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m 1887. [ohn [acobs, um diretor de escola entanto. estes são problemas da memória de
termo é livre de teoria, embora haja, é claro, que é usado como parte de um conceito muito
teorias quanto a como isto se realiza. mais amplo, o da memória de trabalho.
Ao contrário de nosso uso de memória de
curta duração para tão somente descrever uma
situação experimental, o termo memória de tra-
EXTENSÃO DA MEMÓRIA
balho está baseado em uma hiopótese teórica, a Antes de prosseguir, teste-se, usando o Qua-
de que tarefas como raciocínio e aprendizagem dro 2.l.
dependem de um sistema capaz de manter e Se a sua extensão de dígitos estiver bem
manipular temporariamente a informação, um abaixo do que você esperava, não se preocu-
sistema que evoluiu como espaço de trabalho pe; nesta forma simples, como veremos mais
mental. Diferentes abordagens teóricas referen- tarde, ela depende de um aspecto pequeno,
tes a memória de trabalho se desenvolveram, mas útil, do nosso sistema de memória, não da
algumas fortemente influenciadas por estudos inteligência geral. A extensão de dígitos é uma
de atenção (p. ex., Cowan, 2001), algumas ba- tarefa clássica de memória de curta duração,
seadas em estudos das diferenças individuais na medida em que envolve a manutenção de
no desempenho em tarefas complexas (p. ex., uma pequena quantidade de informação por
Miyake, Friedman, Emerson, Witzki, Howerter e um curto período de tempo.
Wager, 2000; Engle e Kane, 2004) e outras dirigi- O fato mais óbvio a respeito da extensão
das por considerações neurofisiológicas (Gold- de dígitos é a sua limitação a aproximada-
man-Rakic, 1996).Todas, no entanto, presumem mente seis ou sete dígitos para a maioria das
que a memória de trabalho fornece um espaço pessoas, embora algumas consigam lidar com
de trabalho temporário que é necessário para 10 ou mais, enquanto outras têm dificuldade
desempenhar atividades cognitivas complexas. em lembrar mais de quatro ou cinco. O que es-
A abordagem utilizada nos 2 próximos ca- tabelece esse limite e por que ele varia de um
pítulos reflete uma descrição de componentes indivíduo para outro?
múltiplos da memória de trabalho (Baddeley e
Hitch, 1974) que foram fortemente influencia-
dos pelos estudos experimentais e neuropsico- QUADRO 2.1 Teste de extensão de dígitos
Leia cada sequência como se fosse um núme-
lógicos da memória humana, que constituem
ro de telefone, depois feche os olhos e tente
o núcleo do presente livro. Ela demonstrou ser
repeti-tos. Comece pelos números de quatro
durável e amplamente aplicável, mas deve ser
dígitos e continue até falhar nas duas sequên-
vista como complementar a uma gama de ou- cias a um determinado comprimento. A sua
tras abordagens, em vez de como a teoria da amplitude é um dígito a menos do que este.
memória de trabalho (Miyake e Shah, 1999a).
O modelo de multicomponentes apoiou-se em 9754
estudos da memória de curta duração e tem, 3825
como o seu componente mais explorado, a 94318
alça fonológica, que fornece uma descrição 68259
teórica da memória verbal de curta duração. 913825
O presente capítulo se ocupa das principais 648371
conclusões dos estudos das memórias verbal 7958423
e visual de curta duração. Utiliza o modelo da 5316842
alça fonológica para interligá-Ias, mas também 86951372
se refere a outras teorias concorrentes. Isso nos 51739826
leva ao Capítulo 3, que vai além do estudo da 719384261
memória de curta duração, com sua ênfase no 163874952
armazenamento de informação de curta dura- 9152438162
ção, para considerar a questão de por que esse 7154856193
armazenamento temporário é necessário e por
MEMÓRIA 33
-
Q)
""" Peterson e Peterson (1959)
~ 40 " .-----e Trêsconsoantes
'"
3 ..•. ,
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O 6 9 12 15 18
Intervalo(s) de retenção
MEMÓRIA 3S
Testes
I
, sição em série para listas de
10, 20 ou 30 palavras recor-
20 palavras " dadas imediatamente ou
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,o
c-
70
I
I
~ após um intervalo de 15 se-
Ô I gundos. Note que, para cada
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I
> 50 comprimento de lista, os Últi-
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após o teste - o efeito de re-
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00 6 9 12 15 18 21 24 27 30
