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XXV Encontro Nac. de Eng.

de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005

O Índice Preço/Lucro é um Indicador Eficiente? Evidências para o


Mercado Brasileiro

Kelmara Mendes Vieira (UFSM) kelmara@smail.ufsm.br


Alexandre Majola Gava (UFRGS) ale.gava@terra.com.br

Resumo
Este Trabalho procurou avaliar a eficiência do índice P/L em dois diferentes contextos:
montagem de portfolios e estimação de preços. Na montagem de portfolios o objetivo era
avaliar se, para o mercado brasileiro, existem evidências de que os portfolios formados pelas
ações com baixo preço de mercado em relação ao lucro por ação apresentam retornos
superiores àqueles dos portfolios formados por ações de crescimento (alto P/L). Na
estimação de preços, buscou-se avaliar a eficiência do indicador na definição do preço da
ação. Os resultados sugerem que o índice P/L parece ser adequado para a montagem de
portfolios, mas pouco acurado como indicador para a estimação de preços das ações.
Palavras-chave: Índice P/L; Portfolios; Avaliação de empresas.

1. Introdução
A avaliação de empresas é uma tarefa complexa. Sua complexidade decorre principalmente
do fato de envolver a previsão do comportamento de muitas variáveis contábeis e financeiras,
como, por exemplo, os fluxos de caixa e as taxas de juros e crescimento.
Diversos métodos de avaliação são usualmente mencionados na literatura, entre eles o fluxo
de caixa descontado e os métodos de avaliação relativa. O fluxo de caixa descontado relaciona
o valor de um ativo/empresa ao valor presente dos fluxos de caixa esperados. O problema
com o uso do fluxo de caixa descontado para avaliação é que o processo requer previsões do
fluxo de caixa de cada período, determinação de uma taxa de desconto apropriada e ainda
previsões sobre a taxa de crescimento.
Os métodos de avaliação relativa determinam o valor de um ativo com base na avaliação de
ativos comparáveis. Para implementá-los primeiro são identificados os ativos comparáveis e
obtidos os valores para estes ativos. Depois, comparam-se os valores destes ativos com o
ativo que se deseja avaliar, após controlar por diferenças entre as empresas que podem afetar
o indicador. Entre os indicadores mais utilizados neste tipo de avaliação estão o P/L e o
market-to-book. Estes métodos são especialmente úteis quando a empresa sob avaliação não
possui ações negociadas em bolsa de valores, por exemplo, nas situações em que há a
primeira emissão de ações ou em processos de fusões e aquisições.
O ponto crucial dos modelos de avaliação relativa é a definição da empresa comparável. Neste
sentido, diversas variáveis vêm sendo testadas, entre elas o tamanho, o setor e o retorno sobre
o investimento.
Este trabalho tem por objetivo avaliar a eficiência do índice PL como método de avaliação.
Parra isso são realizados dois testes. No primeiro, busca-se comparar a performance dos
portfolios montados segundo o estilo das ações (value stocks versus growth stocks). No
segundo, são comparados os erros de previsão do índice P/L e do índice market-to-book.
Desde que os resultados poderão ser diferentes em função da escolha das empresas a serem
comparadas, as empresas são classificadas de acordo com o setor de atividade.

