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A SUSTENTABILIDADE DOS EVENTOS EM CENTROS HISTÓRICOS


URBANOS – O CASO DE OURO PRETO, MG

Angela Cabral Flecha1


Wanessa Pires Lott2
Miguel Moital3
Jonathan Edwards4
José Paulo Alves Fusco5

RESUMO
A contribuição do cenário para uma experiência positiva de um evento e um
festival foi enfatizada tanto na literatura sobre qualidade de serviço quanto na
experiência. Então, os promotores e planejadores de eventos precisam prestar
especial atenção no local onde eles estarão organizando seus festivais e
eventos. Ao avaliar o local mais satisfatório, os promotores de festivais e
eventos têm duas opções: criar e desenvolver novos locais ou usar áreas
previamente estabelecidas. A primeira opção é freqüentemente viável quando
são encontradas áreas estabelecidas para ter capacidade limitada para receber
um grande número de visitantes que o festival ou evento atrairá o que é
normalmente associado com grandes eventos como as Olimpíadas e
Exposições Mundiais (EXPO). Estes locais, uma vez construídos, podem ser
utilizados permanentemente como locais de realização de eventos -
combinando espaço público de alta qualidade com lugares modernos. A outra
opção, que é claramente a opção mais apropriada para a maioria dos
promotores de eventos, é o uso de áreas estabelecidas, uma vez que o espaço
está amadurecido para uso e o desembolso para a preparação do local é

1
Autora, Núcleo de Pesquisas e Estudos Avançados em Turismo – NUPETUR, Departamento de
Turismo, Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, BR. Email:
aflecha@turismo.ufop.br/angela.flecha@gmail.com
2
Co-autora, Departamento de Antropologia, Universidade Federal de Minas Gerais, MG, BR.
Email: wlott@uai.com.br
3
Co-autor, School of Services Management, Bournemouth University, UK. Email:
mmoital@bournemouth.ac.uk
4
Co-autor, School of Services Management, Bournemouth University, UK. Email:
jonedwards@bournemouth.ac.uk
5
Co-autor, Universidade Paulista (UNIP) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção (PPGEP). Email: jpafusco@uol.com.br

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mínimo. Devido às características únicas destes espaços, a organização de


eventos em centros históricos urbanos tem o potencial de promover uma
contribuição à experiência dos participantes do evento. Porém, há também o
constrangimento que afeta a organização de eventos nestes locais, inclusive o
tipo, número e tamanho dos eventos que podem ser acomodados sem
ameaçar a sustentabilidade do centro histórico. Por conseguinte, devido ao
caráter sem igual de centros históricos urbanos, a organização de eventos em
centros históricos urbanos possui maiores desafios de sustentabilidade que
precisam ser identificados e completamente atendidos. O propósito deste
artigo é examinar o conceito de sustentabilidade aplicado aos locais históricos
urbanos tais como a criação de festivais e eventos. Considerará tanto a
sustentabilidade do local, isto é, do centro histórico urbano e dos eventos
propostos e determinará se é possível os dois trabalharem sinergicamente
contribuindo assim para a sustentabilidade desejada de ambos. O artigo
avançará em uma base conceitual através da análise da sustentabilidade de
centros históricos urbanos como locais para realização de eventos. Desta
forma, o artigo investigará a necessidade da administração estratégica e os
princípios da sustentabilidade para o desenvolvimento de eventos em centros
históricos urbanos. Esta base conceitual será ilustrada utilizando dois exemplos
de eventos no centro histórico urbano de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.

Palavras chaves: Sustentabilidade, centros históricos urbanos, patrimônio


cultural, festas e eventos, Ouro Preto.

ABSTRACT
The contribution of the setting for a positive festival and event experience has
been emphasised in both the service quality and experience literature.
Therefore, event promoters and planners need to pay particular attention to
where they will be staging their festivals and events. When assessing the most
suitable location, festival and event promoters have two options: to create and
develop new sites or to use established areas. The first option is often viable
when established areas are found to be of limited capacity for hosting the large
numbers of visitors that the festival or event will attract. It is usually

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associated with large-scale events such as the Olympics and World Expo’s.
These sites, once built, can then be made permanent event sites – combining
high quality public space with modern venues. The other option, the use of
established areas, is clearly the most appropriate option for the majority of
event planners as the space is usually ripe for usage and therefore the outlay
for preparing the site is minimal. Due to their unique characteristics, the
staging of events at urban historic centres has the potential to provide a major
contribution to the event attendants’ experience. However, there are also
constrains affecting the staging of events at such sites, including the type,
number and size of the events that can be accommodated without threatening
the sustainability of the centre. Consequently, due to the unique character of
urban historic centres, staging events in urban historic centres pose major
sustainability challenges that need to be identified and fully addressed. The
purpose of this paper is to examine the concept of sustainability applied to
urban historic sites as the setting for festivals and events. It will consider the
sustainability of both the setting namely the urban historic centre and the
proposed events to determine if it is possible for the two to work synergistically
thereby contributing towards the sustainability both aspire to. The paper will
put forward a conceptual framework for examining the sustainability of urban
historic centres as event sites. In doing so, the paper will investigate the need
for, and principles of, a sustainable development and management strategies
for events in urban historical centres. The framework will be illustrated using
one or more examples of urban historic centres in Minas Gerais, Brazil.

