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Carta ao Planeta

Guaratiba – Rio de Janeiro, 19 de abril 2020

Senhor Planeta perdão


Pela culpa que carrego
Por poluir toda a Terra
E ainda inflar meu ego
Durmo e acordo tranquilo
Sempre cada vez mais cego.

Mil perdões por te fazer


Duma lixeira gigante
No entanto, achar que sou
Um ser de mente brilhante
Desculpa, perdão por isso,
Porque sou um arrogante.

Perdão por disseminar


Mentiras e falsidades
Eu descobri tudo o quanto
Gozando das liberdades
Mas encontrei no humano
Um pacote de maldades.

Não há segredo que faça


Me livrar do crime insano
Do devastar a Floresta
Nem poluir do Oceano
Peço clemência ao pedir
Direito a viver de engano.

Desviai-me do orgulho
Livrai-me da ambição
Me permita novo ser
Despistai a ingratidão
Porque é dista que vivo
Sem país e sem Nação.

Eu teimo em te esquecer
Como palco do destino
Como quem dá em certeza
Correto caminho e tino
Seja brasileiro nato
Europeu ou nordestino.

Nos astros jogo poeira


Que lhes disfarça a beleza
Na Terra mato sem pena
Com crueldade e rudeza
Eu ainda não sei como
Desfruto desta riqueza.
Não há lugares em q’ue
Tenha lá posto meu dedo
Porém não encontro pares
Para ousar em segredo
No desejo de ser primeiro
Mesmo o fim, não causa medo.

Não causa medo, respeito


Meu modo rude de agir
Apostando em tudo bem
Lá vou no mundo a fingir
Que sou dono da verdade
Não permito discutir.

Eu implantei ditaduras
Dizendo que era o bem
Inspirei a inquisição
A guerra insana também
Do luxo criei o lixo
Para pisar mais alguém.

De posse a sabedoria
Faltou destreza, bom senso
Até mesmo a temperança
Que chamei de contrassenso
Para meus atos malignos
A caridade eu dispenso.

Oh, meu sagrado Planeta,


Q’ue descubra o equilíbrio
Antes que chegue meu fim
Que me resplandeça o brio
Que mesmo a morte sem dor
Não me gere um ser tão frio.

Matei os teus animais


Pra fazer da pele roupa
Escavei gigantes minas
Fazer brilhar quem não poupa
Ou mesmo quem desconhece
O teor dum prato de sopa.

Não há nada especial


Nessa sangrenta atitude
Pois se escapamos criança
Morremos na juventude
Ou mesmo a velhice tosca
Não será de concretude.
Na tua vida de escola
Eu não me dei as lições
Eu mergulhei os olhares
Fui imerso em ilações
Um bravateiro maior
Sob inúmeras condições.

Não me preparei pra ser


Mediador do progresso
Grotesco quanto espinho
Neguei rever o processo
E hoje aos teus pés me vejo
Uma vítima do excesso.

Sou vítima da violência


Por me negar ao mistério
Desconhecer sua cátedra
Que te deu o magistério
Pois entregar-se à humildade
Deve ser ato mais sério.

O teu útero eu ultrajei


Quando pus os pesticidas
Para fazer produzir
Foras as formas comedidas
Te negando as gestações
Ao mudo, em sadias vidas.

Não acolhi com carinho


No tempo, tua mensagem,
Preferi em desacordo
Viver a lei da vantagem
Multiplicar sem razões
Numa arriscada coragem.

Fiz a leitura de forma


A meu ego favorecer
Transformei astros em peças
Fazendo o mundo entender
Que a concretude da estrada
É ao sábio compreender.

Quis eu demonstrar talento


Sendo o astro principal
Por conseguinte descubro
De forma descomunal
Em tudo ter me tornado
Humano irracional.
Eu tropecei na soberba
Do humano convencido
Dele nasceria o rumo
Do mundo comprometido
Mas o progresso mesquinho
Fez com prazer iludido.

Em cartas e juramentos
O homem brincou de Deus
Transformou o conteúdo
De loucos, ébrios, plebeus...
Em manuais de ensaios
E testamentos de ateus.

Mergulhou na escuridão
De como fazer dinheiro
E negando o fim natural
Esquece ser um grosseiro
Perdeu sua boa chance
De um ser alvissareiro.

Tamanha a velocidade
Os sinais foram quebrados
Barreiras foram vencidas
Princípios ultrapassados
Quando os sensatos se forem
Saberes serão calados.

O Mundo plano ou redondo


Isso a mim não preocupa
Venho rogar ao Planeta
Uma leitura com lupa
Para q’ue não erre mais
Tenha que assumir a culpa.

Não se trata de jogar


O fogo do meu mal feito
Em alguém que não merece
Pois que viveu sem defeito
Mas de unir mentes sãs
Para viver d’outro jeito.

Nem sempre quando se pensa


Amamos corretamente
É assim que hoje venho
Gritar de forma inclemente
Grifar em todas as falas
A dor que o Planeta sente.
Não vou pedir confiança
Pois este laço quebrei
Recebemos todos nós
Planeta com Vida e Lei
A corrente foi tomada
Da ferrugem que gerei.

Venho apresentar aqui


Minha própria acusação
Mas não há como negar
Ao Homem desta Nação
De pagar por este crime
Sequência de imperfeição.

Não encontro perfeição


Na minha prática de ser
Envergonhado me entrego
Sem poder me defender
Não posso te pedir chance
Sabendo desmerecer.

Encerro como avisei


No começo da escritura
Que tudo o que propaguei
Seja a verdade mais pura
Nesse mergulho profundo
HONORATO atesta e apura.

Severino Honorato

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