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VANGLORIA E EDUCAÇÃO DOS FILHOS.

UM OLHAR HISTÓRICO EM
SÃO JOÃO CRISOSTOMO NA PERSPECTIVA DOCENTE

CESAR, Paulo Barbosa¹


RU 1147890

SILVANA, Maria Frezarin²

RESUMO

A presente pesquisa analisa a obra de São João Crisóstomo Da vangloria e da


educação dos filhos na intenção de extrair subsídios que fundamentem o artigo
científico e respondam aos objetivos propostos. Para isso a metodologia utilizada é o
fichamento descritivo, com comentários dos capítulos abordados necessário para a
construção do artigo. O objetivo geral é demonstrar a contribuição educacional da
obra de São João Crisóstomo na antiguidade cristã e seu reflexo para os dias atuais
na perspectiva docente. A razão da escrita deste artigo se relaciona com o declínio
da autoridade dos pais no contexto familiar e o seu reflexo no ambiente escolar.
Escola e família, professor e aluno estão conectados, um depende do outro, por
essa razão o envolvimento da família na vida do aluno torna o ensino eficaz. Para
esclarecer essa problemática, o recente artigo discute os valores da Educação na
antiguidade cristã, tendo como eixo fundamental a obra de São João Crisóstomo
que discorreu sobre os valores educacionais no núcleo familiar. Extraindo
informações de fontes clássicas e modernas, conclui o texto científico com a certeza
de que Escola e Família formam uma bela parceria. E dentro da sala de aula, o
aluno bem instruído em casa, faz muita diferença na profissão docente quer seja
História, Língua portuguesa ou Matemática. Porém, é um desafio tornar isso uma
realidade diante das demandas existenciais que a família enfrenta.

Palavras-chave: Educação. Antiguidade Cristã. Família

¹ Aluno do Centro Universitário Internacional UNINTER. Artigo apresentado


como Trabalho de Conclusão de Curso. 2º - 2014. (semestre e ano).
² Professor Orientador no Centro Universitário Internacional UNINTER.
Por gentileza, revise a acentuação

1 INTRODUÇÃO

O tema do presente artigo é Vanglória e a educação dos filhos, um olhar


histórico em São João Crisóstomo na perspectiva docente. Esta pesquisa tem como
objetivo geral demonstrar através da obra “Vanglória e a Educação dos Filhos” a
contribuição de São João Crisóstomo para o cenário educacional atual. A família
pós-moderna passa por um processo de anomalia educacional doméstica, onde a
demanda existencial impõe grandes desafios para os pais de modo que a educação
doméstica fica em segundo plano. Com o passar do tempo, ocorreram mudanças
impactantes na sociedade que refletiram diretamente no núcleo familiar. Novos
paradigmas foram inseridos no relacionamento conjugal que resultou na convivência
reduzida dos pais com os filhos. Sem tempo para a educação familiar os filhos agora
estão convivendo com alguém extra família onde absorvem uma identidade global
diversificada. É necessário refletir sobre a educação doméstica, pois se bem
planejada e estruturada solidifica no filho valores introspectivos que irão ajudá-lo em
sua caminhada social, emocional e acadêmica. Envolvido nesse processo se
encontra a escola, e esta tem um papel complementar ao da família. Sendo assim,
pesquisar sobre São João Crisóstomo é observar as bases da Educação na Idade
Média em específico a Antiguidade Cristã, e fazer uma análise sobre a Educação
familiar atual. O olhar histórico na obra de São João Crisóstomo remete também
para a atividade docente, pois é na sala de aula que professor e aluno construirão
juntos o conhecimento por meio do ensino-aprendizagem. Em seu livro “Conversas
com um Jovem Professor (Karnal,Leandro,2012),o professor Leandro Karnal fala da
aspereza que envolve o entorno do magistério que são os pais, colegas,
coordenadores e diretores escolares. Nas palavras de Karnal, Leandro
(Karnal,Leandro,2012,pg,60) “ Quando pensei que os pais fossem os maiores
cúmplices do meu projeto educativo, percebi que não era bem assim.” Diante deste
desafio a presente pesquisa científica traz alguns objetivos específicos para elucidar
a importância desse tema para o campo educacional. O primeiro objetivo específico
é relacionar a vida de São João Crisóstomo e a Antiguidade Cristã, o segundo
objetivo especifico é compreender as especificidades do opúsculo “Vanglória e
Educação dos Filhos” e, por fim, o terceiro objetivo especifico é mostrar a
Por gentileza, revise a acentuação

importância dos pais no processo educacional dos filhos e seu reflexo na profissão
docente.

