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Resumo
Este Trabalho procurou avaliar a eficiência do índice P/L em dois diferentes contextos:
montagem de portfolios e estimação de preços. Na montagem de portfolios o objetivo era
avaliar se, para o mercado brasileiro, existem evidências de que os portfolios formados pelas
ações com baixo preço de mercado em relação ao lucro por ação apresentam retornos
superiores àqueles dos portfolios formados por ações de crescimento (alto P/L). Na
estimação de preços, buscou-se avaliar a eficiência do indicador na definição do preço da
ação. Os resultados sugerem que o índice P/L parece ser adequado para a montagem de
portfolios, mas pouco acurado como indicador para a estimação de preços das ações.
Palavras-chave: Índice P/L; Portfolios; Avaliação de empresas.
1. Introdução
A avaliação de empresas é uma tarefa complexa. Sua complexidade decorre principalmente
do fato de envolver a previsão do comportamento de muitas variáveis contábeis e financeiras,
como, por exemplo, os fluxos de caixa e as taxas de juros e crescimento.
Diversos métodos de avaliação são usualmente mencionados na literatura, entre eles o fluxo
de caixa descontado e os métodos de avaliação relativa. O fluxo de caixa descontado relaciona
o valor de um ativo/empresa ao valor presente dos fluxos de caixa esperados. O problema
com o uso do fluxo de caixa descontado para avaliação é que o processo requer previsões do
fluxo de caixa de cada período, determinação de uma taxa de desconto apropriada e ainda
previsões sobre a taxa de crescimento.
Os métodos de avaliação relativa determinam o valor de um ativo com base na avaliação de
ativos comparáveis. Para implementá-los primeiro são identificados os ativos comparáveis e
obtidos os valores para estes ativos. Depois, comparam-se os valores destes ativos com o
ativo que se deseja avaliar, após controlar por diferenças entre as empresas que podem afetar
o indicador. Entre os indicadores mais utilizados neste tipo de avaliação estão o P/L e o
market-to-book. Estes métodos são especialmente úteis quando a empresa sob avaliação não
possui ações negociadas em bolsa de valores, por exemplo, nas situações em que há a
primeira emissão de ações ou em processos de fusões e aquisições.
O ponto crucial dos modelos de avaliação relativa é a definição da empresa comparável. Neste
sentido, diversas variáveis vêm sendo testadas, entre elas o tamanho, o setor e o retorno sobre
o investimento.
Este trabalho tem por objetivo avaliar a eficiência do índice PL como método de avaliação.
Parra isso são realizados dois testes. No primeiro, busca-se comparar a performance dos
portfolios montados segundo o estilo das ações (value stocks versus growth stocks). No
segundo, são comparados os erros de previsão do índice P/L e do índice market-to-book.
Desde que os resultados poderão ser diferentes em função da escolha das empresas a serem
comparadas, as empresas são classificadas de acordo com o setor de atividade.
2. Revisão de Literatura
Os métodos de avaliação relativa estimam o preço das ações de uma determinada empresa sob
avaliação, empresa-alvo, com base no preço de empresas comparáveis. Por exemplo, o preço
da ação da empresa-alvo pode ser estimado pela multiplicação dos lucros por ação da
empresa–alvo pela média do índice P/L das empresas comparáveis. Para aplicar o método de
avaliação relativa, identifica-se um conjunto de empresas comparáveis, calcula-se o índice
médio das empresas comparáveis e, então, multiplica-se o índice médio pelos números
contábeis da empresa-alvo. Este método é especialmente útil quando o valor da firma não é
diretamente observável, como por exemplo, na definição dos preços das ações para a abertura
de capital (BOATSMAN E BASKIN, 1981, KIM e RITTER, 1999).
A performance do método de avaliação relativa depende da seleção das empresas
comparáveis. Alford (1992), examina a eficiência do índice P/L quando as empresas
comparáveis são selecionadas com base no setor de atividade, no tamanho e no crescimento
dos ganhos para identificar que fator é o mais importante para escolha das empresas
comparáveis. Os resultados mostram que a comparação pelo setor de atividade é a mais
efetiva para capturar as diferenças no índice P/L. E ainda, uma classificação usando
simultaneamente o tamanho e o setor de atividade não melhora a acurácia da avaliação.
Boatsman e Baskin (1981) mostram que a classificação segundo o setor de atividade e de
acordo com a taxa de crescimento dos ganhos nos últimos dez anos é mais eficiente do que a
classificação apenas segundo o setor de atividade.
