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URGENTE
1 Art. 85. Funcionará junto ao Tribunal de Contas o Ministério Público, regido pelos princípios
institucionais de unidade, indivisibilidade e independência funcional, com as atribuições de
guarda da lei e fiscal de sua execução.
2 Art. 1º Omissis.
(...)
§ 3º O Tribunal de Contas agirá de ofício ou mediante iniciativa da Câmara Legislativa, do
Ministério Público ou das autoridades financeiras e orçamentárias do Distrito Federal ou dos
demais órgãos auxiliares, sempre que houver indício de irregularidade em qualquer despesa,
inclusive naquela decorrente de contrato.
3 Art. 54. Compete ao Ministério Público junto ao Tribunal, por seu representante, em sua missão
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https://cdn.cebraspe.org.br/concursos/pc_df_19_escrivao/arquivos/ED_1_2019_PCDF_ESCRI
VAO_19_ABERTURA.PDF. Acesso em 05 jun. 2022.
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https://cdn.cebraspe.org.br/concursos/pc_df_19_escrivao/arquivos/PCDF_2019_RESPOSTAS_
IMPUGNACOES.PDF. Acesso em 05 jun. 2022.
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Ministério Público de Contas do Distrito Federal – Terceira Procuradoria – Fone: (61) 3314-2362
Anexo do Palácio Costa e Silva – 8º andar – Praça do Buriti – Brasília-DF – CEP 70.075-901
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II – DOS FUNDAMENTOS
7. De acordo com informações disponibilizadas no sítio da Rede
D’Or6, renomado grupo prestador de serviços de saúde, “vitiligo é uma doença
que faz com que as células de pigmentação da pele, ou seja, aquelas que fazem
a pessoa ter um determinado tom de pele, comecem a morrer”. É de relevo para
o caso em tela trazer o alerta veiculado pela rede especializada, no sentido de
que “o vitiligo não pode ser transmitido de uma pessoa para outra, e é essencial
que essa questão seja desestigmatizada” (grifei).
8. De acordo com a fonte citada, a despigmentação da pele pode
afetar a autoestima do paciente e ensejar a necessidade de
acompanhamento psicológico. Isso, não como um desdobramento imediato
da doença, mas antes como uma decorrência do próprio processo de
estigmatização social, razão pela qual tal enfermidade revela-se inidônea para
ensejar a exclusão de candidatos de certame policial.
9. O potencial danoso de uma dada situação – médica ou não –
sobre a condição psicológica de candidatos a um cargo público constitui, o mais
das vezes, matéria de futurologia, sendo absolutamente incerto e inescrutável o
efeito do vitiligo para a saúde mental de cada portador.
10. Ainda que se admitisse, ad argumentandum tantum, que o
portador de vitiligo, pelo estigma que a alteração da pele proporciona, possui
uma maior predisposição a sofrer abalos psicológicos, tal circunstância seria um
motivo a mais para o Estado agir de forma diversa, na medida em que a
República Federativa do Brasil tem, por objetivo fundamental, “promover o bem
de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação” (art. 3º, IV, da Constituição Federal).
11. Diante da ausência de fundamentos que suportem a ideia de que
a doença, per se, gera obstáculos ao desempenho das atribuições dos cargos
da Carreira de Polícia Civil, não parece haver dúvidas de que a condição de
portador de vitiligo não pode ser causa de eliminação do certame.
12. Nesse sentido, chama atenção o raciocínio circular e, portanto,
inconclusivo que fundamentou as respostas às impugnações citadas. Diz a
banca que “expressões cutâneas de doenças autoimunes (...) indicam muitas
vezes doenças de base crônica e evolutiva, tais como o vitiligo (...)”. Ora, afirmar
que “expressões cutâneas de vitiligo indicam a presença de vitiligo” certamente
não é um argumento válido.
13. Mesmo que seja doença de base crônica e evolutiva, o
desenvolvimento do vitiligo não tende a gerar gravames médicos de outra ordem,
senão por desdobramentos do próprio preconceito culturalmente alimentado a
propósito desta enfermidade. Em casos tais, a eventual deterioração da saúde
mental não é atribuível à doença em si, como sua consequência inarredável, mas
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antes do próprio processo social excludente que, in casu, seria perpetrado pelo
poder público que, em revés, deveria fustigar qualquer prática discriminatória.
14. Nessa senda, vedar ao cidadão portador de vitiligo, doença que
traz mais estigma social do que dano à saúde física do acometido, a
possibilidade de exercer cargo público configura frontal violação ao princípio do
amplo acesso aos cargos públicos, prescrito pelo art. 37, I, da Constituição
Federal7, ao princípio da igualdade (art. 5º, caput, CF8) e ao fundamento
republicano da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF9).
15. Não à toa, em concurso público realizado pela Marinha do Brasil
para admissão às escolas de aprendizes-marinheiros, em 2018, a despeito de
se prever como condição incapacitante “expressões cutâneas das doenças
autoimunes”, estabeleceu-se, de forma peremptória, a exceção do vitiligo, de
modo a não constituir causa de eliminação10. Igualmente, em 2020, a Polícia
Civil do Estado do Paraná retificou edital de concurso para excluir do item
“causas incapacitantes – prova de higidez física” os termos “vitiligos extensos e
comprometimento estético” 11.
16. Revela-se válido, também, citar parecer técnico elaborado pelo
Conselho Regional de Medicina do Estado do Tocantins12, em resposta a
consulta formulada pela Defensoria Pública desse ente federado, indagando, in
verbis: a) “a patologia de vitiligo impede o exercício profissional do soldado
militar?” e b) “a doença é incapacitante totalmente para o trabalho como policial
militar?”. Em atendimento aos questionamentos, assim se pronunciou o CRM-
TO:
A resposta às duas questões formuladas é não.
7 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham
os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
8 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
2022.
12 https://sistemas.cfm.org.br/normas/arquivos/pareceres/TO/2018/1_2018.pdf. Acesso em 05
jun. 2022.
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https://cdn.cebraspe.org.br/concursos/PC_DF_20_AGENTE/arquivos/ED_1_2020_PCDF_AGE
NTE_20_ABERTURA.PDF. Acesso em 05 jun. 2022.
14 https://www.cebraspe.org.br/concursos/pc_df_19_escrivao. Acesso em 05 jun. 2022.
15
https://cdn.cebraspe.org.br/concursos/PC_DF_19_ESCRIVAO/arquivos/PCDF_ESCRIVAO_COMUNICAD
O_DATA_DE_RESULTADO.PDF. Acesso em 06 jun. 2022.
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16 Art. 1º Ao Tribunal de Contas do Distrito Federal, órgão de controle externo, nos termos da
Constituição Federal, da Lei Orgânica do Distrito Federal e na forma estabelecida nesta Lei
Complementar, compete:
(...);
XIV – apreciar e apurar denúncias sobre irregularidades e ilegalidades dos atos sujeitos a seu
controle;
(...).
§ 3º O Tribunal de Contas agirá de ofício ou mediante iniciativa da Câmara Legislativa, do
Ministério Público ou das autoridades financeiras e orçamentárias do Distrito Federal ou dos
demais órgãos auxiliares, sempre que houver indício de irregularidade em qualquer despesa,
inclusive naquela decorrente de contrato.
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