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FUTEBÓIS DO NORTE
Setor Norte - Futebol e Ciência – ano 1
Edição 1
Belém-PA
RFB Editora
2022
© 2022 Edição brasileira
by RFB Editora
© 2022 Texto
by Autor
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Diagramação Produtor editorial
Worges Editoração Nazareno Da Luz
Capa
Adenirson Sandres Oliver Oliveira
Revisão de texto
Os autores
https://doi.org/10.46898/rfb.9786558893134
Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166
F996
Livro em PDF
194 p.
ISBN: 978-65-5889-313-4
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134
CDD 796.33409811
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................9
Felipe Carlos Damasceno e Silva
Aline Meriane do Carmo de Freitas
Luciney Araújo Leitão
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.0
PARTE I
ARTIGOS CIENTÍFICOS....................................................................................................12
CAPÍTULO 1
PATRIMÔNIO CULTURAL DA AMAZÔNIA PARAENSE: REMO E PAYSAN-
DU..........................................................................................................................................13
Wanessa Pires Lott
Ana Larissa Brito de Andrade
Danielle da Silva Gomes
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.1
CAPÍTULO 2
O FOOTBALL NO PARÁ: TEAMS, SPORTMEN E FIELDS NO ALVORECER DO
FUTEBOL PARAENSE.........................................................................................................27
Rafael Matos de Carvalho
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.2
CAPÍTULO 3
NOVOS RUMOS NO PAYSANDU SPORT CLUB: ASCENSÃO E DECLÍNIO DE
UM MOVIMENTO (2013-2021)...........................................................................................45
Rodolfo Silva Marques
André Silva de Oliveira
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.3
CAPÍTULO 4
PIONEIRISMO, DECLÍNIO E RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO DAS
DÉCADAS (1917- 2019).........................................................................................................59
Luiz Gabriel Gomes Monteiro
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.3
CAPÍTULO 5
BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL.........77
Wagner Xavier de Camargo
Flávio Cavalcanti Pinto do Amaral
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.5
CAPÍTULO 6
A PRESENÇA DA MULHER NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL EM BELÉM DO
PARÁ (2010 - 2017).................................................................................................................95
Beatriz Reis Mendes
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.6
CAPÍTULO 7
INVASÕES DE CAMPO POR TORCEDORES NA VOLTA AOS ESTÁDIOS: UMA
REFLEXÃO DO NORTE AO SUL DO BRASIL............................................................107
Gabriel Lima da Conceição Ribeiro
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.7
CAPÍTULO 8
TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL EM BELÉM/PA: FESTA, VIOLÊNCIA
E SOLIDARIEDADE...........................................................................................................125
Samuel Rodrigues da Costa Melo
Glaucy Learte da Silva
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.8
CAPÍTULO 9
O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A
COBERTURA DO ESPORTE ...........................................................................................137
Magno da Câmara Fernandes
Arcângela A. Guedes de Sena
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.9
PARTE II
RELATOS DE EXPERIÊNCIA...........................................................................................160
CAPÍTULO 10
“SE TIRAR A TORCIDA, O YPIRANGA SE ESVAZIA, PERDE O CORAÇÃO”
UMA ETNOGRAFIA DOS TURBINADOS DA TORRE............................................161
Marcus Vinicius Brito Guedes
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.10
CAPÍTULO 11
A PIADA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA CONQUISTA DE UM SONHO........173
Cássia Almeida Gouvêa
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.11
PARTE III
TEXTOS JORNALÍSTICOS...............................................................................................178
CAPÍTULO 12
ANDIRÁ COMPLETA 57 ANOS DE FUNDAÇÃO ....................................................179
Manoel Façanha
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.12
CAPÍTULO 13
MANÉ GARRINCHA EM PARINTINS/AM 1973........................................................187
José Brilhante
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.13
ÍNDICE REMISSIVO..........................................................................................................192
Apresentação: Chegamos para nortear as
pesquisas sobre os Futebóis do Norte do
Brasil
Felipe Carlos Damasceno e Silva1
Aline Meriane do Carmo de Freitas2
Luciney Araújo Leitão3
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.0
Não será o futebol muito importante para ser deixado exclusivamente nas mãos de seus pro-
tagonistas tradicionais?
10
fenômeno das invasões no contexto de retorno do público aos estádios após meses
de ausência em decorrência das medidas de combate ao avanço da COVID-19, dando
ênfase aos variados tipos de violência acionados por tais práticas.
Samuel Rodrigues da Costa Melo e Glaucy Learte da Silva, no texto “Torcidas
organizadas de futebol em Belém-PA: Festa, violência e solidariedade”, abordam as
formas de organização das duas principais torcidas organizadas de Belém-PA, Remo-
çada e Terror Bicolor – grupos antagônicos –, evidenciando a atmosfera de solidarie-
dade interna desses movimentos e a violência urbana resultante de embates entre eles.
Magno da Câmara Fernandes e Arcângela A. Guedes de Sena, no artigo “O
imaginário na narração esportiva: Rádio Clube do Pará e a cobertura do esporte”, dis-
cutem a relação entre narradores e ouvintes de uma rádio esportiva do estado do Pará.
Iniciando os relatos de experiência, temos Marcos Vinicius Brito Guedes com
o trabalho “Se tirar a torcida, o Ypiranga se esvazia, perde o coração: uma Etnografia
dos Turbinados da Torre”. Neste texto, o autor discorre, por meio de um relato etno-
gráfico, sobre a trajetória da maior torcida organizada do Amapá, com ênfase na his-
tória de torcedores fundadores, como Eron Dias – o Punk, e na forma como a torcida é
instrumento de luta pelo fortalecimento do futebol do estado.
No texto “A Piada: relato de experiência da conquista de um sonho”, Cássia
Almeida Gouveia constrói uma narrativa dos caminhos trilhados pelo time feminino
da ESMAC, narrando os bastidores vivenciados pelas atletas durante a disputa do
Campeonato Brasileiro da segunda divisão, em 2021, que levou o clube de desacredi-
tado ao único representante do Norte na elite do futebol feminino do Brasil.
Para abrir o espaço destinado aos textos jornalísticos, temos Manoel Façanha
com o trabalho “Andirá completa 57 anos de fundação”. Nele, Façanha discorre a res-
peito de um dos clubes mais charmosos do Acre. Através de sua atuação na fotojorna-
lismo, o autor constrói uma narrativa da fundação do clube passando por memórias
que marcaram a trajetória do morcego acreano. Já José Brilhante apresenta a narrativa
de uma das muitas passagens de Mané Garrincha pelo Brasil no trabalho “Mané Gar-
rincha em Parintins/AM – 1973”. Neste texto, o autor narra o clássico tupinambarana
entre Amazonas x Sulamérica, em que o craque brasileiro vestiu um manto parintinen-
se em cada tempo da partida.
Boa leitura!
11
PARTE I
ARTIGOS CIENTÍFICOS
CAPÍTULO 1
PATRIMÔNIO CULTURAL DA
AMAZÔNIA PARAENSE: REMO E
PAYSANDU
Wanessa Pires Lott1
Ana Larissa Brito de Andrade2
Danielle da Silva Gomes3
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.1
RESUMO
Palavras chaves: Futebol, Patrimônio Imaterial, Clube do Remo, Paysandu Sport Club
1 INTRODUÇÃO
14
FUTEBÓIS DO NORTE
2 REVISÃO DA LITERATURA
15
PATRIMÔNIO CULTURAL DA AMAZÔNIA PARAENSE: REMO E PAYSANDU
16
FUTEBÓIS DO NORTE
17
PATRIMÔNIO CULTURAL DA AMAZÔNIA PARAENSE: REMO E PAYSANDU
18
FUTEBÓIS DO NORTE
Com o avanço dos machts – como eram também chamados os jogos –, criou-se
uma entidade local para organizar o futebol: a Parah foot-ball Association. Com preceitos
fortemente ingleses, a organização das partidas pretendia seguir o calendário esporti-
vo da Inglaterra, fato que não foi possível. Devido a esse e a outros problemas internos,
a entidade foi desfeita e fundou-se Liga Paraense de Foot-Ball, que propiciou o primei-
ro Campeonato Paraense em 1908, com cinco times: União Esportiva – o campeão –,
Aliança, Panther Club, Brazil Sport Club e Sport Club do Pará. Apesar do sucesso local
do primeiro campeonato paraense, de forma diferente dos estados do Rio de Janeiro e
de São Paulo, no Pará, o futebol não seguiu uma linha ascendente desde sua entrada,
não ocorrendo o campeonato estadual nos anos de 1909, 1911, 1912 (COSTA, 2007). A
ascensão do futebol paraense ganhou força com a reorganização do Clube Remo em
1911 e com a criação do Paysandu Sport Club em 1914. Nesse ano, a formação do clube
foi destaque na imprensa local.
19
PATRIMÔNIO CULTURAL DA AMAZÔNIA PARAENSE: REMO E PAYSANDU
Julgo e quero crer mesmo que a creação do Paysandu Fott-Ball Club produziu no
momento atual produziu um bellíssimo efeito, haja vista como foi optimamente aco-
lhida pela imprensa quase unânime dessa capital, e a extraordinária sympatia que
despertou dos nossos homens de sport (ESTADO DO PARÁ, 1914: 03).
Como dito, a preservação de bens culturais no Brasil teve início efetivo com
a criação do IPHAN na década de 1930, que, por sua vez, pautou-se em uma política
de salvaguarda voltada para os bens culturais móveis e imóveis. Na década de 1970,
20
FUTEBÓIS DO NORTE
21
PATRIMÔNIO CULTURAL DA AMAZÔNIA PARAENSE: REMO E PAYSANDU
O título de patrimônio cultural dado aos referidos times, bem como o clássico
esportivo, nos traz à luz a ampliação do conceito de patrimônio fortemente trabalhado
a partir da década de 1970. Cabe ressaltar que o Re x Pa faz parte da memória esporti-
va local, o próprio Paysandu foi criado para derrotar nas quatro linhas o rival Remo.
Ademais, no decorrer da história, as aglomerações provocadas por essa partida mes-
claram a sociedade, ocasionando na constituição do futebol como um espaço de dis-
putas políticas locais. Ou seja, o futebol é uma esfera que permeia os demais espaços
socioculturais, em uma amálgama que conduz à forte construção identitária brasileira.
No entanto, é válido ressaltar que o título de Patrimônio Cultural é um reco-
nhecimento da relevância dos clubes e do clássico, mas não se trata de um Registro à
luz das resoluções do IPHAN. Acreditamos que um prosseguimento profícuo para tais
elementos culturais seria a abertura de um processo de Registro, seguindo todos os
degraus para um estudo aprofundado dos times e do clássico esportivo, e consequente
anuência do Conselho de Patrimônio.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como foco primeiro a questão do futebol como mani-
festação cultural brasileira, entendendo essa prática para além das quatro linhas do
campo. Por estar intrinsecamente vinculado à sociedade brasileira, acreditamos que o
futebol é parte da construção da memória e da identidade do país. Assim, a identifi-
cação desse como Patrimônio Cultural nacional se faz como um caminho assertivo e,
para tal, é importante entendermos os processos cabíveis para o reconhecimento dos
bens culturais como bens patrimoniais. Dessa maneira, optamos por traçar nesse texto
uma breve trajetória das ações e políticas de salvaguarda no Brasil, com destaque para
os processos relacionados como o Patrimônio Cultural Imaterial, que ganhou proemi-
nência principalmente a partir dos anos 2000, com a promulgação do Decreto nº 3.551,
de 4 de agosto de 2000. Dentre as possibilidades de bens culturais abraçadas pelo Pa-
trimônio Imaterial, destacamos o futebol, utilizando como exemplo dois times da ci-
dade de Belém do Pará, o Remo e o Paysandu, bem como o clássico futebolístico que
encanta a Amazônia Paraense: Re X Pa. Esses elementos culturais receberam o reco-
nhecimento local de Patrimônio Cultural e, apesar de não estarem, até então, inscritos
nos Livros de Registro, acreditamos que os times e o clássico apresentam argumentos
relevantes para tal inserção.
22
FUTEBÓIS DO NORTE
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Jocely e Barros, Tiago Uma breve história do football na Amazônia. Revis-
ta Amazônia Viva ed. 34, junho de 2014.
COSTA, Ferreira da. A enciclopédia do futebol Paraense Belém: Halley Gráfica e Edi-
tora, 2007.
DAMATTA, Roberto O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1984.
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PATRIMÔNIO CULTURAL DA AMAZÔNIA PARAENSE: REMO E PAYSANDU
LOTT, Wanessa Pires Tem festa de negro na República branca: o Reinado em Belo
Horizonte na Primeira República. [tese] Belo Horizonte (MG): Universidade Federal
de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em História, 2017.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva, forma e razão da troca nas sociedades arcaicas.
In: MAUSS, Marcel Sociologia e antropologia vol. 2. São Paulo: EPU/EDUSP, 1974.
MELO, Victor Andrade PERES, Fabio Faria Sport: Laboratório de História do Es-
porte e do Lazer - projetos de patrimônio esportivo Museologia e Patrimônio, Vol.
14, nº 1, 2021 https://doi.org/10.52192/1984-3917.2021v14n1p272-287. Acesso dia
08/11/2021.
PARÁ. Lei n. 7.695, de 3 de janeiro de 2013. Declara o Paysandu Sport Club integrante
do patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado do Pará, 2013b.
PARÁ. Lei n. 8.358, de 2 de maio de 2016. Declara como patrimônio cultural de natu-
reza imaterial do Estado do Pará o clássico de futebol RE x PA, 2016.
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FUTEBÓIS DO NORTE
SANTOS, Flávia da Cruz e LOTT, Wanessa Pires O lugar do esporte na política de pa-
trimônio da PBH Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizon-
te vol. 7 nº 7, Belo Horizonte: PBH e FMC, 2020. Disponível em https://issuu.com/
apcbh/docs/reapcbh_v7_2020_3770a3ae6e0ac4 Acesso dia 08/11/2021.
TOBAR, Felipe Bertazzo e GUSSO, Luana de Carvalho Silva Tras los bastidores de
la patrimonialización cultural del fútbol brasilero en siglo XXI Em Questão; v. 24,
n. 2 maio/ago; 434-467, 2018. Disponível em https://brapci.inf.br/index.php/
res/v/10215 Acesso dia 08/11/2021
25
CAPÍTULO 2
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.2
RESUMO
E ste artigo tem por objetivo apresentar como ocorria a prática do futebol no
início no estado do Pará, no início do século XX. A prática deste esporte
esteve presente no contexto de modernização da sociedade paraense, que tinha aspi-
rações econômicas e culturais europeias e que abraçou o nascimento da cultura física
como característica do processo civilizador implantado em Belém ainda como herança
do seu período áureo do ciclo da borracha conhecido como Belle Époque.
Se entre os anos de 1910 e 1929 o futebol era um esporte que se restringia as
camadas mais abastadas da sociedade, nos anos 1930 é que o futebol passou realmente
a ter grande adesão por parte das classes populares.
Como fontes desta pesquisa, estão os periódicos das primeiras décadas do sé-
culo XX, como o “O Estado do Pará”, “A Folha do Norte”, “A Província do Pará”. Com
a leitura de vários textos de cronistas esportivos do período, foi observado o quanto
foi relevante o papel exercido pela imprensa da época, que por meio da cobertura dos
eventos esportivos, críticas, sugestões e apelos em prol do desenvolvimento do fute-
bol, foram fundamentais na consolidação do futebol como principal esporte do país.
Analisaremos neste artigo quais os clubes pioneiros, as primeiras ligas de fute-
bol, os entusiastas do futebol, chamados de sportmen e os campos de futebol que mar-
caram o alvorecer do futebol no Pará e em como estes contribuíram para a construção
de uma identidade regional própria, marcada principalmente pelo tradicional clássico
do futebol paraense, o RexPA.
INTRODUÇÃO
28
FUTEBÓIS DO NORTE
Entre os anos de 1910 e 1929 o futebol era um esporte que se restringia as ca-
madas mais abastadas da sociedade. Nos anos 1930 é que o futebol passou realmente
a ter grande adesão por parte das classes populares. (GAUDÊNCIO, 2003). Destaca-se
a prática do futebol, que no início do século XX começa a se tornar o principal esporte
praticado na sociedade paraense em busca do ideal de civilização tão ambicionado pe-
las elites. Mas se inicialmente o futebol era um esporte monopolizado pelas elites, no
decorrer dos anos este esporte passa a ter grande adesão por parte das classes popula-
res e como veremos, esse crescimento de popularidade foi intensamente estimulado.
Ao se tornar o principal esporte praticado no cotidiano paraense, o futebol
passa a ser visto como um excelente meio para também gerar lucros, principalmente
através de patrocínios e anunciantes que apareciam nos jornais. O esporte se fez pro-
paganda, gerando mensagens publicitárias dos espetáculos ou dos produtos associa-
dos às práticas esportivas.
Parte desse crescimento de popularidade do futebol foi graças ao destaque
que os jornais ao esporte. Os jornalistas esportivos tinham a opinião de que o desen-
volvimento do esporte no estado ainda era amador e desorganizado e pelos periódicos
publicavam crônicas onde pediam mais organização e atitudes dos sportmen paraen-
ses em busca da evolução da prática esportiva no estado. A própria criação da Liga
Paraense de Futebol em 1913, incentivada pelos jornalistas, já foi um grande avanço
para a organização do futebol no Pará, mas para os jornais ainda faltava muito para
que a prática de esportes pudesse ter realmente características mais evoluídas e assim
desenvolver na sociedade paraense a civilização à moda europeia.
O desenvolvimento deste trabalho tem como foco realizar uma pesquisa sobre
a contribuição da imprensa esportiva paraense na popularização e no desenvolvimen-
to dos esportes no Pará no início do século XX. Principalmente a partir de 1913, ano
da criação da primeira Liga de Futebol Paraense. Para a produção deste texto foram
feitas leituras que indicavam uma variedade de abordagem que abrangia de produ-
ções realizadas por historiadores, a pesquisas também realizadas por profissionais de
jornalismo.
Durante a realização deste trabalho direcionei-me para a investigação de pe-
riódicos do período em questão. Estes estavam disponíveis para consulta na Biblioteca
Arthur Vianna, em Belém-PA, onde foram consultadas através da utilização da sala
de microfilme. As informações apresentadas nesse trabalho somente foram possíveis
quando a partir da leitura desses periódicos tornou-se possível constatá-las. As fontes
vistas na Biblioteca Arthur Vianna foram principalmente, os jornais, “O Estado do
Pará”, “A Folha do Norte”, “A Província do Pará”, além edições mais recentes do jor-
nal “Diário do Pará”.
