Você está na página 1de 13

“VOCÊ TRABALHA SÓ COM EVENTOS?

”: NOTAS ETNOGRÁFICAS SOBRE


PROMOTORAS DE EVENTOS EM SÃO PAULO

Anna Paula Moreira de Araújo1

Resumo: Este artigo é um desdobramento de minha pesquisa de doutorado, cujo tema aborda as
relações de trabalho entre meninas de eventos, termo nativo referente às mulheres que atuam
principalmente em feiras corporativas (uma das formas principais de evento) como promotoras,
recepcionistas e/ou modelos. Trabalhar em eventos é considerado “difícil” para elas, pois precisam
muitas vezes ficar horas em pé (não raro de saltos altos), cuidar da aparência (uniforme,
maquiagem, cabelos, unhas, etc.) além da gestão de atributos emocionais para recepcionar e agradar
não somente aos empregadores/as (clientes, agenciadores/as e produtores/as) como aos
frequentadores das feiras. Com base nas narrativas de três dessas meninas, mostro como é comum
em seus cotidianos enfrentar certa incompreensão quanto às especificidades desse trabalho,
incluindo fofocas frequentes de que estão fazendo coisa errada (relacionadas à prostituição). Neste
contexto, a partir de um viés antropológico, que prioriza a experiência, procuro problematizar
noções relacionadas às desigualdades de gênero nesse mercado de trabalho levando em conta o
conceito de trabalho imaterial e a categoria analítica glamour.

Palavras-chave: Trabajo, Género, Sexualidad, Promotoras de eventos.

Trabalhar com eventos, esse mundo, evento é um mundo muito amplo. As pessoas, elas
acham tipo “nossa, você trabalha só com eventos?”, aí eu falo “não, eu trabalho com tudo
isso, eu trabalho o dia inteiro com eventos, todos os dias”, as pessoas não sabem que
evento é um mundo gigantesco, tem evento desde buffet, feira, evento, congresso,
recepção, fazer showroom, modelo de calce, modelo de roupa, modelo de cabelo, desfile,
evento é gigantesco. Tem evento pra tudo, pra todos os gostos, todos os dias, todas as
horas (MEL2, Santo Amaro, Julho/2016).

Tem gente que olha fazendo o evento e fala “ah não faz nada”, “fica ali em pé”, “ganha
pra não fazer nada”. Diversas vezes eu já conversei, tipo assim, “ai tô cansada”, chegar de
algum evento cansada e meus amigos “cansada do que? Você não faz nada, você só fica
tirando foto” (BELA, Guarulhos, Março/2016).

As pessoas que vão [às feiras], que frequentam não entendem o que a gente tá passando
ali, eles acham que a gente tá muito bem, que a gente tá ganhando horrores de dinheiro e
que nós estamos lá para aguentar qualquer tipo de piada ou proposta, entendeu? Eles não
entendem que a gente tá lá fazendo um trabalho sério (NINA, São Paulo, Julho/2016).

1
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da UNICAMP, Campinas/SP, Brasil sob orientação
de Adriana Piscitelli contemplada com bolsa CAPES.
2
Todos os nomes são fictícios.

1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Mel, Bela e Nina são minhas principais interlocutoras na região metropolitana de São Paulo 3
e embora eu tenha ligação com o mundo dos eventos4 desde 2010, conheci as três na mesma edição
do Salão Duas Rodas em outubro de 2015 e desde então mantemos contato. Mel e Nina trabalharam
no mesmo estande de uma grande marca de acessórios de motociclismo no qual havia cerca de 10
meninas. Bela trabalhou em um estande menor5 de outra marca de acessórios com mais duas
meninas.
Os três relatos acima servem como inspiração e ponto de partida para mostrar
empiricamente as dificuldades e incompreensão geral que meninas de eventos sofrem ao tentar se
situar no mundo do trabalho. O objetivo deste artigo é proporcionar um breve panorama do
funcionamento e das dinâmicas cotidianas deste trabalho e das experiências desses sujeitos. Meu
argumento é que discussões relevantes sobre desigualdades de gênero no mercado de trabalho
(HIRATA 2002, 2007; KERGOAT, 2009) não são suficientes para compreender as experiências
desses sujeitos. Entendo experiência tal qual desenvolveu Joan Scott ao afirmar que “não são os
indivíduos que têm experiência, mas os sujeitos é que são constituídos através da experiência”
(SCOTT, 1999, p. 27).
Na primeira parte do artigo mostro como funciona a dinâmica de seleção a partir da
categoria empírica perfil. O intuito é apresentar a articulação de categorias da diferença como
pressuposto de análise, como forma de olhar a construção de diferenças e hierarquias entre as
meninas. Na segunda parte apresento narrativas que ilustram suas percepções com relação a
realização de trabalho emocional, trabalho sexualizado e como lidam com as fofocas de que estão
fazendo coisa errada (relacionadas à prostituição). Na terceira parte, por fim, sugiro complexificar
os debates sobre desigualdades de gênero no mercado de trabalho, mais especificamente sobre

