais receptores disponíveis. Além disso, esse constante aumento
da dose pode também causar efeitos tóxicos para as células do organismo.3
A presente aula prática tem o objetivo de estabelecer a relação dose-
efeito de uma droga observada em camundongos, além de exemplificar o
estudo da toxicidade de uma droga.
MATERIAIS E MÉTODOS

Na presente aula prática, a equipe recebeu um total de quinze


camundongos (Mus musculus) divididos em três grupos contidos em caixas
distintas. Dessa forma, cada caixa continha um total de cinco camundongos.
Em seguida, escolheu-se visualmente o animal mais pesado e o menos pesado
de cada caixa e utilizou-se uma balança para pesagem desses animais. Com
os pesos encontrados, fez-se uma média aritmética em cada caixa, e o valor
obtido foi considerado o peso dos cinco animais da caixa correspondente à
média realizada.
Após a pesagem e a determinação do peso médio, calculou-se as
doses de Tionembutal sódico a ser administrada nos animais de cada caixa.
Esses cálculos foram realizados da seguinte forma:

• Caixa 1:
Cada animal receberá a dose numa posologia de 50mg/kg. Dessa
forma, como o peso médio observado foi de 31,5g e a densidade
da solução utilizada foi de 5mg/ml, a dose utilizada foi de,
aproximadamente, 0,3ml.

• Caixa 2:
Cada animal receberá a dose numa posologia de 100mg/kg. Dessa
forma, como o peso médio observado foi de 37g e a densidade da
solução utilizada foi de 10mg/ml, logo a dose utilizada foi de,
aproximadamente 0,4ml.

• Caixa 3
Cada animal receberá a dose numa posologia de 200mg/kg. Dessa
forma, como o peso médio observado foi de 31g e a densidade da
solução utilizada foi de 20mg/ml, logo a dose utilizada foi de,
aproximadamente 0,3ml.

O Tionembutal foi administrado por via intraperitoneal. Usou-se, para


isso, uma seringa de 1ml e injetou-se mantendo-na num grau de inclinação de
aproximadamente 45° na linha média do abdome.
Após tal procedimento, esperou-se um prazo de 20 minutos e, em
seguida, anotaram-se os resultados observados.
Ao final do experimento, sacrificaram-se os camundongos.
RESULTADOS

TABELA 01: REGISTRO DA DOSE LETAL MÉDIA, DOSE EFETIVA MÉDIA E


DO ÍNDICE TERAPÊUTICO DA DROGA TIONEMBUTAL SÓDICO
ADMINISTRADO POR VIA INTRAPERITONEAL EM Mus musculus.
TERESINA, 2006.

DOSE LETAL MÉDIA DOSE EFETIVA MÉDIA ÍNDICE


(mg / kg) (mg / kg) TERAPÊUTICO

153 - -

LEGENDA: (-): NÃO FOI POSSÍVEL AVALIAR.

FONTE: LABORATÓRIO DE FARMACOLOGIA PARA MEDICINA DA UFPI. 2º


PERÍODO DE 2006.
TABELA 02: REGISTRO DO NÚMERO E DA PORCENTAGEM DE
ANESTESIADOS E DE MORTOS, VINTE MINUTOS APÓS ADMINISTRAÇÃO
INTRAPERITONEAL DE TIONEMBUTAL SÓDICO EM DOSAGENS DE 50
mg/Kg, 100 mg/Kg e 200 mg/Kg EM Mus musculus. TERESINA, 2006.

PARÂMETRO ANESTESIADOS MORTOS

Nº % Nº %
DOSE (mg/kg)

50 3 60 0 0

100 5 0 0
100

200
5 100 5 100

LEGENDA: (Nº): NÚMERO DE ANIMAIS ; (%): PORCENTAGEM DE ANIMAIS.

FONTE: LABORATÓRIO DE FARMACOLOGIA PARA MEDICINA DA UFPI. 2º


PERÍODO DE 2006.
GRÁFICO 01: REGISTRO DAS DOSES APLICADAS DE TIONEMBUTAL
SÓDICO PELA PORCENTAGEM DE ANESTESIADOS E MORTOS EM Mus
musculus. TERESINA, 2006.

120

100

80
% ANIMAIS

60

40

20

0
0 50 100 150 200 250
DOSE (mg/ Kg)

LEGENDA: (------): ANESTESIADOS ; (------) MORTOS.

