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QUÍMICA

AMBIENTAL

UNIDADE II
QUÍMICA DA
ATMOSFERA E DA
ÁGUA

2018 1
Ficha Técnica:

Título: Química Ambiental – Química da Atmosfera


Autor: Arsénio J. R. Banze
Revisor: Cândido Armando Manhiça
Execução gráfica e paginação: Instituto Superior Monitor
1ª Edição: 2011
© Instituto Superior Monitor

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Índice

UNIDADE I – QUÍMICA DA ATMOSFERA 6


CAPÍTULO I – REGIÕES DA ATMOSFERA ................................................................ 6
1. COMPARTIMENTOS DO MEIO AMBIENTE ........................................... 6
1.1 A ATMOSFERA E SUA CARACTERIZAÇÃO .............................................. 7
1.2 REACÇÕES FOTOQUÍMICAS ..................................................................... 10
1.3 REACÇÕES ÁCIDO-BASE NA ATMOSFERA............................................ 12
EXERCÍCIOS ........................................................................................................ 12
CAPÍTULO II – A CAMADA DE OZONO ................................................................... 13
2. CAMADA DE OZONO E SUA IMPORTÂNCIA ...................................... 13
2.1 FORMAÇÃO DO OZONO ............................................................................. 14
2.2 ESPECTRO DE ABSORÇÃO......................................................................... 14
2.3 FILTRAÇÃO DAS COMPONENTES DA LUZ UV DA LUZ SOLAR POR O2
e O 3 ATMOSFÉRICOS ......................................................................................... 15
2.4 MECANISMO DE DEPLECÇÃO DA CAMADA DO OZONO ................... 16
CAPÍTULO III – EFEITO ESTUFA, SMOG FOTOQUÍMICO E CHUVAS ÁCIDAS17
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 18
3. EFEITO ESTUFA ........................................................................................ 18
3.1 MECANISMO DE INDUÇÃO DO EFEITO ESTUFA .................................. 18
3.2 CONSEQUÊNCIAS DO EFEITO DE ESTUFA ............................................ 19
3.3 SMOG FOTOQUÍMICO .............................................................................. 19
3.4 CHUVA ÁCIDA .......................................................................................... 21
EXERCÍCIOS ........................................................................................................ 22
CAPÍTULO IV – AQUECIMENTO GLOBAL.............................................................. 22
4. AQUECIMENTO GLOBAL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS ................... 23
4.1 ACORDO INTERNACIONAIS ...................................................................... 24
4.2 CONSEQUÊNCIAS DO AQUECIMENTO GLOBAL .............................. 25
EXERCÍCIOS ........................................................................................................ 26
QUADRO SINÓPTICO DA UNIDADE ........................................................................ 26

CAPITULO V– A QUÍMICA DAS ÁGUAS NATURAIS 27

5. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE O ESTUDO DA QUÍMICA DA ÁGUA 27


5.2. FONTES DA ÁGUA .................................................................................... 30
5.4. TIPOLOGIA DA ÁGUA ............................................................................. 30
5.4.1. CARACTERÍSTICAS DOS CORPOS DA ÁGUA ............................ 30
5.5. CICLO HIDROLÓGICO ............................................................................. 32
EXERCÍCIOS ........................................................................................................ 42

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CAPITULO VI – CONTAMINAÇÀO DAS ÁGUAS 42

6. POLUIÇÃO DAS ÁGUAS NATURAIS 42


6.1. DETERMINANTES BASICOS DA POLUIÇÄO ....................................... 44
6.1.2. CONTAMINAÇÃO TAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS ........ 45
6.1.3. CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS ............................. 45
6.2.1. IMPACTOS RESULTANTES DA ALTERAÇÃO NOS SISTEMAS
AQUÁTICOS......................................................................................................... 47
EXERCÌCIOS ........................................................................................................ 47
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 48

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INTRODUÇÃO
Caro Estudante!
Seja Bem-vindo(a) à unidade II da disciplina de QUÍMICA AMBIENTAL.
Para ter sucesso nesta unidade necessita de estudar com atenção todo o manual, não deixando de
rever as unidades anteriores. Para complementar os seus conhecimentos recomenda-se que
realize uma leitura pelos recursos auxiliares recomendados ao longo desta unidade, não só pela
bibliografia indicada como pelos websites sugeridos. Para aceder a outras bibliotecas faça-se
acompanhar do seu cartão de estudante.
A biblioteca virtual do ISM inclui livros digitalizados, artigos, websites e outras referências
importantes para esta e outras disciplinas, que deverá utilizar na realização de casos práticos. A
biblioteca virtual pode ser consultada em http://www.ismonitor.ac.mz/biblioteca.
O aluno pode ainda recorrer a outras bibliotecas virtuais, como por exemplo em:
www.saber.ac.mz www.books.google.com
Recomenda-se que o aluno não guarde as suas dúvidas para si e que as apresente ao tutor,
sempre que achar pertinente. Recomenda-se que entre em contacto com o respectivo tutor, caso
ainda não tenha o contacto do mesmo poderá obtê-lo através do site:
https://www.ismonitor.ac.mz/ ou através da página facebook:
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Os exercícios práticos têm como objectivo a consolidação do conhecimento dos temas
apresentados nesta unidade. O Instituto Superior Monitor fornece as soluções de muitos desses
exercícios de forma a facilitar o processo de aprendizagem, mas atenção caro estudante, você
deve resolver os exercícios de auto-avaliação antes de consultar as soluções fornecidas.
No final desta unidade encontra-se o teste de avaliação. A avaliação deve ser submetida ao
Instituto Superior Monitor até 30 (trinta) dias após a recepção da unidade. A avaliação da
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do teste no exacto número de páginas.
Esta unidade pressupõe que a realização de 37,5 horas de aprendizagem, distribuídas da seguinte
forma:
 Tempo para leituras da unidade: 22 horas;
 Tempo para trabalhos de pesquisa: 5 horas;
 Tempo para realização de exercícios práticos: 8,5 horas;
 Tempo para realizar avaliações: 2 horas.
A presente unidade é válida por 12 (doze) meses. Os estudantes que não tenham obtido
aproveitamento na disciplina (por terem interrompido o curso ou reprovado) devem contactar o
Instituto Superior Monitor. Esta recomendação deve-se ao facto de os materiais serem
periodicamente revistos e actualizados, de forma a se adaptarem às mudanças do mundo actual
e às dinâmicas da produção de conhecimento no seio da própria disciplina.

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UNIDADE I – QUÍMICA DA ATMOSFERA

CAPÍTULO I – REGIÕES DA ATMOSFERA

Objectivos do capítulo
No final deste capítulo os estudantes deverão ser capazes de:
 Conhecer a estrutura vertical da atmosfera;
 Identificar os principais elementos químicos que compõem a atmosfera;
 Descrever as reacções fotoquímicas e ácido-base (processos naturais) que ocorrem na
atmosfera.

1. COMPARTIMENTOS DO MEIO AMBIENTE


Antes de descrevermos a estrutura física e química da atmosfera é importante conhecer os
principais compartimentos da atmosfera.
A terra é constituída pela zona superficial da terra e a biosfera. O conjunto de zona superficial e
biosfera forma a ecosfera.
Segundo a NASA Education (2011), a ecosfera compreende quatro regiões distintas:

 A biosfera é o conjunto de todos os ecossistemas que inclui todos os organismos vivos da


Terra que interagem com a zona superficial (água, solo e ar) como um todo.
 Litosfera – é a camada superficial sólida da Terra, constituída de rochas e solos.
 Hidrosfera – constitui toda a água da Terra é contida num sistema que é designado por
hidrosfera e esse ambiente abrange cerca de 70% da superfície do planeta. Os subsistemas
da hidrosfera incluem os oceanos, glaciares e outras formas de água congelada, águas
subterrâneas e o vapor de água contido na atmosfera. Cada subsistema é designado por
“reservatório”. O maior reservatório é o oceano que compreende mais ou menos 97% da
água da terra.
 Atmosfera – é a camada gasosa que circunda toda a superfície da Terra que envolve, a
litosfera e a hidrosfera atinge uma espessura de 600 km.

A Biosfera constituída por conjunto de organismos interage entre si e com o meio abiótico. A
figura abaixo ilustra esta interacção com as diferentes camadas da Ecosfera.

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Figura 1. Interação entre as camadas da Ecosfera. Fonte: Baird (2002).

1.1 A ATMOSFERA E SUA CARACTERIZAÇÃO


O planeta está envolvido por uma camada gasosa – atmosfera – cuja espessura é de
aproximadamente 1110 km (+- 1/5 do raio terrestre). A atmosfera é uma camada fina que envolve
os planetas, composta basicamente por gases e poeiras, retidos pela acção da força de gravidade.
Pode ser vista como uma camada fina de gases sem cheiro (inodor), sem cor (incolor) e sem gosto
(insípido) e presa à Terra pela força de gravidade.

1.1.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICA DA ATMOSFERA


A atmosfera não tem uma fronteira bem definida. Segundo a composição química da atmosfera
distingue-se duas camadas principais: a homosfera com composição química uniforme e a
heterosfera com composição química não uniforme.
A atmosfera é mistura de gases que envolve a Terra que acompanha os seus movimentos de rotação
e translação. A atmosfera liga-se aos movimentos de massas de ar na atmosfera, balanço de calor
atmosférico e composição química da atmosfera e a química da atmosfera.
Para compreender a química da atmosfera e a poluição do ar é importante conhecer a sua
composição e as características físicas (ver a tabela 1). O limite da atmosfera é de cerca de 1000
km acima do nível do mar, mas 99% da massa que o constitui localiza-se abaixo dos 40 km de
altitude.
Tabela 1. Composição Química da Atmosfera.

Componente do ar Quantidade (%)


atmosférico
Componentes maiores Nitrogénio 78.08
Oxigénio 20.95
Componentes menores Árgon 0.934
Dióxido de carbono 0.036
Néon 1.818×10-3

7
Hélio 5.24×10-4
Metano 1.6×10-4
Crípton 1.14×10-4
Gases nobres e outros Óxido nitroso 3×10-5
Monóxido de carbono 1.2×10-5
Xénon 8.9×10-6
Amónio 10-8 -10-7
Fonte: Manahan (2000)

1.1.2 ESTRUTURA VERTICAL DA ATMOSFERA


A atmosfera é constituída por quatro camadas distintas cada qual com características físicas e
específicas que variam ao longo da altitude, como descreveremos a seguir:

Troposfera: é a camada mais próxima da superfície e turbulenta onde ocorre diversos fenómenos
meteorológicos, como a formação das chuvas, neve granizo e desempenha um papel de extrema
importância para a humanidade, pois dela depende a vida do homem. A sua espessura varia de
região para região, sendo de 15 Km (equador) e reduzindo até 8 km na medida em que
aproximamos aos pólos) até contém 80% da massa dos gases atmosféricos. A s.
A temperatura diminui 0, 6º C a cada 100 metros de altitude até atingir cerca de 60ºC negativo.
A tropopausa é o nome dado à camada intermediária entre a troposfera e a estratosfera, situada a
uma altura média de 17km, no equador.
A distância da tropopausa em relação ao solo varia conforme as condições climáticas da troposfera,
da temperatura do ar, a latitude entre outros factores. Se existe na troposfera uma agitação climática
com muitas correntes de convenção, a tropopausa tende a subir, por causa do aumento do volume
do ar na troposfera.

Estratosfera: é segunda camada da atmosfera definida e fica situada entre altitudes onde a
temperatura tende a apresentar inversões. Varia de 15 até 50 Km, e é esta camada que contém a
camada de ozono.
Nessa camada a temperatura aumenta com a altitude e caracteriza-se pelos movimentos de ar no
sentido horizontal. Este aumento de temperatura deve-se ao aumento da interacção química e
térmica entre a radiação ultravioletas e os gases existentes.
Apresenta pequena concentração de vapor da água e temperatura constante até a região limítrofe,
denominada estratopausa. É próximo à estratopausa que se situa a maior parte do ozono
(responsável pela absorção dos raios ultravioletas) (ver a figura 2) em torno de 22 Km acima da
superfície, na parte superior da estratosfera e esta camada é normalmente designada de ozonosfera.
Mesosfera: Esta camada está situada depois da estratosfera, entre 50 a 85 km de altitude e
caracteriza-se pela redução da temperatura com a altitude, podendo atingir 90ºC negativos, na
mesopausa. É na mesosfera que ocorre o fenómeno da aeroluminescência das emissões do grupo
hidroxilo.
A zona limite desta camada é designada por mesopausa. A mesopausa contém massa molecular
constante e predomina a difusão molecular.
Termosfera: varia entre 80 à 800Km e esta atinge temperaturas mais elevadas com cerca de
2000ºC, isto deve-se a absorção das radiações de energia superior que é resultado da interacção
dos efeitos térmicos e químico das radiações.

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O conjunto da mesosfera superior e a termosfera denomina-se ionosfera. A ionosfera. Esta
camada é constituída de electrões livres produzidos por influências ionizantes da radiação solar e
de partículas cósmicas e solares energéticas incidentes. A ionosfera está sujeita a acentuadas
variações geográficas e temporais e ela exerce um profundo efeito sobre as características das
ondas de rádio propagadas dentro ou através dela.
As camadas ou regiões iónicas da ionosfera são classificadas como regiões D, E, F1 e F2.
 A camada D é a mais próxima da superfície terrestre, situando-se entre os 50 e 80 km, que
absorve a maior quantidade de energia electromagnética.
 A camada E que se localiza-se acima da camada D, abaixo das camadas F1 e F2, com
altitude média situada entre os 80 e os 100- 140km.
 A camada E esporádica que tem a particularidade de ficar mais activa quanto mais
perpendiculares são os raios solares que incidem sobre si.
 A camada F1 que se localiza acima da camada E e abaixo da camada F2 ~100-140 até ~200
Km. Existe durante os horários diurnos.
 A camada F2 que é a mais alta das camadas ionosféricas a camada F2, e situa-se entre os
200 e 400km de altitude. Acima da F1, E, e D respectivamente.
Exosfera: é a camada externa à atmosfera.
Quanto a estrutura vertical da atmosfera, a figura abaixo ilustra as diferentes camadas que a
compõem.

