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DESVENDANDO OS SEGREDOS

DA COLUNA VERTEBRAL
Tudo o que eu precisava saber para cuidar
bem da minha coluna
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870

Editora e Livraria Appris Ltda.


Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel: (41) 3156 - 4731
http://www.editoraappris.com.br/

Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Miburge Bolívar Gois Júnior

DESVENDANDO OS SEGREDOS
DA COLUNA VERTEBRAL
Tudo o que eu precisava saber para cuidar
bem da minha coluna

Curitiba - PR
2017
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192,
de 14/01/2010.

FICHA TÉCNICA
EDITORIAL Augusto V. de A. Coelho
Marli Caetano
Sara C. de Andrade Coelho
COMITÊ EDITORIAL Andréa Barbosa Gouveia - USP
Edmeire C. Pereira - UFPR
Iraneide da Silva - UFC
Jacques de Lima Ferreira - PUCPR
Marilda Aparecida Behrens - UFPR
EDITORAÇÃO Lucas Andrade | Thamires Santos
ASSESSORIA EDITORIAL Bruna Fernanda Martins
DIAGRAMAÇÃO Andrezza Libel de Oliveira
CAPA
REVISÃO Juliana Pedrollo Viani
GERÊNCIA COMERCIAL Eliane de Andrade
GERÊNCIA DE MARKETING Sandra Silveira
GERÊNCIA DE FINANÇAS Selma Maria Fernandes do Valle
GERÊNCIA ADMINISTRATIVA Diogo Barros
COMUNICAÇÃO Carlos Eduardo Pereira | Igor do Nascimento Souza
LIVRARIAS E EVENTOS Milene Salles | Estevão Misael
Dedico este livro aos meus familiares.
Em especial, minha esposa, Luciana,
e meu filho, Rafael, âncoras da minha vida.
AGRADECIMENTOS

Agradeço de forma carinhosa ao amigo irmão Dr. Sérgio Cestaro


Grizende (MD), pelos ensinamentos clínicos, ortopédicos e de vida.

Não poderia deixar de mencionar aqui todos os docentes e téc-


nicos da Universidade Federal de Sergipe-UFS, em particular os
membros dos Departamentos de Fisioterapia (DFT-UFS) e do
Programa de Pós-Graduação Stircto Sensu em Ciências Aplica-
das à Saúde (PPGCAS), que me ensinam, dia após dia, a arte de
aprender a aprender.

Aos alunos de fisioterapia da UFS. Abnael Nunes Santos pelos


desenhos originais do livro, e Julianna Archimino Batista pelas
fotografias na sessão de exercícios.

Além desses, nada seria possível sem os ensinamentos dos cola-


boradores científicos nacionais: Manuel Hermínio de Aguiar Oli-
veira (PhD), Francisco José Albuquerque de Paula (PhD), José
Lavres Júnior (PhD), Denise Holanda Iunes (PhD), João Wagner
Rodrigues Hernandes (PhD), Edson Alves de Barros Junior (PhD),
Paulo de Tarso Camilo de Carvalho (PhD), Karina Conceição Gomes
Machado de Araújo (PhD), Maria das Graças Rodrigues de Araújo
(PhD), Kátia Nunes Sá (PhD), Abrahão Fontes Baptista (PhD),
Marcos Antônio Almeida Santos (PhD), Sandra Aiache Menta
(PhD), Caio Alexandre Parra Romeiro (MSc), Ricardo Scandian de
Melo (MD), Bráulio Costa Neto (MD), Melissa Oliveira Carvalho
(FT), Maria Cristina Latarro (FT) e Celso Luis Dias (in memoriam).
E internacionais: Paulo Henrique Ferreira (PhD) e Manuela Lou-
reiro Ferreira (PhD) – Universidade de Sydney, Austrália; David J.
Magee (PhD) – Universidade de Alberta, Canadá; Edgar Ramos
Vieira (PhD) – Universidade Internacional da Flórida, Estados
Unidos; Roberto Salvatori (PhD) – Universidade Johns Hopkins,
Estados Unidos; Bernard Biot (PhD) e Lyonel Fauvy (PhD), França;
Amine Bessad (PhD), Argélia; Gianluigi Bonária (PhD), Itália; e
Javier Cano Muñoz (MSc), Espanha.

Por fim, a todos vocês, pacientes, que me propiciaram chegar


até aqui.
A felicidade só é verdadeira quando compartilhada.

(Henry David Thoreau)


APRESENTAÇÃO

O conteúdo apresentado neste moderno guia preventivo


postural é fruto de um longo período de reflexão e acúmulo de
evidências científicas, partindo do princípio de que a locomoção
humana e os aspectos funcionais de qualidade de vida estão in-
trinsecamente ligados à saúde da coluna vertebral. Esse é em
seu âmago, o principal objetivo. Assim, não podemos deixar de
afirmar que esta obra foi escrita em uma linguagem acessível o
suficiente para que qualquer leitor possa aproveitar ao máximo
todas as explicações aqui relatadas.
Acredito que um grande diferencial encontrado neste livro
está na visão atenta e objetiva do profissional fisioterapeuta que
tem, ao longo dos anos, se dedicado a acompanhar cada passo
da recuperação dos pacientes com dor na coluna, sejam esses en-
contrados nos consultórios particulares, ambulatórios públicos ou
nas grandes empresas, não só no Brasil, como em qualquer parte
do mundo. Outro ponto positivo é que toda a experiência co-
locada em cada capítulo nasce da troca de informação baseadas
em evidências cientificas e da prática clínica, principalmente aten-
dendo o pressuposto da interdisciplinaridade reabilitacional, res-
peitando os diversos saberes e seguindo os melhores exemplos,
além de entender que cada paciente tem suas limitações fun-
cionais, ansiedades, sonhos e respondem de forma diferente aos
diversos tratamentos clínicos.
Na parte I deste livro, e especificamente no capítulo 1, en-
contraremos informações atualizadas sobre essa epidemia que
acomete e afasta das funções laborais milhões de pessoas no
mundo moderno. Somente conhecendo o poder, muitas vezes
irreparável, dessas afecções para tentarmos, pelo menos, mini-
mizar o aparecimento de novas lesões agudas que culminam em
desenfreado gasto púbico, sejam esses fatores intrínsecos ou ex-
trínsecos ao ambiente laboral.
Em seguida, o leitor será convidado a mergulhar em um
mundo fascinante sobre o conhecimento das principais funções
da coluna vertebral, que, no capítulo 2, terá a oportunidade de
entender de forma descomplicada aspectos anatômicos, fisio-
lógicos e biomecânicos referentes à coluna vertebral e ligados à
locomoção humana. No capítulo 3, abordarei sobre as principais
características posturais imprescindíveis para nos mantermos em
pé e em equilíbrio.
Já no capítulo 4, conheceremos, além da importância do
estudo da dor, as principais doenças da coluna vertebral, com
características mecânicas ou não mecânicas, para que, de forma
atenta, possamos entender que não só doenças na coluna podem
causar dor nas costas. Esse aspecto clínico é relevante e deve ser
levado em conta todas as vezes que alguma coisa fugir do âmbito
da normalidade, como o aparecimento de uma dor insuportável
ou noturna, perda de função e dificuldade de realizar necessi-
dades fisiológicas.
Ainda nessa mesma linha e para facilitar que todos possam
compreender quando um acometimento é realmente grave ou
supostamente grave, dividirei as principais doenças da coluna ver-
tebral em uma classificação moderna chamada de “bandeiras”.
No capítulo 5, citarei quatro histórias reais para mostrar a com-
plexidade e perigos clínicos vivenciados pelos fisioterapeutas no
dia a dia, especificando que doenças na coluna vertebral podem
se tornar misteriosas e desvendá-las será um desafio o qual de-
penderá da experiência, frieza avaliativa soberana e bom senso
profissional. Já o Capítulo 6 contempla um tópico valioso, que
versa sobre mitos e verdades referentes à melhora da dor e fun-
cionalidade em indivíduos com problemas agudos ou crônicos na
coluna. Em especial, as informações contidas nesse trecho po-
derão ajudar todos que, de forma precipitada, agem por impulso
e utilizam artifícios não convencionais para minimizar o problema
e acabam chegando aos consultórios médicos e fisioterapêuticos
de forma tardia, dificultando cada vez mais a reabilitação e o
melhor retorno as atividades funcionais.
Na parte II, estruturada como prática, especificamente no
capítulo 7, abordarei, de forma direta, as principais orientações
preventivas posturais referentes a uma escola de postura, onde a
manutenção do engrama cerebral, a partir da consciência corporal
e ativações proprioceptivas diárias, será primordial para evitar
novos episódios de dor, melhorar o equilíbrio postural e evitar
quedas, principalmente em indivíduos da terceira idade. Nos
capítulos 8, 9 e 10, demonstrarei os principais exercícios básicos
cinesioterapêuticos de mobilização articular, alongamento, for-
talecimento muscular e proprioceptivo, baseados em evidências
científicas e clínicas, para mantermos nossa coluna vertebral apta
a realizar todas as funções requeridas no dia a dia.
Por fim, espero que todos tenham uma excelente leitura e
que se esses conhecimentos forem colocados em prática, certa-
mente atingiremos uma boa qualidade de vida sem maiores pro-
blemas na coluna vertebral. Por isso, cuide bem de sua coluna!

Miburge Bolívar Gois Júnior


PREFÁCIO

Neste livro, o autor, colega e amigo Miburge Júnior apresenta,


de forma clara, princípios básicos da anatomia, funcionamento da
coluna, avaliação da postura e equilíbrio. Além disso, são abordados os
problemas mais frequentes da coluna vertebral. Esses problemas fre-
quentemente ocorrem devido a esforços bruscos, repetitivos ou ma-
nutenção de posturas estáticas por longos períodos. Dores na coluna
são comuns e em algum momento da vida as sentiremos. Na maioria
das vezes essas dores não apresentam causas graves, mas podem
prejudicar a realização de tarefas de vida diária, trabalho e atividades
sociais. As dicas e exercícios apresentados neste livro contribuem
para o desenvolvimento de estratégias para diminuir dores na coluna.
A maior dica é: se está doendo, realize exercícios de baixa velocidade
e impacto; não fique parado. Estudos científicos apontam que este
tipo de atividade é segura e pode diminuir o nível de dor. Contudo,
precisamos entender que em quadros de dor intensa, sem melhora
por dias ou semanas, presença de febre, moleza corporal, perda de
peso rápida e insônia causada pela dor, uma avaliação deve ser feita
por profissionais da saúde qualificados, para que se possa excluir pos-
síveis problemas sérios de saúde. Nesta obra são apresentados casos
interessantes que mostram a natureza biopsicossocial das dores na
coluna, bem como essas podem ser indicativos de problemas sistê-
micos mais sérios. Procure sempre profissionais qualificados e que
realizem tratamentos baseados em evidências científicas.
Boa leitura,
Edgar Ramos Vieira (PT, MSc, PhD)
Doctor of Physical Therapy Program Director & Associate Professor
Departments of Physical Therapy and Neuroscience
Wertheim’s Colleges of Nursing & Health Sciences, and Medicine
Florida International University (FIU)
Miami, Florida, United States
SUMÁRIO

PARTE I
PRINCÍPIOS TEÓRICOS.......................................................................................19

CAPÍTULO 1 - PROBLEMAS NA COLUNA VERTEBRAL NO MUNDO


MODERNO: UMA EPIDEMIA DESCONTROLADA......................................21

CAPÍTULO 2 - ENTENDENDO MINHA COLUNA VERTEBRAL:


FORMAÇÃO, ESTRUTURAS E FUNÇÕES IMPORTANTES PARA A
LOCOMOÇÃO..........................................................................................................25

CAPÍTULO 3 - ANALISANDO O FENÓTIPO POSTURAL: DA


MANUTENÇÃO AO EQUILÍBRIO DO CORPO..............................................39

CAPÍTULO 4 - A DOR E AS PRINCIPAIS DOENÇAS DA COLUNA


VERTEBRAL..............................................................................................................49

CAPÍTULO 5 - QUANDO UMA SIMPLES DOR NA COLUNA VERTEBRAL


PODE SE TRANSFORMAR EM GRANDES PROBLEMAS...............................77

CAPÍTULO 6 - MITOS E VERDADES SOBRE PROBLEMAS NA


COLUNA VERTEBRAL...........................................................................................95

PARTE II
PRINCÍPIOS PRÁTICOS.....................................................................................113

CAPÍTULO 7 - PRINCIPAIS ORIENTAÇÕES PREVENTIVAS


POSTURAIS: PRATICANDO A ESCOLA DE POSTURA...........................115

CAPÍTULO 8 - MOBILIDADE ARTICULAR: LIMITE FISIOLÓGICO DO


MOVIMENTO.........................................................................................................133
CAPÍTULO 9 - ALONGAMENTO MUSCULAR: PROPOSTA DE UM
DESAFIO DIÁRIO.................................................................................................139

CAPÍTULO 10 - FORÇA MUSCULAR E PROPRIOCEPÇÃO: UMA


QUESTÃO DE TEMPO E DISCIPLINA............................................................145

CAPÍTULO 11 - EXERCÍCIOS DE MOBILIDADE ARTICULAR,


ALONGAMENTO, FORÇA MUSCULAR E PROPRIOCEPÇÃO: O
ESTUDO DA ARTE...............................................................................................157

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................161

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................163

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES..............................................................167
PARTE I

PRINCÍPIOS TEÓRICOS

19
CAPÍTULO 1

PROBLEMAS NA COLUNA VERTEBRAL NO MUNDO MODERNO:


UMA EPIDEMIA DESCONTROLADA

Um dos questionamentos mais frequentes, demonstrado


nesta obra, é “Por que se preocupar com problemas na coluna ver-
tebral, se, possivelmente, boa parte dos cidadãos no mundo um
dia experimentará um episódio de dor local ou irradiada?”. A cada
capítulo, de forma objetiva, mostraremos cada ponto importante
que poderá responder da melhor forma esse questionamento,
estimulando o leitor a cuidar bem da coluna vertebral para uma
melhor qualidade de vida.
Já não é de agora escutarmos rotineiramente que mais de
80% da população mundial terá um problema na coluna vertebral
ao longo da vida. Seguramente, os dados a seguir mostrarão que
essa realidade é próxima e preocupante.
Para tal, torna-se necessário sabermos que a epidemiologia é
conhecida como a ciência que aborda o fenômeno saúde-doença-
-cuidado por meio da quantificação, utilizando-se de cálculos ma-
temáticos e técnicas estatísticas de amostragem para melhor es-
clarecer a toda população o que está acontecendo no momento.
Um estudo recente mostrou que essa enfermidade causa grave
perda funcional em indivíduos jovens e ultrapassa barreiras sócio
demográficas, atingindo pessoas em todo mundo1. Desse modo,
podemos entender que se trata de um grave problema de saúde
pública, relacionado diretamente aos pilares educacionais, não
importando quais os dados estatísticos que interpretemos.

1
JESUS-MORALEIDA et al., 2017.

21
Um importante estudo realizado pelo Instituto Nacional de
Saúde e Nutrição nos Estados Unidos2 afirma que, em média, 25%
dos Norte Americanos são avaliados anualmente em consultórios
ou hospitais por dor na coluna vertebral, sendo essa a principal
causa de limitação física em indivíduos com menos de 50 anos.
Outro dado importante do estudo mostra que o governo Norte
americano vem gastando milhares de dólares para tentar frear a
crescente obesidade e o estresse populacional, epidemias essas
que apresentam intensa relação com dor nas costas. Em paralelo,
países como Canadá, Inglaterra, Austrália e Chile vem desenvol-
vendo eficientes programas de políticas públicas preventivas em
escolas, com o objetivo de reduzir futuros acometimentos na
coluna vertebral entre adultos jovens.
Certamente o cumprimento das leis trabalhistas e uma
visão preventiva garantem que a população adoeça menos e os
governos economizem com saúde pública. Um exemplo claro de
que a orientação preventiva escolar e estudos intensos para me-
lhorar a qualidade de vida da população funcionam, é encontrado
em países nórdicos como Finlândia, Dinamarca, Islândia, Suécia
e Noruega, que chegam a apresentar índices menores que 10%
de indivíduos acometidos por dor na coluna vertebral. É notável
que estes países referidos acima apresentam uma grande parte
populacional de idosos. O que tiramos de lição disso tudo é que
os países nórdicos usam a estatística como referência de con-
trole para programas de educação continuada em saúde pública,
assim, crianças, adultos e idosos ficam bem instruídos, e o go-
verno sempre preocupado em melhorar a qualidade de vida dos
habitantes. Como resultado, a população torna-se mais sadia,
consciente, ativa e humanizada.
Voltando à nossa realidade brasileira, estima-se que a dor na
coluna seja a segunda maior causa de aposentadorias requeridas
2
SHMAGEL, 2016.

22 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)3 e uma das doenças
que mais promovem afastamentos temporários laborais em indi-
víduos abaixo dos 50 anos, semelhante ao ocorrido nos Estados
Unidos. Estima-se que pelo menos 31% das consultas médicas
e mais de 45% das fisioterapêuticas em nosso país estão ligadas
à Síndrome de Dor Lombar (SDL). Mesmo sabendo que investi-
mentos públicos referentes a saúde em nosso país promovam
elevados gastos, existe uma grande controversa estatística em
relação a despesas anuais com medicamentos nas Unidade de
Básica de Saúde (UBS) e hospitais públicos, cirurgias emergen-
ciais e eletivas, assim como o número de sessões fisioterapêu-
ticas realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) referentes
a problemas na coluna. Fica a pergunta: se não tivermos dados
concretos, como saberemos o que realmente precisa ser feito? Ao
longo dos últimos 20 anos, observou-se que os programas de polí-
ticas públicas com o intuito de prevenir e ou diminuir o alto índice
de dor nas costas em nosso país foram criados de forma pontual
e logo se deterioraram, dando espaço a evolução desta epidemia.
Como dito anteriormente, não podemos pensar em so-
mente tratar pacientes acometidos por doenças na coluna ver-
tebral, mas também desenvolver estratégias de orientações
preventivas posturais e ergonômicas em escolas primárias, se-
cundárias, universidades e ambientes de trabalho, com uma visão
consciente de que investir em saúde preventiva é menos dispen-
dioso e muito mais inteligente.

3
INSS, 2017.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 23


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
CAPÍTULO 2

ENTENDENDO MINHA COLUNA VERTEBRAL: FORMAÇÃO,


ESTRUTURAS E FUNÇÕES IMPORTANTES PARA A LOCOMOÇÃO

Para que possamos desvendar os principais segredos da


coluna vertebral, neste capítulo, mostrarei passo a passo como
ela é formada e seus relevantes aspectos funcionais. Veremos que
toda a coluna é um verdadeiro quebra-cabeças capaz de manter
nosso corpo em sustentação e equilíbrio ao mesmo tempo. Real-
mente um grande desafio da natureza em que cada peça se en-
caixa perfeitamente nessa engrenagem divina.

FORMAÇÃO DA COLUNA VERTEBRAL

A coluna vertebral começa a ser formada, mais especifica-


mente, por volta da quarta semana gestacional a partir de células
especializadas conhecidas como embrionárias. Posteriormente,
são formados os discos gelatinosos, que serão chamados de
discos intervertebrais. Na sexta semana fetal, os arcos vertebrais
começam a ser formados e se fundem por volta do quinto ano da
criança. Durante todo esse período ocorrerá o amadurecimento
da medula vertebral, estrutura capaz de levar e trazer todas as
informações importantes provenientes do cérebro. Finalmente, o
centro de ossificação da coluna vertebral para de ser estimulado,
cessando o crescimento longitudinal, em média aos 16 anos em
meninas e aos 18 nos meninos, quando o sinal de Risser, marcador
ósseo visto ao exame de imagem RX, aponta o fechamento da
epífise de crescimento, exatamente no grau 5, indicando que o

25
adolescente não crescerá mais. Outro aspecto é que a primeira
menstruação não indica que a menina parou de crescer, mas que a
velocidade do crescimento dela ocorrerá de forma mais lenta até
a fase final de maturação do esqueleto.
Estruturalmente, nas fases finais do período gestacional, o feto
admite a formação da primeira curvatura da coluna, a cifose total, ou
seja, toda a coluna encontra-se no formato da letra C. Logo após o 4º
mês de vida acontece o estímulo de sustentação da cabeça e, poste-
riormente, a criança começará a olhar para os lados e para cima com
mais frequência, facilitando a formação da lordose cervical.
Após essas duas curvaturas ficarem mais estruturadas e a
fase de engatinhar estiver bem elaborada, já demonstrando o de-
senho da curvatura lombar, será com a tentativa de ficar em pé
que a lordose lombar se firmará. Indiscutivelmente essa fase será
importantíssima para os primeiros passos da criança, na tentativa
de mantê-la em equilíbrio. Assim serão formadas as três prin-
cipais curvaturas da coluna vertebral e a quarta curvatura, cifose
sacrocoxígea, terá sua formação dependente da própria estrutura
óssea como veremos a seguir.

FIGURA 1 – FORMAÇÃO DAS CURVATURAS DA COLUNA VERTEBRAL.


FONTE: <http://www.sogab.com.br/anatomia/colunavertebraljonas.htm>. Acesso em:
10 out. 2017.

26 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


ESTRUTURA DA COLUNA VERTEBRAL

Anatomicamente, a coluna vertebral é formada por um con-


junto de estruturas macroscópicas que se interligam, como se fosse
uma engrenagem de um relógio suíço. Precisa e durável, complexa
por apresentar características de alta rigidez e maleabilidade ao
mesmo tempo, similar a uma barra do mais puro aço inoxidável,
mas não inatingível. A coluna, em si, depende, direta e indireta-
mente, dos mais de 205 ossos e aproximadamente 650 músculos
encontrados no corpo humano, cujas funções específicas são as de
manter o indivíduo ereto, dar proteção à medula espinhal e per-
mitir a locomoção humana, integradas aos braços e pernas.
As estruturas macroanatômicas que compõem a coluna ver-
tebral são as vértebras, discos intervertebrais, medula espinhal,
articulações, ligamentos, tendões, músculos e fáscias. Cada uma
com sua importância biológica e biomecânica para sustentação
e locomoção. É significativo salientarmos que os dermátomos,
miótomos e esclerótomos orientam topograficamente as estru-
turas radiculares.

SISTEMA VERTEBRAL

A coluna vertebral é formada por 33 vértebras: 7 na região


cervical; 12 torácica; 5 lombares, sendo as torácicas pouco móveis;
e mais 5 sacrais e 4 coccígeanas ainda mais rígidas (Figura 2). Cada
uma dessas apresentando sua importância para formar as 4 cur-
vaturas fisiológicas de nossa coluna.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 27


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
FIGURA 2 – VISTA POSTERIOR E LATERAL DA COLUNA VERTEBRAL.
FONTE: Steffenhagen, M. K. Manual da coluna. 6. ed. Curitiba: Cócegas, 2003.

Em nossa coluna encontraremos diversas particularidades


de nomenclaturas e as principais são: face anterior do corpo ver-
tebral, pedículo, processo transverso, processo espinhoso, arcos
vertebrais, canal vertebral e facetas articulares (Figura 3). A face
anterior do corpo vertebral é responsável por aguentar toda a
pressão exercida quando o bloco corporal se desloca para frente.
Já o pedículo promove sustentação da estrutura lateral da coluna.
O processo transverso e o processo espinhoso são locais de an-
coragem para músculos e fáscias, e os arcos vertebrais formam a
estrutura óssea que delimita o canal vertebral. Por fim, as facetas
articulares apresentam função de guiar e facilitar movimentos
mais curtos da coluna, assim como limitar movimentos de grande
amplitude da coluna para trás.

28 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


FIGURA 3 – VÉRTEBRA TÍPICA DA COLUNA.
FONTE: Steffenhagen, M. K. Manual da coluna. 6. ed. Curitiba: Cócegas, 2003.

MEDULA E DISCOS INTERVERTEBRAIS

A medula espinhal é um prolongamento do sistema nervoso


superior, cérebro, que se estende desde a região cervical até a
região lombossacral (Figura 4 e 5). Seu principal papel é apresentar-
-se como uma via condutora de informações, do cérebro para a
coluna e membros, e vice-versa. Ou seja, todas as principais infor-
mações sensitivas e motoras obrigatoriamente passam por ela.
Próximo à extremidade inferior, região de base, a medula torna-
-se mais alargada recebendo o nome de cauda equina. Esse local é
considerado nobre porque é exatamente dessa região que saem os
nervos que levam e trazem informações da bexiga, intestino, rins
e região genital. Além do mais, é uma estrutura nervosa tão sen-
sível que se pudéssemos tocá-la com um fio de cabelo certamente
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 29
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
teríamos em troca uma resposta de reflexo irritativo imediato. As
extensões laterais da medula, raízes nervosas, funcionam como
fios que prolongam a informação do centro medular aos membros
e órgãos. Cientificamente é comprovado que em um arco reflexo,
ato de retirada brusca do membro por uma agressão provocativa,
como, por exemplo, pisar em um prego, a informação segue da
região mais periférica do membro afetado até a região lateral da
medula, voltando como reflexo de retirada sem ter que passar
pela interpretação pré-elaborada do cérebro. Observem (Figura 5)
que entre as vértebras saem duas raízes nervosas para cada lado
do corpo. Uma particularidade anatômica é a presenças das raízes
C8, pois vimos anteriormente que só existem sete vértebras cer-
vicais. Contanto, por vezes as raízes de C8 são esquecidas nas ava-
liações clínicas. Mais especificamente no capítulo 4, entenderemos
que se essas estruturas forem ameaçadas por uma compressão, o
acometido pode apresentar um quadro de dor insuportável, com
sensação de formigamento se a compressão for à parte posterior
da raiz nervosa ou medula e perda de força se for comprimida na
região anterior. É raro, mas existem casos de dupla compressão.
Por sua vez, os discos intervertebrais (Figura 5) são estru-
turas fibrocartilaginosas de forma ovalada – compostas basica-
mente de águas e proteoglicanas – um tipo de substância gela-
tinosa que apresenta funções de amortecer cargas e pressões
ao longo do corpo para facilitar movimentos amplos da coluna
vertebral. Estruturalmente são compostas pelo núcleo pulposo
e ânulo fibroso. O núcleo pulposo é uma esfera gelatinosa que
corresponde em média a 30% do disco completo, deslocando-
-se sempre para a região contralateral do movimento realizado
pelo indivíduo. Como exemplo, se o indivíduo dobrar o corpo para
frente, o núcleo pulposo de cada disco certamente se deslocará
para a região mais posterior, e vice-versa. O ânulo fibroso é com-
posto de camadas concêntricas e lamelas de fibras colágenas, dos
tipos I e II, que dificultam as deformações do disco intervertebral.

30 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


Uma informação importante é que essas camadas concêntricas
estão dispostas em ângulos oblíquos, engenhosamente para su-
portar maior carga. Por completo, os discos intervertebrais apre-
sentam características hidrofílicas, afinidade por água, e sua nu-
trição ocorre como uma esponja, sugando toda o conteúdo de
água corporal possível, principalmente quando não existem ações
gravitacionais. Esse evento ocorre facilmente no período noturno
enquanto nosso corpo descansa, por isso sabemos que ao final do
dia somos em média 2 centímetros menores do que quando acor-
damos. Além disso, os discos intervertebrais por vezes desen-
volvem papéis de falsas articulações, semelhantes às executadas
pelas facetas articulares durante os movimentos.

FIGURA 4 – MEDULA ESPINAL. FIGURA 5 – DISCO INTERVERTEBRAL.


FONTE: Steffenhagen, MK. Manual da coluna. 6. ed. Curitiba: Cócegas, 2003.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 31


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
MAPA DERMATOGRÁFICO

Para facilitar o entendimento fisiológico e também pato-


lógico dos acometimentos das raízes nervosas e da medula es-
pinhal, foram criadas orientações topográficas, de localização,
chamadas dermátomos, miótomos e esclerótomos. Os dermá-
tomos são áreas da pele que são inervadas por fibras que se ori-
ginam de um único gânglio nervoso dorsal. Os miótomos são en-
contrados na região muscular e os esclerótomos na parte óssea e
ligamentar. Isso facilita localizarmos com maior precisão a ou as
áreas lesionadas na coluna vertebral (Figura 6).

