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CAPíTULO

m 1887. [ohn [acobs, um diretor de escola entanto. estes são problemas da memória de

E de Londres. quis avaliar as habilidades dos


seus alunos. Para isso. desenvolveu um tes-
te aparentemente simples. no qual os alunos
longa duração. Lembrar por alguns minutos.
horas. ou alguns anos. parece depender do
mesmo sistema de memória de longa duração.
ouviam uma sequência de dígitos. como um Usaremos o termo memória de curta du-
número de telefone. e a repetiam. A mensu- ração para nos referirmos ao desempenho em
ração utilizada foi a extensão de dígitos (do um determinado tipo de tarefa. aquele que en-
inglês digit span). a sequência mais longa que volve a retenção simples de pequenas quanti-
pudesse ser repetida sem erros (Jacobs. 1887). dades de informação. testado imediatamente
A extensão de dígitos está incluída no teste de ou após um pequeno intervalo. O sistema ou
inteligência de uso mais amplo. a Wechsler os sistemas de memória responsáveis pela
Adult Intelligence Scale (WAlS). Nessa versão memória de curta duração formam parte do
básica. a amplitude não se correlaciona muito sistema da memória de trabalho. "Memória de
com a inteligência geral. mas. como veremos trabalho" é o termo que usaremos para um sis-
adiante. uma versão um tanto mais complexa. tema que não só armazena informação de for-
a extensão da memória de trabalho. realiza ma temporária. mas também a manipula. de
um excelente trabalho de prognóstico de uma modo a permitir que as pessoas executem ati-
ampla gama de habilidades cognitivas. incluin- vidades complexas como o raciocínio. o apren-
do o desempenho nas tarefas de raciocínio dizado e a compreensão. Antes de continuar a
muitas vezes usadas para avaliar a inteligência. discussão da memória de trabalho no próximo
O teste de extensão de dígitos é tipicamente capítulo. examinaremos o conceito mais sim-
mencionado como aquele que reflete a memó- ples da memória de curta duração. a capaci-
ria de curta duração e a tarefa mais complexa dade de armazenar pequenas quantidades de
como aquela que reflete a extensão da memória informações por breves intervalos. começando
de trabalho. Os termos memória de curta dura- com a tarefa da extensão de dígitos. concebida
ção e memória de trabalho muitas vezes pare- por Jacobs.
cem ser usados de forma intercambiável. Afinal, Usaremos o termo memória de curta du-
há alguma diferença? ração para descrever o processo de armazena-
mento de pequenas quantidades de informa-
ção por um breve período. Como tal. o próprio
MEMÓRIA DE CURTA
DURAÇÃO E DE TRABALHO:
QUAL É A DIFERENÇA? TERMOS-CHAVE
O termo "memória de curta duração" é bastan- Extensão de dígitos: Número máximo de dígi-
te escorregadio. Para o público em geral. ele se tos apresentados de forma sequencial que podem
refere à capacidade de lembrar coisas ao longo ser lembrados com segurança na ordem correta.
de algumas horas ou dias. que se torna mais Extensão da memória de trabalho: Termo
aplicado a uma variedade de tarefas complexas de
precária à medida que envelhecemos e dra-
extensão de memória, nas quais são exigidos simul-
maticamente enfraquecida em pacientes com tâneamente armazenamento e processamento.
a doença de Alzheimer. Para os psicólogos. no
32 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W. EYSENCK

termo é livre de teoria, embora haja, é claro, que é usado como parte de um conceito muito
teorias quanto a como isto se realiza. mais amplo, o da memória de trabalho.
Ao contrário de nosso uso de memória de
curta duração para tão somente descrever uma
situação experimental, o termo memória de tra-
EXTENSÃO DA MEMÓRIA
balho está baseado em uma hiopótese teórica, a Antes de prosseguir, teste-se, usando o Qua-
de que tarefas como raciocínio e aprendizagem dro 2.l.
dependem de um sistema capaz de manter e Se a sua extensão de dígitos estiver bem
manipular temporariamente a informação, um abaixo do que você esperava, não se preocu-
sistema que evoluiu como espaço de trabalho pe; nesta forma simples, como veremos mais
mental. Diferentes abordagens teóricas referen- tarde, ela depende de um aspecto pequeno,
tes a memória de trabalho se desenvolveram, mas útil, do nosso sistema de memória, não da
algumas fortemente influenciadas por estudos inteligência geral. A extensão de dígitos é uma
de atenção (p. ex., Cowan, 2001), algumas ba- tarefa clássica de memória de curta duração,
seadas em estudos das diferenças individuais na medida em que envolve a manutenção de
no desempenho em tarefas complexas (p. ex., uma pequena quantidade de informação por
Miyake, Friedman, Emerson, Witzki, Howerter e um curto período de tempo.
Wager, 2000; Engle e Kane, 2004) e outras dirigi- O fato mais óbvio a respeito da extensão
das por considerações neurofisiológicas (Gold- de dígitos é a sua limitação a aproximada-
man-Rakic, 1996).Todas, no entanto, presumem mente seis ou sete dígitos para a maioria das
que a memória de trabalho fornece um espaço pessoas, embora algumas consigam lidar com
de trabalho temporário que é necessário para 10 ou mais, enquanto outras têm dificuldade
desempenhar atividades cognitivas complexas. em lembrar mais de quatro ou cinco. O que es-
A abordagem utilizada nos 2 próximos ca- tabelece esse limite e por que ele varia de um
pítulos reflete uma descrição de componentes indivíduo para outro?
múltiplos da memória de trabalho (Baddeley e
Hitch, 1974) que foram fortemente influencia-
dos pelos estudos experimentais e neuropsico- QUADRO 2.1 Teste de extensão de dígitos
Leia cada sequência como se fosse um núme-
lógicos da memória humana, que constituem
ro de telefone, depois feche os olhos e tente
o núcleo do presente livro. Ela demonstrou ser
repeti-tos. Comece pelos números de quatro
durável e amplamente aplicável, mas deve ser
dígitos e continue até falhar nas duas sequên-
vista como complementar a uma gama de ou- cias a um determinado comprimento. A sua
tras abordagens, em vez de como a teoria da amplitude é um dígito a menos do que este.
memória de trabalho (Miyake e Shah, 1999a).
O modelo de multicomponentes apoiou-se em 9754
estudos da memória de curta duração e tem, 3825
como o seu componente mais explorado, a 94318
alça fonológica, que fornece uma descrição 68259
teórica da memória verbal de curta duração. 913825
O presente capítulo se ocupa das principais 648371
conclusões dos estudos das memórias verbal 7958423
e visual de curta duração. Utiliza o modelo da 5316842
alça fonológica para interligá-Ias, mas também 86951372
se refere a outras teorias concorrentes. Isso nos 51739826
leva ao Capítulo 3, que vai além do estudo da 719384261
memória de curta duração, com sua ênfase no 163874952
armazenamento de informação de curta dura- 9152438162
ção, para considerar a questão de por que esse 7154856193
armazenamento temporário é necessário e por
MEMÓRIA 33

As medidas de extensão da memória exi- CTAIILTCSFRO


gem duas coisas: (1) lembrar o que os itens são;
Agora, tente a próxima sequência.
e (2) lembrar a ordem em que foram apresen-
tados. No caso dos dígitos de um a nove, já co- FRACTOLISTIC
nhecemos os itens muito bem, de forma que o
Presumo que você tenha achado a segunda
teste se torna principalmente um teste de me-
sequência mais fácil, embora esta tenha usado
mória por ordem. Se, no entanto, eu lhe apre-
exatamente as mesmas letras que a primeira.
sentasse uma sequência de dígitos em uma
O motivo disso é que a ordem das letras na se-
língua não familiar, finlandês, por ex~mplo, sua
gunda sequência permitiu que você a dividisse
amplitude seria muitíssimo menor. E claro que
em subgrupos ou blocos pronunciáveis, seme-
você teria de lembrar muito mais coisas, já que
lhantes a palavras. Em um trabalho clássico,
precisaria recordar a ordem dos sons que com-
George Miller (1956) sugeriu que a capacidade
preendem os dígitos em finlandês, bem como
da memória é limitada não pelo número de
a ordem dos dígitos.
itens a serem lembrados, mas pelo número de
Suponhamos que eu fosse usar palavras, mas
blocos. A primeira sequência continha 12 letras
não dígitos. Isso seria importante? Se eu usasse
aparentemente não relacionadas entre si, tor-
as mesmas palavras de forma repetida, você logo
nando difícil reduzir o número de blocos mui-
se familiarizaria com o jogo e se sairia razoavel-
to abaixo de 12, enquanto a segunda podia ser
mente bem. No entanto, se eu usasse um jogo di-
pronunciada como uma série de quatro sílabas
ferente de palavras a cada teste, isso tornaria as
que, juntas, formaram uma sequência, a qual,
coisas bem mais difíceis, já que você precisaria
embora desprovida de significado, poderia ser
novamente recordar quais haviam sido os itens
de forma plausível uma palavra em inglês.
e a ordem deles, embora isto fosse mais fácil do
Neste caso, a formação de blocos (do in-
que os dígitos desconhecidos em finlandês.
glês chunking) depende de sequências de le-
Como se recorda a ordem? Não é uma per-
tras consistentes com hábitos de linguagem de
gunta de fácil resposta. Poderíamos pensar
longa duração. A formação de grupos também
que cada número está associado ou ligado ao
pode ser induzida pelo ritmo em que uma se-
número seguinte, que por sua vez está ligado
quência de itens é apresentada. Suponhamos
ao próximo, um processo conhecido como en-
que eu leia nove dígitos em voz alta. Se interpu-
cadeamento. O problema aqui é que se um elo
ser uma pausa um pouco mais longa entre o ter-
da cadeia se romper devido ao esquecimento
ceiro e o quarto itens e entre o sexto e o sétimo,
de um item, o desempenho em todos os itens
a lembrança seria significativamente melhora-
posteriores consequentemente decai. Na ver-
da. Portanto, 791-684-352 é mais fácil do que
dade, embora haja um aumento nos erros após
791684352. Pausas em outros pontos também
um engano, o declínio posterior não é de lon-
podem ser de grande ajuda, mas a formação de
ge tão drástico quanto o encadeamento po-
grupos de três parece ser a melhor (Wickelgren,
deria prognosticar. Como veremos, a simples
1964;Ryan, 1969).Parece provável que o sistema
tarefa de explicar como o cérebro armazena de memória se aproveite de pistas da prosódia,
sequências continua sem explicação, não só
os ritmos naturais que ocorrem na fala e que
por lembrar as palavras e números, mas tam- tornam o seu significado mais claro, separando
bém porque o aprendizado e a reprodução em frases coesas a sequência contínua dos sons
de sequências de ações é fundamental a uma
que compõem o decurso normal da fala.
grande variedade de atividades, do simples al-
cançar e segurar ao desempenho de um atleta
experiente. Suponha que vamos dos números TERMO-CHAVE
para as letras. Faça um teste com você mesmo
na sequência a seguir, lendo cada letra em voz Formação de blocos: Processo de combinação
de uma quantidade de itens em um bloco único,
alta, e então feche os olhos e tente repetir as
tipicamente baseado na memória de longa duração.
letras na ordem em que estão escritas.
34 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W. EYSENCK