Posição em série
mais do que crianças ou pessoas de mais ida- deve ter sido interrompido. Em um estudo,
de;(5) estado psicológico: drogas como a maco- Bjork e Whitten (1974) solicitaram aos seus su-
nha e o álcool prejudicam o desempenho. jeitos que recordassem sequências de palavras
No entanto, embora todos esses fatores in- apresentadas sob três condições. A condição
fluenciem o desempenho geral, nenhum deles básica envolveu a apresentação de uma lista de
tem um impacto equivalente sobre o efeito de palavras para o livre recordar imediato. Como
recência. Os próprios Postman e Phillips ofe- era de se esperar, isso resultou em um claro
receram uma interpretação dos seus próprios efeito de recência. Em uma segunda condição,
resultados em termos da teoria da interferên- o intervalo entre a apresentação e a evocação
cia, embora isso não explique de imediato por foi preenchido por uma tarefa de contagem re-
que esses fatores influenciam a retenção geral, gressiva de 20 segundos, que - como se espe-
e não a recência. rava - removeu o efeito de recência. Em uma
A interpretação mais popular durante os terceira e crucial condição, os 20 segundos
anos de 1960 foi a de supor que o efeito de re- de contagem regressiva foram inseridos entre
cência refletia um armazenamento temporá- cada uma das palavras apresentadas, e tam-
rio de curta duração, com características dife- bém entre o fim da lista e a evocação. Sob essas
rentes daquelas do armazenamento de longa condições, ressurgiu um efeito de recência.
duração, responsáveis pelo desempenho com Os efeitos de recência também foram de-
itens iniciais (Glanzer, 1972). Entretanto, a su- monstrados ao longo de intervalos maiores.
posição de que a recência reflete somente a Em um estudo, por exemplo, Baddeley e Hitch
saída de um armazenamento de curta duração (1977) testaram a capacidade de jogadores de
foi a seguir contestada pela demonstração de rúgbi de recordarem os times contra os quais
que os efeitos de recência podem ocorrer sob haviam jogado naquela temporada; a evoca-
condições nas quais o traço de curta duração ção deles demonstrou um claro efeito de re-
38 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W. EYSENCK
QUADRO2.2 Recência
O 10 20 30 40 50
(seg) em R2 de Distinção
• H PI P2 (PI : P2)
PI P2~ 22 2 11 : I
30 10 3
a amplitude de letras é reduzida para itens de não significa que a codificação fonológica esteja
som similares. Portanto, lembrar uma sequên- limitada à memória de curta duração, visto que
cia de cinco palavras dissimilares (p. ex., pit sem a memória fonológica de longa duração
[buraco], day [dia], cow [vaca], pen [caneta], nunca poderíamos aprender a enunciar novas
hot [quente]) é relativamente simples, enquan- palavras. Significa, entretanto, que a memória
to que se lembrar das que são fonologicamen- de longa duração se beneficia mais ao se apoiar
te similares (p. ex., cat [gato], map [mapa], man no significado do que no som. Retomaremos a
[homem], cap [boné], mad [louco]) é muito esse ponto nos Capítulos 4 e 5.
mais difícil. Note, no entanto, que esse não é Supõe-se que o efeito de similaridade fo-
um efeito geral de similaridade, haja vista que nológica ocorra quando a informação é lida a
sequências que são similares no significado (p. partir do traço de memória de curta duração;
ex., huge [enorme], wide [largo], big [grande], os itens similares têm menos características
long [longo], tall [alto]) são apenas ligeiramen- distintas, e, por isso, existe a probabilidade de
te mais difíceis do que as sequências dissimi- serem confundidos. Supõe-se que a fala audi-
lares (p. ex., old [velho], wet [molhado], thin tiva seja alimentada diretamente pelo arma-
[fino], hot [quente], late [tarde]) (Figura 2.4). zenamento fonológico. Os itens apresentados
Um ponto final para essa história é que o de forma visual também podem ser alimenta-
efeito de similaridade fonológica desaparece se dos pelo armazenamento se forem nomeáveis,
o comprimento da lista for aumentado e se per- como dígitos, letras ou objetos nomeáveis por
mitirmos que os participantes realizem diver- meio de um processo de articulação vocal ou
sos treinos de aprendizagem. Sob essas circuns- subvocal, pelo qual o indivíduo enuncia os
tâncias, a similaridade de significado se torna itens para si mesmo.
