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O ANATOMISTA
ANO 5 – VOLUME 1
JANEIRO A MARÇO DE
2020
ISSN 2177-0719
ISSN 2177–0719
Capa:
Epitome.
Tabula Sex.
Tradução do Português Pedro Carlos Piantino Lemos, Maria Cristina Vilhena Carnevale
São Paulo: Ateliê Editorial; Impressa Oficial do Estado; Campinas: Editora Unicamp, 2002
EDITORES
Prof. Dr. Eulâmpio José da Silva Neto
EDITORES ASSOCIADOS
Prof. Dr. Jodonai Barbosa da Silva
REVISÃO GERAL
CONSELHO FISCAL
Prof. Dr. Eulâmpio José da Silva Neto
Começamos mais um ano e colocamos como uma das metas da Sociedade Brasileira
de Anatomia regularizar a revista O ANATOMISTA. Achamos que esse veículo de
comunicação da SBA juntamente com os amantes das ciências morfológicas é de suma
importância, visto que ela se propõe a publicar artigos e matérias de interesse da nossa
profissão. Temos aqui uma revista com uma grande amplitude cultural, aspecto tão importante
ao intelecto dos nossos professores, alunos e técnicos.
A SBA conta com a colaboração de todos aqueles que quiserem participar das
próximas edições, pois uma revista necessita de material para se manter dentro de uma
periodicidade que será trimestral. Convidamos desde já o envio de matérias para o próximo
número.
1. SOBRE A REVISTA
2. TIPOS DE MANUSCRITOS
• Anatomia e arte
• Terminologia
• Ensino na área
• Extensão na área
• Técnicas anatômicas
Antes de enviar a sua produção certifique-se que todos os itens dessa sessão foram conferidos
e ajustados:
3.1 Autores
Espera-se que todos os autores tenham contribuído em qualquer uma das etapas de produção
do manuscrito. Não existe limite de autores. A ordem dos autores será entendida da seguinte
forma: 1. Autor principal; seguido de Coautores (se houver); e o último Orientador (se
houver).
4. ÉTICA NA PUBLICAÇÃO
O manuscrito que teve uso de animais e seres humanos, os autores devem enviar a declaração
do comitê de ética ao qual o trabalho foi submetido e registrar o número do processo na
metodologia. É de inteira responsabilidade dos autores o conteúdo, eximindo totalmente a
revista e a SBA sobre quaisquer queixas de plágio e/ou direitos autorais sobre textos e
imagens submetidos para a revista. Pra tanto, a revista solicita que os autores passem seu
manuscrito em um dos vários programas antiplágio disponíveis gratuitamente na Web.
Todos os autores devem assinar e enviar via e-mail e/ou programa específico da revista que
estiver disponibilizado no portal da SBA (www.sbanatomia.org.br) uma carta de submissão
concordando com a submissão e as normas aqui descritas caso o manuscrito seja aceito para
publicação.
5. FORMATAÇÃO TEXTUAL
O título deve ser conciso, escrito em negrito, centralizado, fonte: Times New Roman,
tamanho 14. O texto pode obedecer às divisões como: introdução, objetivo, metodologia,
resultados, discussão, conclusão e palavras-chave. Em caso de produção artística e cultural o
texto pode ser livre de divisões. O limite de páginas deve ser e até 10, incluindo somente os
textos e referências. Deve ser escrito na fonte: Times New Roman, tamanho: 12, justificado,
espaçamento entre linhas de 1,5. Margens: esquerda e superior (3 cm) e direita e inferior (2
cm).
5.1 Tabelas
As tabelas devem ser enumeradas de acordo com a ordem que aparecem no texto. Todas as
tabelas devem conter o seu próprio título e fonte.
5.2 Imagens
As imagens devem ser enumeradas de acordo com a ordem que aparecem no texto. Todas as
imagens devem conter o seu próprio título e fonte. Não existe limites para a quantidade de
imagens. O tamanho deve ser de 105x148 mm e a resolução de 300 dpi.
Os Editores
SUMÁRIO
1 LANÇANDO LUZES SOBRE A IDADE MÉDIA: OS MITOS 9
ENVOLVENDO OS ESTUDOS ANATÔMICOS NO PERÍODO
Rodson Ricardo Souza do Nascimento; Bento João Abreu
4 29
OS IMPASSES NO RECONHECIMENTO CURRICULAR DA
LIGA DE ANATOMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Amira Rose Costa Medeiros; Ana Aline Lacet Zaccara; Ana Karine Farias
da Trindade; André de Sá Braga Oliveira; Monique Danyelle Emiliano
Batista Paiva; Andréa Sarmento Queiroga; Iraquitan de Oliveira Caminha;
Marianne Vieira Aragão Barbosa; Alvaro Braga Dutra; Klaus Helmer
Kunsch; Marlon Alexandre de Albuquerque; Rayanne Trocoli Carvalho;
Antonio Tarcísio Pereira Filgueira; Pamella Kelly Farias Diniz; Wilson José
de Miranda Lima; Eulâmpio José da Silva Neto.
“A ciência da dissecação humana foi amplamente praticada na Idade Média cristã e foi
endossada e apoiada pela igreja. Na verdade, a dissecação humana como empreendimento
científico é exclusivamente um produto da civilização cristã. Outras civilizações – a
antiguidade pagã, o Extremo Oriente e o Islamismo – nunca praticaram a dissecação científica
em nenhuma escala e, na verdade, geralmente proibiram esse estudo”.