Embora o ato de lembrar sequências de tando no esquecimento. Isso foi considerado,


números provavelmente tenha sido de pouco de forma especial, como um abalo da evoca-
interesse para os alunos do Sr. Jacobs, ele se ção das letras acusticamente similares, já que
tornou muito mais crítico nos últimos anos tinham menos características distintivas, au-
devido ao crescente uso em nossa cultura de mentando a probabilidade de que cada item
sequências de dígitos e letras, no início como fosse confundido com os itens adjacentes, o
números de telefone, depois como códigos que resulta em erros na ordem de evocação (p.
postais, e por último como PINs e senhas. o ex., PTCVB recordado como PTVCB).
início dos anos de 1960, o Dr. R. Conrad foi in-
cumbido pelo Serviço Britânico de Correios e
Telecomunicações de investigar as vantagens DOIS TIPOS DE MEMÓRIA?
e desvantagens relativas dos códigos baseados Você já teve a experiência de caminhar de um
em letras e números. Um de seus experimentos quarto a outro para apanhar algum objeto e,
envolveu a apresentação visual de sequências ao chegar, esquecer por que você tinha ido até
de consoantes para evocação imediata. Ele no- lá? Nesse caso, isso provavelmente ocorreu
tou um padrão interessante em seus resulta- porque você estava pensando em outra coisa,
dos: apesar de serem apresentados visualmen- de forma que a intenção original simplesmen-
te, os erros podiam apresentar semelhanças te escapou da sua mente. L10yd e Margaret
no som ao item que substituíam, portanto o P Peterson (1959), da Universidade de Indiana,
tinha maior probabilidade de ser lembrado in- desenvolveram uma técnica que pode ser con-
corretamente como V, em vez da letra R, visu- siderada análoga a essa experiência. Os parti-
almente muito mais parecida (Conrad, 1964). cipantes receberam um item a ser lembrado:
Conrad e Hull (1964) continuaram pesquisan- um trio de consoantes como XRQ sendo, em
do esse efeito, demonstrando que a memória seguida, distraídos e solicitados a contar de
para sequências de consoantes é substancial- trás para a frente, de três em três, a partir de
mente mais deficiente quando estas são simi- um determinado número (p. ex., 371: 368, 365,
lares em som (p. ex., C V D P G T versus K R X L 362, etc.). Após um período variável de alguns
Y fj. Conrad interpretou os seus resultados em segundos, foram solicitados a recordar o trio.
termos de um armazenamento da memória Usando um modelo semelhante, Murdock
de curta duração que se apoia em um código (1960) demonstrou um efeito equivalente para
acústico, que se desvanece rapidamente, resul- trios de palavras (Figura 2.1).

Figura 2.1 Retenção de


curta duração de trigramas IOO~ -<~ ~
de consoantes (Peterson
90 -,
e Peterson, 1959) e de se-
quências de uma palavra e S 80
<,
-, .,
de três palavras (Murdock. e ""~ ", Murdock (1961)

1961). De Melton (1963).


8 70
"" " " 0----0 Uma palavra
.g, 60
"" " '. t:.---"Ó Três palavras
'"
~ 50 "" " " o------a Trêsconsoantes

-
Q)
""" Peterson e Peterson (1959)
~ 40 " .-----e Trêsconsoantes
'"
3 ..•. ,
•......
-o-..::r_--~-_
~ 30 .........
'......
-------- u

~ 20

10
" "
............• _------ ..
OL- ~ _L ~ L_ _L ~

O 6 9 12 15 18
Intervalo(s) de retenção
MEMÓRIA 3S

Como você explicaria isso? Uma possibili-


dade é que os números interferem na memó-
ria das letras. Como veremos no Capítulo 9,
há indícios abundantes de que o aprendizado
pode ser interrompido por uma atividade sub-
sequente. No entanto, pesquisas anteriores ha-
viam mostrado que esse tipo de interferência
depende da similaridade entre o materiallem-
brado e o de interferência e que, pelo menos
para a memória de longa duração, os números
não interferem nas letras (McGeogh MacDo-
nald, 1931). Portanto, os Petersons sugeriram
que os seus resultados refletiam o desvaneci-
mento rápido de um traço de memória de cur-
ta duração. Essa interpretação foi consistente
com a conclusão a que chegou [ohn Brown
(1958) na Inglaterra, com base em uma de-
monstração semelhante de esquecimento de
curta duração. Contudo, ela estava em desa-
cordo com a visão de grande influência à épo-
ca da memória como sistema unitário, no qual o esquecimento, como resultado de interferência,
o esquecimento resulta de interferência. depende da semelhança entre a informação a ser
lembrada e a de interferência. Há maior proba-
A interpretação de uma simples dissolu-
bilidade de esquecermos nossa intenção original
ção de traço foi, contudo, contestada por Ke- quando somos distraídos por outro pensamento
ppel e Underwood (1962), que demonstraram ou tarefa semelhante. Fonte: Shutterstock
que o esquecimento rápido era algo que se
acumulava ao longo dos primeiros quatro ou
cinco testes do experimento. O primeiro trio perava quando a nova categoria era introduzi-
de consoantes demonstrou pouco ou nenhum da finalmente decaindo mais uma vez até a ca-
esquecimento. Eles argumentaram que os seus tegoria ser novamente alterada (Loess, 1968).
resultados sugeriam que o efeito de Peterson A maneira mais simples de pensar sobre a
podia ser atribuído a interferências de trios an- tarefa de Peterson é em termos do problema
teriores,que claro eram obviamente semelhan- que os participantes têm de resolver, ou seja,
tes quanto ao tipo e aos itens lembrados. Essa reproduzir a última de uma série de sequên-
hipótese pode ser testada trocando-se a natu- cias apresentadas. Quanto maior a demora
reza dos itens lembrados entre teste e outro. antes da evocação, mais difícil será distinguir
Como mencionamos antes, a interferência a última, e qual ocorreu um pouco antes. Uma
depende da similaridade. Portanto, se o item controvérsia considerável se seguiu quanto
anterior não for similar, ele não deve levar à possibilidade ou não de isso se encaixar na
a um esquecimento. Isso foi testado em um já existente teoria de interferência de estímu-
novo experimento, usando trios de palavras lo-resposta (ver Baddeley, 1993, p. 31-37), po-
nos quais cada item do trio provinha da mes- rém, existe um grande consenso de que a ta-
ma categoria semântica: três pássaros, ou três refa de Peterson exige explicações em termos
cores, por exemplo. Após cinco testes, todos dos processos de evocação que vão além da hi-
baseados em diferentes exemplos da mesma pótese inicial do simples decaimento do traço.
categoria (pássaros), a categoria era modifica- Antes de prosseguir na discussão adicional
da (p. ex., para cores). Como mostra a Figura sobre a questão do decaimento do traço versus
2.2,o desempenho decaía de forma constante a interferência, deveríamos considerar um se-
ao longo dos primeiros cinco testes e se recu- gundo paradigma experimental que se tornou
36 ALAN BADDELEY. MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W. EYSENCK

Figura 2.2 A liberação


do efeito de interferência 100
proativa. Foi solicitado aos
participantes que recordas-
sem jogos de quatro itens ~ 80
de uma única categoria ta- 8
~
xonômica. Após seis Jogos. Õ
u
a categoria era modificada. ~
resultando na melhoria do .~ 60
<li
desempenho. Os Jogos que -e
-;;;
compreendiam itens de .3
c:
,,
todas as quatro categorias <li
~
40 ,, ,,
demonstraram um declínio <li
c, ,,
constante e nenhuma libe- "
"• Mesma categoria
ração da interferência pro- 20
ativa. De Loess (1968). ©
Elsevier. Reproduzido com
permissão.