3
A ideia de realizar uma pesquisa sobre o mundo dos eventos surgiu em 2010 quando realizei alguns trabalhos no setor
em questão e me surpreendi com as dinâmicas peculiares desse ambiente laboral. No projeto inicial elaborado 2013
constava como objetivo geral da pesquisa conhecer as trajetórias de meninas ficha rosa (categoria relacionada a
meninas que participam dos mercados do sexo). Entretanto, através do trabalho de campo iniciado em 2014 despontou
na análise o fato de que eram constantes as situações envolvendo diversos julgamentos morais que no limite consideram
que o trabalho de meninas de eventos não é trabalho ou que é tudo puta. Considerando a multiplicidade dos eventos,
pensar em mercados do sexo não permitia explorar os processos de construção de diferenças neste mercado. Passou
então a ser mais instigante observar como e de que maneiras as pessoas percebem suas experiências de trabalho no meio
em questão. Desde o ingresso no doutorado realizo trabalho de campo nos espaços dos eventos, frequentei na capital
São Paulo o Salão Internacional do Automóvel (edições 2014 e 2016), Salão Duas Rodas (edição 2015) e em Ribeirão
Preto/SP participei da Agrishow (edições 2016 e 2017) e Fenasucro (edições 2016). A pesquisa é baseada não apenas
nas observações colhidas nestes espaços como no aprofundamento das relações com pessoas contatadas a partir dos
mesmos.
4
Mundo dos eventos é uma categoria empírica que serve para aglutinar a ampla diversidade de eventos existentes.
5
Através da planta da feira é possível visualizar os diferentes tamanhos de estandes:
http://www.salaoduasrodas.com.br/O-Evento/Planta-do-Evento/ (último acesso em 24/06/17).

2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
flexibilização e precarização, levando em conta noções de trabalho imaterial e a categoria analítica
glamour.

“Perfil” e categorias sociais da diferença

Mel tem 24 anos, é profissional do evento (como ela se autodenomina) desde os 18, tem
1,66m de altura, pele branca, cerca de 54kg, cabelos loiros e lisos na altura dos seios, olhos
castanhos. Quando a conheci ela morava em Santo Amaro, atualmente mora na região do shopping
Ibirapuera em São Paulo e é natural de Marília, interior de São Paulo.
Nina tem 24 anos, 1,75m de altura, cerca de 50kg, longos cabelos negros à altura da cintura,
grandes olhos castanhos. Nasceu na capital São Paulo e reside na região central da cidade, próxima
à Avenida Paulista. Nina prefere ter na área de eventos um complemento de um trabalho fixo e se
mostra indiferente quanto às fofocas sobre seu trabalho com eventos.
Bela tem 21 anos, 1,75m, cerca de 65kg, pele parda, cabelos negros e longos com aplique à
altura da cintura, grandes olhos cor de mel. Reside em Guarulhos, cidade onde nasceu. Bela prefere
ter um trabalho fixo que pague menos do que depender dos eventos, experencia com sofrimento as
diversas situações de fofocas a respeito do trabalho com eventos.
Diante da alta demanda e concorrência para se trabalhar em eventos, desponta a importância
das dinâmicas envolvidas nos processos seletivos. Basicamente, os critérios de contratação para o
trabalho em eventos são, formalmente e na maioria das vezes, baseados nos perfis (corporais) das
meninas, por isso, antes de mais nada, gostaria de explicar sucintamente como funciona a dinâmica
de construção desta categoria.
A título ilustrativo apresento a definição feita por uma agência de eventos que trabalha com
casting6, em que, o perfil AA engloba “modelos de passarela, acima de 1.75 de altura, muito bonitas,
magras e esguias”; o perfil A, “as modelos de 1.70 a 1.75 de altura, com manequim que pode variar
de 36 a 40”; o perfil B “as recepcionistas com altura de 1.55 a 1.70, manequim de 36 a 38”; o perfil
panicat7 serve para caracterizar o estilo “mulherão” que “são as mulheres com curvas, corpo
malhado, etc, aqui não há exigência de altura, apenas de medidas” 8.

6
Categoria bastante utilizada no meio que serve como sinônimo de seleção.
7
Panicats são assistentes de palco do programa Pânico, atualmente exibido na Band. Conhecidas por aparecerem
geralmente vestindo biquínis.
8
Fonte: https://wondereventos.wordpress.com/2013/08/21/os-diversos-tipos-de-perfil-para-eventos/. Exemplo similar
por ser encontrado no link de outra agência especializada em eventos:
http://www.sarayu.com.br/dicas.php?subaction=showfull&id=1379282428&archive=&start_from=&ucat=2&.