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“O trabalho de Galeno foi seminal; ele descreveu o papel do diafragma na respiração, o vácuo
nas cavidades pleurais contendo os pulmões e a anatomia do sistema venoso do cérebro. O
trabalho de Galeno, embora bastante exato quanto à anatomia animal, era errado sobre
aspectos importantes da anatomia humana [como o número de lóbulos do fígado humano e o
rete mirabilie, uma estrutura de vasos sanguíneos encontrados em ovelhas e cães, mas não em
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“Tanto é verdade que, no começo do século XVI, os estudos anatômicos na Espanha eram
tidos como sério e destacados, pois lá a prática da Anatomia e Cirurgia era em cadáveres
humanos de todas as classes e condições sociais. Por este motivo, foi construído, na província
de Cáceres, um hospital, onde mais tarde foi a dissecação em seres humano, autorizada pelo
Papa” (CHAGAS, 2018, p. 34).
ações e capacidades dos organismos vivos - incluindo comer, crescer, reproduzir, sentir e
mover - dependeriam e seriam controladas pela alma. O corpo inteiro, e cada uma de suas
partes individuais, seria o instrumento pela qual a alma se expressava e agia no mundo.
Uma curiosidade é que palavra “órgão” é derivada da palavra grega (ὄργανον) para
ferramenta e reflete essa visão aristotélica da relação entre corpo e alma. Assim, por exemplo,
a capacidade de ver seria uma faculdade da alma, mas para realmente se enxergar algo, a alma
precisaria utilizar um instrumento – como o olho, por exemplo - e assim por diante.
Ecos desta filosofia podem ser encontrados, séculos depois, em Leonardo Da Vinci
(1452-1519). No século XV, então residente em Milão, realizava seu famoso estudo sobre os
músculos da face. Seus desenhos anatômicos (Figura 3) não seriam superados durante
séculos. Mas o que movia o gênio renascentista era algo muito mais profundo que apenas
expor de forma materialista as estruturas anatômicas:
“Também acreditava que os músculos estavam em comunicação direta com a alma, e que os
movimentos da alma podiam ser compreendidos por meio de uma avaliação do corpo: ‘A
articulação dos ossos obedece ao nervo, o nervo ao músculo, o músculo ao tendão e o tendão
ao Senso Comum. E o Senso Comum é a sede da alma’ [...] Para Da Vinci, tabular as ações
dos músculos empresando essas emoções era chegar perto de compreender a fonte divina das
próprias emoções” (FRANCIS, 2017, p. 67).
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Para um anatomista do século XXI pode parecer estranho a relação entre dissecação e
espiritualidade; ou relações entre o corpo e alma; ou ciência e espiritualidade. Para os antigos
e medievais, isso não ocorria. Os cristãos acreditavam que a contemplação da Anatomia (e
outros aspectos do mundo natural) poderia inspirar admiração e gratidão em relação ao Deus
criador. Era, portanto, um assunto apropriado para todos os cristãos instruídos, não apenas
para os médicos e anatomistas. Essa visão mais elevada da Anatomia é nítida em Leonardo da
Vinci, para quem “Anatomizar era chegar mais perto de Deus:
“É tu, homem, que testemunhas nesse meu trabalho as maravilhosas obras da natureza, se essa
composição lhe parecer um trabalho magnífico, deverias considerar isso como nada
comparado à alma que reside dentro dessa arquitetura” (FRANCIS, 2017, p. 68).
Muito antes dos materialistas franceses, foi um pensador cristão quem imaginou a
construção de uma enciclopédia universal. E nela a Anatomia teria lugar de destaque. O nome
deste homem é Bartolomeu da Inglaterra (Bartholomeus Anglicus 1203 - 1272). Este frade
franciscano havia estudado Anatomia em Oxford. Em seu compêndio De proprietatibus
rerum (“Sobre as propriedades das coisas”), datado de 1240, ele incluiu uma discussão sobre
anatomia humana.
É essa longa tradição de estudos anatômicos que, como os braços de um rio, iriam
desaguar na figura do lendário Andreas Vesalius (1514-1564). Seu livro De humani corpori
fabrica (“Da organização do corpo humano”) é amplamente reconhecido como o primeiro
manual de anatomia moderna. Lançado em 1543 este livro marcaria o patamar superior da
Anatomia Humana como ciência.
Deve-se recordar que Vesalius era um católico que trabalhava como professor de
Anatomia da Universidade de Pádua, na Itália. Tratava-se de uma instituição católica que
recebia apoio e incentivo da Igreja para suas pesquisas. Ele destacou-se por sua ardorosa
defesa da prática sistemática da dissecação de seres humanos; apontando os lapsos da
anatomia galênica que predominava nos principais livros-textos utilizados até então. Além
disso, coube a ele a transformação da imagem de Anatomista, antes ligado à morte, em um
personagem de grande valor cultural e científico.
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REFERÊNCIAS
BRAGA, Marco, GUERRA, Andreia, REIS, Jose Claudio. Breve História da Ciência
Moderna Vol. I - Convergência de Saberes (idade Média). Zahar, 2003.
CHAGAS, Juarez (et alli). História da anatomia: através da dessecação do corpo humano.
Jundiaí: Paco, 2018
COPAN, Paul (et alli). Dicionário de cristianismo e ciência. Rio de Janeiro: Thomas
Nelson, 2018
DORTIER, Jean- Francois. Dicionário de ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes,
2010
FRANCIS, Gavin. Da cabeça aos pés: histórias do corpo humano. Rio de Janeiro: Zahar,
2017
Na Grã-Bretanha do século XIX, o cenário das universidades médicas não era muito
diferente do restante da Europa: padecia-se com a escassez de cadáveres destinados aos
estudos anatômicos e grande parte das dissecações era realizada em corpos de criminosos
executados pelo Estado. O ambiente era propício para a ação dos “ressurreicionistas” ou
mesmo de indivíduos menos ávidos pela árdua tarefa de saquear corpos recém-sepultados de
seus túmulos. É nesse ambiente anterior ao Ato Anatômico (1832) que surgiram os crimes
anatômicos mais infames da história recente!