Testes

popular e teoricamente controverso durante te, ou no mínimo em parte, devido à tendência


os anos de 1960, livre recordar. de treinar os primeiros poucos itens à medida
que aparecem e, talvez, continuando algumas
livre recordar vezes a treinar esses itens ao longo de toda a
lista (Rundus, 1971; Hockey, 1973;Tarn e Ward,
Nesta tarefa, os participantes recebem somente
2000). Sabemos que uma gama de variáveis
listas de itens que devem recordar em quaisquer
afeta o desempenho da influência da memória
ordens desejadas. A Figura 2.3 mostra os resul-
de longa duração na parte inicial e interme-
tados de um experimento de Postman e Phillips
diária da lista (Glanzer, 1972). Essas variáveis
(1965) no qual foram apresentadas 10,20 ou 30 incluem: (1) velocidade de apresentação: mais
palavras a serem recordadas imediatamente ou lento é melhor; (2)frequência de palavras: pa-
após um período de 15 segundos. Os seus resul- lavras familiares são mais fáceis; (3) possibili-
tados ilustram uma série de características de dade de criação de imagens com as palavras:
livre recordar, incluindo: (1) a probabilidade de palavras passíveis de visualização são melho-
recordação de um item individual é menor no res; (4) idade do participante: jovens lembram
caso de listas longas, embora exista a probabili-
dade de o número total de itens recordados au-
mentar; (2) todas as listas mostraram uma ten- TERMOS-CHAVE
dência de que os primeiros itens sejam melhor Tarefa de Peterson: Tarefa de esquecimento de
recordados, o chamado efeito de primazia; (3) curta duração. na qual uma pequena quantidade de
independente do seu comprimento, se a evo- material é testada após um curto intervalo. preen-
cação for imediata, então os últimos itens são chida por uma tarefa para evitar o treino.
Livre recordar: Método pelo qual se apresenta
mais bem lembrados, o efeito de recência; (4)
aos participantes uma sequência de itens. os quais
este efeito é eliminado por um breve intervalo se solicita recordarem imediatamente, em qualquer
preenchido com alguma atividade, como contar. ordem desejada.
Como devemos interpretar esse padrão Efeito de primazia: Tendência de os primeiros
de resultados? As evidências indicam que o itens em uma sequência serem mais bem recorda-
desempenho dos itens mais antigos depende dos do que a maioria dos itens seguintes.
Efeito de recência: Tendência de serem bem
principalmente da memória de longa duração,
recordados os últimos itens de uma lista.
dando-se o efeito de priorização provavelrnen-
MEMÓRIA 37

Figura 2.3 Curvas de po-


o segundo
90

I
, sição em série para listas de
10, 20 ou 30 palavras recor-
20 palavras " dadas imediatamente ou
.•
,o
c-
70
I
I
~ após um intervalo de 15 se-
Ô I gundos. Note que, para cada
o

I
> 50 comprimento de lista, os Últi-
01 I
I

.•
01
"O jI mos poucos itens são melhor
'o # recordados imediatamente
c: .-. ".. .•...••/ 30 palavras
30

.-.
'01
após o teste - o efeito de re-
.t"
!T I " /

cência - mas não após o in-


10 tervalo. De Postman e Phillips
O (1965). © Psychology Press.

70
o
'(j.
Ô
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01 50
01

.•
"O


30 palavras
c:
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"
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30
Jl.. /
._
e_. .• /.A,

u..~ ":«' '.'


10

00 6 9 12 15 18 21 24 27 30

Posição em série

mais do que crianças ou pessoas de mais ida- deve ter sido interrompido. Em um estudo,
de;(5) estado psicológico: drogas como a maco- Bjork e Whitten (1974) solicitaram aos seus su-
nha e o álcool prejudicam o desempenho. jeitos que recordassem sequências de palavras
No entanto, embora todos esses fatores in- apresentadas sob três condições. A condição
fluenciem o desempenho geral, nenhum deles básica envolveu a apresentação de uma lista de
tem um impacto equivalente sobre o efeito de palavras para o livre recordar imediato. Como
recência. Os próprios Postman e Phillips ofe- era de se esperar, isso resultou em um claro
receram uma interpretação dos seus próprios efeito de recência. Em uma segunda condição,
resultados em termos da teoria da interferên- o intervalo entre a apresentação e a evocação
cia, embora isso não explique de imediato por foi preenchido por uma tarefa de contagem re-
que esses fatores influenciam a retenção geral, gressiva de 20 segundos, que - como se espe-
e não a recência. rava - removeu o efeito de recência. Em uma
A interpretação mais popular durante os terceira e crucial condição, os 20 segundos
anos de 1960 foi a de supor que o efeito de re- de contagem regressiva foram inseridos entre
cência refletia um armazenamento temporá- cada uma das palavras apresentadas, e tam-
rio de curta duração, com características dife- bém entre o fim da lista e a evocação. Sob essas
rentes daquelas do armazenamento de longa condições, ressurgiu um efeito de recência.
duração, responsáveis pelo desempenho com Os efeitos de recência também foram de-
itens iniciais (Glanzer, 1972). Entretanto, a su- monstrados ao longo de intervalos maiores.
posição de que a recência reflete somente a Em um estudo, por exemplo, Baddeley e Hitch
saída de um armazenamento de curta duração (1977) testaram a capacidade de jogadores de
foi a seguir contestada pela demonstração de rúgbi de recordarem os times contra os quais
que os efeitos de recência podem ocorrer sob haviam jogado naquela temporada; a evoca-
condições nas quais o traço de curta duração ção deles demonstrou um claro efeito de re-
38 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W. EYSENCK

cência. Como nem todos os jogadores haviam


jogado em todas as partidas foi possível avaliar
se o esquecimento refletia mais a quantidade
de tempo decorrido, ou o número de partidas
das quais participaram. Verificou-se que o nú-
mero de jogos era um instrumento de previsão
melhor, sugerindo que uma simples hipótese
de decaimento não ofereceria um bom registro
das suas conclusões. Efeitos de recência de
longa duração semelhantes foram encontra-
dos na evocação do local de estacionamento
(Pinto e Baddeley, 1991), embora - infelizmen-
te - eu possa relatar que, à medida que enve-
lheço, a própria recência nem sempre evita a
necessidade de perambular constrangido pelo
estacionamento do supermercado.
O fato de os efeitos de recência serem en-
contrados em uma variedade tão ampla de si-
tuações, sendo, em alguns casos, interrompida
A analogia de Crowder (1976) comparou a tarefa
por poucos segundos de atividade não relacio- da recuperação a partir de uma lista de livre evo-
nada, como contar, enquanto outros persis- cação à da distinção entre uma sequência de pos-
tem ao longo de meses, sugere que o efeito de tes de telefone; quanto mais longe o poste estiver
recência não está limitado a algum tipo único do observador, mais difícil se torna distingui-Io do
de sistema de memória; antes, reflete uma es- seu vizinho. Fonte: Shutterstock
tratégia de recuperação específica que se vale
do fato de a maioria dos acontecimentos re-
centes estarem mais disponíveis à evocação. Assim como no caso do efeito de Peterson,
Qual a última festa a que você foi? E qual a interpretação mais plausível da recência
foi a festa anterior a essa? E a anterior? Ima- parece se basear em termos da recuperação.
gino que a evocação da sua última festa foi a Crowder (1976) compara a tarefa de evocar
mais fácil, embora talvez esta sequer tenha itens de uma lista de livre recordar à de distin-
sido a melhor festa. guir postes de telefone localizados em espa-
A maior acessibilidade da experiência mais çamentos a intervalos regulares ao longo dos
recente de um determinado tipo pode servir trilhos de uma ferrovia. O poste mais próximo
ao papel muitíssimo importante de orientação será distinguível do próximo, enquanto que, à
espacial sobre a linha de tempo. Ao viajar e se medida que os postes se perdem à distância, o
hospedar em um hotel novo, como você sabe problema de separar um do outro se torna pro-
onde está quando acorda? E quando você sai gressivamente difícil (Quadro 2.2). Tanto este
do hotel para jantar, como você se lembra do quanto o efeito de Peterson podem ser vistos
número do seu apartamento e não se lembra, em termos de uma velocidade de distinção
por outro lado, do número do apartamento da com base na distância temporal entre o item
noite passada ou da noite anterior àquela? que está sendo recuperado e seu principal con-
corrente. Na evocação imediata, o item mais
recente tem uma vantagem considerável, mas,
TERMO-CHAVE com a demora crescente, distinguir o último
item de seu anterior se torna cada vez mais
Recência de longa duração: Tendência de os
difícil (Glenberg, Bradley, Stevenson, Kraus, e
últimos itens serem bem recordados sob condi-
Tkachuk, Gretz et aI., 1980; Baddeley e Hitch,
ções de memória de longa duração.
1977,1993; Brown, Neath e Chater, 2007).
MEMÓRIA 39