3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
A forma como os perfis são acionados possui semelhanças com o funcionamento do look no
mundo da moda fashion relatado por Ashley Mears (2008) em seu trabalho sobre o cotidiano de
modelos em Nova Iorque. Para ela, um look é um código para a aparência única da modelo que
apela a um cliente particular em um tempo específico e que depende do produto a ser vendido.
Termos como “peculiar’, “clássica”, “nervosa e forte”, entre outros são descrições de diferentes
tipos de looks.
A interseccionalidade de categorias da diferença é um pressuposto básico da minha forma de
análise sobre o trabalho feminino no setor em questão e o perfil serve para evidenciar os processos
de construção de diferenciações entre as meninas de eventos além das próprias relações e disputas
de poder. Gênero constrói-se contextual e relacionalmente (STRATHERN, 2006) e a intersecção de
gênero com raça, classe e sexualidade não pode ser compreendida em separado (PISCITELLI,
2008).
Anne McClintock (2010) retrata no contexto do imperialismo a construção das hierarquias de
gênero, “raça”, classe e sexualidade. Através da figura da babá, ela analisa as diferenças de classe
na “divisão vitoriana das mulheres em putas e madonas, freiras e prostitutas” (MACCLINTOCK,
2010, p. 140) mostrando como a diferenciação de papeis (mãe e babá) era acionada a partir “da
diferença de classe, o significado dos uniformes, das cortesias e curvaturas, os rituais de
reconhecimento e deferência que separavam as duas figuras mais poderosas na vida da criança”
(p.139/140).
Inspirada pelo construcionismo interseccional, a articulação de gênero com “raça”, classe,
sexualidade e faixa etária reverbera em toda minha construção textual no sentido de que apenas com
a categoria gênero não é possível apreender as dinâmicas de existência e funcionamento desta forma
de trabalho, começando pela construção de diferenças e desigualdades entre as próprias meninas9.
Mas esta é só “a ponta do iceberg”. Juntamente a tais fatores estético-morais
(LOWNKRON, 2012) essas meninas realizam um trabalho emocional, sexualizado e precarizado
que exige um olhar sócio-antropológico voltado às suas experiências e perspectivas pessoais a fim
de perceber as complexidades e ambivalências envolvidas.

“Fofocas”, trabalho emocional e trabalho sexualizado

9
Trago aqui esta discussão sobre interseccionalidade a título introdutório, em minha tese de doutorado (em construção)
a temática é aprofundada.

4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Olha tudo que eu tenho eu devo ao evento. Eu comprei um carro. Eu casei. Tudo com
dinheiro de evento [...] daqui uma semana eu vou viajar pra Paris, um dinheirão também
[...]. [Mas] é um trabalho esgotante, sacrificante. Fazer evento é muito sacrificante, é
muito cansativo, tem que ter muita força de vontade. Tem que saber falar inglês, tem que
saber falar espanhol, tem que ser proativa, sorridente, simpática, elegante, inteligente.
Então assim, ficha rosa tem, mas é o assédio mesmo, não é que a gente, as meninas vão
pra lá ficar em pé dez horas pra virar, e vira prostituta. Não! Quem é garota de programa,
é garota de programa, acontece sim, tem alguns casos que já vi de meninas com os
clientes, por ter gostado do cara, mas assim, não é “ai aquela menina ali é ficha rosa, ela
trabalha com ficha rosa”. É um assedio normal que nós temos, eu trabalhei em shopping
três anos e fui assediada os três anos no shopping pelo meu chefe, também. É, a gente tá
mais vulnerável sim, por às vezes ter que ser uma roupa curta, um macacão [...]. O que
associa a gente a puta, a garota de programa é porque as vezes o cliente coloca a menina
ali pra chamar atenção, pra chamar gente e como a maioria das feiras tem o público
masculino, ai quando vai uma mulher, ela fala “ai essas meninas é tudo puta, tão ai pra
ficar com os clientes” (MEL, Santo Amaro, Julho/2016).

Eu basicamente to la pra ganhar meu dinheiro e ir embora (risos), não to muito


preocupada com a opinião das pessoas, ou se tem alguém gostando ou desgostando, isso
não é minha preocupação, a minha preocupação é ir, sofrer, porque sofre mesmo, trabalho
e vou embora, pego meu dinheiro e vou embora, então, assim, só eu sei no final do dia o
que eu preciso fazer sabe? Então, sabe? Essa generalização, esse rotulo que as pessoas
colocam pra mim ficou la embaixo. Mas é bom frisar esse ponto, porque eu já tive de
pessoas da família, achar que só porque você faz eventos... O que me irrita na verdade é a
mídia, é a mídia que mostra a gente de uma forma errada, eu acho que começou da mídia
esse preconceito das pessoas. [...] Eles nunca falaram das meninas que vieram do interior
ou vieram de outro estado, que meu, batalham muito, até as quem moram aqui, pra bancar
a família, pra ajudar todo mundo e não faz coisa errada, não, não é puta, não faz esse tipo
de trabalho, mas a galera generaliza muito, muito mesmo (NINA, São Paulo, Julho/2016).