Keywords: Sustainability, historic urban centers, cultural heritage, festivals


and events, Ouro Preto.

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1. INTRODUÇÃO
Eventos, eventos coloquiais, eventos sociais, eventos competitivos,
eventos expositivos, eventos religiosos, festivais, carnavais... Eventos...
Eventos e mais eventos! Iniciou-se a era dos eventos, mas será que todos os
tipos de eventos são bem vindos nas localidades? Será que não é importante
primeiro definir o tipo de turista/visitante que a localidade deseja receber para
depois definir o tipo de evento a ser criado ou desenvolvido?
O tema é recente no Brasil e a bibliografia escassa e se limitando a
apresentar tipologias e discorrer-se sobre inclusão social da comunidade local e
apropriação das festas, mas sem analises e pesquisas que envolvam, por
exemplo, a percepção dos visitantes/turistas.
Não obstante a falta de estudos é inegável o crescimento do
deslocamento de pessoas em busca de lazer e conhecimento de novas
culturas, provocando uma crescente competitividade entre os destinos em todo
o mundo. Neste ponto o evento se apresenta como equalizador da
sazonalidade e o fiel da balança das finanças dos destinos.
O setor, formado por pequenas e médias empresas (PMEs), pulveriza as
oportunidades além de proporcionar aos gestores públicos uma forma de
projetar suas ações e captar mais recursos para o município. Mas apesar do
Turismo se apresentar como um estimulador do desenvolvimento econômico,
principalmente na segunda metade do último século, ainda é questionada a
natureza exata do seu papel na economia (Shaw e Williams 2002, 145).
Porém, deve ser reconhecido que na estrutura comercial turística há um
grande potencial para os eventos serem cada vez mais foco de
empreendedorismo e desenvolvimento econômico.
Modelos de regeneração culturais, como o ilustrado em uma gama de
cidades européias (Kotler et al, 2006) é vital no processo não só de
desenvolvimento local como na construção identitária das cidades. Cada vez
mais os eventos são vistos como importantes condutores e componentes do
portfólio de produtos de turismo de uma localidade (Ryan, 1998) que também
podem contribuir significativamente na condução do desenvolvimento
econômico e na diversidade de uma região. Além disso, há um apoio crescente
na reivindicação dos benefícios econômicos trazidos pelos

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visitantes/participantes de eventos específicos para os destinos (Kasimati


2003). Os governos reconhecem que os festivais, festas e eventos oferecem
para comunidade local mais que somente retorno econômico direto (Wood,
2005). Incluem educação, construção social e comunitária; informam sobre
programas de governo; aumentam o capital social e a inclusão da comunidade;
provoca impactos locais positivos na arte, na cultura, na criatividade e na
qualidade de vida dos residentes (FERRES e ADAIR, 2005).
Nos rituais festivos a comunidade compartilha sentimentos comuns,
transportando os indivíduos da realidade cotidiana para outro mundo onde a
imaginação fica mais solta. Possibilita-se o divertimento, a exaltação, a
efervescência coletiva e conseqüentemente a ‘realiança’, o reforço dos vínculos
coletivos (Durkheim, 2003), permitindo assim, a restauração cíclica do vínculo
social (Mauss, 2003). Estas possibilidades são percebidas no Brasil em eventos
como os festivais de inverno e o carnaval, além de desempenharem
importante papel econômico com a implantação de novos negócios,
manutenção de micro e pequenas empresas e aumento da geração de
empregos. São ferramentas de promoção turística dos destinos, graças à sua
função estratégica de reduzir a sazonalidade e aumentar o fluxo turístico nos
períodos de baixa estação.
O propósito deste artigo não é fazer uma revisão de literatura sobre
eventos, apesar de fazê-lo, mas sim examinar o conceito de sustentabilidade
aplicado aos locais históricos urbanos para a realização de festas e eventos,
tendo como foco deste estudo o Carnaval de Ouro Preto e o Festival de Inverno
de Ouro Preto e Mariana. Considerará a sustentabilidade tanto do centro
histórico urbano quanto dos eventos propostos procurando possibilidades de
serem trabalhados sinergicamente. O artigo investigará a necessidade da
administração estratégica além de traçar um contraponto entre o tipo de
público e os ganhos que a cidade de Ouro Preto apresenta nos dois momentos.
Não haverá um aprofundamento das ferramentas de gestão e técnicas de
marketing, que poderão ser objeto de estudos futuros.

