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Difusão

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2021 • 4" edição


São Caetano do Sul •
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sem a prévia autorizacão escrita da Difusão Editora.

ISBN 978-85-7808-302-1

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Anatomia humana básica [livro eletrônico]: para estudantes na área de


saúde I Cristiane Regina Ru iz, organizadora. -- 4. ed. rev . e atual.--
São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2021 .
15.3Mb; PDF

Vár ios autores


Bibliografia.
ISBN 978-85-7808-302-1

1. Anatomia humana 2. Anatomia humana - Estudo e ensino


3. Músculos - Anatomia 4. Ossos I. Ru iz, Cristiane Regina.

CDD-611
21-62527 NLM-QS 400

Índices para catálogo sistemático:

1. Anatomia humana Ciências médicas 611

Maria Alice Ferreira- Bibliotecária- CRB-8/7964

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CENTRO UNIVERSITÁRIO

SÃOCAMILO
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AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer ao Centro Universitário São Camilo por nos
propiciar o ambiente necessário e o devido estímulo para que nossa equipe
pudesse crescer profissionalmente e amadurecer didaticamente a cada ano,
fato que corroborou para a concepção desta obra.
Agradecemos muitíssimo ao professor Nader Wafae, pelo apoio constante
a seus discípulos, ao carinho e amizade durante todos os anos de convivência.
Sua presença física era motivadora, mas mesmo agora após sua partida sua
presença se mantém forte e viva em nosso meio.
Lembramos aqui as amigas Genilda Murta e Michelle Fernandes da Difusão
Editora que, além da competência técnica, possuem uma grande competência
humana no tratamento com os autores.
Aos alunos, que nos fazem dia após dia acreditar que o ensino é uma ponte
entre as pessoas, e que por meio dele podemos formar, informar e educar.
A Deus, às nossas famílias e aos nossos amigos que sempre estão conosco
em todas as horas do dia, ainda que em pensamento.

Os autores
PREFÁCIO
O livro Anatomia Humana Básica: para estudantes da área da saúde chega
à sua quarta edição! Sua primeira edição foi publicada no ano de 2009 e surgiu
da necessidade de adequar o conteúdo ministrado pelos professores do Centro
Universitário São Camilo aos alunos dos cursos da saúde, buscando uma inte-
gração entre um texto de qualidade e um formato objetivo e conciso. Esta obra
ultrapassou sua concepção e projeção inicial e, atualmente, já é uma referência
não só para os alunos deste Centro Universitário como também para outras
Instituições de Ensino onde vêm sendo utilizada como importante ferramenta
no ensino da Anatomia Humana.
Sua idealizadora, a professora Dra. Cristiane Regina Ruiz, uma entusiasta
da arte da Anatomia, é a responsável pela organização desta obra. Para que
esse projeto pudesse prosperar, ela reuniu um grupo de professores que acei-
taram o desafio de produzir este livro. Todos os capítulos foram escritos por
estes professores que atualmente compõem o grupo de docentes que atuam
nos cursos de graduação e pós-graduação do Centro Universitário São Cami-
lo. No início de cada capítulo, há uma parte destinada à identificação do autor
do capítulo, trazendo informações sobre sua formação acadêmica fornecendo
ao leitor uma maior proximidade e conhecimento sobre o autor.
Neste livro a Anatomia Humana é apresentada e explicada na sua forma sis-
têmica. Utilizando um texto claro e sucinto, o conteúdo foi dividido em quatorze
Anatomia Humana Básica

capítulos. O primeiro capítulo, trata de um tema que nós, anatomistas, nos preo-
cupamos muito que é a "Terminologia Anatômica': Nele o leitor poderá se fami-
liarizar com a história da Terminologia, sua importância e aplicações. O segundo
capítulo versa sobre a "Introdução ao Estudo da Anatomia Humana'; fornecendo
ao estudante que inicia sua jornada no conhecimento anatômico os preceitos ini-
ciais dessa ciência. Os demais capítulos trazem a Anatomia Sistêmica propriamen-
te dita, e são divididos em Sistemas: Esquelético, Articular, Muscular, Respiratório,
Digestório, Circulatório, Urinário, Genital Masculino, Genital Feminino, Nervoso,
Auditivo, Visual, Tegumentar e Endócrino.
Como não poderia ser diferente, todo o conteúdo foi revisado, atualizado
e novas informações foram adicionadas ao livro, melhorando a qualidade do
texto. Houve também melhoramentos na Terminologia Anatômica em com-
paração com as edições anteriores. Uma grande contribuição foi dada pelo
professor Sérgio Ricardo Rios Nascimento que produziu todas as ilustrações
contidas nessa edição, substituindo as antigas e trazendo maior qualidade grá-
fica e visual para a compreensão da Anatomia Humana.
Diante do exposto, finalizo minha singela contribuição agradecendo o con-
vite para escrever o Prefácio da quarta edição do Anatomia Humana Básica:
para estudantes da área da saúde e desejando muito sucesso à toda equipe res-
ponsável pela concepção, elaboração e produção deste livro.