Assim [trabalhando com eventos] eu ganhava bem mais que do que eu ganharia se
estivesse trabalhando fixo só que como eu não gostava, nunca gostei muito, de homem,
da visão de todo mundo porque assim eu nunca tive orgulho de alguém perguntar, cê
conhece o cara, e ele pergunta o que cê faz, faz o que da vida? “Ah faço eventos”. Não é
legal, é diferente de você dizer que trabalha numa empresa assim e assim. Assim eu
nunca gostei muito por conta disso. Porque eu namorava.[...] Só que meu, ponto positivo
de eventos é só dinheiro e o ego de algumas [...]. Porque é o que mais tem, garota de
programa em evento. (BELA, São Paulo, Março/2016).

As narrativas de Mel, Bela e Nina mostram como no mundo dos eventos, vida profissional e
vida íntima se misturam e como elas sofrem emocionalmente com as fofocas e (des)honra em
decorrência da realização deste trabalho. Fazer evento é muito sacrificante; assédio normal; ir
[trabalhar], sofrer, porque sofre mesmo, trabalho e vou embora; não faz coisa errada; não, não é puta;
nunca tive orgulho [de dizer] ah faço eventos.
Claudia Fonseca (2004) aborda o lugar das fofocas e da honra em um bairro periférico de
Porto Alegre no sentido de observar hierarquias internas de poder, afinal “a honra é uma questão

5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
basicamente de poder” (p. 1010). A fofoca “é sempre concebida como uma força nefasta, destinada a
fazer mal” (p.23). Fazer coisa errada é analisado por Paula Togni (2014) ao falar das brasileiras que
saem do interior de Minas Gerais e vão para Portugal. No caso, elas precisam provar que não estão
participando dos mercados de sexo transnacional sobretudo através da ajuda (PISCITELLI, 2008b)
financeira feita às famílias no Brasil.
Tanto as “suspeitas” em contexto transnacional como local são decorrentes do
entrelaçamento com a sexualidade, componente central do funcionamento do mercado de eventos,
como fala Adkins (1995) em sua pesquisa sobre indústria do turismo britânico nos anos 1990 e
Amália Cabezas (2009) na indústria do turismo em Cuba e na República Dominicana anos 2000.
Ambas autoras enfatizam a necessidade das trabalhadoras do mercado do turismo de se distanciar
da estigmatização do trabalho sexual, o que ocorre nos eventos sobretudo com a figura da ficha
rosa11.
Além das fofocas, há a necessidade de ser proativa, sorridente, simpática, elegante,
inteligente. Deste modo, o próprio trabalho envolve o manejo das emoções no sentido proposto por
Arlie Hochschild (2003). A autora mostrou como os sorrisos, a aparência, a simpatia, todo o
trabalho das aeromoças era administrar suas emoções em prol de uma feminilidade servil e passar
para os passageiros a sensação de que estavam se divertindo enquanto trabalhavam.
É pelo fato de a gestão das emoções ocorrer não apenas dentro como fora do ambiente de
trabalho que trago a discussão analítica sobre trabalho sexualizado (ADKINS, 1995; CABEZAS,
2009) para refletirmos sobre meninas de eventos.
A sexualidade relacionada ao mercado de trabalho muitas vezes foi abordada em uma relação
direta a “assédio” ou dominação masculina, como no trabalho de MacKinnon (1979). Para Adkins
(1995, p. 34/35) leituras como a de MacKinnon enfatizam demais o sexual, faltando um olhar para
os âmbitos sociais e econômicos e faltando aproximar sexualidade e economia, duas esferas
geralmente separadas. Mel, Bela e Nina, a partir de diferentes perspectivas, mostram uma forma de
uso econômico de seus trabalhos sexualizados embora não realizem trocas sexo-por-dinheiro. É
neste sentido, visto como além de trocas sexo-por-dinheiro, que o conceito de economias sexuais
constitui um ganho analítico (BERNSTEIN, 2014; COLE, 2014; PISCITELLI, 2016).

10
As páginas citadas têm com referência a versão online disponível em:
https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1058034/mod_folder/content/0/FONSECA%2C%20Claudia.%20Familia%2C%20
Fofoca%20e%20Honra%20%5Blivro%20completo%5D.pdf?forcedownload=1 (último acesso 25/06/2017).
11
Não cabe nos propósitos deste breve artigo abordar a questão da ficha rosa. Este ponto está sendo elaborado em
minha tese.

