Você está na página 1de 8

FOLHAJUS

(HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/PODER/FOLHAJUS/)

MERCADO DE TRABALHO
(HTTPS://WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/FOLHA-TOPICOS/MERCADO-DE-TRABALHO/)

Mulheres contam como enfrentam machismo no


mercado de trabalho
Profissionais lidam com preconceito desde o começo da carreira

25.jan.2022 às 13h00
Atualizado: 25.jan.2022 às 16h48

Vitoria Pereira (https://www1.folha.uol.com.br/autores/vitoria-pereira.shtml)

Mulheres estão ganhando cada vez mais espaço em profissões antes


SÃO PAULO
dominadas por homens, como na área de tecnologia da informação
(https://www1.folha.uol.com.br/sobretudo/carreiras/2021/09/com-mais-vagas-que-profissionais-area-de-ti-atrai-quem-quer-

mudar-de-carreira.shtml), nos cargos de médicos neurocirurgiões e no setor


automobilístico (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/01/falta-de-pecas-e-alta-de-juros-reduzem-
expectativas-do-setor-automotivo-para-2022.shtml) .

Apesar de avanços recentes, elas ainda enfrentam preconceito e relatam que,


muitas vezes, precisam mudar seus comportamentos para serem ouvidas e
valorizadas.

Jessica Machado, 27, hoje desenvolvedora no Banco Inter, enfrentou machismo


em um trabalho anterior e conta que, às vezes, precisava falar alto para ser
levada a sério.
Jessica Machado, 27, desenvolvedora no Banco Inter
- Arquivo pessoal

Apesar de as mulheres terem mais diplomas universitários que os homens, elas


representavam apenas 37,5% dos cargos gerenciais
(https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/07/empresas-com-mulheres-na-lideranca-tem-melhores-notas-esg-mostra-

em 2019, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de


estudo.shtml)

Geografia e Estatística) divulgado no ano passado.

Elas também ganhavam menos. Enquanto o rendimento médio mensal dos


homens era de R$ 2.555, o das mulheres era de R$ 1.985 —número 23% menor.

Conheça histórias de mulheres que ocupam profissões ainda


predominantemente exercidas por homens e que enfrentam preconceito no dia
a dia (https://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2021/11/romper-bolha-e-preconceitos-e-desafio-para-representatividade-
de-mulheres-dizem-leitoras.shtml).

"Além das dificuldades com conteúdos na graduação, precisei lidar com a


discriminação"

Jessica Machado, 27, desenvolvedora no Banco Inter

Quando eu comecei a faculdade, a minha intenção era trabalhar com gestão de


pessoas e projetos e todas as meninas queriam também porque é uma área
mais feminina. Mas, quando eu voltei de um intercâmbio
(https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/02/estudantes-lidam-com-incertezas-e-vantagens-ao-buscar-intercambio-em-

meio-a-pandemia.shtml), consegui uma oportunidade de estágio como programadora


em uma empresa de automação. E, assim, me descobri na profissão, mas
percebi que era uma área com pouca diversidade.

De todas as empresas que trabalhei, eu era uma das únicas mulheres. No meu
último emprego, apenas eu e mais uma.

Nessas situações, eu tinha a síndrome do impostor: achava que não sabia fazer
nada, que não iria receber uma promoção e que havia pessoas muito melhores
do que eu. Sentia medo de tentar alguma vaga porque achava que não
conseguiria.

A minha turma na faculdade de ciência da computação tinha, no início, 40


alunos, sendo que só cinco eram mulheres e apenas duas se formaram comigo.
Uma delas desistiu porque realmente era uma pressão muito grande.

Chegamos a ouvir coisas ruins vindo de professores, de pessoas que participam


da coordenação e até mesmo de colegas de turma: 'O que você está fazendo
aqui?' ou 'isso não é curso para mulher'.

Além das dificuldades com os conteúdos do curso de graduação, precisei lidar


com a discriminação (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/12/nao-ha-roupa-que-resolva-discriminacao-
da-mulher-no-trabalho-dizem-autoras-de-livro-sobre-o-tema.shtml).

Eu já fiz uma entrevista de emprego (https://www1.folha.uol.com.br/podcasts/2021/12/o-que-um-jovem-


sem-experiencia-profissional-pode-dizer-em-um-processo-seletivo-ouca.shtml)em que senti esse preconceito.

A empresa me passou uma prova com coisas que aprendemos no começo da


faculdade, como matemática lógica, mas nunca usamos no trabalho do dia a
dia.
Foi uma situação muito incômoda e percebi que, nessa empresa, havia vários
programadores, mas poucas mulheres.