Carlos R. Rueff Barroso


Professor de Anatomia e Neuroanatomia do Departamento de Morfologia da Univer-
sidade Federal do Espírito Santo (UFES). Doutor em Biologia Humana e Experimental e
mestre em Morfologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Especialista
em Anatomia pela Universidade Estácio de Sá (UNESA).

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APRESENTAÇÃO
O universo da Anatomia Humana é algo surpreendente para quem se deixa
envolver em sua essência. Há quem diga que ela está ultrapassada, que é uma
disciplina morta, porém como matar algo que é perene? Como apagar uma mar-
ca que está tatuada na história da Medicina e das Ciências da Saúde em geral?
Não há uma única profissão na área da Saúde que possa dispensar o aprendi-
zado da Anatomia Humana e mesmo que novas tecnologias e novas profissões
surjam esse novo profissional será obrigada a render-se ao inebriante estudo
do corpo humano. Podemos hoje falar em Ressonância Magnética, PET, cirur-
gia robótica, porém para que se chegue às vias de fato o operador de qualquer
equipamento no setor de diagnóstico por imagem ou qualquer cirurgião tem a
obrigação de conhecer com minúcias a Anatomia Humana.
Estamos na era digital, rodeados de softwares e aplicativos, tablets e touch
screen, lidando com a geração Y, e mesmo assim no início da formação de um
novo fisioterapeuta, enfermeiro entre outras tantas profissões necessitamos do
conhecimento da organização do corpo humano e suas relações com os de-
mais órgãos. É necessário conhecer cada órgão, sua forma, peso e textura para
que o profissional formado tenha segurança e certeza em sua atuação, sendo
respeitado na área que escolher.
A Anatomia Humana é sedutora pois, conhecer a misteriosa maneira do como
somos realmente por fora e por dentro nos motiva, aguça nossa curiosidade,
Anatomia Humana Básica

prende nossa atenção e nos faz compreender nossa complexidade enquanto ser
humano ensinando-nos a respeitar a vida e nossos semelhantes. É uma lição de
vida e de morte. Ao mesmo tempo que explica como funcionamos no nosso dia-
-a-dia nos transmite a mensagem da finitude.
Por meio dos cadáveres que os anatomistas dissecam e estudam para alcan -
çar maior plenitude de conhecimentos, somos capazes de ilustrar atlas e livros
de anatomia, criar aplicativos e softwares, criar peças artificiais em impresso-
ras 3D e assim encontrar meios de disseminar mais conhecimento, aprenden-
do a aprender para aprender a ensinar.
Este livro é a prova de que um grupo de pessoas apaixonadas pela Anato-
mia Humana, quando unidas podem fazer diferença. Estamos na quarta edição
desta obra que vem auxiliando alunos de diversos cursos a mergulhar no desco-
nhecido território da Anatomia Humana. Ele é um guia de Anatomia Humana
Básica, a qual será explorada nos primeiros semestres de qualquer curso univer-
sitário e têm o intuito de abrir portas para que os alunos aprofundem seus co-
nhecimentos nos semestres subsequentes em suas áreas específicas de atuação.
Agradecemos a todos os autores que estiveram conosco nas edições an-
teriores e saudamos os novos companheiros que fazem atualmente parte da
equipe de docentes do Centro Universitário São Camilo e que contribuíram
conosco na elaboração desta nova edição.
Somos colegas de trabalho mas acima de tudo amigos que tem uma paixão
em comum: estudar e lecionar Anatomia Humana.

Cristiane Regina Ruiz


Organizadora

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SUMÁRIO

Capitulo 1- Terminologia Anatômica ............................................................. 13


Lisley Alves de Oliveira
Luiz Antonio Pereira

Capítulo 2 -Introdução ao estudo da Anatomia Humana ...................... 23


Valdemir Rodrigues Pereira

Capítulo 3- Sistema esquelético ..................................................................... 35


Ricardo Augusto Rotter Montibeller
Valdemir Rodrigues Pereira

Capítulo 4- Sistema articular. ............................................................................ 61


Sérgio Ricardo Rios Nascimento

Capítulo 5- Sistema muscular. .......................................................................... 79


Ricardo Augusto Rotter Montibeller
Eduardo Pereira
Anatomia Humana Básica

Capítulo 6- Sistema respiratório ...................................................................... 99


Eduardo Pereira

Capítulo 7- Sistema digestório ....................................................................... 117


Valdemir Rodrigues Pereira

Capitulo 8- Sistema circulatório .................................................................... 137


Cristiane Regina Ruiz

Capítulo 9- Sistema urinário ........................................................................... 163


Renato Murcia

Capítulo 1O- Sistema genital masculino ..................................................... 175


Sergio Ricardo Rios Nascimento

Capitulo 11 -Sistema genital feminino ....................................................... 185


Alex Kors Vidsiunas

Capitulo 12- Sistema nervoso ........................................................................ 195


Magno César Vieira

Capítulo 13- Sistemas auditivo, visual e tegumentar ............................ 241


Lisley Alves de Oliveira

Capítulo 14- Sistema endócrino .................................................................... 265


Alex Kors Vidsiunas

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Lisley Alves de Oliveira
Fisioterapeuta. Professora de Anatomia Humana do Centro Universitário São
Camilo. Professora convidada do curso de pós-graduação em anatomia humana
latu-senso do Centro Universitário São Camilo. Especialista em Didática do En-
sino Superior e Mestre em Morfologia pela Unifesp - Universidade Federal de São
Paulo Membro da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA).