6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
De acordo com a perspectiva macrossocial de Elizabeth Bernstein (2014), economias sexuais
significam não apenas a troca de sexo por dinheiro em seu sentido literal, mas o contexto
econômico mais amplo no qual movimentações sexuais acontecem (2014, p. 349). Próxima a visão
de Bernstein, mas enfatizando o ponto de vista dos sujeitos que transitam nesses mercados, Jennifer
Cole (2014) definiu economias sexuais como o contexto no qual a sexualidade é um recurso
relevante na obtenção de capital econômico e social (p. S87). O debate que Cole traz diz respeito à
própria história da antropologia pois relaciona-se com as diferentes formas de se compreender e
delimitar o lugar da economia na vida das pessoas.
Fazendo a ponte entre essas duas perspectivas, agora percebendo estruturas e práticas
sociais, que Narotzky e Besnier (2014) propõem o conceito de economias cotidianas como uma
conceptualização ampla de economia que inclua as questões morais envolvidas e a relação entre
bens econômicos e não econômicos. A noção de economias cotidianas é bastante proveitosa para
pensar o mercado de eventos conjugado a economias sexuais, uma vez que o que meninas de
eventos buscam é ganhar a vida, cada uma com suas perspectivas específicas. Comprar carro e
casar, tudo com dinheiro dos eventos, ganhar mais que em um trabalho fixo, são narrativas que
mostram processos relativos a economias cotidianas.
Chamo a atenção para tais questões considerando que a relação entre sexualidade e
mercados de trabalho é pouco abordada pelos estudos do trabalho (ADKINS, 1995), embora a
problemática do “assédio” moral e sexual por parte de empregadores (maioria do sexo masculino)
seja recorrente nos estudos que abordam divisão sexual do trabalho (KERGOAT, 2009). Deste
modo, conceitos como trabalho emocional e trabalho sexualizado fornecem elementos para
pensarmos sobre a diversidade contemporânea de formas de trabalho, deslocando o olhar do
trabalho tradicional, buscando novas abordagens sobre flexibilização e precarização, sobretudo
nesses novos mercados de trabalho.

Entre precarização e glamour

A gente tem um grupo chamado “sindicato das recepcionistas” no whatsapp e a gente fala
“a gente precisa muito de um sindicato” porque a gente tem alguns trabalhos escravos, 12
horas com 15 minutos de pausa e o cliente não entende que é lei, você trabalha oito horas
você tem que ter uma hora de descanso. Mas o cliente acha que ele tá pagando e ele quer
que você trabalhe as 12 horas sem descanso ou o cliente não aceita que você tem que
tomar uma água, comer (MEL, Janeiro/2017).

Quando eu trabalhava fixo, eu fazia evento de fim de semana e tipo era tranquilo. [...] os
outros pensam que é fácil. Mas a gente aguenta cada coisa. É bolha no pé, teve feira de

7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
passar fome, frio, aguentar desaforo, ter que ficar quieta, R$200,00 é muito pouco pra
aguentar tanta coisa [...]. Tem um grupo que eu vejo, tem mais de 3 mil comentários
falando pra enviar material. Cê acha que eles vão olhar? Não vão olhar, não adianta. Não
adianta. Porque no final, você vê as marcas, acaba fechando com as mesmas meninas
(BELA).

Pra mim é muito interessante ter um trabalho fixo, como eu sempre fiz. Por exemplo, eu
concilio os eventos com um trabalho fixo, agora só que eu tô fazendo só eventos. Porque
ao mesmo tempo que tem vários, pode ser que não tenha nenhum, entendeu? E como tem
muita menina no mercado, é difícil você pegar todos vai, todos os bons [...]. Eu sempre
trabalhei fixo, então eu nunca fiquei dependendo só de eventos, mas já teve épocas em
que eu fiquei sem trabalho e dependendo de eventos e eu não pegava nada, entendeu?
Não adianta você ser belíssima e ser o perfil, porque tem muita menina que é muito mais
belíssima que você e muito mais o perfil que você, então, assim, tem trabalho que você
não pega, entendeu? (NINA, São Paulo, Julho/2016).