Apesar de método de avaliação relativa poder ser aplicado utilizando diferentes indicadores,
os mais utilizados são o P/L e o market-to book (M/B). O índice P/L é o mais popular entre os
métodos de avaliação relativa. Sua utilidade está vinculada ao fato de capturar o risco e o
crescimento de uma ação (CHENG E MCNAMARA, 2000). E, alguns estudos também
mostram que o índice M/B é relacionado à lucratividade, risco e crescimento. Chan e Chen
(1991) sugerem que o M/B reflete a eficiência produtiva da firma. Ohlson (1995) modela a
relação entre M/B e taxa de retorno e sugere que o índice M/B representa o excesso de retorno
decorrente da performance superior da empresa. Fama e French (1992) encontram que o
índice M/B explica a variação dos retornos, o que implica numa relação entre risco e M/B.
Fama e French (1995) também sugerem que o índice é altamente correlacionado com a
persistência da lucratividade.
Meitner (2003) coloca que a eficiência dos índices P/L e M/B poderá depender de certos
indicadores como a disponibilidade de capital, o processo de produção e o grau de competição
na indústria. O primeiro indicador é a disponibilidade de capital. Se a companhia não tem
acesso às fontes externas de financiamento, o crescimento só é possível se os investimentos
são lucrativos, ou seja, se os lucros atuais e futuros são positivos. Neste caso, os lucros atuais
representam as possibilidades de crescimento e o índice P/L é adequado. Se a companhia tem
acesso a fontes de financiamento externas, a taxa de crescimento depende do retorno sobre o
capital próprio e da taxa de retenção (1-payout). Neste caso, como o crescimento não depende
apenas do lucro atual, não fica claro se a taxa de crescimento deveria se baseada na atividade
econômica (book value) ou em ganhos (NEITNER, 2003).
O segundo indicador é a intensidade da utilização de ativos fixos na produção. As empresas
que são intensivas na utilização de ativos no processo produtivo, apresentam uma alta
correlação entre ganhos e valor contábil (book value). Neste caso, o índice M/B poderia ser
mais indicado. Por outro lado, as empresas com baixa utilização de ativos no processo
produtivo, por exemplo, empresas de serviços, teriam sua lucratividade menos associada aos
investimentos em ativos fixos e, portanto, poderia ser mais interessante a utilização do índice
P/L.
onde: : Pi,t= preço da ação da empresa i na data t e LPAit = lucro por ação da ação da empresa
i na data t; Mi,t = Valor de mercado da empresa i na data t calculado a partir da multiplicação
da quantidade de ações pelo preço da ação da empresa i na data t; Bi,t= valor patrimonial da
empresa i na data t.
A cada ano, são excluídas as ações com lucros por ação negativos para evitar a utilização de
P/L negativos.
Para avaliar as estratégias de investimentos são formados quatro portfolios. O primeiro
portfolio, composto pelo primeiro quartil, representa os 25% da amostra com os menores
índices. A cada ano os portfolios são recompostos. A performance do portfolio é medida
como a taxa média de retorno anual das ações. Este procedimento pressupõe que sejam
investidas quantidades iguais de recursos em cada ação.
Para identificar se os portfolios apresentam retornos médios estatisticamente diferentes é
aplicado um teste t para diferenças de médias.
Posteriormente, busca-se avaliar a eficiência destes indicadores na estimação do valor da
ação. Como o valor da ação da empresa-alvo é definido em função do valor das firmas
comparáveis, são definidos os seguintes índices:
n n
∑ P / Li, t ∑ M / Bi, t
P / Lt = i =1 M / Bt = i =1 equações (03) e (04)
n n
onde: P / L t = média dos índices P/L do grupo de empresas na data t; n = número de empresas
do grupo; M / Bt = média dos índices M/B do grupo de empresas n na data t; n = número de
empresas do grupo
Seguindo as evidências empíricas abordadas na literatura, optou-se por considerar empresas
comparáveis àquelas pertencentes ao mesmo setor de atividade. Portanto, cada grupo
representa um setor de atividade.
Os valores estimados nas equações 03 e 04 são utilizados para determinar o preço da ação da
empresa-alvo. Portanto, os valores estimados (previstos) para a ação de cada empresa são
dados pelas seguintes equações:
Pˆi, t = LPAi, t * P / L t Pˆi, t = Bi, t * M / B t equações (05)e (06)
Para avaliar a eficiência dos dois índices é necessária a utilização de uma medida de
performance. O desvio médio absoluto percentual (MADE) aparece em vários estudos
empíricos (veja, por exemplo, Park e Lee (2003) e Cheng e Mcnamara (2000)) e será adotado
nessa pesquisa. A equação matemática para cálculo do MADE é a seguinte:
n
∑ (Pi, t − Pˆi, t )/ Pˆi, t
MADEt = i =1 equação (07)
n
onde: Pi, t = o valor da ação i na data t; Pˆi, t = o valor previsto da ação i na data t; n = número
de empresas do grupo.