QUADRO2.2 Recência

TEMPO A PARTIR DA APRESENTAÇÃO


DO PRIMEIRO ITEM (PI) EM SEGUNDOS Atraso Velocidade

O 10 20 30 40 50
(seg) em R2 de Distinção

• H PI P2 (PI : P2)
PI P2~ 22 2 11 : I

30 10 3

PI = Apresentação do item I 50 30 1.67:1


P2 = Apresentação do item 2
R2 = Evocação do item 2

MODELOS DE MEMÓRIA VERBAL vocal, dizendo-se os itens a si mesmo, o que


depende de um processo articulatório vocal
DE CURTA DURAÇÃO ou subvocal.
Por volta do fim dos anos de 1960, as evidên- Considere o caso da extensão de dígitos.
cias pareciam firmemente orientarem para o Por que ela está limitada a seis ou sete itens? Se
abandono da tentativa de explicar a memória houver poucos dígitos na sequência, você pode
de curta duração em termos de um sistema enunciá-los todos em menos tempo do que é
unitário, a favor de uma explicação que en- necessário para que o primeiro dígito se desva-
volvia uma série de sistemas interativos, um neça. À medida que o número de itens cresce,
dos quais foi estreitamente identificado com o tempo total para treiná-los todos juntos será
as vastas evidências acumuladas da memória maior, por isso a possibilidade de desvanes-
verbal de curta duração. Vou utilizar um dos cimento dos itens antes de serem reavivados
modelos entre uma gama de modelos de me- aumentará, fixando, dessa forma, um limite à
mória verbal de curta duração, o conceito de extensão da memória. O modelo do circuito é
alça fonolágica, para interligar o rico acervo capaz de explicar as características salientes da
de pesquisa que continua a ser desenvolvida memória verbal de curta duração a seguir:
nesta área, antes de prosseguir com um breve
registro de teorias alternativas. O efeito de similaridade fonológica
Uma característica importante do armazena-
A alça fonológica mento é o efeito de similaridade fonológi-
O conceito de alça fonológica faz parte de ca, a demonstração de Conrad (1964) de que
um modelo de memória de trabalho de com-
ponentes múltiplos, proposto por Baddeley e
Hitch (1974). Supõe-se que a alça fonológica TERMOS-CHAVE
tenha dois subcomponentes, um armazena- Alça fonológica: Termo aplicado por Baddeley e
mento de curta duração e um processo de Hitch ao componente do seu modelo responsável
treino articulatório. Supõe-se que o armazena- pelo armazenamento temporário de informação
mento tenha capacidade limitada, com itens semelhante à fala.
Efeito de similaridade fonológica: Tendência
registrados como traços de memória, que de-
de a evocação em série imediata ser reduzida quan-
caem dentro de poucos segundos. No entanto, do os itens forem similares em som.
ostraços podem ser reavivados por treino sub-
40 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W EYSENCK

a amplitude de letras é reduzida para itens de não significa que a codificação fonológica esteja
som similares. Portanto, lembrar uma sequên- limitada à memória de curta duração, visto que
cia de cinco palavras dissimilares (p. ex., pit sem a memória fonológica de longa duração
[buraco], day [dia], cow [vaca], pen [caneta], nunca poderíamos aprender a enunciar novas
hot [quente]) é relativamente simples, enquan- palavras. Significa, entretanto, que a memória
to que se lembrar das que são fonologicamen- de longa duração se beneficia mais ao se apoiar
te similares (p. ex., cat [gato], map [mapa], man no significado do que no som. Retomaremos a
[homem], cap [boné], mad [louco]) é muito esse ponto nos Capítulos 4 e 5.
mais difícil. Note, no entanto, que esse não é Supõe-se que o efeito de similaridade fo-
um efeito geral de similaridade, haja vista que nológica ocorra quando a informação é lida a
sequências que são similares no significado (p. partir do traço de memória de curta duração;
ex., huge [enorme], wide [largo], big [grande], os itens similares têm menos características
long [longo], tall [alto]) são apenas ligeiramen- distintas, e, por isso, existe a probabilidade de
te mais difíceis do que as sequências dissimi- serem confundidos. Supõe-se que a fala audi-
lares (p. ex., old [velho], wet [molhado], thin tiva seja alimentada diretamente pelo arma-
[fino], hot [quente], late [tarde]) (Figura 2.4). zenamento fonológico. Os itens apresentados
Um ponto final para essa história é que o de forma visual também podem ser alimenta-
efeito de similaridade fonológica desaparece se dos pelo armazenamento se forem nomeáveis,
o comprimento da lista for aumentado e se per- como dígitos, letras ou objetos nomeáveis por
mitirmos que os participantes realizem diver- meio de um processo de articulação vocal ou
sos treinos de aprendizagem. Sob essas circuns- subvocal, pelo qual o indivíduo enuncia os
tâncias, a similaridade de significado se torna itens para si mesmo.
muito mais importante (Baddeley, 1966b). Isso O sistema de treino subvocal será blo-
queado se solicitarmos à pessoa que repita algo
não relacionado, como a palavra "o",atividade
Q>
~ 100 caneta conhecida como supressão articulatória. Di-
E dia zer "o"significa que o indivíduo não consegue
s 90 gole velho
to etc.
reavivar o traço de memória pela pronúncia
tarde
grande
subvocal do material lembrado. Isso também
"O
.•
u
~ 80 enorme
fino
etc. evita que o indivíduo nomeie de forma subvo-
eo 70 I-
vasto
>
Q>
ete. cal itens apresentados de forma visual, como as
~ letras, o que evita que elas sejam registradas fo-
.•
>
-;;;
o..
60 r-
nologicamente. Por esse motivo, não importa se
8 50 r- os itens são fonologicamente similares ou não
c

Q> 40 r- quando apresentados de forma visual e acom-
"O
~
ee
panhados pela supressão articulatória. Tanto

c 30 r- os itens similares quanto os dissimilares serão
'Q>
:J
louco
CT

e: 20
homem retidos em um nível inferior, mas equivalente.
Q> boné
"O Entretanto, é importante notar que mesmo
-;;; etc.
3 10 quando exercem a supressão, os indivíduos ain-
c
Q>
~ da conseguem lembrar até quatro ou cinco dí-
O
a.Q> Lista A Lista B Lista C Lista D gitos apresentados de forma visual. Isso sugere
Categorias de palavras que, embora a alça fonológica tenha um papel
importante na extensão de dígitos, esta não é
Figura 2.4 O efeito de similaridade fonológica e se-
a sua única base. Voltaremos a este ponto mais
mântica na evocação em séries imediatas de sequências
tarde. Com a apresentação auditiva, as palavras
de cinco palavras.A similaridade fonológica resulta em
evocação imediata insatisfatória, enquanto a simila- ganham acesso direto à informação fonológica
ridade de significado tem pouco efeito. De Baddeley armazenada, apesar da supressão articulatória,
(1966a). © Psychology Press. e ocorre um efeito de similaridade.
MEMÓRIA 41

o efeito de comprimento da palavra com as palavras mais longas, exigindo mais


Como já vimos, a maioria das pessoas conse- tempo para o treino e a evocação, é a proposta
gue lembrar sequências de cinco palavras dife- de que palavras mais longas são mais comple-
rentes de uma sílaba com relativa facilidade. À xas, o que resultaria em mais interferência (p.
medida que o comprimento da palavra aumen- ex., Caplan, Rochon e Waters, 1992). Uma ter-
ta, o desempenho cai de aproximadamente ceira interpretação sugere que palavras mais
90%para cinco monossílabos, para aproxima- longas, por terem mais componentes a serem
damente 50% para listas de palavras de cinco lembrados, são mais vulneráveis à fragmenta-
sílabas. À medida que o comprimento das pa- ção e ao esquecimento (p. ex., Neath e Nairne,
lavras é aumentado, o tempo necessário para 1995), embora essa interpretação tenha sido
pronunciar as palavras também aumentará abandonada pelos seus proponentes anterio-
(Figura 2.5). Essa relação entre a evocação e a res (Hulme, Neath, Stuart, Shostak, Suprenant
velocidade de articulação pode ser resumida e Brown, 2006). No entanto, a controvérsia ain-
pela afirmação de que as pessoas conseguem da está longe de ser resolvida (ver Mueller, Sey-
lembrar aproximadamente tantas palavras mour, Kieras e Meyer, 2003; Hulme et al., 2006;
quantas conseguem pronunciar em 2 segundos Baddeley, 2007; Lewandowski e Oberauer, no
(Baddeley, Thomson e Buchanan, 1975). prelo, para discussões adicionais sobre esse
A interpretação desses achados dentro complexo assunto).
da alça fonológica é relativamente simples. Felizmente, embora seja um assunto im-
O treino ocorre em tempo real, assim como portante, a questão de se o maior grau de es-
a decaimento do traço, com o resultado de quecimento observado com palavras longas
que palavras mais longas, que demoram mais é devido à decadência do traço resultante do
para serem ditas, permitem que ocorra mais tempo, ou uma interferência das sílabas subse-
decaimento. Baddeley e colaboradores (1975) quentes não é fundamental ao conceito geral
atribuíram o efeito de comprimento da pa- de alça fonológica que opera como parte de
lavra ao esquecimento durante o treino. No um modelo de memória de trabalho de com-
entanto, Cowan, Day, Saults, Keller, Johnson ponentes múltiplos. Isso é auspicioso, visto
e Flores (1992) demonstraram que o tamanho que a questão sobre o esquecimento de curta
da palavra também ocasionou esquecimento duração refletir o decaimento do traço, a in-
devido ao fato de que as palavras mais longas terferência, ou ambos, tem sido - ao longo dos
precisam de mais tempo para serem recor- anos - extremamente difícil de solucionar.
dadas, e Baddeley, Chincotta, Stafford e Turk
(2002)mostraram que os dois efeitos ocorrem. Efeitos sonoros irrelevantes
A supressão da articulação, ao exigir que os
Muitas vezes, os estudantes alegam que traba-
participantes pronunciem um som irrelevan-
lham melhor com um fundo musical com sua
te, suspende o processo de treino verbal. Isso
música ou programa de rádio favoritos. Eles têm
anula o efeito de comprimento da palavra. Ao
razão? Em 1976, Colle e Welsh mostraram que a
contrário do efeito de similaridade fonoló-
memória de curta duração para sequências de
gica, essa interrupção ocorre a despeito de a
dígitos apresentados de forma visual era preju-
apresentação ser auditiva ou visual; se a arti-
culação for bloqueada, nenhum dos métodos
de apresentação permitirá o treino verbal, e,
TERMOS-CHAVE
assim, o efeito do comprimento da palavra é
anulado (Baddeley et al., 1975). Supressão articulatória: Técnica de interrom-
O efeito do comprimento da palavra é ex- per o treino verbal solicitando aos participantes
tremamente forte, mas a sua interpretação que repitam de forma contínua um item falado.
permanece controversa. Uma alternativa à su- Efeito de comprimento da palavra: Tendência
de a extensão da memória verbal diminuir quando
gestão de Baddeley e colaboradores (1975) de
são usadas palavras mais longas.
que o efeito se baseava na decadência do traço,
42 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W. EYSENCK