São muitos os fatores responsáveis pela precariedade do trabalho nos eventos: as próprias
condições, 12 horas sem descanso, passar fome, frio, instabilidade de contratação, dependendo de
eventos e não pegando nada, alta concorrência entre as candidatas, tem muita menina no mercado,
3 mil comentários, processos de seleção discriminatórios ao distribuir os trabalhos de acordo com
os perfis, porque tem menina que é muito mais belíssima que você e muito mais o perfil que você,
além da presença de fatores subjetivos nos recrutamentos, como a formação de panelinhas12 nas
agências, acaba fechando com as mesmas meninas.
Por se tratar de um trabalho informal e com normas flexíveis, sem carteira de trabalho e
acesso a diretos trabalhistas, é praticamente indiscutível sua precariedade e estudos da sociologia do
trabalho, especificamente sobre flexibilidade, trazem elementos interessantes para pensarmos as
relações entre mercado de eventos (pertencente à grande área de Serviços), precarização das
condições de trabalho e percepções das meninas sobre suas experiências.
É notório que as mulheres são imensa maioria no trabalho de recepção e promoção nos
eventos, o que se alinha à análise de Helena Hirata (2007) que tem como pressuposto o fato de que
a divisão sexual do trabalho é a pré-condição da flexibilidade (HIRATA, 2007, p. 93), “a
flexibilidade é sexuada”, diz a autora. Hirata chama a atenção para o aumento da flexibilidade a
partir da reflexão teórica sobre a relação entre o paradigma industrial e o paradigma de serviços,
isto porque pelo fato da indústria necessitar de mão-de-obra com qualificação técnica, a
flexibilidade não pôde ser generalizada neste setor, já o setor de serviços e de comércio, onde o

12
Panelinha é uma categoria empírica circulante em diversos espaços e que no mundo dos eventos refere-se ao fato de a
agência selecionar sempre as mesmas meninas.

8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
número de mulheres é maior, possibilitou uma alta difusão de flexibilidade, como, por exemplo
para vendedoras e caixas no setor comercial (HIRATA, 2007, p. 101).
Situando o panorama desfavorável para o trabalho feminino, Hirata (2002) observa que “a
divisão sexual do trabalho parece submetida a uma força que leva mais ao deslocamento das
fronteiras do masculino e do feminino do que à supressão da própria divisão sexual” (HIRATA,
2002, p.285), donde segue-se uma intensificação de divisão de espaços em masculinos e femininos
e apesar de haver mudanças, não há grandes transformações. Neste contexto, torna-se potente a
ideia de que a precariedade das relações de trabalho constitui um movimento que reforça
desigualdades de gênero nos dias atuais (ARAUJO, 2009), uma vez que as mudanças e inovações
tecnológicas que marcam as relações de trabalho contemporâneas não têm as mesmas
consequências para homens e mulheres (HIRATA, 2002, p. 223).
Deste modo, a intensificação contemporânea da flexibilidade e precariedade nas relações de
trabalho figura uma crise da sociologia do trabalho que se dá perante uma profunda
reconceitualização das noções de trabalho e/ou mesmo fim do trabalho com o uso da noção de
atividade em oposição ao conceito de emprego e de trabalho, por exemplo (HIRATA, 2002, p.
275/276).
Embora o trabalho feminino em eventos seja inquestionavelmente precário, há uma
especificidade que precisa ser pontuada. Ao ser relacionado à beleza e ao apresentar semelhanças
com o trabalho de modelos profissionais, meninas de eventos se inserem num mercado de trabalho
no qual o trabalho feminino é mais valorizado que o masculino.
Tal especificidade gera tensões analíticas com os estudos do trabalho, sendo uma delas o
fato de que apesar de não ser possível desconsiderar o peso do gênero nas relações de trabalho no
mercado de eventos, no cotidiano destas meninas, gênero não é a categoria da diferença mais
importante, uma vez que as diferenças entre as próprias meninas ganha destaque, como busquei
explicar no início do texto. Sendo, além disso, primordial o lugar da sexualidade no ambiente de
trabalho, meninas de eventos, bem como cuidadoras de idosos (HIRATA, 2016), precisam gerir
suas emoções perante a interação com o público, o que inclui, não raro, contato corporal (ao tirar
fotos, por exemplo). Deste modo, a “interseccionalidade de geometria variável” (HIRATA, 2014) é
central para se pensar assimetrias e relações de poder no ambiente de trabalho em questão.
Outra tensão se ancora na beleza como fator que possibilita que muitas dessas meninas
acessem imagens de glamour (WILSON, 2007; OCHOA, 2012) que, enquanto categoria analítica