O tema pesquisado é relevante para a Educação escolarizada pois a relação


entre pais e Escola esta diretamente ligado ao desenvolvimento do aluno. Cabe á
escola preparar profissionalmente seus alunos cuidando, portanto da convivência
grupal e social. Aos pais cabe a educação visando à formação de caráter. Por isso,
se faz necessário esse olhar educacional na obra de São João Crisóstomo
“Vanglória” onde o objetivo é a educação ética dos filhos. Para atingir os objetivos da
pesquisa a metodologia utilizada foi o fichamento descritivo, com comentários dos
capítulos abordados necessário para a construção do artigo. A bibliografia base
desse artigo é a obra do escritor Ruy Afonso da Costa Nunes “ Historia da Educação
na Antiguidade Cristã”, publicada pela editora Kírion. E desta obra foi analisado o
capitulo II, páginas 70-74 para atingir o primeiro objetivo específico que é relacionar
a vida de São João Crisóstomo e a Antiguidade Cristã; do capitulo VII foram
analisada as páginas 177-195 para atingir o segundo objetivo específico que é
compreender as especificidades do opúsculo “Vanglória e Educação dos filhos e por
fim no mesmo capitulo VII foram analisada as paginas 196 e 197 para atingir o
terceiro objetivo que é mostrar a importância dos pais no processo educacional dos
filhos e seu reflexo na profissão docente.
Além da bibliografia base desse artigo que é a obra do escritor Ruy Afonso
da Costa Nunes, foi pesquisada também a obra do escritor Içami Tiba “Quem ama
Educa”, formando cidadãos éticos, publicada pela editora Integrare e desta obra foi
analisado o capitulo V as páginas 186-191 para atingir o terceiro objetivo. .

2 A EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE CRISTÃ

A Educação na antiguidade cristã tem seu fundamento na encarnação de


Jesus Cristo. Conforme observa Afonso:

Jesus Cristo apresentou-se ao mundo como verdadeiro homem e


verdadeiro Deus. O verbo se fez carne como diz São João no prólogo do
seu Evangelho, para iluminar os homens e torna-los filhos de Deus (Afonso,
Ruy da Costa Nunes, 2. ed. 2018, pag.17)
Por gentileza, revise a acentuação

Desta forma, podemos observar que não era a intenção de Jesus Cristo
propor alguma nova Escola de Filosofia nem reformar os programas de estudos
vigentes nas escolas do período helenístico do mundo greco-romano ou do mundo
oriental que se beneficiavam de antiga tradição.
Assim, Jesus Cristo veio anunciar aos homens a palavra da salvação de
maneira prática e pedagógica. Sendo assim estava instaurada a base cristã da
cultura medieval chamada “Cristianismo”. O Cristianismo sempre foi uma religião
que inspirou a leitura e o estudo, como comprova a sua historia através do século.

A doutrina de cristo e os ensinamentos da igreja vieram a influenciar as


disciplinas escolares e inspirar os currículos e os programas, assim como a
motivar os artistas nas suas composições e promover múltiplas instituições
sociais, como hospitais, associações e escolas, em decorrência da caridade
que inflamou tantas pessoas levando-as á pratica das obras de misericórdia
espiritual e corporal ( 2ºed. 2018, p.18)

Em suma, para a educação cristã a primazia esta na vida espiritual. Daí a


importância do ambiente religioso para a boa formação cristã, uma vez que educar
não vai significar apenas desenvolver o físico ou adestrar o intelecto através da
instrução, a educação passa a ser introspectiva.
Ainda nas palavras do autor Afonso:

O Cristianismo acrescentou novos elementos aos objetivos educacionais


que o homem por natureza vem a colimar. Os gregos antigos, apesar dos
desvios que permitiram em seus projetos de formação humana, souberam
exprimir de modo notável o ideal puramente humano da educação física,
intelectual e moral. A doutrina cristã, por conseguinte, tem caráter
basicamente pedagógico em sentido, uma vez que ela esclarece o homem e
lhe propicia os meios necessário para alcançar o seu ultimo fim, que não
reside nos bem materiais, mas na eterna felicidade (Afonso, Ruy da Costa
Nunes, 2. ed. 2018, p.19)

Concluo que o cristianismo em si, não apenas mantém uma relação com a
educação, mas, também se constitui em um processo educativo, com objetivos
semelhantes aos objetivos da educação laica .