Figura 2.5 A relação entre


o comprimento da palavra, 100 2,5

a velocidade de leitura e a
evocação. As palavras longas 90 2,3
",
precisam de mais tempo de "
treino e também produzem
sc: 80
",
.•
' ,,
,, 2,1 Õ
-e
extensões de memória re- <li ,, c:
E ,, ::>
duzidas. De Baddeley,Thom- ,, DO

son e Buchanan (1975). ~


5
e 70 ', .• 1.9 ~
2;
8~ " ,, c,
Elsevier Reproduzido com ,, ~
permissão.
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60 Velocidade
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" 1,7 e
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<li 30 1,1 -.;
~ >
c,
<li

20 0,9

10 0,7

o 0,5
2 4
Número de silabas na palavra

dicada quando se solicitava que os participan- mento da percepção da fala auditiva por sons
tes ignorassem a fala em uma língua estrangeira irrelevantes. Teria o item falado irrelevante
não familiar. No entanto, a evocação de dígitos acesso à informação fonológica armazenada,
não era prejudicada quando a fala estrangeira adicionando ruído ao traço de memória? o
era substituída por um ruído sem padrão. Sala- entanto, o ruído interrompe a percepção, mas
me e Badelly (1982) prosseguiram concentran- não prejudica a evocação, enquanto a fala irre-
do-se diretamente sobre o efeito do significado, levante o faz. Além disso, ao contrário do mas-
comparando a influência de palavras faladas caramento auditivo, o desempenho da memó-
irrelevantes e sílabas sem sentido irrelevantes ria de curta duração não é influenciado pela
na evocação de sequências de dígitos. Concluí- intensidade de sons irrelevantes (Colle, 1980).
ram que tanto as palavras significativas quanto Ainda mais problemático para a analogia do
as sem sentido produziam um efeito perturba- mascaramento auditivo é o fato de que o grau
dor equivalente, sugerindo que o significado de interrupção da memória de curta duração
do material irrelevante não era importante. De não está relacionado à similaridade fonológica
fato, a evocação de sequências de dígitos quan- entre o som irrelevante e os itens lembrados.
do os próprios sons irrelevantes compreendiam As palavras irrelevantes similares em som aos
nomes de dígitos (um, dois) não causava mais itens lembrados não são mais perturbadoras
rupturas do que quando os mesmos fonemas do que as palavras dissimilares (jones e Ma-
eram apresentados, mas em uma ordem dife- cken, 1995; Le Compte e Shaibe, 1997).
rente, como palavras que não representavam E a música? Salame e Baddeley (1989) con-
dígitos (p. ex., tum [girar], woo [cortejar]). cluíram que a música interferia na evocação de
Tanto eles quanto Colle (1980) sugeriram dígitos, concluindo que a música vocal atrapa-
que o efeito de fala irrelevante poderia ser visto lhava mais do que a instrumental. [ones e Ma-
como o equivalente da memória ao mascara- cken (1993) observaram que mesmo tons puros
MEMÓRIA 43

interrompem o desempenho, desde que flutuem questões importantes, discordando quanto ao


em agudo. Eles propuseram o que chamaram de melhor modo de enfrentá-Ias. Os diversos mo-
hipótese do estado mutável. Isso presume que a delos tendem a concordar em assumir ambos
retenção da ordem sequencial, seja na memória um armazenamento fonológico, e um meca-
verbal, seja na visual, pode ser interrompida por nismo separado para a ordem sequencial, que
estímulos irrelevantes, desde que estes flutuem a influencia a evocação da informação armaze-
ao longo do tempo (Jones, Macken e Murray, nada. A maioria dos modelos baseados na alça
1993).Jones (1993) relaciona o efeito sonoro ir- fonológica rejeita uma interpretação de enca-
relevante a teorias de percepção auditiva, apre- deamento da ordem sequencial, propondo, em
sentando como alternativa à hipótese da alça seu lugar, que a ordem da informação é trans-
fonológica a sua hipótese do Object-Oriented Epi- mitida por alguma forma de contexto contínuo
sodic Record (O-OER) [Registro Episódico Orien- (Burgess e Hitch, 1999,2006), por ligações ao
tado a Objetos]. Isso será discutido mais tarde. primeiro item, como no modelo da priorização,
de Page e orris (1998), ou ligações entre pri-
o problema da ordem sequencial meiro e o último itens (Henson, 1998). Supõe-
-se que o treino envolva a evocação de itens do
Estava claro que o modelo de alça fonológica
repertório fonológico e a sua reentrada subse-
puramente verbal especificado tinha duas im-
quente como estímulos treinados.
portantes desvantagens. Primeiramente, care-
Até agora, apenas um desses modelos abor-
cia de uma explicação adequada sobre como
dou explicitamente o efeito sonoro irrelevante.
a ordem sequencial é armazenada. Supondo
Page e orris (2003) sugerem que a fala irrele-
que a extensão clássica de dígitos envolve
vante adiciona ruído ao mecanismo da ordem
principalmente a retenção de uma ordem se-
sequencial, e não ao repertório fonológico, o
quencial, esta é claramente uma limitação
componente responsável pelos efeitos da simi-
importante. Em segundo lugar, o modelo não
laridade fonológica (Quadro 2.3). Isso oferece
apresenta uma especificação clara do proces-
uma explicação sobre a razão pela qual a simila-
so crucial envolvido na evocação a partir do
ridade entre os itens lembrados e os itens irrele-
armazenamento fonológico. Essas duas limi-
vantes não tem efeito: eles influenciam diferen-
tações exigem um modelo mais detalhado,
tes partes do sistema e, por isso, não interagem.
preferencialmente simulado de forma com-
putacional ou matemática de modo que pos-
sam ser feitos e testados prognósticos claros. TEORIAS CONCORRENTES
Felizmente, foi possível convencer uma série
de grupos adequadamente habilitados de que DA MEMÓRIA VERBAL
esta é uma iniciativa que merece atenção. DE CURTA DURAÇÃO
Foram desenvolvidos vários modelos ba- Até este ponto, concentramos nossa discussão
seados na alça fonológica os quais lidam com em torno da explicação da memória verbal de
a questão da ordem sequencial de maneiras um curta duração oferecida pela hipótese da alça
tanto diferentes, mas que concordam quanto às fonológica. Essa abordagem tem duas van-
tagens: oferece uma descrição coesa de uma
variedade de fenômenos bastante robustos da
TERMOS-CHAVE memória de curta duração, de forma a ligá-los
Sílabas sem sentido: Itens de consoante-vo- explicitamente àqueles outros aspectos da
gal-consoante pronunciáveis, porém desprovidas de memória de trabalho que serão discutidos no
significado, criados para se estudar a aprendizagem próximo capítulo. É importante, no entanto,
sem o fator complicante do significado. levar em consideração que foram propostas
Efeito sonoro irrelevante: Tendência de inter- outras maneiras de explicar esses dados. Al-
rupção da memória verbal de curta duração por
gumas delas serão brevemente descritas antes
sons flutuantes simultâneos, inclusive a fala e a música.
de passarmos a uma discussão mais ampla da
44 ALAN BADDELEY. MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W EYSENCK

QUADRO2.3 Métodos de armazenagem da ordem sequencial

I. Encadeamento

Cada item está associado ao próximo. A evocação inicia com o pri-


meiro item (A), que evoca o segundo (B).

2. Contexto

I Contexto em mudança I

1 1 1 1
A B c D

Cada item está ligado a um contexto em mudança que se baseia no


tempo. O contexto, por sua vez, atua como pista para a evocação.

3. Priorização

Cada item apresentado recebe ativação. O primeiro recebe a maior,


o próximo um pouco menos, e assim sucessivamente. Os itens são
recordados em ordem de força. Uma vez recordado, esse item é
suprimido e o próximo mais forte é escolhido.
A B C D
Força
i I I I I

memória de trabalho e à questão de por que A hipótese de que as memórias verbal e vi-
precisamos desta. sual de curta duração envolvem o mesmo sis-
Uma abordagem da memória de curta tema não foi sustentada pelos experimentos
duração é aquela proposta por Dylan jones e posteriores (Meiser e KJauer, 1999) e é incon-
colaboradores (Jones, 1993; Jones e Macken, sistente com as evidências dos estudos neu-
1993, 1995) como a teoria do Object-Oriented ropsicológicos nos quais se encontram alguns
Episodic Record (O-OER). Essa teoria foi de- pacientes com memória de curta duração ver-
senvolvida para explicar a influência de sons bal prejuclicada e visual conservada (Shallice e
irrelevantes sobre a memória de curta dura- Warrington, 1970; Vallar e Papagno, 2002) en-
ção. Essa proposta é influenciada pela pesqui- quanto outros pacientes apresentam o padrão
sa sobre a percepção auditiva e indica que as oposto (Delia Sala eLogie, 2002). Além disso,
sequências de itens são representadas como sua explicação da memória para a ordem se-
pontos sobre uma superfície multimodal: en- quencial parece depender do encadeamento,
tretanto, considera que ambas, a evocação se- uma abordagem que não é bem sustentada.
quencial auditiva e visual, envolvem o mesmo Outra perspectiva aplicada à memória
sistema operando sobre uma representação verbal de curta duração é o modelo de caracte-
comum. A evocação envolve a recuperação da rísticas, de James Nairne (Nairne, 1988, 1990),
trajetória dos pontos que representam a se- que substitui a separação proposta entre as
quência, em vez da leitura dos pontos em um memórias de longa e curta duração ao propor
gráfico. Os sons irrelevantes podem criar tra- um sistema de memória único no qual cada
jetórias concorrentes, interrompendo a evoca- item de memória é entendido como repre-
ção subsequente (Jones, 1993). sentado por um conjunto de características,
MEMÓRIA 45