Para levar em conta as evidências empíricas de que empresas comparáveis são aquelas que
pertencem ao mesmo setor de atividade, aplica-se a Análise de Variância de um fator para
comparar as médias aritméticas dos grupos de empresas formados segundo o setor de
atividade. Seguindo a classificação adotada pela ECONOMÁTICA, a amostra será dividida
em 17 grupos, cada um representando um determinado setor de atividade.
4. Resultados
A Tabela 01 apresenta a performance dos portfolios formados com base no índice P/L. Para
cada um dos anos, o índice é determinado com base no preço de fechamento e no lucro por
ação no final de dezembro. O Portfolio A é composto pelas ações de valor, consistindo de
25% das ações com os menores índices P/L. O portfolio D é formado por 25% das ações com
os mais altos índices P/L. A cada final de ano o portfolio é recomposto e sua performance é
avaliada para o ano seguinte. Por exemplo, com base nos dados de 31 de dezembro de 1994,
foram montados os quatro portfolios e, supondo que o investidor mantivesse a carteira intacta
por um ano, foram calculados os retornos de cada portfolio entre 01 de janeiro e 31 de
dezembro de 1995. A performance de cada portfolio é calculada considerando-se a média dos
retornos anuais de todas as ações pertencentes ao portfolio. Para o cálculo dessa média são
atribuídos pesos iguais a cada ação, portanto, têm-se o retorno anual médio para um portfolio
igualmente ponderado.
Tabela 05: Valores dos MADEs para os índices P/L e M/B segundo os setores de atividade
Observa-se que para a maioria dos setores, o MADE calculado é inferior àqueles calculados
inicialmente. Portanto, esses resultados parecem corroborar o argumento de que a
classificação das empresas, segundo o setor de atividade seja relevante na estimativa do valor
da ação. O grau de eficiência da avaliação varia entre os setores. No modelo de avaliação com
o índice P/L o menor MADE é observado para os setores de eletroeletrônicos (0,16 em 2002)
e Minerais não metálicos (0,16 em 2002). Já o pior resultado é encontrado no setor de
Petróleo e Gás ( 1,14 em 1997). Esses setores não são destaques no modelo de avaliação que
utiliza o índice M/B. Para este, o setor de Alimentação e Bebidas apresenta os piores
resultados em quatro dos oito anos pesquisados e o setor de telecomunicações apresenta os
menores MADEs.
Para confirmar a significância destes resultados, realiza-se um teste de diferenças de médias,
entre os setores de atividade. A Tabela 06 apresenta os valores do teste F e a significância da
análise de variância para o modelo de avaliação com o índice P/L e com o M/B.
Este Trabalho procurou avaliar a eficiência do índice P/L em dois diferentes contextos:
montagem de portfolios e estimação de preços. No primeiro, o objetivo era avaliar se, para o
mercado brasileiro, existem evidências de que os portfolios formados pelas ações com baixo
preço de mercado em relação ao lucro por ação apresentam retornos superiores àqueles dos
portfolios formados por ações de crescimento (alto P/L). Os resultados demonstraram que,
numa estratégia de manutenção do portfolio por um ano, o investidor poderia obter retornos
superiores com o portfolio composto pelas ações de valor. Além disso, a comparação com os
retornos do Ibovespa sugere que esta estratégia também seja superior à estratégia de
montagem de um portfolio com a mesma composição do índice.
Na segunda etapa, buscou-se avaliar a eficiência do índice P/L na estimação dos preços das
ações. Os resultados indicaram que os desvio médios absolutos percentuais (MADEs) são
bastante expressivos ao longo dos anos e nos diversos setores. Assim, pode-se concluir que a
utilização do método de avaliação relativa com o índice P/L ou com o índice M/B é
inadequada, pelo menos no período em estudo. Apesar dos testes indicarem a existência de
diferenças significativas entre os setores pode-se conjecturar que para uma melhor eficiência
dos modelos de avaliação relativa seja necessária à definição de critérios mais robustos para a
escolha das empresas comparáveis.
Portanto, conclui-se que o índice P/L parece ser adequado para a montagem de portfolios, mas
pouco acurado como indicador para a estimação de preços das ações.
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