FIGURA 6 – DERMÁTOMOS, MIÓTOMOS E ESCLERÓTOMOS.


FONTE: Sobotta, Johannes. Atlas de anatomia humana. 19. ed. Munichen: Guanabara
Koogan, 1988.

32 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


ARTICULAÇÕES E LIGAMENTOS DA COLUNA

Para que as vértebras sejam bem ancoradas umas nas


outras e possam realizar movimentos com firmeza, é preciso que
existam estruturas específicas como os ligamentos e articulações
da coluna vertebral (Figura 7). Assim, ligamentos são como cordas
resistentes que fazem o trabalho de estabilizadores primários aos
movimentos de flexão, extensão, inclinação lateral e rotação. No
mesmo sentido, as articulações, ricas em líquido sinovial, facilitam
movimentos curtos e também funcionam como barreira ana-
tômica para grandes amplitudes da coluna. Já o líquido sinovial
é considerado um fluido lubrificantes articular como óleo para fa-
cilitar o movimento de uma engrenagem. Sabemos que quanto
menos óleo a engrenagem tiver mais difícil ficará o movimento
articular, podendo gerar os famosos travamentos na coluna.

FIGURA 7 – ARTICULAÇÕES E LIGAMENTOS DA COLUNA.


FONTE: Sobotta, Johannes. Atlas de anatomia humana. 19. ed. Munichen: Guanabara
Koogan: 1988.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 33


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
MÚSCULOS, TENDÕES E FÁSCIAS DA COLUNA

O sistema muscular é o principal responsável pelo movi-


mento e sustentação da coluna vertebral. Se os músculos (Figura
8), potentes estabilizadores secundários do movimento, não
estiverem em sintonia com todas as outras estruturas, certa-
mente a ação será comprometida. Em nossa coluna existem três
grandes camadas de músculos chamadas de extrínseca, média
e intrínseca. A parte mais extrínseca é responsável pelos movi-
mentos de grande amplitude, com característica dinâmica. Mús-
culos como trapézio, grande dorsal e quadrado lombar fazem
parte deste grupo. Na camada média, os músculos são respon-
sáveis por intermediar forças e movimentos dinâmicos entre as
camadas extrínseca e intrínseca. São conhecidos como músculos
de camada média o iliocostal, semiespinhal torácico e longo to-
rácico. Assim, a camada intrínseca é responsável por manter a
coluna ereta, com maior força estática. Pertencem a esta camada
os músculos interespinhais, semiespinhais, multífidos, inter-
transversais, rotadores curtos e longos vertebrais, entre outros.
Não podemos deixar de mencionar que os músculos abdominais
(reto anterior do abdômen, oblíquos internos e externos e o
transverso abdominal) apresentam influência direta na manu-
tenção da postura corporal e movimentos coordenados entre
o tronco e a região lombo-pélvica. Os músculos: diafragma, es-
calenos e intercostais apresentam ações diretas na coluna, mas
são primordialmente responsáveis pela respiração humana. Fa-
cilmente é observável o sinal de fraqueza muscular ou desequi-
líbrio postural em indivíduos que, com frequência se encostam à
parede para descansar o corpo após alguns minutos em pé. Isso
tudo prova o quanto nossos músculos desafiam constantemente
as ações gravitacionais.

34 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


FIGURA 8 – MUSCULATURA DA COLUNA VERTEBRAL.

FONTE: Steffenhagen, M. K. Manual da coluna. 6. ed. Curitiba: Cócegas, 2003.

SISTEMA VASCULAR

Os vasos sanguíneos são as principais fontes de irrigação


para todas estruturas da coluna. O sistema vascular da coluna ver-
tebral é composto de artérias, arteríolas, veias, vênulas e vasos
linfáticos, assim, iremos tecer um maior destaque para a artéria
vertebral (Figura 9) que passa pelos forames, pequenas aberturas
laterais das vértebras na região cervical. Essa artéria apresenta
grande significância porque além de irrigar estruturas da coluna
tem um fluxo relevante para o cérebro. Para que possamos en-
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 35
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
tender a importância dessa artéria, imaginem uma pessoa deitada
no sofá de barriga para baixo com o pescoço rodado para um dos
lados. Depois de alguns minutos esta poderá experimentar sen-
sações de desconforto porque a rotação do pescoço promoverá
diminuição do fluxo sanguíneo e os músculos intrínsecos cervicais
entrarão em um estado de espasmo, certamente levando a um
processo de travamento articular. Vejam como esse fato é corri-
queiro e só nos damos conta da importância quando realmente
ficamos travados. Especialmente no capítulo 8 veremos de forma
mais clara o quanto será importante mantermos nossa coluna
sempre com movimentação controlada para que os músculos
fiquem sempre bem nutridos de sangue. Lembrem-se de que o
sangue contém oxigênio e nutrientes importantes para manter o
bom funcionamento do nosso corpo.

FIGURA 9 – ARTÉRIAS DA COLUNA CERVICAL.


FONTE: Sobotta, Johannes. Atlas de anatomia humana. 19. ed. Munichen: Guanabara
Koogan, 1988.

36 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


MOVIMENTOS DA COLUNA VERTEBRAL

Os movimentos puros da coluna vertebral ocorrem por


meio dos eixos e planos cartesianos e estão descritos em 4 tipos.
A flexão ocorre quando movimentamos a coluna para frente e a
extensão para trás. Na inclinação lateral a coluna se desloca para
um dos lados e na rotação gira em torno do eixo central do corpo.
Esses são os movimentos puros da coluna vertebral (Figura 10),
muito embora, em nossas atividades diárias, realizemos diversos
movimentos bi ou tridimensionais, combinados entre flexão, incli-
nação lateral e rotação ou extensão, inclinação lateral e rotação.
Outra análise biomecânica importante é que, se realizada
uma grande flexão ou extensão do segmento vertebral, limitações
para atingir a amplitude máxima na inclinação lateral e rotação
serão evidentes. Isso por si só mostra o quanto temos que nos des-
dobrar para realizarmos movimentos forçados tridimensionais em
nossas atividades, com elevado gasto energético corporal e, com o
passar do tempo, os desgastes articulares serão inevitáveis.
Fisiologicamente, a coluna cervical apresenta 40º de flexão
anterior e 75º de extensão. O conjunto toracolombar uma flexão
de 105º e extensão de 60º. Na região lombar, de forma isolada,
ocorre uma flexão de 60º e extensão de 30º, contudo, a coluna
vertebral em sua totalidade realiza 110º para a flexão e 140º em
extensão pura. A inclinação lateral da região cervical é de 40º e,
nas porções torácica e lombar, 20º, com uma inclinação crânio-
-sacral em média de 75º. As rotações axiais na região cervical
ocorrem até o limite de 45º, nas regiões torácica 35º e lombar 5º,
sendo esta última a de menor rotação corporal ativa. Por fim, a
rotação axial compensatória entre o crânio e o sacro ocorre mais
ou menos entre o ângulo de 90º.
Além dessa informação, é valioso conhecermos algumas
terminações cinesiológica – estudo do movimento humano sem
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 37
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
interferências de ações gravitacionais – para que possamos en-
tender como esses ângulos se complementam em relação ao
movimento executado. Quando falamos de Agonistas, denomi-
namos esta como a ação principal do movimento realizada por
um músculo ou grupo muscular. Por outro lado, Antagonistas são
os que se opõem a este movimento e sinergistas são considerados
músculos que ajudam ou potencializam a ação principal. Como
exemplo, podemos citar quando um indivíduo realiza uma flexão
anterior do tronco. Nesse caso os agonistas são os músculos ab-
dominais, os antagonistas serão os estabilizadores toracolom-
bares, e, se o indivíduo realizar essa anteriorização do tronco com
os joelhos um pouco flexionados, certamente o músculo iliopsoas
realizará o papel de sinergista, propiciando que o indivíduo realize
o movimento de flexionar a coluna com maior amplitude e possa
tocar a ponta dos dedos no chão. Devemos lembrar que os mús-
culos se comportam assim, para cada ação uma reação, exata-
mente como proposta nas leis físicas criadas pelo gênio mate-
mático e físico Isaac Newton.

FIGURA 10 – MOVIMENTOS PUROS DA COLUNA VERTEBRAL


FONTE: https://www.google.com.br/search?dcr=0&q=http%3A%2F%2Fseryoga.com.
br%2Fum-pouco-sobre-anatomia-e-fisiologia-aplicada-ao-yoga Acesso em: 10 out. 2017.

38 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


CAPÍTULO 3

ANALISANDO O FENÓTIPO POSTURAL: DA MANUTENÇÃO AO


EQUILÍBRIO DO CORPO

Uma das coisas mais fantásticas demonstradas pela na-


tureza, durante a evolução humana, foi termos conseguido ficar
na postura ereta e com bom equilíbrio corporal. Na verdade, todo
o controle dessa engenhosa engrenagem corporal deve-se a um
órgão especial chamado cérebro que, além de coordenar todas
as funções fisiológicas, apresenta outra mais que sublime, a do
autocontrole. Assim, deve-se a esse órgão o processamento, ge-
renciamento e controle de todas as informações estáticas e di-
nâmicas referentes ao equilíbrio postural. Todo o tempo nosso
cérebro encontra-se pronto para resolver conflitos informativos
impostos pelos diversos sistemas que contribuem para o equi-
líbrio na postura bípede. Como exemplo, observem uma criança
de dez meses pretendendo ficar em pé, uma senhora que usa salto
alto tentando subir uma escada e até mesmo um idoso realizando
uma breve caminhada em um terreno irregular. Aos nossos olhos
vemos que inicialmente essas tarefas se apresentam com alto
grau de dificuldade, mas ao final ficamos surpresos com a fácil
adaptação corporal para que estas sejam realizadas, provando
desconhecermos os limites do nosso cérebro. Para tal e mais re-
centemente, o estudo da relação entre todos os mecanismos que
promovem o equilíbrio corporal chamamos de “Avaliação Feno-
típica Postural” (AFP).
Esse novo termo AFP4 descrito em um artigo de mestrado
recentemente defendido por uma aluna do nosso Laboratório
4
NASCIMENTO, 2016.

39
de Controle Motor e Equilíbrio Postural (LCMEP) nos tem propi-
ciado refletir que todo esse sistema é visto como o conjunto de
fatores intrínsecos e extrínsecos responsáveis por manter o in-
divíduo na postura ereta e locomover-se de forma coordenada.
Portanto, devemos entender que as características do fenótipo
postural dependem de grandes interações entre o sistema sen-
sório-motor, vestibular, visual, auditivo e de fatores ambientais
para que ocorram microajustes tônicos musculares em relação
às forças gravitacionais.5
Incansavelmente, modelos de estudos em posturologia tem
cada vez mais tentado demonstrar qual seria a postura padrão,
em ações estáticas e dinâmicas. Um estudo recente6 mostrou o
quanto é desafiante nos mantermos em uma postura classificada
como padrão, uma vez que todos nós nascemos com pequenas
alterações estruturais de comprimento de membros que podem
variar até 1 cm para braços e pernas, ou mesmo na presença de
doenças silenciosas adquiridas na fase adulta. É consenso cien-
tífico que uma boa postura deva produzir bom equilíbrio fisio-
lógico entre as estruturas musculoesqueléticas somadas a uma
constante habilidade neuropsicomotora ampla e sutil capaz de
produzir bom alinhamento corporal e movimentação coordenada
com pouco gasto energético muscular. Assim, o inverso seria clas-
sificado como má postura corporal.
A habilidade de controlar a posição do nosso corpo no
espaço, sintonia grossa e fina, é fundamental para as atividades
que realizamos no dia a dia. Entretanto, os principais requisitos
de estabilidade e orientações dependerão da tarefa executada
e do ambiente em si, e esse aprendizado começa na infância a
partir dos reflexos posturais. Essa é uma forma primitiva e vital
para a sobrevivência de um bebê. Observem que bebês maiores

5
KAM et al., 2016.
6
HONEGGER; ALLUM, 2016.

40 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


de quatro meses quando estão dormindo não se deixam sufocar.
Isso ocorre devido a um reflexo primitivo chamado de “retirada”,
fazendo com que a criança rode a cabeça para o lado oposto
saindo do obstáculo respiratório e, por fim, corrija a postura cor-
poral no berço. Deixamos aqui uma boa dica sobre a primeira lei
de sobrevivência infantil relacionada à postura, a qual será im-
portantíssima para o crescimento e amadurecimento do Sistema
Nervoso Central (SNC) ao longo da vida. Por certo, este controle
dependerá do equilíbrio entre a sintonia grossa e fina corporal.
É chamada de sintonia grossa a habilidade que desenvol-
vemos para realizar movimentos mais amplos com coordenação
não tão apurada. Um exemplo disso é quando sentamos em uma
cadeira ou pegamos um objeto no chão. Por outro lado, sintonia
fina está relacionada ao controle de movimentos mais curtos
com alta precisão como escrever, cortar papel com uma tesoura
ou abotoarmos uma camisa. Como visto, a manutenção postural
ocorre a partir de um trabalho conjunto entre a sintonia grossa e
fina, ora temos que alargar a base para nos mantermos mais es-
táveis, ora realizamos pequenos movimentos da cabeça para não
cairmos de um obstáculo. Isso só é possível graças à integração
das estruturas neuromusculares.7
Todo esse controle é altamente dependente dos proprio-
ceptores corporais. Chamados de pontes de informação proprio-
ceptivas, a visão, audição, sistema vestibular, cerebelo e sistema
somatossensorial, devem funcionar em plena sintonia com as
estruturas neuromusculares. Para entendermos melhor, pro-
priocepção, originária dos termos próprio sinônimo de mesmo e
percepção igual à sentido, refere-se à sensações de estímulo cor-
poral que se apresentam de forma individualizada, fazendo com
que cada indivíduo sinta de forma única a intensidade dessas sen-
sações para mandar a informação correta ao cérebro e receber
7
JANKY; GIVENS, 2015.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 41


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
como resposta uma ação imediata e precisa. Somado à isso, o
engrama cerebral significa o caminho exato, circuito, que a in-
formação deve percorrer em nosso cérebro para realizarmos o
movimento com maior exatidão. Logo abaixo demonstraremos
a importância de cada sistema proprioceptivo para a manutenção
do equilíbrio corporal e suas conexões interativas.
Começaremos pela visão, órgão especializado em captar luz
e nos mostrar como as coisas apresentam-se em formas e cores.
Tem uma função especial, que é de nos manter alerta em relação
às atividades diárias, barreiras físicas ou abstratas impostas pelo
ser humano ou natureza. Ao acordar, o sistema visual nos informa
que, para darmos o primeiro passo ao sair da cama, não preci-
samos de tantas informações visuais quanto para realizar uma ca-
minhada em uma rua esburacada. Assim, nossos olhos nos guiam
para tentarmos ganhar o melhor equilíbrio e realizarmos tarefas
com maior habilidade. Admitimos que mesmo com os olhos fe-
chados, somos capazes de realizar diversas atividades, e é ai que
entram em ação outros proprioceptores corporais.
A audição também influencia fortemente a manutenção
postural. Na prática, podemos nos dar conta disso quando es-
tamos em pé e outra pessoa nos chama. Automaticamente o som
nos guia para uma rotação da cabeça para o lado que ouvimos
o chamado e, mesmo assim, permanecemos em equilíbrio auto-
mático. Recentemente, estudos avaliando indivíduos com defi-
ciência auditiva mostraram que esses, quando comparados aos
controles normais, apresentam menor equilíbrio postural8, e que
outras perturbações do SNC promovem atraso na reação da volta
à postura equilibrada9. Certamente podemos concluir que existe
uma forte ligação entre os sistemas auditivo, visual e vestibular
referente ao mecanismo antecipatório. Observem quanto risco
um idoso com problemas auditivos pode estar exposto.
8
HODGES; TSAO; SIMS, 2015.
9
LOPEZ et al., 2015.

42 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


Por sua vez, o sistema vestibular ou aparelho vestibular,
é um conjunto de órgãos do ouvido interno, conhecido como a
bússola do nosso corpo. É formado por três canais semicircu-
lares que se juntam em uma região central chamada vestíbulo e
outras duas estruturas importantes chamadas sáculo e utrículo,
ligados a cóclea. Essa última é responsável pelo sentido amplo da
audição. Um relevante estudo10 mostrou que o sistema vestibular
apresenta grande importância proprioceptiva para gerenciar
conflitos entre o sistema visual e somatossensorial, cabendo ao
sistema vestibular ter a responsabilidade de assumir a função
de coordenar o equilíbrio do corpo no espaço, que chamamos
de controle do Centro de Oscilação Postural (COP). Acreditamos
ser essa a razão pelo qual adultos e idosos com déficit no sistema
vestibular apresentam problemas de tontura e desequilíbrios pos-
turais quando estão em ambientes propícios para conflitos visuais
e somatossensoriais.11
O cerebelo também se apresenta com destaque, exercendo
diversas funções para a manutenção do equilíbrio corporal. Esse
órgão, parecido com o desenho de um coração invertido, está lo-
calizado imediatamente na parte posterior da cabeça, sendo res-
ponsável por coordenar movimentos voluntários e corrigir movi-
mentos involuntários por meio do controle da sintonia grossa e
fina. Assim, facilitando para que o indivíduo permaneça sempre
em equilíbrio sem perceber. Mais uma vez vejam que só nos damos
conta da manutenção postural quando perdemos o equilíbrio. É
como se fosse um mecanismo de controle silencioso, como nossa
respiração, pois não precisamos ficar prestando atenção se es-
tamos respirando o tempo todo. Sua ligação com o sistema ves-
tibular ocorre por intermédio do nervo vestibulocerebelar, e nada
mais importante para um bom equilíbrio corporal do que ter um

10
BRONSTEIN, 2016.
11
RAJACHANDRAKUMAR et al., 2016.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 43


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
cerebelo íntegro e interativo com outros órgãos reguladores da
manutenção postural12.
Não menos importante, o sistema somatossensorial é clas-
sificado como relevante por contribuir de forma direta para a
obtenção do controle corporal no espaço. Esse sistema é respon-
sável por transmitir diversas informações ao cérebro a partir dos
mecanorreceptores, quimiorreceptores, termorreceptores e ba-
rorreceptores, ou seja, receptores especializados em captar sen-
sações de movimento, alterações nas reações químicas do corpo,
temperatura e pressão, haja vista, sentimos que o sistema soma-
tossensorial está bem presente nas ações de tato, aguçados pelos
corpúsculos de Meissner, na pressão pelos discos de Merkel, vi-
bração pelos receptores de Paccini, Krause para o estímulo do frio
e Ruffini para o calor, sendo de maior destaque as terminações
nervosas livres responsáveis por transmitir a sensação dolorosa.
Nossa pele apresenta-se como um tecido de elevada im-
portância para a manutenção do equilíbrio postural. Isso fica
claro quando prestamos atenção em uma pessoa com diabetes
avançada tentando se deslocar rapidamente de um local para
outro. Certamente a perda de sensibilidade cutânea favorecerá o
desequilíbrio postural. Outros receptores que apresentam grande
influência para o controle postural são o Fuso Muscular (FM) que
modula o tônus do conjunto das miofibrilas, unidades do músculo
responsáveis pela contração; e o Órgão Tendinoso de Golgi (OTG)
localizados em nossos tendões. O OTG apresenta o papel de
enviar informações de estiramento tecidual para o FM em forma
de tensão. É exatamente dessa forma que ocorre o alongamento
muscular. Para tanto, a ação conjunta desses receptores promove
o que chamamos de propriocepção contínua corporal.
Para melhor entendermos como todos esses sistemas in-
teragem de forma precisa para o controle postural, é só obser-
12
JACOBI et al., 2015.

44 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


varmos uma criança de quatro anos que insiste em andar nas
pontas dos pés. Isso por si só é motivo de muitas mães chegarem
apavoradas em consultórios médicos e fisioterapêuticos. De-
vemos deixar claro que esta atitude é normal e faz parte do ama-
durecimento do sistema proprioceptivo da criança. Tal fato ocorre
porque o cérebro da criança está tentando encontrar a melhor
forma de equilíbrio e, sabiamente, o sistema somatossensorial
envia informações para o cérebro mostrando que o pé da criança
está plano, ou seja, quando a criança está em pé, a sola dos dois
pés encostam totalmente no chão sem fazer o arco plantar, cava
do pé. Por vezes os tornozelos ficam parecendo com a letra X,
sendo chamado de valgos.
Ora, a única forma de estimular o aparecimento do arco
plantar é ficando na ponta dos pés, e essa postura propiciará um
maior trabalho conjunto do sistema somatossensorial, visual, ves-
tibular e cerebelar. Com o passar do tempo, ocorrerá espontanea-
mente o fortalecimento dos músculos flexores dos dedos do pé e a
cava começará a ser formada. Mas atenção, crianças maiores que
cinco anos não devem perpetuar essa ação, uma vez que esse é o
tempo limite do amadurecimento para formar os arcos plantares. A
postura viciosa de andar nas pontas dos pés certamente trará com-
plicações para a marcha, afetando o equilíbrio corporal13.
Em especial, neste trecho, abordaremos a importância
da análise do equilíbrio em indivíduos idosos, porque esses são
mais suscetíveis aos riscos de quedas. A senilidade, ou seja, fase
do envelhecimento fisiológico que todos nós passaremos, é um
período desafiante. Nesse estágio, inúmeros fatores associados
nos remetem ao desequilíbrio postural, seja por uso de bengalas
para locomoção, como por deficiência visual, auditiva, alterações
pressóricas, diabetes, vestibulopatias, diminuição da densidade
mineral óssea e mais francamente o aumento da sarcopenia. A
13
JO et al., 2016.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 45


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
sarcopenia14 refere-se à perda acelerada da massa magra que re-
sulta em diminuição da força, menor potência para realizar movi-
mentos, pouca resistência às atividades de manutenção postural
e alto gasto energético muscular, promovendo intensa fadiga
crônica. Todos esses fatores são propícios para levar o indivíduo
idoso a ter desequilíbrio postural e maior risco de quedas, porque
o tempo de resposta antecipatória do movimento, ou seja, pres-
sentir que o corpo se desequilibrou e não conseguir em tempo
hábil impedir a queda, está relacionado à diminuição da velo-
cidade de resposta proprioceptiva. Se as respostas propriocep-
tivas não estão coordenadas, certamente o engrama cerebral não
funcionará de forma efetiva.
Antes de finalizamos este capítulo, gostaria de mostrar para
o leitor que a realização de posturas inconvenientes, por longo
período de tempo promovem sobrecargas articulares e conse-
quentemente dor na coluna.
Dois estudos recentes15,16 mostraram que se um indivíduo
estiver há 10 minutos lendo mensagens em um smartphone, com
a angulação cervical de 5º em flexão anterior, sofrerá uma sobre-
carga aproximada de 60 Newtons de força (N), ou seja, mais ou
menos 6 Kg. Para 10º a sobrecarga iria para 120 (N), 30º aumenta
para 180 (N) e 60º atingirá uma média de 220 (N), por volta de 22
Kg, e assim por diante. Torna-se inacreditável como nossa coluna
cervical sustenta tanta sobrecarga durante uma longa jornada de
trabalho, em que ficamos entre 8 e 10 horas por dia com a região
cervical flexionada.
Estudos clássicos17,18 avaliando pressões no terceiro disco
lombar em adultos jovens com 1,70m e 70kg mostraram-se simi-
14
PEREIRA; LEITA; PAULA, 2015.
15
LEE; KANG; SHIN, 2015.
16
PARK et al., 2015.
17
NACHMSON, 1966.
18
WILKE et al., 1999.

46 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


lares, concluindo que se o indivíduo estiver deitado em uma cama
na posição em decúbito lateral a coluna lombar sofreria uma so-
brecarga de 160 Newtons de força (N), ou seja, mais ou menos
16 Kg. Observem que mesmo com a postura mais indicada para
deitarmos, nossa coluna sofre relativa sobrecarga discal. Estima-
tivamente, se este indivíduo, na mesma posição anterior, agora
realizasse uma rotação do tronco sobre as pernas, a sobrecarga
iria subir para 294 (N). Para uma caminhada livre a sobrecarga au-
mentaria para 833 (N), flexionando o tronco 931 (N), nos primeiros
30 minutos sentado em uma cadeira com a coluna ereta 980 (N) e
sentado com flexão do tronco, como no vaso sanitário, 1011 (N).
Em ações que exijam maior pressão, como espirrar, 1078 (N), le-
vantar uma caixa de 20 Kg se os joelhos estiverem dobrados com
a coluna ereta, ao final do movimento 2058 (N) e se os joelhos es-
tiverem estendidos 3332 (N). Sendo assim, podemos agora ima-
ginar o quanto é prejudicial realizarmos posturas com sobrecarga
articular em nossas atividades diárias. Isso certamente promoverá
o aparecimento de doenças na coluna vertebral explicitada pela
presença da dor.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 47


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
CAPÍTULO 4

A DOR E AS PRINCIPAIS DOENÇAS DA COLUNA VERTEBRAL

Antes de falarmos das principais doenças que acometem a


coluna vertebral, iremos abordar a principal queixa relatada por
qualquer indivíduo com problemas na coluna, a dor. O desafio de
tentar explicar de forma condizente uma sintomatologia subjetiva
é árduo tanto para o paciente acometido, quanto para a com-
preensão do problema pelo profissional de saúde. Isso inclui não só
entender a doença, mas também o aspecto emocional do doente,
condições de vida, ambiente e dificuldades inerentes de acesso ao
SUS. Lógico que não estamos aqui classificando o conforto em que
o paciente encontra-se para relatar a dor, mas as condições singu-
lares do doente frente a esses problemas marcantes.
A dor é uma “experiência sensitiva e emocional desagradável
associada ou relacionada à lesão real ou potencial dos tecidos”19, e
avaliar esta experiência nem de longe é uma tarefa fácil devido
aos seus critérios de subjetividade, ou seja, cada indivíduo apre-
senta uma percepção dolorosa única.
É bem marcante o fato de que melhorar a dor continua
é uma dos grandes desafios das diversas áreas médicas mo-
dernas. Assim, o controle do período inflamatório que envolve
características como aumento de calor tecidual, vermelhidão,
edema e perda de função está diretamente ligado a diminuição
da dor, conhecida como o quinto sinal vital. Não é intuito deste
capítulo transformar o leitor em um expert para o estudo da dor,
mas, pelo menos, que conheça mais de perto as diversas bar-

19
INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR THE STUDY OF PAIN, 2017.

49
reiras que dificultam a análise dolorosa, as quais podem se apre-
sentar de forma orgânica, ambiental, psicossocial, entre outras,
com principal subclassificação em agudas, subagudas, crônicas,
neuropáticas e psicossomáticas20.
A dor aguda, de forma temporária e duração inferior a seis
semanas, constitui um importante sinal de alerta nas doenças da
coluna vertebral, sendo os traumatismos musculoesqueléticos e
a má postura suas principais causas. A subaguda é intermediária
a esta fase e a crônica é o tipo de dor que insiste em perdurar por
mais de dez semanas, afrontando não só a esperança de me-
lhora do quadro álgico, como força ao indivíduo com problemas
na coluna a adaptar-se às novas maneiras de vida. Ora, fica claro,
então, que uma dor aguda mal resolvida torna-se um grande po-
tencial para a perpetuação de um quadro crônico.
A dor neuropática é uma sensação dolorosa que ocorre em
uma ou mais partes do corpo, sendo associada às doenças que
afetam o SNC, nervos periféricos ou cérebro. Como exemplo,
temos uma lesão tecidual na região cervical provocando dor de
cabeça ou na região do nervo trigêmeo, região mentoniana, cau-
sando tontura e enjoos. Realmente um tipo de dor desafiante. As
formas mais clássicas apresentadas na coluna cervical e lombar
frequentemente produzem uma sensação de dor irradiada que
chamamos de parestesia e, se o indivíduo apresentar perda de
movimento, paresia.
No entanto, a dor psicossomática ocorre uma vez que fa-
tores emocionais influenciam diretamente o aspecto físico, sendo
essa especificamente avaliada por psicólogos e psiquiatras. Ob-
serve que doenças da coluna vertebral pioram muito quando o in-
divíduo fica mais preocupado e tenso com outros problemas que
não só da própria coluna.

