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Apresentação
O curare é uma substância antiga utilizada pelos nativos da América do Sul. Essa substância é
amplamente conhecida, e há relatos de que os povos indígenas utilizavam-na para a caça. No Brasil,
os índios da Região Amazônica utilizavam nas flechas o curare obtido a partir de cascas de espécies
de cipós das famílias Menispermaceae e Loginaceae. O motivo para isso é que o curare tem grande
potencial de envenenamento, e sua utilização pode provocar paralisia da musculatura. Sabe-se
também que os alcaloides presentes no curare apresentam benefícios, e ele foi o primeiro fármaco
utilizado na anestesiologia em cirurgias e tratamento do tétano.
Já a quinina é um alcaloide usado pelos incas no Peru. Essa substância ficou conhecida devido a
uma lenda espanhola durante a invasão no Peru, quando se teve conhecimento de uma árvore
empregada para o tratamento da febre da malária. Relata-se que um soldado espanhol, que tinha
sido contaminado pelo protozoário causador da malária, bebeu uma água de cor amarronzada na
qual essas árvores haviam caído. Após uma noite de sono, quando acordou, observou que a febre
havia desaparecido. A quinina é empregada para o tratamento e o desenvolvimento de novos
fármacos antimaláricos, isolados do gênero Cinchona, e aplicada como aditivo amargo na produção
de alimentos e bebidas.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a química e a biologia dessas substâncias, os
métodos de extração, sua caracterização, doseamento e propriedades farmacológicas, além de
entender como o farmacêutico desempenha um papel importante na segurança e na utilização dos
produtos naturais.
Bons estudos.
Então, Marcos começa a questionar como deverá ser a extração e o doseamento. Você faz parte da
equipe de Marcos no laboratório de pesquisa em produtos naturais, e ele precisa que você o ajude
a resolver esse problema.
a) Qual a melhor forma de extração a ser feita e qual o melhor solvente para o processo? Quais
outros processos de extração são aceitáveis?
Neste Infográfico, veja como ocorre a formação da quinina e o processo de extração e identificação
dos alcaloides.
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Conteúdo do livro
O curare foi utilizado por muito tempo nas florestas tropicais da América do Sul como um veneno
extremamente forte, sendo empregado em flechas. A mistura do curare era fervida em água por
cerca de dois dias e, então, evaporava para se tornar uma pasta escura e espessa com gosto
amargo. A morte por curare é causada por asfixia, uma vez que os músculos esqueléticos ficam
relaxados e paralisados.
O curare começou a ser utilizado como anestésico em 1943, quatro anos depois que a substância
tubocurarina foi isolada, sendo empregada em processos cirúrgicos. A quinina é um alcaloide que
apresenta gosto amargo, tendo várias funções farmacológicas (antiarrítmicos, antimaláricos e
analgésicos) e sendo utilizada como flavorizante na indústria alimentícia.
A descoberta da quinina ocorreu durante a conquista do Império Inca pelos espanhóis na região do
Peru (século XVI). Os invasores tomaram conhecimento dessa árvore, que era utilizada para
tratamento da malária. A fama da quinina se espalhou pelo mundo, e seus benefícios para diversos
tratamentos farmacológicos foram apresentados. Existem alguns testes que ajudam na
identificação e na quantificação da quinina.
No capítulo Curares e quinas, da obra Farmacognosia aplicada, você irá estudar quimicamente e
biologicamente essas substâncias, os métodos de extração, caracterização e doseamento e suas
propriedades farmacológicas.
Boa leitura.
FARMACOGNOSIA
APLICADA
Introdução
O curare é um extrato aquoso obtido do cipó. O termo vem da palavra
“veneno”, que era preparado pelos índios da região amazônica e utilizado
em flechas. O curare é considerado minimamente venenoso quando
absorvido pelo trato gastrointestinal, mas, quando em contato direto
com o sangue, é letal. A preparação do curare pelos indígenas obedecia
um padrão de calor, partes utilizadas e concentração, que era verificada
provando-se o curare. Os diversos alcaloides presentes no curare não
são mais utilizados como paralisante muscular em cirurgias (SÁ, 2012;
SOENTGEN; HILBERT, 2016).