29
O FOOTBALL NO PARÁ: TEAMS, SPORTMEN E FIELDS NO ALVORECER DO FUTEBOL PA-
RAENSE
30
FUTEBÓIS DO NORTE
31
O FOOTBALL NO PARÁ: TEAMS, SPORTMEN E FIELDS NO ALVORECER DO FUTEBOL PA-
RAENSE
1 VERÍSSIMO, José. A educação nacional. 3.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985,p. 51.
32
FUTEBÓIS DO NORTE
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O FOOTBALL NO PARÁ: TEAMS, SPORTMEN E FIELDS NO ALVORECER DO FUTEBOL PA-
RAENSE
34
FUTEBÓIS DO NORTE
Fator importante para o crescimento dos esportes vem do apoio da classe po-
lítica. Não só em Belém, como em outras praças nacionais, os políticos observaram
que sua presença nos crescentes eventos esportivos poderia ser adotada como uma
estratégia de aproximação entre eles e as camadas populares. Pereira afirma que o
próprio presidente da República instituiu uma taça a ser disputada por equipes do
Rio de Janeiro e de São Paulo “garantindo pelo apelo aqueles que lhe dedicavam um
público distinto e elegante, os clubes de futebol conseguiam um amplo apoio.” (2000,
p. 78). Percebe-se também que os clubes se beneficiavam com o apoio dos dirigentes
políticos, caracterizando uma via de mão-dupla.
No Pará, a político mais presente no cenário esportivo no início do século XX
era José Carneiro da Gama Malcher. Malcher foi Secretário da Fazenda de Lauro Sodré
e um dos fundadores do Partido Liberal no Pará. Foi membro da Liga Paraense de
Foot-Ball, inclusive responsável por presidir reuniões. (Folha do Norte, 26 de junho
de 1914) Sua presença nas partidas de futebol era constante, principalmente atuando
como árbitro ou referee da partida como a primeira partida do campeonato paraense de
1913, o primeiro realizado sob a organização da Liga.
Como palco de interesses comerciais os esportes também ganhavam apoio dos
empresários que observaram nos esportes e no crescente número de espectadores uma
excelente oportunidade de divulgar seus produtos, sejam os oferecendo como prêmios
aos atletas ou patrocinando festivais esportivos.
35
O FOOTBALL NO PARÁ: TEAMS, SPORTMEN E FIELDS NO ALVORECER DO FUTEBOL PA-
RAENSE
para, nesses dias, ir assistir ao desenrolar das suas pugnas. E esta é conduzida sob
uma emoção indescritível a ás vezes, de um verdadeiro delírio.( A Folha do Norte,
9 de dezembro de 1921).
36
FUTEBÓIS DO NORTE
mudem de horário, passando a serem realizados pela tarde, pois pela manhã o sol é
intenso afastando alguns espectadores. (FOLHA DO NORTE, 02 de agosto de 1914).
OS PALCOS DO ESPETÁCULO
37
O FOOTBALL NO PARÁ: TEAMS, SPORTMEN E FIELDS NO ALVORECER DO FUTEBOL PA-
RAENSE
Além destes campos mais famosos, também existiam outros espaços destina-
dos ao futebol e outras modalidades terrestres. A maioria pertencia às equipes su-
burbanas de Belém como o campo da travessa Caldeira Castello Branco pertencente
ao São Paulo Sport Club,o campo do São Domingos inaugurado em 1918 localizado
na travessa do Jurunas com Timbiras, do Amazon River S. Club em Val de Cães, do
Utinga S.Club no bairro do Utinga, da praça de esportes do Telegrapho Nacional no
bairro do Telégrafo e outros cuja localização não foi encontrada: do Caxias Sport Club
inaugurado em 1921, do Ypiranga Sport Club inaugurado em 1925, do Villa Nova F.
Club e do Uberabinha, ambos inaugurados em 1928.
38
FUTEBÓIS DO NORTE
Os prados, fields e raids eram lugares para poucos no início do século XX, mas o
crescimento do número de espectadores proporcionou a construção de novos espaços
esportivos em Belém para suportar a crescente torcida, popularizando os esportes, os
espaços e também os preços das entradas que já não eram vendidas apenas para inte-
grantes da alta sociedade paraense e sim para o grande público ansioso de presenciar
os espetáculos da cultura física, agora praticada não apenas nos estádios dos grandes
clubes como também nos campos espalhados pelos bairros de Belém abrigando jogos
das equipes suburbanas.
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O FOOTBALL NO PARÁ: TEAMS, SPORTMEN E FIELDS NO ALVORECER DO FUTEBOL PA-
RAENSE
va o Remo e a União Sportiva de se unirem contra ele, sendo que tudo o que a União
Sportiva desejava conseguia, pois, o presidente da Liga era sócio do Remo.
Em 1916 a crise ocorre por desavenças entre o Paysandu e a Liga. O Pay-
sandu solicita a transferência de um atleta, mas o Conselho da Liga veta essa ação
provocando indignação no clube que solicita afastamento da entidade. O Brazil S.C.
também é afastado da liga por disputar uma partida contra o Paysandu desobedecen-
do a ordem da Liga.
A rivalidade entre Remo e Paysandu é novamente catalisadora da crise
da Liga que em 1918 já se chama Liga Paraense de Sports Terrestres em 1918 por oca-
sião da escolha do referee da partida entre as equipes. Em 1928 o Paysandu novamen-
te se desliga da entidade junto com a União Sportiva. As cisões da Liga promovem
organizações de novas entidades paralelas como a Confederação Athletica Paraense
criada em 1928 por Paysandu, União Sportiva, Julio César, Recreativa, Independência e
Maguary.
Enquanto as equipes principais se envolviam em polêmicas, os clubes subur-
banos diante da falta de apoio das principais entidades organizavam suas próprias
ligas. Em 1920 fundam a Liga Suburbana de Football em Belém. (FOLHA DO NORTE,
14 de maio de 1920). Em 1932 sob a denominação de Liga Suburbana Athlética Paraen-
se esta filia-se à Federação Paraense de Desportes. Algumas organizações eram des-
tinadas aos clubes estudantis como a Liga Inter-Collegial de Football organizada em
1818. Em 1925 outra organização é fundada, a Liga Estudantina de Sports Terrestres,
também criada por equipes suburbanas.
Abaixo destaco a crônica escrita pelo cronista de pseudônimo Red louvando o
crescimento da adesão ao futebol em Belém.
É consolador o entusiasmo que se nota o nosso meio esportivo pela próxima época
de football. Cada um dos clubes filiados a Liga, procura esforçadamente apurar as
suas equipes, treinando rigorosamente a fim de, com o brilhantismo, afirmar-se nas
contendas futuras. É belo de ver-se a azafama com que os responsáveis pelos times
procurem remover defeitos de organização e táctica dos seus grupos, ao mesmo
tempo que, criticando os seus jogadores, fazem-nos melhorar as suas combinações,
perdendo alguns vícios insensivelmente adquiridos. O groud de São Bráz povoa-se
aos domingos de banda de rapazes que trazem estampada no rosto a satisfação de
que se acham possuídos demonstrando que a nossa raça se revigora. Já a pouco e
pouco vão desaparecendo aqueles rapazes raquíticos, sonhadores de melenas, dan-
do lugar a homens fortes, vigorosos, de músculos educados pela prática continua
dos esportes – Red. (FOLHA DO NORTE, 3 de maio de 1914).
40
FUTEBÓIS DO NORTE
41
O FOOTBALL NO PARÁ: TEAMS, SPORTMEN E FIELDS NO ALVORECER DO FUTEBOL PA-
RAENSE
CONCLUSÃO
42
FUTEBÓIS DO NORTE
BIBLIOGRAFIA
COSTA, Ferreira da. Enciclopédia do futebol paraense. Belém: Ed. Cabano, 2000.
CRUZ, Ernesto. História do Clube do Remo (de 1905 a 1969). Rio de Janeiro: Urupês.
1968.
HOBSBAWM, Eric. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
MATOS, Rafael C. Belle Époque Esportiva: A imprensa paraense como agente da po-
pularização dos esportes no início do século XX (1900-1935). (Monografia). Belém,
UFPA, 2011.
43
CAPÍTULO 3
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.3
1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
NOVOS RUMOS NO PAYSANDU SPORT CLUB: ASCENSÃO E DECLÍNIO DE UM MOVIMENTO
(2013-2021)
RESUMO
46
FUTEBÓIS DO NORTE
47
NOVOS RUMOS NO PAYSANDU SPORT CLUB: ASCENSÃO E DECLÍNIO DE UM MOVIMENTO
(2013-2021)
mos”. A escolha se deu porque, nesse cenário, o Paysandu avançou em muitas áreas,
dentro e fora do campo, e viu, nos anos seguintes, recuos e perdas, o que desestimulou
o consumo dos produtos do clube por parte de seus milhões de torcedores.
Como recursos metodológicos, escolhem-se três caminhos: a linha do tempo, a
revisão de literatura e o estudo de caso.
Sobre a linha do tempo, escolhe-se esse recurso metodológico para evidenciar
uma sequência cronológica de fatos ocorridos, enfatizando movimentos e prioridades
(LEMAD, 2020). No estudo em tela, traz-se a possiblidade de analisar os oito anos –
com a ascensão e a queda – da gestão política do Paysandu fora de campo, com reflexo
direto nos resultados.
A revisão de literatura, no decorrer do texto, correlaciona as categorias de po-
lítica e futebol como mercado, a partir da premissa de que a Ciência Política tem como
objeto de estudo o poder que emana do Estado, e o futebol, pelo seu poder global,
acaba reverberando em todas as partes do planeta, com repercussões diversificadas
(ELLIOT, 2002). Há, portanto, a necessidade de novos desenhos institucionais, para
que o produto futebol possa ser melhor gerenciado.
O estudo de caso foi identificado como um caminho adequado, por permitir
o uso de dados qualitativos a partir de eventos reais ocorridos no referido clube pa-
raense, com a exploração dos fenômenos e a possível replicação em outros ambientes
(EISENHARDT, 1989). O caso escolhido do Paysandu emerge pelas variáveis impor-
tantes encontradas na pesquisa e pela relevância da agremiação esportiva no país, no-
tadamente na região Norte.
Assim, o presente trabalho, após essa apresentação introdutória, à contextuali-
zação e à discussão dos recursos metodológicos, tem as seguintes seções: a) Trajetória
cronológica da “Novos Rumos” com a apresentação dos resultados dentro e fora do
campo; b) discussão sobre as razões do declínio do grupo “Novos Rumos”; e c) as con-
clusões do trabalho.
48
FUTEBÓIS DO NORTE
presentando a Chapa “Novos Rumos”, venceu a eleição com 479 votos – contra 278 do
candidato Victor Cunha, representante da Chapa “Centenário”. Naquele momento, a
despeito do acesso do clube à Série B 2013, o Paysandu enfrentava uma crise financeira
que chega a R$ 7 milhões de reais.
Em 2013, o Paysandu conquista o campeonato paraense, avança duas fases
na Copa do Brasil, mas é rebaixado no Campeonato Brasileiro. Em 2014, o Paysandu
chega a 100 anos de fundação e realiza uma série de ações de marketing para celebrar a
data, ocorrida no dia 02 de fevereiro. Camisas temáticas, festas no estádio de futebol e
ações para a ida do torcedor ao estádio de futebol são incentivados, além do desenvol-
vimento do Programa de Sócio-Torcedor, conhecido como Sócio-Bicolor.
Em campo, o Paysandu não conquistou troféus, mas obteve o seu principal
objetivo, que era o acesso da Série C para a Série B do Campeonato Brasileiro. No dia
19 de novembro de 2014, foram realizadas as eleições para Presidente do Paysandu –
além da definição do Conselho Deliberativo. A Chapa “Novos Rumos, Sempre!” foi a
única a disputar a eleição, tendo o advogado e empresário Alberto Maia Filho como
candidato à Presidência. O pleito teve 10 urnas e Alberto Maia obteve 538 votos – hou-
ve 41 votos em branco e 5 votos nulos. `
Em 2015, o Paysandu não conquistou troféus, mas obteve boas campanhas
na Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro da Série B. A gestão do Clube buscou
investir na recuperação econômica do Paysandu. De acordo com Alberto Maia, na
ocasião, o Paysandu encerrou o ano com receita financeira de R$ 15.238.748,21, valores
referentes às premiações, à cota de transmissão dos jogos da Série B, à venda de ingres-
sos para os jogos, ao programa Sócio Bicolor e aos patrocínios. O Paysandu também
investiu R$ 700 mil na construção das novas arquibancadas da Curuzu.
Em 2016, Alberto Maia buscou focar na expansão dos lucros financeiros para o
Paysandu. Anunciou, no mês de janeiro, o lançamento de sua marca própria – a marca
“Lobo” – e apresentou sua camisa oficial. O clube chegou a faturar R$ 1,5 milhão entre
janeiro e julho de 2016.
49
NOVOS RUMOS NO PAYSANDU SPORT CLUB: ASCENSÃO E DECLÍNIO DE UM MOVIMENTO
(2013-2021)
50
FUTEBÓIS DO NORTE
Quadro 1 - Análise comparada das questões extracampo e dos resultados dentro dele
Ano Presidente Fora de campo Dentro de campo
2012 Luiz Omar Pinheiro * Eleições presidenciais - Fora da final do
diretas com duas chapas Campeonato Paraense;
concorrendo; - Oitavas-de-final da Copa
* Dívidas de cerca de 7 do Brasil;
milhões de reais - Acesso à Serie B de 2013.
2013 Vandick Lima * Primeiro ano de - Campeão paraense pela
mandato de Vandick 45ª vez
Lima; - Terceira fase da Copa do
* Diminuição de dívidas Brasil
internas e externas; - Rebaixamento à Série C
* Negociação para a 2014, após ser o 18º no
compra do Centro de Campeonato Brasileiro
Treinamento do Paysandu
2014 Vandick Lima * Segundo ano de - Vice-campeão paraense,
mandato de Vandick perdendo o título para o
Lima; seu rival local, Clube do
* Diminuição de dívidas Remo
internas e externas; - Vice-campeão da Copa
* Negociação para a Verde (primeira edição),
compra do Centro de ao perder para o Brasília-
Treinamento do Paysandu DF
* Eleições presidenciais - Terceira fase da Copa do
no final do ano, com a Brasil
manutenção do grupo - Acesso à Série B 2015,
“Novos Rumos” após ser vice-campeão da
Série C 2014, perdendo o
título para o Macaé-RJ
2015 Alberto Maia Filho * Paysandu busca saúde - Fora da final do
financeira, com redução Campeonato Paraense;
de dívidas, ações de - Semifinalista da Copa
marketing e venda de Verde;
materiais de materiais - Oitavas-de-final da Copa
esportivos; do Brasil;
* Clube movimentou - O Paysandu terminou a
valor similar de receitas e Série B 2015 como 7°
despesas – cerca de R$ 15 colocado na tabela, com
milhões. 60 pontos
2016 Alberto Maia Filho * Paysandu lança marca - Paysandu é campeão
própria – denominada paraense invicto;
“Lobo”, em alusão ao - Campeão da Copa Verde,
mascote do clube vencendo o Gama-DF, na
*Inauguração do Portal do final;
Centro de Treinamento - Terceira fase da Copa do
Brasil;
- O Paysandu terminou a
Série B 2016 como 14°
colocado na tabela, com
49 pontos
51
NOVOS RUMOS NO PAYSANDU SPORT CLUB: ASCENSÃO E DECLÍNIO DE UM MOVIMENTO
(2013-2021)
Não há, decerto, uma só razão para explicar a ascensão e declínio do movi-
mento Novos Rumos, mas tentaremos assinalar algumas que nos parecem relevantes.
52
FUTEBÓIS DO NORTE
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NOVOS RUMOS NO PAYSANDU SPORT CLUB: ASCENSÃO E DECLÍNIO DE UM MOVIMENTO
(2013-2021)
– aliás, o título se tornou um mote recorrente para gestores do futebol que sabem que,
sem obediência à responsabilidade fiscal e à elevação de receita, não há possibilidade
de ser campeão e, assim, promover o crescimento sustentável dos clubes.
Soriano (2010) descreve assim a distribuição das fontes de receita nos grandes
clubes europeus:
Hoje, a estrutura de renda dos grandes clubes de futebol se distribui em três terços,
aproximadamente, entre a venda de ingressos e passes aos estádios, os direitos au-
diovisuais e o marketing. A tendência aponta para um peso cada vez maior das duas
últimas fontes. O crescimento da terceira fonte de renda culmina uma mudança de
modelo fundamental, que transforma o negócio dos clubes de futebol em um negó-
cio de entretenimento global. (2010: 22).
54
FUTEBÓIS DO NORTE
nho esportivo (afinal, como se destacou, a bola não entra por acaso). A marca Lobo,
que serviu de modelo pioneiro para outros clubes, como o Fortaleza, foi terceirizada,
o número de sócios-torcedores desabou e o Centro de Treinamento Raul Aguilera –
adquirido na gestão do presidente Alberto Maia – segue sem receber investimentos
relevantes. Projetado para ter 5 campos de futebol, sendo um mais reduzido para trei-
no de goleiros, o CT continua sem ter um único campo para treino ou estrutura física
mínima. Sem CT em funcionamento, não há como descobrir novos talentos e negociar
jogadores para mercados mais avançados, de modo a favorecer a entrada no ciclo vir-
tuoso de que falou Ferran Soriano.
O que levou o Paysandu a mudar a trajetória ascendente para descendente
foi, sem dúvida, o abandono da concepção do futebol como mercado. Não se percebe
nas declarações dos atuais dirigentes nenhum plano, por mais rudimentar que seja,
que recoloque o clube na direção do ciclo virtuoso consistente na fórmula elevação de
receita-conquista de certames-elevação de receitas.
Nos últimos anos, o clube apresentou sérios problemas na área relativa à trans-
parência, aliás, um dever da diretoria previsto no Estatuto Social do próprio clube e
também na chamada Lei do PROFUT, Lei Federal nº 13.155/2015, cujas regras o Pay-
sandu aderiu. Na gestão do presidente Ricardo Gluck Paul (2019-2020) foram criados
obstáculos à prestação de contas ao acesso às informações. Tal situação levou um gru-
po de 10 sócios, conselheiros e beneméritos a requerer por escrito, em 22.01.2020, para
a Mesa do Conselho Deliberativo que interviesse para compelir a diretoria a prestar
contas e fornecer informações relativas à vida fiscal do clube.
Curiosamente, a Lei do PROFUT, em seu art. 1º, estabelece como princípios
para as entidades esportivas profissionais a responsabilidade fiscal e financeira, bem
como a gestão transparente e democrática.
Portanto, a prestação de contas se constitui em uma obrigação dos dirigentes
esportivos que queiram se conectar efetivamente com a concepção do futebol como
mercado, não de mera liberalidade, algo que podem realizar ou não conforme a sua
vontade pessoal. Transparência significa prestar contas e, ao mesmo tempo, ser even-
tualmente responsabilizado por descumprimento das regras legais.