20
SOCIEDADE BRASILEIRA PARA ESTUDO DA DOR, 2017.

50 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


Grande parte da população mundial refere alta sensibilidade
e pouca resistência à dor, a isso chamamos de indivíduos com hi-
peralgesia, sendo o inverso desse quadro a hipoalgesia. Outro
termo intrigante e desafiador é denominado alodinia, sensação
dolorosa extrema causada por estímulos que provavelmente não
seriam tão dolorosos, como exemplo, quando batemos com média
intensidade a parte lateral do cotovelo em uma porta e por vezes
criamos uma situação de dor insuportável. Observem que a hipe-
ralgesia pode estar diretamente ligada ao fenômeno de alodinia. É
comum encontrarmos indivíduos com alodinia nos casos mais crô-
nicos e sem tratamento das doenças da coluna vertebral, mais es-
pecificamente, as hérnias discais. Ainda sobre esse aspecto, enten-
demos que o caminho mais curto para a alodinia é a perpetuação
do quadro doloroso, por isso, sempre orientamos aos acometidos
que evitem ao máximo reproduzirem condições posturais que pro-
movam dor, principalmente no período inflamatório inicial.
Uma curiosidade referente à classificação do episódio álgico
é que, além dos termos metodológicos clínicos, existe outra deno-
minada de “popular” que tem como objetivo clarificar os termos
técnicos de forma generalizada. Frequentemente ouvirmos em
nossos consultórios e ambulatórios pacientes referirem termos
como queimação, formigamento, aperto, fincada, chuchada, que
caminha no corpo, dor de parir e até de morrer. É comum, e ao
mesmo tempo tempestivo, ouvirmos alguns pacientes do gênero
masculino relatarem que a dor é como se fosse de parir e, ainda,
outros relatam a experiência dolorosa como se fosse uma dor de
morrer, haja vista que não conhecemos um ser vivo que morreu
de dor e voltou para nos contar, mas procuramos entender esses
relatos como um sentimento doloroso extremo, por via de regra.
Como mencionado anteriormente, entendemos que a dor é
a principal sintomatologia que conduz o paciente ao tratamento e
que acometimentos na coluna vertebral são frequentes, progres-

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 51


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
sivos e com alto potencial de incapacitação. Assim, não devemos
subestimá-la, e sim entender que muitas vezes a melhora da dor
não significa a cura da doença, muito menos se for ao âmbito da
reabilitação, cujo objetivo é fazer com que o indivíduo retorne o
mais breve às atividades funcionais.
Logo abaixo demonstrarei alguns questionários e formas
práticas, baseadas em evidência, comumente utilizados na clínica
da dor, e em específico para avaliarmos aspectos álgicos relacio-
nados à funcionalidade e qualidade de vida em indivíduos com
dor na coluna vertebral.
O questionário mais conhecido e utilizado na prática clínica
para avaliar a dor chama-se Escala Visual Analógica da Dor (EVA)21,
que mensura, quantitativamente, por meio de uma régua métrica
demonstrativa a sensação desconfortável do acometido. Essa
escala é numericamente delimitada em 11 pontos, variando entre
zero e dez, onde zero significa que o acometido encontra-se sem
dor e em dez sente a forma mais insuportável possível. Logo, um
estudo atual22 propôs mudanças da escala impressa para a versão
eletrônica online, agora com uma régua que continha aspecto facial,
de forma colorida, relacionando o valor numérico ao estado emo-
cional do acometido, sendo zero para feliz e sem dor, cinco pouco
feliz e dor suportável e dez extrema infelicidade com dor máxima.
Essa moderna escala tem ajudado muito para avaliarmos o quadro
álgico de crianças, idosos ou indivíduos com pouco potencial de
compreensão para julgar aspectos dolorosos momentâneos.
Uma outra maneira de avaliarmos a gravidade da dor em
relação à doença apresentada é pelo método das bandeiras23
24
, em que, simbolicamente, uma bandeira verde significa que o

21
HAWKER et al., 2011.
22
BIRD et al., 2016.
23
LENTZ et al., 2016.
24
NICHOLAS et al., 2011.

52 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


paciente possivelmente apresenta uma doença aguda com ca-
racterística bem controlada, demonstrando baixo poder de pro-
gressão. Classificamos como episódios dolorosos de curta du-
ração, comumente encontrado em doenças como cervicalgias,
toracicalgias e lombalgias por acometimentos posturais ou me-
cânicos leves e quando relacionadas à EVA encontram-se entre
1 e 3. Esse tipo de dor é esporádica e facilmente vista em atletas
de final de semana. Observem que, em um período entre 48 e
72 horas, o quadro doloroso praticamente desaparece. Por outro
lado, a bandeira amarela nos remete a observar o graus de aco-
metimento com mais cautela, pois essa poderá vir acompanhada
de lesões associadas. A avaliação clínica para esse tipo de ban-
deira requer do profissional de saúde muita destreza e entendi-
mento dos testes clínicos diferenciais ortopédicos, neurológicos
e reumatológicos. Geralmente, as doenças classificadas como
bandeira amarela são do tipo cervicobraquialgias, lombocia-
talgias e ciatalgias de características agudas ou crônicas e que
perduram por mais de 6 semanas. É notável a queixa de muita
dor local, porém com sensações de irradiação para os membros.
Quando relacionada à EVA certamente poderá estar entre 4 e
8 e, em casos mais complexos, chegar até 10. É comum encon-
trarmos esse tipo de acometimento em pessoas de meia idade
super ativas ou idosos. É preciso alertar que em uma bandeira
amarela o potencial de piora e de novas crises é frequente, as-
pecto que dificulta a sequência da reabilitação e promove demora
ao retorno as atividades laborais e de lazer. O que realmente nos
coloca em xeque é a bandeira vermelha, comumente associada
a doenças sistêmicas, inflamatórias ou infecciosas, agudas ou
crônicas, classificadas como graves, e todo paciente deve ser en-
caminhado imediatamente a um médico. O aspecto álgico en-
contrado é entre 9 e 10 na escala EVA e pode estar associado a
quadro febril persistente, tonturas, visão dupla, borramento do

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 53


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
campo visual, perda de equilíbrio repentino, vômitos, palidez,
dor em aperto no tórax, falta de ar, palpitações, tremores, en-
xaquecas sequenciais, perda do apetite, emagrecimento rápido,
insônia pelo incômodo doloroso, entre outros fatores caracte-
rísticos de doenças graves que se associam à dor na coluna ver-
tebral. Deve-se levar em conta que o atendimento precoce por
um especialista médico é vital e, em caso de descoberta das
doenças malignas, o diagnóstico precoce pode salvar vidas.
Outro questionário conhecido pela comunidade científica
o qual avalia a funcionalidade do indivíduo em relação à dor na
coluna é chamado de Questionário de Incapacidade de Oswestry
(QIO)25. O QIO contempla perguntas funcionais do tipo: qual a
intensidade de sua dor em relação aos cuidados pessoais como
lavar-se e vestir-se, erguer objetos, caminhar, sentar, ficar em pé,
dormir, vida sexual, vida social, locomoção por de meios de trans-
porte, entre outras. Os quesitos acima são validados especifica-
mente para a relação funcionalidade e dor lombar com escores
entre 0 e 20% para os que apresentem incapacidade mínima, 21
e 40% moderada, 41 e 60% intensa, 61 e 80% deficiente grave e
entre 81 e 100% para indivíduos inválidos.
Já o questionário de Incapacidades de Roland Morris
(QIRM)26 aborda 24 itens específicos, com pontuação entre 0 e 1
para respostas (sim e não), em que no total da avaliação 0 indica
que o indivíduo não apresenta incapacidades e que em 24 apre-
senta incapacidade grave sobre itens como fico em casa a maior
parte do tempo por causa de minha dor, mudo de posição frequen-
temente para tentar que minhas costas fiquem confortáveis e até
mesmo ando devagar, não realizo atividades habituais, fico em pé
por períodos curtos, deito com maior frequência para melhorar a
dor, uso o braço da cadeira para me levantar ou me vestir lenta-
mente por causa da dor nas minhas costas, entre outros itens.
25
YU et al., 2016.
26
PAYARES; LUGO; RESTREPO, 2015.

54 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


Recentemente começamos a entender que os questio-
nários sobre avaliação da dor e funcionalidade apresentavam boa
correlação com aspectos psicoemocionais e de qualidade de vida.
Um estudo27, específico na área de fisioterapia, mostrou que os
Formulários Abreviados da Avaliação em Saúde (SF-36), (SF-12)
e (SF-6) apresentam boa acurácia metodológica para mensurar
doenças com acometimentos não multifatoriais. Como já vimos,
vários motivos podem sugerir uma dor na coluna.
Esses formulários avaliam a qualidade de vida, por meio de
escores em que 0 significa pior estado de saúde e baixíssima qua-
lidade de vida e 100 melhor estado de saúde e alta qualidade de vida.
No geral, esses questionários são específicos para avaliar o estado
de saúde recente, relacionado à prática de atividades físicas, pro-
blemas de saúde hereditários ou adquiridos, interferências sociais
e dor, no trabalho e lazer no último mês, estado de força, vigor e as-
pecto emocional. Dessa forma a avaliação poderá demonstrar ca-
racterísticas gerais ou específicas como explicado anteriormente.
Vale ressaltar que mais recentemente, a fisioterapia e a
terapia ocupacional vêm utilizando um valioso questionário que
pertence à família das classificações internacionais, com caracte-
rísticas avaliativas não mais focadas nas doenças, e sim na real
possibilidade de inclusão social do indivíduo com perda de funcio-
nalidade. Esse novo modelo avaliativo com características biop-
sicossociais chama-se Classificação Internacional de Funciona-
lidade CIF28, cujo principal objetivo é estabelecer uma linguagem
comum para descrição de saúde e dos estados relacionados,
tentando melhorar a comunicação entre profissionais de saúde,
pesquisadores, gestores públicos e o próprio incapacitado. Deve
ficar claro que a CIF não substitui a Classificação Internacional
de Doenças (CID) ambas se correlacionam com intuito maior de

27
ADORNO; BRASIL-NETO, 2013.
28
ESCORPIZO; BEMIS-DOUGHERTY, 2013.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 55


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
propiciar ao acometido uma reinserção mais justa e compatível
ao mercado de trabalho. Mais especificamente, a parte I da CIF
remete à avaliação da funcionalidade pelos itens de funções, es-
truturas do corpo, atividades e participações. Sequencialmente,
a parte II leva em conta os fatores contextuais do ambiente e
pessoais. Embora ainda seja complexa a compreensão literal do
termo “funcionalidade” pelas diversas áreas de saúde e suas es-
pecialidades, a CIF tem ganhado amplo espaço científico e clínico,
demonstrando competências para vencer barreiras sociais, eco-
nômicas, culturais e de saúde, além de propiciar a expansão de
novas tecnologias assistivas a partir das avaliações funcionais29.
Agora que já conhecemos fatores importantes referentes
ao aspecto dor e que não devemos subestimá-la, logo abaixo
abordaremos as principais doenças da coluna vertebral para que
o leitor possa conhecer mais de perto suas definições, caracterís-
ticas e deformidades. Cronologicamente e baseando-se no eixo
crânio-sacral, citaremos os acometimentos mais evidentes ocor-
ridos nas regiões cervical, torácica, lombar, sacral e coccígea, cor-
relacionados aos membros superiores e inferiores, dependentes
de características genotípicas ou fenotípicas.

CERVICALGIA

A cervicalgia é classificada como uma dor específica na


região cervical. Esta doença aflige milhões de brasileiros com-
prometendo todo o sistema muscular da região do pescoço. As
principais causas dessa doença estão mais diretamente relacio-
nadas à má postura e ao estresse diário. Comumente indivíduos
que trabalham com a cabeça flexionada permanecendo tempo
excessivo em computadores, celulares, realizam longas horas de

29
CARVALHO; GOIS-JÚNIOR; SÁ, 2014.

56 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


leitura, tiram cochilos no sofá, e utilizam travesseiros em alturas
desproporcionais, certamente desenvolverão contraturas mus-
culares, afetando principalmente os músculos trapézio anterior,
médio e posterior, além de inflamações nos músculos mais intrín-
secos como multífidos e rotadores do pescoço, alcançando uma
dor na EVA entre 5 e 8.
Um possível quadro álgico também pode ocorrer devido a
doenças específicas oriundas da articulação temporomandibular,
ou do ombro como bursites e tendinites, estas últimas resultantes
de síndrome do impacto ou problemas na escápula. Em si, a cer-
vicalgia apresenta boa resolução aos exercícios reabilitacionais,
terapias alternativas e medicamentosas, sendo mais frequente-
mente classificada como uma doença de bandeira verde.

CERVICOBRAQUALGIA

Por outro lado, a cervicobraquialgia apresenta-se como


uma doença marcante na região cervical que promove sintoma-
tologia parestésica, formigamentos ou dormências, que migram
para ombros, escápulas, cotovelos, punho e mão. Biomecanica-
mente fica claro entender que a cervicobraquialgia comumente
é consequência de uma cervicalgia, e que uma protusão discal,
início de uma lesão nos discos intervertebrais, pode evoluir para
uma hérnia de disco e promover toda esta sintomatologia.
É importante mencionarmos que pacientes com cervicobra-
quialgias por vezes são medicados e orientados a utilizar órteses
do tipo colar cervical, feitas de espuma, para limitar movimentos
amplos da coluna cervical. Em paralelo, o uso de colete por mais
de 3 meses consecutivos, sem tratamento reabilitacional, pode
promover encurtamentos e fraquezas musculares. Baseando-se
em experiências clínicas, torna-se consenso afirmarmos que a

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 57


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
diminuição da dor e melhora dos movimentos ocorrem por volta
do segundo e terceiro mês do tratamento da reabilitação, além
de orientações medicamentosas específicas. Essa é uma doença
classificada na fase aguda como bandeira amarela, na escala EVA
entre 6 e 9, pelo nível de acometimento e incapacidade relatados
pelos pacientes.

TORACICALGIAS OU DORSALGIAS

Remete-se a uma dor na região torácica ou dorso, parte


posterior ou lateral do tronco, com característica desafiante por
essa área ter pouca mobilidade, além de poder ser no primeiro
momento confundida com doenças cardíacas, pulmonares, do
fígado, pâncreas, estômago ou lesões intercostais. Bloqueios ver-
tebrais nesta região podem reproduzir sintomatologia associada
à falta de ar na inspiração, mas quando a dor ocorre por macro-
traumas como lesões em costelas ou se irradiada para região la-
teral do tronco e braço esquerdo é possível estarmos diante de
um quadro clínico de urgência ou emergência. Por isso, fiquem
sempre atentos a dor nessa região.
A toracicalgia apresenta quadro clínico com boa recupe-
ração para acometimentos de bloqueios vertebrais, sendo clas-
sificada como bandeira verde para EVA entre 3 e 5, e bandeira
amarela EVA entre 5 e 8 nos casos mais agudos. Porém, se o pa-
ciente referir dor insuportável na EVA, entre 9 e 10, com algumas
sintomatologias supracitadas, certamente estaremos diante de
uma bandeira vermelha. Nesse caso, deve-se entrar em contato
com o médico ou hospital o mais breve possível.

58 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


LOMBALGIA

A Lombalgia (L) ou Síndrome da Dor Lombar (SDL), é o con-


junto de sinais e sintomas que permeiam o quadrante abaixo da
região torácica e acima do quadril, sem promover dor irradiada
para os membros. Apresenta-se como uma doença multifatorial,
responsável por inúmeros afastamentos trabalhísticos, classi-
ficada como uma Doença Osteomuscular Relacionada ao Tra-
balho (DORT). Afeta indivíduo de meia idade, entre 30 e 45 anos,
em plena fase produtiva laboral.
Por tratar-se de uma síndrome, os acometidos relatam dor
forte localizada e espasmo nos músculos quadrado lombar, longo
lombar, multífidos e rotadores lombares. A dor é tão significante
que chega a promover bloqueios articulares e inclinações com ro-
tação do quadril por postura antiálgica, além de constipações in-
testinais, fadiga, sudorese e mal-estar na fase agudizada. Seme-
lhantes às cervicalgias, a SDL pode ser causadas por má-postura
durante atividades laborais e estresse contínuo, além de excesso de
atividades esportivas em finais de semana, principalmente em in-
divíduos sedentários, sobrecarga excessiva para levantar pesos em
academias, dormir no sofá por tempo prolongado e permanecer
muito tempo em pé na mesma posição. Em especial, os fatores
mecânicos podem gerar pequenas protrusões discais, sem acome-
timento inflamatório das raízes nervosas, mas gerando espasmos
musculares locais. Por outro lado, as SDL não mecânica, conhecida
como inespecífica, pode ser causada por achados de lesões inflama-
tórias renais, tumorais, sem relato de febre, microfraturas, doenças
reumatológicas, entre outras hipóteses diagnósticas.
Vale ressaltar que, se a dor não for avaliada e tratada de
forma correta pelos profissionais da equipe multidisciplinar, o pa-
ciente poderá facilmente passar de uma fase aguda para crônica,
comprometendo toda a qualidade de vida. Assim, a SDL apresenta

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 59


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
boas chances de recuperação frente ao tratamento reabilitacional e
medicamentoso para bandeira verde com EVA entre 2 e 4, amarela
para EVA entre 4 e 7 e pouca melhora para os casos de bandeira
vermelha. Vale ressaltar que, na suspeita de bandeira vermelha,
deve-se procurar um médico para uma avaliação mais específica,
orientada por marcadores laboratoriais e exames de imagem.

LOMBOCIATALGIA

Podemos dizer que a lombociatalgia pode ser classificada


como uma progressão da SDL, também por aspectos multifatoriais,
sendo uma das principais causas os acometimentos mecânicos que
promovem, além de dor muscular local, um quadro clínico de dor
irradiada para um ou ambos os membros inferiores, acompanhado
de possível diminuição ou perda da sensibilidade, força e reflexos.
De certo, um dos maiores motivos para que ocorra uma inflamação
nas raízes nervosas ou compressão medular ocorre devido ao au-
mento da desidratação nos discos intervertebrais, que perdem
elasticidade e comprimem o seguimento anatômico. Ora, onde
tínhamos uma protusão discal agora temos uma hérnia de disco
mais agressiva, exatamente como explicado nos casos da evolução
da cervicalgia para cervicobraquialgia mecânica.
Nos casos mais complexos, os discos intervertebrais po-
derão comprimir a região da cauda equina e um quadro de acome-
timentos sensitivos e motores poderá afetar o funcionamento da
bexiga, intestino e região genital. Observem que agora estamos
diante de uma doença mais grave e a melhora do quadro clínico
apresenta-se flutuante ao longo da vida, mesmo após cirurgias
para retirada dos fragmentos lesados do disco. Quando em fase
aguda a dor na EVA encontra-se entre 6 e 8, sem perda de força e
reflexo, estamos diante de uma bandeira amarela e o tratamento

60 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


reabilitacional e medicamentoso promovem melhora álgica e de
movimentos entre 2 e 4 meses. Em casos excepcionais de dor na
EVA entre 9 e 10 ou na presença de uma bandeira vermelha, deve-
-se procurar um médico especialista em coluna.

CIATALGIAS

A ciatalgia, que jamais pode ser confundida com lombocia-


talgia, é uma doença de característica singular, promovida por
espasmos do músculo piriforme. Como queixa principal relata-
-se dor irradiada em formigamento e perda de sensibilidade para
um ou ambos os membros inferiores, sem relação direta com a
coluna lombar. Observe que a ciatalgia promove o espasmo do
piriforme, que está localizado anatomicamente logo abaixo do
glúteo máximo, bem próximo do glúteo médio, e esse espasmo é
capaz de comprimir de forma intensa o nervo ciático, responsável
por levar todas as informações da medula para as pernas.
Não é incomum avaliarmos pacientes em crises agudas
e encontrarmos doenças associadas, como a SDL e ciatalgia ou
lombociatalgia e ciatalgia. A causa mais comum da ciatalgia é a
má postura ao sentar, por tempo prolongado, que promove forte
espasmo do piriforme e acaba comprimindo o nervo ciático, seja
por sentar sobre uma perna dobrada ou até mesmo comprimindo
uma carteira de dinheiro.
Uma variante comum é a ciatalgia gestacional. Além da
sobrecarga articular e dificuldade de manutenção postural pelo
peso da barriga, após o 6º mês gestacional ocorre aumento franco
da produção do hormônio relaxina, responsável por deixar as ar-
ticulações corporais mais frouxas, principalmente na região do
quadril, facilitando o parto normal. Observem que o aumento do
peso da barriga obrigará a gestante a andar com as pernas mais

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 61


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
afastadas, tendo que gastar muita energia muscular para manter-
-se na postura equilibrada. Consequentemente, além do músculo
piriforme, o glúteo médio também entrará em espasmo e a com-
pressão do nervo ciático e a irradiação para os membros inferiores
é dada como certa. Não podemos deixar de mencionar que no pe-
ríodo gestacional a retenção de líquidos pode ajudar a piorar a sin-
tomatologia. Por sorte, neste caso, a ciatalgia é classificada como
de caráter transitório e como bandeira verde para EVA entre 3 e 6,
raramente chegando em índices de dor 8.

SACRALGIAS E COCIALGIAS

As sacralgias e cocialgias são doenças que acometem a


região mais inferior da coluna vertebral. Muitas vezes esses
locais são esquecidos nas avaliações clínicas e confundidos com
dor na região do quadril. No mesmo sentido, tanto as sacralgias
quanto as cocialgias ocorrem por microtraumas, má postura ao
sentar, ou macrotraumas por quedas na posição sentada. Os mi-
crotraumas podem ser causados por ocorrências mecânicas pos-
turais com inflamações ciáticas e sacrais, já os macrotraumas são
vistos com maior frequência em idosos que se desequilibram e
caem sentados no chão do banheiro, por exemplo, promovendo
fraturas sacrais ou coccígeas. Acometimentos mais severos, os
quais podem promover fraqueza muscular significativa, dor insu-
portável, diminuição da funcionalidade, perda de apetite, quadro
febril, vômitos, emagrecimento rápido e dificuldade de fazer cocô
ou xixi pelo aumento da dor, devem ser vistos com certa brevidade
por um médico especialista. Para índice de dor na EVA entre 2 e 4
classifica-se como bandeira verde, e para macrotrauma com EVA
maior que 7 é indicado bandeira amarela e o acometido deve pro-
curar ajuda médica.

62 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


HIPERLORDOSE E RETIFICAÇÃO CERVICAL

Como visto no capítulo 2, a curvatura da coluna cervical,


região posterior do pescoço, é uma das primeiras curvaturas a
serem formadas ainda na fase materno infantil. Esta curvatura
demonstra sua relevância anatômica e biomecânica por desafiar
a gravidade, além de realizar amplos movimentos combinados,
tornando-se o local predileto de dor. Quando a curvatura lor-
dótica encontra-se acima de 30 graus chamamos de hiperlordose
cervical e para ângulos menores de 30 graus retificação cervical.
As principais causas de hiperlordose cervical são a má postura e
dor muscular posterior, muitas vezes acompanhada de cansaço
do pescoço.
As causas mais complexas estão ligadas às más formações
anatômicas vertebrais, compressões severas das raízes nervosas
e torcicolos espasmóticos, que promovem travamentos articu-
lares. Por outro lado, é comum encontrarmos retificação cervical
em indivíduos que apresentam patologias respiratórias do tipo,
síndrome do respirador bucal, que utilizam de forma exacerbada
a musculatura acessória da respiração, escalenos, deixando o
pescoço mais reto e para frente, fato que gerará um encurta-
mento do músculo diafragma, principal músculo da respiração.
Essa deformidade é classificada como bandeira verde,
sendo apenas um achado postural ou ao exame de RX. Reabili-
tação fisioterapêutica e fonoaudiológica promovem boa recupe-
ração clínica postural.

HIPERCIFOSE TORÁCICA E RETIFICAÇÃO TORÁCICA

O aumento da curvatura anterior do tórax, hipercifose, mais


conhecida como corcunda, ocorre por diversos motivos genéticos,

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 63


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
traumáticos, tumorais, metabólicos ou posturais. A forma mais
branda do aumento dessa curvatura, acima de 30 graus, ocorre
por má postura do tronco em ligeira flexão anterior, casualmente
vista quando o indivíduo fica sentado por longos períodos traba-
lhando no computador, usando telefones móveis, ou sentado para
as refeições. A fraqueza muscular da região posterior do tronco
permite que os abdominais se contraiam dobrando a coluna para
frente e não é incomum encontrarmos adolescentes e adultos
jovens realizando tais posturas.
A hipercifose também pode ser causada por traumas di-
retos, osteoporose ou até mesmo aparecimento de tumores
nesta região. Por outro lado, retificação torácica postural é co-
mumente encontrada em bailarinas e praticantes de yoga. Nos
casos mais graves, a retificação pode ser precedida por fraturas,
doenças tumorais ou na escoliose idiopática, que abordaremos a
seguir. Tanto o aumento, quanto a retificação dessa curvatura é
classificado como bandeira verde quando o acometimento é pos-
tural. A bandeira amarela é vista em escolioses idiopáticas com
rápida evolução, e a vermelha em fraturas ou aspectos tumorais,
independentemente do índice álgico na escala EVA.

HIPERLORDOSE E RETIFICAÇÃO LOMBAR

Diversas alterações posturais relevantes produzem au-


mento ou retificação da lordose lombar. Fisiologicamente, a
coluna lombar apresenta uma angulação de 40 graus, sendo o au-
mento da angulação chamado de hiperlordose e a diminuição de
retificação lombar.
Geneticamente podemos encontrar variação angulares da
região lombar entre indivíduos negros, brancos e asiáticos. Espe-
cificamente em nosso país, em indivíduos afrodescendentes, ob-

64 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


servamos uma tendência ao aumento da curvatura lombar e em
asiáticos, chamados de nipônicos, maior disposição à retificação.
A raça branca é classificada como a que mais apresenta discre-
pâncias angular lombar pelo efeito da heterogeneidade racial,
horas com características angulares da raça negra e outras da
asiática. Os fatores não genéticos e não tumorais mais comuns do
aumento da curvatura lordótica são a má postura nas atividades
laborais, longo tempo na postura sentada, período gestacional
ou indivíduos que possuem uma barriga avantajada, fazendo
com que o peso do corpo se desloque para frente, aumentando o
ângulo da região lombar.
Um tipo menos frequente é a hiperlordose do respiradores
bucais. Devemos entender que o diafragma, principal músculo
da respiração, encontra-se inserido na região lombar e é comum
que os respiradores bucais tenham o diafragma encurtado, assim
aumentando essa curvatura. Por outro lado, a retificação da
lordose pode ocorrer por fraturas ou tumores, mas é o fator pos-
tural, nesse acometimento, que chama mais atenção. Observem
quando alguns indivíduos tentam sentar na cadeira jogando a
região glútea para frente, ou seja, tentando se afastar do encosto,
criando uma postura de retificação lombar.
Vale lembrar que tanto a aumento como as retificações lom-
bares posturais são classificadas como bandeira verde. Por outro
lado, achados clínicos do tipo laboratoriais e de imagem podem
evidenciar uma possível bandeira amarela ou vermelha.

ATITUDE ESCOLIOTICA E ESCOLIOSE

Outras duas deformidades da coluna vertebral que con-


fundem muito são a atitude escoliótica e escoliose que por vezes
são achados radiológicos ou perceptíveis curvaturas vistas pelos
pais quando crianças ou adolescentes estão com trajes de banho.
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 65
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
A atitude escoliótica é um desvio bidimensional da coluna
em inclinação que promove pequenas rotação vertebral com pro-
gressão lenta, causando moderados desequilíbrios posturais. Aos
exames avaliativos clínicos e de imagem, espinografia digital, é
demonstrado uma curvatura de raio grande, com uma ou duas
vértebras rotacionadas em no máximo 5º, formando o desenho
da letra C ao ângulo de Lippman Cobb, que mensura a deformação
pelo lado convexo. Neste caso observa-se curvaturas de até 10º.
As escolioses se apresentam como uma deformidade tridi-
mensional em flexão ou extensão do tronco, acompanhadas de
inclinação lateral e grandes rotações vertebrais, com progressão
rápida e causando por vezes desequilíbrios posturais severos30.
Vale ressaltar que existem diversos tipos de escolioses, sendo as
neurológicas e idiopáticas as mais severas e deformantes. Aos
exames clínicos e de imagem, RX digital, os tipos postural, trau-
mática e pós-operatória são menos evolutivas, apresentando ro-
tações vertebrais entre 5º e 10º, com ângulos de Cobb entre 10º
e 30º. As formas neurológicas e idiopáticas apresentam rotações
entre 10º e 25º e as curvaturas são mais agressivas, podendo
formar o desenho da letra C ou em S nas costas, com um Cobb
entre 30º e 80º. Uma particularidade da escoliose idiopática,
chamada de clássica, é apresentar-se com uma deformidade em
extensão do tronco, inclinação lateral e grandes rotações verte-
brais, demonstrando, posturalmente, um ombro mais elevado e
anteriorizado de um lado e quadril elevado, anteriorizado e rota-
cionado do lado oposto.
Clinicamente, devemos lembrar que, além de toda inspeção,
palpação, movimentos de flexão anterior do tronco sentado e em
pé, além de inclinação lateral da coluna, a avaliação por meio do
escoliômetro, aparelho que mede a torção do tronco, é manda-
tório e deve ser feita antes de cada sessão reabilitacional fisiotera-
30
IUNES et al., 2010.