muito mais importante (Baddeley, 1966b). Isso O sistema de treino subvocal será blo-
queado se solicitarmos à pessoa que repita algo
não relacionado, como a palavra "o",atividade
Q>
~ 100 caneta conhecida como supressão articulatória. Di-
E dia zer "o"significa que o indivíduo não consegue
s 90 gole velho
to etc.
reavivar o traço de memória pela pronúncia
tarde
grande
subvocal do material lembrado. Isso também
"O
.•
u
~ 80 enorme
fino
etc. evita que o indivíduo nomeie de forma subvo-
eo 70 I-
vasto
>
Q>
ete. cal itens apresentados de forma visual, como as
~ letras, o que evita que elas sejam registradas fo-
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>
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60 r-
nologicamente. Por esse motivo, não importa se
8 50 r- os itens são fonologicamente similares ou não
c
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Q> 40 r- quando apresentados de forma visual e acom-
"O
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panhados pela supressão articulatória. Tanto
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c 30 r- os itens similares quanto os dissimilares serão
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:J
louco
CT
e: 20
homem retidos em um nível inferior, mas equivalente.
Q> boné
"O Entretanto, é importante notar que mesmo
-;;; etc.
3 10 quando exercem a supressão, os indivíduos ain-
c
Q>
~ da conseguem lembrar até quatro ou cinco dí-
O
a.Q> Lista A Lista B Lista C Lista D gitos apresentados de forma visual. Isso sugere
Categorias de palavras que, embora a alça fonológica tenha um papel
importante na extensão de dígitos, esta não é
Figura 2.4 O efeito de similaridade fonológica e se-
a sua única base. Voltaremos a este ponto mais
mântica na evocação em séries imediatas de sequências
tarde. Com a apresentação auditiva, as palavras
de cinco palavras.A similaridade fonológica resulta em
evocação imediata insatisfatória, enquanto a simila- ganham acesso direto à informação fonológica
ridade de significado tem pouco efeito. De Baddeley armazenada, apesar da supressão articulatória,
(1966a). © Psychology Press. e ocorre um efeito de similaridade.
MEMÓRIA 41
a velocidade de leitura e a
evocação. As palavras longas 90 2,3
",
precisam de mais tempo de "
treino e também produzem
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",
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extensões de memória re- <li ,, c:
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duzidas. De Baddeley,Thom- ,, DO
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20 0,9
10 0,7
o 0,5
2 4
Número de silabas na palavra
dicada quando se solicitava que os participan- mento da percepção da fala auditiva por sons
tes ignorassem a fala em uma língua estrangeira irrelevantes. Teria o item falado irrelevante
não familiar. No entanto, a evocação de dígitos acesso à informação fonológica armazenada,
não era prejudicada quando a fala estrangeira adicionando ruído ao traço de memória? o
era substituída por um ruído sem padrão. Sala- entanto, o ruído interrompe a percepção, mas
me e Badelly (1982) prosseguiram concentran- não prejudica a evocação, enquanto a fala irre-
do-se diretamente sobre o efeito do significado, levante o faz. Além disso, ao contrário do mas-
comparando a influência de palavras faladas caramento auditivo, o desempenho da memó-
irrelevantes e sílabas sem sentido irrelevantes ria de curta duração não é influenciado pela
na evocação de sequências de dígitos. Concluí- intensidade de sons irrelevantes (Colle, 1980).
ram que tanto as palavras significativas quanto Ainda mais problemático para a analogia do
as sem sentido produziam um efeito perturba- mascaramento auditivo é o fato de que o grau
dor equivalente, sugerindo que o significado de interrupção da memória de curta duração
do material irrelevante não era importante. De não está relacionado à similaridade fonológica
fato, a evocação de sequências de dígitos quan- entre o som irrelevante e os itens lembrados.
do os próprios sons irrelevantes compreendiam As palavras irrelevantes similares em som aos
nomes de dígitos (um, dois) não causava mais itens lembrados não são mais perturbadoras
rupturas do que quando os mesmos fonemas do que as palavras dissimilares (jones e Ma-
eram apresentados, mas em uma ordem dife- cken, 1995; Le Compte e Shaibe, 1997).