Tal situação extrema levou, é claro, à piora do ambiente institucional no clube,
de tal modo que, na eleição de 2020, surgiu um movimento intitulado “Reconstruir
com Transparência”, cujo candidato à presidência do clube, o advogado Antônio Aido
Maciel, morreu em 3.11.2020, fato que impediu que a chapa disputasse a eleição. Outra
chapa intitulada Paysandu Raiz, de orientação oposicionista, disputou o pleito e per-
deu a eleição para a chapa da situação.
55
NOVOS RUMOS NO PAYSANDU SPORT CLUB: ASCENSÃO E DECLÍNIO DE UM MOVIMENTO
(2013-2021)
No futebol, o Paysandu não vai melhor, pois, tendo caído para a Série C em
2018, tem apresentado seguidos resultados medíocres, desvelando a falta de um tra-
tamento mais conectado com a visão moderna do presente. Numa situação em que a
receita desabou, seja por se encontrar na Série C, seja por má gestão fiscal, as contrata-
ções de treinadores e atletas devem ser precisas e de acordo com o limitado orçamen-
to do clube. Um caminho desejável seria adotar o método mundialmente conhecido
como Moneyball, ou seja, contratar jogadores que, não sendo estrelas (longe disso, o
clube opera hoje no vermelho), tenham demonstrado um desempenho regular segun-
do padrões estatísticos. Já há literatura sobre o tema que deveria ser levada em conta
por clubes em situação de fortes restrições orçamentárias, como o Paysandu (LEWIS:
2015; ANDERSON & SALLY: 2014).
Outra medida que nos parece óbvia, mas não seguida pela diretoria do clube
nos últimos anos, consiste em contratar um treinador com perfil ofensivo, ambicioso e
que aceite trabalhar dentro dos limites orçamentários do clube.
De qualquer modo, parece induvidoso que o Paysandu Sport Club teve sua
trajetória ascendente encerrada em 2016 desde que, como foi aduzido, as gestões que
se seguiram abandonaram a concepção do futebol como mercado, necessária para todo
clube que queira participar das competições mais relevantes do país e do continente
sul-americano.
CONCLUSÕES
56
FUTEBÓIS DO NORTE
uma confusão que não ajuda a compreender o que está realmente em jogo no clube e
que pode, no futuro imediato, não só conduzir o Paysandu Sport Club a um patamar
mais elevado ou, ao contrário, aprofundar a crise pelo qual passa hoje. Esse paper bus-
ca, portanto, jogar luz sobre a trajetória institucional recente de um dos clubes mais
relevantes da Amazônia brasileira.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Chris & SALLY, David. Os números do jogo – Por que tudo o que você
sabe sobre futebol está errado. São Paulo: Editora Paralela, 2014.
CASTRO, Rodrigo e MANSSUR, José. Futebol, Mercado e Estado. São Paulo: Quartier
Latin, 2016.
LEWIS, Michael. Moneyball – O homem que mudou o jogo. Rio de Janeiro: Editora
Intrínseca, 2015. .
57
NOVOS RUMOS NO PAYSANDU SPORT CLUB: ASCENSÃO E DECLÍNIO DE UM MOVIMENTO
(2013-2021)
SORIANO, Ferran. A bola não entra por acaso – Estratégias inovadoras de gestão
inspiradas no mundo do futebol. São Paulo: Larousse, 2010.
58
CAPÍTULO 4
PIONEIRISMO, DECLÍNIO E
RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO
DAS DÉCADAS (1917- 2019)
Luiz Gabriel Gomes Monteiro1
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.4
RESUMO
INTRODUÇÃO
60
FUTEBÓIS DO NORTE
REVISÃO DE LITERATURA
61
PIONEIRISMO, DECLÍNIO E RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO DAS DÉCADAS (1917-
2019)
1 Inauguração do campo do Remo, Jornal Folha do Norte. Disponível em: Hemeroteca Centur.
62
FUTEBÓIS DO NORTE
Para o cenário futebolístico, como já dito, foi importante porque a capital ga-
nhava mais um espaço exclusivo para a prática do esporte Bretão; e para o clube, por-
que tinha agora seu próprio espaço para sediar seus treinamentos e jogos.
Ademais, é importante compreender a representatividade do nome do estádio
para o torcedor do Clube do Remo. O estádio da Avenida Antônio Baena – rua em ho-
menagem ao presidente do senado do Brasil, Antônio Ladislau Monteiro Baena –, no
período da República Velha, não tinha nome oficial até meados de 1960 (CRUZ, 1970).
Em forma de homenagem, o estádio foi batizado com o nome de um jogador que
marcou o clube na década de 20: Evandro Melo de Almeida. Para entender o porquê
da escolha desse nome, devemos entender quem foi Evandro Melo de Almeida e por
que ele foi tão importante ao ponto de ter seu nome eternizado no estádio do Clube
do Remo.
O herói parte do mundo cotidiano e se aventura numa região de prodígios sobre-
naturais; ali encontra fabulosas forças e obtém uma vitória decisiva; o herói retorna
de sua misteriosa aventura com o poder de trazer benefícios aos seus semelhantes.
(CAMPBELL, 1949, p. 36).
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PIONEIRISMO, DECLÍNIO E RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO DAS DÉCADAS (1917-
2019)
1960, o campo do Remo, que ainda não tinha nome oficial, foi batizado como Estádio
Evandro Almeida, dando, nesta ocasião, uma identidade para o estádio da Antônio
Baena, em referência ao maior ídolo do clube até então.
A identidade é realmente algo, formado ao longo do tempo, através de processos
inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento.
Existe sempre algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade. (HALL, 2006, p.
42).
Esse trecho da crônica escrita pelo jornalista Mac Donne, no Jornal O Estado
do Pará, em 26 de maio de 1935, mesmo dia da reinauguração do estádio, evidencia a
grandeza da obra e sua importância para o estado e o futebol paraense. Em um mo-
mento em que não existiam campeonatos nacionais de clubes, os títulos regionais eram
muito valorizados. Nesse contexto, o Remo se destaca como maior campeão paraense
64
FUTEBÓIS DO NORTE
até então, com doze títulos, fora os torneios de início do Pará3, em que o clube tinha
sete, por isso, sua representatividade no estado e no Norte do Brasil era grande.
A partir dos anos de 1920, a rivalidade entre a dupla Remo e Paysandu au-
mentou, devido aos seus encontros em fases decisivas dos campeonatos e pelas crôni-
cas jornalistas que, por adotar uma linguagem próxima do torcedor, incentivaram, de
maneira intuitiva, a lotar os estádios da Antônio Baena (Remo) e da Curuzu (Paysan-
du) (GAUDÊNCIO, 2016). Por essa razão, era necessário estruturar o campo do Remo
para atender à torcida. Em uma entrevista ao O Liberal, o historiador Orlando Ruffeil
descreve: “O Remo, conseguiu um patamar de torcida inimaginável e foi obrigado a
mexer na estrutura e levantar arquibancadas nos fundos”. Isso demonstra como essa
reforma foi importante, pois clube, estádio e torcida estavam crescendo juntos.
No dia da reabertura, um grande festival esportivo ocorreu e, como apogeu
máximo, pela parte da tarde, o jogo entre Remo e Paysandu aconteceu. Foi um con-
fronto muito difícil, com nove gols em uma só partida. A equipe Azul Celeste dificul-
tou o jogo, mas não conseguiu estragar com a festa da torcida azulina na reabertura do
estádio, e o Clube do Remo saiu vitorioso por um placar de 5x4.
Em 1940, mais um grande passo foi dado pelo Clube do Remo: a diretoria,
entendendo a importância do clube em sediar jogos à noite, resolveu dar mais um
passo com a colocação de refletores no estádio, novamente se tornando pioneiro no
estado nesse tipo de modernização. Em 1962, o estádio da Antônio Baena passou por
sua maior reforma até então. Segundo cronistas da época, o estádio supria todas as
exigências que eram estipuladas no momento, fazendo assim um dos estádios mais
modernos da Região Norte (CRUZ, 1969). Essas inaugurações, incluindo a inaugura-
ção do estádio em 1917, foram feitas em uma data especial para o Remo: 15 de agosto.
Essa data celebra uma memória coletiva, o dia em que o Remo se reorganizou.
A ação dos indivíduos na história do Clube do Remo sempre foi presente des-
de sua fundação, mas nos remetendo a essa data específica, tal reorganização é algo
muito celebrado, pelo fato de o clube ter saído de uma extinção em 1908 e ter sido
trazido de volta às atividades no ano de 1911. Essa mudança foi encabeçada por onze
pessoas descontentes com a perda da sede náutica do clube (situada no Largo da Sé, na
Cidade Velha, em Belém) devido a uma forte crise financeira, que, em 1908, pegaram
seus equipamentos e esconderam em um balcão situado às margens do rio. Foi então
que, em 1911, após o contrato entre a prefeitura e um estabelecimento comercial situa-
do na antiga sede náutica ter acabado, com condições de readquirir o imóvel, os onze
atletas azulinos4 remaram pela Baía do Guajará até a antiga sede, instituindo o dia da
reorganização do Clube do Remo (CRUZ, 1969).
3 Competição que abria o calendário oficial do futebol paraense.
4 Oscar Saltão, Antonico Silva, Rubilar, Jaime Lima, Cândido Jucá, Harley e Nertan Collet, Severino Poggy, Mário Araújo,
65
PIONEIRISMO, DECLÍNIO E RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO DAS DÉCADAS (1917-
2019)
Partindo dessa afirmação, a venda desse espaço iria ferir a memória coletiva
do grupo de torcedores com uma relação de identificação com o espaço. Trata-se de
um lugar repleto de representações, vivências e histórias tanto individuais quanto co-
letivas. Ademais, a venda fere a memória do futebol paraense, pois perde um dos seus
principais lugares de referência da história do futebol no Pará, que ajuda a contar não
só a história do Clube do Remo, mas a história desse esporte tão importante e cultural
que cerca a cidade de imaginário e lembranças.
Ainda sobre essa quase venda, ela quase foi deferida devido ao clube está
devendo à Justiça do Trabalho. O contexto do clube era o pior possível e, segundo o
66
FUTEBÓIS DO NORTE
ex-presidente do clube Amaro Klautau, a venda iria ser um passo crucial para o futuro
do clube:
Todas as dívidas do Remo serão pagas na esfera trabalhista e até na área cível. Va-
mos ver o Remo saneado, não na minha gestão, mas na frente, já que esse proces-
so demora uns dois anos. Existem funcionários com mais de 30 meses de salários
atrasados, mas, com a homologação da venda do Baenão, essas pessoas farão uma
negociação para o bem do Remo. Estarei trabalhando no final deste meu mandato e
espero que a transição para o novo presidente seja de paz. (DOL, 2010, on-line).
A fala acima do economista Antônio Carlos Kfouri Aidar resume bem o que
aconteceu porventura para o clube entrar nessa ousada empreitada – de reformar o
estádio, transformando-o em uma arena moderna aos moldes dos estádios do eixo Sul
–, visto que a instituição passava por uma das suas maiores crises. Pode-se pressupor
que a paixão dos dirigentes falou mais alto, pois racionalmente não era o momento.
5 Entrevista concedida por Antônio Carlos Kfouri Aidar à Revista de Administração de Empresas (RAE).
67
PIONEIRISMO, DECLÍNIO E RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO DAS DÉCADAS (1917-
2019)
Após analisar todo o contexto em que a obra iria acontecer, entende-se o por-
quê não foi concluída, mas vale ressaltar que duas propostas da obra foram finaliza-
das: colocação de um gramado novo e a instalação de Blindex no lugar dos antigos
alambrados de metal. O Remo estreou no estádio “semiacabado” de maneira oficial
em maio de 2014, com uma vitória em cima do Independente Tucuruí por 4x0 na semi-
final do segundo turno do Campeonato Paraense. No entanto, devido a não reeleição
do presidente que encabeçou a obra e à forte crise que o clube passava, a obra precisou
ser paralisada e, consequentemente, fez o estádio ficar abandonado, estando inapto a
receber jogos oficiais, perdendo assim sua principal função.
Segundo Pierre Nora (1993, p. 21), “mesmo um lugar de aparência puramente
material, como um depósito de arquivo, só é lugar de memória se a imaginação, o in-
veste de uma aura simbólica”. Entende-se o Baenão como um lugar simbólico para a
cidade de Belém, para o futebol paraense e para os torcedores do Clube do Remo. Essa
localidade não poderia ficar inativa, por isso, a ação dos indivíduos se deu e foi mui-
to importante para trazê-lo novamente à normalidade. Cumpre ressaltar a motivação
desses indivíduos, além do elemento aglutinador Clube do Remo, o que mais moveu
essas pessoas a ajudar a trazer o estádio Evandro Almeida de volta a receber jogos.
Em 2015, com as obras paradas, um grupo de torcedores que faziam parte de
um movimento denominado “Revolução azul”, insatisfeitos com o estado da praça
esportiva da Antônio Baena, mobilizaram-se para tentar revitalizar as arquibancadas
do estádio, fazendo uma espécie de “vaquinha” virtual (GLOBO ESPORTE, 2015). Em
uma entrevista realizada em 2021 com uma das organizadoras do movimento na épo-
ca, Aline Porto, hoje atual diretora de patrimônio do Clube do Remo, relata-se que,
mesmo com a ajuda da torcida, não foi o suficiente para ser reaberto, pois havia muitas
coisas para o estádio se enquadrar no estatuto do torcedor e ser liberado.
Percebe-se que, com apenas um ano de interdição, aconteceu uma ação para
a tentativa de reabertura do estádio. Isso evidencia o peso que um local representa
para um determinado grupo. É claro que o quesito financeiro interfere muito: o Remo
vivia forte crise financeira e pagava para sediar seus jogos no Mangueirão, sendo que,
ao longo das décadas, teve seu estádio apto e não pagava para jogar. Entretanto, a
questão do lugar de memória tem peso também como o quesito financeiro e, decerto,
carrega sentimento, lembranças, ações, rituais de um grupo.
Ainda na entrevista com a diretora de patrimônio, fala-se: “o Baenão é refe-
rência, é a nossa casa”. Para Pierre Nora (1993, p. 21 apud ANDRADE, 2008, p. 2), “são
lugares, com efeito, nos três sentidos da palavra, material, simbólico, funcional [...]”.
Assim, tal citação fundamenta o termo “casa”, que a entrevistada acima cita, visto que,
68
FUTEBÓIS DO NORTE
quando esse termo é empregado, o lugar transparece ser um ambiente íntimo, confor-
tável e, principalmente, simbólico para quem diz.
Na citação acima, o simbolismo do campo está em escala individual e coletiva,
porque, além de ser um ambiente funcional para o futebol paraense e para as pessoas
que lá frequentam, também é simbólico por carregar mais de cem anos de história do
esporte Bretão no Pará, cercando o imaginário do torcedor azulino e não azulino de
histórias, experiências e emoções, sentidas ao longo dos anos no Evandro Almeida.
Desse modo, o acúmulo de memórias de uma localidade, somadas, constrói um lugar
de memória (GASTAL, 2002).
Em 2015, o estádio já estava fadado a não receber jogos no ano seguinte. Se-
gundo o engenheiro responsável pela localidade, Paulo César Alves, havia muita coisa
a ser feita. Isso levaria tempo, logo, o Baenão só iria ser usado para treinos, e a previsão
era que o retorno ocorresse em 2017, ano do seu centenário (GLOBO ESPORTE, 2015).
Fazendo referência aos tempos passados, uma das principais funcionalidades
do lugar, desde sua fundação, era o treino. O Clube do Remo só teve seu primeiro cen-
tro de treinamento em 2021, até então, os treinos eram feitos no Baenão, entretanto, sua
principal função é sediar jogos, logo, conforme afirmação do engenheiro Evandro Al-
meida, além de ficar mais um ano de portas fechadas, começou de fato na sua pior fase,
convivendo com constantes intervenções e estruturalmente deteriorado. Portanto, ele
ficou inapto a receber jogos por cinco anos, com seu retorno determinado pela ação
dos torcedores, os maiores responsáveis pela volta do Baenão a competições oficiais.
Em 2017, o estádio se encontrava interditado e não recebia jogos oficiais desde
2014, e, nesse ano, faria 100 de inauguração. Em meados de maio, outro projeto im-
portantíssimo foi criado, organizado e posto em prática, o Projeto Retorno do Rei ao
Baenão, criado por torcedores que buscavam trazer de volta o estádio à ativa.
Em uma entrevista ao Programa GE na rede do grupo Liberal, um dos organi-
zadores do projeto e diretor de marketing, Luiz Rezende, relata que o projeto era idea-
lizado pela torcida e com recursos da torcida6. Essa fala resume a premissa da obra,
entendendo que o clube ainda vivia uma instabilidade financeira, não tendo recursos o
suficiente para prosseguir. Torcedores, motivados pela representação que o Clube do
Remo tem em suas vidas, encabeçaram a obra, tendo o aval da diretoria que adminis-
trava a instituição, prosseguindo para, futuramente, reabrir o lugar de memória.
Na entrevista, o diretor também fala sobre uma ação de marketing para anga-
riar fundos para as obras. Seria um grande evento no dia do aniversário de 100 anos do
Evandro Almeida, que contaria com um jogo comemorativo no estádio. Os torcedores
6 REMO DESDE 1905. GE na Rede (07/08) sobre o Projeto Retorno do Rei ao Baenão. Youtube, 2017. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=SGlgshiSz-M. Acesso em: 10 nov. 2021
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PIONEIRISMO, DECLÍNIO E RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO DAS DÉCADAS (1917-
2019)
que comprarem um kit por 200 reais, contendo camisa personalizada e shorts, iriam ter
a oportunidade de jogar no Baenão ao lado de jogadores como Agnaldo “Seu Boneco”,
líder do esquadrão cabano, que marcou o clube nos anos 80, Zé Raimundo, intitula-
do pelos torcedores como O Talismã, entre outros que marcaram a história do clube
(PÊNA; MULLER, 2017). Esse evento foi denominado “Jogo com seu ídolo”.
Exatamente por esta capacidade de conversão e atualização é que a memória é vista
como importante elemento para o entendimento do passado e como peça funda-
mental para o estabelecimento de interesses do presente e oportunidades futuras
nas organizações (BERTHON; PITT EWING, 2001; GONGWARE, 2010; ANTEBY;
MOLNAR, 2012). (GRANJA, 2015, p. 33).
70
FUTEBÓIS DO NORTE
relação ao relato acima, mostra-se o sentimentalismo por uma memória familiar, dan-
do assim um peso maior à reativação do Baenão. Com essa carga de sentimentalismo,
um ambiente não pode simplesmente perder sua funcionalidade, pois implica ferir um
lugar de memória dos indivíduos.