66 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


pêutica31. Outros aspectos que afligem os jovens escolióticos estão
diretamente relacionados a indicações do uso de coletes corre-
tivos, reabilitação e indicações cirúrgicas com o fator progressão da
curvatura. Esse fator refere-se clinicamente a possível evolução da
curvatura e mostra que quanto menor a idade da criança ou adoles-
cente com curvatura acima de 10º, pior o prognóstico.
Em relação às indicações de tratamento é consenso clínico
mundial que jovens com curvaturas de até 11º devem realizar
atividades físicas e reabilitação fisioterapêutica na presença de
desequilíbrios posturais. Para curvaturas escolióticas em franca
evolução, acima de 10º, indica-se o uso do colete corretivo e rea-
bilitação fisioterapêutica direcionada. Quando a curvatura atinge
40º torna-se uma pré-indicação cirúrgica.
Devemos observar que cada uma dessas indicações apre-
sentam o objetivo de impedir o crescimento da curvatura e me-
lhorar o equilíbrio corporal do acometido, promovendo uma
melhor qualidade de vida. Contudo, o sucesso do tratamento de-
penderá também da boa relação entre o médico, fisioterapeuta e
o jovem acometido.
Define-se como bandeira verde as atitudes escolióticas e es-
colioses posturais com pouca evolução. As escolioses do tipo neuro-
lógica e idiopática são bandeira amarela, se não forem de indicação
cirúrgica. Caso ocorra uma deformidade causada por aparecimento
tumoral na coluna ou adjacências, estaremos diante de uma ban-
deira vermelha. Isso deve ser encarado como grave e encaminhado
o mais rápido a um médico especializado em coluna.
Para que se possa minimizar cirurgias e graves deformi-
dades posturais é extremamente importante que o pediatra
acompanhe de forma bem atenta o aparecimento destas defor-
midades e encaminhe imediatamente a um especialista clínico.

31
BIOT; CLÉMENT; LEJEUNE, 2004.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 67


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
DOR NAS COSTAS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A dor nas costas em crianças e adolescentes tem sido cada


vez mais um desafio avaliativo para especialistas em coluna ver-
tebral. Embora a medicina tenha avançado de forma brilhantes em
relação ao uso de novas tecnologias diagnósticas, continua sendo
complexo elaborar um raciocínio clínico preciso para crianças
porque temos que entender e correlacionar fatos da história clínica
muitas vezes relatadas pelos pais e não pelo acometido.
Frequentemente, temos observado, em clinicas e ambula-
tórios, crianças e adolescentes apresentando doenças da coluna
associada a crises psicossomáticas. No geral, essas crises seguem
acompanhadas de ansiedade desenfreada e quadros de depressão
crônicas. Pesquisadores das áreas de neuropsicologia e psiquiatria
pediátrica têm mostrado os prejuízos neurológicos causados pelo
uso exacerbado de telefones celulares e tecnologias similares. De
certo, o uso frequente dessas tecnologias, por longas horas, as-
socia-se também à má postura corporal, que acaba resultando em
dor nas costas. Lamentavelmente, a associação de fatores psicos-
somáticos com a má postural tem sido motivo de grande preocu-
pação para especialistas em saúde. Se a dor for muscular por má
postura ou após exercícios físicos, certamente estaremos diante
de uma bandeira verde. Porém, se houver aparecimento da dor
forte sem maiores justificativas ou que a criança seja acordada por
dor noturna é possível estarmos diante de uma bandeira amarela
ou até mesmo vermelha. Indica-se nesses casos marcar uma con-
sulta médica o mais breve possível.

DEFORMDADES DO QUADRIL E MEMBROS INFERIORES


EM RELAÇÃO À COLUNA VERTEBRAL
Algumas deformidades no quadril ou nas pernas podem levar
consequentemente a dor na região lombar. Há pouco, quando fa-
68 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
lamos da hiperlordose e retificações lombar, discutimos o aspecto
postural mecânico e pressupomos que, se o quadril estiver ante-
riorizado, possivelmente ocorrerá uma aumento da lordose e a re-
tração poderá promover uma retificação do eixo lombar. Portanto,
sabemos agora que alterações deformantes no quadril, como
traumas, tumores ou doenças endocrinometabólicas, promovem
desequilíbrios no eixo lombar, ficando claro a relação ascendente e
descendente entre essas estruturas anatômicas.
Rotineiramente, pacientes chegam ao consultório com
queixa de que o quadril está rodado para frente ou uma perna está
maior que a outra. Para minimizar isso, existem testes especiais
combinados com um exame de imagem, chamado de escano-
metria, medida do comprimento sequencial das pernas feita com
uma régua na película de RX (AP) que pode demonstrar alterações
de comprimento maiores que 1cm. Normalmente alterações me-
nores que 1 cm são passíveis de correção por palmilhas plantares.
Se, somente si, a discrepância for maior que 1cm com deformi-
dades anatômicas, correções cirúrgicas são indicadas pelos mé-
dicos. Comumente são classificadas como bandeira verde para o
uso de palmilhas com ausência de doenças mais graves.

ESPONDILITE ANQUILOSANTE

A espondilite anquilosante é uma doença sistêmica e crônica


que afeta boa parte do esqueleto axial. Essa doença acomete, com
maior frequência, homens com idade média entre 20 e 30 anos.
O quadro clínico é marcado por forte dor lombo-pélvica, nítida
rigidez matinal e dificuldade de realizar movimentos amplos,
além de dor na região sacro-ilíaca e lombar, que, muitas vezes, se
confundem com dor na região posterior do quadril a esclarecer.
Como é uma doença sistêmica, apresenta alterações nos marca-

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 69


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
dores de análise reumatológica e se não tratada de forma correta
pode acometer outros órgãos nobres. Na avaliação postural nota-
-se visível hipercifose, conhecida nessa doença como coluna em
bambu, além de perda de força muscular e pouca mobilidade na
região lombar, quadril e membros inferiores. A forma inicial pode
ser vista como uma bandeira verde, porém a evolução da doença,
que atinge índice de dor na EVA entre 4 e 7, classifica-se como
bandeira amarela. Fica claro que por ser uma doença sistêmica e
incapacitante deve-se procurar o mais rápido um reumatologista
e seguir rigorosamente um plano de reabilitação específico.

DOENÇAS POLIMIOFASCIAIS COM REPERCUSÕES NA


COLUNA VERTEBRAL

Seguramente este tipo de acometimento gera muitas con-


fusões diagnósticas, e os paciente vivem realmente uma romaria
para tentar entender o que está ocorrendo com seu corpo. As
duas principais doenças polimiofasciais são chamadas de Fibro-
mialgia e Síndrome Miofascial Frequente (SMF), com predileção
para acometer o gênero feminino.
A fibromialgia é uma doença crônica, complexa e que se
apresenta com características clínicas de dor miofascial em deter-
minados pontos sensitivos dos músculos, conhecidos como tender
points32. Clinicamente, o paciente deverá apresentar entre 11 e 18
pontos específicos bilateralmente com alta sensibilidade locali-
zados ao longo do corpo, além de uma quadro de perda do sono,
constipações intestinais, rigidez matinal, mão e pés sempre com
vermelhidão, fácil irritabilidade, quietude pós euforia, entre outros
sinais e sintomas. Em relação à coluna vertebral, a fibromialgia é
capaz de desenvolver uma dor tão intensa que muitas vezes faz

32
NOBREGA et al., 2015.

70 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


com que o acometido sinta espasmos musculares especificamente
na região do músculo quadrado lombar, chegando a travar a coluna.
Por outro lado, a Síndrome Miofascial, também classificada como
doença crônica, apresenta-se com características de dor miofascial
ao longo das cadeiras musculares. O tipo de dor ocorre por disparos
pontuais, como um choque muscular local ao toque, conhecido
como trigger points. Devemos esclarecer para o leitor que o diag-
nóstico diferencial deve ser feito por exclusões e por um médico
reumatologista experiente para que essas não se confundam ao
longo do tratamento com doenças específicas mecânicas e psicos-
somáticas, como as Doenças Osteomusculares Relacionadas ao
Trabalho (DORTs). Por sua cronicidade patológica, é classificada
como bandeira verde para o período de ausência de crises fortes
e amarela quando o paciente se afasta das funções laborais e não
consegue realizar atividade de lazer.

ARTROSE INTERAPOFISÁRIA

Artrose é uma doença degenerativa das articulações verte-


brais, localizada nas facetas articulares, o que promove dor loca-
lizada, facetaria, por tratar-se de uma lesão de desgaste articular
em que ocorre diminuição o líquido sinovial e hiperestímulos das
terminações nervosas livres. É mais encontrada em indivíduos
acima de 50 anos, e as doenças infecciosas e endocrinometabó-
licas acompanham a piora clínica. Aos exames radiográficos é
possível observar característica marcante como o aparecimento
de osteófito, proeminências ósseas conhecidas como bico de
papagaio, que promovem dor quando sua forma posteriorizada
comprime uma raiz nervosa ou a medula vertebral. Em casos mais
graves das artroses interapofisárias encontramos ao RX sindes-
mófitos, junção de dois osteófitos, fazendo com que o indivíduo
perca mobilidade da região afetada da coluna. É classificada como
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 71
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
bandeira verde nos casos iniciais, e amarela quando um osteófito
comprime uma raiz nervosa ou até mesmo a medula vertebral,
sendo que o índice álgico pode encontrar-se na EVA entre 5 e 8.

OSTEOPOROSE

A Osteoporose é um distúrbio osteometabólico que resulta


em diminuição da Densidade Mineral Óssea (DMO) e consequente
aumento da Fragilidade do Osso (FO) por perda do conteúdo, re-
sistência e qualidade da matriz óssea, sendo seu principal acome-
timento na coluna vertebral a fratura. Pode ser classificada como
pós-menopausal (tipo I), senil (tipo II) ou, até mesmo, associada
aos fatores hereditários33.
A maior incidência encontra-se em indivíduos brancos, se-
dentários, fumantes, que ingerem álcool de forma diária ou em
uso prolongado de medicações a base de corticoides. Apresenta-
-se como faixa de risco para mulheres acima dos 45 anos, pós-me-
nopausa, com diminuição dos níveis de estrógeno, e para homens
acima dos 70 anos por perda da massa magra, fraqueza, potência
e resistência muscular, promovidas pela sarcopenia. É relevante sa-
lientarmos que a osteoporose é uma doença silenciosa que causa
grande problema de saúde pública, com elevados gastos medica-
mentosos e cirurgias pós-fraturas, além do tempo prolongado do
paciente em ambulatório no período pós-cirúrgico. Nos casos mais
leves, as microfraturas na região torácica anterior são assintomá-
ticas e promovem visível hipercifose deformante. Por outro lado,
as fraturas no eixo de transição toracolombar ou na região lombar
fazem com que o indivíduo apresente dor na EVA entre 7 e 10.
Uma pérola clínica é o relato de pacientes osteoporóticos
graves que são surpreendidos por uma queda da própria altura e
33
SOUZA et al., 2014.

72 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


informam exatamente que ouviram um forte estalido. Na prática
clínica isso faz muita diferença diagnóstica porque na maioria das
vezes ouvir o estalido antes de cair significa que o paciente poderá
apresentar uma doença osteometabólica grave, tornando o aco-
metimento mais sério e com um tratamento de reabilitação muito
mais prolongado. É classificada como bandeira amarela mesmo
nos casos mais silenciosos e vermelha nos acometimentos pós-
-fratura com índice de dor na EVA entre 6 e 9.

ESPONDILÓLISE E ESPONDILOLISTESE

Como visto no capítulo 2, existe uma região na parte pos-


terior das vértebras que se chama facetas articulares, cujo objetivo
é guiar e facilitar movimentos vertebrais. Essa é uma região que,
normalmente, sofre grande atrito aos movimentos da coluna,
sendo maiores as ações de extensão e rotação forçada, as quais
promovem estiramentos e posteriormente lesões nos ligamentos
que estabilizam as vértebras.
A espondilólise é uma doença que aparece de forma insidiosa
e piora após sobrecargas mecânicas prolongadas como atividades
esportivas de alto impacto, treinos exaustivos de balé, surf, para-
quedismo, futebol, skate e lutas marciais. A lesão promove ruptura
parcial ligamentar, porém sem mobilidade sobre as vértebras su-
perior e inferior, assim não causando estreitamento do canal me-
dular. Frequentemente manifesta-se com dor ente 4 e 6 na escala
EVA, relacionada a espasmos musculares causados pela não esta-
bilização correta das vértebras acometidas. Já a espondilolistese é
uma doença que apresenta como causa aspectos congênitos, dege-
nerativos, tumorais, pós-cirúrgicos e, mais comumente, microtrau-
máticas. Além da frouxidão ligamentar, observa-se aos exames de
imagem RX em perfil, escorregamentos vertebrais anteriores sobre

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 73


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
o platô adjacentes superior ou inferior, causando estreitamento do
canal medular, pode diminuir especificamente entre 25, 50 ou até
mesmo 75% do diâmetro do canal, fazendo com que o acometido
experimente sensações dolorosas do tipo dor irradiada, entre 7 e 10
na EVA, com diminuição da sensibilidade nos membros inferiores.
Nos casos mais graves pode-se observar diminuição ou perda do
movimento e alterações nos reflexos. As espodilólises são consi-
deradas doença de bandeira verde e as espondilolisteses bandeira
verde nos casos iniciais para 25% de escorregamentos, amarela até
50% e vermelha após esse limite.

ESPINA BÍFIDA

Espina bífida é uma malformação congênita vertebral que


tem como causa bioquímica a diminuição de ácido fólico durante
o período gestacional. Como consequência embriológica, ocorre
o fechamento incompleto do tubo neural gerando má formação
na coluna. É classificada como oculta ou aberta. As ocultas nor-
malmente não são problemáticas quando em pequenas falhas,
porém, as de grandes proporções devem ser reparadas cirurgica-
mente. As abertas são causadas por doenças do tipo meningocele
e mielomeningocele, e essas devem ser corrigidas cirurgicamente
de forma precoce ainda na primeira infância. Quanto mais rápida
a correção, melhor a qualidade de vida da criança acometida.
Normalmente acomete a quinta vértebra lombar ou a primeira
sacral, ou ambas. As ocultas por pequenas falhas são classificadas
como bandeira amarela, com grandes falhas e abertas por ban-
deira vermelha devido ao alto grau de incidências infecciosas do
tipo osteomielites.

74 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


DOENÇAS INFECCIOSAS E TUMORAIS DA COLUNA
VERTEBRAL

Para fecharmos este leque de doenças frequente na coluna,


existem outras, infecciosas ou tumorais que promovem sérios
agravos ao acometido. Como já mencionado anteriormente, epi-
sódios de febre, dor exacerbada com perda de sono e apetite, di-
minuição de força, alterações visuais, auditivas, tato, olfato, ton-
turas repentinas, desmaios e vômitos, nem de longe devem ser
interpretados como sinais e sintomas corriqueiros. É importante
que indivíduos, ao apresentarem algum destes acometimentos
acima, procurem o mais breve uma consulta médica. Sabemos
que esse tema em específico deve ser discutido de forma rele-
vante entre especialistas da área de saúde como oncologistas, or-
topedistas, neurologistas, reumatologistas, geriatras, psiquiatras,
fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, educadores físicos,
psicólogos, fonoaudiólogos e enfermeiros, todos com o intuito de
proporcionar uma melhor qualidade de vida ao acometido. Por-
tanto, ao sabermos que estamos diante de doenças classificadas
como bandeira vermelha, o diálogo e colaboração clínica entre a
equipe multidisciplinar, pacientes e familiares promoverão o su-
cesso contínuo do tratamento proposto.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 75


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
CAPÍTULO 5

QUANDO UMA SIMPLES DOR NA COLUNA VERTEBRAL PODE SE


TRANSFORMAR EM GRANDES PROBLEMAS

Todo profissional da área de saúde tem sempre relatos clí-


nicos para contar. Diariamente, passamos horas e horas em nossos
consultórios ouvindo histórias as mais diversas. Um grande de-
safio, após ouvirmos essas histórias, é fazer com que os pacientes
entendam qual a relação específica entre a história contada e os
exames clínicos e complementares, pois muitos sentem grande
dificuldade de entender como funciona o corpo humano e qual a
ligação de outras doenças sistêmicas com o problema na coluna
vertebral. Em especial, esta parte do livro abordará histórias clí-
nicas verídicas, vividas por um fisioterapeuta, que somente foram
contadas a pequenos grupos de amigos ou alunos de graduação
e pós-graduação nas disciplinas de ortopedia, terapias manuais e
correções posturais.
Como explicar com riqueza de detalhes e de forma simples
aos pacientes, que muitas vezes chegam aos nossos consultórios
com dificuldades de locomoção e um claro sofrimento na face,
que tentaremos encontrar um diagnóstico seguro? Essa é por via
das dúvidas uma tentativa elegante de permanecer na linha tênue
basal entre o erro e acerto, onde o profissional fisioterapeuta deve
por intuição elaborar perguntas dedutivas e ouvir de forma atenta
sem pré-julgar o conteúdo doloroso emocional característico. Cer-
tamente é nessa hora que o profissional terá a chance de se tornar
um detetive com faro apurado, mesmo sabendo que alguns fatos
citados poderão nos conduzir ao erro. Assim, subestimar os con-
ceitos da clínica soberana poderá nos conduzir a caminhos bem di-

77
ferentes do que propomos para uma saída eficaz. No mais, haja o
que houver, o paciente nunca poderá ser colocado em risco.

BOM SENSO CLÍNICO, UM SUFOCO A MENOS

Mas e se tivesse operado? No meio do ano de 1999 nossa


turma de fisioterapia da Universidade de Alfenas (UNIFENAS)
encontrava-se na quarta etapa de estágios supervisionados. Meu
grupo tinha ficado responsável por atender todos os pacientes
da ortopedia e traumatologia ambulatorial e, comumente, na
cidade de Alfenas, localizada ao sul de Minas Gerais, faz bastante
frio nos meses de maio, junho e julho. Nossa! naquele ano o frio
estava intenso, e eu ainda não tinha me acostumado com tantas
variações térmicas. O que mais me aliviava da distância de casa e
das temperaturas entre 5 e 10º eram os amigos da faculdade, as
ligações para a família e muito pão de queijo com um café esperto
da região de Guaxupé. Esse foi um tempo bom, mas como o in-
tuito aqui é falar de problemas na coluna, segue o fato.
Realmente estava muito frio naquela manhã de quarta-
-feira, e nem eu mesmo sei como consegui criar tanta coragem
para levantar e chegar às7 da manhã no ambulatório mais agitado
do curso de fisioterapia. Todas as manhãs, o professor E. A. B. J.
selecionava, por triagem, os pacientes com problemas funcionais
mais complexos. Como é comum em todo ambulatório de es-
tágio, os professores gostam de priorizar os casos mais graves e
variados para que os alunos possam ter uma melhor experiência
clínica. E parece que nessa manhã de quarta-feira não seria meu
dia de sorte! Para alguns colegas do grupo foram selecionadas pa-
cientes com doenças mais corriqueiras na traumatologia, como
lesões ligamentares do cruzado anterior (ligamento do joelho),
dor meniscal, entorse do tornozelo, epicondilites (inflamação do

78 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


tendão do cotovelo), entre outras. Ficaram faltando três alunos
sem pacientes, e ele propôs chamar da lista de atendimento
alguns que não tinham sido reabilitados ainda de forma com-
pleta. Ali já estava sentindo que a bomba cairia para o meu lado.
Quando o clima de suspense fica no ar sempre tenho a sen-
sação de que algo de anormal está para acontecer. O professor
olhou para nós três e perguntou se alguém era apto a tratar uma
paciente com lombociatalgia crônica, pois o indivíduo já tinha
realizado mais de 50 sessões reabilitacionais sem respostas satis-
fatórias. O melhor estava por vir quando o professor avisou que
ele era um paciente pré-cirúrgico. Olhei apavorado para meus
dois colegas e percebi que o clima era desanimador. Imediata-
mente um dos colegas retrucou dizendo gostaria de tratar pa-
cientes com traumas desportivos e o outro acometimentos da or-
topedia pediátrica. Por um instante, pensei comigo mesmo, “Sim
e quem vai querer tratar uma paciente desse, estou fora!” De ime-
diato, parece que o professor estava lendo meus pensamentos, e
friamente afirmou, “O paciente será seu”. Nossa, na hora fiquei
mais frio que um picolé, haja vista que o clima do lado de fora
da clínica de reabilitação encontrava-se congelante. Logo após o
anuncio, o professor olhou para mim e falou, “Calma, nem tudo
está perdido”. Falei, “Como não?”. E o professor falou, “Bom, irei
te fazer uma proposta, caso você melhore 50% do quadro clínico
deste paciente, que há muito não tem qualidade de vida, te dou
nota 10 na prova prática e fim de papo, mas lembrem-se que serás
avaliado pela conduta e melhora clínica dos outros pacientes que
você reabilitará.” Tudo bem!
Percebi que não era uma opção e sim uma ordem, e ordens
devem ser cumpridas. Quando fui chamar o paciente na sala de
espera da clínica, J. A. B. aparentava uns 50 anos de idade e, logo
que começou a andar em minha direção, percebi uma marcha dis-
trófica, sem coordenação, além de arrastar a perna direita, pois

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 79


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
não conseguia levanta-la para dar o passo correto. A mão direita
apoiada no quadril já denunciava um problema nada comum.
Olhei aquilo não como um desafio, mas como uma sentença de
reprovação na disciplina. Minha sorte era que tinha tirado boas
notas em ortopedia nos exames anteriores, mas, mesmo assim,
um desempenho muito ruim poderia me reprovar e eu não estava
gostando nadinha dessa situação. Quando o senhor J. A. B. per-
correu todo o corredor da clínica até chegar à sala de avaliação,
percebi que alguns colegas que estavam próximos pararam para
olhar o tamanho do problema que eu tinha que resolver.
A situação foi me deixando cada vez mais preocupado, a
ponto de quase pedir ao professor para trocar de paciente, mas
não quis dar o braço a torcer, e desde a entrada da clínica até a sala
de avaliação só deu tempo de rezar um pai nosso. Bom, nessas
horas, qualquer reza é bem vinda, ainda mais que no meio do cor-
redor da clínica tinha uma santa. Nunca me esqueci de agradecer
a oportunidade de estar ali tentando melhorar a qualidade de vida
daquelas pessoas. Isso realmente me confortava, porque todo mi-
neiro tem uma grande devoção religiosa e contava com isso todos
os dias, mais ainda naquele momento em que olhei para a Nossa
Senhora de Aparecida e pedi luz, mas muita luz mesmo, porque
tinha acabado de mergulhar no escuro.
Abri a porta para o paciente e ele entrou. Pedi para que ele
se deitasse na maca, porque já tinha comentado que sentar era
uma posição muito desconfortável. Assim me coloquei ao lado
da maca e comecei a avaliação com perguntas bem básicas. Ele
me respondeu que tinha 56 anos, era casado e estava afastado
do trabalho. Tinha relatado que antes do afastamento tinha tra-
balhado como motorista de caminhão em uma empresa de café
na cidade de Guaxupé. Também relatou de forma clara que, após
o aparecimento das dores irradiadas, tinha perdido qualidade de
vida, pois ninguém aguentava viver tanto tempo com este tipo de

80 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


dor insuportável e a base de anti-inflamatórios. Como de supetão
percebi que J. A. B. estava com os olhos cheios de lágrimas. Ouvi
em um tom ríspido que nada estava dando resultado e que agora
era melhor esperar a cirurgia, pois não aguantava mais estas idas
e vindas. Pacientemente, falei para ele que tentaria fazer meu
melhor e que as coisas iriam dar certo. Ele todo desconfiado fez
uma cara de inseguro, mas me deixou continuar a avaliação.
Todo o tempo estava lembrado que teria apenas 12 sessões,
ou seja, 1 mês para colocar J. A. B. de volta à vida normal, e evitava
pensar nas mais de 50 sessões realizadas em clínicas particulares
e em nosso setor durante o período de afastamento. Mesmo pen-
sando como estudante otimista, estava difícil sair dessa situação
complicada. Durante toda conversa com J. A. B., o que mais me
impressionava era o mecanismo de proteção dolorosa que desen-
volvia quando pedíamos para ele realizar alguma manobra ativa
livre, como, por exemplo, levantar uma das pernas. Parecia que o
medo tomava conta e o movimento era feito sem coordenação.
Depois de colher toda a história clínica, realizar manobras
de palpação, testes ativos livres, resistidos e diferenciais orto-
pédicos, estava ficando claro na minha cabeça que tinha alguma
coisa provocando toda essa sintomatologia. Pedi para o paciente,
então, realizar um agachamento livre, e ele não conseguiu nem
20% do movimento. Verifiquei todos os exames complementares,
bioquímico laboratorial, RX e Ressonância Magnética Nuclear –
que na época era o exame mais fidedigno para avaliar morfologi-
camente uma lesão discal – e só observei mínimas e inofensivas
protrusões discais, incompatíveis com a clínica apresentada de
dor irradiada.
Acabei a avaliação e pedi que voltasse no dia seguinte para
começarmos o tratamento de reabilitação. Ele tirou da carteira
um foto de Nossa Senhora e me presenteou dizendo, “Vamos ver
se dessa vez ela poderá nos ajudar.” Ele pediu para não comentar
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 81
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
com o professor que teria me dado o santinho de Nossa Senhora.
Falei, “Pode ficar tranquilo e prometo que vou me empenhar para
te ajudar, confie em mim, mas te pedirei um favor: gostaria que o
senhor não usasse mais essa carteira de dinheiro no bolso de trás
da calça, pode ser? A partir de hoje coloca a carteira no bolso da
frente. Isso irá ajudar”.
Relatei ao professor apenas a parte clínica, e ele me pediu
para que estudasse os mecanismos intrínsecos e extrínsecos pro-
vocativos da lombalgia, ciatalgia e lombociatalgia. Balancei a
cabeça de forma favorável e, sem nenhuma palavra, segui para
a república estudantil onde morava. Quando cheguei em casa,
meus colegas já sabiam do ocorrido e me falaram, “Agora eu
quero ver você sair dessa, meu amigo”. Bem, já não bastava todo
o desânimo do dia e meus amigos teimavam em comentar toda
dificuldade que enfrentaria para resolver esse problema clínico.
Logo após o almoço, fui à biblioteca da universidade e
peguei todos os livros de ortopedia que estavam à disposição.
Fiz anotação de várias páginas, comparei autores, tratamentos
clínicos, métodos terapêuticos alternativos até a exaustão. Parei
para tomar uma água e, quando levantei, senti uma forte dor ir-
radiada para a perna. Nunca na minha vida tinha sentido nada
igual. Pensei, meu Deus, será que agora sou eu com uma lombo-
ciatalgia. Como tinha passado horas sentado estudando, acabei
desrespeitando a orientação de que a cada 40 minutos temos que
levantar da cadeira para beber uma água, fazer pequenas cami-
nhadas com o intuito de vascularizarmos toda a musculatura da
coluna vertebral. Voltei e fechei todos os livros, os devolvi na bi-
blioteca e fui andando para casa.
Quando cheguei a casa, a dor tinha passado e a coluna
voltado a funcionar de forma normal. Passei a noite refletindo
no fato de que a dor do seu J. A. B. poderia não ser uma lombo-
ciatalgia, e sim uma ciatalgia por compressão do músculo piri-

82 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


forme. Em baixo desse músculo passa o conhecido nervo ciático,
que pode realmente promover este tipo de dor, ainda mais em
pessoas que ficam sentados por longas horas. No dia seguinte,
cheguei convicto que realmente não era uma lombociatalgia.
Passei mais dez sessões com o paciente, e já na última os sinais
de melhora eram evidentes, pois não arrastava mais a perna, o
teste de agachamento era quase total, sem dor e ele relatava uma
melhora muito grande.
Ao final do estágio, J. A. B. ficou muito bem, não precisou
fazer cirurgia e eu acabei ganhando uma nota 10 na prova prática
da disciplina. Para finalizar, não posso deixar de afirmar que tive
que passar pelo mesmo problema do paciente para entender
como é prejudicial ficarmos sentados por longas horas, ainda
mais com uma volumosa carteira de dinheiro no bolso de trás
da calça comprimindo o nervo ciático e gerando todo esse trans-
torno. Contudo, acredito que o bom senso clínico foi um sinal e, o
mais importante, evitou-se uma cirurgia desnecessária.

