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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

ESTUDANTE: Fernanda Nascimento de Brito


MATRICULA: 14/0020021
DISCIPLINA: Historiografia
Drº Andé Pereira Leme Lopes

A revolta de Kronstadt

RESUMO: A característica principal desse artigo é compreender os motivos que


levaram a revolta de Kronstadt, em 1921. De acordo com os autores utilizados nesse
projeto compreendemos ser necessário descrever rapidamente sobre o comunismo de
guerra. A revolta foi iniciada em solidariedade aos grevistas que estavam se
manifestando naquele período. Portanto, para entender as greves que estavam
acontecendo em março é necessário discorrer sobre a situação econômica daquele
momento.
Sheila Fitzpatrick descreveu sobre as dificuldades que os bolcheviques
enfrentaram depois que assumiram o poder em Petrogrado. O primeiro obstáculo
enfrentado por esse grupo era se aproximar dos sovietes locais. Os bolcheviques nas
províncias e nos centro precisavam concretizar suas relações com os sovietes, pois esses
ainda eram dominados pelos mencheviques e SRs. A autora descreve que as zonas
remotas e locais não russos pertencentes ao antigo império estavam enfrentando
conflitos diversos. Portanto, os bolcheviques provavelmente enfrentariam ataques com
vínculos anarquistas e separatistas. 1
De acordo com a Revista Eletrônica Arma da Crítica, os operários juntos com a
pequena burguesia derrubaram o Czar em fevereiro de 1917. Esse momento influenciou
o ressurgimento dos sovietes, que passou a ser formada de soldados, camponeses e
deputados operários.
Fitzpatrick compreende que o novo regime instaurado pretendia instalar a
ditadura do proletariado. Os bolcheviques esperavam que a revolução russa
influenciasse e estimulasse revoluções parecidas em toda a Europa. 2 Alexandre Hecker
discorre sobre a economia russa depois da guerra civil. A política econômica mantida
durante a guerra permitiu a vitória dos bolcheviques, porém não conseguiu organizar de
modo efetivo a economia do Estado novo. O autor prossegue descrevendo que a
situação econômica não agradava os socialistas. Esses acreditavam e esperavam que os
trabalhadores pudessem produzir sem a interferência coercitiva do Estado. A ditadura
do proletariado deveria agir contra a burguesia, porém não era esse caminho que estava
sendo percorrido. O governo bolchevique determinou uma organização econômica que
os trabalhadores deveriam se submeter aos interesses da “revolução”.3
Fitzpatrick também discorre sobre o impacto da Guerra Civil na economia. A
autora enfatiza que esse período gerou grande impacto sobre os bolcheviques e a nova
República Soviética. A Guerra Civil abalou a economia, causando à quase paralisação
das indústrias e a diminuição da população nas grandes cidades. Assim, os bolcheviques
enfrentaram conseqüências tanto econômicas como sociais, pois o esvaziamento das
cidades significou a dispersão e desintegração do proletariado industrial. 4

1
FITZPATRICK, Scheila. A Revolução Russa. 1. ed. [São Paulo]: Todavia; 2017. p. 103
2
Ibdem, p. 104
3
HECKER, Alexandre. A Revolução Russa: Uma história em debate. 2. ed. Expressão e Arte
Editora, 2007. p. 71
4
Fitzpatrick, op. cit. 117
De acordo com Fitzpatrick, os bolcheviques possuíram dificuldades de manter a
economia funcionando, pois assumiram o poder econômico num período de guerra que
estava em colapso. A autora discorre sobre as políticas econômicas impostas no período
da guerra civil e que ficaram conhecidas como “comunismo de guerra”. Adiante
utilizaremos Hecker para explicar essas imposições. Fitzpatrick transcreve que havia um
contexto ideológico por trás dessas medidas. Os bolcheviques tinham planos para abolir
a propriedade privada e o livre mercado, e distribuir a produção de acordo com as
necessidades. Imediatamente, eles preferiam políticas que possibilitariam a realização
desses planos futuramente. A autora explica como a nacionalização e distribuição estatal
podem ser respostas ao cenário de guerra e um imperativo do comunismo.
Hecker dem sua obra descreveu que durante a guerra civil a população sofreu
com doenças, epidemias, fomes, execuções que resultou na morte de 20 milhões de
pessoas. Além disso, houve uma fuga massiva de pessoas com alto grau de
escolarização, causando uma falta de mão de obra qualificada no país.5
O autor prossegue discorrendo sobre as táticas do Partido Comunista para
melhorar a situação econômica. Em 1918, medidas rigorosas foram impostas que
tiveram a denominação de comunismo de guerra. O Partido buscou concentrar a
autoridades administrativas e econômicas das empresas com base nas decisões do
Estado. Portanto, os sindicatos tiveram que funcionar como órgãos do Estado e
deveriam recrutar mão-de-obra. Hecker explica que os inimigo/adversários dos
comunistas foram obrigados a trabalharem em campos de concentração com o objetivo
de produzir compulsoriamente.6
A agricultura também teve que obedecer às táticas do comunismo de guerra.
Portanto, a agricultura deveria suprir as necessidades das cidades, pois a conseqüência
do declínio da produção rural seria o atraso da vida urbana. Os bolcheviques
acreditavam que com a desapropriação da nobreza a produção aumentaria, mas isso não
ocorreu e se tornou um problema. Hecker prossegue explicando qual caminho o
processo de produção tomou. Após 1917 o número de propriedades aumentou, porém
houve uma diminuição da área ocupada por elas. Entende-se que a ocupação dos
camponeses possuía o objetivo de ser tornarem pequenos proprietários voltados para o
autoconsumo.7