Figura 3. Estrutura Vertical da Atmosfera

1.1.3 IMPORTÂNCIA DA ATMOSFERA


A atmosfera é essencial à vida na terra como:
 Fonte de oxigénio para a respiração dos organismos, dióxido de carbono para a realização
da fotossíntese nas plantas;
 Estabilização das temperaturas superficiais e protecção contra a destruição da camada de
ozono (O3) na estratosfera pela radiação ultravioleta.

9
1.1.4 QUÍMICA DA ATMOSFERA
A atmosfera recebe muitos gases de fontes naturais e antropogénica (actividade humana). Os gases
resultantes de fontes naturais e que são emitidos para atmosfera estão listados na tabela abaixo.
Tabela 2. Lista de substâncias químicas resultantes de fenómenos químicos.

Composto Fonte
Metano
Amónia Decomposição biológica anaeróbica
Gás sulfídrico
Ácido clorídrico Decomposição biológica anaeróbica,
vulcões
Cloreto de metila
Brometo de metila Oceanos
Iodeto de metila
Monóxido de carbono Incêndios
Dióxido de enxofre Vulcões
Óxido nítrico Relâmpagos
Fonte: Baird (2002)

Estas substâncias químicas e aquelas que constituem a atmosfera (não poluída) sofrem reacções
químicas, tais como: reacções fotoquímicas e reacções ácido-base.
A química da atmosfera envolve a atmosfera não poluída, atmosfera poluída e as degradações que
ocorrem nos dois ambientes. Todos fenómenos são importantes na transformação de substâncias
químicas, de modo a manter os ciclos que ocorrem na atmosfera. Exemplo: o ciclo de Chapman
“ciclo que consiste em etapas de formação e degradação da molécula de ozono” (será tratado no
Capítulo II, ponto 3.4).

1.2 REACÇÕES FOTOQUÍMICAS


Nas reacções fotoquímicas, as espécies químicas envolvidas (reagentes) absorvem energia da
radiação solar UV para poder reagir e formar novas espécies químicas. Portanto, essas reacções
não ocorreriam na ausência de luz.
Uma das reacções que ocorrem na atmosfera é a transformação do dióxido de carbono (CO2). Esta
molécula absorve energia da radiação solar (hν), produzindo uma molécula electronicamente
excitada (molécula cujos electrões passaram de uma camada para outra devido a presença de
energia) e representa-se pelo símbolo (*)
As moléculas electronicamente excitadas são uma das formas mais reactivas das espécies
químicas encontradas na atmosfera e são produzidas quando moléculas estáveis absorvem a
radiação na região visível ou ultravioleta.
As outras formas mais reactivas são radicais livres que são espécies com electrões
desemparelhados e iões que são átomos/moléculas carregados electrões.

As reacções que ocorrem através da absorção da radiação para produzir outras espécies excitadas
são amplamente determinadas pela forma no qual essas substâncias perdem o excesso de energia,
por uma das seguintes formas:

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 Perda da energia para outra molécula ou átomo (M) seguida de dissipação (libertação)
dessa energia como calor:
O2* + M→O2 + M (com alta energia de translação)
 Dissociação da molécula excitada (responsável pela quantidade de O2 na alta atmosfera):
O2*→O+O
 Reacção directa com outras espécies químicas:
O2+O3→2O2+O

 Luminescência (consiste em perda de energia pela emissão de radiação elecrtomagnética):


NO2*→NO2 + hν
 Se a emissão de luz for instantânea, o processo é chamado fluorescência, e se for lento
fosforescência. Quando as espécies excitadas (NO2*) são formadas pela reacção de ozono
(O3) com o óxido nitroso (NO) é designado por Quimiluminescência, segundo a equação
de reacção abaixo: O3+NO→NO2* + O2.
 Fotoionização: consiste na formação de iões (perda de um electrão) causada pela energia
da radiação solar: N2*→N2+ +e-.

IÕES E RADICAIS NA ATMOSFERA


Em altitude de aproximadamente 50Km ou acima, é predominantemente encontrado iões
produzido por acção da radiação electromagnética. Esta radiação também é responsável pela
formação de radicais livres.

RADICAIS LIVRES
Estão envolvidos em muitos processos químicos devido aos seus electrões desemparelhados que
têm forte tendência de reagir para formar pares de electrões. Na troposfera, reagem com moléculas
como o oxigénio:
H3C* + O2→CH3OO*(radical peróxido)

Ou eventualmente podem reagir com outros radicais (metil):


H3C* + H3C* →C2H6 (etano)
É bastante comum, as reacções envolvendo radicais livres no smog fotoquímico (a ser tratado no
Capítulo II).

Exemplo de um radical
Uma das mais importantes espécies química encontrada dna atmosfera é o radical hidróxilo (OH-
), e na atmosfera é formado por:
Fotolise da água: H2O + hν→OH* + H
Reacção do átomo de oxigénio excitado e o vapor de água na atmosfera: O2* + H2O →2HO*
Fotólise do ácido nitroso na atmosfera: HNO2 + hν →OH* + NO
O radical hidróxilo é frequentemente removido da atmosfera pelas seguintes reacções:
(1) CH4 + OH* →H3C + H2O
O radical metil formado nessa reacção reage com O2 e forma metilperoxil: H3C* + O2
→H3COO*
(2) CO + OH* →CO2 + H
O átomo de H formado reage com O2 para produzir radical hidroperoxil (HOO*): H+O2
→HOO*

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O radical hidroperoxil reage com radical hidróxilo e hidroperoxil:
HOO* +OH*→ H2O + O2
HOO* + HOO*→ H2O2 (peróxido de Hidrogénio) + O2
Os radicais hidroperoxil (HOO*) e hidroxilo (OH*) são muito importantes na remoção por
oxidação, de poluentes do ar.
Exemplos destas reacções:
CH4 + OH* →H3C + H2O
CH3Cl + OH* → CH2Cl* + H2O

1.3 REACÇÕES ÁCIDO-BASE NA ATMOSFERA


Reacções ácido-base são aquelas que ocorrem entre espécies com carácter ácido e básicos
presentes na atmosfera. A atmosfera tem carácter levemente ácido devido a presença do ácido
carbónico (ácido fraco) resultante da reacção entre o CO2 e H2O. As reacções estão indicadas a
seguir:
CO2 (g) + H2O →CO2 (aq)
CO2(aq) + H2O → H2CO3

Com a presença do dióxido de enxofre (SO2) forma-se um ácido forte, o ácido sulfúrico (H2SO4):
SO2(g) + H2O →H2SO4 (este é facilmente dissociado)

Em termos de poluição, os ácidos fortes, tais como: ácido nítrico (HNO3) e H2SO4 formados pela
oxidação de óxidos de nitrogénio e de enxofre e sulfeto de hidrogénio (H2S) são muito importantes
porque estão relacionadas com a chuva ácida (a ser tratado no capítulo II).

As substâncias de carácter básico são menos comuns na atmosfera. A espécie química mais
importante é a amoníaco (NH3), cuja maior fonte é a degradação da matéria biológica contendo
nitrogénio e a redução do nitrato por bactérias:
NO-(aq) + 2{CH2O} + H+ →NH3 + 2CO2 + H2O
O amoníaco é um composto gasoso muito importante na atmosfera, porque é única base solúvel
em água no ar. Quando reage com água o amoníaco desempenha um papel importante na
neutralização1 dos ácidos na atmosfera, segundo a equação da reacção abaixo:
NH3(aq) + HNO3(aq) → NH4NO3 (nitrato de amónio)
NH3(aq)+ H2SO4(aq)→ NH4HSO4 (Hidrogeno sulfato de amónio)
As substâncias resultantes não são muito perigosas para o ambiente.

EXERCÍCIOS
1. Desenhe um gráfico de variação de temperatura e de pressão com o aumento da altitude na
estrutura vertical da atmosfera.
2. A medida que um individuo desloca de uma região de baixa altitude para a região de alta atitude
está sujeita à variações de oxigénio. Este facto relaciona-se com as variações de pressão e

1
Reacção de ácido e base, resultando num composto neutro de pH igual a 7.

12
temperatura, com ilustra o gráfico que terá representado na pergunta anterior. Represente
graficamente a variação da quantidade de oxigénio em função da altitude.
3. Estabeleça diferenças entre os termos: ião, radical livre e espécie química excitada.
4. Explique de forma clara a relação que a Biosfera tem com outras camadas da ecosfera:
Hidrosfera, litosfera e atmosfera.
5. O amoníaco é uma substância que desempenha um papel importante na atmosfera. Qual é o
papel do amoníaco na atmosfera?

CAPÍTULO II – A CAMADA DE OZONO

OBJECTIVOS DO CAPÍTULO
No final deste capítulo os estudantes deverão ser capazes de:
 Explicar os fenómenos químicos que ocorrem na camada da estratosfera;
 Descrever a química da camada do ozono;
 Descrever os efeitos resultantes da depleção da camada de ozono;
 Identificar os gases que induzem os efeitos da depleção da camada de ozono.
 Descrever os mecanismos de indução destes efeitos.

2. CAMADA DE OZONO E SUA IMPORTÂNCIA


Esta camada situa-se na estratosfera. A camada de ozono que funciona com uma forma de “escudo
solar natural da terra”, pois filtra os raios ultravioletas (UV) nocivos provenientes do sol, antes de
atingir a superfície o planeta.
Qualquer redução substancial na quantidade de ozono (O3) estratosférico pode causar efeitos
nocivos para vida. É fundamental porque assegura a vida na Terra, uma vez:
 Ozono estratosférico tem a capacidade de absorver grande parte da radiação ultravioleta-B
(UV-B), que pode provocar efeitos nocivos (ou até mesmo letais) nos seres vivos, isto é,
filtrando a radiação solar ultravioleta (UV-B e UVC);
 Distribuição da temperatura na atmosfera, tendo assim o papel de regulador do clima na
Terra.
Esta camada é constituída pelo ozono (O3). O ozono é um gás atmosférico com ponto de ebulição
de 112°C, azul-escuro, rarefeito2 formado por três átomos de oxigénio (O3) que se concentra na
estratosfera entre os 20 e 40 Km de altitude.

2
Que facilmente se transforma noutra forma

13
2.1 FORMAÇÃO DO OZONO
O ozono forma-se através da acção da radiação solar nas moléculas de oxigénio (O2) segundo um
processo denominado fotólise em que moléculas de oxigénio são quebradas dando origem a
átomos de oxigénio, que depois combinam com com outras moléculas de oxigénio formar o ozono.
UV
O2 O +O
O2+ O O3
Esta reacção é a fonte de todo o ozono na atmosfera. Através deste processo ozono forma-se
durante as horas do dia em que há luz do sol, e a velocidade da reacção depende da quantidade da
luz UV-B, ou da concentração de átomos e de moléculas de oxigénio a uma dada altura.

2.2 ESPECTRO DE ABSORÇÃO


O ozono filtra os raios proveniente da radiação solar, absorvendo uma parte destes raios e outra
penetra na superfície da terra.
Espectro é o conjunto de radiações emitidas por uma fonte de luz. Um espectro de absorção é a
fracção relativa de luz que é absorvida por um dado tipo de molécula em função do comprimento
de onda.
As substâncias diferem-se muito pela capacidade de absorção de luz de um determinado
comprimento de onda, como consequência das diferenças nos níveis de energia dos seus electrões.

2.2.1 LUZ ULTRAVIOLETA


A luz ultravioleta pode ser classificada em UV-A e UV-B. A radiação UVA (que se estende entre
320 a 400nm) são raios que penetram superficialmente na pêle e causam queimaduras solares e
são principais responsáveis pelas alterações celulares que causam o câncro. A radiação UV-B (que
se estende entre 280 a 320nm) é a maior do espectro ultravioleta que possui uma intensidade
constante em todo ano. A radiação UV-C (que ronda nos 280nm ou menos) é totalmente absorvido
na atmosfera e não é muito importante.

2.2.2 ABSORÇÃO DA LUZ UV-B PELO DNA


Um exemplo de absorção de luz UV-B é a molécula de DNA. Comparando-se a variação no
comprimento de onda da luz UV-B a diferentes intensidades que chegam à superfície da Terra e
as características de absorção do ADN pode-se concluir que os principais efeitos nocivos da
absorção de luz solar ocorrerão em aproximadamente 300 nm. De facto, em pessoas de pele clara,
a pele mostra um máximo de absorção da luz UV-B do sol em aproximadamente 300 nm.

14
2.2.3 ABSORÇÃO DA LUZ UV-B PELO OXIGÉNIO DIATÓMICO (O2)
Outro exemplo de absorção de luz UV é o oxigénio molecular diatómico (O2), que não absorve
maior quantidade de luz visível, mas absorve alguns tipos de luz ultravioleta (UV), que é a
radiação electromagnética com comprimentos de onda que variam entre 50 e 400 nm
aproximadamente.