Luiz Antonio Pereira


Biólogo. Professor de anatomia e técnico do laboratório de anatomia do
Curso de Medicina da Universidade Cidade de São Paulo. Técnico aposenta-
do, responsável pelo laboratório de anatomia da UNIFESP e professor do curso
de Técnicas Anatômicas da Unifesp.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
A história da anatomia confunde-se com a história da medicina de
tal modo que em alguns casos é impossível separá-las. A beleza dessa
história está na forma como a descrição anatômica permeia a vida das
pessoas simples da antiga Grécia e da antiga Roma, sendo muitos dos
termos anatômicos utilizados até hoje pela disciplina oriundos de com-
parações entre as estruturas do corpo humano e objetos comuns (fer-
ramentas, instrumentos musicais, utensílios domésticos) presentes no
cotidiano das comunidades da antiguidade como, por exemplo, "tíbia''
que significa flauta ou "tireoidea'' que significa forma de escudo.
Essas estruturas com o passar do tempo ao serem descobertas pas-
saram a ser nomeadas ou "batizadas" com o sobrenome do pesquisa-
dor que a descrevia pela primeira vez. Essa nomenclatura é conhecida
como Eponímia e é ainda muito encontrada nas descrições clínicas e
cirúrgicas como, por exemplo, o "fundo de saco de Douglas" muito
utilizado na ginecologia e na obstetrícia, mas que é hoje corretamente
nomeado de escavação retouterina.
Os estudantes da anatomia humana não podem abster-se de ab-
sorver tais conhecimentos que acima de qualquer aplicação técnica
são informações que enriquecem a cultura de qualquer profissional
da área da saúde.

Cristiane Regina Ruiz'

1 Doutora em Ciências (Morfologia), mestre em Morfologia e graduada em Educação Física.


Docente do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, ministrando as disciplinas Anatomia
Humana e Anatomia Humana em Imagens Digitalizadas, nos cursos de graduação. Coordenadora
do Curso de Especialização em Anatomia Macroscópica e por imagens do Centro Universitário
São Camilo, em São Paulo.

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Terminologia Anatômica

CAPÍTULO 1

Terminologia Anatômica
Lisley Alves de Oliveira
Luiz Antonio Pereira

Além de estudar a morfologia do corpo, a anatomia nomeia e descreve


suas estruturas. É disciplina obrigatória e indispensável para os cursos na
área da saúde, técnicos ou superiores. Pelo estudo da anatomia conhecemos
o "normal" e suas variações esperadas, analisamos e entendemos as disfun-
ções orgânicas.
Internacionalmente, a terminologia anatômica uniformiza a nomenclatu-
ra das estruturas, conferindo maior precisão às descrições. É frequente e co-
mum professores de anatomia serem questionados por seus alunos quanto à
necessidade de utilização desta terminologia, pois na prática clínica ou mesmo
no estudo de outras disciplinas, essa nomenclatura não é seguida com rigor.
Da mesma forma outros professores e profissionais da área da saúde também
questionam a importância de segui-la. Tais questionamentos são bastante per-
tinentes, até pelo histórico das várias mudanças sofridas pela terminologia
anatômica no decorrer dos anos, desde os primórdios do estudo anatômico.
Para melhor entendimento do assunto, faremos um breve relato da história
da anatomia, que apesar de caminhar paralelamente à história da medicina,
sendo, muito frequentemente, confundidas, teve desenvolvimento particular.
A anatomia humana começou a ser estudada desde os primórdios da hu-
manidade. Em 3400 a.C., no Egito, Menes, o médico do rei, escreveu o primei-
ro Manual de Anatomia de que temos registro.
Na Grécia antiga, Hipócrates (460 a.C.- 377 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.
- 322 a.C.) destacam-se, dentre outros, por seus estudos anatômicos. Hipócra-
tes, considerado o "pai da medicinà; apesar de seus conhecimentos limitados
em dissecação, atribuiu o surgimento das doenças não mais às interferências
divinas como acreditava-se até então, mas a distúrbios orgânicos. Dentre ou-
tras coisas, escreveu o Juramento Hipocrático que é proferido até hoje pelos
formandos em medicina. Já Aristóteles é considerado o precursor da anatomia
comparada porque seus estudos basearam -se em dissecações de animais. Foi
ele quem nomeou uma das principais artérias do corpo, a Aorta; ele conside-
rava o coração como o centro das emoções.

