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Fernanda Nascimento de Brito

Matricula: 200091310

Histórias periféricas

A Europa não influência somente na política, economia e social no mundo, mas


também em conceitos e valores na ciência 1 A história como ciência teve sua parte da
sua bagagem forjada pela Europa, por isso grande parte dos nossos conceitos e
métodos é calcada em idéias européias. Além disso, historiadores europeus se
julgaram aptos para determinar quais povos possuíam historicidade como, por
exemplo, os indígenas e africanos.
Povos indígenas e africanos, por exemplo, foram decretados como sem história
pelos Ocidentais, que não consideravam a tradição desses povos como método de
transmitir história. No Brasil, portugueses fizeram registros sobre os nativos, mas essas
documentações não eram consideradas o suficiente para caracterizar esses grupos
pertencentes de uma história própria. 2 Logo após, a ciência passou a abarcar esses
testemunhos, sendo validados. O problema sobre essa questão é que eram fontes
produzidas pelo olhar do ocidental sobre o outro. Então, essas fontes e métodos feitos
pelos europeus passaram a legitimar a história de outras populações.
Chakrabarty é importante para entendemos como se deu esse processo de
negação de uma epistemologia e imposição de outra. Na América Latina o
conhecimento europeu se sobrepôs a cultura local, que seria a indígena. Os moldes da
ciência européia foram impostos pelos seus próprios criadores, que determinavam
como e quais sujeitos criavam história. Porém, não devemos que isso foi exercido e
abraçado pacificamente, pois historiadores latino-americanos exploraram as fontes
indígenas com outros olhares, elaboraram métodos, teorias, historiografias.
No período pôs-colônia, países da América Latina entraram no processo de
busca sua identidade. O Brasil também participou desse processo de entender a

1
SANTOS, Pedro Afonso Cristovão dos; NICODEMO, Thiago Lima; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria.
Historiografias periféricas em perspectiva global ou transnacional: eurocentrismo em questão. Estudos
Históricos (Rio de Janeiro), v. 30, p. 161-186, 2017. p. 163
2
Idem. p. 166
identidade brasileira, Freyre fez parte desse processo. O autor ao escrever as suas
teses, buscou entender a formação do brasileiro através das raças.
Houve historiadores que desenvolveram obras, as quais foram refutadas não
somente pelos seus pares, mas por negros e nativos. A obra de Freyre, Casa grande e
senzala, teve suas teses difundidas como a democracia racial e harmonia social. Ambas
as propostas não cabem no verdadeiro cenário brasileiro, mas não podemos negar
Freyre influenciou a exploração de estudos sobre a família e raça no Brasil. E Isso
ocorreu porque a obra foi revisada por outros pesquisadores, recorreram a fontes que
fugissem dessa visão eurocêntrica.
A construção da história da America Latina foi perpassada pela colonização,
tendo a imposição de uma ciência sobre a outra. Então, ambos os continentes
percorreram trajetórias distintas. Primeiro, a historiografia do centro (Europa), no
século XIX, estava em busca de explorar emoções, ações e reações, e da periferia
(América Latina) buscava formas de apresentar as particularidades da sua própria
história.3 Porém, ao descrever usar centro e periférica para nomear os continentes é
preciso entender que os latinos foram em busca da sua própria história.
Com isso, vemos que a ciência européia foi imposta e ainda exerce poder sobre
os demais continentes, mas não podemos resumir a produção de conhecimentos não-
ocidentais somente a isso. Ao declararmos que a Europa é centro do processo,
ignoramos as complexidades que existe entre centro-periferia, ignoramos as
interações entre ambos, as resistências a imposição, a complexidade das tradições fora
do “centro”.4
Ao percorrer a historiografia sobre negros e indígenas no Brasil, vemos
mudanças como, os escravos não possuem capacidade para forma famílias, mas após
entendemos que essa tese é incabível. Historiadores brasileiros tiveram que adaptar
ou elaborar métodos próprios para as fontes. Esse é um exemplo de que o continente
latino não é só um receptor da epistemologia européia.
Os autores descrevem sobre a necessidade de relativizar idéias rígidas sobre as
influências entre centro e periferia, sendo necessário o aprofundamento nas
experiências periféricas.5 Como o exemplo apresentado acima, os historiadores latinos
3
Idem p. 171
4
Idem
5
Idem p. 173
desenvolveram seus modos de produzir ciência, mas esses modos de produção
também sofrem mudanças.6 E é natural, já que o processo de desenvolvimento da
ciência também é elaborado com o contato com o outro. 7 Dito isso, acredito que a
Europa também sofre processos de mudanças quando entra em contato com a ciência
não-ocidental.

6
Idem
7
Idem

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