FONTE: LABORATÓRIO DE FARMACOLOGIA PARA MEDICINA DA UFPI. 2º


PERÍODO DE 2006.
DISCUSSÃO

No estudo do uso terapêutico das drogas, faz-se a definição de alguns


conceitos para orientar o médico quanto à decisão de prescrever uma dose
específica de determinada droga. Chama-se de dose efetiva mediana (DE50) a
dose necessária de fármaco para produzir um efeito específico em 50% da
população. Conceitua-se como dose letal mediana (DL50) a dose necessária
para causar o efeito tóxico de morte em 50% dos seres testados. E há também
o índice terapêutico, definido como a razão entre a DL50 e a DE50 (DL50/DE50).
Com a determinação desses parâmetros no caso da droga utilizada em cada
paciente, o médico pode avaliar a dose aconselhável da seguinte forma: se a
relação dos dois primeiros parâmetros que é demonstrada através do índice
terapêutico for alta, isso demonstra que há uma grande distância entre as dose
letal e terapêutica da droga, o que da liberdade ao médico prescrever doses
terapêuticas mais elevadas do fármaco com o objetivo de alcançar boa eficácia
sem o risco de causar com isso uma intoxicação. Caso o oposto ocorra ( se o
índice terapêutico for baixo) a margem de segurança entre as doses
terapêutica e letal é baixa o que aumenta o risco de concentrações
terapêuticas altas (que causariam boa eficácia) poderem causar intoxicações
graves que podem levar à morte. Dessa forma, tem-se uma janela terapêutica
(faixa de concentração eficaz sem toxicidade inaceitável) diminuída. Vale
ressaltar que a interpretação do índice terapêutico é particular de acordo com a
patologia tratada. Dessa forma, o médico poderá aconselhar o uso de uma
droga com o índice terapêutico baixo, caso não haja outros meios de
tratamento eficaz para a doença e se esta for de alta gravidade. Ao mesmo
tempo, o médico pode não aconselhar o uso de uma dose de determinada
droga, mesmo se o índice terapêutico for relativamente alto, como num caso de
uma patologia de pouca gravidade. 3
O tionembutal sódico, que foi a droga usada na presente aula prática,
é um anestésico da classe dos barbitúricos, cuja classe se caracteriza por
deprimirem, reversivelmente, a atividade de todos os tecidos excitáveis. São
extensamente usados como agentes sedativo-hipnóticos. O Sistema Nervoso
Central “(SNC) é especialmente sensível e, mesmo quando se administram
barbitúricos em concentrações anestésicas, os efeitos diretos sobre os tecidos
periféricos excitáveis são fracos”. “Os barbitúricos atuam em todo o SNC. (...) A
facilitação é diminuída e a inibição, em geral, aumentada”.Um exemplo disso é
o que ocorre na respiração, onde os barbitúricos atuam tanto deprimindo os
impulsos respiratórios, como os mecanismos responsáveis pelo caráter rítmico
da respiração.1
No experimento realizado, observou-se o gradual aumento do efeito
anestésico do tionembutal, a medida que a dose administrada aumentou de
50mg/kg (60% de eficácia) para 100mg/kg (com 100% de eficácia), o que era
esperado, pois quanto maior a concentração de um fármaco especifico para
determinada ação, maior o número de receptores ativados por ele e maior será
o efeito farmacológico observado (cinética de 1ª ordem, como na lei de ação
das massas). Essa relação de proporcionalidade entre dose e efeito só se
desfaz quando há uma saturação dos receptores, fazendo com que o aumento
da dose administrada não seja acompanhado de um aumento do efeito
(cinética de ordem zero).3
No entanto, quando se aumentou a dose administrada de 100mg/kg
para 200mg/kg de peso, não se observou um aumento do efeito, mas sim, a
ocorrência de uma intoxicação que causou a morte de todos os animais nos
quais se administrou essa dose. Tal efeito foi causado pelo fato de o aumento
da dose administrada ter alcançado uma dose suficiente para causar efeitos
tóxicos.3
Com a analise do gráfico dos resultados não é possível determinar o
índice terapêutico do Tionembutal sódico em Mus musculus devido ao fato de o
DE50 não ser determinado, já que a menor dose utilizada já apresentava 60%
de eficácia. É possível, apenas, estimar graficamente o valor aproximado do
DL50 ,que está em torno 153mg/kg. Embora não se possa determinar o índice
terapêutico numericamente, podemos inferir que este é baixo. Isso se deve há
uma proximidade muito grande das curvas que, por pouco não se
sobrepuseram. No caso estudado, a única dose capaz de alcançar o efeito
Maximo do anestésico sem causar nenhum efeito de intoxicação é a de
100mg/kg. A partir dela, qualquer aumento de dose não será acompanhado por
aumento de efeito terapêutico, mas sim, do surgimento e posterior aumento de
efeitos tóxicos.2
CONCLUSÃO

Nessa aula prática em que utilizou-se exemplares de Mus musculus,


concluiu-se que o efeito de um fármaco é proporcional à dose administrada. Tal
proporção, no entanto, não se mantém quando o fármaco se encontra em
concentração suficiente para saturar todos os seus receptores, fazendo com
que a dose não seja um fator determinante do efeito observado. Percebeu-se
também que o aumento da dose administrada pode extrapolar as
concentrações terapêuticas e causar intoxicações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CHARNEY, D. S. et al. “Hipnóticos e Sedativos”. IN: GILMAN, A. G. As


Bases Farmacológicas da Terapêutica. 10ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003. Cap. 17, pp. 303-3243.

2. KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 8. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2003. Seção I, Cap. 2, p. 08-28.

3. ROSS, M. E.; KENAKIN P. T. “Farmacodinâmica: Mecanismos de ação


dos fármacos e relação entre sua concentração e efeito” IN: GILMAN, A.
G. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 10. ed. McGraw-Hill
Interamericana, 2003. Cap. 02, pp. 25-34

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