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Colonização Da Microbiota Intestinal e Sua Influencia Na Saude Do Hospedeiro
Colonização Da Microbiota Intestinal e Sua Influencia Na Saude Do Hospedeiro
3629
A colonização da microbiota intestinal e
sua influência na saúde do hospedeiro*
Abstract
The intestinal microbiota has become an extremely important study
source for knowledge and treatment of some pathology. Gastrointestinal
tract is a sterile organ at birth, acquiring microbes immediately after
child-birth. Between its functions, it can point out: immunomodulation,
nutritional contribution and resistance to colonization by pathogenic
bacteria. It is altered by external and internal factors such as environment,
antibicotherapic, nutrition, immune system, genetics, probiotics and
prebiotics. New treatments have been a promised way to combat some
enteric diseases, how for example, transplanting stool, which despite being
*
Recebido em: 03/10/2015.
recent, it shows great results. The work aims to report the colonization of
Aprovado em: 03/04/2016.
1
Graduada em Biomedicina pelo Centro Uni- the intestinal microbiota and its influence on the health of the host. It
versitário de Brasília. Brasília (DF) – Brasil. conducted a literature narrative review with papers published between
E-mail: ludmillaaraujopaixao@gmail.com.
2
EBiomédica. Pós graduada em microbiologia the years 1999 to 2015.
aplicada ao laboratório clínico. Mestre em Ci- Keywords: Intestinal tract. Gastrointestinal. Bacterial colonization. Pro-
ências da Saúde pela Universidade de Brasília biotics. Prebiotics. Transplant faeces.
– UnB. Professora de Biomedicina no Centro
Universitário de Brasília. Brasília (DF) – Brasil.
E-mail: fabiola.castro@uniceub.br.
Ludmilla Araújo da Paixão, Fabíola Fernandes dos Santos Castro
gastrointestinal, colonização bacteriana, transplante de as funções mencionadas acima. Sua composição definiti-
fezes, prebióticos e probióticos. Foram coletados artigos va é obtida em torno dos dois anos de idade mantendo-se
em português, espanhol e inglês, publicados entre os anos estável pelo resto da vida (TANNOCK, 1999).
1999 e 2015. O desenvolvimento e estabelecimento da micro-
biota intestinal é um mecanismo complexo que recebe
3 Desenvolvimento influência de fatores externos relacionados ao hospedeiro
como o tipo de parto, aleitamento materno ou artificial,
3.1 Microbiota intestinal contaminação ambiental, uso de antimicrobianos, sis-
A microbiota intestinal é considerada um ecossis- tema imune e características genéticas. Esses elementos
tema essencialmente bacteriano que reside normalmen- podem facilitar ou dificultar a instalação do ecossistema
te nos intestinos do homem, exerce o papel de proteção, (PENNA; NICOLI, 2001; BRANDT; SAMPAIO; MIUKI,
impedindo o estabelecimento de bactérias patogênicas 2006).
que geralmente são ocasionadas pelo desequilíbrio da A colonização bacteriana no TGI é realizada por
microbiota. Algumas doenças como a diarreia e a colite meio de sítios de adesão específicos, que são determi-
pseudomembranosa são provenientes dessa assimetria nados geneticamente e podem sofrer interferências ou
bacteriana (BRANDT; SAMPAIO; MIUKI, 2006; BAR- causar alterações nos receptores de células da mucosa.
BOSA et al., 2010). As espécies que se encaixam nesse contexto colonizam de
O intestino é considerado um ambiente com am- forma permanente o intestino e tornam-se a microbiota
plo número de espécies de bactérias distintas. São encon- natural do TGI. A permanência das bactérias no intesti-
tradas em toda região gastrointestinal, entretanto, no es- no depende dessa ligação, o que exige uma especificida-
tômago e no intestino delgado encontram-se em menores de e possibilita a colonização do hospedeiro (BRANDT;
quantidades devido ao contato e ação bactericida do suco SAMPAIO; MIUKI, 2006; ANDRADE, 2010).
