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TEORIA DO ESTADO

Prof. Dr. Leandro C. de Oliveira

TEMAS INTRODUTÓRIOS

A importância do estudo da Teoria do Estado

Há certo estranhamento no início do curso de Direito: os estudantes logo


percebem, nos primeiros contatos com as diversas disciplinas, que a ciência
jurídica não se resume a uma mera questão instrumental, de cunho
profissionalizante. Para estar apto a absorver esse conteúdo mais técnico, o
estudante deverá compreender outros elementos, anteriores, que tratam de
poder, da organização social e política, elementos que, como veremos no
decorrer deste livro, conformam tal ramo do saber.
Por isso, se existe uma dimensão das Ciências Jurídicas que será
atendida por meio de um conteúdo pertencente a um eixo específico, onde se
encontram, por exemplo, as disciplinas de Direito Civil, Penal, Tributário,
Constitucional e as disciplinas de Práticas Jurídicas, há também a necessidade
de uma formação humanística, crítica e reflexiva.
No Brasil, isso ficou evidente a partir da década de 1990, com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (Lei n.º 9.934/96), que estabeleceu as diretrizes
curriculares do Ministério da Educação, e também pela contribuição da
Comissão de Ensino Jurídico da Ordem dos Advogados do Brasil.
Com a exigência dessa visão mais reflexiva das Ciências Jurídicas,
tornam-se necessárias, nas grades curriculares, as matérias fundamentais,
como a Filosofia, a Ética, a Economia, a Sociologia, a Ciência Política e a Teoria
do Estado. Essas disciplinas se inserem no chamado eixo fundamental do curso
de Direito. E também são chamadas de disciplinas propedêuticas (ou
introdutórias).
Como disse Paulo Luiz Neto Lôbo, a sociedade exige cada vez mais do
profissional do Direito uma reflexão crítica e uma atuação político-institucional,
sendo preciso, então, o saber dogmático se misturar às matérias que contribuem
para a formação do profissional1.
As disciplinas propedêuticas têm esta função: promover uma
rearticulação entre os fatos passados, de maneira crítica e reflexiva, como um
instrumento de avaliação do presente. A Teoria do Estado, como já dito, situa-
se entre as matérias de conteúdo básico e introdutório, e sua função é permitir a
compreensão do Estado, as relações entre governantes e governados, a
legitimidade do poder político e a própria expressão da democracia como
fundamentais à compreensão do fenômeno jurídico.

Conteúdo básico x aproximação delicada

Dada a importância da matéria, a Teoria do Estado é geralmente oferecida


aos alunos logo nos primeiros anos ou períodos do curso, gerando uma situação
paradoxal. Se de um lado o conteúdo serve de base e estrutura para as demais
matérias que serão vistas ao longo do curso, de outro, há um estranhamento, já
que não se trata de uma disciplina essencialmente jurídica. É preciso uma boa
capacidade de abstração para notar que sociedade, cultura, história, poder,
economia etc. estão interligados no fenômeno estatal e são, portanto, relevantes
para sua compreensão.

Um conteúdo cuja abordagem é delicada também para o professor

O conteúdo de tal matéria também é árido para o professor, cujo desafio


é facilitar o conhecimento do tema, o qual demanda, como defendemos, uma
abordagem de diversas áreas do saber, como História, Sociologia, Filosofia,
Economia, dentre outras. Abordagens estas que têm de ser colocadas de
maneira sucinta, agradável, mas sem incorrer em simplificações, para que os
alunos não se desinteressem pela matéria – até porque ela é pré-condição para
o entendimento da própria Constituição do Estado e do Direito Constitucional,
que irradia seus princípios para todo o ordenamento jurídico.

1
LÔBO, Paulo Luiz Neto. “O novo conteúdo mínimo dos cursos jurídico”. In: OAB Ensino Jurídico:
Novas Diretrizes Curriculares. Brasília: Conselho Federal da OAB, 1996, p. 10-11.
Por isso, uma das pretensões do curso é mostrar ao estudante um
conteúdo mínimo, colocado de uma maneira que não só sirva para descortinar
os elementos da Teoria do Estado, mas que também possa servir de alavanca
para que, no decorrer da vida acadêmica, se desenvolvam estudos cada vez
mais sofisticados, seja vislumbrando novas perspectivas ou mesmo refutando as
conclusões aqui trazidas.
Nossa pretensão: mostrar genericamente a paisagem para que o viajante
possa construir, ao longo do caminho, as rotas que pretende seguir e assim, no
caminhar, fazer sua própria trilha.

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