Interessantemente, não houve muitas perguntas sobre como o corpo foi obtido e,
diante da excelente lucratividade com a venda do corpo, a infame dupla começou a fabricar
corpos a granel. A primeira vítima foi de outro inquilino doente, “Joseph”, um alcoólatra que
teve seu destino apressado ao receber muito uísque de Burke e Hare. Após cair inconsciente, a
vítima teve nariz e boca tapados com um pequeno travesseiro por Burke, enquanto seus
membros permaneceram contidos por Hare. Mais uma vez, Dr Knox recebeu o corpo de bom
grado e, diante de qualquer ausência de marcas de violência no corpo, tanto externamente
como observado pela autópsia, orientou a dupla a retornar com mais cadáveres.
Após um mês de investigações, com seu antigo parceiro Hare testemunhando a seu
desfavor em troca de imunidade, Burke foi condenado à morte. Na sentença proferida pelo
juiz, seu corpo deveria ser “dissecado e anatomizado publicamente”. Além disso, seu
esqueleto deveria ser “preservado para que a posteridade pudesse se lembrar de seus atrozes
crimes”.
É curioso que Dr Knox, seja por cegueira voluntária ou negligência, não percebera a
real origem dos cadáveres que andava recebendo em seu laboratório. Alguns possuíam cabeça
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A saga dos infames assassinos virou filme em 2010 e o verbo “to burke” é comumente
referido como uma forma de assassinar alguém por sufocamento.
REFERÊNCIAS
Roach, Mary. Curiosidade Mórbida. 1a Edição. São Paulo. Editora Paralela, 2015.
http://oaprendizverde.com.br/2017/06/21/serial-killers-william-burke-william-hare-
assassinatos-em-west-port. Acesso em 27/11/2018.
http://www.oarquivo.com.br/variedades/curiosidades/2814-william-burke-e-william-haree-
seus-cadaveres-frescos.html. Acesso em 27/11/2018.
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Yves Matheus Barros de Sousa Oliveira1,*Mércia Lima de Melo2, Jade Louise Alves Macedo
Padilha Silva1, Hygor Felipe de Albuquerque Barros1, Mauro Bezerra Montello1, Ingrid
Martins da França3
1
Graduação em Fisioterapia, Programa de Monitoria em Anatomia Humana, Área V,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2
Graduação em Educação Física, Programa de Monitoria em Anatomia Humana, Área V,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
3
Fisioterapeuta, Programa de Monitoria em Anatomia Humana, Área V, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
*Autor correspondente: yvesmatheus06@gmail.com
INTRODUÇÃO
Tais regras são amplamente abordadas em diversas áreas como Física, Química,
Matemática, Biologia e certamente na Anatomia, base indispensável para diversos cursos,
especialmente os da área da saúde. O conteúdo abordado nos cursos de graduação é
geralmente vasto e apresenta uma carga horária relativamente baixa. Assim, o aprendizado
pode tornar-se um processo mecânico, no qual o aluno apenas decora o que lhe é transmitido,
sem associar e realmente aprender. Tal situação pode culminar em uma deterioração do
conhecimento ainda na graduação e, por conseguinte, prejudicar o exercício da prática
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clínica.2,3 Sob essa ótica, as estratégias mnemônicas podem ser consideradas uma eficiente
ferramenta que proporciona um aprimoramento da aprendizagem, retenção e desenvolvimento
de habilidades dos alunos4, inclusive na prática clínica.5,6
Meniscos
A regra mnemônica corrente seria uma associação com a fabricante de carros Citroen.
CI: pois o menisco em forma de “C” é o medial “I” (mais Interno); e OE: o menisco em
forma de “O” é o lateral “E” (mais Externo). Isto pode ser evidenciado na Figura 1 abaixo.
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Fígado
Lóbulos do Cerebelo
posterior, pelos lóbulos: declive, folium, túber, pirâmide e úvula; e o lobo floculonodular pelo
nódulo.10
Com base nisso, é possível associar o nome desses lóbulos à seguinte frase: "A
Língula do Lóbulo Central Comeu Dez Folhas de Tubérculo e soltou um PUN". Onde
conforme podemos observar na Figura 3, cada palavra é relacionada a um lóbulo, como folhas
a folium.
Nervos Cranianos
Existem doze pares de nervos cranianos (NC) formados por fibras sensitivas e/ou
motoras, correspondendo a feixes de processos provenientes de neurônios que atravessam
forames ou fissuras na cavidade do crânio, sendo originários do encéfalo.9
I. Nervo Olfatório: associar um dedo entrando no nariz como sendo o nervo número um;
II. Nervo Óptico: utilize dois dedos para representar a numeração dois e aponte cada um
para um olho, remetendo ao nome do nervo;
III. Nervo Óculomotor: com a cabeça fixa, fixe e acompanhe o olhar em três dos seus
dedos que estão se movendo no espaço, assim, fica claro a função motora dos
olhos;
IV. Nervo Troclear: una o nome “quatro”, correspondente à numeração do nervo, e
“troclear”, dessa forma, você pode falar “quatroclear” como memorização sonora;
V. Nervo Trigêmeo: por ser o quinto par, imagine uma família com cinco pessoas - o pai,
a mãe e os três filhos gêmeos - estes trigêmeos remetem ao nome do nervo;
VI. Nervo Abducente: assim como no IV par, use a memorização sonora para mesclar o
nome e o número do nervo, resultando no “abduseiscente”;
VII. Nervo Facial: utiliza-se a semelhança entre o número 7 e a letra F; para tanto, o
número 7 assimétrico com um traço no meio torna-se um F;
VIII. Nervo Vestíbulococlear: associe o número 8 como uma boa nota para passar no
vestibular, notando a semelhança com o nome vestibulococlear;
IX. Nervo Glossofaríngeo: imagine o “g” minúsculo de glossofaríngeo como o número 9,
notando a semelhança entre eles;
X. Nervo Vago: sabendo que a representação do número dez possui um 0, e este é um
número vazio de valor, o denominamos de vago;
XI. Nervo Acessório: ao associarmos o suspensório como um acessório, podemos
imaginar que a representação gráfica do número 11 é semelhante ao suspensório;
XII. Nervo Hipoglosso: associe a numeração do 12º nervo ao dia das crianças, dia 12
de outubro, remetendo criança ao uso de Hipogloss, semelhante ao nome do nervo.