Nossos corpos e movimentos estão em constante interação com o ambiente; o mundo
e a individualidade humana se redefinem um ao outro constantemente. A percepção
do corpo e a imagem do mundo se tornam uma experiência existencial contínua;
não há corpo separado de seu domicílio no espaço, não há espaço desvinculado da
imagem inconsciente de nossa identidade pessoal perceptiva. (PALLASMAA, 2001
apud ALMEIDA, 2019, p. 24).
8 MUDAREMOS. Fábio Bentes fala sobre o Baenão. Facebook, 07 nov. 2018. Disponível em: https://da-dk.facebook.com/
mudaremos1905/videos/f%C3%A1bio-bentes-fala-sobre-obaen%C3%A3o/189238668620051/. Acesso em: 20 nov. 2021
9 CLUBE DO REMO. Clube do Remo inicia venda de ingressos para reabertura do Baenão. 02 maio 2019. Disponível em: http://
www.clubedoremo.com.br/ler-noticia.php?id=914. Acesso em: 20 nov. 2021.
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PIONEIRISMO, DECLÍNIO E RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO DAS DÉCADAS (1917-
2019)
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FUTEBÓIS DO NORTE
do na frente por dois gols. Na segunda etapa, o Remo conseguiu buscar o empate, com
o jogo terminando em 2x2.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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PIONEIRISMO, DECLÍNIO E RECONSTRUÇÃO: BAENÃO AO LONGO DAS DÉCADAS (1917-
2019)
REFERÊNCIAS
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Pará, publicado em 13 out. 2010 Disponível em: https://dol.com.br/esporte/esporte-
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Acesso em: 26 out. 2021.
FREIXO, Adriano de. Futebol: o outro lado do jogo. São Paulo: Editora Desatino, 2014.
74
FUTEBÓIS DO NORTE
GASTAL, Susana. Lugar de memória: por uma nova aproximação teórica ao patri-
mônio local. In: GASTAL, Susana (org.). Turismo investigação e crítica. São Paulo:
Contexto, 2002.
GLOBO ESPORTE (GE). Remo: Grupo de torcedores arrecada dinheiro para reforma
do Baenão. Remo, publicado em 19 maio 2015. Disponível em: http://ge.globo.com/
pa/futebol/times/remo/noticia/2015/05/remo-grupo-de-torcedores-arrecada-di-
nheiro-para-reforma-do-baenao.html. Acesso em: 08 nov. 2021.
GLOBO ESPORTE (GE). Estádio Baenão não receberá jogos do Remo em 2016, afirma
engenheiro. Remo, publicado em 17 dez. 2015. Disponível em: http://ge.globo.com/
pa/futebol/times/remo/noticia/2015/12/estadio-baenao-nao-recebera-jogos-do-re-
mo-em-2016-afirma-engenheiro.html. Acesso em: 10 nov. 2021.
GONDAR, Jô. Memória individual, memória coletiva, memória social. Morpheus, Rio
de Janeiro, v. 8, n. 13, 2008.
MELO, Natália Rodrigues de; DUARTE, Cristiane Rose de Siqueira. Para além das
reformas: reflexões sobre o lugar de memória do Maracanã pelo viés da ambiência.
Arquitextos, São Paulo, v. 17, 2016.
PÊNA, Gustavo; MULLER, Ingo. Agnaldo sonha com a volta do Baenão: “Quero en-
trar com o meu neto em campo”. Globo Esporte, 14 ago. 2017. Disponível em: https://
ge.globo.com/pa/futebol/times/remo/noticia/agnaldo-sonha-com-a-volta-do-bae-
nao-quero-entrar-com-o-meu-neto-em-campo.ghtml. Acesso em: 08 nov. 2021.
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CAPÍTULO 5
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.5
1 Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Programa de Pós-Graduação em Antropologia social, São Carlos, São Paulo,
Brasil.
2 Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
Em anos recentes, uma pluralidade de grupos de homens gays (mas não ape-
nas) tem multiplicado as possibilidades de praticar o futebol em suas diversas for-
mas pelo território brasileiro. As equipes com nomes peculiares e regionalizados, que
têm surgido em grande número nos últimos tempos, ampliam a famosa sigla LGBT
e propõem formas de luta contra os preconceitos ao ressignificar as discussões sobre
gêneros e sexualidades no campo esportivo. Elas são representativas do chamado, e já
popular, “futebol LGBT”, visto que abarcam cada vez mais expressões de gênero re-
presentativas da sigla LGBTQIAPN+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais,
transgêneros, queer, intersexos, agêneros, pansexuais, neutros e demais) (CAMARGO,
2021a).
O futebol society (ou fut7) foi eleito modalidade representativa desse conjunto
de pessoas, as quais ostentam um indigesto histórico de exclusão no mundo futebo-
lístico, ou mesmo em outros esportes convencionais, desde suas tenras infâncias. O
sucesso da prática se dá pelo acesso aos lugares de locação, isto é, quadras distribuídas
pelas médias e grandes cidades brasileiras, onde basta uma vaquinha entre amigos
para dividir o aluguel de algumas horas durante a semana. Desse modo, esses grupos
esportivos têm se proliferado por todas as partes.
O que nos interessa aqui participa de um fenômeno maior dentro da noção
de “futebóis”, no plural, cunhada por Damo (2007). Segundo tal antropólogo, com a
demanda por espaço e a diversidade política em questão, “o uso da noção de futebóis
foi, portanto, uma estratégia para afirmar a diversidade, e ao mesmo tempo, demarcar
a diferença entre a discursividade midiática e a nossa [antropológica]” (DAMO, 2018,
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FUTEBÓIS DO NORTE
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BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL
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FUTEBÓIS DO NORTE
Além de reunir pessoas que comparecem aos jogos para torcer por familiares
e colegas, o apelo popular é exemplificado também com a mobilização do comércio lo-
cal, que apoia e patrocina as equipes das redondezas. Um “mercado da bola” próprio,
por assim dizer, também agita o torneio: alguns times remuneram seus atletas com
salários, e jogadores são “contratados” por quantias em dinheiro para reforçar outras
equipes, de forma análoga ao que ocorre no futebol profissional. Havia casos de mobi-
lidade também no futebol indígena, em torno do jogador denominado boleiro, ou seja,
racializado “branco” ou “não indígena”, quando esse era chamado para compor times
indígenas. O artigo de Chiquetto (2014b) é interessante nesse sentido.
Ver sua história contada na imprensa era parte da rotina de um jogador pro-
fissional experimentada por muitos dos destaques do Peladão, que concretizavam essa
vivência sendo chamados para reforçar os clubes locais, sobretudo aqueles com menor
poderio financeiro, para os quais o torneio se tornou uma grande vitrine. Foi o caso de
Hamilton Sá, conhecido como o “Ibrahimovic da Amazônia”, levado ao Manaus Fute-
bol Clube pelo presidente Luis Mitoso. Depois de fazer três gols em sua estreia como
titular, se tornou referência na equipe, conquistou títulos e despertou interesse de uma
equipe do Kuwait, de onde seguiu para o futebol da Tailândia.
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BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL
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FUTEBÓIS DO NORTE
com o retorno à mesma, já na fase de oitavas de final. Dessa forma, a musa tem o poder
de salvar sua equipe da desqualificação (SOUZA, 2017; CHIQUETTO, 2014a).
Para a edição de 2012, o “Rainha do Peladão” deu um salto de magnitude.
Dissica Calderaro, neto do criador do evento e atual presidente do Sistema A Crítica
de Rádio e Televisão, idealizou um reality show produzido na capital amazonense para
as fases finais do concurso. As doze finalistas são confinadas em um iate de luxo às
margens do Rio Negro, um dos principais da região Norte, onde convivem durante
quatro semanas monitoradas 24 horas por dia por câmeras. O programa que registra a
disputa é exibido na TV A Crítica e oferece também sistema de pay-per-view.
Inicialmente chamada “Peladão a Bordo”, e hoje com o nome “A Bordo - O
Reality”, a fase final do concurso tem intensa cobertura pelas redes sociais. O público
é quem define, por meio de votações realizadas por telefone e pela internet, as concor-
rentes a serem eliminadas de forma periódica, até que sejam conhecidas as três finalis-
tas e a campeã, também eleita por júri popular. “O reality é incrível porque mobiliza
a sociedade em votações, tem até time que fecha lan house para votar. Virou uma febre
por aqui”, conta Leanderson Lima. (LIMA, E1, 2021, s/p.)
O fato de ter sido idealizado e seguir sob a gestão do Grupo Calderaro de
Comunicação faz com que haja pouco interesse de outros veículos do Amazonas na
cobertura do Peladão, porém isso não diminui o impacto midiático alcançado pelo
evento. Chiquetto (2014) registrou que o torneio recebe a atenção de diversos veículos
da imprensa alternativa e sites com menor audiência, os quais também agregam visi-
bilidade ao campeonato e apostam nele para alcançar um público cada vez maior.
Alguns dos mais de 2.600 jogos disputados em 56 campos diferentes na edi-
ção de 2013 contaram com a presença de Pedro Leocádio Neto Júnior. Com passagens
pelas categorias de base de clubes profissionais populares na região como Nacional e
Fast Clube, ele esperou algumas temporadas até ingressar no Peladão em 2010. Antes
disso, participou de diversos campeonatos de bairros na capital amazonense.
Alcunhado carinhosamente como Pedrita, ele seria, a princípio, mais um atleta
na multidão de participantes do torneio, contudo ganhou projeção pública em 2013
por ter sido eleito o destaque do campeonato por jornalistas de A Crítica. Como con-
sequência da repercussão dessa escolha, circulou na mídia a informação de que o ra-
paz, o qual havia assumido sua homossexualidade aos 17 anos, era o primeiro jogador
assumidamente gay da história do Peladão, o que fez com que não só ele, mas aquela
edição ficasse marcada pelo viés da inclusão e da diversidade LGBTQIAPN+.
A representatividade apresentou a Pedrita, formado em Pedagogia pela Uni-
versidade do Estado do Amazonas (UEA) e especialista em Educação de Jovens e
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BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL
Adultos (EJA), novos caminhos para educar – nesse caso, não a educação formal, mas
os valores que, muitas vezes, não são aprendidos na escola, como o respeito à diversi-
dade e à diferença e o desenvolver da consciência de que todos têm o direito de prati-
car esportes e são capazes de desempenhar atividades como essas. Diretor Geral e de
Ensino de uma autoescola, ele se tornou conhecido em distintos espaços esportivos da
cidade, onde passou a ser identificado, como disse:
Quando vou assistir partidas de outras competições, ouço comentarem entre si ‘esse
veado joga muita bola, ele arrebenta em campo’. Estou colhendo o respeito pelo que
plantei aqui na região. Brinco muito, sou descontraído, mas tudo é feito de forma
muito respeitosa, lutando pelo espaço da pessoa LGBT (NETO JÚNIOR, E2, 2021,
s/p.)
Essa luta, potencializada por ter sido destaque no Peladão, despertou a aten-
ção de outros colegas da região, que finalmente vislumbraram possibilidades em um
esporte tão cercado por condutas LGBTfóbicas, como os famigerados gritos de “bicha”
entoados por torcidas em arenas esportivas (FRANÇA, 2019). O Guarani Futebol Clu-
be, de Campinas, por exemplo, teve bombas atiradas ao seu estádio Brinco de Ouro da
Princesa, em 2017, devido à contratação de Richarlyson, atleta sobre o qual circulam
rumores sobre sua suposta homossexualidade, nunca confirmada publicamente pelo
próprio.
No dia 23 de agosto de 2014, inspirado pela Copa do Mundo que o Brasil ha-
via sediado nos dois meses anteriores em diversas capitais, incluindo Manaus, Pedrita
reuniu dezenas de homens gays da cidade interessados em ter contato com o esporte
mais popular do Brasil em um evento que denominou Copa Gay de Futebol de Ma-
naus. Ele também buscou referências no Peladão, que o projetou para a cena esportiva
manauara, a fim de apresentar um desfile de rainhas e musas dos times no evento, o
qual não passou despercebido pela mídia local.
Esse movimento foi o prenúncio para que, algumas semanas depois, fosse fun-
dado o Ball Cat’s, uma equipe ousada de futebol, cuja alcunha leva uma referência di-
reta ao famoso gesto sexual de felação (ou boquete), misturado com a língua inglesa –
o que confere à identidade uma carga subversiva logo de cara. O time nasceu no exato
dia do aniversário de Manaus, 24 de outubro, como o primeiro grupo LGBTQIAPN+
de futebol do estado, tendo Pedrita como presidente e atleta. Como destaca na entre-
vista:
O fato de eu ser conhecido e respeitado pela participação em campeonatos, inclusive
com essa eleição de destaque no Peladão, trouxe ao time visibilidade e respeito por
parte das equipes não LGBT. Jogamos contra todas em pé de igualdade e já vence-
mos várias vezes. Assim vamos aos poucos conquistando nosso espaço e enfrentan-
do o preconceito (NETO JÚNIOR, E2, 2021, s/p.).
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FUTEBÓIS DO NORTE
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BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL
Falar em futebol gay é adentrar num tema tabu, particularmente num país que
mal consegue separar a vida pública da privada, visto que se assenta nas normativas
heterossexuais reinantes e para quem o futebol é reunião de machos em torno de uma
bola. Desde que essas disputas futebolísticas se proliferaram no Brasil, algo mudou:
Do primeiro campeonato ao último, em fins de 2019, muita coisa mudou, outras for-
mas corporais apareceram e outras enunciações de gênero surgiram. Arrisco dizer
que do futebol gay houve um shift (mudança), que ainda está em processo, para um
futebol LGBT, pluralizando as vozes e mesmo ampliando a representatividade das
expressões de gênero, pois afinal, as vivências com o futebol das pessoas envolvidas
nesses eventos são tão distintas e múltiplas, que não cabem apenas na explicitação
da homossexualidade ou da transexualidade em contraposição a uma heterossexua-
lidade compulsória (CAMARGO, 2021ª, p. 11).
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FUTEBÓIS DO NORTE
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BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL
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FUTEBÓIS DO NORTE
A conquista mais recente de Stephany, que traz na bagagem o fato de ter sido
a primeira transexual musa e rainha de bateria de escola de samba em Manaus, foi ter
se sagrado Miss Transexual da cidade de Lorena, no interior de São Paulo, tendo sido
a única representante de fora do município a disputar com as candidatas locais. O con-
vite para o concurso veio graças à repercussão de sua participação no Peladão 2019.
Segundo ela própria destaca:
Minha história com o time é muito marcante para mim. Não imaginávamos a dimen-
são que o trabalho tomaria: primeiro time composto por homens gays a concorrer no
Peladão, num esporte tão machista, com uma trans como rainha. É muito gratifican-
te ver o esporte e a televisão abrindo essa oportunidade para nós, mulheres trans,
exercermos essa representatividade. Pude ensinar como as pessoas poderiam nos
tratar de verdade, tive uma voz que nunca imaginei ter (VILAÇA, E3, 2021, s/p.).
Hoje, responsável por coordenar grupos de forró da cidade, ela voltou ao Rai-
nha do Peladão em 2021, dois anos após conquistar um histórico lugar no pódio do
concurso. Afirmou categoricamente que hoje conta com o apoio de rainhas de edições
anteriores do evento e que, de acordo com Pedrita, está entre as favoritas para conquis-
tar o título. Duas etapas já foram vencidas: ela está entre as 30 finalistas.
Todo reality show tem suas polêmicas e rusgas entre as participantes, mas Ste-
phany fez sucesso até mesmo entre as companheiras de iate, segundo Pedrita (ele disse
que já soube de convites recebidos pela musa por parte de outras equipes que que-
riam contar com ela como rainha no Peladão). O coração de Stephany, todavia, bate
de verdade pelo time que a projetou para o país. Sua gratidão é imensa e ela levanta
a bandeira junto dos Ball Cat’s. Afinal, como ela diz, “a gente quer esse respeito pela
qualidade do nosso trabalho e por nossa competência” (VILAÇA, E3, 2021, s/p.).
A fundação do Ball Cat’s segue uma linha diferente do que ocorreu com ou-
tras equipes esportivas LGBTQIAPN+. O primeiro grupo do qual se tem informação,
o Real Centro, surgiu em 1990, na capital paulista, num outro contexto sociocultural,
político e econômico, o que lhe deu uma característica peculiar no tocante à sexualida-
de. O time se manteve “no armário” enquanto disputava torneios contra adversários
convencionais do futsal/fut7, e se assumiu como “equipe LGBT” só a partir do sur-
gimento da LiGay Nacional de Futebol, quando se sentiram à vontade para dar esse
passo (AMARAL, 2021).
Em seguida, após um hiato de 15 anos, Porto Alegre via nascer o Magia, se-
gundo grupo voltado para pessoas LGBTQIAPN+ interessadas em praticar futebol,
idealizado por homens gays, em um bar da capital gaúcha. A equipe, a qual leva em seu
escudo o azul do Grêmio e o vermelho do Internacional, cores que amantes do futebol
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BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL
no Rio Grande do Sul jamais acreditariam ver unidas na mesma marca esportiva local,
tem em comum com o Real o fato de ter se declarado publicamente como equipe es-
portiva LGBTQIAPN+, também, a partir da fundação da liga supracitada (AMARAL,
2021).
Já em 2010, aparece o primeiro núcleo na região Norte do país, inicialmente
chamado de As Maluquinhas Gay, que veio a adotar, quatro anos mais tarde, o nome
atual, Barcemonas, escolhido devido à paixão de um membro da diretoria pelo gigante
europeu Barcelona. A equipe surgiu a partir de partidas de futebol feminino assisti-
das por amigos de Ananindeua, região metropolitana da capital paraense Belém, que
decidiram reunir homens das localidades próximas que mantinham relações afetivas
e sexuais com outros homens para fundar o primeiro time LGBTQIAPN+ da região
Norte (AMARAL, 2021).
Esses três grupos de atletas amadores, pioneiros na luta por diversidade e in-
clusão no futebol no Brasil, foram idealizados em conversas de amigos dispostos a reu-
nir homens gays para praticar a modalidade na qual se viam, muitas vezes, excluídos
ou estigmatizados por parte de homens cisgênero heterossexuais. Vislumbrando um
espaço harmonioso e livre de preconceitos para se divertir jogando bola, organizavam
encontros próprios em espaços alugados para fazer valer seu apreço pela modalidade
tida como paixão nacional, mas que deixa à margem tantas pessoas em decorrência de
suas identidades, orientações sexuais e expressões de gênero.
Essa exclusão acontece, por incrível que pareça, dentro do próprio segmento
esportivo LGBTQIAPN+, no qual se observa esmagadora maioria de homens gays cis-
gênero em detrimento de representantes de outras letras do acrônimo. Uma das duas
equipes de futebol formadas por homens transexuais do Brasil, o Meninos Bons de
Bola, de São Paulo, por exemplo, publicou postagem no Instagram na qual relata ter
sofrido transfobia durante campeonato LGBTQIAPN+ da modalidade, a Taça Hornet
da Diversidade 2018. Na publicação, datada de 02 de junho de 2018, a equipe relata o
comentário transfóbico que também menospreza a capacidade técnica do time: ‘Se não
ganharem dessas meninas, esse time já pode parar, né, gente!?’, ouvi dos rapazes CIS
musculosos que se referiam (rindo) aos Meninos Bons de Bola, que são homens trans”.