DESSA VEZ FOI POR POUCO

Sempre gostei de chegar muito cedo ao consultório, porque


entendo que, assim, ganho um bom tempo para organizar as
fichas avaliativas e ponderar estratégias clínicas de reabilitação
que irei utilizar no presente dia. Como em todo começo de car-
reira, passamos por dificuldades, e não diferente começamos
sem uma secretária para organizar nossa vida profissional, então
esse tempo realmente torna-se valioso.
Em uma ensolarada manhã de terça-feira, embora o dia es-
tivesse lindo, coisas fora do normal estavam prestes a acontecer.
Logo de início, o despertador do telefone não tocou! Como tinha
que pegar o coletivo um pouco distante de casa, resolvi tomar um

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 83


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
banho rápido, colocar algumas frutas na mochila, de duas alças,
e sair comendo um pedaço de pão com manteiga, bem típico de
quem mora em cidades agitadas e vive sempre no corre-corre. No
meio do trajeto para a clínica outro episódio estranho aconteceu,
logo após pegar o coletivo próximo a minha casa passei por um
tremendo susto. No trajeto, uma das rodas traseira do coletivo
saiu do eixo e todos sentimos o impacto de uma longa freada na
pista. Só deu tempo de ouvir o forte barulho e ver a fumaça to-
mando conta da parte de trás do ônibus, onde eu estava. Nossa,
foi um susto tremendo sentir o veículo perder o controle e não
ver o que estava acontecendo, coisa de filme. Foi como ter a sen-
sação de estar em um carro desgovernado.
Por sorte, o coletivo parou há, mais ou menos 10 metros do
local em que a roda tinha saído. Ufa, o dia só estava começando
e já sinalizava uma manhã atípica. Todos tivemos que descer do
ônibus e esperar uns 30 minutos para que outro veículo viesse nos
conduzir ao destino final. Assim que desci, espontaneamente co-
mecei a conversar com um jovem e ele me dissera ser estudante
de engenharia do segundo período da Universidade Federal de
Sergipe. Perguntei que direção ele tomaria e ele afirmou de pron-
tidão que estava indo para a parte central da cidade pagar umas
contas atrasadas. Olhei para ele e sorri dizendo que tinha feito
muito isso quando estava no período universitário, e sabia exa-
tamente como era dura essa vida de morar fora de casa, estudar
bastante e ter que aprender a se virar para administrar contas,
estudo e outras atividades. Ele me perguntou o que eu fazia e falei
que era fisioterapeuta e também estava indo para a região central,
embora já estivesse bastante atrasado. Logo depois desse bom
papo, outro coletivo chegou e nos conduziu para o destino final.
Nos despedimos e fui às pressas para o consultório. O início da
primeira sessão estava marcado para 7:30 e já passava das 9:00
quando cheguei. Pedi desculpas às duas pacientes que me aguar-
davam e posteriormente as conduzi à sala de avaliação.
84 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
Logo quando cheguei percebi que a senhora M. C. A. estava
pálida e com uma feição estranha, bem diferente do seu estilo ri-
sonho de ser. Perguntei se estava tudo bem e ela me falou que
mais ou menos. Foi ai que comecei a me preocupar porque na
sessão anterior ela tinha saído do consultório bem disposta e pra-
ticamente sem dor. Já estava planejando liberá-la, haja vista que,
após oito sessões reabilitacionais, M. C. A. encontrava-se ótima
da lesão inicial causada por uma cervicobraquialgia, dor na região
cervical com irradiação para o braço esquerdo, vide capítulo 4.
Pedi para a paciente deitar de forma suave nos tatames de
piso emborrachado, onde sempre me senti seguro para realizar
avaliações clínicas e manobras de terapia manual. Aprendi essa
lição com um amigo massoterapeuta muito experiente chamado
H.W., que me ensinou com maestria o valor das terapias energé-
ticas. Se as terapias estão dando certo por que mudá-las? Parece
um pouco estranho, mas é assim que tenho trabalhado há anos
e as coisas realmente tem funcionado. Voltando a senhora M. C.
A., após deitar-se, percebi novamente que algo estava errado e
perguntei se ela não queria sentar. Ela concordou e logo em se-
guida perguntei, “A senhora está sentindo algo muito desconfor-
tável?”, “Estou sentindo muita dor no braço esquerdo, um pouco
de tontura e cansaço”, ela respondeu.
Bom, na hora nem de longe poderia imaginar que a coisa
poderia piorar e outro sinal me deixou novamente apreensivo.
Percebi que ela estava suando frio. Como já sabia que ela não era
diabética fui pegar um copo de água com açúcar e começamos a
conversar mais tranquilamente. Ela mencionou que estava assim
porque tinha discutido com o marido e, por isso, estava bem abor-
recida, além de ter pego um ônibus lotado, vindo em pé e tendo
que segurar na barra superior de apoio, logo acima da cadeira. O
veículo estava tão cheio que nem conseguia alternar os braços
para segurar a bolsa e se apoiar ao mesmo tempo. Bem, só quem

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 85


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
anda de ônibus lotado passa por essas coisas e, infelizmente,
muitas pessoas não se sensibilizam para te dar o lugar quando
você mais precisa. Um pouco mais assustado perguntei se estava
sentindo alguma coisa diferente. Ela respondeu que era somente
a dor irradiada para o braço esquerdo e um pouco de desconforto
nas costas, bem típico do quadro clínico de cervicobraquialgia.
Antes de começar o tratamento, tive um momento mais
lúcido de aferir a Pressão Arterial (PA) da paciente. Surpreen-
dentemente me deparei com uma PA de 190 x 110 mmHg. Para
não assustá-la, logo após a aferição, pedi que esticasse o braço
esquerdo para avaliar a Frequência Cardíaca (FC) durante os três
primeiros minutos. Procedimentos básicos e mandatórios antes
de iniciar qualquer tratamento clínico de reabilitação. Mais um
susto, estava realmente muito alta, uma média de 180 batimento
por minutos em repouso, uma FC bem anormal para uma jovem
senhora de 55 anos. Não hesitei em pegar o telefone e ligar 192,
referente ao serviço de socorro do Hospital de Urgência e Emer-
gência de Sergipe (HUSE).
Lá de dentro da sala avaliativa, ouvi a paciente dizer que
era para eu não me preocupar, pois já estava ficando melhor, que
iria passar. Logo em seguida sentei próximo a ela e comentei “Se-
nhora, teremos que realizar um plano B. Sua PA e FC não estão
dentro dos parâmetros normais, por isso, se em 10 minutos não
aparecer nenhuma ambulância para te conduzir ao HUSE, eu
mesmo te conduzirei!” Só para lembrar, naquela época ainda não
existia o serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
Próximo dos 10 minutos chegou a ambulância, que, por sorte,
transitava pelas proximidades.
Em meus pensamentos e de forma prudente estava mais ali-
viado em ter tomado tal decisão, pois é melhor pecar pelo zelo, do
que por falta. Não tive cabeça de continuar o dia reabilitando, pedi
desculpas aos outros pacientes e segui para o setor de Urgência do

86 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


HUSE. Imediatamente me identifique na portaria do hospital e em
poucos minutos acabei localizando a senhora M. C. A.. Conversei
com o clínico plantonista e ele tinha me informado que a senhora
estava medicada, mas ficaria internada para observação cardio-
lógica. Deixei meus contatos com o irmão da paciente e uma hora
depois recebi o telefonema dizendo que a senhora M. C. A. tinha
sofrido um infarto agudo do miocárdio. Por minutos minhas pernas
tremeram. Foi realmente uma sensação desconfortante.
Nos dias seguintes, liguei para o irmão da paciente para
saber do estado geral clínico, e ele sempre me respondia que as
coisas encontravam-se em melhoras clínicas. Surpreendente-
mente, dois meses depois, a paciente, acompanhada do irmão,
apareceu em meu consultório, vindo agradecer por eu ter salvado
a vida dela. Respondi que tinha feito meu trabalho e que era
obrigação minha zelar pela saúde dos pacientes, pois a vida está
acima dos riscos clínicos. Logo após a visita da paciente parei e
pensei, “Nossa, senão tivesse me atentado para esses detalhes
clínicos, essa senhora teria infartado dentro do consultório”. Real-
mente, dessa vez foi por pouco. Assim, ficou a lição, nunca de-
vemos tratar os pacientes sem antes avaliarmos suas condições
clínicas, pois mesmo diante de um problema específico na coluna
vertebral outros mais relevantes poderão estar associados.

UMA DOR MISTERIOSA

Era uma tarde chuvosa de segunda-feira do mês de maio


em Aracaju. O céu estava escuro e a todo tempo rajadas de ventos
sopravam parecendo querer derrubar os vitrais. Exatamente às
8 horas da manhã, bate na porta do consultório uma senhora
de cabelos grisalhos, magra, pele branca e bem vestida falando
que tinha marcado uma avaliação fisioterapêutica. Um pouco

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 87


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
apreensivo perguntei o nome da senhora e me respondeu M. T. D.
Abri a porta e solicitei que aguardasse alguns minutinhos. Antes
de começar a avaliação, M. T. D. pediu para usar o banheiro. Logo
em seguida, e como de habitual, fui lavar as mãos antes de co-
meçar minha rotina. Ao entrar no banheiro senti um cheiro tão
forte de ácido que quase fiquei embriagado. Tentei sentir se o
cheiro estava vindo da saída de ventilação, mas era tão intenso
que desisti de continuar.
Voltei à sala de avaliação e pedi que M. T. D. me falasse
qual era o principal motivo da consulta. A história começou
assim. “Bom Doutor, vim aqui porque, após tentar algumas
sessões de terapias alternativas, minha dor na região lombar
só tem aumentado e com marcante piora nesses últimos dois
meses. Como o senhor sabe, as unidades básicas de saúde vivem
cheias e morro de medo em ir a um hospital público, porque vivo
sozinha. Só de pensar que posso ficar lá por alguns dias chego
a entrar em pânico, então resolvi vir aqui por indicação de uma
amiga.” Antes de mais nada e pela cara da paciente, já estava
pressentindo algo muito estranho. Perguntei sobre funções la-
borais e ela respondeu que no momento estava desempregada,
mas tinha trabalhado por muito tempo como costureira e que a
posição sentada sempre foi incômoda.
Prontamente, fui induzido a pensar logicamente em um
acometimento mecânico postural do tipo lombalgia crônica,
comum a profissão de costureira. Aprofundando o conteúdo dos
questionamentos, certa hora, a paciente me respondeu que a dor
tinha ficado mais forte nos últimos dois dias. Era uma dor que não
a deixava um minuto quieta e que, frequentemente, acordava
à noite se contorcendo. Perguntei qual a intensidade da dor na
escala na EVA, e me respondeu 8 para o lado esquerdo da coluna.
Realmente um índice muito forte para uma lombalgia crônica
sem postura antiálgica.

88 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


Fui anotando tudo e a cada linha ficando mais assustado.
Outro fato interessante, foi que comentou sobre a utilização de
bolsa de água morna na região lombar e que o alívio era apenas
momentâneo, piorando muito após a retirada, parecendo até
que a dor ficava pior do que estava. Pacientemente, para não de-
monstrar o nervosismo de um recém-formado, pedi para M. T. D.
deitar no piso emborrachado para poder avaliar o problemas com
maior segurança. Como na época não tinha muita experiência
clínica, procurei fazer todos os testes funcionais e clínicos ortopé-
dicos com intuito de desvendar as características da SDL.
Depois de 30 minutos realizando palpação muscular, mobi-
lizações articulares, testes rápidos, ortopédicos específicos e di-
ferenciais, parecia não ser um acometimento mecânico postural,
como a paciente acreditava. Por segundos, comecei a ficar mais
desesperado porque não estava entendendo que tipo de dor era
aquela. Era realmente uma dor confusa. Nunca tinha visto aquilo
antes. Tentei correlacionar o episódio doloroso com algum tipo de
dor de cabeça ou abdominal e nada. Foi quando, de repente, ela
comentou sobre ter ficado com corpo mole e febre algumas vezes
no último mês, mas tomava um antitérmico e quatro horas depois
estava bem. Sempre afirmando que comprava essa medicação na
farmácia próxima à casa dela casa.
Naquele momento, sentia que minhas possibilidades em
achar o diagnóstico funcional já tinham ido pelo espaço. Perto
dos momentos finais da avaliação, a paciente começou a ter uma
nova crise de dor insuportável. Atentamente, percebi que M. T. D.
estava suando frio, pálida e se contorcendo devido ao alto índice
doloroso. Mais uma vez e em quase crise de ausência, me deparei
pensando porque isso teria que acontecer em nosso consultório!
Bem, não tinha muito que fazer, e na pressão resolvi lembrar de
uma conversa clínica que tive alguns dias antes com o amigo
médico S. C. G. sobre diagnóstico diferencial não ortopédico rela-

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 89


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
cionado à possíveis problemas na região da coluna vertebral. Ele
até brincou parafraseando um jargão clínico “Primeiro saber o que
não é problema de coluna para depois saber se pode ser tratável”.
A ficha caiu, como já tinha tentado quase todas as manobras orto-
pédicas, só me restava a manobra diferencial de punho percussão
para avaliar o sinal de Giordano.
Pedi para a paciente ficar em pé e, em seguida, realizei a
manobra de punho percussão na região lombar dos dois lados, re-
ferente ao quadrante anatômico da região renal. O teste mostrou-
-se negativo para o lado direito e surpreendentemente positivo
para o esquerdo, indicando uma possível inflamação ou infecção
no rim esquerdo. Agora, de forma mais clara, pude relacionar o
cheiro pútrido da urina com a dor intensa na região lombar es-
querda. Falei para a paciente que o problema não apresentava
característica de dor na coluna vertebral, e que ela deveria pro-
curar imediatamente um médico, se possível um nefrologista. Ex-
pliquei para ela que essa era a especialidade que cuidava da saúde
dos rins. Prescrevi no encaminhamento ao nefrologista que tinha
realizado toda a avaliação clínica ortopédica e que a paciente não
apresentava um diagnóstico cinético funcional, porém sugestivo
de uma doença renal.
Em seguida, a paciente procurou uma avaliação espe-
cializada no Hospital Universitário e, depois de duas semanas,
apareceu em nosso consultório afirmando que o médico tinha
prescrito antibióticos e que a vida dela tinha voltado ao normal,
logicamente, agora sem dor. Ufa! Nesse caso aprendi, no susto,
que, se não tivesse ouvido meu amigo médico, teria certamente
tentado tratar a paciente como um verdadeiro problema me-
cânico postural, até me dar conta que poderia estar no caminho
errado. Certamente teria cometido um dos maiores erros clínicos
da minha vida profissional.

90 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


O PIOR PODE ESTAR POR VIR

Há 7 anos, recebi em meu consultório um adolescente, apa-


rentemente saudável, porém com uma deformidade cifótica, a
típica corcunda juvenil. Ao entrar na sala de avaliação postural, a
acompanhante se identificou como mãe do adolescente P. E. C.
Pediu desculpas pelo atraso, mas se justificou dizendo que morava
no interior e que, para chegar em Aracaju levava mais ou menos
2 horas de viagem. Ainda prestando atenção às palavras da jovem
mãe, fui levado a fazer uma reflexão! Como pode esses pacientes
sofrerem tanto para chegar até aqui em busca de avaliação clínica
postural. Esta ainda é uma dura realidade em nosso país onde
pacientes e familiares perigrinam em busca de um tratamento
melhor nas grandes cidades, haja vista, pequenos municípios se
quer dispõem de exames básicos de imagem do tipo espinografia
e outros mais específicos laboratoriais. Certamente, não podemos
deixar de afirmar que muitos destes pequenos municípios apre-
sentam bons profissionais especializados na área de saúde.
O adolescente apresentava-se bem tímido e observador.
Como já tinha tratado alguns adolescentes com deformidades na
coluna vertebral, por vezes me confundia se tal timidez era da fase
adolescente ou se causada pela deformidade na coluna. Afinal,
qual jovem não ficaria tímido com tal deformidade na coluna! A
consulta foi se transformando em um descontraído bate papo e o
pequeno paciente foi se soltando.
Fui aos poucos ganhando confiança e perguntando sobre
o que ela mais gostava em relação ao gênero musical, literário,
filmes, esportes, entre outras coisas para tentar deixar a con-
sulta mais leve. Algumas perguntas ficaram incompletas, mas a
mãe tinha mencionado que P. E. C. era estudioso e, para algumas
atividades, demonstrava-se uma verdadeiro autodidata. Tinha
aprendido a tocar violão de ouvido, sabia várias músicas em inglês

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 91


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
e estava aprendendo alemão pela internet. Bem típico de adoles-
centes desafiadores.
Pouco a pouco comecei então a interrogá-lo sobre a de-
formidade postural, se tinha dor, falta de ar, dificuldade para
atividades físicas. Respondeu que o maior incômodo acontecia
ao jogar bola, correr de forma brusca e andar de bicicleta com
marcante falta de ar às atividades mais intensas. Em seguida co-
mentou que ao realizar essas atividades, tinha a sensação de que
o coração acelerava muito e sentia um aperto na região superior
e posterior do tórax esquerdo, próximo ao coração. Para comple-
mentar a anamnese, perguntei se o jovem paciente já tinha feito
algum outro exame relacionado a esse problema e obtive como
resposta que não, mas gostaria de uma indicação médica. Enfa-
ticamente falei, lógico que sim! Só por curiosidade também in-
daguei sobre como eles souberam do nosso consultório de rea-
bilitação e agora, espantosamente, foi P. E. C. quem respondeu.
“Tenho uma amiga de escola que o senhor já tratou. Ela veio para
cá por causa de uma escoliose bem deformante”.
Em seguida realizei toda anamnese ortopédica, palpação
na região torácica e estruturas adjacentes e todos os testes pos-
síveis para mobilização da coluna, flexibilidade e força muscular.
Percebi que ao movimento de dobrar a coluna para frente fazia
com que o jovem sentisse uma brusca falta de ar e dor do lado
esquerdo do peito e costas. Aquela velha sensação de calafrio
começou a tomar conta de mim. A mãe me questionou, agora
em um tom mais desesperado, “Quando iremos começar o tra-
tamento doutor? Gostaria de ver meu filho melhorar dessa falta
de ar”. Falei de forma mais contundente para a mãe que antes de
começar o tratamento, P. E. C. teria que passar por um médico e
fazer alguns exames específicos. Sendo assim, não tive dúvidas,
eu mesmo liguei para o amigo médico S. C. G. solicitando uma
consulta o mais próximo que ele pudesse. Entreguei meu relatório

92 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


clínico para a mãe, em que constava todos os testes clínicos e
posturais realizados, além de solicitar reavaliação da mobilidade,
flexibilidade, teste de força, palpação torácica e um pedido para
espinografia nas posições de frente e de lado (AP/Perfil).
No período da tarde, logo após a consulta médica, doutor
S. C. G. me ligou e falou que após realizar todos os testes clínicos
e palpações, tinha percebido respostas semelhantes às que men-
cionei no relatório fisioterapêutico, porém acreditava ser algo
mais sério do tipo compressivo pulmonar e não da deformidade
pura da coluna torácica, mas que de forma prudente esperaria os
exames complementares RX e laboratoriais para possíveis con-
clusões do quadro clínico.
Três dias depois, o amigo S. C. G. me ligou dizendo que os
exames clínicos apontavam para a presença de uma massa tumoral
agressiva, ainda em estado inicial, a esclarecer por biópsia e que o
jovem estava sendo encaminhado a um cirurgião torácico. Fiquei
em choque momentâneo e por instantes pensativo, “Imagina se
tivesse começado a tratar esse adolescente sem um encaminha-
mento médico?” Por fim, e mais uma vez, acabei percebendo que
nunca podemos subestimar o que estar por traz dessas doenças
misteriosas, e que é imprescindível uma boa relação médico-fisio-
terapeuta-paciente. Fica a lição, por mais simples que possa parecer
o pior pode estar por vir, por isso devemos ficar sempre alertas.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 93


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
CAPÍTULO 6

MITOS E VERDADES SOBRE PROBLEMAS NA COLUNA VERTEBRAL

Ao decorrer deste capítulo, tentaremos responder e des-


mistificar, baseando-se em evidências científica e na prática
clínica, os 16 questionamentos mais frequentes relatados por pa-
cientes que se encontram em reabilitação fisioterapêutica devido
a problemas na coluna. São exatamente estas respostas que po-
derão mudar seus conceitos de vida e te propiciar melhor bem-
-estar durante toda uma vida. Para isso, não espere cair em arma-
dilha da cura imediata, tomando decisões precipitadas, porque
certamente a maioria dos problemas que acometem a coluna
não foram ocasionados de uma hora para outra. E se foi, possi-
velmente devemos entendê-los como de característica mecânica
traumática e em fase aguda.
A seguir, tentarmos clarificar todos esses questionamentos
que promovem controversas sociais e acabam deixando o aco-
metido ainda mais ansioso e confuso.

1. Pergunta: É verdade que alternar o uso de gelo com bolsa


de água morna promove melhor resultado para alívio da dor
na coluna?
MITO.
Bom, é consenso respondermos que antes de qualquer tra-
tamento clínico, a coisa mais importante é sabermos os riscos
que a terapia pode causar. A isso chamamos de contraindicações
relativas e absolutas. Conheço muitos pacientes que já melho-
raram colocando gelo, outros tantos melhoraram com uso de
água morna e menos ainda realizando a terapia combinada, alter-
95
nando o uso do gelo e água morna. Temos que deixar claro que o
uso do gelo, modalidade de crioterapia, é muito bem indicado em
casos de trauma direto. Como exemplo, quando o indivíduo cai de
costas no chão ou algum objeto bate na lateral ou meio da coluna.
É importante afirmarmos que a crioterapia se mal aplicada pode
promover queimaduras de primeiro grau.
Algumas dicas são importantes antes de colocarmos gelo
sobre a pele. Procure utilizá-lo em formato de pequenas pedras
ou em flocos dentro de um recipiente apropriado, como sacos
plásticos resistentes ou bolsas apropriadas para essa terapia. Se-
gundo, é preciso entender que o tempo de utilização da crioterapia
deve ser diferente para crianças, adultos, idosos e nas respectivas
regiões corporais em média, entre 5 e 15 minutos para crianças e
idosos, e em adultos não se deve ultrapassar 20 minutos. Lembre-
-se, nunca colocar a bolsa de gelo no meio da coluna vertebral,
e sim nas regiões mais periféricas, próximas à lesão traumática,
sempre com o indivíduo deitado de lado, nunca de barriga para
baixo. Terceiro, tomar muito cuidado ao colocar bolsas de gelo
em pessoas idosas. Menciono isso, porque o idoso por si só é um
ser mais frágil e existem algumas contraindicações relativas para
isso, como hipertensão arterial, pelo risco da queda brusca da
pressão, diabetes descontrolada por diminuição da sensibilidade
tátil e térmica, artroses, desidratações e dor de cabeça contínua.
O mais prudente é sempre procurar observar por todo tempo a
pessoa que está recebendo a terapia com gelo, crioterapia.
No mesmo sentido, o uso de bolsa de água morna torna-
-se eficaz para o alívio da dor em casos de espasmos musculares,
condição que torna o músculo rígido e com dor ao movimento,
principalmente as atividades de sentar e levantar da cadeira. A
termoterapia com uso de bolsa de água morna segue o mesmo
critério de aplicação da crioterapia, porém, observem que os ob-
jetivos são diferentes. Uma quarta dica é sobre a utilização tanto

96 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


de bolsas de gelo, quanto água morna, associadas a substâncias
analgésicas tópicas do tipo pomadas gel ou líquidos com cânforas
e mentol. É de extrema importância antes sabermos se você tem
alergia às substâncias supracitadas. Uma forma simples de saber
se você tem alergia à cânforas e ao mentol é simplesmente co-
locando uma pequena quantidade na pele do braço e deixando
por uns 5 minutos. Se a pele começar a coçar, ficar vermelha e
irritada, pronto, está ai um indício que você pode ser alérgico a
formulação em uso.
O mais prudente é procurar marcar uma consulta com o
alergologista ou dermatologista, médicos especializados em
tratar alergias e cuidar da saúde da pele. Se não tiver alergias pro-
curem colocar essas substâncias após a utilização da termoterapia
e nunca antes para evitar o risco de desconforto e possíveis lesões
teciduais. Para finalizarmos este tópico tenham muito cuidado na
aplicação de pomadas ou líquidos que não apresentem certificado
de liberação pela Anvisa. Não transforme seu problema na coluna
em mais um acometimento clínico.

2. Pergunta: Dormir em rede faz mal para a coluna?


MITO.
Essa pergunta é frequente e invariavelmente continua
sendo feita por muitas pessoas. O que devemos diferenciar nesse
caso é se o indivíduo tem ou não dor na coluna. Se ele tem o hábito
de dormir em redes e nunca teve nenhum problema na coluna,
achamos salutar que continue, desde que esta rotina não atra-
palhe a qualidade de vida. Outro ponto é que se dormir em rede
fosse tão prejudicial assim, o estado do Ceará seria o campeão,
em proporção por habitantes, em afastamentos laborais por pro-
blemas na coluna e isso não é um fato concreto.
Por outro lado, se o indivíduo não tem hábito de dormir em
rede e está tentando essa prática com o intuito de melhorar a crise
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 97
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
de dor, não vemos como uma boa escolha. Afinal, pior que perma-
necer longas horas na mesma posição deitado na rede, é encontrar
uma maneira de levantar sem causar aumento da dor. Entendemos
não ser uma tarefa fácil levantar da rede, principalmente para quem
se encontra em fase aguda de doenças da coluna.

3. Pergunta: Quando tenho dor na coluna deito no chão de


barriga para baixo e peço para alguém subir e estalar minhas
vértebras. Mesmo melhorando a dor de forma momentâ-
nea isso poderá trazer riscos de lesão para minha coluna?
VERDADE.
Terapias manipulativas na coluna vertebral só devem ser
realizadas por profissionais osteopatas ou quiropratas. Essas es-
pecialidades habilitam o fisioterapeuta a realizar tais manobras
com maior segurança, munindo-se de testes clínicos específicos
e noções de contraindicações relativas e absolutas baseadas em
evidências. É bom lembrar que manobras, como as citadas, são
realizadas pelo acometido em posições instáveis e, certamente,
deixarão o indivíduo mais vulnerável ao risco de lesão na coluna,
principalmente na região lombar.
A manobra de subir nas costas faz com que as vértebras se
desloquem da região mais posterior para outra mais anterior. Esse
movimento articular é chamado de decoaptação vertebral e cer-
tamente poderá causar pequenas lesões ligamentares com estrei-
tamento do canal medular na região da cauda equina e promover
parestesias por espondilólise e, mais progressivamente, espondi-
lolisteses, vide capítulo 4. Na pior das hipóteses o indivíduo poderá
perder os movimentos do segmento comprimido para baixo. Cer-
tamente gostaríamos que você, caro leitor, não corresse este risco.
Nessa mesma linha, também não é inteligente adquirirmos
o hábito de querer estalar a coluna todas as vezes que ficarmos
tensos. A necessidade de estalar “a vértebra” vem do mau posi-

98 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


cionamento vertebral causado por espasmos musculares con-
tínuos. A melhor saída para esse problema é realizar mobilizações
articulares, alongamentos, treino de fortalecimento muscular e
proprioceptivo, orientados por um bom fisioterapeuta. Pessoas
que têm o hábito de estalar a coluna vertebral de forma alea-
tória comumente experimentam a sensação de travamento nas
regiões cervical e lombar. Afinal, além de arriscado, o indivíduo
promoverá desalinhamento das estruturas da coluna.