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Anatomia Humana Básica

No período Alexandrino, quando as dissecações foram liberadas, podemos


destacar Herófilo (335 a.C. - 280 a.C.) e Erasístrato (300 a.C.). Atribuiu-se a
Herófilo a primeira dissecação de cadáver e foi ele quem descreveu que os
vasos continham sangue e não ar, como acreditavam, e Erasístrato descreveu o
sistema nervoso central: cérebro e cerebelo.
Por volta do ano 150 a.C., as dissecações humanas foram proibidas porra-
zões éticas e religiosas.
O Império Romano, durante seu processo de expansão, destruiu muitas das
contribuições anatômicas, o que dificultou o avanço desses conhecimentos. Desse
período podemos destacarCelsus (30 a.C.- 30 d.C.) e Galeno (130 d.C.- 201 d.C.).
Celsus não era anatomista, porém compilou as informações remanescentes
da destruição romana da escola médica de Alexandria.
Galeno, apesar de ter feito 2 ou 3 dissecações humanas durante toda a sua
vida, foi, provavelmente, o escritor médico de maior influência de todos os
tempos. Nessa época, eram utilizados textos, e não imagens para o ensinamen-
to da anatomia, os textos descritivos de Galeno que, mesmo permeados por
muitos equívocos por serem baseados em dissecações de animais, perduraram
por cerca de 1500 anos!
No período do Renascimento voltou-se a praticar dissecação de corpos hu-
manos, porém os dogmas galênicos estavam tão arraigados que se acreditava
que o conhecimento já estava completo e seria necessário apenas o aperfeiçoa-
mento das técnicas de dissecação.
Nessa época, os corpos não eram submetidos a nenhum processo de conser-
vação, o que gerava um odor de putrefação. Com isso, os professores de anato-
mia liam os textos descritivos das cátedras, locais altos em destaque, mantendo
distância do odor, e um serviçal, normalmente com pouco estudo, era quem
fazia as dissecações à medida que os textos eram lidos e o professor apontava
com uma vara as estruturas que estavam sendo descritas. Isto pode ter levado a
inúmeros erros tanto de dissecação quanto de entendimento dos alunos.
Deste período podemos destacar dois grandes nomes: Leonardo da Vinci
(1452 d.C.- 1519 d.C.) e Andreas Vesalius (1514 d.C.- 1564 d.C.).
Numa época em que o conhecimento anatômico era ensinado através de
textos, a anatomia teria avançado muito mais se os desenhos anatômicos
de Leonardo da Vinci tivessem sido publicados, porque nesta mesma época
surgiram os tipos móveis de imprensa, levando a uma representação do cor-
po, bela e ricamente ilustrada. Os desenhos de Da Vinci eram extremamente
detalhados, precisos e de uma beleza artística singular. Foi o primeiro a des-
crever as curvaturas corretas da coluna vertebral, mas isto ficou esquecido por
mais de 100 anos. Dentre outras coisas, Da Vinci fez injeções nos ventrículos
cerebrais e em artérias e foi o primeiro a descrever a posição do feto no útero.
Andrea Vesalius, que é chamado o "pai da anatomia'; contestou e refutou os
dogmas de Galeno. Vesalius padronizou a terminologia anatômica, fez muitas

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Terminologia Anatômica

contribuições em osteologia, miologia e em cardiologia. Rejeitou a descrição


de Galeno quando este descrevia o septo cardíaco pérvio (intercomunicante).
Publicou o primeiro tratado anatômico que integrou texto e ilustrações, o "De
Humani Corporis Fabricà' em 1543, na Basiléia, ricamente ilustrado pelo artista
Johannes Calcar, que perdurou através dos séculos até a atualidade.
Nos séculos XVII e XVIII, os anatomistas passaram de rejeitados a estre-
las, as dissecações tornaram-se públicas, marcadas para o período de inverno
(ainda não haviam descoberto formas de conservar os cadáveres) e eram
cobrados preços altíssimos para assistir às sessões. Apesar da prática deste
"show'; de cunho muito mais de espetáculo do que de ciência, nesta época
alguns anatomistas contribuíram bastante para o conhecimento, como por
exemplo, William Harvey (1578 d.C. - 1657 d.C.) que estabelece a circulação
sanguínea em seu trabalho intitulado "Exercitatio Anatomica de Motu Cordis
et Sanguinis in Animalibus" e Marcello Malpighi (1628 d.C.- 1694 d.C.) que
descreve a estrutura tecidual dos órgãos.
No século XIX, a histologia ampliou os conhecimentos anatômicos com a
adição dos conceitos de composição específica, reparação e reorganização dos
tecidos; nesse ponto, parecia que a anatomia só precisava ser detalhada.
Porém em 1895, Wilhelm Conrad Roentgen descobriu o RX e revolucionou mais
uma vez a visão do corpo humano, que posteriormente passou a ser estudado tam-
bém através de imagens de tomografia computadorizada e ressonància magnética.
Desde os primeiros estudos anatômicos, acostumou-se a utilizar epôni-
mos ' para nomear as estruturas anatômicas descritas, talvez numa tentativa
egocêntrica do descritor, de firmar seu nome na história. A comunicação e o
intercâmbio do conhecimento entre as escolas anatômicas eram muito difíceis
nessa época. Com a facilitação destes, surgiu então, outra dificuldade porque
a mesma estrutura recebia diversos nomes em diversos lugares, que além de
imprecisos dificultavam a memorização e comunicação. No final do século
XIX existiam 50.000 nomes para descrever 5.000 estruturas conhecidas hoje.
Surgiu, então, a necessidade de padronização.
A primeira tentativa ocorreu em Leipzig, Alemanhã, em 1887, com a re-
união da Anatomische Gesellschaft (Sociedade Anatômica), com a tarefa de
elaborar uma lista de nomes, em latim, que fosse de consenso geral.
Em 1895, em Basle, o Comitê de Nomenclatura Anatômica achou muito difí-
cil chegar a um consenso baseado no voto, sobre o nome que deveria ser utiliza-
do para cada estrutura. As opiniões sobre manter ou não os nomes próprios para
as estruturas estavam tão divididas que se decidiu colocar entre parênteses o
epônimo na frente do nome escolhido. A lista de nomes decididos nesta reunião