2. BASE CONCEITUAL

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OS EVENTOS
Os eventos são uma "celebração ou apresentação de algum tema para o
qual o público é convidado durante um tempo limitado, anualmente ou menos
freqüentemente" (Getz 1997, 28 ). Dim Mock e Trice apud Douglas et al.
(2000, p. 358) conceituam eventos como "ocasiões temáticas públicas
projetadas para celebrar aspectos valorizados de um "way of life" de uma
comunidade".
Estes contribuem para apresentar e projetar o tecido sócio-cultural do
destino e permitem receber benefícios individuais e comerciais no campo das
vendas, marketing, educação, comunicação, motivação e avaliação
(Commonwealth Dept of Tourism apud Presbury e Edwards, 2005). Além
destes fatores significam uma forma de apresentar, conquistar, estabelecer
conceitos ou recuperar a imagem de pessoas, organizações, empresas ou
entidades.
Kotler (2006) destaca que os eventos promovem a criação de uma forte
identificação com um mercado-alvo ou com um estilo de vida específico; o
aumento da conscientização do nome da localidade; a criação ou reforço das
percepções do consumidor quando associações-chave com a imagem da
localidade/destino; o aperfeiçoamento das dimensões da imagem da
localidade/destino; a criação das experiências e sensações; a expressão do
compromisso com a comunidade ou com questões sociais; o entretenimento
dos principais clientes/turistas; e, a criação de oportunidades de divulgação ou
promoções.
Os eventos apresentam grande potencial para o ressurgimento
econômico, a construção da comunidade e do desenvolvimento cultural,
enquanto fortalecedores e mantenedores únicos da marca do destino (Aitken,
2002). Em muitos casos aumentam a permanência de visitantes em um
destino prolongando as estações turísticas (Getz, 1997). Os eventos que têm a
participação de visitantes/turistas provocam um impacto positivo através da
troca cultural e da construção de novos relacionamentos pessoais e de
negócios (McCabe, 2000).
Porém, muitos riscos são associados a eles o que pode resultar
negativamente em impactos econômicos, sociais, ambientais e culturais

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(Dwyer et al., 2000) e alerta que um evento mal administrado resultará em


um marketing negativo ou um impróprio foco de marketing e a falta de
interesse de possíveis e importantes patrocinadores. Além do impacto no meio
ambiente, desperdícios de energia e excesso de produção de lixo colaborarão
para delinear negativamente a imagem do destino.
Os impactos sociais e culturais negativos, como a aglomeração de
público, crime, congestão de tráfico, deslocamento da comunidade e
banalização de cultura também resultam no descontentamento dos
visitantes/turistas, patrocinadores e da comunidade. Outro ponto negativo é a
perda da autenticidade do evento em prol de sua excessiva popularização
podendo provocar uma descontinuidade na vida dos habitantes durante sua
realização e ameaçando a sustentabilidade de ambos.
Várias agências internacionais (OMT, UNEP) cobraram do setor do
turismoo desenvolvimento de formas compatíveis de turismo tanto ambiental,
social e culturalmente em defesa de desenvolvimento do turismo sustentável,
tendo em mente que estas formas de turismo e iniciativas devem encontrar,
ou preferivelmente superar, padrões locais, regionais, nacionais ou
internacionais. O objetivo é a compreensão de que a sustentabilidade não é
nenhum anti-negócio, no que dizer respeito ao aumento dos lucros ou da
agregação de valor (Willard 2004), mas a busca da orientação da empresa
tanto para os ganhos de experiência quanto para os negócios (Pearce, 1998).
Desenvolvimento sustentável significa "adotar estratégias empresariais e
atividades que satisfaçam as necessidades do negócio e de seus stakeholders
protegendo, sustentando, e aumentando hoje, os recursos humanos e naturais
que serão necessários no futuro" (International Institute for Sustainable
Development, 1994, 4). Assim, desenvolvimento sustentável empresarial
orienta a gestão dos recursos de tal modo que podem ser atendidas as
necessidades econômicas, sociais e estéticas mantendo a integridade cultural,
processos ecológicos, diversidade biológica e sistemas de apoio de vida
(Organização de Mundial do Turismo, 1995). Portanto a administração de
eventos deve ter “objetivos econômicos, ambientais e sociais interdependentes
e integrar estes objetivos nas decisões que adota" (IISD 1994:4).

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Para este fim os gestores dos eventos precisam assegurar o


monitoramento consistente e revisar as atividades para detectar problemas e
permitir uma ação que possa prevenir danos futuros mais sérios; minimizar o
uso de recurso ambientais, a geração de lixo e desperdícios usando tecnologias
renováveis; assegurar a conformidade com planos operacionais de
desenvolvimentos; projetar requisitos e condições, padrões e objetivos para o
turismo sustentável provendo incentivos, monitorando conformidades, e
desenvolvendo ações coercitivas quando e onde for necessário; envolver
prioritariamente todos os atores, inclusive a comunidade local, o setor do
turismo e o governo, no desenvolvimento e implementação de planos de
turismo para aumentar o sucesso a longo prazo; elevar a consciência do
princípio das "melhores práticas" em turismo sustentável promovendo a troca
de informação entre os atores participantes; promover ampla compreensão e
consciência para ajudar fortalecer atitudes, valores e ações que são compatível
com as operações de turismo sustentável (Adaptado da UNEP, 2002 por
Presbury e Edwards, 2005).
Adotando corretamente a aplicação das práticas sustentáveis pode
resultar em benefícios significativos para todos os envolvidos com as reuniões
e eventos. O primeiro, e freqüentemente considerado como o mais
importantes, é a economia de recursos através do planejamento cuidadoso de
consumo de energia e redução do desperdício. Este comportamento ambiental
positivo confere seus próprios benefícios através da publicidade local positiva
que em troca pode elevar a imagem do evento ou reunião dando a este um
posicionamento competitivo de mercado.
Em segundo lugar, a adoção de práticas ambientais apela para um novo
mercado de visitantes em crescimento que estão se tornando mais atentos
ambientalmente e podem ser influenciados a participar de eventos e reuniões
através de mensagens ambientais positivas.
Em terceiro lugar, apesar da redução dos custos e do aumento da
receita, o maior efeito positivo a longo prazo está na conservação do meio
ambiente que torna o destino mais atraente e em troca encoraja os visitantes
a voltar.