4. Pergunta: Todas as vezes que tenho dor na região lombar


peço para alguém apertar os músculos da coluna com muita
força e depois coloco borra de café morna para aliviar a dor
local. Apertar o músculo com força poderá trazer algum
dano a minha coluna?
VERDADE.
Como visto no terceiro questionamento, é de bom senso
que manobras reabilitacionais sejam feitas por profissionais espe-
cializados. Sinceramente, não podemos mensurar o quão forte o
músculo está sendo apertado e se isso poderá causar danos par-
ciais ou graves nos tecidos cutâneo e muscular. Todas as técnicas
específicas de liberação miofascial ou relaxantes para diminuir es-
pasmos devem ser realizadas com muito cuidado e conhecimento
fisiológico tecidual. Dando sequência à pergunta, a borra morna de
café, pedras aquecidas, argila, entre outras formas de termoterapia
são benéficas quando bem administradas com objetivos claros. Já
vimos que estas modalidades promovem alívio momentâneo e
local, ajudando a melhorar a vascularização da região acometida,
como mencionado na primeira resposta deste capítulo.

5. Pergunta: Emagrecer de forma rápida é prejudicial para a


coluna vertebral?
VERDADE.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 99


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
Isso realmente é outra verdade. O mundo frenético em que
vivemos tem nos forçado a trabalhar por horas a fio e acabamos
nos alimentando de forma errada, fora a marcante presença do
estresse diário sobre cobranças imediatas. Acabamos sempre
nos alimentando mal e quando nos damos conta estamos bem
acima do peso ideal. Esse tipo de acontecimento tem sido rotina
em várias famílias ao redor do mundo e, certamente, queremos
perder o máximo de quilos que ganhamos em um curto espaço de
tempo. Quando o indivíduo procura um tratamento correto, com
uma equipe multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos,
educadores físicos e fisioterapeutas, a chance de emagrecer
de forma correta é imensa. Não é objetivo deste livro entrar no
mérito de qual a melhor forma de emagrecimento, mas sim dos
problemas causados na coluna pelo sobrepeso e obesidade se-
guidos do emagrecimento rápido.
Antes de falarmos do emagrecimento rápido e seus danos,
temos que deixar claro que o aumento do Índice de Massa Corpórea
(IMC), peso dividido pela altura ao quadrado, causam uma grande
sobrecarga na coluna. Quanto maior o IMC, maior será a força de
pressão causada nos discos intervertebrais, principalmente na parte
final da região lombar, mais especificamente na quarta e quinta
vértebras. Quanto mais tempo passamos agredindo as estruturas
discais, maior possiblidade de ocorrerem desidratações pontuais,
que poderão evoluir para protrusões e em lesões mais severas uma
hérnia discal. É comum pacientes chegar ao consultório e relatar
que na fase de sobrepeso não sentiam dor na coluna lombar e ao
perder 15, 20 ou até 30 quilos, as dores aparecem. Fica uma imagem
errônea de que emagrecer provoca dor na coluna. Não é bem esse
raciocínio que devemos fazer. O que ocorre é uma perda rápida de
massa gorda e também de massa magra, músculos. Esses mús-
culos, em especifico, são responsáveis por manter a coluna ereta e
ajudarem na locomoção corporal.

100 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


Na fase anterior ao emagrecimento rápido, é provável terem
ocorrido razoáveis lesões discais e articulares, mas o quadro do-
loroso encontrava-se ausente porque o grande conteúdo de massa
magra era capaz de sustentar todo o peso da coluna. Com a perda
rápida da massa gorda e, consequentemente, da massa magra
quais estruturas darão suporte a sustentação da coluna? Portanto,
não podemos tirar conclusões precipitadas de que emagrecer piora
a dor na coluna. Fica a dica, procure sempre permanecer dentro
do seu peso ideal e entender que problemas causados ao longo do
tempo devem ser vistos com certa complexidade.

6. Pergunta: Fazer caminhada ou andar de bicicleta é bom


para aliviar a dor lombar?
Pode ser MITO ou VERDADE.
Depende do tipo de dor que estamos falando. É MITO
quando estamos diante de doenças mecânicas, principalmente
na fase aguda. O melhor remédio para uma lesão tecidual é o re-
pouso moderado, especificamente na fase aguda. Claro que se
tenho uma dor lombar mecânica, com piora ao ficar em pé, sentar
ou na flexão anterior do tronco, não deveria realizar atividades
livres porque em muitos casos só piorará o índice álgico horas
após a atividade.
É interessante observarmos que na hora da caminhada
ou quando estamos andando de bicicleta a dor parece me-
lhorar. O fenômeno fisiológico ocorre pelo aumento da vascu-
larização muscular local e isso pode causar alívio momentâneo,
mas com o passar das horas o corpo vai esfriando e os níveis
dos hormônios adrenalina e betaendorfinas, responsáveis pelo
bem-estar, diminuem, voltando aos valores basais. Nessa fase,
nosso corpo começa a sentir os efeitos deletérios da sobrecarga
e a dor tende a aparecer de forma mais severa. Atividades como
caminhadas e andar de bicicleta não são bem indicadas nesse

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 101


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
período de crise, porém são bem prescritas na fase final de rea-
bilitação, tornando-se VERDADE. Como veremos nos capítulos
9, 10 e 11, existem exercícios que podem nos beneficiar e que
não sobrecarregam a coluna, além de propiciar bom alívio de
forma mais duradoura e eficaz.

7. Pergunta: Realizar sessões de massagem é uma boa tenta-


tiva terapêutica para aliviar uma dor mais leve nas costas?
VERDADE.
A massagem é uma forma de tratamento antiálgica milenar
e tem sido relatada em inúmeros procedimentos para melhora
dolorosa, seja na coluna ou em outros locais do corpo. Especifica-
mente na coluna vertebral, a massagem, seja superficial ou pro-
funda, propicia efeitos fisiológicos do tipo: melhora da vasculari-
zação tecidual, desintoxicação e relaxamento muscular, além do
poder do toque terapêutico.
Essa é mais uma técnica que traz bons resultados quando
bem administrada. É de suma importância que o terapeuta tenha
amplo conhecimento sobre essa técnica, porque, em muitos
casos, tanto o paciente, quanto o terapeuta poderão sentir des-
conforto logo após a execução de técnicas mais sensitivas.
Não é incomum ouvir de pacientes que o terapeuta dele
tem mãos mágicas, mas nem sempre é assim. Existem pacientes
que experimentam uma sensação de moleza, como uma perda de
energia logo após o toque terapêutico. Isso é fato e deve sempre
ser explicado ao indivíduo que receberá a terapia. A troca ener-
gética pode acontecer de várias formas, no entanto, a sensação
de moleza não deve ser interpretada como um ponto negativo, e
sim positivo, pois muitas vezes o que perdemos no toque é energia
negativa. Desse modo, massoterapeutas bem preparados sabem
como conduzir todo esse processo de fluxo energético.

102 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


8. Tenho dor na coluna lombar e estou melhorando com algu-
mas terapias alternativas. Esse tipo de terapia é realmente
boa e, sendo assim, posso indicá-la para outras pessoas?
MITO.
Todos nós concordamos que terapias alternativas, como
acupuntura, massagens, uso de argila terapêuticas, utilização de
pedras aquecidas, bandagens térmicas, cromoterapia e florais,
ao longo dos anos, têm trazido benefícios álgicos para indivíduos
com problemas na coluna. Contudo, devemos ficar bem atentos,
porque não existe uma receita de bolo que funcione para tudo.
Umas das coisas mais sábias na área clínica é entender o que
queremos tratar, seja a dor ou indivíduos a serem tratados. É
preciso entender que diagnósticos clínicos diferenciais acurados
para saber de onde provem a doença são fundamentais. Nada
mais clássico, na clínica de reabilitação, que aprendermos com o
tempo que avaliar mal é tratar as cegas, e o inverso é verdadeiro.
De fato, é importante lembrarmos que existem inúmeras
doenças sem características mecânicas, relacionadas à dor na
coluna vertebral. Nossa maior preocupação é de que o aco-
metido possa ter uma doença crônica ou grave e precise de um
diagnóstico mais preciso para o tratamento. Baseando-se na ex-
periência clínica evidente, podemos afirmar que a melhor forma
nunca é indicar terapias sem antes termos um diagnóstico espe-
cífico da doença ou doenças que podem aparecer de forma as-
sociada. Certamente, os médicos, fisioterapeutas, psicólogos,
entre outros profissionais de saúde, poderão sabiamente indicar
alguma terapia alternativa caso seja necessário.
Longe de querer duvidar do poder da terapêutica alter-
nativa, amplamente comprovado na prática do dia a dia, mas não
podemos fechar os olhos para doenças complexas e agressivas,
que poderiam ter sido tratadas com maior segurança, muitas
vezes, até com terapias combinadas. A priori, fica o aprendizado
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 103
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
que as pessoas são diferentes e respondem de forma diferente, até
mesmo para doenças semelhante. Devemos sim procurar sempre
um profissional qualificado, com boas experiências clínicas, que
poderá, com segurança, nos indicar o tratamento correto. A au-
toindicação terapêutica ou sem conhecimento de causa clínica
deve ser evitada.

9. Pergunta: Realizo exercícios na academia e todas as vezes


que paro de exercitar meus músculos da região lombar a
dor volta. Existe relação entre exercícios feitos na academia
com a melhora da dor lombar?
VERDADE.
Esse questionamento é muito comum. Quando estamos
frequentemente realizando exercícios, nosso corpo está ativo
e a musculatura da coluna vertebral é sempre requisitada, isso
faz com que o corpo fique mais apto a aguentar as necessidades
diárias exigidas. Não só exercícios em academias, mas também
ao ar livre, como atividades funcionais, corridas bem orientadas e
caminhadas regulares, podem ajudar o indivíduo a uma boa ma-
nutenção da massa magra e, preventivamente, manter a coluna
em forma. Claro, isso só será possível se o tipo da dor for casual,
com característica muscular, intensidade leve entre 1 e 3 na EVA e
sem maiores comprometimentos neurológicos ou articulares.
Mais uma vez, a melhor forma será procurar um profissional
especializado em coluna, discutir o que realmente está por trás
da doença para, posteriormente, voltar às atividades de ganho de
força. O que sempre indicamos para pacientes com problemas na
coluna em fase final da reabilitação é que procurem realizar pelo
menos uma atividade física prazerosa, sendo acompanhado, im-
preterivelmente, pelo educador físico e um cardiologista de sua
confiança. Lembre-se que o educador físico é o profissional mais
indicado para prescrever e acompanhar a forma correta de rea-

104 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


lizar exercícios físicos com alta intensidade e cargas progressivas.
Não gaste energia de forma despretensiosa, faça exercícios regu-
lares protegendo sempre a coluna vertebral. E fica a dica: nunca
ultrapasse o limite fisiológico.

10. Pergunta: O local específico para colocar a cadeirinha do bebê


no carro é logo atrás do banco do passageiro, assim em um
acidente automobilístico a criança está mais protegida de
lesões na coluna vertebral?
MITO.
Antes de tudo, esse é um assunto polêmico e que tem
gerado diversos pontos divergentes entre especialistas no as-
sunto. Devemos deixar transparecer em nossa análise que não
estamos indo contra a opinião dos fabricantes de cadeiras in-
fantis para carros, especialistas em trânsitos, muito menos pais
que apresentam soluções confortáveis para observar melhor seu
bebê enquanto o carro está em movimento. Antes de mais nada,
sabemos que algumas regras de segurança devem ser seguidas
e estas frequentemente são encontradas nos manuais das cadei-
rinhas. O não uso, assim como a má instalação dessas cadeirinhas
no banco traseiro geram multas, vide lei do Contran 277/2008,
além de deixarem as criança mais vulneráveis à lesões traumá-
ticas em acidentes automobilísticos.
Preventivamente, seguem algumas dicas importantes:1)
O bebê conforto para transportar crianças com menos de 1 ano
deve sempre ser colocado no meio do banco de trás, posicionado
de costas para o vidro dianteiro do carro; 2) Observe atentamente
a colocação do cinto de segurança da cadeirinha e do carro nos
locais específicos, pois a cadeira não poderá ficar frouxa no banco;
3) Não deixe o cinto folgado ou demasiadamente apertado, pois
esse poderá ser um diferencial entre lesões leves ou mais graves
para seu bebê. Ajuste-o para que a criança fique confortável; 4)

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 105


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
Evite deixar a cadeirinha inclinada com mais do que 45 graus em
relação à linha horizontal do banco, pois esse é o ângulo limite de
proteção para a coluna do bebê em casos de colisões. 5) Procure
não deixar objetos pontiagudos, celulares, computadores, ma-
teriais de limpeza, garrafas, sacolas, mochilas escolares ou livros
próximo da criança, porque em colisões frontais e laterais esses
objetos poderão se deslocar e causar sérios traumas. Outra dica
é não colocar lençóis ou toalhas sobre o rosto da criança, isso
poderá provocar danos respiratórios irreversíveis; 6) Sempre
mantenha as travas dos vidros e portas ativadas.
Depois de estudarmos diversos manuais de cadeirinhas e
assistirmos inúmeros vídeos de acidentes automobilísticos envol-
vendo crianças em bebê conforto no banco de trás do carro, che-
gamos a uma conclusão biomecânica segura de que, realmente,
o melhor local para a cadeirinha ficar é no meio do banco de trás
do carro, como indicado. Uma adversidade é que nem todos os
carros nacionais apresentam cintos de segurança específico para
o bebê conforto no meio do banco traseiro. Especialistas em
trânsito indicam, então, que o bebê conforto deverá ficar estra-
tegicamente posicionado logo atrás do banco do motorista. En-
saios biomecânicos por cinética de trauma têm demonstrado que
o lado do motorista é o menos acometido em colisões frontais.
Por si só, justifica-se a opção.
Mesmo admitindo que existam divergências internacionais
sobre esse ponto específico e sobre regras internacionais de
trânsito, vale mais o bom senso de proteger todos que estão
dentro e fora do veículo. O posicionamento da cadeirinha é extre-
mamente importante para salvar vidas e evitar lesões na coluna
vertebral, mas de nada adiantará em caso de acidentes automo-
bilísticos de alta cinética produzidos por imprudência do con-
dutor. Lembrem-se que materiais manufaturados apresentam li-
mitações quanto a estresse mecânico. Por fim, não queremos que

106 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


nossos familiares sofram com esse tipo de problema que geram
relevantes gastos públicos e marcantes traumas familiares.

11. Pergunta: O uso de mochilas ou bolsas de alça única pode


prejudicar minha postura?
VERDADE.
É sempre aconselhável que utilizemos mochilas de duas
pontas e evitemos, ao máximo, bolsas pesadas para atividades
diárias. Um dos grandes problemas causados pela utilização de
mochilas com uma alça é que com o passar do tempo podemos
desenvolver má postura, acompanhada de dor na musculatura
dos ombros e costas.
Observe que existem pessoas que se adaptam facilmente ao
uso dessas mochilas e bolsas. Isso ocorre por conta de modificações
posturais coordenadas pelo engrama cerebral, responsável por nos
manter conscientes sobre a localização espacial, sensibilidade e
ação motora. A isso chamamos de esquema corporal. Se quiserem
tirar a dúvida, é simples, observe o esquema corporal de mulheres
que usam frequentemente bolsas pesadas e quando estão sem a
bolsa permanecem posturalmente como se estivesse carregando-
-a, ou seja, com os músculos do pescoço e ombros tensos. Mais uma
vez, sugerimos que evitem o uso excessivo desse tipo de mochilas
e bolsas, que nunca devem conter mais que 1Kg. Lembrem-se que,
se fizerem uso dessas mochilas ou bolsas de alça única, deverão al-
ternar de lado para evitar fadiga constante.

12. Pergunta: O uso diário do salto alto provoca danos na coluna


vertebral ao longo do tempo?
VERDADE.
Bem, chegamos até aqui com certa tranquilidade para res-
ponder cientificamente todas as questões abordadas, porém, assim
como o local correto para fixar a cadeirinha do bebê, é um tema

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 107


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
controverso. O tempo de uso, a altura específica e o tipo de salto
alto tem tomado bastante tempo de pesquisadores biomecânicos
mundo a fora. Essa é mais uma saia justa clínica que, todos nós es-
pecialistas em coluna vertebral, devemos aprender a explicar.
Vamos analisar essa questão por partes. Imaginemos uma
mulher que está se aprontando para ir a um evento do tipo casa-
mento, batizado, festa de 15 anos ou baile de formatura, e separa
rigorosamente o vestido longo, retoca a maquilagem com de-
talhes e você tenta convencê-la que o uso do salto alto trará pro-
blemas para a coluna. Isso realmente está fora de questão. Uma
pergunta que nós fisioterapeutas sempre nos fazemos é: como
convencer uma mulher a não usar salto alto? Ufa! certamente é
um desafio quase impossível, mas com bom senso isso pode ser
negociado. O uso esporádico do salto alto realmente não trará
graves danos à coluna se nenhum problema postural tiver sido
detectado de forma precoce. Porém, quando o uso torna-se ha-
bitual, um possível quadro álgico poderá aparecer.
Demonstraremos a seguir algumas alterações anatômicas e
biomecânicas causadas pelo uso rotineiro do salto alto. De forma
ascendente podemos encontrar joanetes no hálux, pés cavos,
tornozelos e joelhos – tendenciosamente – varos e quadril valgo.
Para contrabalancear essas forças mecânicas, ocorrerá possível
aumento da lordose lombar, cifose torácica, lordose cervical e an-
teriorização da cabeça. Todos esses desequilíbrios acabarão por
maximizar qualquer dor prévia na região dos membros inferiores,
quadril ou coluna. Observem que mulheres que usam sapatos
com salto maiores que 5 centímetros e numeração maior que o
indicado, por vezes realizam pequenos movimentos oscilatórios
no tornozelo para tentar minimizar o desequilíbrio postural. Na
verdade, essa ação promoverá desorganização do engrama
postural, aumentando as chances do risco de quedas, principal-
mente em gestantes acima do 3 mês de gravidez. Para uso mais

108 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


frequente, o ideal é que o salto nunca ultrapasse 3 centímetros,
tenha base alargada, numeração compatível e plataforma confor-
tável, ficando os maiores que 5 centímetro para eventualidades,
como mencionado anteriormente.

13. É mito ou verdade que existe uma relação direta entre taba-
gismo e dor na coluna vertebral?
VERDADE.
Existe sim relação direta e positiva entre pessoas que
fumam e episódios de dor na coluna, com maior incidência de dor
na região lombar. Cientificamente é comprovado que a nicotina
altera o PH muscular por intoxicação, gerando dor. Além disso,
substâncias presentes no cigarro diminuem o mecanismo hidro-
fílico para o núcleo do disco intervertebral. Como visto no capítulo
2, o disco intervertebral apresenta característica hidrofílica, ou
seja, afinidade por água, igual às inúmeras estruturas em nosso
corpo. Ao longo do tempo os discos intervertebrais perderão con-
teúdo de água, diminuirão de tamanho e reduzirão os espaços
entre as vertebras, podendo comprimir raízes nervosas e cau-
sando dores irradiadas para os membros superiores ou inferiores.
Outro aspecto negativo é que a nicotina acaba alterando funções
do SNC, comprometendo o controle motor e o equilíbrio corporal.

14. Pergunta: Estofados para apoiar a coluna no banco do carro


evitam dor e melhoram a postura?
VERDADE.
Mas antes, temos que lembrar de dizer que isso é verdade
para os estofados feitos sob encomenda, personalizados. Dessa
forma, as chances do indivíduo manter o equilíbrio postural e ter
conforto ao dirigir é realmente grande. Devemos prestar bastante
atenção porque normalmente esses tipos de estofados são feitos
de materiais sintéticos e com o tempo se deformam. Na prática do

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 109


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
dia a dia e com o passar do tempo notarmos que esses assentos
não servem para uso de várias pessoas na mesma família, porque
tanto o peso, quanto a altura do indivíduo são capazes de alterar
as curvaturas e design originais. É importante alertarmos aos mo-
toristas que o uso indevido ou utilização de materiais deformados
pela ação do tempo fará com que o encosto não promova um bom
alinhamento postural, e sim o aparecimento de doenças crônicas
posturais na coluna.

15. É mito ou verdade que o uso de álcool melhora a dor e anes-


tesia a coluna vertebral?
MITO.
A ingestão de álcool para tentar minimizar dor aguda ou
crônica na coluna vertebral é realmente um mito, pois a sensação
anestésica é temporária e, após acabado esse efeito, o indivíduo
poderá desenvolver outra doença ainda mais complexa, chamada
alcoolismo. Mesmo que seja apenas uma dose, ou várias para
tentar aliviar a dor, existe uma tendência do nosso organismo a
se adaptar a ingestão de álcool, e as doses com o tempo perdem
seu potente efeito analgésico. O correto é sempre procurar ajuda
de uma equipe multidisciplinar. E, lembre-se, doses excessivas de
álcool não resolverão o problema na coluna.

16. Pergunta: Por fim, seguir orientações preventivas posturais e


realizar exercícios de mobilização, alongamento e fortaleci-
mento muscular previnem o aparecimento de problemas na
coluna vertebral?
VERDADE.
Como enfatizado nos capítulos 2 e 3, nossa coluna vertebral
é um sistema complexo e, ao mesmo tempo, frágil para equalizar
sobrecargas mecânicas que realizamos diariamente. Vejam que
se um indivíduo permanecer sentado por horas em uma cadeira, a

110 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


vascularização muscular da coluna será prejudicada e certamente
acontecerão contraturas do tipo espasmótica. Isso, em curto
prazo, promoverá diminuição dos movimentos, dor e posturas
viciosas. Torna-se claro que se a maioria das orientações preven-
tivas posturais – além das atividades de mobilização articular,
alongamento e fortalecimento muscular expostas neste livro –
forem praticadas de forma habitual, existirá uma grande chance
de produzirmos movimentos mais harmônicos e com pouco gasto
energético, importantes para atividades laborais, esportivas e de
lazer em nosso dia a dia.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 111


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
PARTE II

PRINCÍPIOS PRÁTICOS

113
CAPÍTULO 7

PRINCIPAIS ORIENTAÇÕES PREVENTIVAS POSTURAIS:


PRATICANDO A ESCOLA DE POSTURA

Em especial, neste capítulo, abordaremos as 20 principais


orientações preventivas posturais referenciadas pelas escolas de
postura finlandesa, austríaca, norueguesa, dinamarquesa e sueca,
além de valiosas dicas sobre prevenção de quedas na terceira idade34.
Vale lembrar a importante implementação de programas sobre exer-
cícios direcionados aos idosos nas diversas comunidades35.
É imprescindível que, após lermos todas as orientações
mencionadas abaixo, devamos colocá-las em nossa prática de
vida diária, só assim seremos capazes de minimizar o crescente
número de afastamentos trabalhísticos e conseguiremos uma
melhor qualidade de vida.

POSTURA CORRETA AO DORMIR

Deitar de barriga para cima ou para baixo, certamente, não é a


melhor postura para nossa coluna. Vimos que, mesmo quando des-
cansamos, nossa coluna encontra-se realizando pequenas forças
para nos manter em equilíbrio. A postura correta para dormir é
sempre de lado com pequena semiflexão do corpo. Os travesseiros
devem estar bem posicionados entre as pernas e a cabeça deve re-
pousar de forma confortável. Não utilize travesseiros que deixam
sua cabeça mais alta ou baixa do que a linha horizontal do corpo.
34
AMERICAN GERIATRIC SOCIETY, 2011.
35
PALMER et al., 2016.

115
Observe que, ao dobrarmos os joelhos quando estamos na cama,
a coluna lombar fica mais relaxada e sentimos menos pressão nas
costas. Uma informação valiosa é não ficar deitado na cama muito
mais tempo que seu despertar fisiológico, pois isso poderá pro-
mover diminuição do fluxo sanguíneo muscular e, seguramente,
você experimentará um desconforto ao se levantar.
Uma boa dica é: evite ler na cama, principalmente se o queixo
ficar próximo do tórax, isso, realmente, promoverá dor e até trava-
mentos no pescoço. Escolha um bom travesseiro e, com certeza,
um colchão confortável, pois além de sua idade, parâmetros antro-
pométricos como peso, altura e IMC deverão ser tomados como re-
ferência para a compra ideal. Torna-se imprescindível que todo ven-
dedor explique, de forma clara, os materiais que compõe o colchão,
durabilidade do produto e garantia de validade. Fica a dica, a melhor
forma de comprar um colchão é indo na loja, ouvindo o vendedor e
testando o produto. Se a compra for pela internet, observe no site
as especificações corretas que mencionamos e lembre-se que 1/3
de nossas vidas passaremos deitados.

LEVANTANDO DA CAMA

Quantos de nós temos o hábito de, ao acordar, levantarmos


de supetão, dobrando a coluna para frente. Isso se torna mar-
cante quando observamos jovens levantarem atrasados para
ir à escola. É possível que, com o passar do tempo, esse hábito
promova pequenas lesões nas articulações e nos discos interver-
tebrais. Devemos levantar da cama, preferencialmente, pelo lado
que estamos deitados e de forma ordenada. Primeiro coloque as
pernas para fora da cama e, depois, apoie-se em um dos coto-
velos, com a ajuda da mão do membro oposto para ficar sentado
na postura correta. Logo após, contraia os músculos abdominais
e levante-se de forma lenta.
116 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
Em relação à idosos ou indivíduos que apresentam doenças
que causam desequilíbrios posturais, a melhor forma é levantar
devagar e com ajuda de um cuidador ou familiar. Se o idoso ou
acometido morar sozinho, esse deve levantar-se sempre se
apoiando na parede e longe de móveis pontiagudos. Observe que
existem pessoas que, mesmo em pé, após levantar de um bom
sono, ainda não acordaram por completo e aí se encontra o maior
risco de quedas. Cuidado com peças de roupa, lençóis, tapetes,
sapatos e travesseiros no chão. O que parece ser inofensivo pode
se tornar um grande problema.

SENTANDO DE FORMA CORRETA NA CADEIRA

Primeiro devemos entender em que tipo de cadeira es-


tamos sentados. Se esta cadeira é realmente alta ou baixa, larga
ou estreita e se podemos ajustá-la. Muitas vezes temos que fazer
malabarismo para permanecermos por alguns minutos ou horas
sentados em uma cadeira fixa ou, na pior hipótese, se essa tiver
rodinhas. Para que possamos atingir o melhor conforto sentado
é preciso que a cadeira seja ajustável, sem rodinhas e com pouca
flexibilidade ativa do encosto. Segundo, deve-se sentar com a
coluna o mais ereta, com as pernas flexionadas a 90º e braços
apoiados, evitando uma postura que aumente a curvatura da
região torácica.
Os profissionais que mais reclamam de trabalhar por horas
e horas sentados são os motoristas, caixas de supermercado, ban-
cários e odontólogos. Sabemos que nunca se deve ficar sentado
por mais de 40 minutos, pois frequentemente temos que levantar
da cadeira e realizar alguma atividade curta de forma preventiva.
A circulação de nossa coluna funciona como uma mangueira.
Todas as vezes que a dobramos o sangue fica com dificuldades de

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 117


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
chegar aos músculos e isso causa inflamações musculares loca-
lizadas, miosítes. Assim, escolha a cadeira correta e procure al-
ternar posições durante os 40 minutos que estiver sentado. Outro
erro que vemos com frequência são pessoas sentadas sobre
uma das pernas. Essa postura promoverá dor na coluna lombar,
ou poderá até comprimir o músculo piriforme. Lembre-se que
embaixo do piriforme passa o nervo ciático. Contudo, se tiver a
opção de adequar a cadeira do seu trabalho para melhor conforto
postural, faça. Se não tiver, peça para trocar. As empresas devem
entender que um funcionário afastado é muito mais caro do que
várias cadeiras de trabalho. Por fim, acreditamos não existir ca-
deiras perfeitas, escolha a mais adequada ou procure moldá-la
ao seu conforto. A melhor forma de comprar uma cadeira de tra-
balho é indo na loja e ajustando-a ao limite do seu conforto.