rente, como palavras que não representavam E a música? Salame e Baddeley (1989) con-
dígitos (p. ex., tum [girar], woo [cortejar]). cluíram que a música interferia na evocação de
Tanto eles quanto Colle (1980) sugeriram dígitos, concluindo que a música vocal atrapa-
que o efeito de fala irrelevante poderia ser visto lhava mais do que a instrumental. [ones e Ma-
como o equivalente da memória ao mascara- cken (1993) observaram que mesmo tons puros
MEMÓRIA 43
I. Encadeamento
2. Contexto
I Contexto em mudança I
1 1 1 1
A B c D
3. Priorização
memória de trabalho e à questão de por que A hipótese de que as memórias verbal e vi-
precisamos desta. sual de curta duração envolvem o mesmo sis-
Uma abordagem da memória de curta tema não foi sustentada pelos experimentos
duração é aquela proposta por Dylan jones e posteriores (Meiser e KJauer, 1999) e é incon-
colaboradores (Jones, 1993; Jones e Macken, sistente com as evidências dos estudos neu-
1993, 1995) como a teoria do Object-Oriented ropsicológicos nos quais se encontram alguns
Episodic Record (O-OER). Essa teoria foi de- pacientes com memória de curta duração ver-
senvolvida para explicar a influência de sons bal prejuclicada e visual conservada (Shallice e
irrelevantes sobre a memória de curta dura- Warrington, 1970; Vallar e Papagno, 2002) en-
ção. Essa proposta é influenciada pela pesqui- quanto outros pacientes apresentam o padrão
sa sobre a percepção auditiva e indica que as oposto (Delia Sala eLogie, 2002). Além disso,
sequências de itens são representadas como sua explicação da memória para a ordem se-
pontos sobre uma superfície multimodal: en- quencial parece depender do encadeamento,
tretanto, considera que ambas, a evocação se- uma abordagem que não é bem sustentada.
quencial auditiva e visual, envolvem o mesmo Outra perspectiva aplicada à memória
sistema operando sobre uma representação verbal de curta duração é o modelo de caracte-
comum. A evocação envolve a recuperação da rísticas, de James Nairne (Nairne, 1988, 1990),
trajetória dos pontos que representam a se- que substitui a separação proposta entre as
quência, em vez da leitura dos pontos em um memórias de longa e curta duração ao propor
gráfico. Os sons irrelevantes podem criar tra- um sistema de memória único no qual cada
jetórias concorrentes, interrompendo a evoca- item de memória é entendido como repre-
ção subsequente (Jones, 1993). sentado por um conjunto de características,
MEMÓRIA 45
que são de dois tipos básicos: dependente de treino por supressão (Norris. Baddeley e Page.
modalidade e independente de modalidade. Se 2004). O modelo de características também
lermos a palavra HAT [CHAPÉU]. ela terá ca- enfrenta o problema de explicar por que o efei-
racterísticas visualmente dependentes. como to de comprimento da palavra desaparece em
a caixa em que está impressa. e característi- listas mistas de palavras longas e curtas. Isso
cas visualmente independentes. como o seu resultou no seu abandono por alguns de seus
significado. Quando ouvimos a palavra HAT proponentes. em favor do próximo modelo a
[CHAPÉU]. em vez de lê-Ia. as características ser descrito: o SIMPLE (Scale Invariant Me-
dependentes. como o significado. serão as mory. Perception. and Learning) [Escala Inva-
mesmas. mas as características dependentes riável de Memória. Percepção e Aprendizagem]
serão acústicas. e não visuais. Considera-se (Hulme et al., 2006; Brown et al., 2007).
que o esquecimento depende de interferência. Brown e colaboradores (2007) propõem
sendo que novos itens interrompem as carac- um modelo de memória de grande abrangên-
terísticas definidas por itens anteriores. o que cia que chamam de SIMPLE. o qual aplicam
resulta em erros na evocação. tanto à memória de curta duração quanto à
O modelo de características é represen- de longa duração. Trata-se basicamente de
tado por um programa de computador que um modelo de esquecimento fundamentado
pode ser usado para fazer prognósticos sobre na recuperação. sendo os itens mais diferen-
o resultado de diferentes manipulações expe- ciados os mais imediatamente recuperáveis.
rimentais. Ao fazermos diversas suposições. é O modelo enfatiza a discriminabilidade tem-
possível usar o modelo para descrever muitos poral. mas vai além de tentativas anteriores de
dos resultados que foram utilizados para sus- usar esse mecanismo para explicar os efeitos
tentar a hipótese da alça fonológica. O efeito da recência no livre recordar pelo desenvolvi-
de similaridade fonológica é explicado sobre o mento de um modelo matemático detalhado.