Se eu falo de maneira mais enfática durante um projeto em que eu vejo algo de


errado, sempre tem um homem que me pede calma e diz que estou muito
nervosa. Teve uma situação que ouvi algo assim de um amigo. É algo tão
cultural que as pessoas fazem sem perceber.

Quando me falam isso, sinto como se estivesse gritando, mas só estou tentando
mostrar o meu ponto de vista. Se eu não levantar a voz um pouco ninguém me
escuta.

Hoje eu estou numa empresa que tem várias mulheres em posição de poder.
Inclusive, a minha própria chefe é uma das pessoas que sempre me bota para
frente. Na empresa, temos uma irmandade, um grupo entre nós, dedicado às
mulheres na busca de influenciar no desenvolvimento e melhoria no trabalho.
E temos também um grupo interno no Banco Inter, ‘Mulheres na TI' [espaço
para fortalecer a atuação das mulheres na área de tecnologia] e fazemos
algumas palestras e encontros quinzenais pelo Microsoft Teams [plataforma de
videoconferências].

Eu também participo do Minas da TI, esse foi o primeiro grupo que me fez sair
da caixinha. A partir do momento que eu entrei, participei de palestras de
diferentes empresas e tinha mulheres nesses lugares fazendo um trabalho
excelente. Eu percebi que também posso chegar nesse mesmo nível. Só preciso
me jogar e procurar alguma oportunidade.

"Eu tinha que ir ao trabalho parecendo um ‘menininho’ para eles me verem


como uma pessoa"

Barbara Brier, 33, mecânica de automóveis, fundadora da Oficina Amiga da Mulher

Após ser desligada de uma montadora de automóveis em 2016, eu comecei a


empreender e ensinar mecânica básica para as mulheres.

Para trabalhar no setor automotivo, infelizmente tive que me masculinizar


para ter respeito e autoridade. O homem não sabe ouvir uma mulher doce e
feminina. As mulheres que trabalham com muitos homens precisam ser bravas
porque eles só conseguem escutar se elas falam num tom mais alto.

Barbara Brier, 33, mecânica de automóveis, fundadora da Oficina Amiga da Mulher


- Layza
Cristina

A minha leitura do mercado é que não posso ser muito sensual porque o
homem perde o foco e começa a ficar só olhando a nossa boca. Então, às vezes,
eu tinha que ir ao trabalho parecendo um 'menininho' para eles me verem
como uma pessoa. Assim eu fui construindo confiança e comunicação com a
minha equipe.

Eu nunca fui muito sensual ou de ficar expondo meu corpo, pois sei como
funciona a cabeça de um homem que trabalha nesse setor. Precisei me adequar.

Uma estratégia que adotei é trazer o feminino para perto dos homens da minha
equipe quando eles quererem desabafar. Assim, com escuta e acolhimento,
consigo me encaixar e trazê-los para perto de mim.

"Eu chego no centro cirúrgico com meu marido e ninguém acha que eu sou
a neurocirurgiã"

Luana Bandeira, 32, médica neurocirurgiã

Desde a época da faculdade ouvi que não era para me especializar em


neurocirurgia. Eram sempre opiniões desanimadoras. Não só por causa do
machismo, mas também por causa do tempo longo da modalidade de
residência médica (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2022/01/prova-de-residencia-medica-da-usp-e-
suspensa-apos-suspeita-de-fraude.shtml)nessa área, de cinco anos.

Quando comecei como neurocirurgiã, vi que é muito difícil para as mulheres


nessa área por dois fatores: os comentários dos colegas de trabalho e às vezes
dos próprios pacientes.
'A senhora opera a cabeça?' ou 'a senhora opera a coluna?', foram alguns dos
questionamentos que recebi como se não fosse um tipo de serviço que pudesse
ser realizado por uma mulher. E são, justamente, as áreas em que atuo
atualmente. Eu opero tanto o crânio quanto a coluna.

Além disso, já ouvi alguns comentários pejorativos, entre eles 'você não sabe
fazer porque é mulher' ou 'isso aqui não existe para mulher'.

Meu marido é neurocirurgião. Se eu chego com ele no centro cirúrgico,


ninguém acha que eu sou neurocirurgiã também. As pessoas pensam que eu
sou auxiliar ou instrumentadora.

Alguns pacientes perguntam a minha idade ou questionam se sou eu quem faz


determinado procedimento. Meu marido nunca recebeu esse tipo de pergunta.