1 "a quele que dá ou em presta se u nom e a alguma coisa'~ O termo deriva diretame nte do grego
eponymos: "que tem seu nome so bre" (Fernandes, 1999).

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Anatomia Humana Básica

foi adotada por anatomistas de todo o mundo, ficando conhecida como Nomen-
clatura Anatômica de Basiléia (B.N.A.- Basle Nomina Anatomica).
Em 1928, foi realizada uma revisão da BNA, conhecida como "Revisão de
Birmingham" (B.N.A.- B.R.) editada em 1933, onde três anatomistas da Ana-
tomical Society of Great Britain and North Irland, sugeriram a total abolição
dos epônimos.
Em 1936, foi feita uma nova edição da B.N.A.- B.R. na cidade de Jena, revi-
sada, ampliada e melhorada, nela os anatomistas alemães seguiram a sugestão
dos britânicos e aboliram definitivamente os epônimos. Esta edição ficou co-
nhecida como J.N.A. (Jena Nomina Anatomica)
Em 1950, constituiu-se o Comitê Internacional de Nomenclatura Anatô-
mica (IANC), que em 1955, na cidade de Paris, França, revisou integralmente
a B.N.A, surgindo assim a P.N.A. (Parisiensa Nomina Anatomica), que esta-
beleceu oficialmente a não utilização de epônimos na nomenclatura oficial da
anatomia macroscópica.
A P.N.A. esteve em vigor até 1980, nesse ano, no México, foi elaborada uma
ampla revisão. Em 1990 foi realizada outra revisão, aprovada em Lisboa qua-
tro anos mais tarde, mas, por diversos motivos, não foi aceita unanimemente,
permanecendo então a nômina de 1980.
Somente dezoito anos mais tarde, em 1998, na cidade do Rio de Janeiro,
uma nova revisão foi feita, oficialmente em latim e inglês, surgindo a Termi-
nologia Anatômica que substituiu a nômina, editada em português em 2001.
Nela consta uma extensa lista de epônimos com os respectivos nomes oficiais,
resgatando um pouco da história da anatomia.
Há vários argumentos favoráveis e contrários aos uso dos epônimos. Alguns
anatomistas que são favoráveis alegam a necessidade de manter-se a tradição
histórica, além de ser uma forma de homenagear determinado cientista e de
despertar o interesse e a curiosidade dos estudantes a que busquem conhecer
os motivos dos nomes das estruturas estudadas, resgatando parte da história.
Em contrapartida, também são vários os argumentos contra a manuten-
ção dos epônimos como a dificuldade em recordar o nome e em relacioná-lo
à determinada estrutura, como por exemplo, "ligamento de Denonvilliers"
hoje denominado "ligamento pubovesical" ou ainda "gânglio de Hirschfeld" hoje
"gânglio cervical superior". Outro argumento são as injustiças históricas, deno-
minando, muitas vezes, não o descobridor de determinada estrutura, mas sim
um observador posterior ou ainda alguém que demonstrou a importância da
estrutura. Um argumento bastante forte é o de que uma mesma estrutura pode
receber vários epônimos diferentes.
Todas essas tentativas, mesmo as frustadas, e as revisões foram essenciais
para que hoje possamos ter um "parâmetro" a seguir, assim, em qualquer parte
do mundo, quando um pesquisador ou um estudante ler um artigo ou livro
científico, saberá exatamente a qual estrutura anatômica o autor se refere.