2.2.4 ABSORÇÃO DA LUZ UV-B PELO OZONO (O3)


O ozono pode absorver somente uma fracção da luz UV-B solar na região de 290 a 320 nm, como
pode-se ver na Figura 7a. A capacidade intrínseca de absorção de luz de tais comprimentos de
onda é bastante limitada. A outra quantidade de luz solar nesses comprimentos de onda, entre 10%
e 30% dependendo da latitude penetra a atmosfera até a superfície da Terra.
Como a absorção de luz pelo ozono decresce de forma quase exponencial com o comprimento de
onda nessa região (ver Figura 7b), a fracção do UV-B que atinge a troposfera aumenta com o
aumento do comprimento de onda. Nem o ozono nem qualquer outro constituinte da atmosfera
absorvem significativamente na faixa do UV-A (320-400 nm), a maior parte deste tipo de luz UV
biologicamente menos nocivo, atinge a superfície da Terra

2.3 FILTRAÇÃO DAS COMPONENTES DA LUZ UV DA LUZ SOLAR POR O2 e O 3


ATMOSFÉRICOS
A luz ultravioleta com comprimento de onda menor que 120 nm é filtrada na estratosfera, e acima
dela é absorvida pelo O2 e por outros constituintes do ar, tal como o N2; e na faixa de 220-240 nm
é filtrada apenas pelo O2.
O gás O3 situado acima da estratosfera filtra a maior parte da luz UV solar de 120 a 220 nm. A
restante quantidade da luz UV solar na faixa de 220-240 nm desta região é filtrada pelo O2 na
estratosfera.
O ozono auxiliado pelo O2 nos comprimentos de onda mais curtos, filtra toda a luz ultravioleta
solar na faixa de 220 a 290 nm, que se sobrepõe à região de 200-280 nm conhecida como UV-C.
No entanto a luz UV com comprimento de onda menor que 220 nm não atinge a superfície da
Terra. Esse filtro protege a pele e olhos nos humanos e outras formas de vida contra danos causados
por esta porção de luz solar.
Portanto, o ozono não é completamente eficiente contra a luz na região do UV-B, definida como
aquela compreendida entre 280 e 320 nm (embora diferentes autores discordem ligeiramente sobre
os limites dessas regiões).
Nota: O gás dióxido de nitrogénio absorve a luz UV-A, mas encontra-se em concentração inferior
no ar poluído cuja absorção líquida é muito pequena.

15
2.4 MECANISMO DE DEPLECÇÃO DA CAMADA DO OZONO
A química da depleção de ozono, como muitos outros processos da estratosfera é controlada pela
energia associada à luz proveniente do sol. Por essa razão, foi importante em primeiro lugar
examinar a relação entre a absorção da luz por moléculas (O2 e O3) e a activação resultante
(energização) das moléculas que permite reagir quimicamente.
A quantidade de ozono presente na estratosfera é mantida num equilíbrio dinâmico por processos
naturais, através dos quais é continuamente formado e destruído. Mas este equilíbrio natural de
formação e destruição do ozono estratosférico tem vindo a ser perturbado devido às emissões
antropogénicas de compostos halogenados, como os compostos apresentados na tabela abaixo.

Tabela 3. Algumas substâncias químicas produzidas por actividades humanas e que são emitidas
para a atmosfera. CFC- Clorofluorcarbonetos.

Substância Uso
química
CFC-11
CFC-12
CFC-113 Refrigeração, climatização
CFC-114
CFC-115
CFC-11 Espumas e solventes
CFC-113
Halons Extintores de incêndios
Tetracloreto de Uso laboratorial
carbono
1,1,1-tricloetano Solvente
Brometo de Controlo de pestes,
metilo fumigação
Fonte: elaborado pelo Autor

Estes compostos são muito estáveis e não são destruídos na troposfera podendo um átomo do
halogénio (cloro ou bromo) destruir milhares de moléculas de ozono antes de ser removido da
estratosfera resultando naquilo que se chama de depleção da camada do ozono.

O primeiro processo químico de destruição da camada de ozono está representado pela equação
de reacção abaixo.
O3 UV O2 +O
Numa atmosfera não poluída, a produção de ozono resulta de recombinação de átomo de oxigénio
(O) com uma molécula de oxigénio (O2) constituindo um ciclo, e isto pode ser ilustrado através da
fórmula:
O+ O2 O3

16
O ciclo de formação e destruição do ozono é designado por Ciclo de Chapman.
No entanto, devido a emissão de substâncias químicas para a atmosfera, essencialmente para a
camada de ozono e por serem persistentes, estas substâncias atingem altas concentrações e reagem
com ozono atmosférico, segundo a equação da reacção abaixo:
O3+X XO + O2
Onde o X pode ser O, NO, OH, Br ou Cl
Exemplo: Cl2 + O3 ClO + O2
Na estratosfera, a radiação UV de alta energia origina a fotodecomposição das moléculas com
cloro libertando átomos do cloro livre que é um grande catalisador da destruição de ozono.
UV
ClO + O Cl + O2
Inicialmente os átomos de cloro livres reagem com compostos instáveis contendo ozono, por
exemplo ozono formando monóxido de cloro
Cl+O3 (g) ClO+O2 (g)
Para além da quebra do ciclo de formação do ozono, um outro fenómeno frequente na estratosfera
é a reacção do monóxido de azoto (NO) com ozono resultando em dióxido de nitrogénio,
estabelecendo-se assim um equilíbrio estado estacionário do ciclo fotolítico entre os três
constituintes NO2, NO e O3, que não origina por si só, um aumento do ar em ozono, reduzindo a
quantidade de ozono na atmosfera.
Portanto, a quebra do ciclo de destruição e formação de ozono e consumo pela oxidação do
monóxido de nitrogénio resulta na diminuição de ozono na estratosfera. A diminuição da
concentração de ozono para valores muito abaixo dos normais e é designado Buraco na camada
do ozono. Identifique a importância da estratosfera e explique porque nessa camada há um
aumento da temperatura em relação as camadas anteriores.
1. Explique o processo de redução da camada de ozono e as suas consequências.
2. Depois de ter lido o capítulo, elabora um esquema ilustrando as fases de formação e
destruição do ozono (ciclo de Chapman).
Porque os indivíduos de pele clara são mais susceptíveis a desenvolver doenças relacionadas
com a pele, exemplo: o cancro da pele?

CAPÍTULO III – EFEITO ESTUFA, SMOG FOTOQUÍMICO E CHUVAS ÁCIDAS

Objectivos do capítulo
No final deste capítulo os estudantes deverão ser capazes de:
 Mencionar os gases que induzem o efeito estufa, smog fotoquímico e chuvas ácidas;

17
 Descrever os mecanismos pelos quais os gases induzem o efeito estufa, smog fotoquímico
e chuvas ácidas;
 Mencionar as consequências do efeito estufa, smog fotoquímico e chuvas ácidas na saúde,
na agricultura e no ambiente;

INTRODUÇÃO
O efeito estufa, smog fotoquímico e chuvas ácidas são causados pela emissão de quantidades de
gases nocivos a atmosfera. Estes gases são resultantes da intensa actividade humana nos diversos
pontos, tais como indústrias de refinação de petróleos, combustão nos motores, queima de matéria
orgânica e outras.
As substâncias químicas emitidas para a atmosfera, nem sempre são elas que causam estes efeitos,
mas estas transformam-se noutras reagem com outras substâncias, daí a os termos Poluentes
primários e poluentes secundários.
Poluente primário: São substâncias intermediárias, isto é, quando emitidas para a atmosfera são
transformadas noutras;
Poluente secundário: são substâncias resultantes da transformação química dos poluentes
primários.

3. EFEITO ESTUFA
Gases indutores do efeito estufa
O efeito estufa é um fenómeno caracterizado pelo aquecimento da superfície terrestre e do ar
atmosférico. Este aquecimento deve-se a absorção de radiação infravermelha térmica. Os gases
que absorvem maioritariamente a radiação infravermelha térmica (comprimento de onda entre
4000 a 100.000nm) são: vapor de água (H2O) e dióxido de carbono (CO2). Outras substâncias tais
como: ozono (O3), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e CFC’s absorvem a radiação infravermelha
num comprimento de onda muito curto.
Portanto o “efeito estufa” da atmosfera deve-se principalmente aos dois componentes dos seres
vivos: água (sob forma de vapor) e carbono (sob forma de dióxido de carbono molecular, CO2).

3.1 MECANISMO DE INDUÇÃO DO EFEITO ESTUFA


Aproximadamente 50% da energia radiante provém dos raios gama, X e UV (num total de 9%) e
luz visível (41%) e o restante (50%) provém dos raios infravermelho.
A radiação que atinge o planeta é constante, mas a quantidade que efectivamente atinge a superfície
terrestre é variável e depende principalmente de dois factores que variam conforme a latitude e a
sazonalidade: o ângulo de incidência dos raios solar e a duração da exposição aos raios solares.
Como qualquer outro corpo, a superfície da terra quando é aquecido uma parte da energia é
absorvida (retida) causando um aquecimento e outra e reflectida (emitida pela terra) para a
atmosfera. Em condições normais, a quantidade da radiação absorvida devia ser igual a quantidade

18
da radiação reflectida, condição que mantém constante a temperatura ambiental. Esta radiação
absorvida e reflectida é a radiação infravermelha térmica.
Nem toda a radiação infravermelha reflectida (emitida) pela superfície da terra passa para
atmosfera, pois uma parte desta radiação é absorvida temporariamente por substâncias químicas
(H2O e CO2) presentes no ar. A radiação que colide com estas substâncias é reemitida de forma
aleatória para todas as direcções. Deste modo a parte da radiação que é direccionada de volta a
superfície da terra é reabsorvida, e como consequência provoca o aquecimento adicional tanto na
superfície como no ar.
No entanto, este fenómeno de redirecionamento da radiação infravermelha (IR) térmica para a
terra é designado Efeito estufa.
Portanto, o aumento do dióxido de carbono e de gases traço (gases cuja concentração no ambiente
é muito baixa, <ppm) no ar resultantes da actividade antropogénica, aumenta a absorção da
radiação infravermelha resultando no redicrecionamento de uma maior quantidade de de IR
reflectida, e isto tem como consequência o aumento da temperatura média na superfície da terra.

3.2 CONSEQUÊNCIAS DO EFEITO DE ESTUFA


O efeito estufa pode provocar diversas consequências negativas no meio ambiente. clima,
vegetação, fauna e ecossistemas, tais como:
 Retenção do calor na atmosfera fazendo com que aumente a temperatura no planeta;
 Acelera o processo de desertificação em algumas regiões do planeta;
 O efeito estufa pode alterar o funcionamento equilibrado de ecossistemas, provando o
desaparecimento de espécies vegetais e animais;
 Potencia fenómenos ambientais como, por exemplo, furacões, tempestades, secas e
quantidade de chuvas (com enchentes) em determinadas regiões;
 O efeito estufa pode alterar os cursos naturais das correntes marítimas, provocando a
extinção de diversas espécies de peixes e outros animais marinhos;
 Efeito estufa pode prejudicar a agricultura em determinadas regiões, diminuindo a
produção de alimentos no mundo todo.
 Derretimento das calotes polares provoca o aumento da quantidade de água nos oceanos,
podendo provocar, em breve, o alagamento de cidades litorâneas e a submersão de ilhas;

3.3 SMOG FOTOQUÍMICO


Smog fotoquímico é um termo usado para designar a concentração de ozono em baixas atmosferas
(troposfera) decorrente da reacção de poluentes emitidos por actividades antropogénicas. A
palavra smog é combinação de palavras smoke que significa “fumaça” e fog que significa
“neblina”. O processo de formação do smog compreende inúmeros compostos e reacções
induzidas pela presença da luz.

19
3.3.1 GASES INDUTORES DO SMOG FOTOQUÍMICO
As substâncias mais importantes que induzem o smog fotoquímico são: óxido nitroso (NO), óxidos
nítricos (NO2) resultantes da actividade antropogénica e de processos naturais; hidrocarbonetos
gasosos resultantes da evaporação de combustíveis líquidos e outros compostos orgânicos
designados por compostos orgânicos voláteis (COV).

3.3.1.1 MECANISMO DE INDUÇÃO


Quando estas substâncias químicas reagem com oxigénio na presença da luz solar resulta em
compostos como ozono, ácido nítrico e compostos orgânicos parcialmente oxidados, segundo a
equação de reacção abaixo.
COV’s+NO+O2+luz solar mistura de O3, HNO3, compostos orgânicos.
As substâncias NO e COV’s são poluentes primários e são emitidos no ar e transformam-se em O3
e HNO3 (poluentes secundários).
Os COVs mais reactivos na atmosfera são hidrocarbonetos de ligação dupla (C=C), pois eles
podem adiciona-se à radicais livres. O óxido nitroso (NO) é gradualmente oxidado na atmosfera
formando o dióxido de nitrogénio (NO2). Quando o NO2 atinge concentrações elevadas na
atmosfera absorve a radiação da luz visível próximo do limite da luz ultravioleta, e como
consequência a radiação reflectida pelo NO2 toma a cor amarela, por isso no smog fotoquímico a
atmosfera toma a cor amarela.
Portanto, a ocorrência do smog fotoquímico depende de três condições:
 Emissão de NO, hidrocarbonetos e COV’s para a atmosfera;
 Ocorrência de elevadas temperaturas e abundante luminosidade solar para que ocorram
reacções fotoquímicas e;
 O movimento de massas do ar deve ser reduzido de modo a que os reagentes não sejam
diluídos.

Consequências de ocorrência do Smog fotoquímico


 Disfunção pulmonar em indivíduos idosos e em crianças, como respiração deficiente e
bronquite em crianças;
 A poluição por SO2 e seus derivados causa uma diminuição na resistência ao cancro de
cólon e de mama em humanos, devido a redução de raios UV-B disponíveis para formar a
vitamina-D (agente protector destes cancros).