2.1 SÃO JOÃO CRISÓSTOMO E A ANTIGUIDADE CRISTÃ


Por gentileza, revise a acentuação

A Educação escolarizada na Idade Média aconteceu depois do século V.


Segundo Afonso (2018, pag.20)

Pois nos primeiros séculos da nossa era os cristãos foram


constantemente perseguidos, e por isso em matéria de educação formal, não
podiam manter escolas próprias, mas confiavam os seus filhos aos
estabelecimentos oficiais do Império Romano do Ocidente e do Oriente,
assim como aos mestres particulares que mantinham pequenos e grandes
centros de ensino.

Resumidamente, somente após a Igreja Católica ter obtido o Estado Romano


durante o governo do Imperador Constantino, os cristãos tiveram liberdade de
professar a fé sem nenhum tipo de perseguição e voltaram a enviar seus filhos para
as escolas públicas.
A educação formal na Idade Média teve nas escolas paroquiais e episcopais
a organização e o aprimoramento dos cursos religiosos ministrados junto com as
disciplinas seculares. E dentre estas escolas destacou se a Escola de Antioquia.
Sobre essa escola o Afonso (2018) escreve:

Em Antioquía desenvolve-se uma pujante escola de exegeta, entre os quais


se contam Teodoro de Mopsuéstia, aluno do retórico pagão Libânio, e que
foi condenado por nestorianismo em 553; São João Crisóstomo, o maior
pregador entre os gregos e santo Efrém, o escritor clássico da Siria, exegeta
exímio poeta e pregador (Afonso, Ruy da Costa Nunes, 2018, p. 26)

Podemos observar a grandiosidade da escola de Antioquia e sua vasta diversidade


intelectual. Destaque para São João Crisóstomo:

São João Crisóstomo, um dos bispos mais notáveis do século IV, nasceu
em Antioquia entre 344 e 354. Agiu como reformador, pregou a fé e a moral
de maneira intrépida, incompatibilizou-se com pessoas gradas, devido ao
seu zelo pela causa de Deus, foi exilado duas vezes, vindo a falecer em
comana no ponto, em 14 de setembro de 407, com 64 anos de idade
(Afonso, Ruy da Costa Nunes, 2. ed. 2018, p.70)

Na atualidade, dentre as instituições sociais, a escola é promovedora da educação


sistematizada, e a religião é um espaço de propagação da fé, mesmo assim, esta
última contribui fortemente para a propagação de valores, princípios e do
conhecimento, assim como a educação sistematizada. Tal circunstância nos leva a
analisar a história da educação aferindo sua ligação com a religiosidade.
Por gentileza, revise a acentuação

Segundo Toscano(2001)

A história da educação está intimamente ligada à própria história das


instituições religiosas. A casta sacerdotal que nas sociedades arcaicas,
detinha o poder político ou pelo menos dele participava ativamente, deve ter
compreendido de maneira bastante clara, a importância de chamar a si o
controle do sistema educacional, por mais informal e limitado que ele fosse
(TOSCANO, 2001, p. 139)

Educação e religiosidade estão ligadas intrinsecamente e exercem grande influência


na personalidade do indivíduo. O cristianismo, provocou uma profunda
transformação cultural no mundo antigo, esta revolução caracterizada por uma nova
visão de mundo, é também uma revolução pedagógica e educativa. São João
Crisóstomo e muitos mestres na Antiguidade Cristã contribuíram para esse processo
educacional.