SENTANDO NO CHÃO

Por que este tópico apareceu aqui! O melhor não é sen-


tarmos na cadeira? Certamente, mas algumas vezes nos damos
conta de que realmente temos que sentar no chão por falta de
cadeiras ou por realizarmos exercícios de yoga. Assim, a melhor
forma de sentar no chão é ficar na postura de lótus, semelhante à
figura 23, capítulo 10, em que a coluna está ereta, pernas dobradas
e braços relaxados. É fato que muitos não conseguem ficar nesta
posição por muito tempo. A saída para isso é sentar com a coluna
o mais ereta, braços para trás e cotovelos esticados. É claro que
em pouco tempo ficará cansado e a saída é realmente encontrar
uma parede mais próxima para apoiar a coluna. Somente devem
arriscar essa postura pessoas que não tenham dores articulares
ou musculares nos joelhos, quadril e coluna lombo-pélvica.

118 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


BOA POSTURA AO REALIZAR REFEIÇÕES

Um mau hábito postural facilmente observado às refeições


é quando o indivíduo flexiona demasiadamente a coluna cervical
e torácica em direção à comida. Ao longo do tempo isso poderá
promover dor nas articulações temporomandibulares, coluna
vertebral e, até mesmo, causar problemas gastrointestinais, que
comumente confundem o diagnóstico de doenças na região to-
rácica. Por isso, mantenha sempre a coluna ereta e traga o ali-
mento em direção à boca ao realizar as refeições.

POSTURA CORRETA AO ESCOVAR OS DENTES

Certamente muitas pessoas ainda acham que dobrar a


coluna para escovar os dentes é uma coisa normal. Não é, não! Ao
escovar os dentes procure manter a postura o mais ereta possível.
Primeiro, molhe sua escova de dente na torneira e, depois, passe
a pasta dental. Apoie um dos braços ou na pia ou na parede mais
próxima do banheiro para manter a coluna ereta. Espera-se que
um boa escovação dure, em média, entre 3 e 5 minutos. Por isso,
permanecer esse tempo com a coluna flexionada na postura es-
tática será suficiente para causar dor e espasmos nos músculos da
coluna. Deixe para dobrar a coluna somente quando for liberar os
resíduos da escovação na pia do banheiro. Evite escovar os dentes
andando pela casa ou fazendo outras atividades. É notável que,
muitas vezes, já estamos vestidos para sair e nos damos conta que
temos que escovar os dentes. Percebam todos os malabarismos
que fazemos para não sujarmos a roupa. Fica a dica, escove os
dentes antes de se arrumar.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 119


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
COLOCANDO MEIAS E VESTINDO CALÇAS

Rotineiramente, nos deparamos com adolescentes e adultos


jovens colocando meias e sapatos na postura em pé quando estão
atrasados para atividades. O ideal é que para colocar meias, sa-
patos ou tênis, devemos sempre estar sentados. Dobre um dos
joelhos, traga-o em direção ao tronco, claro, flexionando o quadril
e coloque-o em cima do outro que estará dobrado e apoiado no
chão. Evite a flexão forçada da coluna vertebral, porque isso pro-
moverá dor, principalmente na região toracolombar. Jamais tente
colocar meias e sapatos quando estiver em pé. Isso poderá ser
muito prejudicial a sua coluna e quadril.

TRANSPORTANDO OBJETOS OU COMPRAS

É comum flagrarmos indivíduos carregando de forma errada


caixas pesadas ou sacolas de supermercado. Algumas vezes já
mencionamos que nosso corpo não deve desperdiçar energia
para transportar pesos de forma errada. Sempre, ao pegar um
objeto no chão, devemos flexionar os joelhos e manter a coluna
o mais ereta possível. Também já classificamos o músculo qua-
dríceps, anterior da coxa, como o mais potente em nosso corpo,
então deixe que este suporte o peso e não a coluna vertebral.
Pegue o objeto, traga-o o mais próximo do corpo, estique
os joelhos e, se for carregar o peso, lembre-se de deixá-lo o mais
próximo do corpo. Ao carregar sacolas de compras, vale lembrar
que os pesos devem ser distribuídos por igual entre as duas mãos
e nunca um lado deverá ser sobrecarregado, mesmo se esse for o
lado dominante. Muitas vezes a distância entre o supermercado
e o estacionamento pode até ser curta, mas é importante utilizar
cestinhas ou o carrinho de supermercado, afinal esses itens foram
criados com uma única finalidade, ajudar no transporte de pesos.
120 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
VARRENDO E PASSANDO O PANO NO CHÃO

Uma atividade simples que costuma promover dor na


coluna é varrer ou passar o pano no chão de forma errada, ou
seja, mais uma vez flexionando o tronco para frente. Para essas
atividades, devemos manter a coluna ereta e tentarmos varrer
ou passar o pano com a força dos quadríceps. Deixe que o joelho
direito fique um pouco mais anteriorizado e com uma pequena
flexão para realizar o movimento de ida e volta, do tipo dobrar
e esticar. Após surgir um cansaço, alterne a posição dos joelhos,
dessa vez mantendo a perna esquerda adiante, isso promoverá
um descanso momentâneo. Procure realizar o movimento de ida
e volta de forma suave, e lembre-se que indivíduos com artrose
nos joelhos ou quadril sentirão mais dificuldade em realizar essa
ação de forma harmônica. Fica a dica: se você tiver mais que 1,70
m de altura coloque na ponta da vassoura um pedaço de cano,
isso ajudará na manutenção postural por mais tempo.

LAVANDO PRATOS E PASSANDO FERRO NA ROUPA

Lembrem que todas as atividades do dia a dia que falamos


até aqui orientam para evitarmos flexionar anteriormente a coluna
vertebral. Lavar roupa, pratos e passar ferro não é diferente. Uma
solução fácil e inteligente é colocarmos um dos pés em cima de
um banquinho medindo mais ou menos 20 centímetros. Isso
ajudará evitar que dobremos a coluna. Se tiver algum funcionário
doméstico em casa, oriente-o a passar roupas em dias alternados,
poupará energia elétrica e evitará problemas na coluna.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 121


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
FORRANDO A CAMA

Ao acordar, prioritariamente procure desdobrar o lençol


da cama mantendo a postura ereta. Coloque as pontas do lençol
nos quadrantes da cama e agora sim poderá de forma breve fle-
xionar a coluna para forrá-la, mas evite rotações da coluna sobre
o quadril para essa atividade.

LIMPANDO O FOGÃO E A GELADEIRA

Um grande inconveniente para as/os domésticos é realizar


limpeza do fogão e geladeira, pois a reclamação de passarmos
muito tempo agachados realmente procede. Vejam que, se per-
manecermos um bom tempo nessa posição, teremos dificuldades
de nos levantar. Uma boa dica ao limpar o fogão é passar uma
espuma com detergente para tirar toda gordura e logo em se-
guida passar um pano semiúmido para retirar toda sujeira. Quanto
mais tempo você ficar agachado, progressivamente, mais dor nos
joelhos e coluna terá.

CARREGANDO MOCHILAS E BOLSAS

Carregar mochilas nas costas e bolsas femininas continua


sendo um dos principais desafios biomecânicos da modernidade.
Seguramente, essas atividades são potenciais causadoras de
desequilíbrios posturais e acometimentos álgicos nos ombros e
coluna. Algumas regras básicas devem ser seguidas. Crianças em
fase escolar, com idade entre 2 e 10 anos devem utilizar mochilas
com rodinhas, e, lógico, sempre procurando alternar os braços
para não causar fadigas. Somente no início da adolescência
ocorrerá certa maturidade fisiológica para suportar pesos com
122 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
mochilas de costas, mas lembre-se que são apenas adolescentes
e o correto nesta fase é transportar no máximo 5% do peso cor-
poral. Para adultos jovens, orientamos que nunca carreguem mais
que 10% do peso corporal nas costas, nada mais que isso, sempre
fazendo uso de mochilas de alça dupla e com bom apoio nos dois
ombros. Em relação ao uso de bolsas femininas, indicamos que
o peso nunca ultrapasse 800g e que a cada 5 minutos deve-se al-
ternar o lado dos ombros para não causar fadiga muscular. Não
é incomum vermos nas ruas senhoritas e senhoras carregando
bolsas pesadas, e outras até as seguram por longos minutos na
linha articular do cotovelo. Isso, com certeza, será motivo para re-
clamações de dor ao final do dia. Carregar somente o necessário é
questão de bom senso.

POSTURA DA GESTANTE

A gestante, per si, encontra grandes desafios mecânicos


para andar e manter-se em equilíbrio postural. Analiticamente, a
barriga da gestante aumenta de tamanho a cada dia, puxando-
-a para frente. Em contrapartida, ações de forças contrárias rea-
cionais farão com que o peso do corpo seja transferido para trás,
devido ao movimento de extensão forçada. Realmente ocorrerá
uma briga de forças vetoriais entre os abdominais que estarão
fracos e lombares que ficarão sobrecarregados. O resultado
biomecânico será uma hiperlordose postural e, certamente, es-
pasmos no quadrado lombar.
Não são todas as gestantes que acabam desenvolvendo
esses desequilíbrios, mas atividade física de forma orientada,
principalmente nos primeiros meses gestacionais, ajudará a pre-
venir diversos problemas posturais como exemplo a síndrome do
piriforme, comum nos período finais da gestação. Outro fato im-

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 123


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
portante é que, após o 6ª mês gestacional, ocorrerá a liberação
mais vigorosa do hormônio chamado relaxina. Esse hormônio
é importante para que as articulações do quadril fiquem mais
frouxas e a cabeça do bebê possa passar pelo canal sem maiores
dificuldades. Assim, também orientamos para que toda gestante
nessa fase não use salto alto e procure andar sempre com a base
alargada para evitar desequilíbrios e torções nos joelhos e torno-
zelos. O ideal é que toda gestante passe por esse período mágico
de forma tranquila, curtindo cada etapa e o mais longe possível de
quadros dolorosos.

AMAMENTANDO SEU BEBÊ

Para amamentar seu bebê sem maiores preocupações,


procure um local bem confortável longe de observadores para que
você tenha prazer e curta amamentar seu filho. É claro que durante
o período da amamentação você terá que sustentá-lo nos braços,
portanto evite flexionar a coluna torácica de forma exagerada. A
melhor forma para amamentar seu bebê é sentada confortavel-
mente em uma cadeira fixa, em local com pouca luminosidade e o
mínimo de ruído possível. Estrategicamente, a alternância do peito
às mamadas será bom para o estímulo da produção de leite, dimi-
nuição dolorosa aureolar e descanso dos braços. Sabemos também
que chegará um momento em que não só os braços, mas todo o
corpo da nova mamãe ficará dolorido. Entenda que esse é o melhor
momento da ligação mãe-filho. Não deixe isso ser interrompido
por dor nos ombros ou na coluna. É verdade que mães são sempre
mais resistentes e fazem coisas que muitos homens nem de longe
suportariam por meros minutinhos.

124 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


CARREGANDO O BEBÊ

Parece fácil, mas carregar uma criança no bebê conforto torna-


-se grande desafio postural para pais de primeira viagem. Quando a
criança é recém-nascida, logicamente, devemos conduzi-la em um
bebê conforto. Procure sempre alternar de mãos quando cansar,
deixando o cotovelo flexionado a, mais ou menos, 20º e apoiado
ao longo do tórax, pois esticá-lo completamente poderá causar
problemas ligamentares. Caso não tenha condições de comprar ou
utilizar o bebê conforto é aconselhável fazer uso de bolsinhas tipo
canguru. Existem várias marcas e modelos no mercado. Recomen-
damos carregá-los também próximo ao tórax, mantendo a coluna
torácica sempre ereta. Outra forma segura e alternativa para car-
regar o bebê é através do método indiano chamado de “tiras”, em
que mães acomodam suas crianças nas costas com tecidos bem
trançados, semelhante ao método canguru, só que é bem mais
barato e prático. Independentemente do método, prefira o que
está ao seu alcance e que dê segurança ao recém-nascido, mas
lembre-se sempre de manter a boa postura.

ANDANDO DE BICICLETA

Quem não gosta de andar de bicicleta! Muitas pessoas re-


clamam de dor nos joelhos e na coluna após um período de pe-
dalada. É provável que isso aconteça com certa frequência se al-
gumas orientações não foram seguidas. Uma informação valiosa
é posicionar a sela da bicicleta na altura correta, proporcional a
sua estatura. Como saber a altura correta que a sela deve ficar?
Essa resposta é simples, coloque sua bicicleta ao lado do corpo e
a sela deverá ficar na altura do quadril, mais especificamente na
mesma linha do osso chamada ílio. Se isso estiver bem alinhado,
possivelmente não ocorrerá dor nos joelhos ou coluna, mas se ela
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 125
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
estiver abaixo da linha do quadril, os joelhos certamente ficarão
bem flexionados, causando sobrecarga nos meniscos. Porém, se
a sela estiver mais alta, os joelhos farão uma extensão forçada,
aumentando a sobrecarga nos ligamentos cruzados, além de pro-
duzir uma hiperlordose para tentar manter o equilíbrio. Isso com
certeza promoverá dor nos joelhos e na coluna. Fica a dica, ob-
serve sempre se os pneus estão calibrados, a bicicleta que você
escolheu é a mais adequada para a atividade escolhida e man-
tenha os cotovelos flexionados a 30º quando estiver segurando o
guidão. Nunca esqueça de ajeitar a sela!

DIRIGINDO UM VEÍCULO

Realmente não é nenhuma novidade o fato de que ficar


sentado dirigindo por várias horas um veículo pode causar dor na
coluna. Normalmente ouvimos motoristas profissionais reclamar
de dor lombar e formigamento nas pernas. Diversos motivos
podem ser causadores dessa situação. O primeiro é se o banco do
carro estiver mal posicionado. Para isso devemos entender que
a postura correta deve ser a que o indivíduo faça uma flexão dos
joelhos a, mais ou menos, 45º e a coluna esteja o mais confortável,
haja vista, o banco não deverá estar nem todo reto, muito menos
com grande inclinação para traz. Em média, devemos deixar que
o banco do carro fique apenas uns 120º para trás e os cotovelos
em semiflexão de 30º ao segurar o volante.
Por que isso tudo deve ser assim? Porque não só a manu-
tenção da postura torna-se importante, mas também devemos
nos antecipar aos acidentes automobilísticos. Vejam que se as
pernas do condutor estiverem bem esticadas na hora de uma
colisão essas poderão sofrer múltiplas fraturas. Se o banco do
carro for colocado bem para trás, postura do corredor de Kart,

126 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


poderá causar uma lesão no pescoço, conhecida como lesão em
chicote. Essa lesão ocorre por mecânica de deslocamento rápido
do pescoço para trás e depois bruscamente para frente, como
um chicote, podendo causar danos irreversíveis a coluna cervical.
Por outro lado, se o banco estiver bem para frente, semelhante
à figura da vovozinha dirigindo um fusquinha, poderá causar um
grave trauma de tórax com o choque da região anterior do peito
com o volante, podendo causar hemorragia interna por fraturas
ou compressões de órgãos vitais.
É imprescindível que, antes de ligar o carro, devemos revisar
atentamente itens como posicionamento do banco do motorista,
regulagem do apoiador de cabeça, ângulo dos retrovisores, trava
do cinto de segurança, entre outros itens obrigatórios do veículo.
Evite comer e falar ao celular enquanto estiver dirigindo e preste
bastante atenção preocupando-se com o trânsito, afinal, são vidas
em jogo dentro do veículo que está sob sua responsabilidade.

USANDO TÊNIS PARA ATIVIDADE ESPORTIVA

Estas dicas são bem simples, mas extremamente essenciais.


Ao praticar atividades esportivas do tipo corrida ou caminhadas,
escolha sempre realizá-la com um bom tênis. Não se apegue so-
mente às marcas ou às cores, pois o que deve ser valorizado é
o conforto e a estabilidade que o material pode te oferecer. Es-
tudos clássicos de biomecânica postural mostram que existe uma
relação direta entre problemas na pisada e sobrecarga na coluna
vertebral a partir do mecanismo ascendente de desequilíbrios das
cadeias musculares. Agora fica mais claro porque tantas empresas
esportivas têm investindo em alta tecnologia para confecção de
palmilhas e amortecedores.
Quando for comprar um tênis pela internet, é importante
observar o formato das palmilhas, se tem amortecedor, acaba-
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 127
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
mento lateral e tipo de solado, se emborrachado e antiderra-
pante. Observe que comprar pela internet não te dará a opção de
poder manusear o material e, muitas vezes, o que está no mos-
truário não condiz perfeitamente com o que escolheu. Fica a dica,
se tiver a oportunidade de ir a uma loja física, vá.
Logo após escolher o modelo e cores prediletas, peça ao
vendedor(a) que retire as palmilhas do tênis para ver se realmente
estão de acordo com sua pisada, que pode ser supinada, neutra
ou pronada. O pé supinado é aquele que tem uma cava grande
no meio e a sola pouco toca o chão. Já o pronado a sola toca pra-
ticamente todo o chão. O neutro encontra-se no meio termo, é o
normal. Uma forma simples de avaliarmos é ver se a sola do tênis
está mais gasta para o lado de fora ou de dentro. Quando gasta
mais a parte lateral o pé tende a admitir uma pisada supinada e
se ocorrerem desgastes mais mediais, pronada. Vale lembrar
que nosso pé apresenta uma alta capacidade de tornar-se neutro
adaptativo, horas moldando-se às características supinada outras
a pronada, dependendo do tipo palmilhas que estamos usando no
tênis e, depois, ao calçar um sapato com materiais extremamente
diferentes. Antes de finalizar a compra peça ao vendedor para
calçar o par de tênis e realize uma caminhada curta para frente,
para trás e em ziguezague testando a resistência e adaptabilidade
do pé ao novo material esportivo. Lembrem-se, a escolha errada
do tênis poderá ser o grande causador de problemas na coluna.

CONDUZINDO UM CADEIRANTE

Finalmente, devemos lembrar que conduzir um cadeirante


também é uma atividade que causa cansaço ao fim do dia. Para
minimizar isso, procure deixar a cadeira de rodas bem próxima
do local onde ocorrerá a transferência para o transporte auxiliar.

128 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


Lembre-se dos itens de segurança como travar as rodas da ca-
deira ao realizar a transferência, verificar se o assento está em
ordem e se não existem obstáculos, como brinquedos ou tapetes
no trajeto a ser realizado, além de sempre dobrar os joelhos ao se
abaixar e manter a coluna ereta. Vale mencionar que os cuidados
devem ser redobradas quando o cadeirante estiver tomando
banho ou se enxugando. Procure fazer cada etapa de forma bem
tranquila e, se precisar de ajuda do cuidador, peça, pois muitas
vezes o risco não vale à pena.

ORIENTAÇÕES PREVENTIVAS ANTIQUEDAS

Deixaremos aqui, de forma proposital, algumas dicas va-


liosas sobre como diminuir riscos de quedas na terceira idade.
Não coloque tapetes em ambientes de passagens na casa, pois
esses são considerados um dos maiores promotores de quedas
para os idosos. Procure usar chinelos antiderrapantes e observe
que sandálias com tiras ou com solado desgastado causam de-
sequilíbrios ao andar. Evite transitar em pisos molhados, escor-
regadios ou terrenos irregulares. Ao tomar banho, procure uti-
lizar sabonete líquido e, se não conseguir comprar deste tipo e
seu sabonete tradicional cair no chão, primeiro feche o chuveiro,
permaneça em cima do tapete antiderrapante, segure nas barras
de apoio e tente pegá-lo vagarosamente, com cuidado para não
escorregar. Barras de apoio no banheiro são essenciais para evitar
quedas. Prefira que o box do banheiro seja do tipo blindex, vidro
temperado, e nunca de plástico duro, pois em caso de quedas os
idosos poderão se livrar de cortes profundos.
Utilize vasos sanitários que propiciem bom conforto pos-
tural com auxílio de barras laterais. Não colocar mesas ou ca-
deiras pontiagudas na sala de televisão, para evitar que roupas

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 129


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
fiquem presas ou que complicações maiores possam acontecer
na ocorrência de queda. Adapte um interruptor de luz que fique
na cabeceira da cama e sempre deixe a luz do banheiro acesa com
a porta entreaberta, haja vista, idosos costumam levantar sono-
lentos durante a madrugada para ir ao banheiro. Muito cuidado
ao subir e descer escadas, lembre-se que o uso do corrimão
é essencial e, caso esses não existam, procure subir e descer
apoiando-se na parede do lado de sua dominância. Evite subir em
cadeiras e bancos com o intuito de pegar mantimentos em pra-
teleiras mais altas ou até mesmo trocar lâmpadas. Peça ajuda a
alguém próximo. Não deixe fios exposto em locais de passagem.
Cuidado com crianças menores ou animais de estimação no chão
da casa, pois na tentativa de não machucá-los o idoso poderá se
desequilibrar e cair. Peça sempre para um adulto ou responsável
guardar os brinquedos que ficam espalhados pela casa, haja vista,
bonecas, carrinhos e bolas são bons motivos para causar desequi-
líbrios e possíveis quedas.
Não tome medicações de forma aleatória, sempre consulte
seu médico, principalmente se essa medicação está causando
tontura, sonolência, enjoos e indisposições. Procure realizar ati-
vidade física em ambientes tranquilos, bem iluminados e, de
preferência, instruído por um educador físico. Escolha atividades
de lazer como dança de salão, caminhadas com amigos, grupos
de leitura, pintura, jogos de estímulo intelectual e reunião domi-
nicais familiares, isso certamente deixará sua vida mais saudável
e cheia de alegrias.
Enfaticamente, devemos entender que as quedas na ter-
ceira idade podem gerar graves consequências, e que a reabili-
tação fisioterapêutica é eficaz para melhorar o equilíbrio postural
em idosos36. É consenso clínico que, nos casos menos graves de
fraturas do colo do fêmur, a locomoção inicial deve ser feita pre-
36
VIEIRA et al., 2016.

130 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


ferencialmente por cadeira de rodas e posteriormente andadores.
Muitos idosos após o período de reabilitação voltam a desenvolver
atividades de vida diária com total independência. Por outro lado,
outros não evoluem clinicamente e tornam-se acamados, fato
propício para gerar complicações musculares, cardíacas e respira-
tórias graves, aumentando assim os índices de morbimortalidade
nessa fase da vida.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 131


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
CAPÍTULO 8

MOBILIDADE ARTICULAR: LIMITE FISIOLÓGICO DO MOVIMENTO

Um dos exercícios mais benéficos para melhorar e/ou pre-


venir dor na região posterior do pescoço e ombros são os que fa-
cilitam a mobilidade da coluna vertebral. Assim, os exercícios a
seguir devem ser praticados de forma rotineira por apresentarem
objetivos preventivos e curativos, melhorando a vascularização da
musculatura e aumentando a mobilidade articular pelo estímulo
da produção do líquido sinovial. Aconselho que sejam feitos de
forma lenta e progressiva e, em caso de piora da dor, deve-se pro-
curar um médico ou fisioterapeuta especializado o mais breve.
É importante ficar claro que todos esses exercícios, aqui
mencionados, não substituem uma reabilitação fisioterapêutica.
No mesmo sentido, nunca se esquecer de respirar de forma
correta, puxando o ar pelo nariz e soltando pela boca, jamais
prendendo a respiração quando estiver realizando essas ativi-
dades. Observem que ao longo do texto daremos dicas criativas
para outros exercícios a partir do enunciado principal.

MOBILIZAÇÃO DA COLUNA CERVICAL E OMBROS

Os exercícios de mobilização cervical (pescoço) e dos ombros


devem ser feitos preferencialmente em frente a um espelho. Ini-
cialmente, devemos sentar em uma cadeira fixa e realizar o exer-
cício de flexão do pescoço (cabeça para frente – soltar o ar e, na
volta do movimento, puxar o ar) como na (Figura 11). Como pro-
gressão, o indivíduo poderá realizar o exercício em extensão do

133
pescoço (cabeça para trás – puxar o ar e, na volta, soltar o ar), in-
clinação lateral (aproximar uma das orelhas ao ombro, sem elevá-
-lo – puxar o ar e, na volta, soltar o ar) e rotação pura (rodar para
cada lado – puxar o ar e, na volta, soltar o ar). Podemos também
aproveitar para realizar uma elevação dos ombros (puxar o ar) e
descida (soltar o ar), controlando a respiração. Tempo: média de 5
minutos de duração, realizando duas vezes de 10 repetições para
cada movimento.

FIGURA 11 – MOBILIZAÇÃO DA COLUNA CERVICAL E OMBROS.

MOBILIZAÇÃO DA COLUNA VERTEBRAL EM ARCO GRANDE

Este próximo exercício é chamado de arco grande (Figura


12), mais conhecido como do gato para cima e para baixo. Vale
mencionar que foi criado em 1907 pelo médico ortopedista alemão
Rudolf Klapp com o intuito de promover ampla movimentação da
coluna vertebral. Na posição de quadrupedia, com mãos e joelhos
apoiados no solo, tentaremos fazer com que nossa coluna suba,

134 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


puxando o ar pelo nariz e desça soltando o ar pela boca, no limite
máximo que pudermos, sempre de forma lenta.
Uma maneira evolutiva para esse exercício é, a partir da
postura arqueada (gato para cima), dobrar os cotovelos e simular
um mergulho para frente, voltando à postura inicial. Vejam que
esse último exercício irá exigir muito mais cuidado, devendo ser
praticado por pessoas com dor mínima, menor que 3 na escala
Eva. Lembre-se que os exercícios devem ser realizados com
cautela e tranquilidade. Tempo: média de 3 minutos de duração,
realizando três vezes de 10 repetições para cima e para baixo, al-
ternando com 10 mergulhos para frente.

FIGURA 12 – MOBILIZAÇÃO DA COLUNA VERTEBRAL EM ARCO GRANDE.

MOBILIZAÇÃO DA REGIÃO LOMBO-PÉLVICA

Conhecida como exercício de ponte dinâmica (Figura 13),


essa mobilização lombo-pélvica tem o objetivo de melhorar a am-
plitude articular destas regiões. Deitado de costas no solo, com
as pernas dobradas a, mais ou menos, 100º em relação ao troco,
o indivíduo deve subir lentamente o quadril até o limite máximo,
puxando o ar pelo nariz, e descer vagarosamente, soltando o ar
pela boca, se a articulação estiver livre. Torna-se óbvio que alguns

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 135


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
indivíduos não conseguirão elevar o quadril até 20º, 30º ou 40º
logo de início na presença de dor.
Logo você irá perceber que esse exercício ficará mais fácil
de ser realizado com o passar do tempo e lembre-se de nunca ul-
trapassar o limite da dor. Se tiver dor a, mais ou menos, 30º de
elevação do quadril, saiba que esse será seu limite máximo. Em
caso de extrema dificuldade para execução da manobra ou apa-
recimento de dor abdominal ou irradiada para as pernas do tipo
pontadas ou formigamentos fica esse exercício contraindicado.
Tempo: média de 5 minutos de duração, realizando cinco vezes
de 10 repetições para cima e para baixo.

FIGURA 13 – MOBILIZAÇÃO DE PONTE DINÂMICA.

MOBILIZAÇÃO DA REGIÃO PÉLVICA

Outro exercício fundamental para a mobilização da região


pélvica é chamado de bicicleta apoiada (Figura 14). O indivíduo
deve ficar deitado de costas, com as pernas dobradas a, mais ou
menos, 90ͦ em relação ao tronco. Em seguida, o indivíduo deverá
trazer cada uma das pernas de forma alternada até próximo ao
tronco, sem retirar a coluna lombar do chão. O pescoço deverá
ficar o mais horizontalizado possível. Observe que enquanto uma
perna segue em direção ao tronco, a outra fica apoiada no chão.
136 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
O indivíduo deverá puxar o ar pelo nariz quando uma das perna se
distanciar do tronco. Para esta atividade é contraindicado elevar
as duas pernas de forma simultânea porque poderá causar maior
dor na região lombar, eixo de sustentação desse movimento.
Tempo: média de 3 minutos de duração, realizando três vezes de
10 repetições para cada perna.