9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
(apesar de às vezes aparecer empiricamente) tornam este um setor atrativo não só em termos
financeiros como também em termos de produção de subjetividades.
Na abordagem do geógrafo Nigel Thrift (2008), o glamour é uma prática material e
tecnologias do glamour são ferramentas utilizadas pelo capitalismo para produzir fascínio como um
valor “intangível” nas formas de consumo atuais. Nas palavras do autor, “glamour é uma forma de
magia secular evocada pela esfera comercial. Podemos vê-lo como um fetiche, ou como um meio
de sentir pensamentos e saborear o pensamento. O que está claro é que o buscamos. E o que é que
estamos procurando?” (THRIFT, 2008, p. 14, tradução livre).
Para Marcia Ochoa (2012, 2014), imagens de glamour possuem íntimas relações com
questões de desigualdades econômicas globais. A autora, ao estudar concursos de miss na
Venezuela, aponta que a produção do glamour, da beleza e da feminilidade, dentro das economias
transnacionais de desejo e consumo, abre possibilidades de negociação: “o glamour permite que
seus praticantes obtenham autoridade extralocal, materializando um espaço contingente de ser e
pertencer” (OCHOA, 2012, p. 71).
Thrift e Ochoa ressaltam a materialidade, se não do glamour em si de suas práticas pelo
menos, para referirem-se a processos que são subjetivos e é exatamente sobre a produção de
subjetividades que Hardt e Negri na obra Império (2001) se debruçam para cunhar o conceito de
trabalho imaterial.
A conceptualização de trabalho imaterial de Hardt e Negri fornece uma luz para pensarmos
relações de trabalho contemporâneas. Os autores trabalham com este conceito para se referir à
produção de serviços que “não resulta em bem material e durável (...) ou trabalho que produz um
bem imaterial, como serviço, produto cultural, conhecimento ou comunicação” (HARDT &
NEGRI, 2001, p. 311). Os autores apontam o trabalho afetivo (contato e interação humana) como
uma potente forma de trabalho imaterial, uma vez que “seus produtos são intangíveis, um
sentimento de conforto, bem-estar, satisfação, excitação ou paixão” (p. 313/314).
Os autores chamam a atenção para o fato de que Marx concebia “a cooperação como
resultado das ações do capitalista que funcionava como um maestro de orquestra ou um general,
dispondo de forças produtivas” (nota 22, p. 484). No entanto, na dinâmica contemporânea, “na
expressão de suas próprias energias criativas, o trabalho imaterial parece, dessa forma, fornecer o
potencial de um tipo de comunicação espontânea e elementar” (p. 315).

10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
O conceito de trabalho imaterial cunhado por Negri e Hardt é controverso e gerou muitas
críticas13. O que me interessa neste conceito é que ele possibilita um ponto de partida para mostrar
exatamente em que consiste a grande especificidade do trabalho de meninas de eventos, que é o fato
de que a materialidade está localizada, para além de uma exterioridade ou de ganhos financeiros,
em suas experiências pessoais, apesar de suas percepções deste trabalho serem afetadas de
diferentes formas já que ocupam diferentes posições no mercado em questão.

Considerações finais

Mel comprou carro, viajem para Paris, tudo com dinheiro dos eventos. Para Bela, eventos é
bom só pelo dinheiro e para o ego de algumas. Nina é objetiva ao afirmar tá lá pra ganhar seu
dinheiro e ir embora, não tá muito preocupada com a opinião das pessoas. São narrativas que
mostram como elas lidam diferentemente com esse trabalho, enquanto Mel se vê como profissional
do evento, Nina se mostra mais indiferente e Bela sofre e preferia sair do mundo dos eventos.
Teorizações críticas sobre desigualdades de gênero no trabalho não parecem dar conta,
sozinhas, das experiências dos sujeitos de pesquisa, da mesma forma que localizar o universo social
dos eventos como um campo “glamouroso” deixa escapar exatamente a crítica das relações de
trabalho precárias existentes. Não procuro realizar um exercício de análise pautado numa
contraposição genérica entre materialidade e imaterialidade, até porque não é a objetividade das
relações de trabalho em si que está em pauta no caso específico do trabalho dessas meninas. Em
última instância, todo trabalho resulta em alguma materialidade. No caso do mundo dos eventos, a
partir de um viés antropológico, procurei observar nas interfaces entre precariedade e glamour as
experiências dos sujeitos e suas percepções sobre as mesmas que complexificam o debate sobre
desigualdades de gênero no mercado de trabalho.

Referências

ADKINS, Lisa. Gendered work: Sexuality, Family, and the Labour Market. Philadelphia: Open
University Program. 1995.
ARAÚJO, Angela M. C. Flexibilidade, precarização e seus significados para o trabalho da mulher.
2009.

13
Destaco a crítica feita por Henrique Amorim em Trabalho imaterial: Marx e o debate contemporâneo publicado pela
editora Annablume em 2009.