Músculos do Ombro
Com relação ao trajeto das veias superficiais dos membros inferiores, temos a veia
safena magna e a veia safena parva. Para facilitar a memorização e distinção entre elas, segue
a regra mnemônica:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As regras mnemônicas podem ser criadas de acordo com uma demanda individual a
partir da realidade e imaginário de cada docente ou professor. Tais regras participam de uma
vasta gama de ferramentas utilizadas para facilitar o aprendizado em Anatomia Humana.
Assim como a história da deusa “Mnemosine”, essas estratégias serviriam para preservar a
memória ao associar o conhecimento científico a si mesmo e a diversas outras
generalidades, promovendo a manutenção das informações anatômicas.
REFERÊNCIAS
Elayne Cristina de Oliveira Ribeiro¹*; Rayssa Gomes Santos Palmeira²; Renata Mirella Brasil
da Silva Lima³; Eulâmpio José da Silva Neto4
INTRODUÇÃO
As Ligas de Anatomia Humana são entidades estudantis, sem fins lucrativos, que se
propõem ao estudo e promoção da Anatomia Humana em seus vários aspectos e, a maioria,
obedecem ao tripé universitário (ensino, pesquisa e extensão) (SILVA et al., 2015; YANG et
al., 2019). A primeira liga do Brasil, foi a Liga de Combate à Sífilis da Universidade de São
Paulo fundada em 1920, o formato era diferente das ligas atuais, pois procuravam vivenciar a
prática médica combatendo os agravos da época em instituições hospitalares e da saúde
(SANTANA, 2012). Hoje, as ligas no geral se aproximaram das instituições de ensino
cumprindo as atividades acadêmicas, e em alguns casos, com estágios práticos.
Teoricamente, essas entidades são livres de obrigações acadêmicas fixas, tais como
envio de relatório, produção científica, cumprimento de carga horária impositiva, pois elas
não pertencem à grade curricular dos cursos. Os alunos possuem autonomia, liderança e são
coordenados por um ou mais professores que tenham vínculo com a universidade em questão.
Não possuem estrutura física e regimentos de fundação estabelecidos, as normativas são
produzidas por seus membros com regras em comum acordo e sem interferência da instituição
vinculada. E, por essa liberdade e independência de suas filiações, as ligas de anatomia
acabam não sendo reconhecidas e certificadas por suas instituições.
disciplina de Anatomia Humana. Enquanto as ligas médicas possuem órgãos que as apoiam e
viabilizam certificados com validade para programas de residência médica, as ligas
acadêmicas multiprofissionais enfrentam dificuldades no tocante a sua certificação final. A
falta de uniformização na emissão dos certificados faz com que elas tenham um peso diferente
em processos seletivos, em alguns casos sem validade alguma, anulando todo um histórico de
trabalho e esforço realizado pelos discentes e docentes. A situação é ainda mais frustrante
quando as seleções de pós-graduação da área de morfologia e afins não pontuam a
participação em ligas de anatomia.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Para os nossos ligantes, os ganhos em processos seletivos têm sido de forma indireta
pontuados em: produção científica, organização e participação de eventos, cursos de
capacitação e outros. No entanto, a participação em ligas deveria ser considerada pelas
instituições como um importante aspecto da formação acadêmica, que vai muito além apenas
do eixo de extensão, pois na sua evolução ela abarca os 3 pilares da universidade.
Não existe uma padronização de regras que norteiam uma liga, sendo assim, ao ser
fundada, de forma particular, os membros elaboram o estatuto (conjunto de regras, objetivos e
funções). Fica livre a escolha de como serão as atividades exercidas, se a liga terá um foco
mais voltado para o ensino, pesquisa, extensão ou se seguirá o tripé universitário.
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Acompanhando os trabalhos das ligas de anatomia nas redes sociais podemos observar
diversas atividades que englobam todos os eixos.
Na pesquisa, fica claro a participação das ligas nos Congressos, Simpósios e Encontros
de Anatomia para a apresentação de trabalhos, sendo esse o momento em que elas expõem as
suas evidências científicas, mostram o seu brasão e levam o nome da sua instituição para o
público de interesse.
Fonte: https://sbanatomia.org.br/ligas-academicas-2/
Podemos observar que existe um interesse ou incentivo maior nas regiões nordeste e
sudeste, mas sabemos que esse número tende a ser bem maior, visto que muitas Ligas que
participam do Encontro de Ligas, promovido pela SBA nos Congressos Brasileiros de
Anatomia, não se cadastraram na sociedade e isso poderia ser incentivado nos eventos futuros.
