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consciência. Acho que muitos poucos de nós percebem isto. A crise está na nossa mente
e em nosso coração; isto é, a crise está em nossa consciência. A nossa consciência é a
nossa existência em sua totalidade. Com as nossas crenças, com as nossas conclusões,
com o nacionalismo, com todos os medos que temos; são os nossos prazeres, os
problemas aparentemente insolúveis e aquilo que chamamos amor, compaixão; ela
inclui o problema da morte — o imaginar se existe alguma coisa após a morte, alguma
coisa além do tempo, além do pensamento, alguma coisa eterna: este é o conteúdo da
nossa consciência.
Tudo é relação; a nossa própria existência é relação. Observem o que fazemos com as
nossas relações uns com os outros, sejam elas íntimas ou não. Em toda relação há um
tremendo conflito, luta — por quê? Por que os seres humanos, que vivem há mais de
milhões de anos, não resolveram esse problema da relação?... Toda a sociedade está
baseada no relacionamento. Não há sociedade se não houver relacionamento; a
sociedade torna-se, então, uma abstração.
Observamos que existe conflito entre o homem e a mulher. O homem tem seus próprios
ideais, as suas próprias buscas, as suas próprias ambições, está procurando o sucesso,
ser alguém no mundo. E a mulher também está lutando, também está querendo ser
alguém, querendo realizar-se, transformar-se. Cada um está buscando sua própria
direção. Assim, homem e mulher são como duas ferrovias que correm paralelas, nunca
se encontram, a não ser, na cama, mas de outro modo — se vocês observarem
profundamente — nunca na realidade se encontram psicologicamente, interiormente.
Por quê? Essa é a questão. Quando perguntamos por que, estamos sempre perguntando
pela causa; pensamos em termos de causação, na esperança de que, se pudermos
entender a causa, então, talvez, possamos mudar o efeito.
Assim, estamos fazendo uma pergunta muito simples e muito complexa: por que nós,
seres humanos, não fomos capazes de resolver este problema do relacionamento,
embora vivamos sobre esta terra há milhões de anos? Será porque cada um tem a sua
imagem particular e especial, formada pelo pensamento, e que o nosso relacionamento
se baseia em duas imagens, a imagem que o homem cria dela, da mulher, e a imagem
que a mulher cria dele? Assim, neste relacionamento, somos como duas imagens que
vivem juntas. Isto é um fato. Se vocês observarem por vocês mesmos, com muito
cuidado, se é possível fazer esta observação, vocês terão criado uma imagem dela e ela
criou um quadro, uma estrutura verbal de você, o homem. Assim, o relacionamento é
feito entre estas duas imagens. Essa imagens foram formadas pelo pensamento. E o
pensamento não é amor. Todas as lembranças desse relacionamento, de um com o outro,
os quadros, as conclusões de um a respeito do outro, se observarmos cuidadosamente,
sem qualquer preconceito, são produtos do pensamento; são o resultado de muitas
lembranças, experiências, irritações e solidões e, assim, o nosso relacionamento de um
com o outro não é amor, mas a imagem que o pensamento formou. Assim, se
devemos entender a realidade das relações, temos que entender todo o movimento do
pensamento, porque vivemos pelo pensamento; todas as nossas ações se baseiam no
pensamento, todos os grandes edifícios, as catedrais, igrejas, templos e mesquitas do
mundo são resultado do pensamento. E tudo dentro destes edifícios religiosos — as
figuras, os símbolos, as imagens — tudo é invenção do pensamento. Não há como
refutar isso. O pensamento criou não apenas os mais maravilhosos edifícios, mas
também criou os instrumentos de guerra, a bomba sob todas as suas formas. O
pensamento também produziu o cirurgião e os seus maravilhosos instrumentos, tão
delicados na cirurgia. E o pensamento também produziu o carpinteiro, o seu estudo da
madeira e os instrumentos que ele usa. O conteúdo de uma igreja, a habilidade de um
cirurgião, a perícia do engenheiro que constrói uma bela ponte, tudo é resultado do
pensamento — não há como refutar isso. Assim, temos que examinar o que é o
pensamento e por que os seres humanos vivem do pensamento e por que o pensamento
produziu esse caos no mundo — a guerra e a falta de relacionamento de uns com os
outros — examinar a grande capacidade do pensamento, com a sua extraordinária
energia. Também devemos perceber como o pensamento trouxe, durante milhões de
anos, esse pesar da humanidade.
O amor não é lembrança. O amor não é conhecimento. Amor não é desejo ou prazer.
Lembrança, conhecimento, desejo e prazer são baseados no pensamento. O nosso
relacionamento de uns com os outros, embora próximo, se for olhado com cuidado,
baseia-se na lembrança, que é pensamento. Assim, essa relação — embora vocês
possam dizer que amam suas esposas ou seus maridos ou as suas namoradas — está, na
realidade, baseada na lembrança, que é pensamento. E nisso não há amor. Vocês
percebem realmente esse fato? Ou vocês dizem: “Que coisa mais terrível de se dizer. Eu
realmente amo minha esposa”. Mas será mesmo? Pode haver amor quando há ciúme,
posse, ligação, quando cada um está perseguindo sua própria e particular ambição,
cobiça e inveja, como duas linhas paralelas que nunca se encontram? Isso é amor?
(...) O amor não tem nenhum problema e, para entender a natureza do amor e da
compaixão com a sua própria inteligência, devemos entender juntos o que é o desejo. O
desejo possui uma extraordinária vitalidade, uma extraordinária persuasão, impulso,
alcance; todo o processo do vir a ser, do sucesso, está baseado no desejo — desejo que
faz com que nos comparemos uns com os outros, imitemos, nos conformemos. É muito
importante, ao entendermos a nossa natureza, entender o que é o desejo; não suprimi-lo,
não fugir dele, não transcende-lo,, mas entende-lo, perceber todo o seu ímpeto. (...)