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Terminologia Anatômica

Além de ter a função de padronizar internacionalmente os nomes, a termi-


nologia anatômica também facilita a identificação da estrutura, uma vez que
os nomes geralmente descrevem a estrutura quanto a sua localização, ou sua
relação com órgãos vizinhos, podem descrever ainda sua função ou aparência.
Selecionamos alguns epônimos para ilustrar todo o exposto até agora. Al-
guns são clássicos da prática clínica como por exemplo, na neurologia: Círcu-
lo (ou polígino) de Willis e Aqueduto de Sílvio, na ginecologia: Glândula de
Bartolin, Trompa de Falópio, na ortopedia: Tendão de Aquiles, na cardiologia:
Feixe de His, dentre outros; e outros são exemplos de como a substituição dos
epônimos facilitou a identificação das estruturas como, por exemplo: dueto e
glândula de Bartolin, Nó de Aschoff-Tawara, Prega exangue de Treves, Ponte
de Varólio que permaneceu apenas como Ponte, dentre outros. Confira todos
esses e outros na Tabela 1.

TABELA 1 - EPÔNIMOS E SEUS TERMOS OFICIAIS


CORRESPONDENTES

Antro de Highmore Seio maxilar

Articulação de Lisfranc Articulação tarsometatarsal

Círculo de Willis Círculo arterial do cérebro

Cisterna de Pecquet Cisterna do quilo

Corda de Leonardo da Vinci Trabécula septomarginal

Dueto de Bartolin Dueto sublingual maior

Glândula de Bartolin Glândula vestibular maior

Feixe de His ou Feixe de Kent Fascículo atrioventricular

Ramos subendocárdicos
Fibras de Purkinje
(complexo estimulante)

Fissura de Rolando Sulco central (Cérebro)

Aqueduto de Sílvio Aqueduto do mesencéfalo

Fissura de Sílvio Sulco lateral (Cérebro)

Forame de Luschka Abertura lateral do 4° ventrículo

Glândulas (Tonsila) de Luschka Tonsila faríngea

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Anatomia Humana Básica

Fundo-de-saco (Bolsa) de Douglas Escavação retouterina

Nó de Aschoff-Tawara Nó atrioventricular

Plexo de Meissner Plexo submucoso

Pomo de Adão Proeminência laríngea

Ponte de Varólio Ponte

Prega exangue de Treves Prega ileocecal

Tendão de Aquiles Tendão do calcâneo

Confluência dos seios da dura-


Torcular de Herófilo
máter

Trompa de Eustáquio Tuba auditiva

Trompa de Falópio Tuba uterina

Tubérculo de Montgomery Tubérculos alveolares (mama)

Valva de Eustáquio Válvula da V. cava inferior

Veia de Galeno Veia cerebral magna

Fonte: SBA, 2001.

Como a maioria das estruturas foram descritas primeiramente em latim ou


grego, o estudo da etimologia das palavras auxilia a compreender o porquê do
nome, além de sua função, formato ou localização, como já citado. Por exem-
plo, a cartilagem tireoidea, que do grego quer dizer: thyreós (= escudo) e oidés
(=forma de} ou lâmina cribriforme, que do latim quer dizer: cribum (=crivo,
peneira} e formis (=forma de}.
A utilização de terminologia anatômica uniforme, adequada e reconhecida
internacionalmente promove precisão e consequentemente o bom entendimen-
to dos textos e pesquisas produzidos contribuindo para a contínua expansão do
conhecimento científico específico e aplicado da ciência da anatomia humana.

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Terminologia Anatômica

REFERÊNCIAS
DI DIO, L. J. A. A história da anatomia no Mundo. In: SBA. História da
Anatomia. Disponível em: <http: / /www.sbanatomia.com.br>. Acesso em:
19 out. 2009.

FERNANDES, G. J. M. Eponímia: glossário de termos epônimos em anatomia


e Etimologia- dicionário etimológico da nomenclatura anatômica. São Paulo:
Plêiade, 1999.
KICKHOFEL, E. H. P. A lição de anatomia de Andreas Vesalius e a ciência
moderna. Scientire Studia, v. 1, n. 3, p. 389-404, 2003.

PRATES, J. C. A história da anatomia no Brasil. In: SBA. História da Anatomia.


Disponível em: <http://www.sbanatomia.com.br>. Acesso em: 19 out. 2009.

SBA. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da


Terminologia Anatômica. Terminologia Anatômica Internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

TAVANO, P. T.; OLIVEIRA, M. C. Surgimento e desenvolvimento da ciência


anatômica. Anuário da Produção Acadêmica Docente. v. 2, n. 3, p. 73 -84, 2008.

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Valdemir Rodrigues Pereira
Graduado em Fisioterapia pela Fundação de Educação e Cultura de Santa
Fé do Sul. Mestre em Morfologia pela Universidade Federal de São Paulo. Do-
cente do Centro Universitário São Camilo- São Paulo. Ministra as disciplinas
de Anatomia Humana, Neuroanatomia, Anatomia em Imagens, Biomecânica
e Cinesiologia nos cursos de Graduação e Pós-graduação.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
Assim como o advogado possui uma linguagem rebuscada e especí-
fica ao se referir a leis e ao elaborar procurações e contratos, a Anatomia
Humana possui uma terminologia técnica própria que deve ser seguida
no estudo e nas descrições do corpo humano. Introduzir um estudante
ou um leigo no universo da Anatomia Humana requer um detalhamento
desta terminologia específica que serve para descrever as diferentes regi-
ões do corpo e nomear cada parte constituinte destas regiões, bem como
apresentar os diferentes planos que podem ser traçados pelo corpo hu-
mano com o objetivo de reconhecer de maneira mais detalhista a nossa
estrutura corporal. Esta teoria inicial é essencial para o bom desempenho
de qualquer estudante, seja na teoria ou na prática, e também de cada
profissional em seu ambiente de trabalho pela necessidade de uma uni-
formização dos termos entre as diversas profissões da área da saúde.