O Encontro das Ligas de Anatomia ainda tem pouca adesão nos congressos e simpósios, de
certa forma, isso restringe o espaço dedicado a esse momento na programação dos eventos,
sendo por vezes colocado em horário e local que não beneficiam o protagonismo das Ligas
(Fig.2).
Vale salientar que é justamente nos encontros das ligas que podemos compartilhar
nossas experiências e dificuldades, assim como essa do presente estudo, e, geralmente, a
problemática é comum a todas.
Atualmente, com raras exceções, as ligas não estão sob a responsabilidade das
instituições públicas e privadas, exceto as que se filiam a órgãos que coordenam as ligas
médicas. Devido ao fato de serem criadas e findadas sem qualquer fiscalização ou órgão
responsável, elas são uma realidade crescente, mas, ao mesmo tempo, não possuir vínculo
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com um órgão regulamentador faz com que não tenham uma certificação oficial. No caso da
LAAUFPB, os certificados vêm sendo emitidos pelo presidente e o professor coordenador da
liga, esse documento não consegue valor nas residências médicas por não estarmos vinculados
à associações médicas ou à universidade, tão pouco consegue validade nas seleções de pós-
graduação da área, pois os programas não atentaram ainda para a inclusão da participação de
ligas nos currículos.
Com o passar dos anos e a expansão das ligas as suas atividades deixaram de ser
somente para o campo da prática médica e passaram a ter um foco acadêmico. E apesar de
sermos consideradas como extensão universitária, as nossas atividades não se limitam apenas
a esse eixo. Como Liga de Anatomia, devemos buscar nossa inserção nos processos seletivos
da área, beneficiando não somente a nossa ciência, mas também os membros que lutam
diariamente por ela.
REFERÊNCIAS
SILVA, JHS; CHIOCHETTA, LG; OLIVEIRA, LFT; SOUSA, VO. Implantação de uma
Liga Acadêmica de Anatomia: Desafios e Conquistas. Revista brasileira de educação
médica. 2015; 39 (2): 310-315.
YANG, GYH; BRAGA, ACB; HIPÓLITO, NC et al. Liga de Anatomia Aplicada (LAA): as
Múltiplas Perspectivas sobre Participar de uma Liga Acadêmica. Revista brasileira de
educação médica. 2019; 43 (1): 80-86.
SANTANA, ACDA. Ligas acadêmicas estudantis. O mérito e a realidade. Revista medicina
USP. 2012; 45(1): 96-8.
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Ana Beatriz Oliveira da Fonsêca¹, Héwerton Gabriel Silva dos Anjos², Vitória de Almeida
Lopes², Wigínio Gabriel de L. Bandeira³, Ivson Bezerra da Silva4.
1. Discente de Fisioterapia e Estagiária da Disciplina Anatomia II da Universidade Federal
da Paraíba - UFPB.
2. Discente de Fisioterapia e Monitor da Disciplina de Anatomia II da Universidade Federal
da Paraíba - UFPB.
3. Discente de Enfermagem e Estagiário da Disciplina Anatomia II da Universidade Federal
da Paraíba - UFPB.
4. Professor de Anatomia Humana, Departamento de Morfologia, Centro de Ciências da
Saúde, Universidade Federal da Paraíba – UFPB.
INTRODUÇÃO
Esta disciplina da área morfológica é tida como uma ciência descritiva, que requer
nomes para estruturas e processos do corpo, os chamados termos anatômicos e, para uma
melhor compreensão destas estruturas e sua localização, há livros específicos que abordam
estes termos, indicando tamanho e função. Além disso, a formação também se dá por meio de
peças cadavéricas dissecadas, em que expostas as regiões necessárias para o aprendizado.
corpos humanos e animais. No século XVI houve a publicação da primeira obra literária
referente à anatomia humana, contribuindo com o desenvolvimento da ciência anatômica, tais
como a comparação das estruturas anatômicas entre humanos e animais, e explicações de
funcionalidade, além da utilização de figuras para representar conhecimentos científicos e
facilitar a compreensão do conteúdo a ser analisado. Mas só no século XVIII o estudo das
camadas corpóreas já tinha investigado, identificado e descrito grande parte das estruturas,
permitindo, de forma gradual, a outras disciplinas que viriam a estabelecer as relações entre
essas estruturas, como a fisiologia, patologia e imunologia.
sustentada pelo modelo de Paulo Freire, que acreditava ser importante a relação entre docente
e discente, sem uma hierarquia, na qual era possível que todos ensinassem e aprendessem de
forma conjunta.
METODOLOGIA
RESULTADOS
DISCUSSÃO
acadêmico (PLASS, 2014), consolidando com o fato da prática ser responsável por estimular
animação e interesse nos alunos.
Conforme pôde ser visto anteriormente, grande parte dos estudantes (87,5%),
participantes da monitoria com o uso de fitas coloridas para facilitar a aprendizagem,
acertaram pelo menos 6 das 8 questões sobre miologia do antebraço abordada na avaliação,
concordando com Um e colaboradores (2011), que afirmam que o uso do design positivo é
capaz de induzir emoções positivas nos alunos e resulta em maior desempenho de
compreensão e maior transferência de desempenho. Os autores também concordam que a
complexidade da atividade faz com que os estudantes invistam mais esforço mental no
processamento do conteúdo, tornando-se mais motivados e satisfeitos quando comparados ao
método tradicional de ensino.
Sabe-se que a emoção, junto a memória e a atenção, é essencial para a formação dos
processos de aprendizagem, e isto, nas interações sociais, atividades coletivas, entre outras
coisas, é de suma importância e relevância. Logo, foi percebido um bom desenvolvimento dos
alunos na avaliação, em comparado com as turmas anteriores, que não participaram de
metodologia ativa no aprendizado da miologia do antebraço.