20
3.4 CHUVA ÁCIDA
Este fenómeno foi descoberto por Robert Argus Smith na Grã-Bretanha em meados de 1800 e
permaneceu esquecido até aos anos 50.
Chuva ácida refere-se a deposição húmida de constituintes ácidos os quais se dissolvem nas
nuvens e formam uma solução de pH inferior a 5,6.
As substâncias que causam este fenómeno são: dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogénio
(NOX, x é número de oxidação do nitrogénio). Estes óxidos são poluentes primários são
transportados pelo vento e espalham-se pela atmosfera até centenas de quilómetros em relação ao
local onde foram emitidos.

3.4.1 MECANISMO DE INDUÇÃO


A chuva ácida pode ser resultado de fenómenos naturais e de acção antropogénica:
a. Chuva naturalmente ácida
Resulta de reacções de do gás dióxido de carbono presente na atmosfera e vapor de água, como
ilustra a equação de reacção abaixo: CO2 (g) + H2O (l) →HCO3 (aq) (ácido carbónico).
b. Chuva ácida causada por actividades humanas
Quando os combustíveis fósseis (petróleo e carvão) ou minerais contendo enxofre (S) são
oxidados, e se convertem em dióxido de enxofre gasoso.
Simultaneamente, as elevadas temperaturas conduzem à oxidação do nitrogénio molecular (N2)
atmosférico e presente em combustíveis formando o óxido nítrico (NO) e o dióxido de nitrogénio
(NO2).
Estes gases SO2 e óxidos de nitrogénio podem resultar da actividade humana e emitidos para a
atmosfera e passam a constituir partículas em suspensão no ar.
Os óxidos SO2 e de nitrogénio sofrem processos, tais como:
 A partir da indução fotoquímica pela luz solar, os óxidos de nitrogénio (NOx) e os
hidrocarbonetos passam a formar o gás ozónio (O3);
 Devido à presença do radical hidroxila (OH), o SO2 e NOx se convertem na atmosfera em
ácidos sulfúrico (H2SO4) e nítrico (HNO3).
SO2 + H2O →H2SO3 ou SO3 + H2O →H2SO4
2 NO2 + H2O→HNO2 + HNO3
A maior parte do H2SO4 reage como amónio (NH3) para formar partículas, tais como o sulfato de
amónio [(NH4)2SO4] e bissulfato de amónio (NH4HSO4).
O dimetil sulfeto presente na atmosfera actua como núcleo de condensação de nuvens em vapor
de água. Essas nuvens reflectem até 90% da luz visível proveniente da radiação solar. O vapor de
água (chuvas) contendo ácidos sulfúrico e nítrico caem para a superfície terrestre. O esquema e a
figura abaixo ilustram o mecanismo de formação da chuva ácida.
Segundo Abreu (2005), quanto a distância da fonte emissora dos poluentes primários (SO2 e NO,
NO2) e o tempo de formação, as chuvas ácidas podem ser de 4 tipos:
 Convectiva – a chuva que se forma em menos de uma hora (1h) depois de ter havido uma
emissão dos poluentes primários

21
 De mesoescala - quando são formadas entre 1 e 10 horas depois da emissão de poluentes,
normalmente em um raio de 100 km.
 Sinóptica – formadas entre 10 a 100 horas e o raio é inferior a 1.000 km;
 Planetária- formada após 100horas à distâncias de até 10.000 km.

Efeitos ecológicos da chuva ácida


Os efeitos da chuva ácida no ambiente são:
 Redução da capacidade de crescimento de algumas plantas incluindo as de água doce;
 Diminuição da produtividade em lagos e cursos de água leva a redução da quantidade de
carbono orgânico dissolvido (COD) na superfície das águas. As moléculas do COD
absorvem as radiações UV; a sua redução permite maior penetração da luz UV nas camadas
mais profundas do lago;
 Deterioração dos solos devido a redução do pH, o que faz com que os nutrientes das plantas
tais como K+,Ca2+, Mg2+, são lixiviados.

EXERCÍCIOS
1. Explique porque é que nos desertos (exemplo deserto de Sahara) as temperaturas são mais
frias no período da noite e mais quentes no período da noite.
2. A chuva ácida é formada, principalmente, em locais onde existem grandes concentrações
de indústrias que liberam gases na forma de óxidos não metálicos, por exemplo, dióxido
de carbono, dióxido de enxofre e óxidos de nitrogénio. Supondo que esta chuva ácida caia
em solo rico em calcário (CaCO3), escreva uma equação representativa de uma reacção de
um dos ácidos formados na chuva ácida e o calcário.
3. Porque as substâncias químicas nitrogénio e oxigénio não são consideradas gases de efeito
estufa?
4. O vapor de água é um gás indutor do efeito estufa (responsável por cerca de 2/3 do efeito)
e habitualmente esta substância não consta na lista de substância causadoras do efeito
estufa. A que se deve este facto?

CAPÍTULO IV – AQUECIMENTO GLOBAL

Objectivos do capítulo
No final deste capítulo os estudantes deverão ser capazes de:
 Conhecer o historial e desenvolvimento do fenómeno aquecimento global;
 Identificar as causas do aquecimento global;
 Identificar os impactos do aquecimento global nos ecossistemas aquáticos e terrestres e na
saúde humana.

22
4. AQUECIMENTO GLOBAL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Actualmente é muito comum ouvir comentários como: “o clima está mudando”, devido à verões
extremamente quentes, chuvas torrenciais, pluviosidade acima da média em algumas regiões do
mundo, secas pronunciadas, fortes ondas de calor e incêndios e inverno rigoroso.
A média mundial de desastres naturais subiu de 260 em 1990 para 337 em 2003, e o número de
pessoas atingidas por estes desastres cresceu exponencialmente. É certo que a terra tem variações
naturais (geológicas e climáticas) ao longo do tempo, mas as mudanças mais recentes não são
variações naturais pois estão relacionadas com aumento na temperatura da terra - o aquecimento
global.
O tema aquecimento global começou a fazer parte da agenda internacional na década de 1980
(século XX) a partir de pesquisas científicas que indicavam uma relação entre a concentração do
dióxido de carbono na atmosfera com o aumento da temperatura terrestre. Reconhecendo estes
resultados, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para
o Ambiente, estabeleceram em 1988, um Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima
(IPCC). O IPCC tinha como inventariar os gases de efeito estufa e compreender os riscos das
mudanças climáticas induzidas pelo homem, potenciais impactos e propostas para mitigação.
Para tal forma estabelecidos três grupos:
Grupo I:. Avalia resultados de pesquisas científicas sobre as mudanças climáticas;
Grupo II: avalia a vulnerabilidade dos ecossistemas naturais e consequências das mudanças
climáticas e acções para mitigação;
Grupo III: avalia acções para limitar emissões de gases de efeito estufa.
Em 1990 o IPCC publicou o primeiro relatório de avaliação, confirmando que:
 As actividades humanas estão aumentando substancialmente as concentrações de gases de
efeito estufa, tendo como resultado o aquecimento adicional da superfície terrestre, e isto
incitou a negociação dos países, por um acordo global para tratar o problema.
 Previa que no século XXI, um aumento da temperatura média global de 0.3ºC e o nível do
mar de 6cm por década.
Em 1995, o IPCC apresentou o segundo relatório indicando um crescimento significativo das
concentrações dos gases do efeito estufa, essencialmente o CO2, desde a era pré-industrial (1750),
de 280 para 360ppm e a temperatura havia aumentado entre 0.3 e 0.6ºC desde o século XIX.
Em 2001, O IPCC publicou o terceiro relatório, confirmando o aumento da temperatura média na
superfície terrestre em 0.6ºC, sendo a década 90 a mais quente e o ano 1998 o mais quente, desde
de 1861.
Em 2008 O IPCC publicou o quarto relatório, onde reportava as concentrações de gases de efeito
estufa na atmosfera desde 1750 até 2005:

23
Tabela 4. Concentrações de Gases de Efeito Estufa na Atmosfera desde 1750 até 2005

Ano
Gases de efeito estufa 1750 2005
Dióxido de carbono 280 379
(ppm)
Metano (ppb) 715 1774
Óxido nitroso (ppb) 270 319
Fonte: elaborado pelo autor.

4.1 ACORDO INTERNACIONAIS


Após o primeiro relatório do IPCC iniciaram as negociações que culminaram com formulação da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que entrou em vigor em 1994.
Esta Convenção ressalta o princípio das responsabilidades comuns, mais diferenciada entre os
países e restrição ou até proibição de actividades que causam danos irreversíveis ao meio ambiente.
A primeira Conferência foi realizada em Berlim em 1995 e as decisões deste encontro foram: “os
países de menor desenvolvimento estariam isentos, até ano 2000, de qualquer redução na emissão
dos gases de efeito estufa, enquanto que os países desenvolvidos teriam a obrigação de reduzir as
emissões, até aquele ano” (Juras, 2008).
Em 1997 em Kyoto realizou-se a terceira Conferência onde: os países desenvolvidos foram
obrigados a reduzir emissões de gases do efeito estufa, individual ou conjuntamente, no período
de 2008 a 2012, em média 5.2%. Cada país tinha uma cifra diferente do outro. Ospaíses envolvidos
estão apresentadas na tabela abaixo.
Tabela 5. Lista de países emissores de altas quantidades de gases do efeito estufa e sua contribuição na redução ou
aumento destes gases.

Valor das emissões de CO2 Variação


País equivalente (em mil toneladas) percentual
1990 2004
Alemanha 1.198.005 979.442 -18,2
Austrália 506.886 533.495 5,2
Canadá 517.146 838.907 62,2
Estados Unidos 5.198.588 6.294.315 21,1
Federaçào Russa 3.165.135 1.825.709 -42,3
Japão 1.197.474 1.260.296 5,2
Comunidade 4.047.252 3.941.605 -2,6
Europeia
Fonte: Juras (2008).
Para cumprir essas metas foram propostos três mecanismos: implementação conjunta, mecanismo
e desenvolvimento limpo e comércio de emissões.
O Mecanismo de Implementação Conjunta tinha como princípio: “qualquer país (da tabela
acima) pode transferir ou adquirir de outro país unidades de redução de emissões resultantes de
projectos” (Juras, 2008).

24
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e Comércio de emissões tinham como princípio: “Os
países industrializados podem investir em projectos de redução de emissões de dióxido de carbono
nos países não-desenvolvidos e receber créditos por essa redução”. Exemplos destes projectos:
implementação de energia eólica e solar, aproveitamento de biomassa, plantio de árvores em vários
países não-desenvolvidos, como Moçambique.

Gases responsáveis pelo efeito de estufa


O fenómeno que causa o aquecimento global é o efeito estufa (capítulo II) que é devido ao aumento
da concentração de certos gases na atmosfera, entre os quais destacam-se: Dióxido de carbono
(CO2), Metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Outros gases que são considerados como indutores
do efeito estufam são: Hidrofluocarbonos (HFC’s), perfluorcarbonos (PFC’s) e hexafluoreto de
enxofre (SF6).
Estes gases permitem a passagem da luz solar e absorvem o calor. Uma parte da energia que é
reflectida pela superfície terrestre é absorvida por estes gases e outra é emitida novamente para a
superfície da terra, causando um aquecimento adicional da terra e do ar.

4.2 CONSEQUÊNCIAS DO AQUECIMENTO GLOBAL


No quarto relatório publicado em 2008, revelava-se uma série de consequências resultantes do
aumento da temperatura média global do ar e dos oceanos, tais como:

a) Ao nível ecológico
A nível ecológico pode-se considerar duas escalas:
Oceânica: ampliação do derretimento de gelo do Árctico devido as mudanças de temperaturas;
aumento na quantidade de precipitação, salinidade oceânica, nos padrões de vento, eventos
climáticos extremos tais como secas, chuvas intensas, ondas de calor, alta intensidade de ciclones
tropicais e elevação do nível do mar.
Continental: ecossistemas terrestres afectados de seguinte modo: antecipação de eventos da época
de primavera (formação das folhas nas plantas), migração de aves e postura de avos, distribuição
de espécies animais e de plantas; alteração dos ecossistemas marinhos e de água doce, tais como:
distribuição e mudanças de algas e zooplâncton (são organismos aquáticos caracterizados por não
realizar fotossíntese e possuem baixa capacidade de locomoção) nos lagos de alta altitude,
diminuição dos níveis de oxigénio, migrações antecipadas de peixes nos rios e exposição das zonas
litorâneas à erosões.

b) Ao nível da saúde humana


Mortes de pessoas devido à baixa capacidade de adaptação mediante: aumento da subnutrição e
de disfunções e como consequência fraco crescimento e desenvolvimento infantil; doenças por
causa do intenso calor e inundações, aumento de diarreias, frequência de doenças cardio-
respiratórias, alteração da distribuição espacial de vectores de doenças infecciosas.

25
EXERCÍCIOS
1. A maior parte da energia usada hoje no planeta provém da queima de combustíveis
fósseis. O protocolo de Kyoto, acordo internacional que inclui a redução da emissão
de CO2 e de outros gases, demonstra a grande preocupação actual com o meio
ambiente. Explique de forma clara como é que o excesso de CO2 pode influenciar nos
níveis de águas nos oceanos. (Se tiver dúvida consulte no capítulo III, ponto 2 e
capítulo IV, ponto 2).
2. O relatório dos cientistas do IPCC em Bangcoc (Maio/2007) chama a atenção para
os biocombustíveis, derivados de produtos agrícolas como a cana-de-açúcar. Os olhos
estão voltados para a Amazónia, cujo papel no equilíbrio actual do clima da Terra é
fundamental, pois a floresta actua como um gigantesco reservatório de carbono (100
a 400 milhões de toneladas por ano), além de funcionar como um regulador
atmosférico e influenciar no estabelecimento do regime de chuvas em toda a América
do Sul e outros continentes.
a) Por que o uso dos biocombustíveis é apontado por técnicos e especialistas como
alternativa para o controle do efeito estufa?
b) O texto menciona a produção de biocombustível derivado da cana-de-açúcar. No
entanto, relatório do próprio IPCC aponta a actividade agrícola e o uso da terra como
as principais fontes de CO2 na América do Sul, na África e na Ásia. Práticas tradicionais
de manejo aplicadas na agricultura podem intensificar ainda mais a liberação de gás
carbónico. Que prática, tradicionalmente utilizada na cultura da cana-de-açúcar, tem
sido apontada como a principal fonte de libertação de CO2? Explique sua resposta.