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2. Revisão de Literatura
Os métodos de avaliação relativa estimam o preço das ações de uma determinada empresa sob
avaliação, empresa-alvo, com base no preço de empresas comparáveis. Por exemplo, o preço
da ação da empresa-alvo pode ser estimado pela multiplicação dos lucros por ação da
empresa–alvo pela média do índice P/L das empresas comparáveis. Para aplicar o método de
avaliação relativa, identifica-se um conjunto de empresas comparáveis, calcula-se o índice
médio das empresas comparáveis e, então, multiplica-se o índice médio pelos números
contábeis da empresa-alvo. Este método é especialmente útil quando o valor da firma não é
diretamente observável, como por exemplo, na definição dos preços das ações para a abertura
de capital (BOATSMAN E BASKIN, 1981, KIM e RITTER, 1999).
A performance do método de avaliação relativa depende da seleção das empresas
comparáveis. Alford (1992), examina a eficiência do índice P/L quando as empresas
comparáveis são selecionadas com base no setor de atividade, no tamanho e no crescimento
dos ganhos para identificar que fator é o mais importante para escolha das empresas
comparáveis. Os resultados mostram que a comparação pelo setor de atividade é a mais
efetiva para capturar as diferenças no índice P/L. E ainda, uma classificação usando
simultaneamente o tamanho e o setor de atividade não melhora a acurácia da avaliação.
Boatsman e Baskin (1981) mostram que a classificação segundo o setor de atividade e de
acordo com a taxa de crescimento dos ganhos nos últimos dez anos é mais eficiente do que a
classificação apenas segundo o setor de atividade.
Apesar de método de avaliação relativa poder ser aplicado utilizando diferentes indicadores,
os mais utilizados são o P/L e o market-to book (M/B). O índice P/L é o mais popular entre os
métodos de avaliação relativa. Sua utilidade está vinculada ao fato de capturar o risco e o
crescimento de uma ação (CHENG E MCNAMARA, 2000). E, alguns estudos também
mostram que o índice M/B é relacionado à lucratividade, risco e crescimento. Chan e Chen
(1991) sugerem que o M/B reflete a eficiência produtiva da firma. Ohlson (1995) modela a
relação entre M/B e taxa de retorno e sugere que o índice M/B representa o excesso de retorno
decorrente da performance superior da empresa. Fama e French (1992) encontram que o
índice M/B explica a variação dos retornos, o que implica numa relação entre risco e M/B.
Fama e French (1995) também sugerem que o índice é altamente correlacionado com a
persistência da lucratividade.
Meitner (2003) coloca que a eficiência dos índices P/L e M/B poderá depender de certos
indicadores como a disponibilidade de capital, o processo de produção e o grau de competição
na indústria. O primeiro indicador é a disponibilidade de capital. Se a companhia não tem
acesso às fontes externas de financiamento, o crescimento só é possível se os investimentos
são lucrativos, ou seja, se os lucros atuais e futuros são positivos. Neste caso, os lucros atuais
representam as possibilidades de crescimento e o índice P/L é adequado. Se a companhia tem
acesso a fontes de financiamento externas, a taxa de crescimento depende do retorno sobre o
capital próprio e da taxa de retenção (1-payout). Neste caso, como o crescimento não depende
apenas do lucro atual, não fica claro se a taxa de crescimento deveria se baseada na atividade
econômica (book value) ou em ganhos (NEITNER, 2003).
O segundo indicador é a intensidade da utilização de ativos fixos na produção. As empresas
que são intensivas na utilização de ativos no processo produtivo, apresentam uma alta
correlação entre ganhos e valor contábil (book value). Neste caso, o índice M/B poderia ser
mais indicado. Por outro lado, as empresas com baixa utilização de ativos no processo
produtivo, por exemplo, empresas de serviços, teriam sua lucratividade menos associada aos
investimentos em ativos fixos e, portanto, poderia ser mais interessante a utilização do índice
P/L.

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O terceiro indicador o grau de competição na indústria. O grau de competição determina a