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Finalmente, para os organizadores dos eventos este tipo de compromisso


com o meio ambiente confirma o respeito da comunidade local como um
parceiro valioso. Incorporar a sustentabilidade nas práticas de gestão dos
eventos exige dos organizadores empregar uma combinação de abordagens
sustentáveis que incluem gestão ambiental, eficiência econômica, e
responsabilidade social e cultural. O primeiro passo deste esforço é educar os
futuros profissionais de reuniões e eventos a incorporar a sustentabilidade na
administração destas atividades. Isto significa que "os benefícios de
implementar iniciativas sociais e ambientais devem ser quantificadas e
expressas na linguagem da empresa" de forma que exista a convicção de
estratégias construtivas para um planeta saudável (Willard 2004).

OS FESTIVAIS
Na literatura da antropologia Falassi apud Simonicca (1997) conceitua
festival como “um evento, um fenomeno social que se encontra virtualmente
em todas as culturas humanas e caracteriza-se como um tempo sacro ou
profano de um personagem, evento ou colheita de um importante produto”.
Consite em uma série de performances artisticas, especialmente dedicada a
um único autor ou um gênero que configura-se em uma situação geral de
alegria, convivência e paz, uma grande festa
A função social que o significado simbólico do festival tem é
estreitamente relacionada a uma série de valores que a comunidade reconhece
como essencial para a própria visão do mundo, da identidade social, da
continuidade histórica e da sobrevivência física, que é, em última análise o que
o festival celebra. Simonicca (1997) destaca que não se trata somente da
dimensão ritual ou religiosa e que portanto o festival pode se definir como uma
celebração pública, com foco temático.
A sociologia sugere que o propósito principal das celebrações coletivas
como festivais e eventos especiais é o de construir coesão social reforçando os
vínculos da comunidade (Durkheim, 2003; Rao, 2001). Os sociólogos discutem
que festivais estão geralmente conectados com eventos culturalmente
compartilhados (Rao, 2001). Festivais demonstram, em forma simbólica, o que
uma sociedade acredita ser vital para sua vida e então, quando um grupo

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social celebra um evento específico ele celebra a si próprio (Turner, 1982).


Assim, festivais e eventos especiais reforçam a identidade social e cultural
através da construção de vínculos fortes com uma comunidade. Esta proposta
é consistente com os resultados de pesquisadores do turismo que sugerem que
este tipo de evento constroi identidade cultural, coesão, troca de idéias, e
aumenta o conhecimento sobre a cultura da região. (Besculides et. Al., 2002).
Evidências sugerem que, como qualquer outro tipo de desenvolvimento
de turismo, festivais e eventos especiais geram custos tais como aumentos de
preços de bens e serviços, um aumento do nível de aglomeração nas lojas e
ruas, tráfego congestionado e problemas de estacionamento (Jeong &
Faulkner, 1996). Vários estudos relatam que os residentes percebem o
aumento e congestionamento do tráfego e a pressão nos serviços locais como
os dois dos principais problemas criados pelas atividades do turismo (Gursoyet
et al., 2002; Tosun, 2002). Muitos investigadores que examinaram o vínculo
entre a percepção de impactos sociais negativos e o apoio para o
desenvolvimento de turismo informaram que há uma relação negativa entre os
impactos sociais negativos e as percepções residentes sobre o
desenvolvimento do turismo (Gursoyet et al., 2002; Tosun, 2002).
O CARNAVAL
O carnaval surge de uma decisão cristã ligada à Quaresma, quando o
clero decretou quarenta dias de penitência antes da chegada da Semana Santa
para que as pessoas se livrassem dos prazeres da carne (tanto nutricional
quanto física). O povo logo encontrou uma forma de se divertir e se entregar
aos prazeres da vida até o começo da mais absoluta abstinência. Assim, a
Quaresma que tinha seu início demarcado fixamente em uma quarta-feira, a
Quarta-feira de Cinzas, passou a ser antecipada por uma terça-feira de
grandes festejos. O Carnivale como era chamado, deu origem então, a “Terça-
feira Gorda” e ao próprio Carnaval, que com o passar dos anos ganhou mais
uns dias de festa devido a alegria e animação dos participantes.
No Brasil, o Carnaval foi trazido pelos portugueses entre as várias
maneiras de festejo. Segundo Cunha (2005), a festa popular denominada
“entrudo” foi introduzida em 1723, por imigrantes portugueses das ilhas da
Madeira e Açoures. De lá para cá, além de adquirir características nacionais, a