gástrico. No íleo, há uma área de transição e o colón apre- A mãe é a primeira fonte de micro-organismo das
senta condições favoráveis para o crescimento bacteriano crianças. Sendo assim, os bebês de parto normal entram
devido à escassez de secreções intestinais e abrangente em contato com bactérias mais rápido do que crianças
fonte de nutrição (GUARNER, 2007). de parto cesáreo, visto que, no parto vaginal tem contato
Existe uma relação de aspecto benéfico entre direto com a microbiota fecal materna por meio do ca-
hospedeiro e microbiota no intestino, sendo fundamen- nal de parto. Em contrapartida, no parto cesáreo, a fonte
das em países pobres estão mais expostas à contaminação a integridade da mucosa), salivação, secreção de imuno-
ambiental e aos riscos de uma colonização não saudável globulina IgA, produção de ácido graxo, descamação da
(ANDRADE, 2010). mucosa e motilidade gastrointestinal (BARBOSA et al.,
2010).
3.2 Funções da Microbiota Intestinal 3.2.2 Função nutricional
Muitas são as funções desempenhadas e estabele- A atividade de algumas bactérias intestinais sobre
cidas pelo sistema gastrointestinal, a alta atividade meta- uma categoria de nutrientes permite um melhor desem-
bólica e endócrina do TGI são importantes exemplos que penho intestinal. Esse processo acontece normalmente
têm influência sobre a saúde e o bem estar do ser huma- com substratos que não foram digeridos e chegam ao
no. As bactérias que colonizam o TGI são determinantes lúmen do cólon, especialmente os carboidratos, que são
na manutenção da homeostase do hospedeiro. (BERDA- fermentados e formam ácidos absorvidos pela mucosa.
NI; ROSSI, 2009) Esse mecanismo é denominado salvamento energético e
Entres as principais funções da comunidade bac- forma os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) tais como
teriana destacam-se a antibacteriana/proteção, imuno- o buritato e propionato, que são a principal fonte nutriti-
moduladora, nutricional e metabólica. Ao longo do TGI, va dos colonócitos e apresentam efeito trófico no epitélio
bactérias fazem a barreira de proteção natural, alocadas do intestino (BRANDT; SAMPAIO; MIUKI, 2006).
no intestino por sítios de ligação determinados pela ge- Os AGCC são dependentes de substratos disponí-
nética (WALL et al., 2009). veis e estão em maiores concentrações do lado direito do
3.2.1 Funções antibacterianas, resistência a coloni- cólon. Dentre os substratos mais comuns, podemos citar
zação ou de proteção o amido que é butirogênico. Os butiratos atuam como fa-
As bactérias autóctones, denominadas TGI, exer- tores tróficos para as células dos tecidos intactos e dimi-
cem a função de proteção e impedem a adesão de micror- nuem as chances de câncer do cólon. Estudos apontam,
ganismo não benéficos, formando, assim, uma barreira. também, os efeitos dos butiratos sobre os mediadores de
Essa barreira mecânica acontece pela ocupação dos sítios inflamação, pela capacidade de inibir a expressão das ci-
de adesão celulares da mucosa com microbiota autóctone tocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-6 e IL-1β) por meio
(BRANDT; SAMPAIO; MIUKI, 2006). da inibição da ativação do fator nuclear κB (NF- κB)
O principal mecanismo desempenhado pela mi- (BERDANI; ROSSI, 2009).
crobiota bacteriana é a resistência à colonização, mais A ação metabólica da microbiota intestinal é po-
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comum no lúmen e nas superfícies da mucosa pela pro- tencialmente similar à desempenhada pelo fígado. A mi-
dução de componentes da microbiota de metabólitos tó- crobiota do TGI sintetiza vitamina K e vitamina do com-
xicos, como ácidos graxos de cadeia curta e de substâncias plexo B que são úteis e importantes para o metabolismo
antimicrobianas como bacteriocinas. Nesse sentido, as do indivíduo. Essas vitaminas são produzidas pelas bacté-
competições por nutrientes são importantes para regular rias Propionibacterium, Fusobacterium, Bifidobacterium,
as populações de componentes como a E. coli. (BRANDT; Lactobacilos, Clostridium, Enterobacterium, Veillonella,
SAMPAIO; MIUKI, 2006; BARBOSA et al., 2010). Enterococcus e Estreptococcus e são sintetizadas no cólon
A homeostase entre as bactérias residentes da intestinal (BARBOSA et al., 2010).
