O art.º 20.º do CF. define casamento como sendo “a união
voluntária entre um homem e uma mulher, formalizada nos termos da lei, com objectivo de estabelecer uma plena comunhão de vida”. Temos aqui, neste conceito, vários elementos essenciais, destacamos os seguintes:
- o elemento subjectivo da voluntariedade por parte dos nubentes,
homem e mulher;
- a necessidade da sua formalização, segundo a forma estabelecida
na lei, que é o que o distingue da União de Facto;
- afinalidade legal do casamento que é o estabelecimento da plena
comunhão de vida.
PROMESSA DE CASAMENTO
Normalmente, o casamento tem preliminares, é antecedido por
uma promessa recíproca de casamento por parte dos noivos. Hoje, nos países desenvolvidos a importância do noivado diminuiu, embora na sociedade tradicional angolana a promessa de casamento tenha ainda uma acentuada importância sobretudo no que respeita às entregas feitas pelo noivo à família da noiva, o conhecido alembamento.
Em geral, os diversos sistemas jurídicos não consideram como
relevante a promessa de casamento sob o ponto de vista de obrigar a contrair casamento.
A promessa de casamento é um acto de importância social,
realizado com seriedade entre os noivos e conhecido entre os seus familiares e meio social.
O C. Família vem confirmar no seu n.º 1 do art.º 22.º a ineficácia
jurídica da promessa ou seja esta não dá direito a exigir a celebração do casamento. Trata-se de uma obrigação natural que não é juridicamente exigível. É uma obrigação fundada em meros deveres de justiça e que não é exigível juridicamente.
Já quanto ao direito de indemnização, n.º 2 do art.º 22.º do CF.,
ele é exigível mas só nos termos restritos deste artigo. É necessária uma ruptura injustificada por parte de um dos nubentes, há que analisar esta ruptura de forma objectiva.
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A promessa de casamento vem constituir também elemento de
facto preponderante para a decisão judicial a tomar em acção para o estabelecimento da filiação.
NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO
Segundo o art.º 20.º do CF., o casamento é caracterizado como
sendo um acto ou negócio jurídico solene, mediante o qual um homem e uma mulher aceitam voluntária e reciprocamente estabelecer convivência de carácter duradouro.
Estão subjacentes duas vertentes a considerar:
- O casamento como acto, a cerimónia que se celebra – como acto
em si.
- O casamento como estado familiar (que é um vínculo jurídico
composto por um conjunto complexo de direitos e de deveres) em que os nubentes se vão encontrar após a cerimónia; é consequência da cerimónia – como estado.
Na doutrina civilista predomina a concepção de casamento como
contrato, segundo o prof. Antunes VARELA, casamento é um contrato solene em que intervêm:
Duas declarações de vontade que são contrapostas mas são
harmonizadas, Caracterizado pela diversidade de sexos que têm como conteúdo e fim, A plena comunhão de vida.
O nosso Código de família quis deixar de reconhecer o casamento
como um Contrato para passar a reconhecê-lo como União; embora reconheça nele um negócio jurídico em que a declaração da vontade dos nubentes vai produzir unicamente os efeitos jurídicos previstos na lei e que são de natureza imperativa.
A sua autonomia de vontade circunscreve-se a dois pontos,
considerados como pertencentes aos direitos fundamentais da pessoa humana:
1º Cada pessoa é livre de casar ou não;
2º Cada pessoa é livre de escolher a pessoa de outro sexo com quem
quer casar.
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O casamento deve ser definido como um negócio jurídico familiar
bilateral, com a natureza de um pacto, celebrado entre os nubentes. Fica, portanto, afastada a hipótese de casamento como um contrato civil, pois a vontade do Estado intervém no acto do casamento, antes da sua celebração, através do conservador do registo civil, cuja intervenção tem natureza certificativa e a sua participação é indispensável à própria existência do acto jurídico.
PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DO CASAMENTO
O casamento é um acto jurídico cuja celebração e validade exigem
que se verifique previamente a existência de certos pressupostos e ainda certas condições legais.
O casamento para ter existência jurídica necessita de 3 (três)
pressupostos sem os quais a sanção é a de inexistência ou a de anulabilidade do casamento:
1. Diversidade de sexo: segundo prevê art.º 20.º do CF., o
casamento pressupõe a união de um homem e de uma mulher, não há pois aceitação legal de casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Já quanto aos casos de intersexualismo e transexualismo, a sanção correspondente é a de anulabilidade do casamento por erro quanto às qualidades físicas essenciais do outro nubente, se tal tivesse sido ocultado. 2. Duas declarações de vontade: na celebração do casamento é essencial que haja duas declarações de vontade expressas por parte de cada um dos nubentes e a omissão de qualquer uma delas dá lugar à inexistência do casamento. 3. Intervenção do conservador do registo civil: o casamento tem de ser celebrado por funcionário competente do registo civil ou por substituto legal deste, sem isso o casamento é irrelevante perante a ordem jurídica, al. b) do art.º 34.º do CF.
Só o casamento urgente pode ser celebrado sem a presença do
funcionário competente do registo civil, mas só acontece em condições especiais e está sujeito à homologação posterior.