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INTRODUÇÃO
A segunda geração do Romantismo no Brasil (1853 – 1859) foi marcada por
caraterísticas e acontecimentos extremamente dessemelhantes em comparação a
precedente fase. A exaltação do nacionalismo, o amor à natureza e o índio como um
herói nacional, deu espaço para o pessimismo escancarado, a insatisfação, os amores
não correspondidos e, principalmente: a morte.
Esse contraposto de características na literatura foi crescente e extremamente
pertinente para a sociedade literária nacional da época, até mais mordaz que
normalmente é visto e comentado nos dias atuais. A segunda fase do romantismo
brasileiro — Ultrarromântica — ou como popularmente ficou conhecida mais tarde
“Mal do Século”, até mesmo Geração Byroniana1, trouxe elementos do gótico que
circulava em diversos países da Europa, indo contra o período em que o nacionalismo
era peça chave das obras presentes.
A aceitação dos autores para essa nova forma de olhar e expressar seus
sentimentos, se deu, principalmente, através do contexto social que os cercavam no
presente momento. Para Cândido (2006), a formação de um contexto literário se dá
pela necessidade de transformar e criar preceitos para explicar o que se passa no
mundo e em uma determinada época, e essas transformações eram presentes no
Brasil entre o final do século XIX e o início do século XX. A cidade do Rio, por exemplo,
1
George Gordon Noel Byron, mais conhecido como Lord Byron, foi um grande poeta inglês do século XIX, um
dos principais autores do romantismo inglês. Suas obras influenciaram diretamente a segunda geração romântica
no Brasil, mais precisamente, a Álvares de Azedo, quem mais reflete suas características durante esse período.
foi palco para essas transformações, a urbanização, a mudança arquitetônica, a
limpeza das ruas, inspiraram autores a trabalharem com o gótico para a
personificação desses novos cenários que os cercavam.
Álvares de Azevedo foi um dos principais nomes desse período, suas
obras foram primordiais e de extrema importância para introdução do gótico na época,
com destaque para “Noite na Taverna” (1855), considerado uma das obras mais
importantes da geração ultrarromântica.
Voltar-se para uma visão profunda e sentimentalista, talvez seja capaz de
entendermos — ou tentarmos — ver o grande diferencial presente na obra “Noite na
Taverna”, e em como ocorreu essa conquista com a brilhante imaginação e criação
da escrita de Álvares de Azevedo. Entrar em uma linha do tempo para
acompanharmos a história da vida curta do jovem Azevedo, pode nos ajudar a
compreender em como o gótico foi essencial em sua jornada e esteve tão presente
em seus manifestos.
A peculiar e primorosa mente de Manoel Antônio Álvares de Azevedo, foi
capaz de fazê-lo ser reconhecido como um dos maiores escritores brasileiros de todos
os tempos, em posição ao seu movimento literário, foi o percussor. Estudante de
direito, encontrou nos livros o escapismo para a tediosa vida que levava na cidade de
São Paulo, passando a conviver com poetas locais, logo desenvolveu o interesse pela
poesia.
Toda sua obra foi escrita durante os quatro anos que esteve na faculdade de
direito, repleta de solidão e tristeza, foi marcada pela saudade dos pais que estavam
no Rio de Janeiro, assim como a ausência do irmão mais novo, que morrerá ainda
quando criança. Durante seu período acadêmico, Álvares de Azedo traduziu diversas
obras dos seus grandes ídolos, como Byron e Shakespeare.
A ausência do novo, o fez com que buscasse em obras de outros países,
principalmente de países europeus, sua grande inspiração. Com a pouca — ou
praticamente nula — chegada de novos autores naquela época na cidade de São
Paulo, Álvares tinha o privilégio de falar diversas línguas, facilitando a conquista de
tudo o que estava acontecendo de mais atual no mundo da literatura naquele
momento. O encontro da sua presente melancolia e solidão aos elementos góticos
dos livros dos seus autores preferidos, formaram a junção perfeita para a criação de
sua marca.
Um ano antes de completar a faculdade, o jovem Álvares abandona o curso por
descobrir que estava doente, vitimado por tuberculose e sofrendo de um tumor,
faleceu em abril de 1852, com apenas vinte anos de idade. O momento trágico de sua
morte veio acompanhado de um dos poemas mais famosos do período romântico, “Se
Eu Morresse Amanhã” (1853), escrito dias antes do seu falecimento.
A obra deixada por Álvares de Azevedo é pequena; em vida, poucas
publicações ganharam olhares de outras pessoas por sua vontade, como por
exemplo, “Macário” (1850). Postumamente, os seus maiores sucessos ganharam
espaço no meio literário, como a publicação de “Lira dos Vinte Anos” (1853), um
grande livro repleto de poesias, assim como a publicação do clássico e polêmico
“Noite na Taverna” (1855), publicado três anos após sua morte.
DESENVOLVIMENTO
“A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira-se no céu, e a chuva caía as gotas
pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem-me grossas lágrimas de água,
como sobre um túmulo prantos de órfão... Andamos longo tempo pelo
labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo. Aqui, ali, além
eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia
soluçar: em torno dela passavam as aves da noite. Não sei se adormeci: sei
apenas que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério.” (AZEVEDO,
ed. 1998, p. 4)
Solfieri tomou o corpo da jovem, em seguida a despiu, fazendo amor com ela.
Sua visão era de ver todos aqueles acontecimentos como algo romântico e destinado.
A curta e extrema descrição de Álvares sobre os acontecimentos das cenas, tem a
função de trazer a mais próxima visão do personagem ao momento do ato. O pouco
desenvolvimento para explicação das ações grotescas e revoltantes do personagem,
faz com que ocorra uma inquietação e conturbação ao leitor, despertando interesses
em tentar entender os “por quê” das atitudes.
“Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim:
rasguei-lhe o sudário, despi-lhe o véu e a capela como o noivo as despe a
noiva. Era uma forma puríssima.. Meus sonhos nunca me tinham evocado
uma estatua tão perfeita. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela.”
(AZEVEDO, ed. 1998, p. 5)
CONCLUSÃO
Naturalmente, foi isso que o talentoso Álvares de Azevedo fez em sua trajetória
na literatura, usou de todos os seus artifícios para chocar e conquistar o leitor. Através
do horror, do improvável e assustador, fez com despertassem — e ainda continua
despertando — sentimentos em quem embarcasse em suas histórias e desabafos,
dos mais íntimo da sua vida particular que se desfalecia em seus últimos dias de vida,
aos mais fantásticos e criativos cenários que sua imaginação poderia criar.
AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna. 3.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1988.