A Champions LiGay realizada em Belo Horizonte em novembro de 2019, po-
rém, deu sinais de que esse futebol marginalizado até então “foi subvertido e coloniza-
do pelo futebol queer, uma expressão mais democrática, inclusiva, politizada e subver-
tida do fenômeno midiático que conhecemos” (CAMARGO, 2018).
O Ball Cat’s, por seu turno, teve uma inspiração específica na liderança de Pe-
drita a partir de sua escolha como destaque no Peladão. Naquele momento, ele elevou
a representatividade a outro nível, sendo reconhecido não apenas como atleta que se
90
FUTEBÓIS DO NORTE
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
91
BALL CAT’S E SUA TRAJETÓRIA NO FUTEBOL DO NORTE DO BRASIL
JESUS, D. S. V. ‘Futebol é coisa para mano, mana e mona’? A LiGay Nacional de Fu-
tebol Society. Periódicus. n. 10, v. 1, nov. 2018 – abr. 2019. Disponível em https://
92
FUTEBÓIS DO NORTE
portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/26521/17159. Acessa-
do em 13/04/2020.
AMARAL, F. Cores do Esporte. [Blog]. Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: https://
coresdoesporte.blogspot.com. Acessado em 03/11/2021.
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São Paulo, 02 jun. 2018. Instagram: @meninosbonsdebolafc. Disponível em: https://
www.instagram.com/p/Bji4JrxgoZN/. Acessado em 08/11/2021.
93
CAPÍTULO 6
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.6
RESUMO
INTRODUÇÃO
A cidade de Belém do Pará possui uma grande paixão por futebol, com os dois
maiores clubes do estado sendo da capital, Clube do Remo e Paysandu Sport Club. O
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FUTEBÓIS DO NORTE
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A PRESENÇA DA MULHER NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL EM BELÉM DO PARÁ (2010 - 2017)
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FUTEBÓIS DO NORTE
homens ou mulheres”. Sendo gênero uma categoria social, ao mesmo tempo que ela
é organizada socialmente, ela também permeia e influi sobre a organização simbóli-
ca e concreta de toda a sociedade, desde as estruturas de produção, da propriedade,
da distribuição da riqueza e formas de consumo, até a produção de valores e as for-
mas de organização política. (CAMPOS, 2000, p. 18).
Assim, Campos nos propõe uma provocação pertinente com relação ao gênero
feminino, fazendo referência à obra de Simone de Beauvoir. A autora acaba nos pro-
vocando a pensar a mulher não como categoria biológica, mas como construção social,
e se assim concordarmos, o fato de uma mulher frequentar um estádio de futebol e
torcer pelo seu time não deve representar, tampouco abrir precedente para que se diga
que ela está indo contra sua natureza.
Mulher, nesse sentido, é construção. Frequentar um estádio de futebol no nos-
so tempo faz parte da construção social que muitas mulheres querem para si, sendo
aceitas e respeitadas nos estádios. A despeito de um edifício histórico e por muito tem-
po cristalizado, como a ideia de patriarcalismo que marcou e ainda marca, em certo
ponto, a sociedade brasileira, essas mulheres hoje trabalham para a consolidação dos
seus papéis de sujeitas na sociedade.
Existe, em meio às torcedoras, tanto do Clube do Remo quanto do Paysandu
Sport Club, uma consciência de que o preconceito tem que ser combatido, de que se
vive atualmente uma realidade de violência simbólica. Por ser simbólica, é pouco per-
cebida, aparentemente falando, mas que é tão danosa quanto a violência física. Segun-
do uma torcedora do Paysandu:
Na minha família, eu sofri preconceito só com o papai, machista! Ele disse, ah isso
não é coisa pra mulher... mas no estádio também já sofri muito preconceito, teve
uma vez ano passado, estava com o ex-namorado, e eu comecei a gesticular, a querer
xingar o juiz, tinha um senhor atrás de mim, ele falou assim, lugar de mulher não
é no estádio, é atrás de uma pia ou de um fogão, que é lá o teu lugar! Já sofri muito
preconceito sim, mas o que mais me marcou foi ter ouvido isso. (TORCEDORA A,
2018).
Depoimentos como esse foram colhidos com torcedoras que fazem parte de
torcidas organizadas em Belém, e que se dispuseram a contribuir para a construção
deste trabalho. Bem mais do que isso, esses depoimentos fazem a denúncia da violên-
cia simbólica (BOURDIEU, 2012), uma forma de violência que pode ser considerada
menor, mas não menos importante do que a violência física.
A torcedora acima relata um caso de preconceito, de influência patriarcal den-
tro de casa. Já dentro do estádio, ela conta que vivenciou um episódio em que um tor-
cedor, olhando para ela, disse: “lugar de mulher não é no estádio, é atrás de uma pia”.
Isso, segundo a torcedora, foi uma das coisas mais duras que já ouviu nessas idas ao
estádio. Perguntada se ela achava que futebol era coisa de homem, ou se houve algum
momento na vida em que ela pensou dessa forma, a torcedora respondeu: “nunca!
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A PRESENÇA DA MULHER NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL EM BELÉM DO PARÁ (2010 - 2017)
Porque sempre fui a única mulher, só tenho primos, então bola e futebol sempre esti-
veram presentes na minha vida” (TORCEDORA A, 2018).
Em outro caso, a torcedora do Clube do Remo faz um relato sobre como se
posiciona com relação ao olhar que a sociedade tem sobre essa prática de frequentar
estádios:
Existem inúmeras torcidas no estádio, vou falar exatamente do Clube do Remo. Tem
várias torcidas. Para que entre em um consenso de todas elas, são necessárias algu-
mas reuniões. E como tem que ter democracia, a maioria vence pra escolher certas
coisas. Inúmeras vezes já fui contra, outras a favor. Um exemplo foi quando o Clube
do Remo precisou jogar o Parazão, a torcida Remista – a Remoçada – iniciou manda-
to de zero público. Eu sou extremamente contra, pois nunca abandonaria meu time
por nada. No dia das mães foi início de campeonato, e deixei minha mãe para ir para
o estádio. (TORCEDORA B, 2018).
Nesse caso, pode-se perceber que a torcedora leva sua prática a sério, a ponto
de ultrapassar tradições como o Dia das Mães. Isso pode abrir uma interpretação e,
neste ponto, o papel do historiador sempre é reforçado: compreender ao invés de jul-
gar os relatos. Infere-se, a partir desse depoimento, que existe, em meio a algumas mu-
lheres, uma consciência de que elas vão galgar o direito de frequentar os espaços que
sempre foram entendidos, por um passado baseado em uma prática patrimonialista,
como de homens. Aquilo que foi construído ou apossado como patrimônio masculino,
hoje, tem ganhado a presença feminina. A despeito dos preconceitos, as mulheres es-
tão conquistando um novo significado na sociedade brasileira.
100
FUTEBÓIS DO NORTE
101
A PRESENÇA DA MULHER NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL EM BELÉM DO PARÁ (2010 - 2017)
Essas coisas, infelizmente, sempre vão acontecer com as mulheres. Muitos ainda
pensam que só os homens podem ir aos jogos, enquanto que as mulheres não. Existe
muita falta de respeito, palavras de mau gosto, gente falando de que era melhor a
gente ficar em casa. Lugar de mulher é onde ela quer. Vamos estar sempre lá, nas
arquibancadas, lindas. (informação verbal, 2018).
Ainda com relação aos assédios sofridos por torcedoras nos campos de fute-
bol, a Torcedora C relatou em entrevista uma série de comentários pejorativos desti-
nados a ela: “perguntam se sabemos o que é escanteio, ou se sabemos porque o árbitro
não toca na bola durante a partida, ou porque o goleiro pode pegar a bola com a mão.
Coisas do tipo” (TORCEDORA C, 2018).
Em resposta a essas atitudes retrógradas, as próprias torcidas organizadas
masculinas promovem ações de conscientização para o combate ao desrespeito com
as torcedoras. Em fevereiro de 2017, a torcida do Clube do Remo, Camisa 33, elaborou
uma campanha apelidada de “Cartilha Anti-Machismo”, em que constava um con-
junto de ações características de assédio que, caso praticadas, deveriam ser coibidas
por homens e mulheres. A campanha surgiu para inibir atitudes machistas durante os
festejos de carnaval no ano em questão, mas foi expandida para o âmbito dos estádios
devido ao crescimento no número de torcedoras nas partidas de futebol. Elogiada por
outros clubes no país, a campanha foi incorporada e reproduzida em outros estádios.
Além disso, as torcidas femininas também tomam a frente no combate aos
assédios nos estádios da capital paraense, como, por exemplo, na realização do 4º
Encontro de Mulheres Remistas, promovido pela diretoria do Remo e pela torcida
Azulindas. O encontro foi marcado por debates acerca dos diversos tipos de violência
contra a mulher nos estádios, a falta de estrutura física adequada às necessidades das
torcedoras, como banheiros, em somatório a outros desafios enfrentados por elas em
um espaço antes dominado pelo público masculino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
102
FUTEBÓIS DO NORTE
REFERÊNCIAS
BECKMAN, Diego. Clube do Remo promoverá encontro para torcedoras. Diário On-
line (DOL), Esporte Pará, publicado em 16 mar. 2018 Disponível em: https://www.
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103
A PRESENÇA DA MULHER NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL EM BELÉM DO PARÁ (2010 - 2017)
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104
FUTEBÓIS DO NORTE
SOUZA, Denaldo A. Futebol e gênero no Brasil. Caderno Espaço Feminino, [S. l.],
v. 22, n. 2, 2010. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/neguem/article/
view/8001. Acesso em: 02 jun. 2018.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Trad. Lólio Lourenço Oliveira.
Rio de Janeiro: Paz e Guerra, 1992.
105
CAPÍTULO 7
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.7
RESUMO
INTRODUÇÃO
A relação do torcedor com o seu time de futebol é uma das interações emocio-
nantes mais intensas da sociedade atual, entretanto, com o advento da pandemia do
SARS-CoV-2, popularmente conhecido como novo coronavírus, a emoção de torcer no
estádio foi interrompida a partir do mês de Março de 2020, e também, por um período,
108
FUTEBÓIS DO NORTE
109
NVASÕES DE CAMPO POR TORCEDORES NA VOLTA AOS ESTÁDIOS: UMA REFLEXÃO DO
NORTE AO SUL DO BRASIL
CASO MANAUS-AM
110
FUTEBÓIS DO NORTE
CASO PAYSANDU-PA
Um dos maiores clubes do norte do Brasil têm vivido dias difíceis, o time pa-
raense em sua terceira participação seguida na série C acumulou erros e decepções
enquanto o torcedor não podia apoiar presencialmente no estádio, e mesmo com di-
ficuldades e resultados precisos, conquistou a classificação para o quadrangular final
de acesso para a série B. Com o avanço da vacinação no Estado, a torcida pôde estar
presente em 30%, e depois em 50% da capacidade do estádio (CONTENTE, 2021), en-
tretanto, mesmo com a presença da torcida bicolor, o time não conseguiu apresentar
um bom futebol em campo e as chances de acesso foram diminuindo.
Para manter chances remotas de acesso após dois empates e uma derrota no
quadrangular final, o time paraense necessitava da vitória, ou na pior das hipóteses,
um empate. No jogo do último suspiro bicolor em busca do acesso para a série B, o pa-
pão enfrentou o Ituano-SP, no estádio da Curuzu, em Belém, com a presença de 3.669
torcedores.
Com 10 minutos de jogo, o time paulista abriu o placar, e no segundo tempo,
precisou de 12 minutos para ampliar o resultado para 3x0. Nesse momento, segundo
a súmula da partida (CBF, 2021), integrantes da torcida uniformizada do Paysandu
invadiram o campo, correndo em direção aos jogadores do próprio time.
111
NVASÕES DE CAMPO POR TORCEDORES NA VOLTA AOS ESTÁDIOS: UMA REFLEXÃO DO
NORTE AO SUL DO BRASIL
A invasão foi controlada imediatamente pela polícia militar que estava ao re-
dor do campo, e em meio à tentativa de saída de do campo por uma pequena porta de
acesso, os torcedores danificaram placas de publicidade e materiais de campo. Duran-
te e após a invasão, os demais integrantes da torcida continuaram protestando, dessa
vez, jogando vários objetos para dentro de campo (GLOBO ESPORTE, 2021).
Em nota oficial (PAYSANDU, 2021, p. 1), o clube paraense informa que “(...)
lamenta e repudia veementemente os atos violentos praticados por um grupo de pes-
soas que não representam sua fiel e apayxonada torcida”. Em súmula (CBF, 2021) o
árbitro da partida informou que o boletim foi anexado à súmula, identificando, nomi-
nalmente, uma pessoa como um dos invasores. Segundo o site Globo Esporte (2021) o
procedimento pode evitar ou amenizar possíveis punições ao Paysandu, como a perda
de mando de campo, em denúncias no STJD.
CASO AMÉRICA-RN
Diferente dos demais, este caso de invasão da torcida não ocorreu dentro do
estádio. Na capital potiguar, o América de Natal empatou com a equipe do Campi-
nense-PB, por 0x0, no primeiro jogo das quartas de finais do Campeonato Brasileiro da
Série D, com mais de sete mil torcedores na Arena das Dunas.
Assim que o time do Campinense chegou ao hotel em que estava hospedado,
após a partida, um grupo de integrantes da torcida organizada do América surpreen-
deu a equipe paraibana e invadiu o hotel, promovendo cenas de terror, onde garrafas
de vidro, paus e pedras foram atiradas em cima dos jogadores, chegando a quebrar o
vidro do ônibus que transportava a equipe.
112
FUTEBÓIS DO NORTE
De acordo com o site Futebol Interior (2021), um dos dirigentes do clube parai-
bano comentou sobre o ocorrido:
“A gente estava chegando do estádio e foi pego desprevenido. Quando a gente des-
ceu do ônibus, de repente, apareceu um grupo de torcedores com paus e pedras nas
mãos e foram para cima da gente. Os jogadores tentaram correr para o hotel, mas al-
guns acabaram sendo agredidos covardemente” (FUTEBOL INTERIOR, 2021, p. 1).
O ano de 2021 pode ser considerado o pior dos 107 anos de história do trico-
lor pernambucano, no campeonato estadual foi eliminado pelo rival alvirrubro nas
semifinais, na Copa do Nordeste foi o último colocado no grupo com apenas 12,5%
de aproveitamento, na Copa do Brasil foi eliminado na segunda fase, e na série C do
Campeonato Brasileiro, protagonizou um dos maiores vexames de sua história, sendo
rebaixado para a série D nacional, tudo isso longe do seu torcedor, devido os protoco-
los contra a covid-19.
113
NVASÕES DE CAMPO POR TORCEDORES NA VOLTA AOS ESTÁDIOS: UMA REFLEXÃO DO
NORTE AO SUL DO BRASIL
Apesar do ano amargurado, dias após o descenso, a torcida do Santa Cruz foi
agraciada com a liberação do público para até 15% da capacidade da praça esportiva.
A volta do torcedor, depois de 586 dias, ocorreu na segunda fase preliminar da Copa
do Nordeste de 2022, contra a equipe do Floresta-CE, que ocorreu no dia 18 de Outu-
bro de 2021, na Arena Pernambuco, em São Lorenço da Mata, região metropolitana de
Recife/PE (TAVARES, 2021; G1, 2021).
3.599 torcedores estiveram presentes no jogo e presenciaram mais uma elimi-
nação do time tricolor, após derrota nos pênaltis. A tristeza e revolta se intensificaram
quando parte da torcida do Santa Cruz invadiu o campo, sem contenção policial, indo
em direção aos jogadores do próprio time e tentando invadir o vestiário, danificando o
estádio e materiais do clube, onde alguns torcedores ficaram feridos.
Figura 3 - Torcedores do Santa Cruz invadindo a Arena Pernambuco após eliminação na Copa do
Nordeste.
CASO GRÊMIO-RS
114
FUTEBÓIS DO NORTE
115
NVASÕES DE CAMPO POR TORCEDORES NA VOLTA AOS ESTÁDIOS: UMA REFLEXÃO DO
NORTE AO SUL DO BRASIL
não tenha acesso a carga de ingressos nos jogos como visitantes até o julgamento da
Medida Inominada no Pleno (STJD, 2021, p. 1).
DISCUSSÃO
116
FUTEBÓIS DO NORTE
Ao olhar para a sociedade, este estudo observa dois fatores que podem ser de-
terminantes na análise do comportamento desses torcedores nas invasões de campo: 1)
os efeitos da pandemia do coronavírus e 2) o governo de Jair Bolsonaro.
A pandemia do SARS-CoV-2, que começou em 2020, proporcionou a popula-
ção mundial uma série de medidas para conter a disseminação do vírus e o colapso
dos serviços de saúde, além das citadas anteriormente em relação à presença de públi-
co nos estádios, também estão na lista a quarentena, chamada também de isolamento
social, higienização das mãos, usa de máscaras e distanciamento social. Vasconcelos
et al. (2020) procuraram observar os impactos psicológicos na sociedade causados por
essas medidas em estudos, e foi comprovado que os sintomas mais comuns foram an-
siedade, medo, raiva e estresse, diante dessa situação de crise sanitária, podendo ser
agravados ou desenvolvidos mediante a vivência do isolamento social.
117
NVASÕES DE CAMPO POR TORCEDORES NA VOLTA AOS ESTÁDIOS: UMA REFLEXÃO DO
NORTE AO SUL DO BRASIL
118
FUTEBÓIS DO NORTE
votos a favor nas eleições presidenciais de 2018, no segundo turno, contra Fernando
Haddad do Partido dos Trabalhadores (PT), conforme a figura 5.
Figura 5 - Porcentagem (%) dos municípios onde ocorreram os casos de invasões de campo por torce-
dores em relação ao voto presidencial nas eleições do 2º turno em 2018.
Jair Bolsonaro (PSL) Fernando Haddad (PT)
65,72
54,93 56,98
52,98 52,5
45,07 47,02 47,5
43,15
34,28
Tais influências tendem a se difundir de forma intensa, pois quanto maior for
à identificação dos sujeitos com um determinado grupo, maior é a chance de aderirem
e se engajarem em ações semelhantes, tendo a liberdade de, se preciso, tomar posi-
cionamentos mais extremos a fim de comprovar que está alinhado e incluído, ideolo-
gicamente, com o grupo (FIGUEIRA; LOUZADA, 2021). Zaferino (2020), em sua dis-
sertação, analisou as associações entre agressividade e os traços de personalidade em
torcedores de futebol.