5
Hecker, op. cit. 72
6
Ibdem, p. 72
7
Ibdem, p. 72
Compreendendo como se deu a produção do meio rural após 1917, o autor
prossegue identificando as medidas tomadas pelo Estado para modificar o cenário. O
Comissário do Povo para o Abastecimento reorganizou a produção e ordenou
distribuição e transporte para as cidades. Em 1918, criaram-se fazendas coletivas com o
objetivo de regularizar o abastecimento. Eram ambientes com o intuito de reunir
pessoas para trabalharem e conviverem.8
Hecker descreve as medidas tomadas nas áreas industrializadas.

Na indústria, a centralização ocorria sob a direção do Conselho


Supremo da Economia Nacional (Vesenka) por meio de
comissões para a administração de cada unidade. As pequenas
indústrias permaneciam com seus antigos proprietários e, o
mesmo nas grandes, o corpo administrativo, compreendido os
patrões, permaneceu no comando: era preciso aproveitar o
potencial técnico dos grupos dominantes recém-expropriados,
até que o novo sistema econômico pudesse construir novas
competências e sistematizar-se; 9

O autor prossegue descrevendo que essas medidas e o esforço do Partido


Comunista não geraram o resultado desejado. Houve a destruição e desorganização das
forças produtivas e a oferta de mão-de-obra. Com o fim da guerra civil e a ameaça do
retorno do antigo regime acabado, os cidadãos sofriam com a falta de produtos de
consumo. Portanto, os SRs e mencheviques se aproveitaram dessas dificuldades para se
voltarem contra o poder soviético. Ambos os grupos queriam disputar politicamente.
Hecker descrever que esses grupos usaram o slogan “O poder aos sovietes e não aos
partidos”, eles queriam os sovietes sem os comunistas.10
Daniel Aarão descreve sobre o fim da guerra civil, em 1920, os bolcheviques se
encontravam no poder e Rússia estava devastada. É necessário compreender que o
comunismo de guerra surgiu durante a guerra civil e continuou sendo mantido depois do
fim da guerra. O autor escreve que havia uma carência de alimentos em todo o país.
Havia a distribuição de rações. A sociedade não aceitava mais essas medidas
continuassem com o fim da guerra civil e estava insatisfeita com a situação.
Manifestações passaram a ser recorrentes e a oposição se aproveitou desse momento.

8
Ibdem, p. 73
9
Ibdem, p. 73
10
Ibdem, p.74
Surgiram greves nas cidades reivindicando melhores condições de vida e trabalho. A
restrição à liberdade também era alvo de críticas.11
Hecker explica que cidadãos pertencentes à antiga classe média se reuniram com
os SRs e os mencheviques com o intuito de dialogarem com os órgãos de poder
bolchevique, porém não obtiveram sucesso. O dialogo teria o objetivo de convencer os
bolcheviques a restaurarem alguns padrões econômicos do livre mercado capitalista.
Ambos os grupos citados buscaram ter influência nas áreas rurais e conseguiram. O
resultado dessa influência foi várias insurreições. O autor discorre que o Partido
Comunista tomou atitudes para averiguar e reter a situação. Houve esclarecimento e
tentativa de apaziguar a população sobre a condição econômica e o exercito vermelho
possuía autorização para atacar e reprimir qualquer manifestação provinda desses
grupos. 12
Nesse cenário explicado anteriormente, surgiu a revolta de Kronstadt. Daniel
Aarão se refere a esse acontecimento como a “a revolução esquecida”. A manifestação
ocorreu em 2 de março de 1921, os marinheiros da base de Kronstadt se declararam em
estado de rebelião em apoio aos grevistas de Petrogrado. O autor explica o papel dessa
base na guerra civil, primeiro é enfatizado que se trata de um local importante, pois era
uma área estratégia que protegia Petrogrado. Os marinheiros pertencentes à Kronstadt
estiveram na linha de frente durante a queda do antigo regime e a guerra civil. Por isso,
o soviete local ficou nas mãos de bolcheviques e anarquistas. A participação dos
marinheiros de Kronstadt foi essencial para a vitória da chamada Revolução de
Outubro. 13
De acordo com Hecker no X Congresso do Partido Comunista foi recebido a
informação sobre a manifestação ocorrida em Kronstadt e interpretou como uma traição.
De acordo com o autor os congressistas compreendiam e achavam justas as
manifestações, mas afirmavam que não tinham o direito de exigir através da força suas
reivindicações. Hecker descreveu que os bolcheviques determinaram que o movimento
dentro dos motins era contra-revolução.
Daniel Aarão esboça uma dúvida “O que desejavam os marinheiros de
Kronstadt?”. São diversas reivindicações apresentadas por esse grupo e Aarão as expõe.

