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MINHA RESENHA

WILSON, Douglas; DOUGLAS, Jones; WILSON, Wesley. Educação Clássica E Educação


Domiciliar. Tradução Felipe Sabino de Araújo. Brasília, DF: Monergismo, f. 31, 2017. 62 p.
Tradução de: Classical Education na the Homeschool.

A obra apresentada é a tradução do original Classical Education na the Homeschool,


publicada pela Canon Press, em 2001. Os autores: Douglas Wilson é fundador do movimento,
Educação Cristã Clássica, e ministro da Igreja de Cristo em Moscou, Idaho - EUA, autor de
várias obras todas envolvendo a temática Cristã; Wesley Callihan é formado em História pela
University of Idaho e fundador da Schola Classical Tutorials e principal instrutor da série Old
Western Culture das Roman Roads Press; Douglas Jones é escritor e membro sênior da New
St. Andrews College em Moscow, Idaho, EUA e editor chefe da revista Credencia/Agenda.
A linguagem clara e sem rebuscamento, fácil de ser compreendia e reveladora da
posição dos autores em relação à educação clássica e cristã, não torna a obra acessível sem um
conhecimento prévio, principalmente de caráter bíblico e teológico para assimilar a linha de
raciocínio dos autores ligados diretamente às escolas cristãs nos Estados Unidos.
No prefácio, apresenta o escopo da proposta da obra “À medida que examinamos as
ruínas educacionais ao nosso redor, a educação clássica e cristã parece uma ideia cuja tempo
chegou”, (p. 7). Nesse breve discurso o leitor será levado aos preâmbulos da educação cristã
como base na formação do currículo na homeschooling. Os pontos principais para um ensino
cristão pautado na bíblia como elemento norteador de todo o processo ensino/aprendizado.
A obra traz oito capítulos que descrevem os conceitos centrais desse trabalho
educativo, um capítulo com uma breve conclusão e dois apêndices com obras consideradas
importantes dentro da mesma temática, com recursos direcionados as instituições cristãs que
oferecem cursos e orientações para os interessados em prosseguir com a educação clássica,
cristã e domiciliar.
O primeiro capítulo intitulado, A necessidade de trabalho duro, define a premência de
um ensino cristão em contraposição a educação aplicada hoje nas escolas e sem uma base
bíblica que formem verdadeiros cristãos não iludidos por um processo desacreditado e
baseado no ensino socialista moderno. No entanto, há exigências básicas para uma instrução
de qualidade para crianças e adolescentes fundamentadas mediante uma leitura de qualidade
praticada pelos pais, “queremos resultados iguais para esforços desiguais”, (p. 8), essa
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definição questiona a base da leitura para compor a referência na formação da bibliografia


utilizada na instrução dos seus filhos. Não há, segundo os autores, como buscar novos
resultados sem ter uma preparação diferenciada na literatura. 
Ademais, o enfoque de uma boa educação não está apenas nos bons livros, mas na
formação do lar que essas crianças vivem e não são ensinadas, mas criadas nesse ambiente
que reflete as decisões e posturas construídas ao longo de seu desenvolvimento e da
responsabilidade dos pais no ato de educar, caso contrário, no futuro as crianças detectaram a
falta de leitura dos pais e os possíveis erros cometidos.
Assim, o segundo capítulo, Breve descrição da educação clássica e cristã, traz um
arcabouço mais profundo sobre a temática da obra. Apresenta primeiro o método educacional
conhecido com trivium: a gramática, a dialética e a retórica, para em seguida, os aspectos da
aprendizagem. Quais os assuntos a serem estudados? O estudo do latim, da lógica, da teologia
e da retórica são alguns que deverão compor o currículo. Mas, os conteúdos serão relevantes a
partir da importância da posição histórica e cultural estabelecida ao longo do tempo. Trata-se
de como a cultura cristã permeou a construção da fé e dos costumes em relação a crença em
Jesus Cristo.
Nesse mesmo capítulo, temos a concepção do clássico com significado de neopagão,
ou seja, baseado no Renascimento da antiguidade clássica greco-romana, permeados de
paganismos e, segundo os autores, a revelação no livro de Daniel que profeticamente destrói
essas nações, não somos nós que devemos reconstruí-las e os estudos dessas culturas devem
ser por prazer, mas nunca com desejo de retomá-las. Para eles, o latim cristão permeia nossa
vida e “o latim dos augustos nunca foi cristão”.
Os autores admitem que o termo clássico esteja embutido nas tradições da Igreja
Católica Romana e autoconsciente com o mundo medieval. Assim, teologia católica surge
como antibíblica e baseadas no conjunto da filosofia de Santo Tomás de Aquino, conhecida
como tomismo. A essas culturas o protestantismo clássico deve refutar as “teologias
escolásticas medievais”.
Também, apresentam a estrutura da educação nos Estados Unidos. A cosmovisão
cristã vista nesse ponto não é representada como o acréscimo de estudos da Bíblia, mas a
escritura como única e fiel regra prática do estudo. Utilizam, para firmar seus pensamentos
cristão, a convicção dos reformadores “tota et sola Scriptura”, ou seja, toda a Escritura e só a
Escritura.
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No capítulo três, Partes da educação clássica e cristã, focam na desenvolução do