2.2 O OPÚSCULO VANGLÓRIA E A CRIAÇÃO DOS FILHOS

O Opusculo Vanglória e a criação dos filhos é uma fonte histórica de grande


valor educacional. Quasten (1962,p. 487) observa “ o livrinho de São João
Crisóstomo tem interesse duradouro como documento para a história da pedagogia
cristã.” Nesse documento São João Crisóstomo  ressalta que uma educação rasa e
superficial, em que os pais se preocupam em adornar e vestir os filhos com roupas
de ouro e um amor apegado às riquezas, tem como resultado o detrimento de uma
educação pura, em que os valores, a moral cristã e a lei são sequestrados e
impedidos de formarem uma identidade sadia e virtuosa. Tal objetivo é pertinente a
profissão docente dentro da sala de aula em um diálogo com os alunos, ou na
reunião de pais e mestres como uma orientação pedagógica. A intenção do presente
artigo é apresentar as especificidades deste opúsculo e também contextualizá-lo em
nossa era atual.
Ruy Afonso da Costa Nunes descreve alguns capítulos do Opúsculo da
Vangloria e da Criação de Filhos em sua obra “História da Educação na Antiguidade
Cristã” que será tratado no texto que se segue. Conforme descreve Afonso:

Esta obra de São João Crisóstomo divide em duas partes bem distintas. A
primeira composta de 15 capítulos, trata do vício da vangloria que
campeava soberano em Antioquia e que, segundo São João Crisóstomo,
Por gentileza, revise a acentuação

era a raiz de todos os males morais e da falta de educação dos filhos.


(Afonso, Ruy da Costa Nunes, 2018, p. 186)

Mas o que era a “Vangloria” na concepção de São João Crisóstomo?

A vangloria diz o Crisóstomo, é um demônio mau e perverso –


cacós cai ponerós – mas que se apresenta com o semblante amável a fim
de engazopar facilmente os desprevenidos. Semelhante à rameira que se
comporta como ingênua e cativante donzela. Afonso, Ruy da Costa Nunes,
2018, p. 186)

Ainda conforme Afonso (2018, p.186) “As pessoas dominadas pela vangloria
gostavam de dispender grandes quantias para dar espetáculos e promover festas a
fim de serem louvadas pela plebe e pelos falsos amigos. ”

Afonso (2018) mostra o que São João Crisóstomo pensava sobre “Vanglória”
e percebemos o quanto era maléfica na vida cotidiana das pessoas e sobretudo para
a Igreja. Compreendemos que a vanglória dominava as pessoas de forma
arrebatadora de modo os pobres também gostavam de ser louvado por aquilo que
não eram e por aquilo que não tinham.

Muitas pessoas diz o doutor da Antioquia, cometiam a necessidade de passar


fome e privações para fazerem ostentação de riquezas e ignoravam e se esqueciam
que a única indecência era possuir muitas coisas, não consistindo no decoro de
ostentar formosas vestimentas, mas em praticar boas ações. Por este motivo
Crisóstomo entendia que a Vanglória era um mau princípio para a educação dos
filhos. Concordar com tal atitude seria uma destruição para Crisóstomo dos seus
ensinos, principalmente quando observamos na Catequese V, onde o pregador
exorta aos cristãos a se absterem da indolência, do luxo e da embriaguez, por esse
motivo ele repudia toda e qualquer atitude de Vangloria. Mediante os argumentos ele
declarou a Vangloria ser um mau exemplo para a Educação dos filhos. Sobre a
educação dos filhos vemos que:

A responsabilidade dessa educação defeituosa dos filhos para a


vanglória é inteiramente dos pais, que habituam ao rebuscamento dos trajes
desde a mais tenra idade da infância, revestindo-os com roupas douradas,
ajeitando-lhes a cabeleiras de forma efeminada, chegando alguns até a
colocar-lhes brincos de ouro nas orelhas. Não se trata de miuçalhas, mas de
casos sérios de Educação. A Educação começa no berço. (Afonso, Ruy da
Costa Nunes, 2018, p. 187)
Por gentileza, revise a acentuação

Com base em Afonso (2018), podemos observar que o cuidado exagerado


não era visto com bons olhos por João Crisóstomo. Para Crisóstomo a expressão “A
educação começa no berço” refletia muita responsabilidade que os pais deveriam ter
na orientação dos filhos. Por este motivo Crisóstomo em seu Opúsculo, no capítulo
XXI propõe para os pais uma série de metáforas para melhor auxiliar neste
importante desafio. Como descreve Afonso:

Em seguida no capitulo vinte e um, São João Crisóstomo joga uma serie de
metáforas, dizendo que o pai deve tratar seu filho como os pescadores
lidam com as perolas, os pintores com os quadros e os escultores com as
estátuas, pois nossos filhos são estatuas admiráveis. (Afonso, Ruy da Costa
Nunes, 2018, p. 187)

Dessa forma entende se que os filhos são preciosas pérolas que precisam ser
trabalhadas nos detalhes. Evidentemente, São João Crisóstomo ao realçar a última
metáfora não quis dizer que a criança é um ser inerte, feito de uma matéria bruta
como uma estátua, pelo contrário ela é uma criatura viva, inteligente e capaz das
reações mais inesperadas, apesar dos cuidados dos pais. O que João Crisóstomo
quis salientar com esta metáfora é sobre a importância dos cuidados com os filhos
em seu modo de viver.
A obrigação dos pais era de desterrarem para longe dos filhos a
intemperança, ensinando-lhes a sobriedade, a vigilância contra os vícios, habituando
os à oração e ao emprego frequente da religiosidade.
A partir do capítulo XXIII São João Crisóstomo apela para mais uma
metáfora ao introduzir a educação no interior dos filhos:

A partir do capitulo vinte e três, São João Crisóstomo apela para nova
metáfora, comparando a alma da criança a uma cidade recentemente
fundada e construída, e que precisa de leis severas para a boa vida dos
cidadãos. Numa cidade existem boas pessoas e maus elementos, cidadãos
trabalhadores e ordeiros, e outros ociosos, desonestos e criminosos, enfim
gente de todas condições. Por isso são necessárias as leis para que se
desterrem os maus e perturbadores da ordem e para que os bons cidadãos
possam levar vida honesta e pacifica (Afonso, Ruy da Costa Nunes, 2018,
p. 188)

Em suma, a cidade recentemente fundada precisa ser regida por algumas


leis. Para Crisóstomo a alma da criança é uma cidade recentemente fundada que
receberá mais facilmente as leis que se lhes imponham para o bem comum.
Por gentileza, revise a acentuação

A comparação que ele faz com as pessoas boas e más que frequentam uma
cidade está diretamente ligada aos cinco sentidos do corpo humano. Por isto ele
estabeleceu-se as leis das cinco portas descritas desta forma por Afonso (2018, p.
188-191):
A primeira porta da cidade da alma é a língua. Esta é a entrada da cidade.
Precisamos, então providenciar portas e ferrolhos feito de ouro. Essas
portas e ferrolhos dourados são os oráculos de Deus, as palavras do
Senhor. A segunda porta da cidade da alma é a dos ouvidos. Se pela boca
saem os cidadão e ninguém entra, pela porta dos ouvidos entram e ninguém
sai. Assim os meninos não hão de ouvir palavras desonestas dos escravos,
nem do aio, nem das amas e isso requer que o pessoal de serviço seja sério
e bem escolhido.

Ainda segundo Afonso (2018)

A terceira porta da cidade da alma é a do olfato. Sua lei é simples: evitar os


bons aromas, os perfumes, pois estes habituam o jovem ao prazer enquanto
a função do olfato é respirar o ar e não receber o bom odor. A quarta porta
da cidade da alma é a mais bonita e a mais fácil de guardar: é a porta dos
olhos. Suas leis precisam ser muito enérgicas. A quinta porta que se
estende por todo o corpo é a do sentido do tato. Essa porta vive
escancarada e envia tudo para dentro.