De certa forma, houve a percepção, por parte dos estudantes, mesmo que de maneira
inconsciente, da importância de “sair da comodidade” praticada numa abordagem tradicional,
o que Paulo Freire classificou como educação bancária, quando o conteúdo é apenas
“depositado” na cabeça dos estudantes, impedindo a participação desses de forma ativa na
construção do conhecimento (BRIGHENTE & MESQUIDA, 2016).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
PLASS, J. L. et al. Emotional design in multimedia learning: Effects of shape and color on
affect and learning. Learning and Instruction, v. 29, p. 128–140, 1 fev. 2014.
UM, E., PLASS, J. L., HAYWARD, E. O., & HOMER, B. D. (2011). Emotional design in
multimedia learning. Journal of Educational Psychology, 104(2), 485-498.
Revista O Anatomista – V. 1 (2020) – ISSN 2107-7719 45
Amira Rose Costa Medeiros1, Ana Aline Lacet Zaccara2, Ana Karine Farias da Trindade2,
André de Sá Braga Oliveira2, Monique Danyelle Emiliano Batista Paiva2, Andréa
Sarmento Queiroga2, Iraquitan de Oliveira Caminha2, Marianne Vieira Aragão Barbosa3,
Alvaro Braga Dutra3, Klaus Helmer Kunsch3, Marlon Alexandre de Albuquerque3,
Rayanne Trocoli Carvalho3, Antonio Tarcísio Pereira Filgueira4, Pamella Kelly Farias
Diniz4, Wilson José de Miranda Lima4, Eulâmpio José da Silva Neto2.
INTRODUÇÃO
A disciplina Anatomia Humana é um componente curricular fundamental para os
cursos da área da saúde e envolve um conteúdo vasto e de grande aplicabilidade ao estudante
e profissional (FOREAUX et al, 2018). A dissecação do corpo humano é fundamental ao
estudo da anatomia (LOPES; LIMA, 2017), sendo imprescindível o uso de cadáveres
humanos para o processo ensino-aprendizagem, quer seja por encorajar o pensamento crítico e
investigativo, como para fortalecer a humanização dos futuros profissionais da saúde
(COSTA; COSTA; LINS, 2012). Em contrapartida, o número de cadáveres disponíveis para
estudo é restrito (MARSOLLA, 2013), apesar do amparo legal para utilização de cadáveres
não reclamados (BRASIL, 1992; MOURTHÉ FILHO, et al., 2016), e para a doação
voluntária e gratuita do corpo para fins científicos depois da morte (BRASIL, 2002). Vários
países têm o processo de doação bem disseminado e eficaz, (MELO; PINHEIRO, 2010),
porém no Brasil, falar em morte ainda é um tabu, e a maioria das pessoas tem medo de morrer
e evita abordar o tema (RODRIGUES, 2019).
Assim, considerando o baixo fluxo de cadáveres não reclamados, seguindo a tendência
de outras instituições de ensino no Brasil na última década (DEMBOGURSKI et al, 2011) e
respeitando o princípio ético de receber corpos de pessoas que expressaram o desejo de serem
doadas para estudo, o Programa de Doação de Corpos da Universidade Federal da Paraíba
(PDC/UFPB) foi implantado em março de 2019. Seu objetivo é divulgar e orientar sobre o
processo de doação voluntária de corpos para fins de estudo, receber o corpo e destiná-lo, de
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DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA
Relata-se a experiência de implantação da Cerimônia em Homenagem ao Cadáver
Desconhecido, junto às turmas de graduação que ingressam no estudo da anatomia. As
cerimônias do PDC/UFPB ocorreram durante as primeiras semanas dos semestres letivos, e
foram conduzidas pelos docentes e 23 extensionistas discentes de sete cursos: biomedicina,
enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, nutrição e psicologia. No semestre
2019.1, a atividade envolveu 16 turmas dos cursos de biomedicina, ciências biológicas,
educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, nutrição,
odontologia e psicologia, com um total de 685 discentes que tiveram a oportunidade de
participar do momento. No semestre 2019.2, participaram 14 turmas, com 426 alunos, número
menor, visto que no primeiro semestre a cerimônia foi realizada também com turmas que
cursavam o segundo ou terceiro período.
As atividades foram realizadas por turma, geralmente no início ou final do horário
normal da aula de anatomia. Os discentes eram conduzidos pelo próprio professor da
disciplina para um laboratório reservado e previamente organizado para a cerimônia, durante
o período de realização das mesmas. Escolheram-se as primeiras semanas do semestre para
que a vivência do momento pudesse se refletir no comportamento dos alunos ao longo do
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RELATO DA EXPERIÊNCIA
A Cerimônia teve como pilar a elaboração de um roteiro que permitisse a repetição da
atividade nas várias turmas iniciantes, e que pudesse ressaltar a importância da anatomia, do
estudo no cadáver, do respeito e gratidão. Os discentes da turma eram conduzidos para o
laboratório, onde eram acolhidos pela equipe do PDC/UFPB, e acomodados em torno da
bancada circular, mantendo o cadáver coberto no centro da sala (Foto 1).
No início da cerimônia, o extensionista, responsável pela Etapa de Acolhimento, se
apresentava como membro do projeto de extensão e cumprimentava os presentes (Foto 2).
Iniciava questionando o motivo de estarem ali, e respondia evidenciando a importância da
anatomia para a formação do profissional de saúde:
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Foto 1. Registro fotográfico da turma durante acolhimento para Cerimônia em Homenagem ao Cadáver
Desconhecido no semestre 2019.2, organizada pelo Programa de Doação de Corpos da UFPB. João Pessoa, PB,
Brasil, 2019. Fonte: Arquivo do PDC/UFPB (2019).