lucratividade das companhias e a possibilidade de obtenção de lucros expressivos no longo
prazo. Se a empresa está situada num setor altamente competitivo, é pouco provável que ela
consiga obter retornos anormais e a lucratividade tende a tornar-se igual para todas as
indústrias, neste caso, o índice M/B seria um bom indicador. Por outro lado, em setores de
baixa competitividade, uma empresa pode obter retornos anormais no longo prazo e, portanto,
a performance atual pode ser um bom indicador da performance futura. Nesta situação o P/L
poderia apresentar melhores resultados.
O modelo de avaliação relativa também é utilizado para a avaliação de estratégias de
investimentos. A montagem do portfolio é um dos passos fundamentais no processo de
decisão de investimentos. Recentemente, muito se tem discutido sobre a performance da
montagem de portfolios baseada no estilo das ações. Neste modelo, as ações são classificadas
em ações de valor (value stock) e ações de crescimento (growth stocks). As ações de valor são
as ações com baixo preço de mercado em relação ao lucro, ao fluxo de caixa, ao valor contábil
ou aos dividendos por ações. Ao passo que as ações de crescimento possuem um alto índice
P/L. O objetivo é avaliar se a montagem de portfolios com base no estilo das ações permite a
obtenção de retornos extras. Dentre estes estudos, destacam-se Basu (1977), Goodman e
Peavy (1983), Bauman e Miller (1997), Lei e Ahn (2002), entre outros.
3. Método
Uma primeira decisão a ser tomada quanto ao método de pesquisa diz respeito ao período de
estudo. Para evitar eventuais distorções decorrentes de períodos altamente inflacionários,
optou-se por trabalhar apenas com o período pós plano real, ou seja, de janeiro de 1995 a
dezembro de 2002. São estudadas as ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo –
Bovespa. Os dados foram obtidos a partir da ECONOMÁTICA, com periodicidade anual.
Para cada ação foram coletados os valores do lucro por ação, o valor de mercado da
companhia, o setor de atividade e o preço da ação. Os índices P/L e M/B foram calculados da
seguinte maneira:
Pi, t M i, t
P/L = M /B= equações (01) e (02)
LPAi, t Bi, t

onde: : Pi,t= preço da ação da empresa i na data t e LPAit = lucro por ação da ação da empresa
i na data t; Mi,t = Valor de mercado da empresa i na data t calculado a partir da multiplicação
da quantidade de ações pelo preço da ação da empresa i na data t; Bi,t= valor patrimonial da
empresa i na data t.
A cada ano, são excluídas as ações com lucros por ação negativos para evitar a utilização de
P/L negativos.
Para avaliar as estratégias de investimentos são formados quatro portfolios. O primeiro
portfolio, composto pelo primeiro quartil, representa os 25% da amostra com os menores
índices. A cada ano os portfolios são recompostos. A performance do portfolio é medida
como a taxa média de retorno anual das ações. Este procedimento pressupõe que sejam
investidas quantidades iguais de recursos em cada ação.
Para identificar se os portfolios apresentam retornos médios estatisticamente diferentes é
aplicado um teste t para diferenças de médias.
Posteriormente, busca-se avaliar a eficiência destes indicadores na estimação do valor da
ação. Como o valor da ação da empresa-alvo é definido em função do valor das firmas
comparáveis, são definidos os seguintes índices:

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n n
∑ P / Li, t ∑ M / Bi, t
P / Lt = i =1 M / Bt = i =1 equações (03) e (04)
n n

onde: P / L t = média dos índices P/L do grupo de empresas na data t; n = número de empresas
do grupo; M / Bt = média dos índices M/B do grupo de empresas n na data t; n = número de
empresas do grupo
Seguindo as evidências empíricas abordadas na literatura, optou-se por considerar empresas
comparáveis àquelas pertencentes ao mesmo setor de atividade. Portanto, cada grupo
representa um setor de atividade.
Os valores estimados nas equações 03 e 04 são utilizados para determinar o preço da ação da
empresa-alvo. Portanto, os valores estimados (previstos) para a ação de cada empresa são
dados pelas seguintes equações:
Pˆi, t = LPAi, t * P / L t Pˆi, t = Bi, t * M / B t equações (05)e (06)