Com base em Afonso (2018) compreendemos a educação introspectiva de


Crisóstomo. Passando pela lei das cinco portas ele definiu que o interior do ser
humano é uma cidade que precisa ser devidamente controlada.
De maneira metafórica, Crisóstomo discorreu sobre a complexidade da
educação humana. Cada porta desta cidade precisa ser monitorada, como se
tivesse um sistema de segurança vinte e quatro horas em atividade preservando a
segurança. Tamanha era a importância da educação intrapessoal na visão de
Crisóstomo.
Usando a linguagem metafórica São João Crisóstomo fala também do interior
desta cidade depois desse acurado exame das portas da cidade da alma o Doutor
da Antioquia passa a tratar do interior da cidade prescrevendo as leis que devem
reger os cidadãos, sabendo- se quem são e como vivem. Sobre o interior da cidade
assim descreveu Afonso (2018, p. 192)

A casa da ira é o peito, e no peito, o coração. A da concupiscência é


o fígado e a da razão é o cérebro. Ora, dessas tendências ínsitas ao homem
nascem virtudes e vícios. As virtudes que procedem da ira são a
temperança, e a modéstia, enquanto os vícios são a audácia e a dureza. A
Por gentileza, revise a acentuação

virtude que vem da concupiscência é, também a temperança, enquanto o


vicio é a dissolução de costumes.

Afonso (2018) continua a descrição:

A virtude da razão é a prudência, e o vicio é a insensatez, a loucura.


Nosso cuidado deve ser para que nesses lugares nasçam as virtudes que
engendrem cidadãos do mesmo estofo pois as paixões são como mães dos
pensamentos.

Todo cuidado deve ser tomado com o interior da casa. As virtudes que devem
reger a vida dos pequenos, dos jovens, dos anciãos. Para são João Crisóstomo a ira
deve ser regida por leis convenientes.
O pai, na concepção de Crisóstomo, deve ser a todo o momento o chefe e o
senhor, duro e intransigente, quando se infrinjam as leis; porém deve ser brando,
benigno e generoso em premiar o filho quando elas forem cumpridas.
Ainda orienta que se o pai agir dessa maneira, procurando o bem espiritual do
filho e seu progresso moral, ele estará também a educar se a si próprio e se tornará
melhor. A educação familiar traz benefícios mútuos. Sobre este tema Ruy Afonso
conclui:

O termo Educação abrange um certo tipo de atividade desenvolvida


pela geração adulta com relação às crianças e aos jovens, cristalizada em
instituições, quanto às ideias ou concepções expendidas a respeito da
formação humana (Afonso, Ruy da Costa Nunes, 2018, p. 11 )

2.3 EDUCAÇÃO E HUMANIZAÇÃO

Educar pressupõe atividades coletivas. De acordo com Ruy Afonso (2018) a


Educação seja interpessoal ou intrapessoal sempre terá no seu aspecto fundamental
o relacionamento. Dentro desta linha de pensamento podemos concluir que
educação e humanização estão totalmente ligadas. Melo, Alessandro (intersaberes,
2012, p. 50) citando Saviani (2000, p.11) comenta que humanizar-se é um processo
concreto que ocorre no interior das relações humanas, que são por excelência
relações sociais. Em suma Melo, Alessandro (intersaberes, 2012, p.51) define:
Por gentileza, revise a acentuação

O objetivo da educação é reproduzir, individualmente, a humanidade


produzida coletivamente, ou seja, o processo humanizador passa
pela necessidade de cada um de nós nos apropriemos dos elementos
constitutivos da humanidade, que, por sua vez, são produtos coletivos
e históricos. Melo, Alessandro( intersaberes, 2012,p. 50)

De certa forma, a pansofia humana bem como o processo humanizador reside na


educação familiar. Nestas condições Içami Tiba (Integrare Editora, 2007, p.69)
escreve: “Educar é uma obra-prima, uma obra realmente artesanal, cujo resultado é
a futura felicidade dos filhos e de todos a sua volta. ” Ruy Afonso da Costa Nunes
na sua obra “ Historia da Educação na antiguidade Cristã deixa bem claro sobre
esta questão quando analisa São João Crisóstomo e sua relação com a Educação
dos filhos por isto essa temática oferece um campo amplo de pesquisa e
encontramos muitos teóricos para fundamentar esse raciocínio.
Carl Rogers por exemplo comenta:

Toda pessoa é uma ilha, no sentido muito concreto do termo; a pessoa só


pode construir uma ponte para comunicar com as outras ilhas se
primeiramente se dispôs a ser ela mesma e se lhe é permitido ser ela
mesma Rogers (1977, p.33)

Para Carl Rogers o desenvolvimento da pessoa esta em si própria. Para ele a


pessoa pode abrir se para a experiência terapêutica, objetivando desenvolver uma
consciência mais clara de si e do mundo, assim como desenvolver a autoestima
positiva necessária para se relacionar de forma harmônica. É na educação
domestica que inicia a identidade dos filhos.