microbiota oferece estabilidade para a população micro- 3.2.3 Função imunomoduladora
biana do TGI. O efeito barreira deve-se à facilidade que No período neonatal, a instalação da microbiota
determinadas bactérias têm de burlar as substâncias an- está associado com o tecido linfoide intestinal. O estabe-
timicrobianas, que bloqueiam a proliferação de bactérias lecimento desse sistema imunológico local com ação con-
patogênicas e se destacarem na competição por nutrien- junta ao estímulo da microbiota ativa o sistema imune. O
tes e espaço ecológico, ganhando, dessa forma, maior es- tecido linfoide reconhece as espécies e antígenos que são
tabilidade na mucosa intestinal (GUARNER, 2007). benéficas ao hospedeiro, procedendo, assim, uma respos-
Deve-se ressaltar que a resistência a coloniza- ta de tolerância imunológica. Cerca de 80% de todas as
ção não é causada unicamente pela microbiota intesti- células imunológicas ativas do corpo humano estão lo-
nal, outros fatores podem influenciar essas funções, por calizadas no TGI (WALL et al., 2009; ANDRADE, 2010).
88 exemplo, os fatores anatômicos e fisiológicos (incluindo A ativação do sistema imunológico ocorre por
A colonização da microbiota intestinal e sua influência na saúde do hospedeiro
meio da modulação antigênica que mantém o sistema síntese de proteínas pró-inflamatórias, normalmente são
imune intestinal pronto para ter resposta ágil e de manei- citocinas e enzimas que geram mediadores inflamatórios
ra pertinente a uma invasão por bactérias não benéficas. (GUARNER, 2007).
A microbiota normal influencia minimizando a resposta O intestino preserva um sistema imune extensi-
para certos antígenos, estimulando células repressoras, vo e altamente ativo. O GALT apresenta células M, que
levando a imunoestimulação contra bactérias não benéfi- cobrem as placas de Peyer e realizam o transporte de
ca e a imunoaceitação da própria microbiota (BARBOSA bactérias e antígenos do lúmen intestinal para o tecido
et al., 2010). linfoide. Antígenos no lúmen podem ser absorvidos por
As células epiteliais da mucosa intestinal são as células epiteliais intestinais, células interdigitais da lâ-
grandes responsáveis pelo reconhecimento inicial do sis- mina própria e células M, ilustrado na figura 1 (PEREZ,
tema imunológico, o contato direto com a luz intestinal é 2012; BINNS, 2014).
primordial para que ocorra esse processo. A ativação dos
Figura 1 - Ambiente imunológico intestinal
mecanismos de defesa é dependente da rápida detecção
de risco por meio dos receptores inatos que identificam
componentes estruturais com características de fungos,
leveduras e bactérias (QUARNER, 2007).
A microbiota natural do TGI realiza o papel de
barreira fisiológica, que é composta pelo epitélio da mu-
cosa do intestino, localizado entre a luz intestinal e o es-
paço peritoneal. As partes integrantes da barreira corres-
pondem ao epitélio mucoso, o sistema imune local, Placa
Peyer, lâmina própria, barreira linfoepitelial e a circula-
ção hemato-linfática (DOUGLAS; CISTERNA, 2004).
O tecido linfoide ligado ao intestino (GALT) é di- Fonte: Adaptada de CAMPOS, 2010.
meabilidade intestinal, a constipação intestinal. Em uma bactérias que são mais agressivas ao hospedeiro (JER-
microbiota anormal, a quebra dos peptídeos e reabsorção NBERG et al., 2010).