3. No âmbito do Protocolo de Kyoto, cada parte visa limitar e reduzir a emissão de gases, a
fim de promover o desenvolvimento sustentável, buscando o aumento da eficiência
energética em sectores relevantes da economia nacional.
“Gases atmosféricos, especialmente o gás carbónico, causam danos no meio ambiente,
pois funcionam como uma capa protectora que, durante a noite, impede a dispersão total,
para o espaço exterior, do calor absorvido pela Terra durante o dia, evitando, assim, o
resfriamento excessivo da Terra (troposfera) e tornando possível a vida no planeta”.
a) A que fenómeno se refere?
b) Propõe 3 medidas mitigadoras deste efeito.

QUADRO SINÓPTICO DA UNIDADE

Tema Conteúdo
Regiões da atmosfera  Compartimentos do ambiente
 Estrutura vertical da atmosfera
 Composição química da atmosfera
 Principais gases N2, O2, Ar e
CO2;
 Química da atmosfera

26
 Reacções fotoquímicas
 Reacções ácido-base)
 Importância destas reacções

Camada de ozono  Localização da camada de ozono


 Variação da concentração do ozono
a estratosfera
Efeitos da poluição  Gases indutores e mecanismo de
atmosférica indução de:
 Smog fotoquímico
 Efeito Estufa
 Chuva ácida
 Efeitos no ambiente e na saúde
Aquecimento global  Acordos feitos para a redução de
emissão de gases de efeito estufa;
 Consequências do aquecimento
global na saúde e nos ecossistemas
terrestres e marinhos;

CAPITULO V– A QUÍMICA DAS ÁGUAS NATURAIS

Objectivos específicos do capítulo


No fim deste capítulo, os estudantes deverão ser capazes de:

 Classificar a tipologia das águas naturais;


 Conhecer as principais propriedades físicas e químicas das águas naturais e a sua
importância;
 Identificar os processos químicos ácido-base e oxidação-redução que ocorrem nas águas
naturais;
 Compreender a importância do sistema carbonato para as águas naturais;

5. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS SOBRE O ESTUDO DA QUÍMICA DA ÁGUA


A água é uma das substâncias mais comuns e das mais importantes na superfície da Terra. Foi nela
que a vida evoluiu e é nela que se processam os principais fenómenos bioquímicos (Larcher,
1995). Cerca de 70% da superfície terrestre é ocupada pela água e todas as formas de vida
existentes na Terra dependem dela. Por exemplo, os tecidos moles das plantas são constituídos em
90 à 95% por água e nos humanos representa cerca de 60% do peso de um indivíduo adulto e 70%
do peso em bebés. Para todos organismos a água não é apenas importante, mas é indispensável.
Ela é o principal componente das células, é um solvente biológico universal, por isso todas as
reacções químicas internas dependem dela. Este líquido é responsável por todos os processos que
ocorrem no corpo humano, tais como: a digestão, circulação, absorção dos nutrientes, eliminação

27
de substâncias tóxicas, função reguladora da temperatura. A água apresenta também funções
quando se junta aos processos de produção agrícola, industrial, como elemento do processo de
arrefecimento do calor produzido pelas máquinas industriais ou centrais de produção de energia
(as centrais termoeléctricas ou as centrais nucleares).
Apesar de fazer parte do dia-a-dia, a quantidade da água disponível sobre a terra é bastante
reduzida.
A história da descoberta da composição química da água pode ser resumida de acordo com o texto
da caixa abaixo.

5.1. PROPRIEDADES FISICAS E QUÍMICAS DA ÁGUA


A água tem propriedades únicas que a distinguem de outras substâncias, que a tornam essencial
para sustentar a vida e que determinam seu comportamento químico no ambiente. Por exemplo, o
facto de a água no seu estado sólido ser menos densa que no estado líquido e a sua densidade
máxima ocorrer aos 4oC significa que os lagos congelam de cima para baixo. Isto quer dizer que
o gelo flutua na água, e isso é fundamental para a vida no planeta, pois nas regiões frias por
exemplo nas regiões polares, os mares congelam apenas na superfície, preservando seu caldeirão
de vida debaixo do gelo. Este facto, também foi vital para manutenção da vida durante as eras
glaciares.
As propriedades únicas da água são determinadas pela estrutura polar (formação de pólos) da
molécula e sua habilidade em formar ligações de hidrogénio (pontes de hidrogénio). As pontes de
hidrogénio explicam a capacidade de ser solvente universal e também o facto de a água entrar em
ebulição e se congelar em temperaturas maiores que outras moléculas semelhantes. Se não fossem
as pontes de hidrogénio a ebulição da água (que ocorre em 100ºC) seria a 90ºC negativos e o
congelamento da água (que ocorre em 0ºC na água doce) seria a 110ºC negativos, não sendo
possível a existência de água na terra. A flutuação do gelo pode ser citada como exemplo, uma vez
que as tais ligações mantêm as moléculas de água mais afastadas no estado sólido do que no estado
líquido, onde há uma ligação de hidrogénio a menos por molécula (geralmente, as substâncias no
estado sólido têm suas moléculas mais próximas tornando a substância mais densa e pesada).
A água possui o maior calor latente de vaporização e fusão, isso significa que é necessário adquirir
ou perder grande quantidade de energia para ela mudar do estado líquido para o gasoso
(vaporização) e do estado gasoso para o líquido (fusão).
A condutividade térmica (capacidade de conduzir calor) e capacidade térmica (armazenar calor)
também são únicas. A água possui o maior calor específico dentre os sólidos e líquidos comuns.
O calor específico é a propriedade que define a quantidade de calor necessária para elevar em 1°C
a temperatura de uma grama de substância. Essa propriedade faz com que a água resista muito às
mudanças de temperatura. Considerando que 71% da superfície do globo é coberta por água, o
calor é armazenado pelos oceanos durante o verão e é libertado de volta para a atmosfera no
inverno. Assim, os oceanos moderam o clima através da redução das diferenças de temperatura
entre as estações do ano.

A salinidade refere-se à quantidade de sais dissolvidos na água do mar, sendo definida pelo peso
total de sais inorgânicos dissolvidos em 1 kg de água. A água do mar de todo o mundo possui em

28
média uma salinidade de 35ppm. Isto significa que para cada litro de água do mar há 35 gramas
de sais dissolvidos (a maior parte é cloreto de sódio, NaCl), embora possam existir variações em
função do ambiente. A água menos salina do planeta é encontrada no Golfo da Finlândia, no Mar
Báltico. O Mar Vermelho, no Oriente Médio, é considerado como o mais salino, com a maior
concentração de sais dissolvidos devido à alta taxa de evaporação na superfície, bem como à pouca
descarga fluvial. A água encontrada nos rios, lagos e lençóis subterrâneos têm uma salinidade
próxima de zero, por oposição à água do mar e à água salobra (pântanos) ou dos estuários, tem
uma salinidade intermédia.
As propriedades da água e os seus efeitos estão resumidos na tabela a seguir.
Tabela 6. Propriedades da Água e Seus Efeitos.

Propriedade Efeito

Excelente solvente Transporte de nutrientes e produtos residuais, ocorrência


de processos biológicos em meio aquoso

Elevada constante dieléctrica Alta solubilidade das substâncias iónicas e sua ionização
em solução

Alta tensão superficial Factor de controlo de processos fisiológicos e fenómenos


superficiais

Transparente para a maior Incolor, permitindo a luz chegar ao fundo dos corpos de
água, para a realização da fotossíntese
fracção do comprimento

de onda visível e a luz

ultravioleta

Densidade máxima como um Flutuação do gelo; circulação vertical restrita em corpos


de água estratificados
líquido à 4ºC

Alto calor de evaporação do Determina a transferência do calor e moléculas de água


entre a atmosfera e corpos de água
que qualquer ouro material

Alto calor latente de fusão do Temperatura estável no ponto de fusão (ou de


congelamento) da água.
que qualquer outro líquido

excepto Amónia

Alto calor específico do Estabilização da temperatura dos organismos regiões


geográficas
que qualquer outro líquido

execepto Amónia

Fonte: Manahan (2001).

29
5.2. FONTES DA ÁGUA

A água encontra-se distribuída de uma forma irregular na superfície terrestre e pode ser captada
em diversas fontes. Cerca de 97% de toda água existente na terra é encontrada nos oceanos e os
restantes 3% representam a água doce. Desta porção de água doce cerca de 77% está retida nos
glaciares (é uma grande e espessa massa de gelo formada em camadas sucessivas de neve
compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior
ao de gelo ou descongelamento). Também conhecidos como geleiras e icebergs (são pedaços de
gelo gigantescos flutuando no mar em que a maior porção fica debaixo da água - um deles causou
o naufrágio do navio Titanic, considerado impossível de se afundar, sobre este assunto lê o texto
da caixa 2) e 22% constituem a água subterrânea. Cerca de 1% da água doce corresponde a água
superficial distribuída da seguinte maneira; 61% corresponde a lagos, 39% distribui-se pela
atmosfera e solos e menos que 0.4% corresponde aos rios. Na natureza a água pode ser encontrada
em todas as fases de agregação ou estados físicos: sólida, líquida e gasosa. A distribuição do
volume da água nos diferentes reservatórios está apresentada na tabela abaixo.

5.3. TEMPO DE PERMANENCIA DA AGUA

A água está em constante movimento entre os diversos ambientes armazenadores da água


superficial, fenómeno conhecido como ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico está ligado ao
movimento e à troca de água nos seus diferentes estados físicos que ocorre na hidrosfera entre os
oceanos, os glaciares (os calotes de gelo), as águas superficiais e a atmosfera. Este movimento da
água deve-se a processos movidos pela energia solar (a ser abordado neste capítulo, ponto 1.5). A
quantidade de água e a sua velocidade de circulação nas diferentes etapas do ciclo hidrológico são
influenciadas por vários factores, por exemplo; a cobertura vegetal, altitude, topografia,
temperatura, tipo de solo e geologia. Esta mobilidade entre os compartimentos hídricos torna difícil
o estabelecimento de suas reservas, provocando desta maneira um efeito de sazonalidade (variação
em diferentes períodos) que dificulta generalidades tanto em termos quantitativos quanto em
termos qualitativos.

5.4. TIPOLOGIA DA ÁGUA

5.4.1. CARACTERÍSTICAS DOS CORPOS DA ÁGUA


As águas naturais podem ser agrupadas em:
Águas Superficiais: são corpos de água que estão em contacto directo com a atmosfera e nelas se
inclui as águas dos lagos, rios, pântanos e oceanos. Quanto à concentração de sais, as águas
superficiais são divididas em duas grandes categorias:

 Água doce - que possui baixo conteúdo de sais.


Exemplo: águas dos rios e lagos;

 Água salgada - possui altas concentrações de sais.

30
Exemplo: águas oceânicas, mares (Ex: Mar Mediterrâneo) lagoas costeiras como por exemplo a
lagoa de Xidenguele na província de Gaza.
Estuários: constitui outro tipo de corpo de água que descarrega águas para o oceano. A sua
principal característica química e biológica é a mistura de águas salgada e doce.
Águas subterrâneas: são aquelas que ocorrem em grandes profundidades a partir de um (1)
Quilómetro.
A principal fonte das águas subterrâneas é a água da chuva que uma parte infiltra-se até atingir
a zona saturada.
A medida que se percorre verticalmente o solo apresenta sob a camada inicial húmida, a camada
denominada por zona de aeração ou zona insaturada. Esta zona é constituída por partículas
de solo cobertas por uma camada de água, mas que entre as partículas existe o espaço
preenchido por ar, daí a designação zona de aeração ou insaturada.
A seguir a zona insaturada está a zona saturada que é caracterizada por preenchimento total dos
espaços entre as partículas por água, nesta zona não existe ar (O2). A água doce da zona
saturada é designada por lençol freático. Em alguns locais, ele ocorre mesmo a superfície do
solo fenómeno que permite a formação de pântanos. Se a água subterrânea está contida em solos
compostos por rochas porosas, como arenito, ou em rochas altamente fracturadas, como
pedregulho ou areia, e se as águas mais profundas estão em contacto com uma camada de argila
ou rochas impermeáveis, então constitui-se um reservatório permanente, uma espécie de lago
subterrâneo chamado aquífero. Alguns aquíferos estão situados sobre várias camadas ou solo
impermeáveis e são designadas por aquíferos confinados ou artesianos (Baird, 2002).
A água subterrânea pode ser extraída para consumo humano mediante perfuração de poços. Na
Europa a água potável extraída dos aquíferos atinge cerca de 100% na Dinamarca, Áustria e
Itália e 2/3 na Alemanha, Suíça e Países Baixos como por exemplo Suécia. Em Moçambique
mais de metade da população é abastecida de água proveniente de poços domésticos individuais
ou comunitários. A extracção de maiores quantidades de água subterrânea gera insegurança no
consumo de água doce no futuro porque tais aquíferos são preenchidos muito lentamente e,
sendo assim, o nível de contaminação das águas subterrâneas está-se tornando um problema
sério em muitos países (Baird, 2002).
As águas subterrâneas têm sido consideradas tradicionalmente como uma forma de água pura
devido ao processo de filtração no seu movimento através do solo (perde turbidez, cor e fica
cada vez mais limpa) e devido ao longo tempo de permanência no subsolo. Elas contêm uma
quantidade muito menor de matéria orgânica e muitos menos organismos causadores de doenças
que as águas dos rios, lagos e lagoas.
Tanto as águas superficiais como subterrâneas são corpos de águas que se apresentam
estratificados em resultado da relação temperatura densidade e isto resulta na formação de
camadas nos corpos de águas. As camadas estão referenciadas no texto da caixa a seguir.