Para avaliar a eficiência dos dois índices é necessária a utilização de uma medida de
performance. O desvio médio absoluto percentual (MADE) aparece em vários estudos
empíricos (veja, por exemplo, Park e Lee (2003) e Cheng e Mcnamara (2000)) e será adotado
nessa pesquisa. A equação matemática para cálculo do MADE é a seguinte:
n
∑ (Pi, t − Pˆi, t )/ Pˆi, t
MADEt = i =1 equação (07)
n

onde: Pi, t = o valor da ação i na data t; Pˆi, t = o valor previsto da ação i na data t; n = número
de empresas do grupo.
Para levar em conta as evidências empíricas de que empresas comparáveis são aquelas que
pertencem ao mesmo setor de atividade, aplica-se a Análise de Variância de um fator para
comparar as médias aritméticas dos grupos de empresas formados segundo o setor de
atividade. Seguindo a classificação adotada pela ECONOMÁTICA, a amostra será dividida
em 17 grupos, cada um representando um determinado setor de atividade.
4. Resultados
A Tabela 01 apresenta a performance dos portfolios formados com base no índice P/L. Para
cada um dos anos, o índice é determinado com base no preço de fechamento e no lucro por
ação no final de dezembro. O Portfolio A é composto pelas ações de valor, consistindo de
25% das ações com os menores índices P/L. O portfolio D é formado por 25% das ações com
os mais altos índices P/L. A cada final de ano o portfolio é recomposto e sua performance é
avaliada para o ano seguinte. Por exemplo, com base nos dados de 31 de dezembro de 1994,
foram montados os quatro portfolios e, supondo que o investidor mantivesse a carteira intacta
por um ano, foram calculados os retornos de cada portfolio entre 01 de janeiro e 31 de
dezembro de 1995. A performance de cada portfolio é calculada considerando-se a média dos
retornos anuais de todas as ações pertencentes ao portfolio. Para o cálculo dessa média são
atribuídos pesos iguais a cada ação, portanto, têm-se o retorno anual médio para um portfolio
igualmente ponderado.

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Retorno Anual Médio


Ano
A B C D Total n
1995 -0,206 -0,253 -0,310 -0,352 -0,280 174
1996 0,780 0,382 0,264 0,034 0,363 152
1997 0,459 0,160 0,043 0,207 0,217 161
1998 0,079 -0,235 -0,242 -0,385 -0,200 179
1999 1,839 1,731 1,214 1,205 1,495 198
2000 0,379 0,074 0,230 0,093 0,194 205
2001 0,264 1,450 0,121 -0,060 0,442 246
2002 0,483 0,170 0,131 -0,051 0,178 238
Média 0,509 0,435 0,181 0,086 0,301 194
Desvio Padrão 0,611451 0,747525 0,466205 0,495989 0,54399 34
Tabela 01: Retorno anual médio para os quatro portfolios
Observa-se que o portfolio A apresenta uma performance superior à do portfolio D em todos
os anos estudados. E, com exceção do ano de 2001, a performance do portfolio A é superior a
performance da amostra total. Portanto, a montagem de portfolios com base nas ações de
valor, parece ser uma estratégia interessante para o investidor, já que a rentabilidade é
superior à montagem de portfolios com ações de crescimento e à montagem de portfolios sem
levar em consideração a influência do índice P/L.
Além do retorno, o retorno ajustado ao risco (média dos retornos/desvio padrão) do portfolio
A, também é superior ao do portfolio D. Enquanto para o portfolio A o retorno ajustado ao
risco é de 0,83 para o portfolio D é de apenas 0,17, indicando que para cada unidade de risco,
o portfolio A apresenta retornos bem maiores.