Os principais resultados apontaram que a personalidade foi preditora de agressivi-
dade em torcedores de futebol e, além disso, verificou-se que o fanatismo foi uma
variável mediadora da relação entre personalidade e agressividade. Esses resulta-
dos confirmaram que variáveis intrínsecas do indivíduo como a personalidade e o
fanatismo podem auxiliar no entendimento da agressividade dos torcedores. Além
disso, constatou-se que variáveis sociodemográficas e hábitos e condutas se correla-
cionaram com a agressividade e podem exercer influência no comportamento destes
torcedores (ZEFERINO, 2020, p. 74).
119
NVASÕES DE CAMPO POR TORCEDORES NA VOLTA AOS ESTÁDIOS: UMA REFLEXÃO DO
NORTE AO SUL DO BRASIL
seu clube, capaz de cometer atos violentos, para o seu clube e contra o seu adversá-
rio.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CBF. Protocolo de recomendações para retorno do público aos estádios. 2ª ed, Com-
petições CBF 2021, 2021.
120
FUTEBÓIS DO NORTE
CBF. Súmula online: Jogo 11. Copa do Nordeste - Pré-Copa/2021. Disponível em: <ht-
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CBF. Súmula online: Jogo 193. Campeonato Brasileiro - Série C/2021. Disponí-
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CBF. Súmula online: Jogo 200. Campeonato Brasileiro - Série C/2021. Disponí-
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CBF. Súmula online: Jogo 285. Campeonato Brasileiro - Série A/2021. Disponí-
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121
NVASÕES DE CAMPO POR TORCEDORES NA VOLTA AOS ESTÁDIOS: UMA REFLEXÃO DO
NORTE AO SUL DO BRASIL
G1. Pernambuco amplia público nos estádios de futebol para até 15% da capacidade
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122
FUTEBÓIS DO NORTE
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123
CAPÍTULO 8
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.8
RESUMO
E ste artigo faz parte de alguns estudos que estão sendo realizados referen-
tes à temática das torcidas organizadas de futebol, especificamente em Be-
lém do Pará. O objetivo é demonstrar que as torcidas organizadas são importantes não
só no cenário local, mas mundialmente, porém, o mundo futebolístico está permeado
de conflitos entre torcidas organizadas rivais e até mesmo entre torcidas pertencentes
ao mesmo time. Para isso, será feita uma reflexão sobre as torcidas organizadas em
três aspectos: festas, violência e solidariedade. Tomamos como objeto de análise as
torcidas Tradição Uniformizada Torcida Bicolor (TUTB) e Banda Alma Celeste (BAC),
que torcem para o Paysandu Sport Club, e Torcida Remista (TOR), a qual torce para o
Clube do Remo.
INTRODUÇÃO
126
FUTEBÓIS DO NORTE
1 Nota-se que, nas duas torcidas, as letras iniciais são mantidas tanto nos nomes anteriores quanto nos nomes atuais.
2 A COVID-19 é uma infecção respiratória aguda causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada
transmissibilidade e de distribuição global.
127
TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL EM BELÉM/PA: FESTA, VIOLÊNCIA E SOLIDARIEDA-
DE
128
FUTEBÓIS DO NORTE
129
TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL EM BELÉM/PA: FESTA, VIOLÊNCIA E SOLIDARIEDA-
DE
3 Os símbolos das torcidas são: bandeiras, camisas, bonés e tudo que faz referência à torcida.
130
FUTEBÓIS DO NORTE
131
TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL EM BELÉM/PA: FESTA, VIOLÊNCIA E SOLIDARIEDA-
DE
Toledo (1996) comenta que, apesar das TOs apresentarem características dife-
rentes dos hooligans, esses grupos possuem semelhanças em relação à prática da vio-
lência. Ambos a utilizam como uma forma de domínio de seus rivais, porém, distin-
guem-se em seus estilos de torcer, pois as torcidas organizadas (brasileiras) possuem
particularidades carnavalescas nas arquibancadas.
Em Belém, tínhamos (temos) as duas maiores torcidas organizadas da Região
Norte: de um lado, a Torcida Uniformizada Terror Bicolor (TUTB), que torce para o
Paysandu Sport Club; e, do outro, a Torcida Organizada Remoçada (TOR), a qual torce
para o Clube do Remo. No entanto, por vários conflitos envolvendo brigas e até mor-
tes de integrantes de ambas as torcidas, a justiça aplicou como penalidade a extinção
delas, porém, elas continuam existindo, refundadas e ocultadas por meio de novas
siglas, como TUTB (Tradição Uniformizada Torcida Bicolor) e TOR (Torcida Remista).
Assim, elas estão extintas apenas no papel, pois continuam a existir; mudam os nomes,
mas seguem com as mesmas letras iniciais tanto nos antigos nomes como nos atuais.
Segundo o ex-diretor da TUTB, “se a justiça nos extinguir, a gente nunca vai acabar,
porque vamos dar um jeito em voltar”.
Tais mudanças de nomes nos levam a compreender que, mesmo que o Direito
(Ciência Jurídica) utilize normas ou regras para determinados indivíduos ou grupos,
essas pessoas não são obrigadas a seguir as normas ou regras do outro. A respeito dis-
so, Elias e Dunning (1992) afirmam que determinadas normas seguidas por um grupo
não são, necessariamente, aplicáveis a outros grupos, e ainda acrescentam que o que é
imposto a um grupo pode ser ignorado por seus integrantes que assim desejam agir.
Observa-se que os principais prejudicados pelos atos violentos relacionados
às torcidas organizadas são os torcedores comuns, que acabam se afastando de seus
momentos de lazer e entretenimento devido à violência e ao risco de exposição. Lopes
(2012) descreve que o torcedor comum está contido em duas categorias: o torcedor so-
litário, porém, não participante em atos de desordem; e o torcedor que comparece ao
estádio com sua família. O autor acrescenta que os torcedores responsáveis por atos de
violência estariam afastando esses torcedores comuns.
Entretanto, não é só entre as torcidas rivais que há confronto, existem rivali-
dades dentro das torcidas dos clubes, que entram em confronto, como ocorreu no ano
de 2017, em uma partida entre Paysandu e Luverdense5 pela Série C do Campeonato
Brasileiro. Neste jogo, as torcidas organizadas TUTB e BAC6 se envolveram em uma
briga nas arquibancadas do estádio da Curuzú. Segundo informações de integrantes
de uma das torcidas, a confusão aconteceu devido ao Paysandu não apresentar bons
5 Luverdense é um clube brasileiro que pertence à cidade de Lucas do Rio Verde, situada no estado do Mato Grosso.
6 Eles não se consideram como torcedores organizados, porém, nesse episódio, a polícia militar aplicou sanções como de torcida
organizada.
132
FUTEBÓIS DO NORTE
resultados, o que levou à cobrança tanto de torcedores comuns quanto de torcidas or-
ganizadas que cobravam um melhor desempenho do time em campo.
O episódio acima fez com que, no dia seguinte, a mídia publicasse diversas
matérias se referindo à TUTB como culpada pelo conflito, possivelmente, por um fato
ocorrido uma semana antes, quando a BAC teria levado uma bandeira LBGT para uma
partida de futebol, sendo homenageada por esse ato como a primeira torcida do Brasil
a levantar causas sociais nas arquibancadas. Após o episódio, o Paysandu Sport Clube,
na figura do Presidente, convocou os representantes das duas torcidas para entender o
que aconteceu, e pediu que elas não se tornassem inimigas ou prejudicassem o clube.
Até o momento, as torcidas não voltaram a praticar violência.
Conforme relato da Diretoria TUTB, esse episódio acarretou mais um pedido
de extinção da torcida. Após uma suspensão por quatros jogos, nos quais não pude-
ram levar seus instrumentos musicais, voltaram a frequentar os estádios.
7 Essa união das torcidas organizadas é benéfica para ambas as partes, pois, quando os integrantes da TUTB ou da CEARAMOR,
por exemplo, viajam para assistir aos jogos fora de seus estados, não há gastos com hospedagens e outros fatores, visto que a
maior parte das caravanas é hospedada na sede de uma torcida aliada ou nas residências de seus integrantes. Outra vantagem é
que os integrantes tendem a participar de jogos com torcidas aliadas, aumentando o número de torcedores nas arquibancadas.
133
TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL EM BELÉM/PA: FESTA, VIOLÊNCIA E SOLIDARIEDA-
DE
Fonte: Rede Pará. Disponível em: https://redepara.com.br/. Acesso em: 18 out. 2021
CONSIDERAÇÕES FINAIS
134
FUTEBÓIS DO NORTE
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TORCIDAS ORGANIZADAS DE FUTEBOL EM BELÉM/PA: FESTA, VIOLÊNCIA E SOLIDARIEDA-
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136
CAPÍTULO 9
O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO
ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E
A COBERTURA DO ESPORTE1
Magno da Câmara Fernandes2
Arcângela A. Guedes de Sena3
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.9
1 Artigo final apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo na Faculdade Estácio do Pará. Publicado
originalmente em: Puçá - Revista de Comunicação e Cultura da Faculdade Estácio do Pará - Belém, Ano 5, Vol. 5, no 2. Ago./Dez.
2019 ISSN - 2526-4729.
2 Faculdade Estácio do Pará - FAP, Belém, Pará, Brasil.
3 Faculdade Estácio do Pará - FAP, Belém, Pará, Brasil.
O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
RESUMO
INTRODUÇÃO
E é sobre esse vínculo da narração com o esporte, fenômeno que ganhou pe-
culiaridades no país, que vamos focar como percurso para a construção desta pesqui-
sa acadêmica, tendo no rádio, o veículo de comunicação de massa responsável pela
criação de uma nova maneira de acompanhar esportes. LIMA (2003, p.33), afirma que
“o rádio é o mais popular e democrático dos veículos de comunicação de massa, justa-
mente por sua penetração, atingindo a todo e qualquer cidadão”. Na Região Norte do
Brasil, a Rádio Clube do Pará procura sempre evidenciar as relações emocionais com
1 A Rádio Clube do Pará surgiu cinco anos depois da abertura da primeira rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,
fundada em 1923.
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FUTEBÓIS DO NORTE
2 O Clube do Remo foi fundado em 5 de fevereiro de 1905 e reorganizado em 15 de agosto de 1911 para se tornar um monumento
esportivo do Pará e patrimônio do esporte nacional.
3 O Paysandu foi fundado em 2 de fevereiro de 1914. Liderados por Hugo Manoel de Leão, os integrantes do Nort Club entraram
em litígio com a Liga Paraense de Foot-Ball e criaram um novo clube no estado.
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
4 O Twitter foi fundado por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams ainda em 2006. Cada usuário pode escolher quem deseja
seguir e ser seguido por outros. Permite o envio de mensagens denominadas tweets de até 280 caracteres.
5 Criado em 2004, pelo americano Mark Zuckerberg enquanto este era aluno de Harvard, o Facebook é hoje um dos sistemas com
maior base de usuários no mundo. Os usuários criam perfis com fotos e informações pessoais, adicionam amigos em sua rede de
contatos e interagem uns com os outros.
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FUTEBÓIS DO NORTE
O improviso é uma técnica fundamental para realizar uma boa narração es-
portiva. BARBEIRO E RANGEL (2006, p.66), nos relatam bem essa técnica, quando
eles propõem que o "improviso'' é sinônimo de preparo e conhecimento do assunto.
Não pode de forma alguma ser confundido com verborragia, ou falar apenas para ocu-
par espaço vazio”. O rádio, com isso, passou a fazer parte da “bagagem” do torcedor
aos estádios. Já não bastava apenas assistir, era preciso acompanhar a narrativa. Isso se
deve, em boa parte, pela emoção transferida pelo narrador de futebol ao seu ouvinte,
durante as transmissões esportivas.
METODOLOGIA
A elaboração deste artigo tem como base a pesquisa exploratória, com ênfase
a essa ligação que se tem entre os profissionais da Rádio Clube com o seu público alvo
que é o ouvinte, e como esse mesmo ouvinte influi de forma direta ou indireta com
suas participações e interações digitais para com a emissora.
As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais preci-
sos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores (GIL, 2002, p.41)
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
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FUTEBÓIS DO NORTE
Com o advento das redes sociais, o ouvinte da Rádio Clube não se limita mais
em ficar apenas ouvindo a programação da emissora, e nem muitos menos se limita
em tão somente receber as informações deste veículo de comunicação. Ele já tende a
estabelecer relações com outros usuários das redes sociais e também com os locutores
da emissora. Através da internet, foi possível acontecer a expansão de comunicação
da Rádio Clube do Pará, com alcance cada vez maior, atraindo número expressivo de
ouvintes, fazendo que com isso a discussão sobre os assuntos divulgados na emisso-
ra, assim como as transmissões esportivas envolvendo, principalmente, as equipes de
Clube do Remo e Paysandu, tomassem proporções maiores do que se simplesmente
elas fossem divulgadas nas mídias tradicionais, no caso, apenas o rádio.
Ao longo da pesquisa, apresentam-se aspectos sobre essa ligação que envolve
a cobertura que é feita pela imprensa especializada em esportes e a paixão que move
o torcedor com seu clube de coração. No primeiro tópico, falaremos sobre o jornalis-
mo esportivo paraense e abordaremos a chegada do futebol, o surgimento dos clubes,
assim como os primeiros registros em relação à cobertura esportiva em nosso país;
no segundo tópico, o enfoque será dado para a tradição da Rádio Clube do Pará na
narração esportiva com sua grande equipe esportiva e o imaginário popular em cima
dos narradores da emissora. Por fim, no terceiro tópico, será colocado em evidência
como este tradicionalismo da emissora vem se intercalando com a convergência das
mídias digitais que expandem cada vez mais o alcance da emissora em qualquer parte
do mundo.
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
O futebol deu seus primeiros passos no Brasil no final do século XIX, e teve
como grande responsável a pessoa de Charles Miller, brasileiro, nascido em São Paulo.
Ao desembarcar no Porto de Santos – SP, em 1894, após ter passado 10 anos estudando
na Inglaterra, Charles Miller trouxe em sua bagagem duas bolas, um par de chuteiras
e um livro de regras. Porém, conforme afirma RIBEIRO (2007, p.19), “De volta a São
Paulo, onde sua família morava, associou-se rapidamente ao clube dos ingleses cha-
mado SPAC. A intenção era uma só: jogar futebol. Mas Miller logo viu que esse esporte
era pouco praticado em São Paulo”. Ou seja, no Brasil o esporte precisava ainda ser
divulgado e sobretudo praticado. A mídia esportiva, segundo RIBEIRO (2007, p.26 –
27), já existia, mas o futebol não tinha o seu devido espaço.
O jornalismo esportivo brasileiro teria nascido em 1856, com O Atleta, passando re-
ceitas para o aprimoramento físico dos habitantes do Rio de Janeiro. Pouco depois,
em 1885, circularam O Sport e Os Sportsmam. Em 1891, surgiu em São Paulo A
Platea Sportiva, um suplemento de A Plateia, criado em 1888. Dez anos depois, em
1898, também em São Paulo, surgiram a revista O Sport e o jornal Gazeta Sportiva
(que não tem nada a ver com o jornal que seria criado futuramente), periódico de
distribuição gratuita que circulava somente aos domingos. Em nenhuma das publi-
cações o futebol era prioridade: apenas notícia de turfe, regatas e ciclismo. (RIBEI-
RO, 2007, p. 26- 27).
Iniciou-se também uma cobertura mais detalhada sobre o futebol com notas
sobre os jogos assim também como os resultados das partidas, capas de publicações e
livros dedicados ao esporte que rapidamente se expandiu por possuir regras de fácil
entendimento e também por permitir a participação de várias pessoas ao mesmo tem-
po, tendo assim uma enorme aceitação popular em várias cidades pelo Brasil.
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FUTEBÓIS DO NORTE
sar dos anos, o esporte foi ganhando vários adeptos na capital paraense e vários fes-
tivais esportivos foram realizados. GAUDÊNCIO (2007), cita uma das primeiras par-
tidas disputadas, ainda no campo de São Brás (onde hoje fica o terminal rodoviário):
Efetuou-se no domingo 11 de março de 1906, às 4:30 da tarde, um jogo de futebol
entre dois bons disputantes da época. A partida foi realizada na praça de S. Braz,
estando os dois conjuctos assim formados: Lloyd; Redigg e Clissold; Wright, Melio
e White; Dehr, Balley,Compton, Delfim Guimaraes, e A. Andrade.O outro conjucto
disputante foi este:Bill Balley; Timbridge e Breach; Wesley, Ruiz e Borges; J. Borges
Alves, C. Andrade, P. Palmério, Danin e Weitzman. (GAUDÊNCIO, 2007, p.22)
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
senhoritas trazendo distintivos ou trajando com as cores do seu clube mais simpá-
tico, davam um aspecto verdadeiramente encantador ao importante certame espor-
tivo. Não havia ali, finalmente, quem não torcesse por este ou aquele contendor,
tendo sido saudada por vibrante salva de palmas e hurras e entrada dos elevens,
notando-se, porém, que era maior o número de adeptos do Grupo do Remo. (DA
COSTA, 2015, p.11 – 12)
O interesse pelo futebol crescia cada vez mais junto a população paraense e
ao mesmo tempo também ao longo de todo o país, e com isso, cresciam as demandas
de conteúdo assim como o número de cronistas esportivos na imprensa escrita. Neste
período, surgia outro veículo de comunicação que viria a levar de uma vez por todas,
servindo como uma importante ferramenta para o crescimento e popularização do
futebol em todo o Brasil: O Rádio.
Segundo CÉZAR (2005, p.9) “o rádio começa de um sonho, vira uma paixão e
termina numa eterna conquista”. O Rádio veio fazer o torcedor “ver” a partida quando
ele não está no estádio acompanhando o seu time. Tanto que a história do futebol no
Brasil, se confunde com a história da expansão do rádio pelo país.
No início, as transmissões sobre o esporte no rádio se resumiam a boletins
informativos e não se restringiam apenas ao futebol. A primeira transmissão esporti-
va de rádio no Brasil aconteceu em 19 de julho de 1931, entre Seleção de São Paulo e
Seleção do Paraná, pela Rádio Educadora Paulista, com a narração de Nicolau Tuma,
20 anos, estudante de direito. Segundo UNZELTE (2009, p.64), a transmissão foi con-
siderada um sucesso.