A quinina é um alcaloide utilizado para o tratamento de malária,
neuralgia, espasmos musculares e fibrilação cardíaca. É utilizada na in-
dústria alimentícia como flavorizante. Diferentes métodos são aplicados
na sua extração e controle de qualidade, para garantir a otimização e
confiabilidade dos fármacos que estarão disponíveis no mercado (SILVA;
ARAGÃO, 2009).
Neste capítulo, você irá estudar essas substâncias do ponto de vista
químico e biológico. Também vai ver quais são seus métodos de extração,
sua caracterização, seu doseamento e suas propriedades farmacológicas.
2 Curares e quinas
Curare
Curare é um termo que descreve uma combinação de extratos. Essa substân-
cia apresenta o alcaloide tubocurarina, e é utilizada por indígenas como um
poderoso veneno (SÁ, 2012). Os indígenas classificam o curare em três tipos,
estabelecidos em função de seu armazenamento, forma de preparo e recipiente
utilizado, que são os seguintes (SIMÕES et al., 2017):
Alcaloide
quaternário
A formação do
Condensação de dois metabólitos corismato acontece
para a formação do ácido chiquímico com a junção do
fosfoenolpiruvato
Alcaloides
Tirosina Prefenato Corismato
isoquinolínicos
Quinina
A quinina é extraída das cascas da quina. Foi isolada pela primeira vez em
11 de setembro de 1980 na França, pelos químicos Pierre Joseph Pelletier e
Joseph Bienaimé Caventou. Registros históricos relatam que índios começaram
a observar que animais doentes obtiveram melhoras após ingerir água de uma
lagoa onde havia cascas de quina (ALMEIDA et al., 2009).
A quinina é um alcaloide quinolínico e apresenta em sua estrutura quí-
mica, que você pode ver na Figura 4, um núcleo quinolínico, responsável por
diferentes efeitos farmacológicos. Utilizada na indústria farmacêutica para
o desenvolvimento de fármacos antimaláricos e no tratamento de distúrbios
digestivos, a quinina vem sendo empregada na indústria de alimentos como
aditivo de amargura (SIMÕES et al., 2017).
Álcool
Amina
Éter
Alcaloide terciário
Amina
Figura 4. Estrutura química da quinina.
Fonte: Adaptada de Simões et al. (2017).
Curare
O curare apresenta propriedades paralisantes; essa ação ocorre sobre os
receptores nicotínicos da acetilcolina nos músculos. O curare trabalha de forma
competitiva com a acetilcolina, sendo um antagonista. Provocando bloqueio
neuromuscular e, em seguida, flacidez muscular, a ação da tubocurarina
acontece por um período longo (SIMÕES et al., 2017).
8 Curares e quinas
Quinina
O mecanismo de ação da quinina ainda não é totalmente elucidado. Ela pode ser
usada como um antiarrítmico, sendo indicada na manutenção do ritmo sinusal
e da fibrilação atrial, na prevenção recorrente da taquicardia e no tratamento
de diferentes linhagens celulares (MELOROSE; PERROY; CAREAS, 2015).
Alguns estudos relatam que a quinina age sobre os fosfolipídios da mem-
brana do vacúolo digestivo. Essa degradação compromete a hemoglobina,
levando o parasita à morte (FITCH, 2004).
O metabolismo do quinina ocorre no citocromo P450, uma enzima hepá-
tica, na qual ocorre a oxidação do fármaco. A excreção da forma inalterada
do fármaco ocorre pela urina — 20% da dose administrada é excretada.
A 3-hidroxiquinina é o principal metabólito produzido pelo fármaco; em
pacientes com deficiência renal pode causar toxicidade (SIMÕES et al., 2017).
Existe uma limitação ao uso do quinina, por ter uma janela terapêutica
curta; pode ainda haver o desenvolvimento de cardiotoxicidade e o cinchonismo
(toxicidade neurológica, cardiovascular e gastrointestinal). A quinina é um
dos fármacos que podem ser utilizados no primeiro trimestre da gestação
(TAKEM; D’ALESSANDRO, 2013; WHITE, 2007).
Indivíduos que apresentam um nível plasmático elevado do fármaco podem
ter um aumento da toxicidade — isso ocorre devido à ligação com proteínas
plasmáticas. Em pacientes com malária grave, o período de meia-vida da
quinina se torna mais longo (SIMÕES et al., 2017).