Retorno Anual Médio Graus de


Ano Significância
A D Diferença t Liberdade
1995 -20,6% -35,2% 14,6% 1,791 83 0,077
1996 78,0% 3,4% 74,5% 5,346 74 0,000
1997 45,9% 20,7% 25,2% 1,212 77 0,229
1998 7,9% -38,5% 46,3% 5,611 87 0,000
1999 183,9% 120,5% 63,4% 2,254 98 0,026
2000 37,9% 9,3% 28,7% 1,760 99 0,081
2001 26,4% -6,0% 32,3% 4,704 119 0,000
2002 48,3% -5,1% 53,4% 4,945 117 0,000
Tabela 02. Teste t para diferenças de médias entre os portfolios A e D.
A Tabela 02 mostra que a diferença entre os portfolios A e D é estatisticamente significante,
ao nível de 5% em cinco dos 8 anos. As maiores diferenças são encontradas nos anos de 1996
(74,5%) e 1999 (63,4%). É interessante notar que o portfolio A representa uma estratégia de
investimento melhor do que o portfolio D tanto nos anos em que o retorno é positivo quanto
naqueles em que o retorno é negativo.
Para identificar se a montagem dos portfolios é capaz de superar a estratégia de montagem de
uma carteira idêntica a do índice Bovespa, foram comparados os retornos do portfolio A com
os retornos anuais do índice Bovespa.

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Retorno Anual Retorno Anual


Ano Ano
Portfólio A Índice Ibovespa Portfólio A Índice Ibovespa
1995 -20,6% -1,3% 1999 183,9% 151,9%
1996 78,0% 63,8% 2000 37,9% -10,7%
1997 45,9% -85,5% 2001 26,4% -11,5%
1998 7,9% -33,5% 2002 48,3% -16,6%
Tabela 03: Comparação dos retornos do portfolio A e do índice Bovespa
Na Tabela 03 observa-se que a estratégia de montagem do portfolio com base no índice P/L
apresentou resultados melhores do que os obtidos com a montagem de uma carteira idêntica à
do índice Bovespa. Portanto, os resultados apresentados nas três tabelas anteriores parecem
indicar que as ações de valor apresentam retornos superiores às demais ações, pelo menos
pelo período de um ano.
Para avaliar a eficiência dos índices P/L e M/B como métodos de avaliação do valor da ação,
foram calculados os desvio médios absolutos percentuais (MADE). Este desvio representa a
diferença percentual entre o valor real da ação e o valor previsto pelo método de avaliação
relativa. Como explicado anteriormente, esse método utiliza os dados das empresas
comparáveis para obter a estimativa do valor da ação da empresa-alvo.

MADE Média das Graus de


Ano t Significância
P/L M/B diferenças Liberdade
1995 0,61 0,55 0,06 1,402 137 0,163
1996 0,67 0,58 0,09 2,45 143 0,016
1997 0,55 0,59 -0,03 -0,705 174 0,482
1998 0,60 0,50 0,10 2,168 156 0,032
1999 0,73 0,61 0,12 2,431 201 0,016
2000 0,72 0,65 0,08 1,427 229 0,155
2001 0,61 0,58 0,03 0,55 237 0,583
2002 0,67 0,64 0,03 0,429 176 0,668
Tabela 04: Teste t para diferença de médias entre os MADEs
A tabela 04 apresenta o MADE para o método de avaliação relativa utilizando como
indicadores o índice P/L e o índice M/B. Observa-se que a magnitude do desvio é expressiva.
Por exemplo, o MADE de 0,61 para o ano de 1995 pode ser interpretado como uma variação
de 61% entre o preço real da ação e o preço estimado pelo modelo. Portanto, como esperado,
pode-se concluir que, a utilização do modelo de avaliação relativa, considerando a média de
todos os P/L como indicador, apresenta uma baixa eficiência.
O teste de diferença de médias mostra que em apenas três dos oito anos estudados a
performance do modelo de avaliação que utiliza o índice M/B é significativamente superior à
performance do modelo com o índice P/L. Para os demais anos, aceita-se a hipótese de que,
em media, os MADE’s dos dois modelos são iguais.
Devido ao grande número de trabalhos que argumentam que uma definição adequada das
empresas comparáveis é aquela que considera as empresas que pertencem ao mesmo setor de
atividade, optou-se então por utilizar o índice médio de cada setor de atividade para estimação
do valor previsto da ação. A Tabela 05 apresenta os resultados para o modelo de avaliação
utilizando o índice P/L e para o modelo utilizando o índice M/B.