de toxinas do lúmen intestinal, ocorrem de maneira ina-
dequada, induzindo o surgimento de patologias pelo não 3.4 Efeito do uso indiscriminado de antibióticos
funcionamento das funções da microbiota intestinal Um dos grandes problemas para o tratamento em
(ALMEIDA et al., 2009). ambiente hospitalar é a infecção causada por bactérias re-
Em seres humanos considerados saudáveis, sistentes aos antibióticos mais potentes que estão dispo-
nota-se uma microbiota estável. Os agentes patogê- níveis no mercado. Isso tem gerado uma preocupação por
nicos quando adquiridos são rapidamente eliminados ser a causa de infecções hospitalares por bactérias com
devido à presença da microbiota comensal, composto alto poder de disseminação e difícil tratamento. Acome-
em sua maioria por bactérias anaeróbicas. No entan- te, principalmente, pacientes com sistema imune abalado
to, ao obter uma quantidade significativa de bactérias em unidade de terapia intensiva (UTI) (CARLET, 2012;
patogênicas como a Salmonella spp., Vibrio ou Estafi- SANTOS; VARAVALHO, 2011).
lococcus, podem induzir uma desordem na microbio- O mecanismo de resistência teve seu início
ta natural, burlando assim os mecanismos de defesa e com a Klebsiella pneumoniae seguida pela Escherichia
gerar sintomas clínicos. Outro importante fator que coli. Antigamente, as infecções como pielonefrite e
também influencia nessa alteração da microbiota é o peritonite eram tratadas com drogas associadas à car-
uso de antibióticos (CARLET, 2012). bapenens, uma classe de antibióticos que era reser-
Fatores internos também são grandes causa- vada para infecções graves acometidas em pacientes
dores da alteração da microbiota intestinal. Caso não na UTI. No entanto, com a resistência antimicrobia-
ocorra uma interação simbiótica entre os micro-or- na, essa droga não tem mais efeitos, sendo necessário
ganismos, o epitélio e os tecidos linfoides intestinais, utilizar drogas com alta toxicidade como a colistina
não ocorrerá as constantes modulações da imunida- (CARLET, 2012).
de adaptativa no ambiente microbiano, levando, as- Determinados tratamentos com antibióticos
sim, ao desenvolvimento de patologias ao hospedeiro permanecem com seus efeitos por longos períodos no
(GUARNER, 2007). corpo humano, isso gera uma pressão para a seleção
Um dos fatores que tem importante contribui- de bactérias. Estudos realizados em culturas e exames
ção para o desequilíbrio da microbiota intestinal é a moleculares têm mostrado alterações na microbiota
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má digestão, em que o estômago produz ácido sufi- após antibiocoterápicos, destacando as comunidades
ciente para extinguir as bactérias patogênicas ingeri- bacterianas mais sensíveis que são destruídas com a
das na maioria das vezes com alimentos. Além disso, medicação e os que sobrevivem e se destacam como
outros fatores que também têm importância clínica resistentes (JERNBERG et al., 2010). A ilustração des-
são o abuso do laxante, o consumo excessivo de ali- se fenômeno pode ser observada na figura 2.
mentos crus, exposição com frequência a toxinas am- Os antibióticos atuam impedindo o crescimento
bientais, disponibilidade de material fermentável e o ou causando a morte das bactérias sensíveis, com isso,
estado imunológico do hospedeiro (ALMEIDA et al., ocorre a extensão e a persistência dos antibióticos so-
2009). bre a microbiota intestinal, o que gera, por sua vez, a
O efeito de alguns antibióticos permanece por seleção de bactérias Multi Drogas Resistentes (MDR),
longos períodos, produzindo uma seleção dos micro- como por exemplo as enterobractérias multi-droga re-
-organismos, proporcionando a perda da microbiota sistente (MDRE), que são resistentes aos antibióticos
comensal e a propagação de bactérias mais adaptadas. betalactâmico, fluoroquinolonas, aminoglicosídeos
Esse efeito do antibiótico depende do modo de ação entre outros (RUPPÉ; ANDREMONT, 2013).
do medicamento e o grau de resistência das bactérias. Evidências indicam, portanto, que o uso de
Tratamentos por longos períodos a base de antibióti- antibióticos precoce interfere negativamente sobre a
cos promovem a seleção de bactérias que contêm ge- saúde imunológica do hospedeiro. Dessa forma, fo-
nes de alta resistência a antibióticos, o que leva uma ram detectados aumentos nos casos de enterecolite
90 maior preocupação a respeito da propagação dessas necrosante em indivíduos que foram expostos a an-
A colonização da microbiota intestinal e sua influência na saúde do hospedeiro
tibióticos em longos prazos, como os recém nascidos à colonização intestinal, o que possibilita a presença de
e as crianças cujas mães fizeram uso de antibióticos necrose. Crianças prematuras por apresentarem ausência
para durante a gravidez (FRANCINO, 2014). da microbiota comensal induzem às muitas bactérias pa-
togênicas presentes na unidade de tratamento intensivo
Figura 2 - Ilustração da seleção antibacteriana
(UTI) causarem a EN (ANDRADE, 2009).