Curares e quinas 9
https://qrgo.page.link/kiHbP
Curare
Existem diversas reações que podem ser empregadas para a identificação
de alcaloides, mas algumas drogas necessitam de testes específicos para sua
identificação. A metodologia de extração, de modo geral, consiste em tratar
o material vegetal na forma de pó com solução aquosa de ácido diluído e,
em seguida, neutralizar adicionando um solvente orgânico. Esses alcaloides
são precipitados com adição da solução de carbonato de sódio ou amônia
(SIMÕES et al., 2017).
A caracterização e o doseamento da tubocurarina podem ser feitos com
os seguintes métodos (SIMÕES et al., 2017):
Quinina
A extração do quinina ocorre por meio do líquido — líquido é o momento
em que dois componentes de uma mistura são separados quando entram em
contato com o solvente orgânico no qual ocorrerá o processo de dissolução
(SIMÕES et al., 2017).
Outros autores citam a extração por meio de ultrassom. Essa técnica con-
verte as ondas do ultrassom de energia elétrica para energia mecânica, e a
propagação dessas ondas no meio líquido provoca uma variação de pressão.
A formação de bolhas ocorrem pela alta frequência, quando ocorre a im-
pulsão para a formação das bolhas. Durante esse processo ocorre um efeito
vibratório na célula, levando a sua ruptura e liberando seu conteúdo (SILVA;
ARAGÃO, 2009).
A caracterização e o doseamento pode ser feitos pelas seguintes técnicas:
https://qrgo.page.link/ZvxQx
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
O curare e as quinas representam um avanço na medicina para o desenvolvimento de novos
medicamentos. A história da humanidade e a utilização de plantas medicinais por povos que tinham
os conhecimentos empíricos foram fundamentais para o desenvolvimento de novos fármacos.
Nesta Dica do Professor, você irá compreender mais sobre os aspectos farmacológicos do curare e
da quinina.
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Exercícios
1) A tubocurarina é o principal aditivo encontrado no curare. O curare recebe esse nome por
apresentar vários compostos que são considerados venenosos. A tubocurarina tem ação
paralisante e é utilizada como relaxante muscular.
É possível visualizar, em sua estrutura química, algumas funções orgânicas, entre elas:
A) ácido carboxílico.
B) álcool.
C) anidrido.
D) cetona.
E) éter.
2) A quantificação dos principais ativos presentes em plantas pode ser feita de diferentes
maneiras. Existem alguns métodos que auxiliam na quantificação de princípios ativos, a
qual tem um papel importante para o desenvolvimento de novos estudos. J.L.M
é pesquisador de uma universidade e necessita realizar uma quantificação de tubocurarina e
quininas em seu laboratório. Então, precisa saber qual método empregar para a
quantificação da tubocurarina.
De acordo com seus conhecimentos, qual método dever ser utilizado para a quantificação da
tubocurarina?
A) CCD.
B) CLAE.
C) Dragendroff.
D) Teste de taliquimia.
E) Mayer.
A) Receptores muscarínicos.
B) Receptores colinesterase.
C) Receptores monoamina.
D) Receptores adrenérgicos.
E) Receptores nicotínicos.
Em qual desses grupos de pacientes deve-se ter atenção redobrada durante a administração
de quinina?
A) Pacientes renais.
B) Pacientes hipertensos.
C) Pacientes asmáticos.
5) Durante a aula de Biologia, um professor explicou que os índios nativos da América do Sul
utilizavam o curare em flechas para a caça, explicando que o termo era designado para
denominar a palavra veneno. O curare é uma mistura de cipós de várias espécies da
Amazônia. Então, um aluno da classe levantou a seguinte questão: “Se o curare é um veneno,
os índios não poderiam consumir a carne da caça morta com as flechas”.
C) Os índios realizavam um ritual de preparo para a limpeza da carne, que se tornava própria
para o consumo.
Nesta Na Prática, conheça o caso de Dona Maria e o uso das cascas de quina para o tratamento de
distúrbios gastrintestinais.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Extração de alcaloides
No link a seguir, você verá como ocorre o processo de extração dos alcaloides.
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