“E é por isso que estamos aqui... para homenagear e agradecer àquele que torna
viável o nosso estudo e nosso aprendizado: o cadáver. Apesar de todos os avanços
tecnológicos não há nenhum que substitua ou se compare ao estudo direto no corpo
humano; tocando, palpando, sentindo as diferentes texturas, visualizando as
relações entre órgãos, vasos, nervos, músculos; identificando trajetos e suas
variações anatômicas. Estes corpos que nos cedem a possibilidade de estudá-los
são a maior biblioteca de anatomia, uma biblioteca viva, apesar de morta. ”
Sobre este aspecto, urge reconhecer o cadáver como a principal fonte de aprendizado
em anatomia e a importância da gratidão ao corpo doado ou não identificado. Destacava-se
que haviam corpos doados à instituição, por decisão do indivíduo em vida ou da família; e
corpos doados pelo Estado, visto que não foram identificados ou reclamados pela família.
Mas que, independente da forma como tinham chegado, mereciam respeito e profunda
gratidão. Assim, a melhor forma de ser grato seria respeitando-lhes a dignidade e zelando por
sua honra.
Em seguida, na Etapa de Recomendações, reforçava-se a orientação de impedir
situações que implicassem em vilipêndio ao cadáver, explicando-se o significado do termo, e
explicitando o Artigo 212 do Código Civil, que define o crime e estabelece sua penalidade.
Esta parte do roteiro cerimonial tinha como preocupação garantir que o cadáver receba a
devida reverência, como também tenha sua memória respeitada. Reforça-se que não é
permitido apelidar, fazer brincadeiras jocosas, fotografar, filmar ou publicar imagens e vídeos
nos laboratórios, destacando que essas atitudes ferem o princípio da dignidade da pessoa
humana, podendo ser considerado crime, inclusive com repercussões ao estudante.
“Faltar-lhes com o respeito, desprezar, depreciar, profanar; ferir a honra subjetiva
de qualquer pessoa que guarde sentimentos por esse falecido, é considerado
vilipêndio ao cadáver. Por isso não é permitido fotografar ou filmar os corpos
estudados nas aulas da disciplina anatomia, exceto, quando essas imagens são para
fins de pesquisas acadêmicas com o aval do comitê de ética.”
Para finalizar esse momento da cerimônia, que traz à tona a importância do respeito ao
cadáver no estudo da anatomia, o extensionista dirigia-se especificamente à turma em
questão, solicitando além do respeito, o cuidado com o acervo anatômico:
“Por tudo isso, esperamos que todos os alunos, desta mais nova turma que aqui se
encontra, do curso de (...), possam contribuir com a preservação das peças
anatômicas deste laboratório de anatomia, possam estudar com zêlo e ética,
respeitando os corpos e, sobretudo, sendo gratos a estas pessoas, que continuam
servindo à humanidade, contribuindo com a nossa formação e com todas as vidas
que teremos oportunidade de cuidar no futuro. ”
O convite à turma para contribuir com a preservação do acervo leva à reflexão sobre a
importância do envolvimento da comunidade acadêmica nas medidas de conservação das
peças anatômicas, como a umidificação de peças nas bancadas, cobertura com tecido para
evitar ressecamento e acondicionamento nos tanques após a utilização.
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Terminada esta etapa, iniciava-se a Etapa das Homenagens, quando eram utilizados
os marcadores de páginas e os três ramalhetes de rosas (Foto 3). Neste momento todos os
discentes recebiam um marcador de página contendo a Oração ao Cadáver Desconhecido,
de autoria do médico austríaco Karl Rokitansky (1876); e, em seguida, quatro alunos da turma
iniciante eram convidados a prestarem as homenagens ao cadáver, em nome da turma, como
forma de compromisso com a ética necessária ao estudo de anatomia.
Nas cerimônias do primeiro semestre, o cadáver, que estava coberto desde o início, era
adequadamente descoberto e exposto neste momento. No segundo semestre optou-se por
manter o cadáver sempre coberto para preservar a identidade, porém utilizou-se um tecido em
renda cobrindo todo o corpo, que permitia a percepção do mesmo, sem a identificação.
Foto 3. Flores e Marcadores de Páginas com a Oração ao Cadáver Desconhecido, utilizados durante a Cerimônia
organizada pelo Programa de Doação de Corpos da UFPB. João Pessoa, PB, Brasil, 2019. Fonte: Arquivo do
PDC/UFPB (2019).
Em seguida dava-se sequência às homenagens com a leitura e oferta das rosas pelos
três alunos da turma, ainda ao som do dedilhado em violão.
Foto 5. Registro fotográfico da entrega das rosas durante a Cerimônia em Homenagem ao Cadáver
Desconhecido no semestre 2019.2, destacando-se ao fundo o banner do Programa de Doação de Corpos da
UFPB. João Pessoa, PB, Brasil, 2019. Fonte: Arquivo do PDC/UFPB (2019).
AVALIAÇÃO E REFLEXÕES
A cerimônia alcançou excelente receptividade da comunidade acadêmica do
Departamento, que percebeu os benefícios da sua incorporação no calendário das disciplinas e
o sentimento despertado em alunos, docentes e técnicos de anatomia. O evento ocorreu de
forma individualizada e direcionada a cada turma, com a participação dos respectivos
docentes, e conduzido pelos extensionistas. O protagonismo exercido pelos alunos aproximou
os discentes ingressantes dos veteranos, com estreitamento de vínculos e sensação de
pertencimento. A realização da cerimônia por turma também personalizou a atividade,
gerando um sentimento de compromisso, como uma espécie de juramento. Cada evento teve
duração variável de 15 a 20 minutos e foi programada para acontecer no horário da aula,
levando a maior interação entre o docente e os discentes, bem como a menor evasão.