11
REIS, Daniel Aarão Filho. As Revoluções Russas e o Socialismo Soviético. 2. Ed. São Paulo.
Editora UNESP, 2003. p. 72
12
Hecker, loc. cit.
13
Reis, op. cit., 73
[...] Nos primeiros manifestos publicados, esboçou-se um
programa: solidariedade às reivindicações dos operários
grevistas, liberdade de manifestação, libertação de todos os
presos políticos, formação de uma comissão independente para
investigar denúncias sobre a existência de campos de trabalho
forçado e, mais importante, eleições imediatas para a renovação
de todos os sovietes existentes, na base do voto universal e
secreto, controladas por instituições pluripartidárias,
independentes do Estado. 14

Aarão discorre que os bolcheviques aceitaram negociar com os marinheiros e


atenderam as demandas dos operários em greve. Não foi o suficiente para os
marinheiros, pois queriam que todas suas demandas fossem atendidas. Portanto,
continuaram mobilizados e armados. Com a revolta em Kronstadt os bolcheviques
estavam receosos que pudesse influenciar novas revoltas. Assim, decretaram um
ultimato de 72 horas depois do início do movimento para eles se renderem, pois caso ao
contrário seriam aniquilados.
Hecker também descreveu os motivos que levaram os marinheiros a protestarem.
Eles reivindicavam o estabelecimento de uma democracia soviética. Os marinheiros não
concordavam que nas eleições dos sovietes sempre eram vencidas pelo Partido
Comunista. Portanto, queriam que fossem realizadas novas eleições imediatas para os
sovietes, voto secreto e livre propaganda eleitoral. Também eram exigido liberdade de
expressão e de imprensa para trabalhadores e camponeses, o direito a reuniões e
liberdade ara sindicatos e organizações camponesas.15
Os marinheiros não se renderam e declararam o início de uma terceira
revolução. Essa nova revolução seria contra a burguesia e o regime do Partido
Comunista. O autor enfatiza que os bolcheviques passaram a utilizar o nome de “Partido
Comunista” desde 1918. 16
Aarão chama esse acontecimento de revolução, que foi
isolada do restante da sociedade. Em 18 de março acabou a revolta com milhares de
mortos e feridos e cerca de 2.500 prisioneiros. 17

14
Ibdem
15
Hecker, op. cit,. 76
16
Ibdem, p. 73
17
Reis, op. cit., 74
Hecker esclarece que no mesmo X Congresso do Partido houve reconhecimento
da necessidade de mudanças econômicas. O partido reconhecia as vantagens que as
medidas econômicas produziram durante a guerra civil.

[...] havia ocorrido à desintegração do mercado capitalista,


embora ainda um vazio ocupasse o seu lugar; a função do
trabalho como fator da produção não mais tinha sentido como
sustentáculo de uma economia capitalista de mercado, mas sua
função era manter as vitais necessidades sociais e militares. 18

Aarãos escreveu que a historiografia soviética desmoralizou e atribuiu o


acontecimento em Kronstadt como uma conspiração contra a revolução. Em contra
ponto, a literatura com influência anarquista buscava resgatar o caráter revolucionário
de Kronstadt.
Fitzpatrick em sua obra, A Revolução Russa, descreveu que em 1921, o
comunismo de guerra foi substituído pela Nova Política Econômica. Com o fracasso do
comunismo de guerra era preferível que não se falasse sobre e, principalmente, o
alicerce ideológico. Em contrapartida, havia outra perspectiva sobre essa tática, a autora
cita Bukhárin e Preobrajénski para eles que era natural a justificativa ideológica
atribuída pelos bolcheviques.

18
Hecker, op. cit,. 77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

FITZPATRICK, Scheila. A Revolução Russa. 1. ed. [São Paulo]: Todavia; 2017.


HECKER, Alexandre. A Revolução Russa: Uma história em debate. 2. ed. Expressão
e Arte Editora, 2007.
REIS, Daniel Aarão Filho. As Revoluções Russas e o Socialismo Soviético. 2. Ed. São
Paulo. Editora UNESP, 2003.
STÁLINE. Problemas Econômicos do Socialismo na URSS. Tradução do russo e
edição por CN. <
http://www.fundacaoclaudiocampos.com.br/assets/problemaseconomicossocialismo.pdf
>

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