que são de dois tipos básicos: dependente de treino por supressão (Norris. Baddeley e Page.
modalidade e independente de modalidade. Se 2004). O modelo de características também
lermos a palavra HAT [CHAPÉU]. ela terá ca- enfrenta o problema de explicar por que o efei-
racterísticas visualmente dependentes. como to de comprimento da palavra desaparece em
a caixa em que está impressa. e característi- listas mistas de palavras longas e curtas. Isso
cas visualmente independentes. como o seu resultou no seu abandono por alguns de seus
significado. Quando ouvimos a palavra HAT proponentes. em favor do próximo modelo a
[CHAPÉU]. em vez de lê-Ia. as características ser descrito: o SIMPLE (Scale Invariant Me-
dependentes. como o significado. serão as mory. Perception. and Learning) [Escala Inva-
mesmas. mas as características dependentes riável de Memória. Percepção e Aprendizagem]
serão acústicas. e não visuais. Considera-se (Hulme et al., 2006; Brown et al., 2007).
que o esquecimento depende de interferência. Brown e colaboradores (2007) propõem
sendo que novos itens interrompem as carac- um modelo de memória de grande abrangên-
terísticas definidas por itens anteriores. o que cia que chamam de SIMPLE. o qual aplicam
resulta em erros na evocação. tanto à memória de curta duração quanto à
O modelo de características é represen- de longa duração. Trata-se basicamente de
tado por um programa de computador que um modelo de esquecimento fundamentado
pode ser usado para fazer prognósticos sobre na recuperação. sendo os itens mais diferen-
o resultado de diferentes manipulações expe- ciados os mais imediatamente recuperáveis.
rimentais. Ao fazermos diversas suposições. é O modelo enfatiza a discriminabilidade tem-
possível usar o modelo para descrever muitos poral. mas vai além de tentativas anteriores de
dos resultados que foram utilizados para sus- usar esse mecanismo para explicar os efeitos
tentar a hipótese da alça fonológica. O efeito da recência no livre recordar pelo desenvolvi-
de similaridade fonológica é explicado sobre o mento de um modelo matemático detalhado.
fundamento de que os itens similares têm mais Provavelmente seja muito cedo para avaliar
características comuns. resultando em gran- o SIMPLE. que parece lidar bem com livre re-
de probabilidade de que seja recuperado um cordar. mas parece ser menos adequado para
item similar. mas incorreto. Entende-se que o explicar a evocação sequencial (Lewando-
som irrelevante adiciona ruído ao traço de me- wski, Brown, Wright e Nirnmo, 2006; immo e
mória de cada item em particular. Entende-se Lewandowski. 2006). Como no caso do modelo
também que a supressão articulatória adiciona de características. atualmente o SIMPLE não
ruído e que. além disso. exige atenção (Nairne, tenta abordar os aspectos operacionais da me-
1990).Ao fazer suposições detalhadas sobre a mória de trabalho.
proporção exata das características dependen- Outra forma de modelar a ordem sequen-
tes e independentes da modalidade e o efeito cial é considerar que a ordem é mantida por
relativo da supressão articulatória e do som um sinal de contexto. Como mencionamos
irrelevante sobre estas. o modelo de caracterís- antes. uma destas considera um contexto ba-
ticas é capaz de simular uma ampla gama de seado no tempo que incorpora o decaimento
resultados (Neath e Surprenant. 2003). embora do traço (Burgess e Hitch, 1999.2006). Essa su-
pouco justifique as suposições mais específicas posição é rejeitada por Farrell e Lewandowski
exigidas pelas diversas simulações. (2002.2003). as quais propõem - no seu mode-
O modelo de características tem dificulda- lo SOB (Serial-Order-in-a-Box) - que a ordem é
des em descrever uma série de conclusões. Se- mantida usando-se um sinal de contexto fun-
gundo esse modelo. o som irrelevante somente damentado em eventos. sendo o esquecimen-
prejudica a evocação quando ocorre ao mesmo to baseado na interferência entre os eventos.
tempo em que os item da memória são codifi- Pode parecer estranho que a tarefa aparen-
cados. No entanto. ele interrompe a evocação temente simples de recordar uma sequência
mesmo quando ocorre após a apresentação dos de dígitos na ordem correta seja tão difícil de
itens da memória e mesmo quando se evita o explicar. o entanto. como mencionamos an-
46 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W EYSENCK

teriormente, o problema de como um sistema por uma das letras. Esta era uma pista para
como o cérebro, que processa os eventos em recordar a letra, a cor ou ambas. Os partici-
paralelo, pode conservar a ordem sequencial pantes tiveram êxito ao relatar ambos a letra
vem desafiando os teóricos desde que foi tra- e a cor como também tiveram êxito ao relatar
zido à tona pela primeira vez por Karl Lashley apenas uma dessas características. O desem-
(1951), há mais de 50 anos. penho foi altamente preciso em até quatro
itens, depois declinou com o aumento do nú-
mero de letras. Claro que era possível que os
MEMÓRIA VISUOESPACIAL participantes estivessem se apoiando na alça
DE CURTA DURAÇÃO fonológica para os nomes das letras, o que
Imagine que você está em uma sala bem ilu- complicava a interpretação.
minada que é repentinamente mergulhada Isso foi evitado em uma série de estudos
na escuridão. Você conseguiria achar a porta? posteriores de Vogel, Woodman e Luck (2001),
Se houvesse uma caixa de fósforos em cima que usaram barras de largura e orientação va-
da mesa à sua frente, você lembraria que ela riáveis e outras características, como textura,
estava lá? Essas duas perguntas se referem a como estímulos, tornando virtualmente im-
dois aspectos relacionados, mas separáveis da possível a codificação verbal exata na breve
memória de trabalho visual: um que se refere à fase de apresentação. Novamente encontraram
memória espacial (onde?) e o outro que se re- um limite de quatro objetos. Curiosamente,
fere à memória de objetos (o quê?). As evidên- não pareceu relevante o número de caracterís-
cias sugerem que você conseguiria manter um ticas que cada objeto compreendia. Em uma
rumo em direção à porta por aproximadamen- condição, por exemplo, o conjunto continha
te 30 segundos (Thomson, 1983). Sua memória um total de 16 características (quatro objetos,
para a localização precisa decresce de forma cada um com quatro características), mas to-
bem mais rápida (Elliot e Madalena, 1987). dos os quatro objetos complexos pareciam
estar codificados de forma eficaz. Vogel e co-
laboradores concluíram que o sistema estava
Memória espacial de curta duração
limitado com base no número de objetos, mas
Posner e Konick (1966) solicitaram aos partici- que os objetos podiam variar em complexidade
pantes de sua pesquisa que lembrassem onde sem afetar o desempenho (Figura 2.6). Em um
havia ocorrido um estímulo ao longo de uma estudo, a supressão articulatória foi usada para
linha. A retenção foi boa após um intervalo não evitar a codificação verbal; isso não teve efeito
preenchido, mas decresceu quando foi solicita- sobre o desempenho, confirmando a sugestão
do o processamento de dígitos no intervalo, e o de que a sua tarefa não dependia da verbaliza-
grau de esquecimento aumentou com a com- ção. Os autores também não encontraram ne-
plexidade da tarefa dos dígitos. Como a tarefa nhuma evidência de esquecimento ao longo de
interveniente não era de natureza espacial ou um breve intervalo não preenchido.
visual, a implicação é que ela interferiu na ca- Woodman e Luck (2004) incluíram proto-
pacidade de treinar ou conservar na memória colos de busca visual, no qual os participantes
o estímulo inicial. Um resultado similar foi ob-
examinavam um conjunto buscando alvos vi-
tido por Dale (1973) usando um protocolo que sualmente especificados no intervalo entre a
envolvia a retenção da localização de um ponto
apresentação e o teste de conjuntos de formas
escuro em um campo branco bidimensional.
coloridas. Os autores concluíram que a memó-
ria para a localização espacial foi prejudicada
Memória de objetos pelo exame, mas não a memória de objetos, da
Irwin e Andrews (1996) apresentaram um forma como foi refletida na memória para a
conjunto de letras de diferentes cores a seus cor do estímulo. Oh e Kim (2004) estudaram o
participantes. Após um breve intervalo, um efeito da memória sobre a velocidade da busca
asterisco apareceu no local antes ocupado visual, concluindo que a exigência de recordar
MEMÓRIA 47

ao longo de um curto período de tempo. mes-


mo quando estiver envolvida uma atividade
interpolada. No entanto. a memória para a lo-
calização espacial parece ser mais vulnerável,
ao interagir com outras atividades espaciais.
Parece possível que essa diferença reflita a ne-
cessidade de manter uma estrutura espacial
se uma resposta precisar ser fornecida. capa-
cidade passível de interrupção por outras ati-
vidades espacialmente relacionadas. inclusive
0-----0 Cor
o tipo de movimento dos olhos que provavel-
~Tamanho
70 0- - - - - - - o
Orientação mente esteja envolvido na busca visual.
.----- ..• Lacuna
L>---~ Conjunção
A distinção visuoespacial
60
Fizemos uma distinção entre a memória es-
pacial de curta duração - lembrar onde. e a
memória de objetos - lembrar o quê. Na práti-
50 / I I I ca. esses dois sistemas trabalham juntos. mas
2 4 6
Tamanho do conjunto
foram desenvolvidos protocolos que enfati-
zam de modo particular uma ou outra dessas
Figura 2.6 Desempenho do reconhecimento visual formas de memória visuoespacial. Uma tarefa
como função do número de objetos apresentados e o espacial clássica é o teste com blocos. no qual
número de características por objeto. O desempenho o participante se defronta com um conjunto
é muito sensível ao número de objetos, mas não ao nú- de nove blocos (Figura 2.7). O coordenador do
mero de características que cada objeto compreende.
experimento toca em uma série de blocos em
Dados de Vogel e colaboradores (200 I).
sequência, e os participantes tentam imitá-Ia.
aumentando-se o comprimento da sequência
ao mesmo tempo um conjunto de objetos não até que o desempenho entre em colapso. Esse
tinha impacto sobre a velocidade da busca vi- experimento é conhecido como Corsispan, em
sual.enquanto uma tarefa de retenção espacial homenagem ao neuropsicólogo canadense
concomitante reduzia a velocidade com que que o inventou. e consiste tipicamente de cin-
os indivíduos conseguiam procurar por um co blocos. geralmente em torno de dois itens
alvoespecífico. abaixo da extensão de dígitos.
Parece. portanto. que conseguimos lem- A extensão visual pode ser medida usan-
brar até quatro objetos. mesmo quando cada do uma série de padrões de matriz nos quais
um compreende uma série de diferentes carac- a metade das células está preenchida e a ou-
terísticas. e que essa capacidade não decresce tra metade em branco (Figura 2.8). Mostra-se