Cristiane Regina Ruiz'

1 Doutora em Ciências (Morfologia). Mestre em Morfologia e graduada em Edu cação Física.


Docente do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, ministrando as disciplinas Ana -
tomia Humana e Anatomia Humana e m Image ns Digitalizadas, nos cursos de graduação e
pós-graduação. Coordenadora do Curso de Especialização e m Anatomia Macroscópica e por
imag e ns do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.

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CAPÍTULO 2

Introdução ao Estudo da
Anatomia Humana
Valdemir Rodrigues Pereira

Histórico
Para enfatizar a importância do estudo da Anatomia Humana, descrevere-
mos de maneira breve sobre fatos relevantes ao desenvolvimento dessa área da
ciência que é ramo da Morfologia (do grego "morphe" - morfo = forma e Jogos =
estudo) e que serve como referência não apenas para o conhecimento da confor-
mação do corpo humano, mas como requisito básico para o aprendizado de ou-
tros conteúdos relacionados às ciências da saúde como a fisiologia e a patologia.
Os primeiros estudos anatômicos descritos datam de cerca de 3400 a.C. e fo-
ram grafados em papiros (papel de junco), segundo Moore (2001). Na Grécia, a
anatomia foi ensinada por Hipócrates (460- 377 a.C.), que é considerado o funda-
dor dessa ciência e Pai da medicina. Estudiosos como Aristóteles (384- 322 a.C.),
considerado o Pai da anatomia comparativa, Herófilo (355 a.C. - 280 a.C.) e
Erasistrato (320? a.C. - 280 a.C.), considerado o Pai da fisiologia, deram sua
contribuição para a desenvolvimento das ciências. Galeno (129-199) foi um dos
mais importantes anatomistas de todos os tempos. Aos 16 anos, estudou filosofia
e medicina e aos 28 anos, tornou-se cirurgião oficial dos gladiadores. Galeno
realizou várias descobertas, baseado em experimentos com macacos. Descreve
o coração e o funcionamento da pequena circulação e demonstra que as artérias
contêm sangue e não ar. Na idade média (453- 1453 d.C.), a dissecação era pu-
nida pela igreja com a morte na fogueira, fato que estagnou as ciências.
Com o Renascimento (sec. XIV- XVI), o estudo da anatomia difundiu-se
rapidamente e as dissecações eram parte integrante do currículo médico, au-
mentando o interesse pela anatomia. Leonardo da Vinci (1452- 1519) partici-
pava das dissecações quando jovem e, em suas ilustrações, preocupava-se com
os detalhes e a precisão.
A contribuição de Andreas Vesálius (1514- 1564) foi imensurável. Com apenas
28 anos completou sua obra prima, De Humani Corpo ris Fabrica, onde vários siste-
mas e órgãos são belissimamente ilustrados e descritos, marcando uma nova era na
história da anatomia, introduziu o estudo da anatomia sistêmica.
No final do século XIX, ganhou impulso a padronização da nomenclatura
anatômica (terminologia anatômica); outro fato importantíssimo foi a desco-
berta dos raios X (Roentgen, 1895), que promoveu uma grande inovação no
25
Anatomia Humana Básica

estudo da anatomia (através de imagens), área essa que vem se aprimorando


de maneira muito intensa atualmente. Os estudos de Cormarch e Newhold
permitiram realizar o primeiro exame de Tomografia Computadorizada do
crânio em 1971 e conferiu a ambos o prêmio Nobel de Medicina em 1979. A
descoberta da Ressonância Magnética é atribuída aos cientistas Bloch e Purcell
que descreveram o fenômeno em 1946. Em 1973 a Ressonância Magnética
foi apresentada por Lauterbur. Esses avanços permitem o estudo da anatomia
com a vantagem de associar estudos das funções de cada órgão ou sistema.
A utilização de sistemas computacionais para estudo do corpo humano as-
sociando-o às suas funções tem permitido avanços significativos para a aplica-
ção clínica. Entretanto, o conhecimento prévio da anatomia através do estudo
teórico e prático favorece a compreensão e aplicação dessas novas tecnologias,
seja nos estudos por imagens (tomografia computadorizada, ressonância mag-
nética) ou em análise da marcha em laboratório específico, entre outros, fato
que justifica a importância do conhecimento anatômico.