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celebração também foi imbuída de aspectos regionais se desenvolvendo


fortemente, sob o prisma financeiro e midiático, sendo entendido muitas vezes
como uma festa de inversão (DA MATA, 2001).
É importante ressaltar que há festas que possam lembrar o carnaval,
mas não podem ser confundidas por “carnaval” e sim por carnavalização que
são festas com muitas bebedeiras, orgias sexuais e brincadeiras, passaram
pelas civilizações mesopotâmicas, egípcias, gregas e romanas. É comum
confundir essas festas com o carnaval, pelo fato de se ter quebra de
comportamentos usuais, com desenvolvimento de atividades pouco comuns
em outros eventos, com alegria exagerada, elementos carnavalescos
característicos, muitos passam a designar qualquer festa deste tipo como
sendo carnaval. Em ambos os casos, o carnaval e a carnavalização se
apresenta como uma tensão dos criadores e construção cultural, abrindo
portas da folia tradicional às novidades e novas propostas, que são mais claras
principalmente quando há a relação com o turismo. É já que é notório dentro
da linha histórica tal associação, mais especificamente ao turismo cultural que
tem o papel de aquecer a economia local, de preferência, principalmente de
forma sustentável.

3. METODOLOGIA

A pesquisa que foi base deste trabalho pode ser considerada de


características descritivas, uma vez que os eventos foram descritos desde sua
criação, experimentais uma vez que este é inédito com este foco e
interdisciplinar uma vez que está sob o olhar do turismo, da sociologia, e da
antropologia. Utilizou-se de pesquisa social através do uso da técnica da
entrevista de profundidade, não estruturada e as questões totalmente abertas,
no período de julho de 2007 e 2008 com atores do turismo na cidade tais como
o Prefeito Municipal, o Secretário de Turismo, Secretário de Obras, Ministério
Público Estadual através da Assessoria de Comunicação Social e o
representante do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)
– por Ouro Preto ter elementos tombados por esta agência estatal – a Polícia
Militar através da Assessoria de Relações Públicas, Presidente da Associação
Comercial de Ouro Preto, e bibliográfica na busca pela informação formal nas
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publicações de livros e artigos científicos em sua grande maioria no exterior


uma vez que no Brasil são poucas as publicações voltadas para o tema.
Através das notícias jornalísticas na Internet que no Google perfizeram um
universo de 21.100 sites com o tema “Carnaval de Ouro Preto” e 54.000 com o
tema "Festival de Inverno de Ouro Preto" que foi feito um recorte para as
notícias dos anos de 2007 e 2008 preferencialmente nos sites de jornais como
O Globo, Estado de Minas e Folha de São Paulo. Além das formas acima esta
pesquisa foi feita por observação direta durante os eventos mencionados, ou
seja, o Carnaval e o Festival de Inverno no período de 2007 a 2008.
Este estudo se aproxima das pesquisas exploratórias uma vez que
proporciona uma nova visão a respeito dos eventos e relaciona-se com a
atuação prática. Para complementar e enriquecer esta pesquisa as autoras
participaram dos eventos analisados como observadoras e como
experimentação.

O CARNAVAL DE OURO PRETO


Desde 1867, Ouro Preto é dominada pelo ritmo do Carnaval e a data é
importante para a cidade, pois é o momento em que a cidade fica mais cheia,
aumentando a geração de emprego e renda, na opinião do Secretário Municipal
de Turismo.
O Carnaval da cidade se baseia principalmente nos blocos. Um dos
principais representantes da tradição do Carnaval ouropretano é a ala Zé
Pereira dos Lacaios. Hoje, o clube é parte da cultura local, graças a um
português chamado José Nogueira Paredes, residente no Rio de Janeiro na
época do Império. Decidido a participar da folia carioca, em 1846 ele abriu o
primeiro dia de Carnaval desfilando pelas ruas do centro. A idéia agradou e
atrás do novo bloco passaram a seguir uma turma de foliões e músicos,
responsáveis pela abertura da festa. Em 1867, a novidade foi transferida para
Ouro Preto junto com seu fundador, que veio trabalhar no Palácio do Governo.
Nascia o Bloco Zé Pereira Clube dos Lacaios, organizado por funcionários do
Palácio. O nome Lacaios é uma referência aos colegas puxa-sacos e seus
fraques, cartolas e lanternas, que se tornaram marca registrada do bloco
ouropretano. Por sua importante histórica para o Carnaval e, também, para a

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cidade de Ouro Preto, o bloco recebe apoio da Prefeitura para garantir a folia.
Tem atualmente cerca de 50 membros e a filiação é quase hereditária.
Outro bloco tradicional do Carnaval de Ouro Preto é a BAFO (Bandalheira
Folclórica Ouro-Pretana) (Fig. 1). Os participantes saem vestidos de calça
preta, camisa branca, penico esmaltado na cabeça, um rolo de papel higiênico
na cintura e marcham pelas ruas em ritmo militar acelerado. Já o bloco
“Conspirados”, Fundado em 1999, representa o grande desejo da sociedade
por uma volta ao espírito dos antigos carnavais, com a inocência das
marchinhas e das fantasias, resgatando o espaço público tomado pela agitação
da vida moderna, do trânsito e da correria.