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MADE - Índice P/L MADE - Índice M/B


SETOR
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Alimentos e Bebidas 0,43 0,73 0,41 0,51 0,58 0,56 0,78 0,89 0,84 1,01 0,89 0,90 0,87 1,31 0,83 0,85
Comércio 0,51 0,39 0,35 0,54 0,98 0,49 0,75 0,57 0,60 0,64 0,55 0,57 0,78 0,88 0,57 0,66
Construção 0,80 0,74 0,63 0,42 0,75 0,54 0,83 0,68 0,50 0,68 0,67 0,32 0,49 0,50 0,44 0,45
Eletroeletrônicos 0,54 0,50 0,83 0,25 1,13 0,99 0,58 0,16 0,53 0,35 0,56 0,53 0,76 1,08 1,03 0,82
Energia Elétrica 0,38 0,61 0,49 0,84 1,05 0,89 0,63 0,88 0,40 0,70 0,50 0,43 0,65 0,58 0,64 0,63
Finanças e Seguros 0,66 0,79 0,45 0,39 0,80 0,48 0,61 0,98 0,74 0,57 0,55 0,54 0,69 0,71 0,53 0,43
Máquinas Indust 0,57 0,46 0,43 0,55 0,39 0,81 0,48 0,21 0,58 0,67 0,69 0,75 0,55 0,59 0,63 0,91
Mineração 0,86 0,39 0,52 0,26 0,31 0,30 0,27 0,56 0,45 0,40 0,39 0,40 0,42 0,28 0,43 0,36
Minerais não Met. 0,40 0,39 0,76 0,41 0,52 0,85 0,23 0,16 0,36 0,42 0,36 0,33 0,56 0,54 0,60 0,53
Papel e Celulose 0,61 0,97 0,61 0,65 0,71 0,54 0,98 0,66 0,74 0,54 0,58 0,55 0,51 0,52 0,64
Petróleo e Gas 0,47 0,63 1,14 0,67 0,53 0,63 0,62 0,19 0,34 0,38 0,45 0,60 0,31 0,93 0,47 0,68
Química 0,78 0,93 0,57 1,00 0,59 0,95 0,46 0,86 0,54 0,58 0,63 0,60 0,45 0,36 0,38 0,77
Siderur & Metalur 0,89 0,80 0,73 0,76 0,53 0,83 0,35 0,51 0,59 0,60 0,56 0,51 0,52 0,64 0,49 0,90
Telecomunicações 0,35 0,67 0,28 0,70 0,71 0,72 1,01 0,47 0,21 0,23 0,25 0,45 0,69 0,58 0,43 0,43
Textil 0,55 0,57 0,61 0,78 0,88 0,77 0,65 0,35 0,67 0,64 0,70 0,49 0,57 0,40 0,55 0,59
Veiculos e peças 0,74 0,57 0,34 0,46 0,34 0,43 0,47 0,30 0,75 0,67 1,18 0,67 1,04 0,84 0,85 0,63
Outros 0,64 0,70 0,52 0,69 0,82 0,71 0,50 1,00 0,47 0,57 0,74 0,55 0,58 0,71 0,65 0,62
Total 0,62 0,68 0,56 0,64 0,73 0,72 0,61 0,67 0,58 0,62 0,63 0,55 0,63 0,66 0,58 0,64

