Você está na página 1de 25

CONTRIBUIÇÃO PARA O PARADIGMA

CONTRA-HEGEMÔNICO E DA PRÁXIS
TERRITORIAL ATRAVÉS DA PESQUISA-AÇÃO
PARTICIPATIVA DA SOJA AGROECOLÓGICA
NO SUDESTE DO PARANÁ.

Gustavo Luís de Carvalho


INTRODUÇÃO

• Os movimentos sociais camponeses como a agricultura familiar


agroecológica têm ganho grande importância nos últimos anos.
• Alternativa a destruição ambiental causada pelo agronegócio e pela
destruição e precarização do trabalho, além da expulsão do camponês
e do trabalhador rural do campo para dar lugar as máquinas, às
tecnologias de ponta, transgênicos, uso indiscriminado toda sorte de
agrotóxicos e fertilizantes (SAQUET, 2017).
• América Latina.
• Modelo hegemônico (uso do território) de base agrícola:
• Latifúndio (donos do poder), monocultura e exportação (GALEANO,
1987).
• Capitalismo dependente. (MARINI, 2000).
• Eurocentrismo e liberalismo econômico.
• Uso indiscriminado de agrotóxicos e da destruição ambiental para
alimentar o agronegócio “herdeiro do sistema de plantation”.
• Uso de maquinarias, automação e engenharia genética.
• Altos índices de desemprego e péssima divisão de renda e
principalmente patrimonial (alienação e fragmentação).
• Buca de uma nova teorização para uma práxis não hegemônica.
• Contraposição ao paradigma hegemônico, retomada do controle das
redes e do território (RAFFESTIN, 1993).
• Especificidade do “POVO” latino-americano.
• Pensamento crítico (tradição???) latino-americano ser mais adequado
do que a ciência hegemônica de matriz europeia e estadunidense.
• “é possível a reflexão sobre um desenvolvimento territorial, o lugar
de “ver”(consciência de lugar e de classe), as redes de relações, capaz
de propor uma ciência pautada na “Investigación Acción
Participativa” (IAP) proposta por Orlando Fals Borda”
• Seria possível a IAP ser aplicada a um grupo de camponeses no
Sudeste do Paraná representados pelas 250 famílias de agricultura
familiar agroecológica (PERES, 2011). na tentativa de compreender
os saberes, a vida e a rede de relações dos produtores rurais
agroecológicos, apontar a necessidade de um novo paradigma
inclusivo e combativo, capaz de gerar profunda reflexão sobre a
independência, (autocentramento), reconhecimento e a identidade das
comunidades camponesas contra as perversidades do MCP.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Conceito de hegemonia como um conceito que perpassa todas as esferas da


existência social atual, sua compreensão é fundamental e norteadora para se
compreender a sociedade, a hegemonia cria um sentido de realidade e de
valores (WILLIAMS, 2011).
O agronegócio no Brasil (modelo agrícola hegemônico): mecanização,
pouca mão-de-obra, uso de sementes geneticamente modificada e uso
intensivo de agrotóxicos cada vez mais com seu uso permitido por portarias
governamentais que aumentam a cada ano.
• O agronegócio no Brasil obedece a divisão internacional do
trabalho e tem raízes na formação econômica e social.

• Europa Ocidental e mais tarde os Estados Unidos como estado-


nação industrial central na divisão internacional do trabalho,
possuindo as etapas mais lucrativas do capitalismo, legando a
América Latina um capitalismo dependente e periférico de base
agroexportador (GALEANO, 1987: MARINI, 2000).
• Neste processo dialético centro-periferia capitalista, caberia a elite
econômica latino-americana (historicamente de latifundiários) o controle
de parte significativa do aparelho de estado (MÉSZÁROS, 2021),
totalmente alinhada aos interesses das grandes corporações estrangeiras, o
poder hegemônico não se restringe ao estado pois conforme RAFFESTIN
(1993): "O poder está em todo lugar; não que englobe tudo, mas vem de
todos os lugares" (RAFFESTIN, 1993, p. 52) nada mais concreto no
Brasil atual do que a influência da chamada da “bancada do boi” nos
maiores projetos políticos do país.
• Os sujeitos da agroecologia podem ser considerados como
movimento contra-hegemônico e popular, capazes de integrar a
inovação tecnológica, conservacionista e mais sustentáveis aos
saberes populares, capazes de estabelecer uma nova relação de poder,
novas redes e malhas e redefinir um desenvolvimento territorial
“outro” (SAQUET, 2017).
• O movimento agroecológico no Sudoeste do Paraná tem em suas
especificidades, fruto de um movimento de desterritorialização de
colonos de seu lugar de origem no Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina e da reterritorialização no Sudeste do Paraná de caráter
camponês.