FIG 1 – DESFILE DO BLOCO BAFO (MUNDOMULHER, 2007)

As antigas tradições carnavalescas são muito respeitadas em Ouro Preto


e nos últimos anos, além dos tradicionais blocos, músicos do Instituto de
Filosofia, Arte e Cultura da UFOP, através do Projeto Candongueiros,
recordaram marchinhas antigas e tocam composições de autores locais, em
shows que acontecem todos os dias do Carnaval, no Largo da Alegria. Em
outros pontos da cidade também é feita seleção das músicas tradicionais.
Os espaços urbanos mais utilizados no carnaval em Ouro Preto são: a
Praça Tiradentes, Largo do Cinema e Largo da Alegria, onde são realizados
shows gratuitos. O Secretário Municipal de Turismo relatou que além desses
locais, o estacionamento da escola Dom Pedro também foi criado como mais
uma opção, visando o deslocamento do centro histórico das grandes multidões
e como conseqüência preservar o patrimônio construído.

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O representante do Ministério Público (MP) em Ouro Preto relatou que o


órgão vem realizando um trabalho cuidadoso desde 1999, devido à visível
degradação na cidade e quando uma Ação Civil Pública já cobrava um projeto
para realização do carnaval. Esta sentença determinava que o município se
abstivesse de promover, cooperar, patrocinar ou autorizar a colocação de som
mecânico nos locais do carnaval.
Relata o representante do MP, que desde 2004, foi instaurada uma
apuração preliminar com objetivo de verificar os impactos que a festa
carnavalesca poderia causar ao patrimônio histórico. O procedimento foi
instaurado em atenção à solicitação da comissão Transitória e de Organização
do Carnaval de 2005, que solicitava orientação do MP para que fosse elaborado
um projeto para a realização do carnaval. Entretanto, as festividades de 2005
foram realizadas sem o cumprimento do compromisso onde se destaca a
limitação de integrantes nos blocos carnavalescos.
Para a realização dos carnavais de 2006 e 2007 foram celebrados novos
Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), nos mesmos termos. Novamente
eles não foram cumpridos pelo município. Em 2007 a prefeitura e a
organização do evento retiraram parte da festa do centro histórico, por onde
passaram apenas os blocos caricatos. Outra medida adotada foi a restrição do
número de hóspedes nas repúblicas, sob possibilidade de punição. Segundo o
Secretário do Turismo, foi pedido aos responsáveis o recolhimento do Imposto
Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN), mas a adesão só aconteceu por
parte das repúblicas particulares onde o número de hóspedes é infinitamente
menor por não se localizarem nas principais ruas do centro histórico. Tal
procedimento parece viável pelo perfil do turista que freqüenta o carnaval, em
sua grande maioria possui renda suficiente para contribuir financeiramente aos
ônus causados pelo Carnaval.
Durante o período do Carnaval nos anos de 2005 e 2006 o NUPETUR
(Núcleo de Pesquisas e Estudos Avançados) (Flecha et al., 2006) fez
levantamento do perfil do turista e comprovou que 52,8% eram mulheres,
solteiras (62%) com o grau superior incompleto (68,3%), até 30 anos
(65,1%), 61,3% possuíam renda familiar até 3.000,00 reais, 65,5% dos
visitantes visitou OP até duas vezes, originários do estado de Minas Gerais

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(48,3%), Rio de Janeiro (16,5%) e São Paulo (22,2%). Estes visitantes


viajaram em grupo (51,3%) de de até cinco pessoas (61,3%), organizaram
sua viagem sem a ajuda de agência de viagens (94,3%), utilizando o telefone,
a Internet e os sites das republicas estudantis (52,1%). O meio de transporte
mais utilizado foi carro próprio e ônibus regular (88,6%) e viajaram em
companhia de pequenos grupos de amigos e familiares (74,6%).
A relevância dos resultados do perfil do turista possibilita o
direcionamento das tomadas de decisões do setor turístico em contato com seu
mercado e orienta o governo local e a iniciativa privada com políticas públicas
para o carnaval tais como: o desvio do fluxo de pessoas do centro histórico,
limitação do número de foliões por bloco sujeito a multas, para que desta
forma haja maximização dos benefícios proporcionados pelo carnaval e a
minimização dos impactos negativos causados por este. Em 2008 já se pode
observar mudanças no carnaval como projetos técnicos de prevenção e
combate a incêndio e pânico, elaboração de relatório acerca dos ruídos e
vibrações, instalação de postos médicos, ambulâncias dispostas em locais
estratégicos, reforços no número de servidores do Corpo de Bombeiros e das
polícias Civil e Militares, instalação de barracas padronizadas para venda de
bebidas e alimentos que recebem a atenção de órgãos de Vigilância Sanitária,
banheiros químicos e a criação do "Espaço Folia". Fora do centro histórico, o
espaço se resume em um conjunto de shows e dividido em área vip, camarotes
e pista, com cobrança de ingresso e espaço aberto ao público.
O Secretário de Turismo ressaltou tais ações tiveram o objetivo de
aumentar o conforto e a segurança dos turistas ao mesmo tempo que
promover a descentralização do público do centro histórico, que vinha sendo
muito castigado pelo trânsito intenso de pessoas no carnaval.
Apesar das tentativas de adequar a folia ao espaço da cidade, o Prefeito
relatou que a população apresentou uma forte intenção de reduzir pela metade
o número de foliões no Carnaval. A maneira como a redução será feita ainda
será estudada por uma força-tarefa e em janeiro de 2008 foram apontadas as
primeiras iniciativas durante audiência pública na Câmara Municipal. Algumas
propostas foram de reduzir o número de bandas da Bahia e a de modificar a
divulgação do evento em Minas e fora do Estado. O Prefeito destacou que o