fundamento de que os itens similares têm mais Provavelmente seja muito cedo para avaliar
características comuns. resultando em gran- o SIMPLE. que parece lidar bem com livre re-
de probabilidade de que seja recuperado um cordar. mas parece ser menos adequado para
item similar. mas incorreto. Entende-se que o explicar a evocação sequencial (Lewando-
som irrelevante adiciona ruído ao traço de me- wski, Brown, Wright e Nirnmo, 2006; immo e
mória de cada item em particular. Entende-se Lewandowski. 2006). Como no caso do modelo
também que a supressão articulatória adiciona de características. atualmente o SIMPLE não
ruído e que. além disso. exige atenção (Nairne, tenta abordar os aspectos operacionais da me-
1990).Ao fazer suposições detalhadas sobre a mória de trabalho.
proporção exata das características dependen- Outra forma de modelar a ordem sequen-
tes e independentes da modalidade e o efeito cial é considerar que a ordem é mantida por
relativo da supressão articulatória e do som um sinal de contexto. Como mencionamos
irrelevante sobre estas. o modelo de caracterís- antes. uma destas considera um contexto ba-
ticas é capaz de simular uma ampla gama de seado no tempo que incorpora o decaimento
resultados (Neath e Surprenant. 2003). embora do traço (Burgess e Hitch, 1999.2006). Essa su-
pouco justifique as suposições mais específicas posição é rejeitada por Farrell e Lewandowski
exigidas pelas diversas simulações. (2002.2003). as quais propõem - no seu mode-
O modelo de características tem dificulda- lo SOB (Serial-Order-in-a-Box) - que a ordem é
des em descrever uma série de conclusões. Se- mantida usando-se um sinal de contexto fun-
gundo esse modelo. o som irrelevante somente damentado em eventos. sendo o esquecimen-
prejudica a evocação quando ocorre ao mesmo to baseado na interferência entre os eventos.
tempo em que os item da memória são codifi- Pode parecer estranho que a tarefa aparen-
cados. No entanto. ele interrompe a evocação temente simples de recordar uma sequência
mesmo quando ocorre após a apresentação dos de dígitos na ordem correta seja tão difícil de
itens da memória e mesmo quando se evita o explicar. o entanto. como mencionamos an-
46 ALAN BADDELEY, MICHAEL C.ANDERSON & MICHAEL W EYSENCK
teriormente, o problema de como um sistema por uma das letras. Esta era uma pista para
como o cérebro, que processa os eventos em recordar a letra, a cor ou ambas. Os partici-
paralelo, pode conservar a ordem sequencial pantes tiveram êxito ao relatar ambos a letra
vem desafiando os teóricos desde que foi tra- e a cor como também tiveram êxito ao relatar
zido à tona pela primeira vez por Karl Lashley apenas uma dessas características. O desem-
(1951), há mais de 50 anos. penho foi altamente preciso em até quatro
itens, depois declinou com o aumento do nú-
mero de letras. Claro que era possível que os
MEMÓRIA VISUOESPACIAL participantes estivessem se apoiando na alça
DE CURTA DURAÇÃO fonológica para os nomes das letras, o que
Imagine que você está em uma sala bem ilu- complicava a interpretação.