• Estes grupos e sujeitos, vivem em redes e relações complexas


formando assim sua própria territorialidade e temporalidade (lenta)
através daquilo que WEIR (2019) definiu como lugar de ver (eirare).
• Pesquisa-ação ou “Investigación Acción Participativa” (FALS
BORDA, 2017) proposta onde o pesquisador busca valorizar os sujeitos e
a ativação de uma territorialidade local mais justa, autônoma, cooperativa,
solidária, dialógica, colaborativa, através da práxis política e na busca de
um desenvolvimento territorial descolonial, valorizando a cultura,
identidade e o conhecimento popular local, compreendendo os sujeitos em
seu contexto de vida e em sua visão de mundo, suas singularidades,
através do desenvolvimento de um saber e de uma prática outras
(SAQUET, 2019).
HIPÓTESE DE PESQUISA

• O presente trabalho tem como hipótese a construção de um paradigma contra-hegemônico,


descolonial e emancipador para os sujeitos, centrado em um conhecimento inclusivo e participativo
dos saberes populares e da realidade latino-americana, capaz de compreender as necessidades,
vivências, anseios dos sujeitos no desenvolvimento de uma práxis territorial mais justa, cooperativa,
participativa para a produção de uma ciência e saberes do/com/para o povo na busca de uma atuação
de resistência revolucionária dos movimentos populares agroecológicas ambientalmente responsáveis
e mais direcionadas ao desenvolvimento sustentável de produção de soja em Capanema - PR com
base em agricultura familiar, temporalidades lentas, baixa tecnologia e fundamentadas em circuitos
curtos (SAQUET, 2019). Sendo a área de pesquisa destacada localidade na produção de soja orgânica
(SAQUET. 2017; FRITZ; 2008).
JUSTIFICATIVA

• Carência teórica metodológica (teórica e prática) e também paradigmática nas


análises das comunidades, sujeitos e movimentos populares.

• Necessidade de se produzir novos saberes e práticas contra-hegemônicas que


abarque as especificidades da história política, econômica, social e também ao rico
pensamento crítico da América Latina, na construção de uma vida mais justa,
descolonizada, autocentrada e independente dos interesse dominantes e espoliativo
contra o povo (GALEANO, 1987)
• Tentar articular uma nova práxis territorial e política e na
elaboração de uma Geopolítica (LEÓN, 2020), que atenda aos
interesses do povo brasileiro aqui representados no camponês e na
prática da agricultura familiar.
OBJETIVOS

• O objetivo principal consiste na elaboração teórico-metodológica


capaz de explicar e caracterizar os sujeitos pesquisados e propor
conjuntamente um desenvolvimento de territorialidades e temporalidades
sob o prisma contra-hegemônico e de resistência para ser um
conhecimento indispensável na elaboração de ferramentas para uma
práxis territorial popular, uma práxis e luta política inclusiva capaz de um
novo desenvolvimento territorial (SAQUET, 2019).
• Como objetivos específicos pode-se citar a produção e elaboração
de melhorias nas práticas agroecológicas e nas relações sociais e
territoriais das comunidades agroecológicas de Capanema-PR. A
produção de cartilhas de linguagem acessível produzidas com os
frutos e os resultados obtidos e debatidos que possam auxiliar às
práticas dos sujeitos pesquisados além das reflexões e ações
conjuntas para aprofundar a consciência de classe e de lugar
(SAQUET, 2019), também na busca de modelos ecologicamente
sustentáveis.
METODOLOGIA

• O projeto aqui apresentando será fundamentado na pesquisa empírica e


reflexiva das famílias camponesas que optaram pela prática agroecológica
no Sudeste do Paraná representadas no município de Capanema – PR, de
acordo com a redefinição prático-teórico na busca de uma combinação
dialética reflexiva como proposta por Orlando Fals Borda (SAQUET,
2019, p.100) visando a consolidação epistemológica da “Investigación
Acción Participativa” (IAP).
• O município selecionado com cerca de 18.103 habitantes em 2007
(hoje estimada em 19.172 pelo IBGE), com população rural de 48,95
% do total, com IDMH de 0,80 (ASSEOAR, 2011), “possui 250
agricultores em núcleos familiares voltados à alimentação orgânica,
mas que estão preocupados com uma prática social e
ambientalmente justa” (PERES, 2011).
• Será necessária uma revisão de literatura cuidadosamente
elaborada que contemple a teoria contra-hegemônica e o pensamento
crítico latino-americano.