31
5.5. CICLO HIDROLÓGICO

É a circulação fechada da água entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionado


fundamentalmente pela energia solar associada ao movimento de gravidade e ao movimento de
rotação da terra.
Este ciclo está ligado ao movimento e à troca de água nos seus diferentes estados físicos que ocorre
na hidrosfera. A quantidade da água e a velocidade com que ela circula nas diferentes fases do
ciclo hidrológico são influenciadas por diversos factores, por exemplo a cobertura vegetal, altitude,
topografia, temperatura, tipo de solo e geologia.

Fases do ciclo Hidrológico


Evaporação: o ciclo nas águas superficiais (dos lagos, rios e oceanos) onde a radiação solar
favorece que continuamente se forme vapor de água. O vapor de água é menos denso que o ar e
ascende para a atmosfera onde se resfria e se condensa formando nuvens.
Precipitação: quando as partículas de água condensam-se e atingem um tamanho maior que 0,1
mm começa a formar gotas que depois caem por gravidade, resultando em precipitação (como
chuva, granizo ou neve).
Retenção: a água que atinge a superfície do solo, uma parte é retida em lagoas, lagos e
reservatórios de armazenamento, outra retorna a atmosfera por evaporação e outra é retida.
Escoamento Superficial: uma parte da água flui sobre a superfície e se concentra em pequenos
córregos. Este fluxo de água na superfície vai desaguar no mar, onde alguma parte vai evaporar e
outra vai se infiltrar no solo.
Infiltração: água que penetra na superfície do solo (infiltração) através dos poros e fissuras no
solo ou rocha, de enchimento de água do meio poroso.
Evapotranspiração: em quase todas formações geológicas existe uma porção de superfície que
cujos poros não estão saturados com água, chamada zona insaturada, e uma parte inferior saturada
com água, chamada zona saturada. Grande parte da água infiltrada não atinge a zona saturada, mas
é interceptada na zona insaturada. Nesta zona, alguma parte da água retorna a atmosfera
(evaporação) e outra é usada para o processo de transpiração das plantas. Os fenómenos
evaporação e transpiração são difíceis de separá-los, e é por isso que se usa o termo
evapotranspiração para englobar os dois termos.
Escoamento subterrâneo: a água que infiltra-se e por percolação atinge a zona saturada serve
de recarga para as águas subterrâneas. A água subterrânea pode retornar para a atmosfera por
evapotranspiração quando a zona saturada está próxima a superfície do solo.

5.6. ORGANISMOS RESPONSÁVEIS POR FENÓMENOS QUÍMICOS NA


ÁGUA
A condição química dos corpos de água pode ser influenciada por processos biológicos. A
presença de organismos tais como algas, protozoários, fungos, bactérias e vírus, em geral alguns
classificados como organismos autotróficos (que produzem seu próprio alimento ou a energia

32
para o seu metabolismo a partir da fotossíntese) e outros heterotróficos (que não realizam a
fotossíntese) causam a biotransformação de compostos.
Estes organismos são de extrema importância na água devido a:
 A sua capacidade de fixar (transformar) o carbono de compostos inorgânicos em
substâncias orgânicas. Exemplo: algas e bactérias fotossintéticas são organismos
produtores predominantes suportando a cadeia alimentar nos corpos de água.
 Ao seu poder catalizador de reacções químicas na água. Exemplo: bactérias que medeiam
os processos de Oxidação-redução que ocorrem na água;
 A capacidade de degradação da biomassa e mineralização de elementos químicos
essenciais (aqueles que tem funções biológicas específicas) principalmente o nitrogénio e
o fósforo;
 A sua participação nos ciclos biogeoquímicos (transformações químicas de substâncias por
agentes biológicos) dos nutrientes na água como nitrogénio e fósforo.
 São responsáveis pela destruição e detoxificação (transformação de uma substância tóxica
em substância não tóxica, por alteração de forma ou propriedades químicas) de muitos
poluentes xenobióticos que entram na hidrosfera.
Estes microrganismos como catalisadores permitem a ocorrência de muitas reacções químicas
tanto na água como no solo. Muitas reacções químicas importantes na água, particularmente as
que envolvem a matéria orgânica e outros compostos inorgânicos, ocorrem na presença de
bactérias, resultando em depósitos de sedimentos e minerais, que também desempenham um papel
importante no tratamento de águas residuais.
Alguns desses organismos, como certas bactérias vírus e protozoários são patogénicos, podendo,
portanto, provocar doenças e até mesmo ser a causa de epidemias. Outros organismos, como certas
algas são responsáveis pela ocorrência de sabor e odor desagradáveis, ou por distúrbios em filtros
e outras partes do sistema de abastecimento de água.

Algas
As algas são organismos que diferem das plantas por não formarem tecidos nem orgãos ordenados,
ou seja, não apresentam uma estrutura dividida em raiz, caule e folhas. Podem ser unicelulares ou
pluricelulares e são autotróficos e fotossintetizantes. Produzem matéria orgânica (compostos
orgânicos) a partir do dióxido de carbono (CO2) que de uma forma simplificada é descrita pela
seguinte equação de reacção:
CO2+ H2O+ E→{CH2O} + O2(g)
Onde: {CH2O}= representa a unidade de carbohidrato;
E=energia de um quantum de luz

33
Fungos
Os fungos são micro-organismos tais como as leveduras e bolores, bem como os cogumelos. Os
fungos são classificados num reino separado das plantas, animais e bactérias, que é reino Fungi.
Uma grande diferença é o facto de as células dos fungos terem paredes celulares que
contêm quitina (polissacarídeo que constitui as paredes celulares de plantas), ao contrário das
células vegetais, que contêm celulose. Morfologicamente, os fungos apresentam uma variedade de
formas, sendo a forma frequente a estrutura filamentosa.
Os fungos são organismos não fotossintéticos e aeróbios (requerem oxigénio) que geralmente
toleram meios ácidos (pH <7) e meios com altas concentrações de metais pesados.
Os fungos desempenham um papel essencial na decomposição da matéria orgânica nas trocas
e nos ciclos de nutrientes. São importantes na determinação da composição das águas naturais e
residuais, através do processo da decomposição (reacções de quebra) de produtos, por exemplo: a
decomposição da celulose presente na madeira e outros materiais de plantas através da enzima
celulase e resulta no material húmico (com húmus) que pode interagir com iões de hidrogénio e
metais.

Bactérias
São microrganismos unicelulares, embora, várias espécies se apresentem como colónias, formadas
por agrupamentos celulares. As bactérias reproduzem-se (multiplicação) rapidamente. Uma
bactéria dá origem a duas e assim sucessivamente, apresentando assim, as colónias, um
crescimento rápido.
As bactérias obtêm energia e materiais necessários para a sua multiplicação, no processo de
mediação das reacções químicas. As bactérias participam nas reacções de muitos ciclos
biogeoquímicos de muitos elementos químicos na água (exemplo ciclo de nitrogénio abaixo) e no
solo.
As bactérias podem-se agrupar nas duas categorias mencionadas acima, autotróficas e
heterotróficas. As bactérias heterotróficas têm maior ocorrência do que as bactérias autotróficas.
São responsáveis pela degradação da matéria orgânica na água e resíduos orgânicos nos processos
de tratamentos de resíduos.
De acordo com Manahan (2001), as bactérias heterotróficas podem ser: bactérias aeróbias, que
requerem oxigénio molecular e bactérias anaeróbicas que não requerem oxigénio
(principalmente nas águas paradas), em substituição de oxigénio usam ião nitrato (NO-3) e ião
sulfato (SO2-4). Muitas vezes o oxigénio molecular é tóxico para estas bactérias; bactérias
facultativas são aquelas que usam o oxigénio molecular quando está disponível e usam outras
substâncias (NO-3 e SO2-4) quando o oxigénio não está disponível.

5.7. QUIMICA DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO EM ÁGUAS NATURAIS


As reacções de oxidação-redução envolvem a transferência de electrões (e) entre espécies
químicas. A transferência de electrões fornece a base energética para os processos que garantem
vida e o papel crucial que este tipo de reacção joga no ciclo geoquímico dos elementos. De modo

34
a compreender a oxidação-redução das águas naturais faremos uma revisão dos fundamentos
básicos deste processo ao longo do texto e no texto da caixa 3.
Reacção de oxidação: ocorre quando a actividade do electrão é relativamente baixa e a espécie
química (elemento químico) tende a perder electrões.
Exemplo:
A água pode ser oxidada segundo a seguinte reacção:
2H2O→ O2(g)+ 4H+ + 4e- (oxigénio passou de -2 para 0)
Reacção de redução: ocorre quando a actividade de electrões é relativamente alta, as espécies
químicas (elemento químico) tendem a receber electrões e são reduzidos.
O oxigénio molecular (O2) é o agente oxidante mais importante em águas naturais e pode ser
reduzido do estado de oxidação zero até o estado de oxidação -2 (isto é, o número de oxidação 0
para -2) quando forma H2O ou o ião hidroxilo (OH-).
Exemplo: A semi-reacção que ocorre:
 Em solução ácida é: O2+4H+ +4e-2H2O
 Em solução básica (ou alcalina) é: O2+2H2O +4e- 4OH-
Caixa 4. Potencial hidrogeniónico
pH (potencial hidrogeniónico): refere-se a actividade de iões hidrogénio num
determinado meio;
Meio ácido: é aqule que possui um pH <7;
Meio neutro: é aquele que possui pH=7;
Meio básico ou alcalino: é aquele que possui um pH>7
Reacção de oxidação: é aquele que uma determinada espécie química perde electrões;
Reacção de redução: é aquele que uma determinada espécie química ganha electrões;
Fonte: Manahan (2001)

A concentração de oxigénio dissolvido (OD) na água é baixa e, por conseguinte, precária do ponto
de vista ecológico. Essa concentração de um corpo deágua qualquer é controlada por vários
factores, sendo um deles a solubilidade do oxigénio em água. A solubilidade do OD na água e
noutras moléculas de gases apolares com interacção inter-molecular fraca com águaé pequena
devido à característica polar da molécula de água. A presença do O2 na água se deve, em parte, à
sua dissolução do ar atmosférico para a água pela reacção:

O2(gasoso) O2(aquoso), cuja constante de equilíbrio apropriada é a constante da Lei de Henry (KH).
Outra fonte importante de oxigénio para água é a fotossíntese.

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A constante da Lei de Henry KH para o oxigénio a 25oC tem o seguinte valor 1,3 x 10-3 mol L-1
atm-1, isto é:
KH = (O2 (aq))/PO2 = 1,3 x10-3 mol L-1 atm-1:
Dado que a pressão parcial de oxigénio em ar seco é 21 atm, deduz-se que a solubilidade do
oxigénio é 8.7 miligramas por litro de água ou a sua concentração é igual a 8.7 ppm. Na tabela
abaixo estão apresentadas as constantes de solubilidade de alguns gases.
Tabela 4. Solubilidade de Alguns Gases em Água e Constante da Lei de Henry.
Gás Solubilidade / KH / mg L–1 mol L–1 atm–1

O2 8,11 1,29 x 10–3

N2 13,4 6,21 x 10–4

CH4 24 1,34 x 10–3

a
Valores para pressão atmosférica de 1atm e temperatura de 25 °C. Fonte: Adaptado de Connell(1997)

Como a solubilidade dos gases aumenta quando a temperatura diminui, a quantidade de oxigénio
que se dissolve a 0oC (14,7 mg/L ou ppm) é maior que a quantidade dissolvida a 35oC (7,0 ppm).
Pode-se considerar que águas naturais aquecidas artificialmente experimentam a poluição
térmica porque contêm menos oxigénio. Por exemplo, os peixes necessitam de água que
contenha pelo menos 5ppm de oxigénio dissolvido para manter-se vivos.

Em química ambiental, para caracterizar a extensão ou tendência que as águas naturais têm de
ser redutoras ou oxidantes usa-se o conceito potencial eléctrodo (pE). Potencial eléctrodo é o
logaritmo da base 10 da concentração efectiva (ou actividade) de electrões. O pE é calculado
pela seguinte fórmula:
pE = pEi − log10 𝑎𝑒
Onde pE=potencial eléctrodo
pEi= potencial eléctrodo inicial
ae=actividade de electrões

Quando o pE é negativo, a água é de natureza redutora, isto é, existem muitos electrões na


água provenientes das substâncias nela dissolvidas. Quando o pE é positivo, a água é de
natureza oxidante, isto é, nela existem poucos electrões e as substâncias dissolvidas na água são
agentes oxidantes.

Em águas naturais ocorrem várias reacções envolvendo matéria orgânica e compostos químicos
de enxofre (S), nitrogénio (N) e fósforo (P) que estão dissolvidos.