Rádio e esporte, mais especificamente rádio e futebol, andam juntos desde a pri-
meira transmissão de uma partida inteira de que se tem notícia (sabe-se que inicial-
mente, e tanto em São Paulo quanto no Rio, trechos eram narrados durante a pro-
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FUTEBÓIS DO NORTE
gramação normal das emissoras). Ela foi realizada pelo locutor, à época chamado de
speaker, Nicolau Tuma, diretor do antigo campo da Floresta, em São Paulo, no dia
19 de julho de 1931. A Seleção Paulista venceu a Paranaense por 6 a 4, e naquele dia
Tuma narrou tudo pela Rádio Educadora Paulista. (UNZELTE, 2009, p. 64)
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
Mais de nove décadas de história, a Rádio Clube do Pará caminha para o seu
centenário, que será em 2028, sempre se preocupando em ser uma emissora moderna
que está antenada com os principais fatos no Pará, no Brasil, e no mundo, deixando
sempre o ouvinte bem informado. Desde o seu início, o esporte sempre foi prioridade
na programação da emissora, fazendo com que a história do jornalismo esportivo pa-
raense seja entrelaçada com a própria história da Rádio Clube. O diretor de esportes da
emissora e narrador esportivo, Guilherme Guerreiro, ressalta a importância histórica
que a Clube tem para a radiofonia brasileira graças a sua tradição na narração espor-
tiva no tempo.
A Rádio Clube é patrimônio do povo paraense. Somos líderes de audiência há quase
25 anos e nos mantemos consolidados neste patamar graças a essa tradição man-
tendo como base da nossa programação o jornalismo, o entretenimento, a prestação
de serviços e o esporte. Temos mais de 20 profissionais na área de esporte cobrindo
tudo o que acontece no futebol paraense e não apenas o que envolve os grandes clu-
bes. Essa é uma marca registrada da Clube (INFORMAÇÃO VERBAL6)
A relação torcedor/ ouvinte e narrador faz com que, no rádio, essa aproxima-
ção se torne cada vez mais estreita, pois se cria uma determinada identificação tanto
para o quem está transmitindo o jogo, quanto para a emissora que está sendo ouvida,
que segundo HALL (2005, p.11) “a identidade é formada na ‘interação’ entre o eu e
a sociedade”. A Rádio Clube do Pará, mantém um papel importante no jornalismo
esportivo brasileiro em informar o torcedor tudo que acontece no cenário esportivo.
6 Entrevista concedida para a pesquisa no dia 8 de novembro de 2019, por Guilherme Guerreiro.
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FUTEBÓIS DO NORTE
Não dá para garantir durante uma partida, qual time vencerá, por maior que
seja a diferença entre os adversários. Para o torcedor, não basta apenas a técnica, a
tática, e o preparo físico e emocional dos atletas, existe também o fator sorte. A po-
pularidade do futebol também pode ser explicada através dessa associação entre a
imprevisibilidade no decorrer de uma partida, com o sobrenatural. Isso leva à emoção.
Daí vemos muito a relação do torcedor com o rádio por intermédio do locutor. Para o
narrador esportivo, Cláudio Guimarães, essa relação mística é bem intensa.
Esse imaginário existe muito! Eu tenho um vizinho de prédio e ele quando tem jogo,
sobretudo quando é Re x Pa, pergunta pra mim: ‘Quem vai transmitir?’ E se eu dis-
ser que é fulano, ele fala: ‘Ih, o Remo perdeu!’ E ele é remista. Tem muito disso mes-
mo! E isso acontece até comigo! Veja bem, eu tenho um cunhado que me pergunta:
'Égua, é tu hoje? Tranquilo pro Remo!’ Porque ele sabe que sou Paysandu, embora
profissionalmente isso não influencia em nada. Mas é impressionante essa marcação
que o torcedor tem com locutor, com repórter, com comentarista...e é engraçado. A
gente não chuta a bola, não faz gol, não tem nada a ver com isso; mas sempre a ma-
nia de marcação é com alguém que faz o trabalho de transmissão. (INFORMAÇÃO
VERBAL).
O futebol é um dos poucos esportes coletivos que lida com o inesperado du-
rante toda a sua realização. É neste clima de emoção, de tensão, que a narração espor-
tiva no rádio se apropria e retém a atenção do ouvinte.
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
Para GUERREIRO, em entrevista concedida para a pesquisa, ele diz que “as
narrações esportivas vão seguir, com ajustes, se adaptando, compreendendo as neces-
sidades do ouvinte. Com redes sociais, com aplicativos, e com todas as ferramentas”.
Dessa forma, o rádio pode retransmitir rapidamente o seu conteúdo de informação
pela rede e também ser instantâneo.
Segundo afirma JENKINS (2009, p.28) “a convergência ocorre dentro dos cé-
rebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com os outros”. Com
o acesso e possibilidade em gerenciar as informações, a forma que se tem em acom-
panhar as transmissões de futebol no Rádio está sendo rapidamente modificada em
função do torcedor ter agora o auxílio eletrônico. Seja nos estádios, em casa, e em qual-
quer lugar, o torcedor/ouvinte/internauta tem o poder da interação durante a partida
e se vê na necessidade de participar, fiscalizar, debater, criticar e contribuir através de
mensagens enviadas pelas diversas redes sociais, sem perder a atenção no jogo.
Além do tradicional aparelho de rádio, hoje a Clube do Pará pode ser acessada
através de computadores, notebooks, celulares e tablets, e nisso faz com que a busca
por informações na própria rede se torne muito mais ágil e cômoda que em outros
meios de comunicação. Para JENKINS (2009, p. 44), as emissoras devem explorar e
ampliar cada vez mais a interatividade com o público.
Empresas midiáticas estão aprendendo a acelerar o fluxo de conteúdo midiático pe-
los canais de distribuição para aumentar as oportunidades de lucros, ampliar mer-
cados e consolidar seus compromissos com o público. Consumidores estão apren-
dendo a utilizar as diferentes tecnologias para ter um controle mais completo sobre
o fluxo da mídia e para interagir com outros consumidores. (JENKINS, 2009, p. 44).
A Rádio Clube do Pará expande essa interação com os seus ouvintes nos pro-
gramas esportivos e também nas transmissões de futebol. Com essa acessibilidade
acentuada nas redes sociais, o público que acompanha a programação da emissora se
tornou mais participativo e opinativo onde além de repercutir as informações divul-
gadas pela emissora, interage com os locutores, comentaristas e repórteres, seja pelo
facebook, twitter, whatsapp e até mesmo no canal do youtube da emissora. Podemos retra-
tar como exemplo de interatividade através das redes sociais, o tradicional programa
“Cartaz Esportivo” que além de ser exibido no bom e velho radinho e também nas pla-
taformas digitais, vem sendo também exibido ao vivo na página do facebook e durante
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FUTEBÓIS DO NORTE
ANÁLISES
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
Dando sequência a análise que foi realizada para a pesquisa, durante os dias
24 de outubro de 2019 à 09 de novembro de 2019, foi disponibilizado um questionário
com perguntas fechadas aos torcedores na internet.
O questionário começa perguntando sobre qual estilo de narração eles prefe-
rem ouvir ao longo das transmissões esportivas da Rádio Clube. A intenção na per-
gunta era observar a quantidade de pessoas que conhecem o perfil das narrativas que
são apresentadas pela emissora: rápido, vibrante e emotivo ou moderado, detalhista e
descritivo.
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FUTEBÓIS DO NORTE
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
Gráfico 3 - Gráfico sobre o modo de acompanhamento das transmissões esportivas da rádio Clube.
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FUTEBÓIS DO NORTE
O resultado aponta que 51,9% dos entrevistados não realizaram nenhum tipo
de engajamento com a equipe esportiva da Rádio Clube, durante as partidas por inter-
médio das redes sociais da emissora. Já 36,8% dos torcedores responderam que par-
ticipam da programação esportiva através de mensagens nas redes sociais. Enquanto
que 11,3% confirmaram que sim, sempre enviam os seus recados e avaliações aos nar-
radores esportivos seja por twitter, facebook, whatsapp ou através do site da emissora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O futebol como todos bem sabem é uma paixão nacional. Este esporte nos faz
rir, nos faz chorar, nos faz sonhar. Aliás, como o futebol é movido pelo talento e pelos
sonhos, mas o futebol não está só, o torcedor não está só. É nesse momento que entra
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
em campo um velho amigo que está sempre se renovando com o passar do tempo: O
Rádio.
Como vimos nesta análise, desde praticamente o seu início no Brasil, papel do
rádio sempre foi de expandir cada vez mais o futebol, tendo como personagem prin-
cipal deste processo a pessoa do narrador esportivo, um verdadeiro mensageiro de
emoções. Seja nos estádios, nos lares, ou nos lugares mais distantes onde somente as
ondas do querido radinho pode alcançar, haverá sempre um torcedor vibrando a cada
lance, a cada jogada, e envolto em um repleto imaginário de espetáculo – mesmo ele
estando com a imagem da partida sob seus olhos – que só uma transmissão esportiva
radiofônica pode oferecer.
A pesquisa mostrou que ao acompanhar os jogos, o ouvinte da Rádio Clube do
Pará espera que cada narrador exerça seu trabalho e que em suas palavras se retrate
emoção, isenção e total imparcialidade, assim também como os próprios narradores
que procuram sempre se atualizar para levar sempre o melhor para que os acompanha.
O objetivo geral foi alcançado uma vez que através do mapeamento feito por
intermédio de mensagens nas redes sociais conforme relatamos nos objetivos especí-
ficos, pudemos confirmar as hipóteses em relação ao imaginário popular que há em
relação aos narradores esportivos da Rádio Clube do Pará, assim também como en-
tendemos que o narrador se preocupa com a imagem que cria para o seu ouvinte a
partir do que é relatado por ele. Nisso o torcedor vai construindo todo um contexto de
sensações gerando os mais variados sentimentos.
O Rádio se modernizou, rompeu fronteiras, superou limites e graças a con-
vergência midiática pode se aproximar cada vez mais dos ouvintes, onde agora todos
podem estar ao mesmo juntos e conectados e geograficamente distantes. Pelas redes
sociais, o torcedor/ouvinte pode se aproximar cada vez mais da equipe esportiva da
Clube, inclusive podendo interagir diretamente com os seus integrantes ao longo de
sua programação. Há um desejo, pois, de que essa pesquisa tenha conseguido cumprir
os entendimentos de relatar o papel desempenhado pelos narradores esportivos da
Rádio Clube em transmitir emoções e ser um elo determinante neste processo de inte-
ração que abrange a sua locução.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
156
FUTEBÓIS DO NORTE
COELHO, Paulo Vinicius. Jornalismo Esportivo. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2003.
FERRARETO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Sagra,
2001.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
MATOS, Rafael. Sportmen nas redações: O jornalismo esportivo na Belle Époque. Be-
lém: Universidade Federal do Pará, 2012
OLIVEIRA, Marília Dutra de. O Clube Atlético Mineiro e a estratégia virtual: como
os atributos da internet com suas novas mídias sociais são utilizados pela assessoria
de comunicação. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação So-
cial) - Faculdade de Comunicação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora,
2013. Disponível em http://www.ufjf.br/facom/files/2013/05/Monografia-final.
pdf. Acesso em: 25/11/2019
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O IMAGINÁRIO NA NARRAÇÃO ESPORTIVA: RÁDIO CLUBE DO PARÁ E A COBERTURA DO
ESPORTE
PORCHAT, Maria Elisa. Manual de Radiojornalismo Jovem Pan. 2 ed. São Paulo: Áti-
ca, 1989.
SOARES, Edileuza. A bola no ar: o rádio esportivo em São Paulo. São Paulo: Summus
Editorial, 1994.
UNZELTE, Celso. Jornalismo esportivo: relatos de uma paixão. São Paulo: Saraiva,
2009. 4
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PARTE II
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
CAPÍTULO 10
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.10
1 Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), curso de Licenciatura em História, Macapá, Amapá, Brasil.
“SE TIRAR A TORCIDA, O YPIRANGA SE ESVAZIA, PERDE O CORAÇÃO” UMA ETNOGRAFIA
DOS TURBINADOS DA TORRE
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“SE TIRAR A TORCIDA, O YPIRANGA SE ESVAZIA, PERDE O CORAÇÃO” UMA ETNOGRAFIA
DOS TURBINADOS DA TORRE
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“SE TIRAR A TORCIDA, O YPIRANGA SE ESVAZIA, PERDE O CORAÇÃO” UMA ETNOGRAFIA
DOS TURBINADOS DA TORRE
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FUTEBÓIS DO NORTE
Registros fotográficos da arquibancada nos dois jogos das finais do ano de 2018 onde o Ypiranga sa-
grou-se campeão.
Para finalizar esse ponta pé inicial das pesquisas sobre torcida organizada no
Amapá, é importante contextualizar, brevemente, o futebol no Amapá. Só assim pode-
mos mensurar a escala de paixão e entrega que esses torcedores que compõem a massa
Ypiranguista possuem. Por que é importante contextualizar? O Ypiranga Clube, assim
como os outros times de futebol no Amapá, nunca subiu da última divisão de nacio-
nal, nunca conquistou um troféu nacional ou regional, apesar de ser o maior campeão
estadual de futebol. Aliado a esse fator inegável, possuímos uma federação de futebol
profissional carregada de significados políticos e de poder, na qual os recursos são
escassos para os clubes, não é à toa, assim, que a federação reveza o último lugar no
ranking da CBF, que se atualizada a cada ano, com a federação de Roraima.
Depois de colocar essas questões, podemos entender o porquê dos times do
Amapá como: Santos AP, Santana, Independente, Trem, Oratorio, Macapá, São Paulo
e São José não possuírem uma torcida organizada grande e que apoia o clube dando
sustentação para o mesmo. Agora, o ponto de desequilíbrio no estado do Amapá é a
torcida organizada Turbinados da Torre. Podemos entender porque não existem mais
movimentos de torcida em outros clubes, agora, por que a torcida do Ypiranga não
“arreda o pé” do clube? Ao contrário, mantém o clube com esforços diários, dentro e
fora da arquibancada. Somente uma paixão inconfundível e sem paralelo é capaz de
manter de pé esse clube no Amapá, e só é possível através das pessoas que pensam e
agem no seio da Torcida Organizada.
Ao serem perguntados qual a frase que melhor defini um Ypiranguista, apa-
receram frases como: Paixão; Amizade e Amor e Garra. Talvez, a resposta para esses
questionamentos esteja no próprio hino do Clube “Jamais te esquecerei, levo tuas cores
dentro do meu coração” (...) “Ypiranga de amor e garra, clube da torre dono da minha paixão”.
E, nesse sentido, os torcedores materializam esse trecho e, observando de perto, esse
fato nunca mudará.
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“SE TIRAR A TORCIDA, O YPIRANGA SE ESVAZIA, PERDE O CORAÇÃO” UMA ETNOGRAFIA
DOS TURBINADOS DA TORRE
Termino esse escrito da forma que iniciei, transcrevendo uma fala de um dos
torcedores: “Sem a torcida o Ypiranga não é nada. O maior patrimônio do Ypiranga
é sua torcida. Se tirar a torcida o ypiranga se esvazia, perde o coração”.
AGRADECIMENTOS:
Registro fotográfico do Torcedor Felipe Castelo durante o serviço de esticar as faixas no estádio.
Acervo Turbinados da Torre, 2021.
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FUTEBÓIS DO NORTE
Registro fotográfico do torcedor Hugo Rafael na sede do Ypiranga Clube. Acervo pessoal de Hugo
Rafael, 2021.
Registro fotográfico de Racso Dias com a taça do ênea campeonato amapaense de futebol. Acervo pes-
soal do torcedor, 2020.
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“SE TIRAR A TORCIDA, O YPIRANGA SE ESVAZIA, PERDE O CORAÇÃO” UMA ETNOGRAFIA
DOS TURBINADOS DA TORRE
Registro fotográfico do torcedor Eron Dias (em destaque) durante a final do campeonato amapaense
de 2019. Acervo do Ypiranga Clube, 2019.
Registro fotográfico dos torcedores Ypiranguistas durante a final do campeonato amapaense de 2019.
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FUTEBÓIS DO NORTE
Registro fotográfico dos torcedores Ypiranguistas durante a final do campeonato amapaense de 2019.
Registro fotográfico dos torcedores Ypiranguistas durante a final do campeonato amapaense de 2018.
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“SE TIRAR A TORCIDA, O YPIRANGA SE ESVAZIA, PERDE O CORAÇÃO” UMA ETNOGRAFIA
DOS TURBINADOS DA TORRE
Registro fotográfico dos torcedores Ypiranguistas durante a final do campeonato amapaense de 2018.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Freitas, Aline M. C. Não é só futebol: uma análise dos laços de afeto que envolvem
os torcedores do Clube do Remo, a partir de processos socioculturais comunicativos.
(Dissertação) Belém: Universidade Federal do Pará, 2017.
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CAPÍTULO 11
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.11
1 Associação Atlética ESMAC/Ananindeua (A.A.ESMAC), Centro Universitário do Pará (CESUPA), Belém, Pará, Brasil.
A PIADA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA CONQUISTA DE UM SONHO
Q uando 2021 iniciou, o sentimento era de quem ainda vivia a segunda par-
te de um 2020 desastroso. A Covid-19 não havia nos deixado. No Pará,
na segunda quinzena de janeiro, o número de mortes teve um aumento de 340% em
relação à semana que iniciou o ano. O caos parecia longe de acabar e afetava, significa-
tivamente, a todos. Das mais diversas formas. As coisas foram aos poucos sendo, no-
vamente, proibidas. E essas proibições foram chegando em todos os espaços. No fute-
bol não foi nada diferente, na cidade de Belém, até as equipes profissionais masculinas
chegaram a ser impedidas de treinar. Coisa não tão difícil de resolver para quem pode.
E naquele momento, a gente ainda não podia. Quando falo “a gente” me refiro ao time
feminino lá da cidade de Ananindeua-PA, que sonhava com um acesso para a elite
do futebol feminino brasileiro, mesmo num ano tão conturbado. Mas calma, vamos
começar do zero. Quando o ano iniciou, a estratégia era iniciar os trabalhos em março,
justamente o mês no qual e tudo viria a parar. Nos apresentamos no dia 2 de março.
Mas paramos também naquele dia. Tínhamos medo. Medo da doença, porém também
tínhamos medo de não sermos capazes de bem representar nosso estado. Alguns dias
depois da representação, só se falava na TV de uma coisa: o lockdown voltou! E em
toda região metropolitana. Não sabíamos quando voltaríamos.
Mercy Nunes
Em abril, com esforço de muitos, treinamos pela primeira vez, mas a 80km
de onde estávamos acostumados, em Castanhal-PA. O decreto agora em vigor já não
proibia mais o futebol profissional de treinar, mas ainda proibia o futebol feminino,
entendido como futebol amador, de fazer o mesmo.
Foram 2 finais de semana de muito esforço e suor, a 80 km do nosso lugar. Não
tínhamos mais como continuar assim. Com um apelo na TV e matérias falando da luta
de um time que só queria treinar, acabamos sendo recompensados com o fim de um
174
FUTEBÓIS DO NORTE
decreto que nos impedia de lutar pelo nosso sonho. Voltamos. Apenas 18 dias antes da
estreia. Mas voltamos.