• Serão necessários os levantamentos de dados, principalmente a


aplicação de questionário além da busca de documentos e fontes de
dados públicos ou privados (secretárias, ministérios, programas,
ONGS, etc.) e suas respectivas tabulações e análise, com pesquisa de
campo pautadas em entrevistas, reuniões, aplicação de questionários,
debates, elaboração de cartografia social das famílias.
• Publicação e divulgação do conhecimento obtido para as
comunidades estudadas na busca de uma sinergia, reciprocidade,
integração, cooperação, contextualização, colaboração, diálogo e
auxilio no desenvolvimento, formação de identidade e autonomia
decisória (SAQUET, 2017) destes sujeitos.
CRONOGRAMA

ETAPAS PERÍODOS

Cursar disciplinas obrigatórias Mai./2022 a Jul./2023

Cursar disciplinas eletivas Ago./2023 a Dez./2023

Levantamento bibliográfico Mar./2023 a Mar./2024

Aplicação de entrevista e questionário Abr./2024 a Jun./2024

Tabulação e análise dos dados e fenômenos Ago./2024 a Dez./2024

Elaboração das conclusões e pressupostos Mar./2025 e Jun./2025

Revisão e redação final/Compartilhamento Nov./2025

Defesa da tese Dez./2025


BIBLIOGRAFIA

• ASSEOAR. Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável. Disponível em: <http://assesoar.org.br › 2011/10 › PTDRS_201.>
Acesso em: 22 jan. 2022.

• BOURDIEU, Pierre. A produção e a reprodução da língua legítima. In: . A economia das trocas linguísticas. 2. ed. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 2008.

• FALS BORDA, Orlando. El socialismo raizal y la Gran Colombia bolivariana. Investigación Acción Participativa. Caracas: Fundación
Editorial El Perro y la Rana, 2017.

• FRIGOTTO, Gaudêncio. A interdisciplinaridade como necessidade e como problema nas ciências sociais. Revista Ideação. Revista do
CELS-Centro de Educação, Letras e Saúde da Unioeste-Campus de Foz do Iguaçu, v.10, n.1, p. 41-62, 2008. Disponível em:
<httgs://erevista.unioeste.br/index.php/ideacao/articIe/view/4143> Acesso em: 5 dez 2021.

• FRITZ, Nilton. Agroecologia: o desenvolvimento no Sudeste do Paraná. In: ALVES, A.; CARRIJO, B. E CANDIOTTO, L. (Orgs)
Desenvolvimento territorial e agroecologia. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

• GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. 25 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
• LEÓN, Efraín. Geografía crítica. Espacio, teoria social y geopolítica. México: Editora UNAM, 2016

• ___________________. A liberdade territorial: a práxis territorial popular na América Latina. Rio de Janeiro: Consequência Editora,
2020.

• MARINI, Rui Mauro. Dialética da dependência. São Paulo: Editora Vozes, 2000.

• MARX, Karl. O capital. Crítica da Econômia Política. Livro I. São Paulo: Editora Boitempo, 2011.

• MÉSZÁROS, István. Para além do capital. Rumo a uma teoria de trasição. São Paulo: Editora Boitempo, 2002.

• __________________Para além do Leviatã. Crítica do estado. São Paulo: Editora Boitempo, 2021.

• PERES, João. Maior polo de agroecologia do Brasil garante qualidade de vida a produtores. Disponível em:
<https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2011/07/maior-polo-de-agroecologia-do-brasil-garante-qualidade-de-vida-a-
produtores/>Acesso em: 22 jan. 2022.

• QUINJANO, Anibal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y America Latina. In: ELIAS, C.; CAMPILLO, R.; ROHÁN. D. (Org).
Diversidade, espaço e relações étnico-raciais. Belo Horizonte. Ed. Gutemberg, 2007.

• RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.

• SAQUET, Marcos Aurelio. Abordagens e concepções sobre o território. São Paulo: Outras Expressões, 2013.
• ______________________. Consciência de classe e de lugar, práxis e desenvolvimento territorial. Rio de Janeiro: Consequência
Editora, 2017.

• _____________________. Saber popular, práxis territorial e contra-hegemonia. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2019.

• SILVA, Armando Corrêa. De quem é o pedaço? Espaço e cultura. São Paulo: Hucitec, 1986.

• _____________________. Geografia e lugar social. São Paulo: Contexto, 1991.

• _____________________. A aparência, o ser e a forma (Geografia e método). São Paulo: Revista GEOgraphia, ano. II, n. 3, 2000.

• WEIR, José Quintero. Lengua, sentipensar y autonomía de los añuu. Bogotá: Sultana del Lago Editores, 2019.

• WILLIAMS, Raymond. Cultura e materialismo. São Paulo: Editora Unesp, 2011


OBRIGADO!!!!!!

Você também pode gostar