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1. Matéria orgânica
a. Decomposição anaeróbica da matéria orgânica
A decomposição anaeróbica da matéria orgânica refere-se aos processos de transformação
de carbono presente na matéria orgânica (CH2O “glicose”) dissolvida na água em carbono
inorgânico (CO2) sob condições anóxicas ou anaeróbicas (condições redutoras) por
bactérias anaeróbicas, processo designado por respiração anaeróbica. Neste processo, uma
parte de carbono é oxidado (para o CO2) e outra é reduzida (para CH4), segundo a equação
de reacção abaixo.
bactérias
2{CH2O} CH4(insolúvel)+CO2;
Este é um exemplo de reacção de fermentação que é definida como aquela em que o
oxidante e o redutor são materiais orgânicos. O metano libertado desta reacção é insolúvel.
Por isso este forma bolhas que podem ser observadas na superfície da água. As condições
anaeróbicas ocorrem na natureza em águas estagnadas como em pântanos, em partes
inferiores nos sedimentos de lagos e rios profundos ou mesmo em lagos mares e oceanos.
Na Índia os moradores das zonas rurais usam digestores para transformar os excrementos
(fezes) dos animais em gás metano que é usado como combustível para iluminação, para
cozinhar e aquecer a água e o ambiente.

b. Decomposição aeróbia de matéria orgânica


Enquanto as bactérias heterotróficas anaeróbicas realizam reacções de decomposição da
matéria orgânica na ausência de oxigénio (presença de NO- 3 ou SO-4 como oxidantes), as
bactérias aeróbias decompõem a matéria orgânica na presença de oxigénio (respiração
aeróbia) originando CO2 e H2O segundo a equação de reacção abaixo.
bactérias
{CH2O} + O2(g) CO2 + H2O

c. Fotossíntese
As algas e bactérias autotróficas fixam o carbono inorgânico presente na água. Estes
organismos transformam o carbono que está na forma de CO2 para matéria orgânica
(CH2O), processo que é designado por fotossíntese.
luz
CO2 + H2O {CH2O}+ O2(g)

2. Compostos de enxofre
Algumas reacções que ocorrem nas águas naturais envolvem interconversão de espécies de
enxofre. As reacções mediadas por microrganismos e que fazem parte do ciclo de enxofre
nas águas naturais são:
a. Redução do sulfato
Esta reacção é catalisada por bactéria Disulfovibrio, que oxida a matéria orgânica
{CH2O} na presença do sulfato (SO2-4) e é convertido em ácido sulfídrico (H2S),
segundo a equação da reacção:

37
SO2-4 + 2{CH2O} + 2H+→ H2S + 2CO2 + 2H2O

O H2S é um produto tóxico e causa sérios problemas na qualidade da água.

b. Oxidação do ácido sulfídrico


O ácido sulfídrico resultante da reacção anterior é oxidado por acção de bactérias do
género Thiobacillus e forma o ião sulfato (SO2-4), segundo a equação da reacção abaixo:
2H2S + 4O2 → 4H+ + 2SO2-4
Algumas bactérias que catalisam esta reacção, como Thiobacillus thiooxidans são
tolerantes ao ácido à um certo pH e estas bactérias podem prosperar (viver e
reproduzirem-se) em águas ácidas provenientes de minas que é muito mau para o
ambiente.
c. Degradação de compostos orgânicos de enxofre
Quando as substâncias orgânicas são decompostas por via anaeróbica, são emitidos
sulfeto de hidrogénio (H2S) e outros gases na forma reduzida como metanotiol (CH3SH)
e sulfeto de demitila (dimetilsulfeto) (CH3SCH3). Estes compostos originam odor forte e
desagradável nos pântanos.
3. Compostos de nitrogénio
Em algumas águas naturais, o nitrogénio ocorre em forma inorgânica e orgânica. As formas
mais reduzidas de nitrogénio são amónia (NH3) e o ião amónio (NH+4); a forma mais
oxidada é o ião nitrato (NO-3). A tabela abaixo mostra de forma crescente os estados comuns
de oxidação do nitrogénio.

Tabela 5. Estados Comuns de Oxidação do Nitrogénio.

Estados de oxidação -3 0 +1 +2 +3 +4 +5
NO-2
Soluções aquosas e sais NH+4 NO3

NH3

Fase gasosa NH3 N3 N2O NO NO2

Algumas reacções químicas mediadas por microrganismos no meio aquático são aquelas que
envolvem compostos de nitrogénio. O ciclo de nitrogénio descreve os processos através dos
quais o nitrogénio circula entre a atmosfera, matéria orgânica e compostos inorgânicos. As
principais reacções mediadas por microrganismos nas águas naturais são:
a. Fixação do nitrogénio
É a ligação do nitrogénio atmosférico para uma forma combinada, como é ilustrada na
equação de reacção abaixo.

38
CH2O + N2+3H2O+ 4H+  3CO2+ 4NH+4
A fixação biológica do nitrogénio é um processo bioquímico chave no ambiente e é
essencial para o crescimento das plantas na ausência de fertilizantes (substâncias
químicas usadas na agricultura para a fertilização dos solos) sintéticos.

b. Nitrificação
É a reacção de conversão do N+3 para N+5, processo que ocorre por acção de bactérias,
Nitrosomonas e Nitrobacter através da equação de reacção.
2O2 + NH+4  NO-4 + 2H+ +H2O
c. Redução do nitrato
O nitrogénio dos compostos químicos é reduzido por acção das bactérias anaeróbicas
(ausência de oxigénio) para estado mais baixo de oxidação:
NO-3 + {CH2O}-- NO-2 + H2O + CO2
2NO-2 + 3{CH2O} + 4H+  2NH+4 + 3CO2 + H2O
d. Denitrificação
Este mecanismo serve para retornar o nitrogénio fixado (nitrogénio em compostos
orgânicos e inorgânicos) para a atmosfera (nitrogénio molecular N2).
4NO-3 + 5{CH2O} + 4H+  2N2 + 5CO2 + 7H2O
Esta reacção é muito usada nos processos de tratamento de água com finalidade de
remover compostos nitrogenados. Na atmosfera o nitrogénio forma tetróxido de
nitrogénio (N2O) e dióxido de nitrogénio (NO).

Recentemente, o excesso de nitratos na água potável constitui um risco para a saúde das crianças
e recém-nascidos. Por exemplo, em beberrões, as bactérias reduzem o nitrato à nitrito e este liga-
se a hemoglobina (proteína responsável pelo transporte de gases respiratórios O2 e CO2)
resultando numa hemoglobina não funcional (metemoglobina) e estas crianças tem insuficiência
respiratória.
4. Compostos de fósforo
O fósforo é um dos constituintes do ADN (Ácido Desoxirribonucleico) celular. O fósforo
orgânico ocorre nos insecticidas organofosforados (ver na Unidade I, capítulo III). As espécies
de fósforo inorgânico solúveis são ião fosfórico (H2PO-4) e ião fosforoso (HPO2-4).
O fósforo é um elemento limitante nas águas, particularmente para o crescimento das algas. A
degradação de compostos de fósforo é importante no ambiente por duas razões:
 No processo de mineralização) liberta-se fósforo inorgânico a partir da forma orgânica.
Este processo fornece nutrientes ortofosfatos para o crescimento de plantas e algas.
 A biodegradação desactiva compostos organofosfatos altamente tóxicos; exemplo de
insecticidas organofosfatos.

39
5.8. QUMICA ACIDO-BASE EM AGUAS NATURAIS
As águas naturais contêm quantidades significativas de dióxido de carbono dissolvido, iões de
cálcio e de magnésio.
Várias características são notadas nas águas naturais, tais como solubilidade dos gases que é
importante para a manutenção de organismos aquáticos como já foi referido e da qualidade da
água, alcalinidade da água que é a habilidade dos solutos na água neutralizar ácidos fortes e dureza
da água devido a presença de iões de cálcio (Ca2+) e menor quantidade dos iões de magnésio
(Mg2+).

Sistema CO2/Carbonato
A química ácido-base de sistemas aquáticos naturais resulta da interacção do ião carbonato (CO2-
3), uma base moderadamente forte com ácido carbónico (H2CO3), um ácido fraco.
Normalmente existe um equilíbrio entre o gás CO2 e o H2CO3, representada pela seguinte equação
de reacção:
CO2 (g) + H2O(aq) H2CO3(aq)
Em meio aquoso, o ácido carbónico formado está em equilíbrio com ião bicarbonato (HCO-3) e
ião hidrogénio (H+), segundo a reacção abaixo:
H2CO3 H+ + HCO-3
O ião bicarbonato é predominante nas rochas calcárias que contém alto teor de carbonato de cálcio
(CaCO3) e quando em contacto com a água, uma pequena parte deste composto fica dissolvido
formando o ião carbonato (CO2-3).
CaCO3 (s) Ca2+ + CO2-3
Na água o ião carbonato actua como base produzindo ião bicarbonato e grupo hidroxilo (OH-).
CO2-3 + H2O HCO-3 + OH-
Em águas naturais, essas reacções ocorrem em três fases (ar, água e rochas).

A água do mar possui uma alta concentração de iões do que a água doce, devido a presença de
altos teores de sais nela dissolvidos, entre os quais o sódio (Na), cloro (Cl), magnésio (Mg) e ião
sulfato (SO42+) se destacam.
As concentrações de catiões (iões positivos) e aniões (iões negativos) na água do mar são
diferentes, originando seguintes características: a alcalinidade e a dureza da água.
A alcalinidade é a medida da capacidade que a água tem de se comportar como uma base nas
reacções com protões ou seja é a capacidade que a água tem de receber iões de hidrogénio (H+).
É a forma de expressar a quantidade de iões bicarbonato presentes na água ou a capacidade de

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resistir às mudanças de pH. Por exemplo, a capacidade de um corpo de água resistir à acidificação
quando recebe uma carga de chuva ácida;
A alcalinidade é importante porque permite que a água suporte o crescimento de algas e outros
organismos aquáticos.
A dureza da água é a propriedade que caracteriza a presença de metais alcalinos terrosos que
resultam da dissolução de minerais do solo e das rochas ou de resíduos industriais;
Portanto, a dureza da água representa a concentração total dos iões de cálcio (Ca2+) e de magnésio
(Mg2+) na água e é expressa em miligrama por litro (mg/L).
Dureza = [Ca2+] +[Mg2+]
Quando a concentração desses sais é alta diz-se que a água é dura e quando é baixa a água é mole;

Determinação experimental da dureza da água


Experimentalmente, a dureza da água pode ser determinada por titulação de uma amostra de água
com ácido Etilenodiaminotetracético (EDTA). O EDTA tem alta capacidade de solubilizar a
maioria dos iões metálicos, funcionando como quelante, isto é, que forma complexos muito
estáveis com iões metálicos. Os iões metálicos são complexados pelo EDTA através dos dois
nitrogénios e oxigénios carregados e forma um quelato.
A água quanto à dureza pode ser:

 Mole quando a concentração destes iões é até 50mg/L;


 Moderadamente dura com concentração entre 50 a 150 mg/L;
 Dura com concentração entre 150 a 300 mg/L e;
 Muito dura: acima de 300 mg/L
Águas subterrâneas
A água subterrânea encontra-se nos pôros, ou fraturas das rochas formando “grandes
reservatórios” denominados aquíferos.
A maior parte da água doce disponível na terra encontra-se no subsolo, e metade da mesma está
armazenada em profundidades que excedem 1 km (quilómetro) designadas por águas subterrâneas.
As águas subterrâneas apresentam vantagens em relação às águas superficiais, devido à sua relativa
estabilidade química e biológica.
As águas subterrâneas atingem a superfície e entra em contacto com oxigénio. O alto nível de ferro
existente nestas águas é oxidado por bactérias tais como: Ferrobacillus, Gallionela e algumas
formas de Sphaerotilus que utilizam compostos de ferro para obtenção de energia para processos
metabólicos. O ião de ferro II (Fe2+) solúvel é oxidado para ião de ferro III (Fe3+) insolúvel,
formando um depósito de hidróxido de ferro, Fe (OH)3.

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4Fe2+ +O2 + 2H2O + 8OH-→ 4Fe (OH)3(s)

Águas ácidas das minas


Uma das consequências da acção bacteriana nos compostos metálicos é a drenagem ácida de
minas que é um problema comum de poluição das águas subterrâneas. Sobre este assunto lê o
capítulo que se segue.

EXERCÍCIOS
1. Que formas químicas o nitrogénio pode apresentar na superfície de um lago (ambiente
aeróbio) e no fundo do lago (ambiente anaeróbico)?
2. Que forma química de nitrogénio pode ser absorvida pelas plantas?
3. Qual é a importância do sistema carbonato nas águas naturais?
4. Com base na tabela 3 (Tempo de permanência da água no ciclo hidrológico), compara como
varia o tempo de residência da água superficial com a água subterrânea e glaciares. Indique
as principais causas dessa diferença.
5. Qual é o significado dos termos “água subterrânea” e “aquífero”? Como difere a zona saturada
da zona insaturada do solo?

CAPITULO VI – CONTAMINAÇÀO DAS ÁGUAS

Objectivos específicos do capítulo


No fim deste capítulo, os estudantes deverão ser capazes de:
 Identificar as fontes de contaminação de águas superficiais e subterrâneas;
 Descrever os fenómenos de contaminação das águas superficiais e subterrâneas;

6. POLUIÇÃO DAS ÁGUAS NATURAIS

A qualidade da água é elemento central de todos os papéis que este recurso desempenha. Da beleza
dos cursos de agua, rios, mares e lagos naturais repletos de vida animal e vegetal, as actividades
económicas vitais (industrial, comercial (por exemplo: das aguas minerais) e turística) que a água
limpa dos rios, dos lagos e lagoas proporcionam até o papel fundamental para a saúde que a água
potável segura desempenha – a água de boa qualidade e de importância fundamental para toda a
cadeia vital e para meio ambiente.