Figura 2.7 O teste de


Corsi da extensão da me-
mória visuoespacial. O co-
ordenador do experimento
toca em uma série de blo-
cos, e o participante, sen-
tado do lado oposto, tenta
imitá-Io.Os números se des-
tinam a ajudar o coordena-
dor do experimento.
48 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W. EYSENCK

Figura 2.8 Extensão pa-


drão visual. Mostra-se aos
participantes uma série de
matrizes com a metade
das células preenchidas e
solicita-se que as recordem.
O teste começa com uma
matriz simples de 2 x 2 (à
esquerda) que vai aumen-
tando de tamanho até a ma-
triz de S x 6 (à direita). De
Della Sala e colaboradores

EB
(1999). © Elsevier. Repro-
duzido com permissão.

ao participante um padrão e solicita-se que o acabou de ser apresentado. Durante o intervalo


reproduza marcando as células preenchidas de 10 segundos, os participantes realizam uma
em uma matriz vazia. O teste começa com um tarefa espacial ou visual. Na tarefa espacial,
padrão simples de 2 x 2, e o número de células são apresentados 12 asteriscos, sendo que II
na matriz é aumentado de forma gradual até deles se movem de forma aleatória e o décimo
um ponto em que o desempenho entra em co- segundo permanece estacionário. A tarefa é
lapso, normalmente situado próximo ao ponto identificar o item estacionário. A tarefa de in-
em que a matriz alcança 16 células. terferência visual envolve o processamento de
A evidência para a distinção entre essas uma série de cores, sete das quais são variantes
duas medidas de extensão espacial e visual de uma cor, enquanto que o alvo está na faixa
provém de estudos nos quais uma atividade da cor azul. Conforme mostrado na Figura 2.9,
de interferência em potencial é inseri da en- a localização espacial de pontos foi interrom-
tre a apresentação e o teste. Quando envolve pida pelo movimento, mas não a cor, enquanto
processamento espacial, como dar toques em que os ideogramas mostraram o efeito oposto.
sequência em uma série de teclas, Corsi span é
reduzida; a extensão padrão é mais interrom- Abordagens neuropsicológicas ao
pida por uma tarefa de processamento visual estudo da memória de curta duração
como a visualização de formas (Della Sala, Em 1966, Brenda Milner relatou o caso de um
Gray, Baddeley, Allamano e Wilson, 1999). homem jovem, H.M., que teve a infelicidade
A memória visual de curta duração evi- de sofrer de epilepsia incurável. Este pode ser
dentemente não é limitada à lembrança de pa- o resultado de traumatismo craniano, o que
drões, e também envolve formas e cores. Isso é acarretou em atividade elétrica excessiva, le-
demonstrado de forma especialmente clara em vando a ataques epilépticos. Com frequência
uma série de estudos de Klauer e Zhao (2004), que a remoção cirúrgica do tecido lesado alivia
nos quais contrastam uma tarefa espacial que signficativamente os ataques. H.M. se subme-
envolve a lembrança da localização de um pon- teu a esse tipo de cirurgia, e os episódios foram
to branco em um fundo preto, e uma tarefa vi- reduzidos, mas infelizmente a operação o dei-
sual que envolve a memória para ideogramas xou amnésico. Os motivos foram lesões cirúr-
chineses. Em cada caso, o estímulo é apresen- gicas que ocorreram em ambos os hemisférios
tado e seguido por um intervalo de retenção de cerebrais, na região do hipocampo, o qual, sa-
10 segundos, após o intervalo os participantes bemos agora, exerce papel importante na me-
devem escolher qual dos oito itens do teste mória episódica de longa duração.
MEMÓRIA 49

haviam ocorrido antes da sua operação e con-


100 seguia aprender novas tarefas, como aquelas
Nenhum • Movimento • Cor
que envolvem capacidade matara.

I H.M. também havia conservado a extensão


de dígitos, o que sugere que o desempenho das
memórias de curta e longa duração pode de-
pender de diferentes sistemas de memória, que
refletem diferentes áreas do cérebro. Por isso,
Baddeleye Warrington (1970) exploraram a dis-
70 '-------''--'-
Pontos Ideogramas
tinção entre essas duas memórias, proposta em
maior detalhe, utilizando um grupo de pacien-
20
Movimento • Cor tes que possuíam amnésia grave, mas tinham
.~
c:
15 outras habilidades intelectuais, normais, e exa-
<Q)

minando o seu desempenho em uma variedade


~ 10
s
.s
de tarefas que testavam as memórias de curta e
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-e

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ê O~-~-.rhr------~~--
I longa duração. Assim como H.M., eles demons-
traram ter conservado a extensão de dígitos.
w Também apresentaram desempenho normal na
-sC- _ tarefa de Peterson e conservaram a recência no
Pontos Ideogramas livre recordar, ao mesmo tempo em que apre-
100
Pomos • Ideogramas
sentaram um acentuado déficit no desempenho
em itens de primazia e anteriores, na lista de li-
vre recordar. Esses resultados serão discutidos

I em maior profundidade no Capítulo 11.

I Déficits na memória verbal


de curta duração
8SL----L~---------~~--- Ao mesmo tempo, Tim Shallice e Elizabeth
Movimento Cor
Warrington (1970) estavam estudando um pa-
Figura 2.9 Memória para a localização de pontos e ciente com o padrão oposto de problemas de
para ideogramas chineses. Somente o movimento in- memória. O paciente K.F.tinha uma extensão
terrompe a memória espacial, enquanto que a memó- de dígitos de apenas dois itens, um desempe-
ria de padrões é mais interrompida por cores interve- nho excessivamente deficiente na tarefa de Pe-
nientes. Dados de Klauer e Zhao (2004).
terson, e apresentava pouca recência no livre
recordar. Outros pacientes que apresentavam
o caso de H.M. foi importante sob o aspec- um padrão equivalente foram posteriormente
to prático porque ressaltou a necessidade de identificados (Vallar e Shallice, 1990). Esses
tomarmos cuidado ao compreender a função dois tipos de paciente - pacientes amnési-
da área do cérebro a ser removida e - no aspec- cos com desempenho normal na memória
to teórico - devido à sua elucidação da nature- de curta duração e deficiente na memória de
za da memória de longa duração. H.M. ficou longa duração, e vice-versa - ofereceram o
prejudicado em sua capacidade de aprender que é conhecido como dissociação dupla.
novas informações, tanto visual quanto ver- Isso fornece fortes indícios para a existência
bal, e de atualizar o seu conhecimento sobre de no mínimo dois tipos de sistemas ou pro-
o mundo, um caso clássico da síndrome am- cessos separados. Por exemplo, se tivessem
nésica discutida no Capítulo 11.Entretanto, há sido estudados apenas pacientes amnésicos,
aspectos da memória que foram conservados poderíamos argumentar que as suas capaci-
em H.M. Ele conseguia lembrar eventos que dades conservadas, como a recência e a exten-
50 ALAN BADDELEY, MICHAEL CANDERSON & MICHAEL W. EYSENCK