Luana Bandeira, 32, médica neurocirurgiã


- Arquivo pessoal

Quando eu fiz residência, de 10 colegas, 3 eram mulheres e 7 eram homens. E a


minha residência foi atípica porque, na maior parte das vezes, é 100% só
homens. Na maioria dos locais é assim mesmo, não tem mulher. Hoje, por
exemplo, na minha equipe de cirurgiões só tem eu de mulher.

Eu acredito que o gênero jamais poderia diferenciar. Pessoas mais velhas têm
essa visão de achar que a mulher é incapaz para determinados tipos de
serviços. Mas não é a realidade.

Nós fazemos encontros anuais com os residentes em neurocirurgia do Brasil.


Houve várias situações em que eu chegava lá e era a única mulher. No entanto,
à medida que o tempo foi passando, já vejo que tem mais mulheres seguindo
nesse ramo.

sua assinatura vale muito


Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com
mais de 200 colunistas e blogueiros. Um jornalismo profissional que
fiscaliza o poder público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz
contraponto à intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre
verdade e mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?

ASSINE POR 3 MESES DE R$ 1,90 (HTTPS://ASSINATURAS.FOLHA.COM.BR/420408)

newsletter sobretudo
Notícias e dicas para alavancar sua formação profissional em um mundo de transformação, além
dos principais programas de estágio e trainee do mercado.

Recomendadas para você


(https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/05/pastor-diz-que-mendigo-tem-dever-biblico-de-passar-fome-e-e-criticado-nas-redes-sociais.shtml)

COTIDIANO
Pastor diz que mendigo tem dever bíblico de passar fome e é criticado nas redes sociais

(https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/05/pastor-diz-que-mendigo-tem-dever-biblico-de-passar-fome-e-e-criticado-nas-redes-sociais.shtml)

(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2022/05/quem-e-a-artista-que-pinta-bolsonaro-com-anjos-e-lula-mamando-cachaca.shtml)

Quem é a artista que pinta Bolsonaro com anjos e Lula mamando cachaça

(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2022/05/quem-e-a-artista-que-pinta-bolsonaro-com-anjos-e-lula-mamando-cachaca.shtml)

(https://estudio.folha.uol.com.br/nelson-wilians/2022/03/putin-e-o-mamae-falei.shtml?utm_source=taboola&utm_medium=native&tblci=GiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-

nGiDK81Qo0fe4vLzej7vFAQ#tblciGiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-nGiDK81Qo0fe4vLzej7vFAQ)

ESTÚDIO FOLHA
Putin e o Mamãe Falei
(https://estudio.folha.uol.com.br/nelson-wilians/2022/03/putin-e-o-mamae-falei.shtml?utm_source=taboola&utm_medium=native&tblci=GiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-

nGiDK81Qo0fe4vLzej7vFAQ#tblciGiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-nGiDK81Qo0fe4vLzej7vFAQ)

(https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2022/04/nao-e-dificil-decidir-entre-lula-e-bolsonaro.shtml?

utm_source=taboola&utm_medium=exchange&tblci=GiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-nGiDJ81QojbKKm5TstvoO#tblciGiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-

nGiDJ81QojbKKm5TstvoO)

FOLHA DE S.PAULO
Não é difícil decidir entre Lula e Bolsonaro

(https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2022/04/nao-e-dificil-decidir-entre-lula-e-bolsonaro.shtml?

utm_source=taboola&utm_medium=exchange&tblci=GiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-nGiDJ81QojbKKm5TstvoO#tblciGiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-

nGiDJ81QojbKKm5TstvoO)

(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/05/e-bom-dicaprio-ficar-de-boca-fechada-diz-bolsonaro-apos-fala-do-ator-sobre-eleicao.shtml?

utm_source=taboola&utm_medium=exchange&tblci=GiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-nGiDJ81Qoz-CJqYaVvt6aAQ#tblciGiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-nGiDJ81Qoz-

CJqYaVvt6aAQ)

FOLHA DE S.PAULO
É bom DiCaprio ficar de boca fechada, diz Bolsonaro após fala do ator sobre eleição

(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/05/e-bom-dicaprio-ficar-de-boca-fechada-diz-bolsonaro-apos-fala-do-ator-sobre-eleicao.shtml?

utm_source=taboola&utm_medium=exchange&tblci=GiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-nGiDJ81Qoz-CJqYaVvt6aAQ#tblciGiC2Y4Gzg_xIfMRUetcXOJz470hnZ0P0dFyV1d10JB-nGiDJ81Qoz-

CJqYaVvt6aAQ)

Você também pode gostar