A qualidade da água é tão importante quanto a quantidade, quando se trata de responder as


necessidades básicas dos seres humanos e do meio ambiente. Por estar em todo o lado e ser

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facilmente acessível, usamos a água sem lhe dar o devido valor, tornando-a num dos recursos
naturais mais ameaçados: gastamos e poluímos água, e sendo um recurso finito poderemos deixar
de a tá-la disponível para suprir as nossas necessidades, e isto pode afectar ainda saúde humana e
os ecossistemas aquáticos.
As águas naturais estão sujeitas à ameaças por agentes químicos, biológicos e físicos. Esta
condição designa-se por poluição. A palavra poluição provém da grego Poluere que significa
“sujar”.
Existem muitas fontes possíveis de contaminação química das águas tais como: resíduos das
indústrias de processamento de químicos, escoamento de pesticidas a partir de campos agrícolas.
A ameaça para águas subterrâneas pode ser causada por depósito de resíduos químicos em aterros
sanitários, lagoas de armazenamento e tratamentos de águas residuais.
O conhecimento das propriedades da água, reacções mediadas por microrganismos, interacção
água-sedimento, transporte dos agentes de poluição num sistema aquático e efeitos destes
poluentes permitem monitorar a qualidade da água.
A poluição pode ser definida de várias formas, tais como:
De acordo com Valle (2004) a poluição “é toda acção que resulta na descarga de materiais
orgânicos e inorgânicos ou excedentes de energia no ambiente (na água, no solo e no ar),
causando um desequilíbrio de curto ou longo prazo, no homem e no meio ambiente” Para
Medeiros “é qualquer alteração das características da água que afecte as diversas formas de vida
da biosfera, podendo ser de natureza física, química e biológica e é consequência da introdução
ou do aumento de algum elemento ou material que leve a tais modificações”..
O poluente “é o agente causador de poluição ou é a entidade química, física ou biológica
responsável pelo desiquilíbrio no homem e no ambiental” Valle (2004).
Os poluentes podem ter dois tipos de fontes:
Pontual ou fixa: cuja origem do poluente é um ponto específico e conhecido ao longo de um
curso de água. Exemplo: pontos de lançamento de esgotos colectados em áreas urbanas, descarga
de resíduos resultantes das indústrias e das minas.
Não pontual ou difusa: quando a origem do poluente é desconhecida ou não identificável, isto é,
a descarga do poluente é feita em vários pontos do curso de água. Estes tipos de poluentes provêm
de actividades que depositam poluentes de forma dispersa, podendo chegar aos corpos de água de
forma intermitente, associado aos períodos de chuvas.

A poluição pode ser:


Poluição natural - causada por fenómenos naturais, como a erupção de um vulcão;
Poluição antropogénica - causada pelas actividades humanas interferindo nos ecossistemas e na
emissão de gases para a atmosfera.
Quanto ao agente poluente, a poluição pode ser:

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Biológica: quando os agentes poluentes são seres vivos, tais como: bactérias, plantas invasivas,
algas e fungos;
Química: quando os agentes poluentes são substâncias químicas orgânicas (pesticidas, petróleos)
ou inorgânicas (metais pesados);
Térmica: quando provem de águas aquecidas através dos processos industriais ou usinas
nucleares.

6.1. DETERMINANTES BASICOS DA POLUIÇÄO

Os determinantes da poluição/contaminação das águas são:


 Introdução de substâncias artificiais através de resíduos das indústrias de processamento
de químicos, escoamento de pesticidas a partir de campos agrícolas.
 Introdução de substâncias naturais num determinado meio, como sedimentos em suspensão
nos sistemas aquáticos ocupando um volume útil e servindo como substrato para
microrganismos.
Alteração na proporção ou na s características dos elementos constituintes do próprio meio.
Exemplo: diminuição de oxigénio dissolvido devido a presença da matéria orgânica.
A ameaça para águas subterrâneas é resultante de depósito de resíduos químicos em aterros
sanitários, lagoas de armazenamento e tratamentos de águas residuais.

6.1.1. PRINCIPAIS PROCESSOS POLUIDORES DA ÁGUA


Tabela 6. Principais Processos Poluidores das Águas.
Processos Definição

Introdução na água de organismos potencialmente patogénicos ou


substâncias tóxicas na água que são prejudiciais à saúde e a
Contaminação espécies da vida aquática (exemplo: microrganismos e metais
pesados).

Acúmulo de substâncias minerais (areia e argila) ou orgânicas


(lodo) num corpo de água, o que provoca a redução de sua
Assoreamento profundidade e de seu volume útil.

Fertilização excessiva da água por recebimento de nutrientes


(nitrogénio e fósforo) causando o crescimento descontrolado de
Eutroficação algas e plantas aquáticas.

Abaixamento do pH, como decorrência da chuva ácida (chuva


com elevada concentração de iões de Hidrogénio, H+ pela
presença de substância química s como dióxido de enxofre,
óxidos de nitrogénio, amónia e dióxido de carbono), que contribui
Acidificação para a degradação da vegetação e da vida aquática.

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6.1.2. CONTAMINAÇÃO TAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS
As águas superficiais podem ser poluídas por poluentes químicos e biológicos.
A tabela abaixo mostra tipos de poluentes e os efeitos que causa no homem e no ambiente.
Tabela 7. Tipos de poluentes e os efeitos na saúde humana e ambiental.

Classe do poluente Efeito

Elementos traço Toxicidade, afecta a saúde humana e biota


aquática

Metais pesados Toxicidade, afecta a saúde humana e biota


aquática

Metais ligados a compostos orgânicos Transporte de metais

Radionuclideos Toxicidade

Compostos inorgânicos Toxicidade

Pesticidas Toxicidade, afecta a biota aquática

Patogénicos Afecta a saúde animal

Sedimento Qualidade da agua

Bifenil policlorado Possíveis efeitos biológicos

Fonte: Manahan (2001)

6.1.3. CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS


O fenómeno comum de poluição de águas subterrâneas é a drenagem ácida de minas. A água ácida
de minas resulta da presença do ácido sulfúrico que é produzido através de oxidação de pirite
(FeS2). Este processo consiste numa cadeia de reacções mediadas por bactérias.
A primeira etapa consiste na formação do ião ferroso (Fe2+)
2FeS2(s) + 2H2O + 7O2 → 4H+ + 4SO42- + 2Fe2+
A etapa seguinte é a oxidação do ião ferroso para ião férrico (Fe3+).
Fe2+ + O2 +4H+ → 4Fe3+ + 2H2O
Esta reacção é lenta em valores de pH baixo, característico das águas ácida de minas, mas em
pH<3 a reacção é acelerada por bactéria Thiobacillus ferrooxidans e a pH entre 3.5 a 4.5 a reacção
é mediada por bactérias do grupo Metallogenium. Outras bactérias envolvidas na formação de
águas ácidas de minas são Thiobacillus thiooxidans e Ferrobacillus ferrooxidans.
O ião Férrico dissolve pirite em presença da água:

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FeS2(s) + 14Fe3+ + 8H2O 15Fe2+ + 2SO42- + 16H+
Num pH>3, o ião Fe3+ precipita-se na forma de hidróxido de ferro (III), Fe(OH)3 sólido:
Fe3+ + 3H2O Fe(OH)3(S) + 3H+
O Fe(OH)3 é um composto amorfo e semi-gelatinoso que é depositado nas águas ácidas de
minas.
Portanto, o componente que causa danos das águas ácidas de minas é o ácido sulfúrico (H2SO4)
devido a sua toxicidade e efeitos deletérios. A presença deste ácido reduz o pH até abaixo de 3
(pH<3), condição que propicia morte de organismos aquáticos excepto as bactérias que participam
neste processo pois são tolerantes aos meios ácidos.

6.2.EFEITOS DOS POLUENTES NA ÁGUAS NATURAIS


Tanto as águas superficiais como as águas subterrâneas sofrem seguintes efeitos:
Eutroficação
A eutroficação ou eutrofização é um fenómeno causado pelo excesso de nutrientes (fósforo P,
nitrogénio N e potássio K) num corpo de água, levando à proliferação excessiva de algas.
Quando estas decompõem-se levam a deterioração da qualidade do corpo de água.
Hipoxia
Hipoxia refere-se a baixa concentração de oxigénio dissolvido no presente capítulo na água. O
aumento de microrganismos consumidores de oxigénio pode levar a um fenómeno de baixa
concentração de oxigénio que ocorre em ambientes aquáticos causando danos nos organismos
aquáticos presentes no ecossistema.
Acidez
É a capacidade que a água tem de neutralizar os iões OH-. A acidez também resulta da presença
de ácidos fracos tais como: H2PO4- e H2S. Nas águas naturais, o dióxido de enxofre resultante de
resíduos industriais, sofre oxidação produzindo o ácido sulfúrico que depois entra nas águas
causando acidez das águas.
Demanda de Oxigénio
A substância habitualmente oxidada pelo oxigénio e a matéria orgânica de origem biológica
(proveniente de restos de plantas mortas e restos de animais). A capacidade da matéria orgânica
presente numa amostra de água natural consumir o oxigénio é designada de demanda
bioquímica de oxigénio (DBO).
Este parâmetro e usado para determinar a quantidade de oxigénio utilizado por microrganismos
num sistema aquático durante um determinado período de tempo. Ela e avaliada
experimentalmente determinando as concentrações de oxigénio dissolvido antes e após um
período durante o qual uma amostra de água e selada e mantida no escuro a temperatura
constante, normalmente a 20 ou 25oC.
Uma determinação mais rápida da demanda de oxigénio pode ser feita por meio de avaliação da
demanda química de oxigénio (DQO). Por meio de titulação (usando o ião dicromato (Cr2O72-)

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pode-se facilmente determinar a DQO. Contudo, utilizando o ião dicromato torna-se difícil a
interpretação dos resultados derivado do facto do que o dicromato oxida substâncias que não
seriam oxidadas pelo O2 na determinação de DBO. Os valores de DQO tendem sempre a serem
maiores que os valores de DBO.

6.2.1. IMPACTOS RESULTANTES DA ALTERAÇÃO NOS SISTEMAS AQUÁTICOS


Os impactos resultantes da alteração do equilíbrio natural nos sistemas aquáticos são:
 Redução da quantidade da água, resultando em baixa disponibilidade da água potável e no
saneamento;
 Aumento de insectos vectores (que transporta microrganismos) de doenças, por um lado,
devido aos cheiros nauseabundos resultantes da interacção de matéria orgânica e inorgânica
e, por outro lado devido às condições adequadas para o desenvolvimento destes vectores.
Exemplo: mosquito;
 Aumento de doenças relacionadas com água, tais como: malária, cólera, febre-amarela,
dengue leshimaniase, etc.
Técnicas de controlo da poluição da água
Fazem parte das técnicas de controlo da poluição da água, as seguintes estratégias:
 Implantação do sistema de colecta e tratamento de esgotos sanitários e industriais;
 Controlo de focos de erosão (drenagem pluvial);
 Recuperação dos sistemas aquáticos com vista ao retorno do seu equilíbrio natural.
A primeira estratégia será discutida com ênfase no capítulo a seguir.
EXERCÌCIOS
1. Um rio nasce numa região não poluída, atravessa uma cidade com actividades
industriais, onde recebe esgoto e outros efluentes, e desemboca no mar após percorrer regiões não
poluidoras.
Qual dos gráficos a seguir mostra o que acontece com a concentração de oxigénio (O2) dissolvido
em água em função da distância percorrida desde a nascente?
Considere que o teor de oxigénio no ar e a temperatura sejam praticamente constantes em todo o
percurso.
2. A aplicação de cloro e seus compostos no tratamento de água para abastecimento público
(consumo e uso doméstico) tem suscitado grande preocupação para as autoridades que lidam com
este processo.
a. Refira-se do fenómeno que constitui preocupação sobre a aplicação do cloro e dos seus
compostos.
b. Propõe três (3) medidas para prevenir que este fenómeno ocorra durante o processo de
tratamento de águas.

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7. BIBLIOGRAFIA
1. ABREU, M. L. (2005). Ocorrência de chuva ácida em unidades de conservação da natureza
urbanas – estudo de caso no parque estadual da pedra branca – Rio de Janeiro. Dissertação
de Mestrado, Brazil, 140páginas.
2. BAIRD, C. (2002). Química Ambiental. Porto Alegre: Bookman University of California
Museum of Paleontology. (2011). Thomas Malthus (1766-1834).
3. CARAPETO, C. (2004). Fundamento de Ecologia. s/e. Editora Universidade Aberta, Liboa.

4. MANAHAN, S. E. (2001). Fundamentals of Environmental Chemistry. CRC Press LLC.

5. JURAS, I.A.G.M. (2008). Aquecimento global e mudanças climáticas: uma introdução.


Câmara dos Deputados, Edições Câmara. Brasil.
6. NASA Education. (2011). About NASA’s EDUCATION PROGRAM.
7. [http://www.nasa.gov/offices/education/about/index.html], acessado em 12 de Junho de
2012. Anónimo (2012). Structure of the Earth.
8. [http://scign.jpl.nasa.gov/learn/plate1.htm] Acesso: 04/02/2011 às 12:15.
9. Feltre, R. (2003). Química Geral 1. Editora COC-Emprendimentos Culturais, São Paulo.

SUGESTÕES PARA LEITURA COMPLEMENTAR


1. MEDEIROS, S. B. De (2005). Química Ambiental. 3a edição.

Sites online:
2. http://profs.ccems.pt/PauloPortugal/CFQ/Atmosfera/Composio_Atmosfera.html,
acessado em 11 de Junho de 2012
3. http://educacao.uol.com.br/geografia/aquecimento-global---causas-mudancas-climaticas-
afetam-vida-no-planeta.jhtm
4. http://www.mundoquente.com.br/

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