são de dígitos, refletiam tarefas mais fáceis do drão sugere que P.V não tem capacidade de
que aquelas que foram prejudicadas, O fato de usar uma estratégia de recência devido à sua
outros pacientes apresentarem exatamente o deficiência, mas que tem capacidade de usá-Ia
oposto descarta essa interpretação, para estimular a memória verbal imediata que
O paciente de Shallice e Warrington mos- aparentemente se apoia em um código fonoló-
trou não ter um déficit geral da memória de gico ou verbal/lexical.
curta duração, mas sim um déficit específico
da memória fonológica de curta duração. Con- Déficits na memória visuoespacial
sequentemente, o seu desempenho foi muito
de curta duração
melhor quando a sua extensão de dígitos foi
testada com a utilização de apresentação vi- Enquanto alguns pacientes, como K.F. e EV.,
sual, consistente com a sua memória visual têm um déficit que está limitado à memó-
conservada, de acordo com o teste de blocos ria verbal de curta duração, outros pacientes
de Corsi. Um padrão semelhante foi apresen- apresentam o padrão oposto, com memória
tado pela paciente P.V (Basso, Spinnler, Vallar de curta duração verbal normal e desempenho
e Zanobia, 1982; Vallar e Baddeley, 1987), que deficiente nas medidas da memória visual ou
desenvolveu um déficit grave e específico na espacial de curta duração. Um desses pacien-
memória fonológica de curta duração após um tes, L.H., havia sofrido um ferimento na cabeça
acidente vascular cerebral (AVC). O intelecto em um acidente de trânsito e estava conside-
e a linguagem estavam intactos, mas ela tinha ravelmente inapto em sua capacidade de lem-
uma extensão de dígitos de dois e não apre- brar cores e formas. No entanto, tinha memória
sentava similaridade fonológica ou efeito de excelente para informações espaciais, como lo-
comprimento de palavra, na memória verbal calidades e trajetos (Farah, Hammond, Levine
de curta duração. Como é característica desses e Calvanio, 1988). Outra paciente, L.E., sofreu
pacientes, ela apresentava um efeito de recên- danos no cérebro em resultado de lupus erythe-
cia significativamente reduzido no livre recor- matosus. Ela também tinha uma memória es-
dar verbal imediato. No entanto a recência de pacial excelente e conseguia dirigir muito bem
longa duração estava normal. Isso foi testado por um trajeto não familiar entre a sua casa e
usando uma tarefa que envolvia a solução de o laboratório onde as suas habilidades cogni-
uma série de quebra-cabeças de anagramas, tivas eram testadas. Entretanto, ela tinha me-
seguidos por uma solicitação inesperada de mória visual deficiente aliada a um prejuízo na
evocação. Tanto P.V quanto os pacientes do capacidade de desenhar de memória (Wilson,
grupo-controle apresentaram um claro efeito Baddeley e Young, 1999). Ela era uma escultora
de recência com melhor evocação de soluções talentosa, que acreditava ter perdido sua capa-
posteriores, embora a evocação fosse inespe- cidade de visualização. Não conseguia lembrar
rada e tivesse sido seguida pela necessidade o aspecto de suas esculturas anteriores e mu-
de enfrentar anagramas posteriores. Esse pa- dou radicalmente o seu estilo (Quadro 2.4).
Outros casos surgiram cuja memória de
curta duração estava conservada, mas que
TERMOS-CHAVE possuiam déficit na memória espacial. Carlesi-
mo, Perri, Turriziani, Tomaiuolo e Caltagirone
Dissociação dupla: Termo usado especialmente
na neuropsicologia quando dois grupos de pacien-
(2001) descrevem o paciente M.V, que sofreu
tes apesentam padrões opostos de déficit, p.ex., danos no lobo frontal direito após um aciden-
MCD normal e MLD deficiente versus MLD normal te vascular cerebral (AVC) e cujo desempenho
e MCD deficiente. da memória visual era normal, mas foi seria-
Blocos de Corsi: Contraparte visuoespacial da mente prejudicado no teste de blocos de Corsi
extensão de dígitos, que envolve um conjunto de
e em uma tarefa que exigia a memória de curta
blocos nos quais o coordenador do teste toca em
duração para fazer a imagem a partir de uma
sequência e o paciente tenta imitá-Io.
matriz. Luzatti, Vecchi, Agazzi, Cesa-Bianchi
MEMÓRIA 51

e Vergani (1998) relatam um caso semelhante,


TERMO-CHAVE
no qual a deterioração progressiva do hemis-
fério direito resultou em déficits de memória Memória visuoespacial de curta duração
espacial em tarefas como a descrição da locali- (MCD visuoespacial): Retenção de informações
zação de pontos de referência na cidade natal visuaise/ou espaciais por breves períodos de tempo.
do paciente, enquanto ele tinha uma memória
boa para cores e formas.
Você deve ter notado que os déficits apre- manipulação de imagens mentais, e usando
sentados por pacientes com problemas de estas em tarefas também complexas, como
memória visuoespacial de curta duração escultura e orientação espacial. Em outras pa-
tendem a transpor o simples armazenamen- lavras, elas resultaram em déficits na memória
to de estímulos visuais e espaciais, envolven- de curta duração e na memória de trabalho, o
do tarefas mais complexas, como a criação e tema do próximo capítulo.

QUADRO 2.4 Paciente l.E .

•. (e)

(I)

(g)

A paciente L.E. era uma escultora talentosa antes


de sofrer uma doença no cérebro que debilitou sua
capacidade de formar imagens visuais. O seu estilo
de escultura então mudou de altamente realista (o e
b) para muito mais abstrato (c e d). Sua capacidade
de desenhar também foi afetada, conforme demons-
trado por suas tentativas de desenhar um pássaro
(e), um camelo (f) e um avião (g). De Wilson e cola-
boradores (1999). © Psychology Press.
52 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W EYSENCK

RESUMO

o termo memória de curta duração se refere ao armazenamento de pequenas quantidades de


informação por breves períodos de tempo. Ela se distingue da memória de trabalho. a qual se
supõe combinar o processamento e o armazenamento. e que serve como espaço de trabalho
mental para a realização de tarefas complexas. O estudo da memória de curta duração come-
çou com a tarefa de extensão de digitos usada como mensuração da capacidade mental. A
extensão. em geral. está em torno de seis ou sete dígitos, mas é propensa a ser mais curta para
palavras ou ainda mais curta para sílabas sem sentido em uma língua estrangeira. O desem-
penho é limitado pelo número de blocos e não de itens. com diferentes tipos de informação.
sendo mais ou menos desmembráveis em blocos.
Ao final dos anos de 1950. a ideia de um sistema de memória geral unitário foi contesta-
da. em grande parte com base em dois paradigmas experimentais. O efeito de esquecimento
de curta duração de Peterson demonstrou que pequenas quantidades de informações seriam
esquecidas em segundos. se o treino fosse evitado. e foi inicialmente interpretado como decai-
mento de traço. Mais tarde. ficou demonstrado que o primeiro item de todos a ser mostrado
apresentava pouco esquecimento. sugerindo uma interpretação em termos de interferência
dos itens anteriores em vez de decaimento. Isso indica a necessidade de uma teoria que incor-
pore a evocação.
O segundo paradigma influente foi o livre recordar. no qual o efeito de recência tipicamen-
te se perde em segundos se o treino for evitado. e é resistente a muitos fenômenos da memória
de longa duração influenciados por itens anteriores. A existência da recência de longa duração
sugere que ela reflete um tipo especial de estratégia de evocação que pode ser aplicado em
uma variedade de diferentes sistemas de memória.
O trabalho subsequente prosseguiu ao estudo das características de diversos sistemas de
memória de curta duração. A memória verbal de curta duração demonstrou ser influenciada
pela similaridade fonológica e pelo comprimento das palavras que são retidas. A hipótese
da alça fonológica tenta explicar isso por meio de uma estrutura mais ampla da memória
de trabalho. pressupondo a existência de um armazenamento temporário e um processo
de treino articulatório que pode ser interpretado pela supressão articulatória. Uma série de
modelos foi proposta para explicar esse padrão geral de resultados. Alguns se baseiam no
modelo da alça fonológica. outros incluem a hipótese das características. principalmente
influenciada por modelos de memória de longa duração. Há também o modelo do influen-
ciado principalmente por efeitos sonoros irrelevantes. e o modelo do SIMPLE (ScaIe Inva-
riant Memory. Perception. and Learning). que é fortemente influenciado pela necessidade
de explicar a recência.
A memória visual de curta duração pode ser dividida em memória visual e espacial. A
memória para a localização espacial parece demonstrar o esquecimento em um período de
segundos. enquanto o mesmo não ocorre com a memória para objetos visuais. Parecemos
capazes de reter até quatro objetos. com um declínio no desempenho além desse ponto. De
forma um tanto surpreendente. o número de características que um objeto compreende não
parece ter limites óbvios. Componentes visuais e espaciais foram propostos como parte do
esboço visuoespacial. um componente da memória de trabalho que é a contraparte da alça
fonológica.
Evidências neuropsicológicas sustentam as distinções comportamentais propostas. Vários
casos revelaram a separação em potencial entre a memória verbal de curta duração e as me-
mórias visual de curta e de longa duração. sendo o padrão de déficits amplamente consistente
com a hipótese da alça fonológica.
MEMÓRIA S3

Também foram relatados pacientes com déficits da memória de curta duração visuoes-
pacial, alguns dos quais parecem apresentar o bloqueio do armazenamento da informação
visual, o que se reflete na extensão padrão deficitária, enquanto outros apresentam a memória
espacial de curta duração deficiente, conforme se reflete na tarefa de blocos de Corsi. Os locais
de lesão que resultam nesses déficits neuropsicológicos são amplamente consistentes com as
evidências da neuroimagem discutidas no Capítulo 3.

LEITURA ADICIONAL
• Logie, R. H. (1995). Visuo-spatial working memory. Hove, UK: Psychology Press. Uma descrição da MCP
visual a partir de uma perspectiva de memória de trabalho de componentes múltiplos.

• Luck, S.)., & Vogel, E. K. (1997). The capacity ofvisual working memory for features and conjunc-
tions. Nature, 390, 279-281. Um estudo importante que forma uma ligação entre o estudo da atenção
visual e da MCP visual.

• Melton, A. W. (1963). Implications of short-term memory for a general theory of memory. [ournal of
VerbalLearning and Verbal Behavior, 2, 1-21. Um estudo clássico que apresenta uma interpretação da
MCP nos termos da teoria da interferência do estímulo-resposta.

• Vallar, G. (2006). Memory systems: the case of phonological short-term


memory. A festschrift for Cog-
nitive Neuropsychology. Cognitive Neuropsychology. 23. 135-155. Uma explicação e descrição da alça
fonológica do ponto de vista da neuropsicologia.

• Waugh, N. C., & Norman, D. A. (1965). Primary memory. Psychological Review, 72,89-104. Outro estudo
clássico que apresenta uma alternativa de processamento de informações à teoria da interferência.

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