Verificamos que muitos teóricos debruçaram nesta importante questão que é a


educação dos filhos e sobretudo a importância dos pais nesse processo. Em seu
epílogo sobre a obra de São João Crisóstomo, Ruy Afonso da Costa Nunes conclui
desta maneira:

Como pudemos verificar, São João Crisóstomo, no seu tratado


sobre a Vangloria e a educação dos filhos, apresenta uma obra de
educação moral e religiosa dedicada aos pais, que são os primeiros e os
principais educadores. São João Crisóstomo insiste oportuna e
importunamente sobre os valores centrais da vida cristã, chama a atenção
dos pais para sua responsabilidade quanto a educação dos filhos e lembra
que a chave do êxito esta no respeito a lei de Deus. Sua mensagem
Por gentileza, revise a acentuação

educacional é essencialmente religiosa. (Afonso, Ruy da Costa Nunes,


2018, p. 196-197

2.4 METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi o fichamento descritivo, com comentário dos


capítulos abordados necessários para a construção do artigo. A bibliografia base
desse artigo é a obra do escritor Ruy Afonso da Costa Nunes “Historia da Educação
na Antiguidade Cristã,” publicadas pela editora Kírion. E desta obras serão
analisados o capitulo II páginas 70-74 para atingir o primeiro objetivo específico que
é Relacionar a vida de São João Crisóstomo e a Antiguidade Cristã, do capitulo VII
paginas 177-195 para atingir o segundo objetivo específico que é compreender as
especificidades do opúsculo “Vanglória e Educação dos filhos e por fim no mesmo
capitulo VII paginas 196 e 197 para atingir o terceiro objetivo que é Mostrar a
importância dos pais no processo educacional dos filhos. Dessa forma, a pesquisa
visou alcançar os objetivos propostos no início da execução desse artigo. A
pesquisa foi realizada por meio da leitura sistemática e produção de fichamentos, a
partir de livros que abordam o tema proposto, a partir de uma metodologia
qualitativa, embasando todo o conteúdo da pesquisa em referencial teórico que
forneceu subsídios necessários para a elaboração. Todas as informações coletadas
serviram como base para o desenvolvimento das ideias na execução do referido
trabalho, foram trabalhados com autores que possuem alto conhecimento na
temática, como também possibilitou chegar à conclusão com os devidos resultados
da pesquisa. As fontes informativas foram diversificadas. Foi realizada uma pesquisa
sobre a teoria da aprendizagem onde a contribuição de Carl Rogers que foi de
grande valia para a composição deste artigo. Na obra fundamentos socioculturais da
educação do escritor Alessandro de Melo foi destacada a relação entre Educação e
Humanização sobre o viés das relações sociais cuja a citação foi de Demerval
Saviani teve relevância na pesquisa. Também foi analizada a obra contemporânea
de Içami Tiba para constatar o grande desafio da educação dos filhos nos tempos
modernos ou pós-modernos com todas as inovações tecnológicas a disposição de
pais e filhos. E por fim a obra da escritora Gisele do Rocio Orientações e dicas
Por gentileza, revise a acentuação

práticas para trabalhos acadêmico que me orientou quanto a escrita, linguagem,


configuração e estruturação do meu artigo cientifico.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi realizar uma pesquisa sobre a educação familiar
na cosmovisão medievalista delimitando o tema para a Antiguidade Cristã. O
período medieval pode ser visto como um momento de mudanças significativas na
mentalidade dos indivíduos que viveram neste período. Sobre a Idade Média
Carvalho (2016, p. 30) destaca:

Segundo a visão critica da história, a Idade Média representa uma


construção de fatos e acontecimentos que culminam em guerras e no
surgimento de uma visão mais humana dos seres vivos. Mesmo sendo
considerada durante muito tempo de “idade das trevas”, a Idade Média foi
um período de renascimento comercial, econômico e cultural.