Atopia: é uma tendência hereditária a desenvolver
patologias alérgicas há evidências de que a microbiota co-
mensal seria um dos elementos impeditivos e fundamen-
tais para o desenvolvimento da tolerância imunológica. A
atopia tem maior comprovação clínica e experimental do
impacto da microbiota no desenrolar da doença. Crianças
que não apresentaram atopia tinham, quando recém-nas-
cidas, maior quantidade de Clostridium sp. e menor de
Bifidobacterium (BRANDT; SAMPAIO; MIUKI, 2006).
A atopia privilegia reações de hipersensibilidade
mediadas por IgE, em resposta a antígenos comuns na ali-
mentação e no ambiente intra e extracelular. É considerada
como umas das manifestações da tríade atópica (dermatite
atópica, asma e rinite alérgica). Caracterizada como doen-
ça inflamatória cutânea crônica, de origem genética apre-
senta-se com recorrentes eczemas associados a prurido,
Fonte: MD. Saúde, 2011
acometendo superfície cutânea geneticamente alterada,
induzindo, por fenômenos imunológicos, a presença de
3.5 Patologias associadas com alterações da micro-
inflamação (LEITE, R.; LEITE, A.; COSTA, 2007).
biota intestinal.
Doenças inflamatórias intestinais (DII): acredi-
A assimetria da microbiota pode induzir o desen-
ta-se que as DII são desencadeadas por anormalidades
volvimento da enteroclite necrosante. Desse modo, ocor-
imunológicas celulares, ou seja, da reatividade anormal
re as gastroenterites e enterites pseudomembranosas. A
dos linfócitos T da mucosa gastrointestinal a uma mi-
habituais do intestino (comensais) não são apenas habi- rhamnosus e Lactobacillus salivarius. As bifidobactérias
tantes passivos do TGI, mas se relacionam e interagem expulsam bactérias putrefativas, causadoras de problemas
com o hospedeiro de maneira bastante eficaz. São, na ver- intestinais e indisposições gástricas, ao mesmo tempo em
dade, moduladores dos efeitos de bactérias nocivas e au- que restabeleciam-se como seres predominantes no intes-
xiliam nas funções exercidas pela microbiota no intestino tino (SAAD, 2006; SANTOS; VARAVALHO, 2011).
(SAAD, 2006). Tão importante quanto o probiótico é o prebió-
Os probióticos e prebióticos apresentam caracte- tico, cuja definição é de um ingrediente fermentado que
rísticas funcionais que colaboram com a melhoria da mi- provoca mudanças na formação e/ou atividade da micro-
crobiota intestinal do cólon e o equilíbrio da manutenção biota gastrointestinal, oferecendo assim, benefícios sobre
da saúde. Na década de 80, os japoneses empregaram o a saúde do hospedeiro. Os prebióticos são carboidratos
termo de alimento funcional para esses alimentos, sendo não digeríveis que afetam e influenciam favoravelmente
descritos como alimentos utilizados como parte de uma o hospedeiro, estimulando seletivamente a proliferação e
dieta normal e que demonstram benefícios fisiológicos e/ funções de bactérias não patogênicas no cólon (ALVES,
ou reduzem o risco de doenças crônicas (RAIZEL et al., 2008; WANG; DONAVAM, 2014).