minada que é repentinamente mergulhada Isso foi evitado em uma série de estudos
na escuridão. Você conseguiria achar a porta? posteriores de Vogel, Woodman e Luck (2001),
Se houvesse uma caixa de fósforos em cima que usaram barras de largura e orientação va-
da mesa à sua frente, você lembraria que ela riáveis e outras características, como textura,
estava lá? Essas duas perguntas se referem a como estímulos, tornando virtualmente im-
dois aspectos relacionados, mas separáveis da possível a codificação verbal exata na breve
memória de trabalho visual: um que se refere à fase de apresentação. Novamente encontraram
memória espacial (onde?) e o outro que se re- um limite de quatro objetos. Curiosamente,
fere à memória de objetos (o quê?). As evidên- não pareceu relevante o número de caracterís-
cias sugerem que você conseguiria manter um ticas que cada objeto compreendia. Em uma
rumo em direção à porta por aproximadamen- condição, por exemplo, o conjunto continha
te 30 segundos (Thomson, 1983). Sua memória um total de 16 características (quatro objetos,
para a localização precisa decresce de forma cada um com quatro características), mas to-
bem mais rápida (Elliot e Madalena, 1987). dos os quatro objetos complexos pareciam
estar codificados de forma eficaz. Vogel e co-
laboradores concluíram que o sistema estava
Memória espacial de curta duração
limitado com base no número de objetos, mas
Posner e Konick (1966) solicitaram aos partici- que os objetos podiam variar em complexidade
pantes de sua pesquisa que lembrassem onde sem afetar o desempenho (Figura 2.6). Em um
havia ocorrido um estímulo ao longo de uma estudo, a supressão articulatória foi usada para
linha. A retenção foi boa após um intervalo não evitar a codificação verbal; isso não teve efeito
preenchido, mas decresceu quando foi solicita- sobre o desempenho, confirmando a sugestão
do o processamento de dígitos no intervalo, e o de que a sua tarefa não dependia da verbaliza-
grau de esquecimento aumentou com a com- ção. Os autores também não encontraram ne-
plexidade da tarefa dos dígitos. Como a tarefa nhuma evidência de esquecimento ao longo de
interveniente não era de natureza espacial ou um breve intervalo não preenchido.
visual, a implicação é que ela interferiu na ca- Woodman e Luck (2004) incluíram proto-
pacidade de treinar ou conservar na memória colos de busca visual, no qual os participantes
o estímulo inicial. Um resultado similar foi ob-
examinavam um conjunto buscando alvos vi-
tido por Dale (1973) usando um protocolo que sualmente especificados no intervalo entre a
envolvia a retenção da localização de um ponto
apresentação e o teste de conjuntos de formas
escuro em um campo branco bidimensional.
coloridas. Os autores concluíram que a memó-
ria para a localização espacial foi prejudicada
Memória de objetos pelo exame, mas não a memória de objetos, da
Irwin e Andrews (1996) apresentaram um forma como foi refletida na memória para a
conjunto de letras de diferentes cores a seus cor do estímulo. Oh e Kim (2004) estudaram o
participantes. Após um breve intervalo, um efeito da memória sobre a velocidade da busca
asterisco apareceu no local antes ocupado visual, concluindo que a exigência de recordar
MEMÓRIA 47
EB
(1999). © Elsevier. Repro-
duzido com permissão.
~
ê O~-~-.rhr------~~--
I longa duração. Assim como H.M., eles demons-
traram ter conservado a extensão de dígitos.
w Também apresentaram desempenho normal na
-sC- _ tarefa de Peterson e conservaram a recência no
Pontos Ideogramas livre recordar, ao mesmo tempo em que apre-
100
Pomos • Ideogramas
sentaram um acentuado déficit no desempenho
em itens de primazia e anteriores, na lista de li-
vre recordar. Esses resultados serão discutidos
são de dígitos, refletiam tarefas mais fáceis do drão sugere que P.V não tem capacidade de
que aquelas que foram prejudicadas, O fato de usar uma estratégia de recência devido à sua
outros pacientes apresentarem exatamente o deficiência, mas que tem capacidade de usá-Ia
oposto descarta essa interpretação, para estimular a memória verbal imediata que
O paciente de Shallice e Warrington mos- aparentemente se apoia em um código fonoló-
trou não ter um déficit geral da memória de gico ou verbal/lexical.