No dia da estreia, na preleção antes do jogo, realizado justamente na cidade
que nos permitiu treinar pela primeira vez, uma frase marcou o início da nossa guerra.
O treinador, Mercy Nunes, começou a preleção contando uma piada. Todos os presen-
tes riram. Contou novamente e riram de novo. Na terceira vez, ninguém mais entendia
o porquê daquilo. Ele, então, disse “não vamos deixar que nós sejamos a piada contada
3 vezes”. Era o nosso terceiro ano tentando o acesso, o fracasso nos 2 anos anteriores
ainda pairava sobre nós. Porém, naquele dia uma vitória acachapante viria. 9x0 na
estreia. Para espantar todo o ar que ainda pairava. Era um sinal.
Foto 2 - Jogo: Esmac 5x0 Oratório-AP
Encerramos a primeira fase sem sofrer uma derrota. Mas nos últimos dois
anos havia sido assim. Não podíamos deixar subir à cabeça. Esperamos o sorteio e,
pela primeira vez, pegamos um dos melhores terceiros. Era um bom sinal. Só que nada
nunca foi fácil pra gente... e dessa vez não seria diferente. Não havia como ser. Ainda
pesava sobre nós muitas coisas. O fato de quase não termos tido uma pré-temporada
e o fato de sermos um dos clubes menos estruturados da competição. Em campo, isso
virou força. Foi assim que passamos das oitavas pela primeira vez. Foi uma sensação
indescritível. Mas acabamos o jogo sem muitas comemorações. Afinal, não havia aca-
bado. Nós não podíamos morrer na praia.
O primeiro jogo das quartas de final começou antes mesmo da chegada a ci-
dade do adversário. Enfrentaríamos uma maratona para chegar lá. De Belém para Ma-
naus, de Manaus para Porto Velho. Um descanso rápido no hotel e mais 3 horas de
ônibus para Ariquemes-RO. Mas estávamos certos que ninguém seria capaz de dimi-
175
A PIADA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA CONQUISTA DE UM SONHO
nuir a nossa força. Nem mesmo uma viagem cansativa. Nem mesmo a dor causada
pelas horas em que as atletas estiveram sentadas. Nem mesmo o ar seco da cidade,
sentidos por atletas acostumadas a quase “respirar água” em Belém. Estávamos pron-
tos para qualquer coisa.
Em cada chute tinha lembrança dos impedimentos que sofremos, dos nossos
esforços para estarmos ali. A história de luta de cada um dos nossos se transformou
em uma só. Era a luta da Esmac. Na preleção, um apanhado dos nossos fracassos an-
teriores foi mostrado. Era uma lembrança forte do que não queríamos fazer, do que
não queríamos ser. Voltamos de Ariquemes-RO, numa viagem ainda mais cansativa,
com um empate na bagagem e com a sensação de que poderíamos ter feito mais. Isso
pesava. O medo de achar que faria falta.
Sete dias separaram o primeiro jogo do segundo. Os dias que antecederam o
jogo mais importante da história do meu futebol feminino foram marcados pela an-
siedade, pela alegria de estar escrevendo essa história e pelo medo de fracassar nova-
mente. Sabíamos que merecíamos, mas também sabíamos que o futebol, volta e meia,
se mostra o mais injusto dos esportes.
Um dia antes da partida nos concentramos num hotel no centro da cidade de
Belém. Queríamos estar todos unidos antes da maior partida da vida da grande maio-
ria ali. No quarto da Capitã, a última preleção de hotel antes do grande dia. O treina-
dor contou uma outra história: a história do menino que perguntou ao pai o segredo
da vida e ouviu dele que “a vaca não dá leite”. Ué, como assim a vaca não dá leite?
Perguntou o menino. “A vaca não dá leite. Se você não acordar cedo, não for atrás e
não apertar as mamas dela, ela não vai dar leite. Na vida, ninguém vai te dar nada, és
tu quem tem que buscar”. Ninguém nos daria o acesso. O Real Ariquemes-RO não nos
daria nada de graça. Era o sonho deles também. A gente teria que buscar.
Chegamos ao Estádio Baenão às 08h30. A ansiedade tomava conta de cada um
de nós. Era um sonho de muitas vidas que podia ou não se tornar realidade. Medo, ale-
gria e força se misturavam. Pareciam um só sentimento. Ninguém de fora conseguiria
entender. A maior motivação de cada uma das atletas era as lembranças de tudo que
cada uma havia passado durante o ano para estar ali. As lembranças de quando não
podíamos treinar. De tudo que ouvimos. Tudo virou força.
Quando o relógio marcou às 10h00, o jogo das nossas vidas começou. O apito
do árbitro despertou novamente o nervosismo em cada uma das minhas atletas. Em
cada um dos que estavam ali. Foi quase fatal. Com dez minutos de partida, o adver-
sário abriu o placar. Assim, eles nos mostraram que não nos dariam nada. Foi a hora
que a chave virou. Tínhamos que buscar. Não podíamos fracassar de novo. Não. Dessa
vez não. Não nos abatemos. Levantamos. Buscamos. A cobrança de falta magistral da
176
FUTEBÓIS DO NORTE
lateral Anne deixou tudo igual. O êxtase tomou conta de cada um presente. Nos deu
força. Com a Cassia, atacante, viramos o jogo. Uma bola que foi chutada por ela e por
muitos. Da titular a reserva, do técnico ao massagista. Todo mundo deu um pouco da
sua força naquela hora.
Quando o árbitro apitou pela última vez, a sensação que tomou conta de to-
dos os responsáveis pelo meu tão sonhado acesso foi inenarrável. Poucas palavras no
mundo seriam capazes de explicar aquela felicidade, aquele alívio, aquela sensação de
dever cumprido. “Conseguimos!” Era a palavra mais dita em meio ao choro, em meio
ao riso. Tudo era felicidade. Porque tudo que passamos e sofremos nos levou àquele
momento.
E foi assim... assim que o Norte voltou a ter um representante na elite do fu-
tebol brasileiro. O único, entre homens e mulheres. Foi assim que os meus não me
deixaram ser a piada contada 3 vezes.
177
PARTE III
TEXTOS JORNALÍSTICOS
CAPÍTULO 12
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.12
Andirá (juvenil) - 1969. Em pé, da esquerda para a direita: Manoel, Brito, David Abugoche, Cabeça,
Noca, Assem, Hélio e Zé Américo. Agachados: Gadelha, Darlan, Cabo Dias, Taboquinha, Natal, Gil e
Carreon
Fundado no dia 1º de novembro de 1964 por uma das famílias mais tradicio-
nais do Estado do Acre, os Dantas, o Andirá EC completa nesta segunda-feira (1º) 57
anos de fundação. A origem do nome do clube vem da palavra indígena “andyrá”, que
em Tupi significa “morcego”. Suas cores inicialmente eram o preto e o branco. Recen-
temente, em 2006, o clube adotou o verde em seu uniforme que, segundo o então pre-
sidente da época Gilberto Braga, era uma homenagem à Amazônia e à borracha, produzida
com destaque no Estado.
Andirá – 1969. Em pé, da esquerda para a direita: José Augusto, Reinaldo Amarelinho, Humberto,
Madureira, Hélio Fiesca e Babá. Agachados: Albertino, João Cutia, Pituba, Luís Cunha e Paulo.
180
FUTEBÓIS DO NORTE
Andirá – 1981. Em pé, da esquerda para a direita: Mário Mota, Studio, Josué, Carlão, Uchoa e Zé Bella-
vista. Agachados: Dias, Zé Maria, Jorge, Carlinhos Chita e Sérgio.
O clube mais simpático do Acre também traz o orgulho de ter sido o primeiro
time acreano a ser incluído num teste da Loteria Esportiva, isso em 1974. A equipe foi
goleada em casa pelo Paysandu de Belém, por 4 a 0.
Andirá – 1983. Em pé, da esquerda para a direita: Nelson (diretor), Dodi, Manoel, Geraldo, Erasmo,
Arthur e Zé Bellavista. Agachados: Paulo, Jorge Bocão, Paladino, Assis e Regis.
181
ANDIRÁ COMPLETA 57 ANOS DE FUNDAÇÃO
Outra proeza do Morcego diz respeito ao fato de nomear pela primeira vez
uma mulher para assumir o comando técnico de um time de futebol no Brasil. Trata-
va-se da professora Cláudia Malheiros, que comandou a equipe nas temporadas de
2000, 2006 e 2007. Na terceira passagem na direção andiraense a técnica ajudou o time
a conquistar o título de vice-campeão.
Andirá – 2003. Em pé, da esquerda para a direita: Waltemir, Cairara, Máximo, André Louzada,
Maxwell e Ezequiel. Agachados: Pelé, Biro-Biro, Tonho Cabañas, De Souza e Robernilson.
182
FUTEBÓIS DO NORTE
O então presidente andiraense Gilberto Braga fala dos patrocínios da temporada de 2007.
Andirá EC – 2011. Em pé, da esquerda para a direita: Marquinhos Costa, Daniel Zaire, Mário Augusto,
Fábio e Kinho. Agachados: Jefferson, Eduardo, Moisés, Sandro, João Paulo e Ceziane.
183
ANDIRÁ COMPLETA 57 ANOS DE FUNDAÇÃO
Andirá – 2020. Em pé, da esquerda para a direita: Paulo Alessandro (técnico), Ericon, Lucas Nunes,
Higor da Silva, Kaisson, Felipe Paranhos e Anderson Hermínio. Agachados: Thiago Marques, Michael
Wallace, Neném, Willismar e Carlos Henrique.
184
FUTEBÓIS DO NORTE
Jogadores do Andirá comemoram o segundo gol contra o Galo Carijó na conquista do título do sub-20.
185
CAPÍTULO 13
José Brilhante1
DOI: 10.46898/rfb.9786558893134.13
188
FUTEBÓIS DO NORTE
locidade e astúcia no drible para chegar ao gol, no auge dos seus 39 anos, mas ainda
era Garrincha, o “anjo das pernas tortas” que encantou o planeta, nas copas da Suécia
(1958) e do Chile (1962).
E nas suas andanças com seu empresário, foi a Manaus e aceitou proposta
para se apresentar em Parintins. Quando chegou ao cais do porto, uma multidão o
esperava. Praticamente foi levado no colo para o hotel onde ficou hospedado.
A cidade ficou inquieta com a vinda do ainda mítico bicampeão mundial e
ídolo do Botafogo. Nessa época, já não jogava mais no clube há muito tempo, e estava
aposentado como profissional.
Não era a primeira vez que Garrincha arribava para as bandas do Norte. Em
1969, veio com o Clube de Regatas Flamengo, a Manaus, disputar dois amistosos. O
primeiro contra o Fast (Rolo Compressor) e o segundo contra o Nacional (Leão da
Vila). Nas duas partidas o Flamengo só obteve sucesso com o Fast, vencendo por 2 a 0.
Contra o Nacional só ficou no empate em 0 a 0, com o ídolo jogando pouco, por estar
fora de forma.
Antes do fato histórico para os parintinenses, o jogador já tinha se despedido
do futebol em um amistoso da Seleção Brasileira.
Era uma tarde de sábado, 02 de junho de 1973, quando o mito das pernas tor-
tas entrou no estádio Tupy Cantanhede completamente lotado para ver o craque que
antes só era prestigiado nos cinemas de Parintins. Fora do estádio ainda tinha muita
gente tentando entrar a qualquer custo. Dentro do Tupy, a tietagem dos tupinambara-
nas não parava. Todo mundo querendo tocá-lo para ver se era real, tirar uma foto ou
pegar um autógrafo.
A partida proposta era disputar um amistoso entre os maiores rivais do fu-
tebol parintinense: Amazonas e Sul América. Garrincha jogou o primeiro tempo pelo
Cobra Coral e o segundo pelo Sulamba. Nilo Gama, na época, titular do Sul América,
relembra um lance em que participou com Garrincha: “Jorge Canal deu a bola para
Garrincha que tocou de calcanhar pra mim. Depois disso, joguei por cima do zagueiro
para concluir lá na frente”. Após a jogada, Garrincha percebeu a semelhança dos to-
ques que fazia sempre nos gramados e se aproximou para perguntar:
- Baixinho, onde você aprendeu essa jogada?
- Meu treinador foi no Rio de Janeiro e viu a tua jogada com Djama Santos e
me ensinou - respondeu Nilo
- Olha, teve só um lateral que fazia essa jogada que é o Djalma - respondeu
Garrincha encerrando a conversa.
189
MANÉ GARRINCHA EM PARINTINS/AM 1973
190
FUTEBÓIS DO NORTE
Sul América, pelo qual mané garrincha jogou em 1973. em pé, da esquerda
para direita: Nilo Gama, Paulo Afonso, Geraldo Alípio, Nonato Carcará, Mário Polen-
gó, Vanderlei (Presidente), Rubens Dos Santos (Técnico). Agachados: Sergio Modesto,
Garrincha, Duca, Jorge Canal, Flávio, Zezinho E Catá.
Garrincha com a camisa do Amazonas
191
ÍNDICE REMISSIVO
B 129, 130, 131, 132, 134, 135, 137, 138, 144,
145, 146, 147, 148, 149, 151, 153, 154, 156,
Belém 5, 6, 15, 16, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 28, 32, 158, 159, 166, 172, 173
41, 42, 44, 47, 49, 50, 54, 56, 57, 71, 77, 78, 81,
89, 93, 103, 107, 108, 110, 111, 112, 113, 115, L
116, 117, 119, 121, 126, 127, 138, 139, 153,
155, 156, 157, 158, 165, 179 Lgbtqiapn 60, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73
Brasil 15, 16, 17, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 28, 29,
31, 44, 45, 46, 59, 60, 61, 62, 66, 68, 69, 70, 72, N
73, 80, 85, 86, 89, 90, 91, 92, 93, 95, 96, 100,
Norte 22, 28, 29, 30, 43, 44, 46, 47, 60, 61, 64, 66,
102, 104, 107, 108, 110, 114, 119, 120, 121,
67, 69, 71, 79, 95, 113, 117, 120, 121, 127, 128,
125, 126, 127, 128, 129, 137, 139, 143, 144,
159, 173
155, 163, 166, 171, 172
C P
Pará 15, 16, 21, 23, 24, 25, 26, 41, 43, 44, 45, 46, 48,
Campeonato 21, 22, 31, 45, 62, 64, 65, 68, 72, 82,
50, 55, 56, 70, 77, 78, 79, 80, 83, 85, 86, 89, 94,
93, 95, 96, 98, 126, 147, 151, 152, 153
107, 108, 109, 110, 115, 116, 117, 119, 120,
Campo 21, 24, 29, 30, 31, 37, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 121, 122, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130,
49, 50, 55, 57, 60, 62, 66, 70, 83, 90, 91, 92, 93, 132, 135, 136, 137, 138, 139, 153, 154, 155,
94, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 105, 108, 156
114, 121, 123, 124, 126, 127, 128, 137, 144,
Paraense 20, 21, 23, 30, 31, 42, 43, 44, 45, 46, 48,
153, 157, 174
50, 52, 54, 55, 71, 79, 80, 83, 84, 85, 93, 94,
Clube 16, 21, 22, 23, 26, 31, 35, 42, 43, 44, 45, 46, 122, 125, 126, 127, 128, 129, 138, 153
47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 55, 63, 65, 66, 78, 79,
Paysandu 16, 17, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 28, 29,
80, 81, 82, 83, 84, 85, 108, 109, 110, 113, 114,
30, 31, 32, 33, 35, 36, 37, 38, 40, 43, 45, 46, 47,
120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128,
78, 79, 81, 82, 83, 85, 86, 90, 91, 93, 94, 103,
129, 130, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138,
108, 109, 110, 113, 114, 115, 116, 117, 120,
139, 145, 146, 149, 150, 151, 152, 153, 173
122, 123, 124, 125, 127, 130, 132, 133, 138,
Clubes 20, 22, 24, 28, 29, 35, 36, 38, 39, 43, 46, 49, 154, 165
57, 61, 62, 63, 65, 78, 80, 82, 83, 84, 90, 91, 93,
98, 99, 102, 109, 110, 111, 112, 114, 115, 120, R
122, 125, 126, 127, 129, 144, 149, 157, 174
Rádio 91, 120, 121, 122, 125, 128, 129, 130, 131,
D 132, 134, 135, 136, 137, 138, 139
Remo 16, 17, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 42, 43, 44,
Direitos 6
45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 78,
79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 108, 109, 110,
E 113, 120, 122, 123, 124, 125, 127, 130, 132,
138, 148, 153, 154
Esporte 16, 17, 20, 22, 24, 25, 26, 29, 35, 39, 43, 44,
46, 48, 49, 50, 52, 56, 63, 64, 66, 67, 68, 70, 73,
83, 85, 86, 99, 103, 116, 120, 125, 126, 128, T
129, 137, 138, 144, 145
Times 16, 20, 21, 22, 23, 24, 35, 39, 40, 56, 57, 62,
Estádio 21, 23, 25, 31, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 63, 66, 69, 70, 73, 80, 91, 96, 98, 99, 102, 103,
50, 51, 52, 53, 54, 55, 57, 66, 80, 81, 82, 83, 85, 104, 109, 111, 112, 114, 116, 117, 144, 149,
86, 90, 91, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 102, 114, 117, 172
120, 121, 127, 128, 129, 135, 145, 146, 147,
Torcedor 28, 31, 36, 42, 44, 46, 47, 50, 52, 53, 54,
148, 150, 173
55, 73, 78, 81, 90, 91, 92, 93, 95, 96, 97, 98, 99,
Futebol 16, 17, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 29, 101, 102, 104, 110, 111, 114, 122, 125, 128,
30, 31, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 42, 43, 45, 46, 48, 129, 130, 131, 136, 137, 138, 146, 148, 150,
49, 50, 52, 55, 56, 57, 60, 61, 62, 63, 64, 66, 67, 151
68, 69, 71, 72, 73, 74, 75, 78, 79, 80, 81, 82, 83,
Torcedores 28, 30, 36, 37, 42, 43, 46, 47, 48, 50, 51,
84, 85, 86, 90, 92, 93, 95, 98, 101, 102, 103,
52, 53, 54, 55, 56, 86, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96,
104, 105, 108, 109, 110, 111, 112, 114, 116,
97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 109,
117, 120, 121, 122, 123, 125, 126, 127, 128,
110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 120, 122,
192
124, 128, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137,
144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 152, 153
Torcida 23, 38, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 82,
83, 84, 85, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 98, 99, 103,
108, 109, 110, 111, 112, 114, 115, 116, 117,
144, 145, 146, 147, 148, 149, 150
V
Violência 81, 84, 85, 97, 99, 100, 103, 108, 109, 111,
112, 113, 114, 116, 117, 146, 147, 153
193
FUTEBÓIS DO NORTE
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