Tabela 05: Valores dos MADEs para os índices P/L e M/B segundo os setores de atividade
Observa-se que para a maioria dos setores, o MADE calculado é inferior àqueles calculados
inicialmente. Portanto, esses resultados parecem corroborar o argumento de que a
classificação das empresas, segundo o setor de atividade seja relevante na estimativa do valor
da ação. O grau de eficiência da avaliação varia entre os setores. No modelo de avaliação com
o índice P/L o menor MADE é observado para os setores de eletroeletrônicos (0,16 em 2002)
e Minerais não metálicos (0,16 em 2002). Já o pior resultado é encontrado no setor de
Petróleo e Gás ( 1,14 em 1997). Esses setores não são destaques no modelo de avaliação que
utiliza o índice M/B. Para este, o setor de Alimentação e Bebidas apresenta os piores
resultados em quatro dos oito anos pesquisados e o setor de telecomunicações apresenta os
menores MADEs.
Para confirmar a significância destes resultados, realiza-se um teste de diferenças de médias,
entre os setores de atividade. A Tabela 06 apresenta os valores do teste F e a significância da
análise de variância para o modelo de avaliação com o índice P/L e com o M/B.

Índice P/L Índice M/B Índice P/L Índice M/B


Ano Ano
Valor de F Sig. Valor de F Sig. Valor de F Sig. Valor de F Sig.
1995 1,71 0,05 2,24 0,01 1999 1,72 0,05 1,48 0,11
1996 3,42 0,00 2,94 0,00 2000 1,43 0,13 2,81 0,00
1997 3,50 0,00 2,03 0,01 2001 1,85 0,03 2,04 0,01
1998 1,09 0,37 1,53 0,09 2002 2,78 0,00 1,75 0,04
Tabela 06: Valores de F e significância da análise de variância dos MADES calculada para o P/L e o M/B
Os resultados confirmam as evidências levantadas nas tabelas anteriores. Em ambos os
modelos, na maioria dos anos, existe uma diferença significativa no MADE entre os setores.
Para o modelo de avaliação com o índice P/L, em seis dos oito anos estudados, a variância
entre os grupos é mais relevante do que a variância dentro dos grupos formados segundo o
setor de atividade da empresa. Este resultado confirma a pressuposição de que as empresas de
um determinado setor sejam comparáveis, já que existe uma homogeneidade maior dentro dos
setores do que entre os setores. Os resultados para o modelo de avaliação com o indicador
M/B são semelhantes. Apenas em 1998 e 1999 a diferença entre os grupos não é significativa.
5.Conclusões

ENEGEP 2005 ABEPRO 2225


XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005

Este Trabalho procurou avaliar a eficiência do índice P/L em dois diferentes contextos:
montagem de portfolios e estimação de preços. No primeiro, o objetivo era avaliar se, para o
mercado brasileiro, existem evidências de que os portfolios formados pelas ações com baixo
preço de mercado em relação ao lucro por ação apresentam retornos superiores àqueles dos
portfolios formados por ações de crescimento (alto P/L). Os resultados demonstraram que,
numa estratégia de manutenção do portfolio por um ano, o investidor poderia obter retornos
superiores com o portfolio composto pelas ações de valor. Além disso, a comparação com os
retornos do Ibovespa sugere que esta estratégia também seja superior à estratégia de
montagem de um portfolio com a mesma composição do índice.
Na segunda etapa, buscou-se avaliar a eficiência do índice P/L na estimação dos preços das
ações. Os resultados indicaram que os desvio médios absolutos percentuais (MADEs) são
bastante expressivos ao longo dos anos e nos diversos setores. Assim, pode-se concluir que a
utilização do método de avaliação relativa com o índice P/L ou com o índice M/B é
inadequada, pelo menos no período em estudo. Apesar dos testes indicarem a existência de
diferenças significativas entre os setores pode-se conjecturar que para uma melhor eficiência
dos modelos de avaliação relativa seja necessária à definição de critérios mais robustos para a
escolha das empresas comparáveis.
Portanto, conclui-se que o índice P/L parece ser adequado para a montagem de portfolios, mas
pouco acurado como indicador para a estimação de preços das ações.
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