11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
BERNSTEIN, Elizabeth. Introduction: Sexual Economies and New Regimes of Governance, Social
Politics, Volume 21 Issue 3, 2014.
CABEZAS, Amalia L. Economies of desire: sex and tourism in Cuba and the Dominican Republic.
Philadelphia: Temple University Press, 2009.
COLE, Jennifer. Producing Value among Malagasy Marriage Migrants in France: Managing
Horizons of Expectation. In: Current Anthropology, 55/9, S85, 2014.
FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra: etnografia de relações de gênero e violência em
grupos populares. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001.
HIRATA, Helena. Subjetividade e sexualidade no trabalho de cuidado. In: Cadernos Pagu (46),
pp. 151-163, 2016.
______________. Gênero, classe e raça. Interseccionalidade e consubstancialidade das relações
sociais. In: Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 26, n. 1, pp. 61-73, 2014.
______________. Flexibilidade, Trabalho e gênero. In: Helena Hirata e Liliana Segnini (orgs.).
Organização do Trabalho e Gênero. São Paulo: Editora Senac, 2007.
______________. Nova divisão sexual do trabalho? Um olhar voltado para a empresa e a
sociedade. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.
HOCHSCHILD, Arlie Russell. The managed heart: commercialization of human feeling. Berkeley,
Los Angeles and London: University of California Press, 2003.
KERGOAT, Danièle. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo In: HIRATA, Helena,
LABORIE, Françoise, LE DOARÉ, Hélène, SENOTIER, Danièle (org.). Dicionário Crítico do
Feminismo. São Paulo: Editora UNESP, p. 67-75, 2009.
LOWENKRON, L. O Monstro Contemporâneo: a construção social da pedofilia em múltiplos. Rio
de Janeiro: Editora UERJ, 2012.
LUNA-SALES, Ana Paula. “Na favela tem dois caminhos”: Dispositivos de controle sobre a
circulação marcada por gênero em Fortaleza, Brasil (no prelo).
MACKINNON, Catharine. Sexual Harassment of Working Women. New Haven: Yale University
Press, 1979.
MCCLINTOCK, Anne. Couro imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Campinas:
Editora da Unicamp, 2010.
MEARS, Ashley. Discipline of the catwalk: Gender, power and uncertainty in fashion modeling.
In: Ethnography. 9:429, 2008.
NAROTZKY, Susana and BESNIER, Niko - Crisis, Value, and Hope: Rethinking the Economy: An
Introduction to Supplement, in Current Anthropology, 55/9, S4, 2014.
OCHOA, Marcia. Queen for a Day: Transformistas, Beauty Queens, and the performance of
Femininity in Venezuela. Durham: Duke University Press. 2014.
______________. A moda nasce em Paris e morre em Caracas. In: MISKOLCI, Richard;
PELÚCIO, Larissa (Orgs). Discursos fora da ordem: sexualidades, saberes e direitos. São Paulo:
Annablume; Fapesp, 2012.
PISCITELLI, Adriana. Economias sexuais, amor e tráfico de pessoas – novas questões
conceituais. Cad. Pagu [online]. n. 47, 2016.
___________________. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de
migrantes brasileiras. Sociedade e Cultura, Goiânia: UFG, v.11, n.2, jul./dez. p. 263-274, 2008.
___________________. Entre as "máfias" e a "ajuda": a construção de conhecimento sobre tráfico
de pessoas. Cadernos Pagu (UNICAMP), v. 31, Campinas, pp 29-63, 2008b.
SCOTT, Joan. Experiência. In: Alcione Leite da Silva, Mara Coelho de Souza Lago e Tânia Regina
Oliveira Ramos (Orgs.). Falas de Gênero. Santa Catarina: Organização de Editora Mulheres, pp.
21-55, 1999.

12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
STRATHERN, Marilyn. O Gênero da Dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a
sociedade na Melanésia. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2006.
THRIFT, Nigel. The material practices of glamour. In: Journal of Cultural Economy, Vol. 1, No. 1,
march 2008.
TOGNI, Paula C. A “Europa” é o Cacém. Mobilidades, género e sexualidade nos deslocamentos
de jovens brasileiros para Portugal. Tese de Doutoramento em Antropologia. ISCTE/OUL, Lisboa,
2014.
WILSON, Elizabeth. A Note on Glamour. In: Fashion theory, volume 11, Issue 1, pp. 95-108, 2007.

"Do you work only with events?": ethnographic notes about event promoters in São Paulo

Abstract: The presence of women working informally as promoters, receptionists and models at the
trade show booths of the automotive and agricultural sectors, considered as masculine, brings to the
fore classic issues of gender and work studies. The article discusses the demarcation of the
boundaries between the event market and sex markets, between event professionals and "other
professions". It presents a preliminary analysis of my doctoral research on the work of women in
the event market based on a multisite ethnography made in four fairs located in the cities of São
Paulo/SP and Ribeirão Preto/SP and in the network established from these places. Through the
narratives of promoters it is observed that the production of the distancing of the ficha rosa
(category that refers to sex-for-money exchanges) requires the defense of the "honest" work of the
ficha branca (category opposed to ficha rosa) and the attack to prostitution, which appears as an
active resource in the quest to legitimize the work of those who work "honestly" socially. The use
of these categories allows for transits that inform the construction of social and moral boundaries in
the event market and whose limits are the sex markets. Given that the relationship between
sexuality and labor markets is little discussed in labor studies, the objective of this text is, from
trajectories of promoters, to explore the tensions and transits between sex markets and labor market
in events.
Keywords: Work, gender, sexuality, event promoters.

13
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Você também pode gostar