2011.). Pesquisas indicam que os prebióticos promovem o
Probióticos são definidos pela Organização Mun- crescimento de microrganismos comensais como Biffido-
dial da Saúde como “micro-organismos vivos que, quan- bacterium e Lactobacillus, melhoram a motilidade intesti-
do administrados em quantidades adequadas conferem nal e o esvaziamento gástrico. São encontrados em vários
um efeito benéfico à saúde do hospedeiro”. Têm por sua tipos de alimentos, dentre eles, leite materno e fórmulas
vez, a tendência de agir mutuamente com as bactérias co- infantis industrializadas. Sua constituição é basicamente
mensais quando administrados em quantidades adequa- de carboidratos de tamanhos diferentes, que podem va-
das (SAAD, 2006; WALL et al., 2009; CARLET, 2012). riar em mono, dissacarídeo, oligossacarídeos, até grandes
Os probióticos são caracterizados e indicados polissacarídeos (GRITZAND; BHANDARI, 2014).
para preservar e reestabelecer a homeostase do intestino. Resistência às enzimas salivares, pancreáticas e ao
A ação dos probióticos sobre o TGI inclui fatores como ácido estomacal são algumas das características neces-
efeitos antagônicos, competição e efeitos imunológicos. sárias para um prebióticos, não podem sofrer hidrólise
São utilizadas em sua maioria bactérias ácido-láticas e enzimática ou ser absorvidos no intestino delgado. De-
bifidobactérias, podendo ser úteis também certos fungos vem ser metabolizados no colón, por bactérias benéfica.
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e leveduras principalmente a Saccharomyces boulardii Dentre as principais substâncias prebióticas, temos a lac-
(SAAD, 2006; CARLET, 2012). tulose, lactiol, xilitol, inulina e alguns oligossacarídeos
É plausível constatar o grande papel da utilização não digeríveis (ex.: frutooligossacarídeo – FOS) (ALVES
de probióticos no controle e regeneração da microbiota. et al., 2008).
Foi comprovada a eficiência dos probióticos na preven- Os prebióticos têm a capacidade de inibir a multi-
ção e tratamento de diarreia associada aos antibióticos, plicação de patógenos, oferecendo benefícios a saúde do
principalmente após longa exposição. Os bons resulta- hospedeiro. Atuam com maior frequência no intestino
dos de tratamentos feitos com probióticos proporcionam grosso e estimulam o crescimento dos grupos endógenos
uma diminuição na duração da diarreia aguda e na per- da microbiota intestinal, como as bifidobactérias e os lac-
manência no hospital (ANDRADE, 2010; SANTOS; VA- tobacilos (BADARÓ et al., 2008).
RAVALHO, 2011). O êxito dos prebióticos depende essencialmente
As principais bactérias introduzidas nos alimen- da sua não hidrolização pelas enzimas digestivas, possi-
tos funcionais probióticos são dos gêneros Lactobacillus e bilitando assim, atingir o intestino grosso intacto, lugar
Bifidobacterium, em menor quantidade Enterococcus fae- que ocorrerá a sua fermentação e digestão. Sua função
cium. Entre as Bifidobacterium temos a B. bifidun, B. bre- principal é estimular o crescimento e/ou ativar o metabo-
ve, B. infantis, B. lactis, B. animalis, B. longum e B.thermo- lismo de bactérias não-patogênicas no TGI. Atuam, por
philum. Dentre os Lactobacillus: Lactobacillus acidophilus, sua vez, bloqueando sítios de aderência, imobilizando e
Lactobacillus helveticus, Lactobacillus casei – subsp. Para- reduzindo a capacidade de fixação de algumas bactérias
92 casei e tolerans, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus patogênicas no intestino (BRITO et al., 2014).
A colonização da microbiota intestinal e sua influência na saúde do hospedeiro
A classificação dos prebióticos se baseia em fibras cientes com prisão de ventre, febre e diarreia. O TMF foi
solúveis, insolúveis ou mista, podendo ser fermentáveis utilizado também na Segunda Guerra Mundial, os solda-
ou não-fermentáveis. As fibras prebióticas de maiores dos alemães na África confirmaram e eficiência da prática
importâncias são a inulina e a FOS, sintetizado a partir consumindo fezes quentes e frescas de camelo para trata-
da hidrólise da inulina pela enzima inulase. Os dois são mento de disenteria (PERLMUTTER; LOBERG, 2015).