Com base em Carvalho (2016) observa se a relevância e o impacto da idade


Média na construção histórica da humanidade. Sobretudo a Antiguidade Cristã que
um legado importante para a era atual no que se refere à educação religiosa com a
participação efetiva dos pais. O tema pesquisado foi Obra de São João Crisóstomo “
Da Vanglória e Da criação de filhos’ é uma temática relevante para a educação
escolarizada pois a relação entre pais e escola faz toda diferença no
desenvolvimento do aluno. O professor em sala de aula depende muito da instrução
que os alunos recebem em casa. Os pais são os primeiros educadores daí a
importância de instruir os filhos no núcleo familiar. A pesquisa foi realizada por meio
da leitura sistemática e produção de fichamentos, a partir de livros específicos sobre
o assunto analisando páginas e capítulos que fornecessem respostas para os
objetivos propostos. Partindo de uma metodologia qualitativa, embasando todo o
conteúdo da pesquisa em referenciais teóricos que forneceram subsídios
necessários para a elaboração do artigo. Todas as informações coletadas serviram
como base para o desenvolvimento das ideias na execução do referido trabalho.
Foram estudados autores que possuem alto conhecimento na temática, como
também possibilitou chegar à conclusão com os devidos resultados da pesquisa.
Todos os objetivos da pesquisa foram alcançado e longe de esgotar o assunto.
Pude fixar ainda meu posicionamento de que a educação esta inserida no núcleo
familiar. Desde o nascimento o ser humano é submetido a um conjunto de regras e
Por gentileza, revise a acentuação

disciplinas que o habilitarão a viver socialmente. Ao se deparar com estas regras, a


criança tende a se rebelar e não aceitar a educação que está sendo imposta. Os
pais, primeiros agentes educadores na formação dos filhos devem trabalhar os
valores morais e disciplinares a fim de garantir adultos bem educados, equilibrados e
saudáveis. Entretanto, o que muitos pais não fazem é conscientizar desse desafio e
ao mesmo tempo tentar resolvê-lo, pois filhos sem disciplina moral e ética são
indivíduos sem lei, sem diretriz ou qualquer educação. Não respeitam qualquer tipo
de autoridade ou regra. O fato é que quando os pais modernos entenderem que a
educação doméstica é a base para os filhos terem sucesso na vida, pode ter certeza
de que o investimento será outro. Essa temática requer mais pesquisas, pois a
educação dos filhos e a responsabilidade dos pais dentro de um mundo pós-
moderno é um desafio em grandes escalas que está longe de acabar. A Antiguidade
Cristã na obra clássica de São João Crisóstomo ofereceu muitos subsídios para a
orientação de uma educação religiosa e intrapessoal. Pesquisando também Tiba
Içami (2007, p. 190) ficou evidente que a parceria Pais e Escola quando usam a
mesma linguagem e têm valores semelhante o resultado é favorável para ambas as
partes. Durante esta análise e pesquisa o meu crescimento acadêmico aumentou,
minha paixão pela profissão docente se consolidou ainda mais. O meu êxito como
professor de Historia esta diretamente ligado aos primeiros educadores e o retrato
desta vida educacional vai refletir na sociedade . O relacionamento entre aluno e
professor certamente terá um percentual totalmente positivo partindo da educação
familiar.

REFERÊNCIAS

● AFONSO Ruy da Costa Nunes (Historia da Educação na Antiguidade


Cristã,2ª ed., janeiro de 2018)
● CARVALHO,cibele(Históriamedieval,CibeleCarvalho,Curitiba:intersaberes,20
16)
● CORDEIRO, Gisele do Rocio (Orientações e dicas praticas para trabalhos
acadêmicos, 2ª ed. Curitiba, Intersaberes,2014)
● MELO, Alessandro, de (Fundamento sociocultural da educação, Curitiba,
Intersaberes, 2012)
Por gentileza, revise a acentuação

● Karnal,Leandro( Conversas com um jovem professor,São


Paulo,Contexto,2012)
● ROGERS, C. R (Torna-se pessoa,3º ed.,São Paulo,M.Fontes,1977)
● TIBA, Içami (Quem ama educa. Formando cidadãos éticos, São Paulo,
Integrare Editora, 2007)

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