curta duração, mas sim um déficit específico
da memória fonológica de curta duração. Con- Déficits na memória visuoespacial
sequentemente, o seu desempenho foi muito
de curta duração
melhor quando a sua extensão de dígitos foi
testada com a utilização de apresentação vi- Enquanto alguns pacientes, como K.F. e EV.,
sual, consistente com a sua memória visual têm um déficit que está limitado à memó-
conservada, de acordo com o teste de blocos ria verbal de curta duração, outros pacientes
de Corsi. Um padrão semelhante foi apresen- apresentam o padrão oposto, com memória
tado pela paciente P.V (Basso, Spinnler, Vallar de curta duração verbal normal e desempenho
e Zanobia, 1982; Vallar e Baddeley, 1987), que deficiente nas medidas da memória visual ou
desenvolveu um déficit grave e específico na espacial de curta duração. Um desses pacien-
memória fonológica de curta duração após um tes, L.H., havia sofrido um ferimento na cabeça
acidente vascular cerebral (AVC). O intelecto em um acidente de trânsito e estava conside-
e a linguagem estavam intactos, mas ela tinha ravelmente inapto em sua capacidade de lem-
uma extensão de dígitos de dois e não apre- brar cores e formas. No entanto, tinha memória
sentava similaridade fonológica ou efeito de excelente para informações espaciais, como lo-
comprimento de palavra, na memória verbal calidades e trajetos (Farah, Hammond, Levine
de curta duração. Como é característica desses e Calvanio, 1988). Outra paciente, L.E., sofreu
pacientes, ela apresentava um efeito de recên- danos no cérebro em resultado de lupus erythe-
cia significativamente reduzido no livre recor- matosus. Ela também tinha uma memória es-
dar verbal imediato. No entanto a recência de pacial excelente e conseguia dirigir muito bem
longa duração estava normal. Isso foi testado por um trajeto não familiar entre a sua casa e
usando uma tarefa que envolvia a solução de o laboratório onde as suas habilidades cogni-
uma série de quebra-cabeças de anagramas, tivas eram testadas. Entretanto, ela tinha me-
seguidos por uma solicitação inesperada de mória visual deficiente aliada a um prejuízo na
evocação. Tanto P.V quanto os pacientes do capacidade de desenhar de memória (Wilson,
grupo-controle apresentaram um claro efeito Baddeley e Young, 1999). Ela era uma escultora
de recência com melhor evocação de soluções talentosa, que acreditava ter perdido sua capa-
posteriores, embora a evocação fosse inespe- cidade de visualização. Não conseguia lembrar
rada e tivesse sido seguida pela necessidade o aspecto de suas esculturas anteriores e mu-
de enfrentar anagramas posteriores. Esse pa- dou radicalmente o seu estilo (Quadro 2.4).
Outros casos surgiram cuja memória de
curta duração estava conservada, mas que
TERMOS-CHAVE possuiam déficit na memória espacial. Carlesi-
mo, Perri, Turriziani, Tomaiuolo e Caltagirone
Dissociação dupla: Termo usado especialmente
na neuropsicologia quando dois grupos de pacien-
(2001) descrevem o paciente M.V, que sofreu
tes apesentam padrões opostos de déficit, p.ex., danos no lobo frontal direito após um aciden-
MCD normal e MLD deficiente versus MLD normal te vascular cerebral (AVC) e cujo desempenho
e MCD deficiente. da memória visual era normal, mas foi seria-
Blocos de Corsi: Contraparte visuoespacial da mente prejudicado no teste de blocos de Corsi
extensão de dígitos, que envolve um conjunto de
e em uma tarefa que exigia a memória de curta
blocos nos quais o coordenador do teste toca em
duração para fazer a imagem a partir de uma
sequência e o paciente tenta imitá-Io.
matriz. Luzatti, Vecchi, Agazzi, Cesa-Bianchi
MEMÓRIA 51
•. (e)
(I)
(g)
RESUMO
Também foram relatados pacientes com déficits da memória de curta duração visuoes-
pacial, alguns dos quais parecem apresentar o bloqueio do armazenamento da informação
visual, o que se reflete na extensão padrão deficitária, enquanto outros apresentam a memória
espacial de curta duração deficiente, conforme se reflete na tarefa de blocos de Corsi. Os locais
de lesão que resultam nesses déficits neuropsicológicos são amplamente consistentes com as
evidências da neuroimagem discutidas no Capítulo 3.
LEITURA ADICIONAL
• Logie, R. H. (1995). Visuo-spatial working memory. Hove, UK: Psychology Press. Uma descrição da MCP
visual a partir de uma perspectiva de memória de trabalho de componentes múltiplos.
• Luck, S.)., & Vogel, E. K. (1997). The capacity ofvisual working memory for features and conjunc-
tions. Nature, 390, 279-281. Um estudo importante que forma uma ligação entre o estudo da atenção
visual e da MCP visual.
• Melton, A. W. (1963). Implications of short-term memory for a general theory of memory. [ournal of
VerbalLearning and Verbal Behavior, 2, 1-21. Um estudo clássico que apresenta uma interpretação da
MCP nos termos da teoria da interferência do estímulo-resposta.
• Waugh, N. C., & Norman, D. A. (1965). Primary memory. Psychological Review, 72,89-104. Outro estudo
clássico que apresenta uma alternativa de processamento de informações à teoria da interferência.