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objetivo da Câmara Municipal foi definir qual o tamanho e tipo do Carnaval que
a população quer para a cidade de Ouro Preto.
No centro histórico moram cerca de 40 mil pessoas, e no Carnaval são
obrigadas a dividir o espaço com mais 30 mil por dia da festa, o equivalente a
dois terços da população que vive no centro histórico, afirmou o representante
da Polícia Militar. O Prefeito ressaltou que o número de foliões tem crescido a
cada ano e que não havia uma discussão preventiva dos problemas e propôs
uma conversar informal com os blocos em busca de uma conciliação.
Além dos integrantes da Câmara Municipal, da Prefeitura Municipal e do
Ministério Público, o diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) em Ouro Preto, relatou que o Carnaval, da forma como
ocorre no centro histórico, provoca vários impactos negativos e o evento deve
ser repensado para não destruir o que ainda está preservado. O diretor do
IPHAN ressaltou ainda que, além da sujeira, o maior problema é o número de
caminhões de cerveja que trafegam sem restrição pelas ladeiras e provocam
rachaduras nos casarões devido a trepidação resultante da movimentação dos
veículos, pois abala a estrutura das casas e faz surgir fissuras que colocam em
risco os imóveis. Destaca ainda que o ideal seria a retirada de todos os eventos
do centro histórico e que a descentralização ajudou, mas ainda é pouco.

FESTIVAL DE INVERNO DE OURO PRETO


O primeiro Festival de Inverno de Ouro Preto ocorreu em 1967 e foi
formatado inicialmente por um grupo de professores da escola de Belas Artes
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com o intuito de levar a arte
à coletividade. Em 1980 o evento não aconteceu. No ano seguinte, a UFMG
retomou o seu Festival com contornos mais poéticos, passando a ser realizado
estrategicamente em Diamantina, longe da efevercência ouropretana. O
Festival de Inverno de Ouro Preto voltou em 1993, sendo uma iniciativa da
própria UFMG. Nos anos seguintes, até 1999, a UFMG se manteve a frente do
Festival, deixando-o novamente em 2000. A partir daí, surgiram três festivais:
Festival de Inverno da Prefeitura de Ouro Preto, Festival de Inverno do Uni-BH
(Centro Universitário Belo Horizonte) e, a partir de 2004, o Festival de Inverno
– Fórum das Artes, realizado pela Universidade Federal de Ouro Preto, que

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ressurgiu como um projeto de extensão universitária. O Festival se consolidou


com uma proposta diferenciada de refletir sobre arte e cultura, articulando
preservação e inovação. Em 2005, o evento passou a denominar-se Festival de
Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes, com a participação das
Prefeituras Municipais destas cidades devido a extrema proximidade (20 km).
Em sua nova formatação, sob a égide da Universidade Federal de Ouro
Preto (UFOP), a cada ano é escolhido um personagem (arquétipo que se
destacou na história e no imaginário popular dessas cidades) e um tema,
contando com a participação da sociedade de forma direta ou indireta. O
Festival busca contribuir com o desenvolvimento local, por meio da
democratização da cultura e da possibilidade de engajamento das comunidades
anfitriãs. Nesse sentido, o Festival tornou-se um evento “de” Ouro Preto, ao
invés de um evento “em” Ouro Preto. Em 2005 o número de inscrições em
oficinas foi de 3.236 e 219.246 pessoas se inscreveram ou participaram dos
eventos, 24.428 pessoas participaram das exposições perfazendo um total
246.910 pessoas que participaram do Festival de 2005. O Festival superou
todas as expectativas, inicialmente, a previsão era de duplicar o público da
edição de 2004, que foi de 43.220 pessoas. Contudo, foi atingido um público
de 246.910 pessoas, isso significa um crescimento na ordem de 571%.
A intensa divulgação e a ampla cobertura da imprensa, somadas à
qualidade da programação e à gratuidade da maior parte das atividades
explicam em parte esse sucesso de público. Junto com a articulação da
Universidade Federal de Ouro Preto e das Prefeituras Municipais de Mariana e
Ouro Preto, houve o envolvimento da população local, a qual encontrou no
Festival uma excelente oportunidade de acesso à arte e à cultura, além de
perceber o evento como fator positivo para o desenvolvimento da economia
das duas cidades, como foi atestado através de pesquisa de opinião realizada
pelo NEASPOC (Núcleo de Pesquisa de Opinião da Universidade Federal de
Ouro Preto). Desse modo, o Festival foi mais que uma mostra de arte e
cultura. O evento significou a concretização do conceito central de promoção
da preservação do Patrimônio articulada ao desenvolvimento econômico, com
ampla participação da população.