Como dificuldades enfrentadas, a necessidade de reservar um laboratório, para a
atividade durante o período de realização da mesma, foi um fator importante, em virtude do
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material organizado no laboratório para este fim. Esta dificuldade foi contornada com a
colaboração dos docentes, que deslocaram suas aulas para outros laboratórios. Outro fator
limitante foi a indisponibilidade de jalecos por muitos alunos das turmas iniciantes, e optou-se
por dispensá-los em prol do contexto geral, exceto para os extensionistas, que estavam
devidamente paramentados. Caso se optasse por esperar todos os alunos terem jaleco, isso se
refletiria na dificuldade em isolar o laboratório nas semanas subsequentes. Outra possibilidade
seria realizar um único evento, em auditório maior, com todas as turmas, momento que será
organizado anualmente após a primeira chegada de corpo doado em vida, com outros
objetivos. A cerimônia no início do semestre também visa sensibilizar o aluno para melhor
comportamento e compromisso durante o semestre.
Com relação à supressão da revelação do corpo, no roteiro do segundo semestre,
houve uma repercussão positiva no sentido de não personalizar o momento, na figura do
cadáver apresentado; mas de generalizar a homenagem para todos os corpos do departamento.
Porém o uso do tecido rendado foi questionado por relembrar os rituais fúnebres de velório,
sendo proposto retornar a utilização do campo cirúrgico verde, que está mais associado ao
laboratório e à vida acadêmica que os alunos começam a trilhar. Também poderá ocorrer
mudança na cor das rosas oferecidas, passando-se a utilizar rosas brancas, conforme
observado em outras instituições. Ressalta-se que as atividades do PDC/UFPB são recentes, e
a Cerimônia em Homenagem ao Cadáver Desconhecido requer um processo de construção e
ajustes nesta fase inicial, para se adequar ao formato que melhor se adequa à realidade
departamental e a mensagem a se transmitir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Cerimônia em Homenagem ao Cadáver Desconhecido, conforme o modelo
apresentado, requereu baixo investimento material e demonstrou fácil aplicabilidade e
reprodutibilidade, podendo ser adaptada para versões ainda mais simples. A importância da
existência desse momento nas instituições de ensino de anatomia está no resgate de valores
indispensáveis ao ambiente anatômico. À medida que o aluno encontra um local respeitoso e
ético, esses valores chegam ao conhecimento da sociedade, que observa a seriedade,
compromisso e, principalmente, a gratidão e ética no ensino da anatomia humana,
contribuindo para modificar os tabus e preconceitos com relação à doação do corpo para
estudo. Muitas restrições à doação se devem ao desconhecimento da importância do gesto na
formação dos profissionais de saúde, mas também à falta de percepção de elementos
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acolhedores e que transmitam segurança para realizar a doação. É certo que esta temática
envolve outros inúmeros elementos sociais, culturais, espirituais e pessoais, mas o trabalho
contínuo de sensibilização no ambiente acadêmico poderá contribuir com a mudança de
paradigma que tanto se almeja com relação à doação do corpo.
A Cerimônia em Homenagem ao Cadáver Desconhecido mostrou-se como evento
acadêmico simples, viável, com riquíssimo poder reflexivo e potencial de sensibilização, já
sendo observadas mudanças no comportamento dos discentes e no envolvimento de docentes
e técnicos. A avaliação efetiva do impacto desta cerimônia nas atividades do Departamento de
Morfologia da UFPB será avaliada posteriormente. Este relato de experiência, o modelo
utilizado e os textos aqui disponibilizados podem servir como incentivo ou referência para
que outras instituições venham a realizá-la rotineiramente. A perseverança de anatomistas
engajados e comprometidos com a ética no ensino de anatomia e as ações que exaltam o
respeito aos corpos estudados são fundamentais para manter o estímulo à doação, a qualidade
do ensino anatômico e o avanço da ciência.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 8.501, de 30 de novembro de 1992. Dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para
fins de estudos ou pesquisas científicas e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 15 de dezembro de 1992.
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10 de janeiro de 2002.
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metodológica e bioética. Rev. bras. educ. med. [online], v.36, n.3, pp. 369-373, 2012.
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RODRIGUES, Célio Fernando de Sousa. A morte: essa malfazeja, indesejada e teimosa visitante. O
Anatomista, v.1, ano 3, p. 8-20, 2019.
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* Fernando Batigália
INTRODUÇÃO
DISCUSSÃO
Quanto maior for a relação de familiaridade dos anatomistas com a TA, mais
conscientes estes estarão dos sinônimos atualmente permissíveis. Entretanto, sabe-se que não
há consenso na aceitação da atual TA por professores de Anatomia, Clínica, Cirurgia ou
Radiologia. Ademais, livros-texto anatômicos não têm sido desenvolvidos a partir de
orientações curriculares padronizadas para cursos em Ciências da Saúde, e assim variam na
quantidade de informação destinada a cada um dos sistemas em Anatomia Humana.
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Figura 2. O autor com ícones da Terminologia Anatômica Brasileira: Prof. Dr. José Carlos
Prates (em 2005) e Prof. Dr. Hélcio José Lins Werneck, em 2000 (in memorian).
Figura 3. Menção Honrosa por trabalho sobre Vasa vasorum e terminologia anatômica
microvascular, entregue pela Profa. Dra. Valéria Paula Sassoli Fazan (XXII Congresso
Brasileiro de Anatomia, Florianópolis, 2006).
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REFERÊNCIAS