frutanos (polissacarídeos e oligossacarídeos de origem O TMF se baseia na recuperação e/ou fortaleci-
vegetal), fibras insolúveis e fermentados não digeridos mento da microbiota intestinal, por meio da ingestão de
por enzimas digestivas e sua diferença está no grau de po- microrganismo vivos, aplicados em quantidades suficien-
limerização, ou seja, no número de monossacarídeos que tes e que oferecem benefícios ao hospedeiro. Esse trata-
compõe a molécula (RAIZEL et al., 2011). mento tem como efeito a diminuição quase totalmente
Os probióticos e prebióticos agem diretamente in- das diarreias e nos sintomas da infecção (LEITE, 2015).
terligados e essa simetria gera os produtos simbióticos. O A seleção do doador é feita preferencialmente pelo
consumo desses nutrientes eleva a ação benéfica de cada cônjuge ou parentesco próximo, caso não encontre com-
um deles, devido ao estímulo de cepas probióticas conhe- patibilidade, faz a escolha por um doador não-aparenta-
cidas que levam à escolha dos pares simbióticos substra- do. Os critérios para escolha consistem em pesquisa por
to-microrganismo ideais para o TGI. São encontrados em patógenos em sangue, fezes e questionário no protocolo
diferentes alimentos, sendo probióticos encontrados em de triagem que apresentam informações de comporta-
iogurtes, produtos lácteos fermentados e suplementos ali- mentos de alto risco, realização de tatuagem ou piercing
mentares e os prebióticos encontrados na cebola, chicória, recentes, uso de drogas ilícitas, múltiplos parceiros se-
alho, alcachofra, cereais, aspargos, beterraba, banana, trigo xuais, pessoas com recente viagens recentes para áreas
entre outros (BADARÓ et al., 2008; RAIZEL et al., 2011). com alto risco de infecções entéricas ou incidência de
bactérias resistentes (KAPEL et al., 2014).
3.7 Transplante de Microbiota Fecal Estudos têm revelado os efeitos dinâmicos do
O Transplante de Microbiota Fecal (TMF) é defi- TMF em outras patologias tais como a doença inflamató-
nido como o método pelo qual bactérias comensais, per- ria do intestino, a síndrome do intestino irritável, obesi-
tencentes ao TGI de pessoas saudáveis, são inseridas em dade e diabetes tipo II. Contudo, não há relatos randomi-
pacientes com infecções bacterianas no intestino, por in- zados publicados em artigos que certifiquem essa terapia
termédio de tubos nasogástricos ou colonoscopia ilustra- para as situações clínicas citadas (SINGH et al., 2014).
Apesar de todos os benefícios do TMF, ainda ALVES, C. et al. Probióticos, prebióticos e simbiótico: ar-
existe uma grande preocupação quanto aos resultados e tigo de revisão. Saúde e Ambiente em Revista. Duque de
consequências desse procedimento. A falta de dados e Caxias, v. 3, n. 1, p. 16-33, jan./jun. 2008.
informações a longo prazo, a não padronização e a falta
de consenso sobre o protocolo a ser seguido, a periculo- ANDRADE, A. Microflora intestinal: uma barreira imu-
sidade de transmitir outros tipos de patógenos, são itens nológica desconhecida. 2009/2010. Dissertação (Mestra-
que ainda necessitam para se ter uma maior tranquilida- do Integrado em Medicina) - Instituto de Ciências Bio-
de e aceitação para tal procedimento (MOAYYEDI et al., médicas Abel Salazar na Universidade do Porto, Porto,
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percebe-se, então, a necessidade de maiores pesquisas e me, Viçosa, v. 11, n. 1, p. 3070-3084, jan./fev. 2014.
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patogênicas, no entanto, por meio deste estudo. Nota- de Nutrição Clínica, São Paulo, v. 23, n. 3, p. 184-189,
-se que também são essenciais à vida e à saúde humana. maio 2008.
Portanto, deve existir uma simbiose e/ou simetria entre
o hospedeiro e as bactérias, uma espécie de mutualismo, CAMPOS, I. A. Avaliação da atividade imunomodu-
a qual ambos se beneficiem em prol da saúde do hospe- ladora de Zymonas mobilus UFPEDA 202. 2010. 83 f.
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