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Segundo o Presidente da Associação Comercial de Ouro Preto a ocupação


dos hotéis no mês de julho aumentou em 50%. Durante o ano, em média, a
permanência média dos turistas não chega a dois dias. No período do Festival
de Inverno, a permanência na cidade sobe para 2,5 dias por pessoa. A
população, satisfeita com o Festival, gerou uma imagem positiva do evento,
resultando em fator importante para o aumento do número de turistas e de
seu tempo de permanência e retorno na cidade.
Durante o período do Carnaval nos anos de 2005 e 2006 o NUPETUR
(Núcleo de Pesquisas e Estudos Avançados) (Flecha et al., 2006) fez
levantamento do perfil do turista e constatou que 53,9% dos turistas que
visitam Ouro Preto são do sexo feminino, com faixa etária acima de 30 anos
(47,7%), casados (47,7%), com o grau superior completo e com pós-
graduação (56,1%), com renda familiar acima de 3.000,00 reais (52,7%),
61,3% dos visitantes visitou OP mais de cinco vezes, geralmente em grupos
(64,1%) que organizaram a viagem sem a ajuda de agências de viagens
utilizando o telefone (68,7%) e 61,8% se hospedou em pousada e hotéis. A
permanência média deste turista foi de até três dias (82,4%) e classificou o
preço das diárias entre mediano (42,1%) e alto (27,1%) predominando a faixa
de valor de 50,00 até 120,00 reais (30%). A grande maioria (73,9%) se
alimentou nos restaurantes e classificou o preço da alimentação entre mediano
(57,4%) e alto (26,1%) e as compras também entre mediano (41,9%) e alto
(30,3%) predominando a faixa de valor de 15,00 a 30,00 reais (50%). Quanto
ao entretenimento os valores gastos variaram na faixa de 10,00 a 50,00 reais
(78%). Sendo assim, percebe o retorno financeiro que o Festival traz para os
comerciantes locais. Sendo assim, percebe o retorno financeiro que o Festival
traz para os comerciantes locais.
O patrimônio construído foi avaliado como ótimo e bom (museus
(89,1%), igrejas (92,4%) e monumentos históricos (88,1%)). Por meio de
pesquisas como estas é possível revelar aspectos e problemas relacionados
não só ao Festival como também à cidade de Ouro Preto, com intuito de
apontar alternativas de preservação.

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4. CONCLUSÃO
Por meio das pesquisas realizadas, pode-se construir um cenário dos dois
eventos que são marco do calendário de eventos da cidade de Ouro Preto: o
Carnaval de Ouro Preto e o Festival de Inverno. Estes eventos impactam a
cidade de Ouro Preto de formas distintas em função da natureza de cada um.
No Carnaval observa-se que o turista é mais jovem (até 30 anos) enquanto no
Festival de Inverno é de pessoas um pouco mais velhas e com família. Todos
os dois turistas viajam em grupos e no Festival de Inverno caracteriza-se por
turistas freqüentes, com um índice de retorno de até cinco vezes enquanto o
turista do Carnaval este índice é de até duas vezes. O perfil interfere também
na permanência e nos gastos do turista, enquanto no Carnaval ele gasta com
uma diária muito baixa e utiliza pouco os restaurantes e pousadas pois fecha
“pacote” com a república estudantil que incluem o pernoite e bebidas alcoólicas
liberadas, o turista do Festival de Inverno tem uma permanência em pousadas
e freqüenta os bares e restaurantes da cidade.
São também diferentes a renda e o nível de instrução, enquanto o
Carnaval caracteriza-se por estudantes de nível superior incompleto no Festival
de Inverno são pessoas já formadas e com pós-graduação. Neste sentido,
observa-se um ganho maior para o comercio local em julho, já que os
participantes dos festivais têm a possibilidade de maiores gastos.
Não obstante as diferenciações de rendas, a Prefeitura da cidade realiza
melhorias nos dois eventos. Nota-se um cuidado crescente como o Patrimônio
Cultural edificado, já que a localidade mantém o título de Patrimônio da
Humanidade desde a década de 1980. Os cuidados dos órgãos dirigentes
também são ampliados para sinalizações turísticas, trânsito, policiamento,
cuidados médicos, dentre muitos outros como apontado nos questionários.
O que é inegável, como já afirma a bibliografia que tange o tema
eventos, são as inúmeras possibilidades econômicas e culturais que o carnaval
e o festival apresentam para a cidade. No viés econômico não foi possível
como a pesquisa realizada perceber números absolutos que mostram um
crescimento, mas pela fala dos entrevistados, há um grande aumento no fluxo
de turista que supera até mesmo o carnaval que é concentrado em quatro dias
enquanto o Festival de Inverno de até vinte dias.

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No âmbito cultural é nítido o esforço para a valorização da identidade


local por meio da manutenção dos tradicionais blocos carnavalescos,
entretanto observa-se um resultado mais efetivo no Festival de Inverno que
dão ênfase aos temas da cultura brasileira e mineira uma vez que são o foco
da atenção do público interno e externo permitindo a participação de todos
com valores baixíssimos de participação nos inúmeros eventos (cinco reais).
Além de tais fatores e apesar da participação da população ouropretana
em ambos os eventos, em várias entrevistas é nítida a maior participação do
turista na carnavalização que no Carnaval propriamente dito e o esforço tanto
do poder público quanto privado para minimizar os impactos negativos do
Carnaval. É nítida também a preocupação, no Festival de Inverno, da inclusão
social local e a busca pela sustentabilidade da localidade através de ações
promovidas pelo evento que depende maciçamente da participação local para
sua viabilidade continua.

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