FIGURA 14 – MOBILIZAÇÃO PÉLVICA EM BICICLETA APOIADA.

MOBILIZAÇÃO GLOBAL DA COLUNA AO SENTAR E


LEVANTAR

Assim, depois de ter realizado bem os quatro exercícios an-


teriores, partiremos agora para uma atividade mais complexa de
controle articular. É bom lembrarmos que se o indivíduo ainda es-
tiver sentindo dor entre 3 e 6 na escala EVA, não deverá passar para
esta última fase de mobilização. Mas, se a dor estiver diminuindo
de forma progressiva, procure um local tranquilo de preferência em
frente a um espelho, porque nos dão uma ótima referência espacial
do movimento, que cientificamente denominamos de biofeedback.
Sente-se com a coluna ereta deixando as duas mãos apoiadas nos
braços da cadeira. Em seguida levante-se lentamente, puxando o
ar, mantendo o abdômen contraído até a postura em pé. A partir
da postura em pé agora realize o movimento de sentar na cadeira,

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 137


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
de forma lenta, mantendo o abdômen contraído e soltando o ar,
sempre controlando o ritmo respiratório.
O exercício logo abaixo é chamado de mobilização global
da coluna ao sentar e levantar (Figura 15). Se ocorrer piora da
dor localizada logo após a execução dessa mobilização, deve-se
voltar a praticar todos os exercícios anteriores e deixar esse para
outra oportunidade. Exercícios são bem indicados quando a dor
melhora. Observe que a sensação de cansaço será normal e que a
musculatura ficará realmente dolorida, não devendo esse causar
piora da amplitude articular da coluna, nem dor irradiada. Uma
fase evolutiva desse exercício é realiza-lo sem o apoio das mãos,
indicado apenas para indivíduos que não apresentam visível dese-
quilíbrio postural. Tempo: média de 4 minutos de duração, levan-
tando e sentando, com quatro vezes de 10 repetições.

FIGURA 15 – MOBILIZAÇÃO GLOBAL DA COLUNA AO SENTAR E LEVANTAR.

138 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


CAPÍTULO 9

ALONGAMENTO MUSCULAR: PROPOSTA DE UM DESAFIO DIÁRIO

É de conhecimento de todos nós que alongamentos fun-


cionam muito bem para diminuir dor e espasmos musculares.
Estes tipos de exercícios objetivam melhorar a elasticidade fisio-
lógica dos músculos da coluna. Entendemos que todo e qualquer
alongamento torna-se eficiente e eficaz quando sustentado por
um tempo médio de 30 segundos. Um dica valiosa é, não fique
olhando o relógio para saber se chegou o tempo limite, apenas
conte lentamente de 300 até 330 e certamente chegará a uma
marca próxima de 30 segundos. Inicialmente, o indivíduo deverá
mover a articulação até bem próximo do limite angular funcional
e manter por 30 segundos. Simples assim. Contudo, manter a ar-
ticulação imóvel por menos de 30 segundos, ou realizar pequenos
movimentos durante o alongamento, em nada adiantará para
que se atinja uma boa execução do exercício. É fácil saber se um
músculo ou grupo muscular deve ser alongado. Veja que constan-
temente indivíduos queixam-se que os músculos estão tensos e
sentem a necessidade de esticá-los. Aqui fica a dica que os alon-
gamentos devem ser realizados com uma respiração tranquila e
por um tempo mínimo de 30 segundos.

ALONGAMENTO DA PARTE SUPERIOR DOS OMBROS E


COLUNA CERVICAL

O alongamento da parte superior dos ombros, mais co-


nhecida como região do músculo trapézio (Figura 16), deve ser

139
realizada com o indivíduo preferencialmente sentado em uma
cadeira fixa e em frente ao espelho. De forma lenta, deve-se co-
locar parte da mão direita próxima à orelha esquerda, mantendo
o cotovelo esquerdo esticado e o dorso da mesma mão mantida
na posição horizontal. A coluna toracolombar deve ficar o mais
retilínea possível e a inclinação da cervical para o lado deve ser
mantida por 30 segundos até o alongamento pleno do músculo
trapézio, esse exercício deve ser realizado para ambos os lados.
É importante ficar claro que o movimento é de inclinação lateral
e não de rotação do pescoço. Tempo: 5 minutos de duração, rea-
lizando cinco alongamentos sustentados por 30 segundos para
cada lado e 30 segundos de repouso entre cada etapa.

FIGURA 16 – ALONGAMENTO DA PARTE SUPERIOR DOS OMBROS.

ALONGAMENTO GLOBAL DA COLUNA VERTEBRAL

Esse exercício de alongamento global da coluna (Figura 17)


deverá ser realizado preferencialmente em um colchonete no
chão. O indivíduo deve dobrar os joelhos, fazendo com que os
calcanhares fiquem o mais próximo do bumbum, com os braços

140 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


estendidos e mãos apoiadas no chão. Depois que os braços esti-
verem esticados ao máximo, segure por 30 segundos, respirando
de forma lenta. Isso promoverá um ganho de comprimento dos
músculos da coluna.
Uma forma progressiva desse alongamento é, após esticar
os braços ao longo do corpo, realizar uma inclinação lateral do
tronco acompanhando com os braços no chão. Segure por 30 se-
gundo e depois volte à posição inicial. Esse exercício é contrain-
dicado para indivíduos que apresentam dificuldades em dobrar
os joelhos por dor muscular, articular, ligamentar ou vascular.
Realize sempre as atividades com conforto. Tempo: 3 minutos
de duração, realizando seis alongamentos sustentados por 30 se-
gundos, com 40 segundo de repouso entre cada etapa.

FIGURA 17 – ALONGAMENTO GLOBAL DA COLUNA VERTEBRAL.

ALONGAMENTO ESPECÍFICO DOS MÚSCULOS LOMBARES

De forma particular, o alongamento dos músculos lombares


(Figura 18) deve ser realizado com o indivíduo deitado de costas
no solo, joelhos flexionados a, mais ou menos, 120º e quadril a
130º de flexão. Inicialmente, deve-se puxar uma das pernas em
direção ao tronco enquanto a outra deverá ficar em contato com
o solo. Cada perna deverá ser alongada por 30 segundo de forma

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 141


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
alternada. Posteriormente, realize o exercício puxando as duas
pernas juntas. Aqui fica claro que o indivíduo deverá segurar a
perna pela parte posterior do joelho para evitar maior compressão
nas articulações. Outra dica é manter o pescoço sempre horizon-
talizado em relação ao solo. Tempo: 4 minutos de duração, reali-
zando oito alongamentos sustentados por 30 segundos para cada
exercício, com 30 segundo de repouso entre cada etapa.

FIGURA 18 – ALONGAMENTO ESPECÍFICO DOS MÚSCULOS LOMBAR.

ALONGAMENTO DA PARTE POSTERIOR DO JOELHO E


COLUNA LOMBAR

O exercício de alongar a parte posterior do joelho conjunta-


mente com a região lombar (Figura 19) é interessante porque esse
pode assumir tanto uma característica global, quanto específica,
dependendo da forma que for executado. Coloque um colchonete
no solo, deite-se de lado, aproximando ao máximo o bumbum na
parede. Em seguida eleve uma perna de cada vez até que ambas
fiquem esticadas tocando a parte posterior na parede, fazendo
um ângulo de 90º em relação ao tronco. Coloque as mão no ab-
dômen e puxe as pontas dos dedos dos pés em direção ao tronco,
segure por 30 segundos.
Para o alongamento global da lombar e músculos posteriores
dos joelho, deve-se esticar completamente as duas pernas na

142 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


parede, mantendo-as por 30 segundos e os joelho deverão perma-
necer esticados na parede. Já para a forma específica ou unilateral
deve-se manter um dos joelhos flexionados a, mais ou menos, 120º
e quadril a 130º de flexão, enquanto a outra perna permanecerá
esticada na parede. Isso promoverá o alongamento dos músculos
isquiotibiais e superficiais lombares Fique atento e entenda que
a perna esticada estará sempre em alongamento. Uma boa dica
para aumentar o alongamento, é pegar um lençol ou faixa de judô,
colocar na parte da sola do pé, puxar e manter por 30 segundos a
perna que estiver esticada. A cabeça deverá permanecer sempre
encostada no solo. Tempo: 8 minutos de duração, realizando oito
alongamentos sustentados por 30 segundos para cada exercício
com 30 segundos de repouso entre cada etapa.

FIGURA 19 – ALONGAMENTO DA PARTE POSTERIOR DO JOELHO E COLUNA


LOMBAR.

ALONGAMENTO DOS MÚSCULOS LATERAIS LOMBARES

Para finalizarmos esta parte, realizaremos o alongamento


dos músculos laterais lombares, mais conhecidos como qua-
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 143
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
drado lombar (Figura 20). O indivíduo deve deitar-se de costas
no solo com os joelhos dobrados a, mais ou menos, 70º em re-
lação ao corpo. Em seguida deixar as duas pernas caírem para
um dos lados do corpo até o limite possível, mantendo o alonga-
mento por 30 segundos. A descida das pernas deve ser feita de
forma lenta, freando o movimento até que ambas encostem-se
ao solo. Esse exercício torna-se contraindicado para indivíduos
que apresentarem formigamento ou dor irradiada para as pernas.
Certamente, isso indicará uma lesão mais séria nos discos inter-
vertebrais da coluna lombar, seguida de inflamação nas raízes
nervosas. Tempo: 3 minutos de duração, realizando seis alonga-
mentos sustentados por 30 segundos para cada lado, com 30 se-
gundos de repouso entre cada etapa.

FIGURA 20 – ALONGAMENTO LATERAL DA REGIÃO LOMBAR.

144 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


CAPÍTULO 10

FORÇA MUSCULAR E PROPRIOCEPÇÃO: UMA QUESTÃO DE


TEMPO E DISCIPLINA

Bem, chegamos à parte dos exercícios que exigem mais


tempo, disciplina e cuidados. O fortalecimento muscular e ati-
vidades proprioceptivas são de extrema importância para boa
manutenção da saúde da coluna vertebral. Certamente, se os
músculos da coluna e abdominais estiverem fortes, dificilmente
o indivíduo experimentará episódios de dor corporal. Assim, pe-
dimos o máximo de atenção nesta etapa em que nada deverá sair
do padrão. Exercícios feitos de forma desatenta poderão pro-
mover novos episódios dolorosos.
Nesta etapa realizaremos movimentos de ir e vir, chamados
de exercícios dinâmicos, ou sustentados por alguns segundos, exer-
cícios estáticos. Chamamos atenção para que, se o indivíduo ainda
estiver em um quadro de dor maior que 3 na Eva, os exercícios de
mobilização e alongamentos devem ser priorizados, evitando-se
maiores esforços. É normal que logo após o início dos exercícios de
fortalecimento sentirmos um pouco de cansaço muscular durante
o dia, contudo, essa sensação não deve ser sentida por mais de 48
horas, muito menos impedir atividades laborais ou de lazer.

FORTALECIMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO DOS


MÚSCULOS CERVICAIS

Agora começaremos a fortalecer de forma dinâmica e es-


tática a região mais alta da coluna vertebral (Figura 21). Para estes

145
exercícios, utilizaremos uma bola plástica de futebol com resis-
tência média, não muito cheia, colocando-a na região anterior
da cabeça. Próximo a uma parede, posicione a bola mantendo o
pescoço ereto, braços semiflexionados, mãos apoiadas na parede,
joelhos flexionados a, mais ou menos, 45 graus e pés em paralelo
ao longo do corpo. Ao exercício dinâmico deveremos empurrar
a bola, comprimindo-a contra a parede, soltando o ar pela boca,
e, na volta do movimento puxando o ar pelo nariz, mantendo o
pescoço retilíneo até a posição inicial. Isso promoverá um fortale-
cimento dos músculos da cadeia anterolateral do pescoço.
Evolutivamente, o indivíduo poderá colocar a bola na região
posterior da cabeça, empurra a bola contra a parede, soltando o ar
e, na volta puxando o ar. Para fortalecer a região lateral da coluna
cervical, deve-se empurrar a bola em inclinação lateral do pescoço,
soltando o ar, e voltar puxando o ar. Já Para fortalecer os rotadores
do pescoço, coloque a bola na altura de uma das orelhas e empurre-
-a contra a parede. Lembre-se de ao comprimir a bola soltar o ar,
e na volta do movimento puxar o ar até a posição neutra, que é
olhando para o horizonte. É importante que ao movimento de ro-
tação cervical, uma das mãos esteja sustentando a bola e a outra
deve estar apoiada no quadril do lado oposto a bola. Procure não
compensar o movimento com a elevação dos ombros.
A forma isométrica, ou seja, estática, é quase idêntica à di-
nâmica, só que em vez de realizar o movimento de ir e vir, agora
devemos empurrar a bola e mantê-la pressionada contra a parede
por alguns segundos. Lembre-se de nunca prender o ar. Segue a
dica: na forma dinâmica, devemos soltar o ar ao empurrar a bola
e puxar o ar na volta do movimento e para estática a respiração
deve ser contínua e tranquila. Repetições: Forma dinâmicas: 2
vezes de 10 repetições para cada exercício, com 10 segundos de
repouso ao final da sequência. Tempo para forma estática: 3 mi-
nutos de duração, realizando três vezes de 10 repetições susten-

146 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


tadas por 5 segundos e, posteriormente, 10 segundos de repouso
ao final da sequência.

FIGURA 21 – FORTALECIMENTO DINÂMICO E ESTÁTICO DA REGIÃO CERVICAL.

FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS LOMBARES E


REGIÃO DO QUADRIL

Este exercício de fortalecimento é semelhante ao exer-


cício de ponte dinâmica, só que agora devemos elevar e manter
o quadril no mais alto que pudermos, respeitando o limite da dor.
O fortalecimento dos músculos lombares e região do quadril em
posição de ponte estática (Figura 22) deve ser realizado com o in-
divíduo deitado de costas no solo, preferencialmente em um col-
chonete. Faça uma elevação máxima da região lombar e quadril,
segurando a postura por, mais ou menos, 10 segundos e, pos-
teriormente, voltar à postura inicial. Esse exercício é conhecido
DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 147
Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
como estático porque tem a função de fortalecer e dar proprio-
cepção aos músculos da camada mais intrínseca, responsáveis
por manter a coluna vertebral ereta e forte. A respiração também
deve ser contínua e tranquila. Tempo: 3 minutos, realizando 12
elevações sustentadas por 10 segundos com 20 segundo de re-
pouso entre cada exercício para não ocorrer fadiga.

FIGURA 22 – FORTALECIMENTO LOMBAR E DO QUADRIL EM POSIÇÃO DE


PONTE ESTÁTICA.

FORTALECIMENTO GLOBAL DA COLUNA NA POSTURA


DE LÓTUS

O fortalecimento na postura de Lótus é bem especial


porque requer boa concentração e conforto ao sentar nos ísquios,
região próxima das vértebras sacrais. O fortalecimento global em
postura de lótus (Figura 23) deve ser realizado com o indivíduo
sentado em um colchonete no solo, mas se o indivíduo não con-
seguir realizá-lo nesta postura evolutiva, esse deverá ser feito
inicialmente sentado em uma cadeira ou banco. Essa dica serve
para adultos e idosos que apresentam problemas nos joelhos e/ou
quadril. Assim, para ficarmos na postura de lótus devemos dobrar
148 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
os joelhos, manter a coluna ereta e as mãos levemente apoiadas
em cima dos joelhos, nunca os segurando.
Em seguida realizaremos a primeira parte do exercício,
chamado autocrescimento da coluna, simultaneamente, com
o exercício de inspiração. Pouco a pouco, tentaremos esticar a
coluna em quatro etapas como se a cabeça quisesse seguir em
direção ao teto, mas o olhar deve seguir na linha do horizonte.
A partir da postura inicial de lótus, estique um pouco a coluna,
puxando o ar pelo nariz e depois dê uma primeira parada, solte o
ar pela boca, mantendo a coluna sempre ereta. Suba novamente
puxando ao ar, pare e solte o ar e, assim, para a terceira e quarta
etapa, até seu limite final. É importante entendermos que, após
a primeira esticada, a coluna não deverá mais voltar ao estado
inicial, mas sempre em crescimento vertical até o limite.
Uma evolução desse exercício é realizá-lo segurando a
coluna por mais tempo entre as quatro etapas. Permaneça pu-
xando o ar pelo nariz ao subir e soltando pela boca, só que a cada
parada deveremos manter a coluna ereta por 10 segundos até a
última etapa. Lembre-se que tudo dependerá do tempo de treino,
respeitando as condições de idade e doenças associadas. Em hi-
pótese nenhuma esse exercício deve ser realizado prendendo a
respiração. Tempo: média de 6 minutos. Na forma inicial, rea-
lizar 10 posturas em 4 etapas e, posteriormente, sustentar por 10
segundos entre as 4 etapas de um exercício. Cada subida em 4
etapas equivale a uma postura. Acreditamos que sua coluna está
forte o suficiente quando você realizar esse exercício por mais de
3 minutos de sustentação em cada postura.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 149


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
FIGURA 23 – FORTALECIMENTO GLOBAL DA COLUNA NA POSTURA DE LÓTUS.

FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS LOMBARES E


REGIÃO DO QUADRIL NA POSTURA DO KLAPP

Para continuarmos fortalecendo a musculatura da região


lombar e quadril, realizaremos o exercício de fortalecimento
na postura de grande curva (Figura 24). Esse exercício também
foi idealizado por Dr. Rudolf Klapp, só que o objetivo principal
agora é o fortalecimento e não a mobilização articular da coluna.
Acredito que esse é um dos exercícios que mais promove ganho
rápido de força muscular na região lombar em postura estática,
mas lembre-se de realizá-lo com bastante atenção.
O indivíduo deverá ficar em postura de quadrupedia, coto-
velos esticados, cabeça mantida na linha do horizonte e coluna pa-
ralela ao solo, sem realizar hiperlordose. Logo após, deve-se elevar
uma das pernas com o joelho dobrado a, mais ou menos, 90º em re-
lação ao corpo. Mantenha-se nesta posição por 10 segundos e volte
à posição inicial. O ideal é que o exercício seja feito com a perna
direita e esquerda, de forma alternada, mesmo se o indivíduo apre-
sentar dor em apenas um lado da coluna lombar ou quadril.
150 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
Sendo um exercício de característica estática, o aumento
da força e resistência muscular ocorrerá pelo prolongamento do
tempo postural em 15, 20 e até 30 segundos. Em indivíduos mais
aptos sugere-se colocar tornozeleiras de 1 ou 2 Kg, de acordo
com a evolução de força e tempo de exercício. Um detalhe im-
portante é que essa postura só deverá ser realizada por indivíduos
que já não sintam mais dor na região lombar. Tempo: média de
6 minutos, realizando 10 vezes para cada perna sustentadas por
10 segundos, devendo evoluir com o tempo para 15, 20 e até 30
segundos com o auxílio de tornozeleiras de 1 ou 2Kg.

FIGURA 24 – FORTALECIMENTO LOMBAR NA POSTURA DE GRANDE CURVA.

FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS ABDOMINAIS


SUPERIORES

Os exercícios de fortalecimento dos abdominais são ativi-


dades comumente praticadas em academias, clínicas, parques
e ginásios esportivos. O fortalecimento dos abdominais parece
ser inicialmente fácil e inofensivo, mas se praticado de forma

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 151


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
inadequada trará graves problemas para a coluna. Para realizar
o fortalecimento dos abdominais superiores (Figura 25), mais
especificamente, do músculo reto anterior do abdômen e parte
dos oblíquos, o indivíduo deve deitar-se de costas no solo, colo-
cando os joelhos a, mais ou menos, 90º e quadril a 45º, ambos em
flexão. Procure elevar o tronco, dobrando a coluna para frente até
no máximo 45º, como demonstrado na figura, cotovelos flexio-
nados a 120º e mãos sustentando a região nucal, parte posterior
da cabeça, assim, evitaremos cansaço dos músculos cervicais.
Uma dica valiosa para saber se atingimos os 45º de flexão
do tronco é sentirmos o final da borda escapular sair do solo. As
escápulas são ossos achatados que ficam logo atrás dos ombros
e apresentam importante relação também com a coluna torácica.
Tome bastante cuidado para não realizar a respiração invertida
do padrão normal para a contração dos abdomens. Em uma velo-
cidade razoável, flexione o tronco e um pouco da coluna cervical
(soltando o ar pela boca) até a saída total das escápulas do chão.
Assim que chegar ao limite de 45º, pare e volte, puxando o ar pelo
nariz, até a postura inicial.
Se nas primeiras vezes que for realizar esse exercício en-
contrar dificuldade em manter a coluna lombar no solo, segue
uma boa dica: procure uma cadeira fixa ou uma bola do tipo pi-
lates onde possa colocar os joelho flexionados e procure manter
a coluna vertebral totalmente no solo. Isso tornará o exercício
mais fácil e seguro para indivíduos com acometimentos nas ar-
ticulações dos joelhos e quadril. Uma observação restrita é que
esse exercício torna-se contraindicado para indivíduos cardio-
patas graves sem acompanhamento especializado, pois poderá
promover aumento súbito da frequência cardíaca. Tempo: média
de 5 minutos e aconselha-se que cada indivíduo saiba seus limites
para realizar essa atividade. Se conseguir realizar 40 repetições,
orientamos que os próximos ciclos sejam de 30 e depois 20 repe-
tições para não causar fadiga muscular.
152 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR
FIGURA 25 – FORTALECIMENTO DO ABDOMINAL SUPERIOR.

FORTALECIMENTO DOS MÚSCULOS ABDOMINAIS


INFERIORES

Para o fortalecimento dos abdominais inferiores (Figura


26), especificamente do transverso abdominal, oblíquos interno
e externo, deve ser feito com máximo cuidado para não ocorrer
fadiga e piora do quadro álgico. O indivíduo deve deitar-se de
costas no solo, deixar os braços ao longo do corpo. Inicialmente,
os joelhos e quadril deverão ficar flexionados a 90º. Esse será o
ponto de partida do exercício. No segundo momento, deve-se
realizar uma extensão do quadril em que as pernas se afastem do
tronco, puxando o ar pela nariz, até chegar ao limite de 45º em
relação ao solo, como demonstrado na figura. Ao movimento de
voltar à postura inicial, deve-se flexionar o quadril, aproximando
as pernas do tronco, soltando o ar pela boca, até 90º. O movi-
mento de trazer as pernas próximas ao tronco, soltando o ar pela
boca, é que promoverá a contração máxima dos abdominais in-
feriores. Nunca deixe que o quadril faça uma extensão maior que
45º em relação à postura inicial, pois isso, certamente, promoverá
uma hiperlordose e, consequentemente, uma maior sobrecarga
na coluna lombar, além de acionar músculos sinergistas, como
iliopsoas, tirando o foco do fortalecimento abdominal.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 153


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
Como indicado no exercício de fortalecimento dos abdo-
minais superiores, coloque uma cadeira bem posicionada a sua
frente e agora, invés de repousar as pernas na cadeira, deixe-as
um pouco mais afastadas. Desça as pernas até tocar os calca-
nhares na borda da cadeira e volte a postura inicial. Essa dica é
valiosa para indivíduos com dores articulares nos membros infe-
riores. Tempo: média de 5 minutos e aconselha-se que cada indi-
víduo saiba seus limites para realizar essa atividade. Se conseguir
realizar 30 repetições, orientamos que os próximos ciclos sejam
de 20 e depois 10 repetições para não causar fadiga muscular.

FIGURA 26 – FORTALECIMENTO DOS ABDOMINAIS INFERIORES.

FORTALECIMENTO GLOBAL MUSCULAR NA POSIÇÃO


HORIZONTAL

Por fim, este último exercício é mais conhecido em academias


como fortalecimento em posição de prancha, os quais promovem
ganho de força em sinergismo da coluna vertebral, glúteos e ab-
dominais. Na reabilitação fisioterapêutica é chamado de exercício
para estabilização segmentar dos músculos intrínsecos lombares,

154 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


abdominais e quadril na postura horizontal (Figura 27). Requer,
além de muita habilidade, que todas as atividades anteriores
tenham sido feitas com muita tranquilidade e disciplina. Realmente
é um exercício de alta resistência e performance.
Bom, o indivíduo deve se colocar deitado de barriga para
baixo no solo. O primeiro passo é dobrar os cotovelos a 90º, depois
esticar todo o corpo, mantendo a coluna o mais horizontalizada
possível em relação ao solo. Os pés devem estar na posição neutra
enquanto os dedos fazem uma extensão, exatamente como na
figura. Espera-se que esse exercício comece sendo realizado por
5 segundos na posição estática, totalmente imóvel e com a respi-
ração normal, puxando o ar pelo nariz e soltando pela boca.
Uma forma evolutiva, para ganho de mais força, é au-
mentando o tempo de 5 para 10, 20 e até 30 segundos, tempo
aceitável para não causar fadiga muscular. O mais importante é
entendermos que esse exercício também exige bastante dos mús-
culos abdominais que terão uma ação estabilizadora para manter
a região lombopélvica imóvel. Tempo: média de 5 minutos, reali-
zando duas vezes de 10 repetições sustentadas por 5 segundos,
com intervalos de 10 segundos entre cada manutenção postural e
1 minuto de descanso ao final do ciclo de 10 repetições.

FIGURA 27 – FORTALECIMENTO DA COLUNA VERTEBRAL E MÚSCULOS


ABDOMINAIS NA HORIZONTAL.

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 155


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
RECOMENDAÇÕES GERAIS

Todos esses exercícios de mobilização, alongamento e for-


talecimento que foram mencionados não devem ser feitos quando
o indivíduo estiver com dor de cabeça, aumento da pressão ar-
terial, diabetes descontrolada, tonturas, enjoos, mulheres com
gestação de alto risco, piora contínua da dor e dificuldade de en-
tendê-los de forma clara.
O autor e a editora não se responsabilizam por qualquer
dano provocado à pessoa pelo uso errado das informações con-
tidas neste livro. Se você, caro leitor, apresentar dificuldades
para entender cada capítulo desta obra, orientamos que procure
alguém da família ou, até mesmo, amigos que possam ajudá-lo na
interpretação textual. Em caso de dúvidas mais complexas e não
diminuição do quadro álgico, deve-se imediatamente procurar
um especialista médico ou fisioterapeuta, isso é o mais prudente
a ser realizado.

156 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


CAPÍTULO 11

EXERCÍCIOS DE MOBILIDADE ARTICULAR, ALONGAMENTO,


FORÇA MUSCULAR E PROPRIOCEPÇÃO: O ESTUDO DA ARTE

Mobilidade articular: limite fisiológico do movimento

FIGURA 28 FIGURA 29

FIGURA 30 FIGURA 31

FIGURA 32
FONTE: O autor

157
Alongamento muscular: proposta de um desafio diário

FIGURA 33 FIGURA 34

FIGURA 35

FIGURA 36 FIGURA 37
FONTE: O autor

158 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR


Força Muscular e Propriocepção: uma questão de tempo e disciplina

FIGURA 38 FIGURA 39

FIGURA 40 FIGURA 41

FIGURA 42 FIGURA 43

FIGURA 44
FONTE: O autor

DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 159


Tudo o que eu precisava saber para cuidar bem da minha coluna
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendo que a necessidade de compreender a importância


desta obra, que transmite de forma verdadeira e objetiva as prin-
cipais estratégias para cuidar bem de sua coluna vertebral, torna-
-se fator imprescindível. Um aspecto relevante é que este livro foi
confeccionado com o intuito de transcender ambientes, sejam
intelectuais, econômicos, sociais ou religiosos, realmente um
texto para a família, uma obra para a vida toda. Se ao final de cada
capítulo, o leitor, de forma espontânea, sentir a necessidade de
utilizar os conhecimentos apresentados para melhorar sua qua-
lidade de vida, transmitindo todo o conhecimento aos familiares,
amigos e colegas de trabalho, saberemos, então, que todo tempo
dispendido para a arte final valeu a pena.

161
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DESVENDANDO OS SEGREDOS DA COLUNA VERTEBRAL: 165


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168 MIBURGE BOLÍVAR GOIS JÚNIOR

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