pensamento cristão das crianças e o desenvolvimento da linguagem para o avanço intelectual,
“O mundo invisível da nossa personalidade assume características físicas, mediante letras mal
traçadas com tinta ou sons da voz. Em todos os casos as coisas ocultas são reveladas” (p. 22).
Retomam o discurso da importância da linguagem e da imaginação, a transubstanciação da
palavra para a carne, ou melhor, a consubstanciação da existência do real a partir do abstrato.
Esse mundo imaginário é forma de materializarmos as coisas para vermos onde podemos
muda-las.
Equitativamente, é imprescindível a imaginação e a ficção no desenvolvimento das
crianças e é através dessas eventualidades extraídas dos contos de fadas que, segundo os
autores, a criança fortalece o julgamento moral e racional.
No capítulo quatro apresenta, O básico do latim, nele os autores discorrem sobre a
relevância não da leitura perfeita do latim, sabendo que não há como ter uma pronuncia
correta por ter se perdido ao longo do tempo, mas o conhecimento da formação de nossa
língua, no caso o inglês.
Em seguida, no capítulo cinco, O básico da lógica, “A lógica diz respeito à avaliação
de argumentos, e todo assunto acadêmico envolve argumentos”, (p. 33). Esse é um dos pontos
mais relevante na leitura da obra. A essência e a validação dos argumentos para não criar
falácias de relevância, indutivas ou semânticas. Os autores discorrem de forma clara e
objetiva. Esse trabalho na educação domiciliar é essencial, porém, necessita dos outros fatores
citados nos capítulos anteriores, ou seja, o conhecimento da linguagem escrita ou falada.
O capítulo seis, O básico da retórica, associado à argumentação na construção do
discurso, segundo os autores, remetem o pensamento as conotações negativas ao ser usadas
como fonte de persuadir o povo e enganá-lo. A história do holocausto e como se formou a
mentalidade na segunda guerra é a prova do poder da retórica de forma negativa, ou o
discurso político na tentativa de justificar a corrupção e ganhar a simpatia de indivíduos fáceis
de serem manipulados.
Assimilar o processo argumentativo, retórico e lógico, são ferramentas que concede
aos usuários o poder de compreender o discurso e avaliá-lo. Não exclusivo a produção escrita,
mas ao discurso.
Os autores usam a palavra do apóstolo Paulo em (1Cor 2,4), para demonstrar o valor
do conhecimento da lógica e da retórica. “Minha palavra e a minha pregação não consistiram
em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e do poder” (p. 45).
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Averígua-se que mesmo o apóstolo procurando ser humilde nas palavras, mas o conhecimento
lógico de argumentar o poder de Cristo na formação da igreja e a retórica no discurso à
multidão de fieis aprendizes da palavra de Deus é sem dúvida notável e essencial.
No capítulo sete, O básico da cosmovisão cristã, discorrem sobre a importância da
educação cristã baseada nos fundamentos de Deus e Cristo encarnado. No entanto, não
deixam de acrescentar a cautela no ato de ensinar para não criar abusos teológicos e
preconceituosos. Fala-se muito em batalha, luta espiritual e na formação dos pais de forma
efetiva, não em estampas de carros ou outros meios, mas no dever de ler, estudar e
compreender. O discernimento sobre a soberania de Deus na construção educativa dos filhos.
No capítulo oito, Qual o currículo geral usar, é o momento de pensar em várias fontes
e conhecimentos a serem utilizados. Para os autores o currículo sempre será incompleto
devido a grande extensão das informações, “Se o professor ler como deve, a leitura do
estudante acontecerá com naturalidade. Todavia, se o professor estiver apenas em busca de
uma lista de livros para o estudante ler, então não se objetiva a educação clássica cristã”, (p.
54). Nessa lógica, a necessidade de saber o que selecionar para o estudo domiciliar cristão e
como o professor, na figura do pai, vai estabelecer a importância da educação dos seus filhos.
E concluem “A vocação de uma pessoa representa seu chamado; a vocação de um pai é
aprender a fim de ensinar”, (p. 54).
Por fim, a conclusão no capítulo nove, fecha resumidamente o trabalho dos pais em
definir a educação cristã partindo do princípio bíblico como único guia para direcionar todo e
qualquer estudo.
De uma forma geral, a obra apresenta o pensamento cristão voltado a cultura
protestante norte-americana muito diferente da cultura no Brasil, é inegável uma educação
com valores morais e cristãos, contudo, culturas diferentes merecem estratégias diferentes. A
herança calvinista e a diversidade na imigração nos Estados Unidos de anglicanos,
reformadores luteranos e anabatistas, formam uma nação majoritária protestante. Pelo
contrário, no Brasil o sincretismo religioso e a diversidade cultural limita uma educação
nesses moldes, não questionando o objetivo do trabalho dos autores, mas analisando as
possibilidades de uma educação cristã em um país com uma diversidade como no Brasil.
Outrossim, a preocupação também está em termos utilizados na obra como "ser cristão
significa estar em guerra constante e total", ou "Essa guerra não consiste em uma
característica secundária da vida cristã. Ela é a vida cristã", (p. 48), mais adiante temos: "A
guerra não é apenas constante, mas total, não confinada e esmagadora. (...) não se confina a
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nosso tempo (...) mas se expressa com violência em cada canto da história), enfim, são vários
trechos. Mesmo reconhecendo a guerra contra o pecado, entretanto, o poder familiar ou seja
qual for, com a aprovação de uma fé, pode causar uma explosão de perseguições àquilo que
for considerado errado. O cuidado para não cometermos os mesmos erros do passado causado
pela luta sangrenta das guerras santas.

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