Definição
Anatomia é a ciência que estuda as estruturas que compõem um organismo
e as relações entre as partes dessas estruturas. A origem da palavra (etimolo-
gia) é grega e provém de ana = em partes e tomé = corte; o termo correspon-
dente em latim é dissecare = dissecar. Descrita mais recentemente como ramo
da Morfologia (que envolve também a Embriologia, a Citologia e a Histologia),
a anatomia humana se restringe ao estudo macroscópico do corpo. Estuda,
portanto, a olho nu ou com lente manual de pequeno aumento nossa confor-
mação (morfologia) corpórea, desde o princípio da ciência com o recurso da
dissecação de cadáveres e mais recentemente com o importante incremento do
estudo no vivente, através de imagens (raios-x, tomografia computadorizada,
ultrassonografia e ressonância nuclear magnética).
Embora o estudo aprofundando das funções seja realizado pela fisiologia,
ao estudar a anatomia é imprescindível associar as funções gerais dos órgãos e
sistemas para melhor compreensão ao que denominamos anatomia funcional.

Maneiras de estudar a anatomia


É possível estudar anatomia de várias maneiras, sob vários aspectos e utili-
zando-se de vários métodos, a saber:
+ Anatomia sistêmica ou descritiva: método de estudo do corpo quedes-
creve os órgãos que participam de funções comuns, dispondo-os em
sistemas (Ex.: sistema digestório: cavidade oral, faringe, esôfago, estô-
mago e intestinos). Utilizaremos essa forma (mais convencional) de
estudo neste livro.
26
Introdução ao Estudo da Anatomia Humana

+ Anatomia topográfica ou regional: estudo feito através da descrição dos


órgãos (tegumento, vasos, nervos, músculos, ossos) de diferentes sistemas
de uma determinada região do corpo (Ex. pescoço, tórax e abdome).
+ Anatomia de superfície: estudo da anatomia através da observação ou
palpação das saliências e depressões na superfície (pele) do corpo (Ex.
espinha da escápula, processos espinhosos das vértebras) .
+ Anatomia da imagem: estudo realizado através de exames especializa-
dos (ex. tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética),
onde as imagens das estruturas são geralmente impressas em filmes e
podem ser observadas, inclusive em três dimensões.

Terminologia anatômica
É o conjunto de termos utilizados para descrever o organismo ou suas partes.
Com o desenvolvimento da anatomia e a falta de critério para se empregar os
termos anatômicos, existia no final do século XIX uma lista com cerca de 20.000
a 50.000 nomes, aplicados muitas vezes arbitrariamente. Tornou-se necessária,
então, uma padronização que ocorreu através de reuniões na tentativa de orga-
nizar os termos anatômicos. Podemos destacar o primeiro encontro com esse
intuito que ocorreu na cidade de Basiléia na Suíça em 1895.
Outros encontros importantes aconteceram em 1936, em Yena, na Alema-
nha e em Paris, em 1955, sendo neste último aprovada oficialmente a Nomen-
clatura Anatômica (P.N.A. -Paris Nomina Anatomica). Revisões aconteceram
e, em 2001, foi publicada no Brasil a Terminologia Anatômica Internacional.
Os termos empregados neste livro seguem essa nomenclatura. A descrição da
história da anatomia e da terminologia anatômica de modo mais completo,
consta do Cap. 1.

Posição anatômica
Sabendo que o corpo humano pode permanecer em diferentes posições no
espaço, os anatomistas definiram uma posição padrão para descrever as estruturas
anatômicas. Portanto, a descrição de qualquer estrutura anatômica deve conside-
rar sempre o individuo na seguinte posição: ereto, com a face voltada para frente
(olhar no horizonte), os membros superiores pendentes ao longo do corpo com
palmas das mãos voltadas para frente, polegares afastados da linha mediana do
corpo (abduzido) e demais dedos estendidos. Os membros inferiores dispostos
um ao lado do outro com os dedos dos pés dirigidos para frente.

27
Anatomia Humana Básica

Figura 1.1 -Posição anatômica

Planos de delimitação e de secção do corpo humano


Para descrever as estruturas anatômicas, baseamo-nos em três planos de
secção (imaginários) que perpassam o corpo, considerado sempre na posição
anatômica. Podemos imaginar o corpo dentro de uma caixa (Ex.: embalagem
de papelão de uma geladeira) com seis faces e considerar cada uma dessas seis
faces (lados) como um plano de delimitação. Teremos então um plano de deli·
mitação anterior, vertical, encostado na frente do corpo e outro posterior, tam·
bém vertical, passando atrás do corpo. Todos os planos de secção paralelos,
situados entre esses dois planos de delimitação, são chamados planos frontais.
Outros dois planos, um superior, horizontal, que se encontra sobre a calvária e
outro inferior, também horizontal, em contato com as plantas dos pés. Todos
28
Introdução ao Estudo da Anatomia Humana

os planos de secção paralelos e contidos entre esses dois planos de delimitação


são chamados planos horizontais. Ainda teremos outros dois planos de delimi-
tação verticais, lateral direito e lateral esquerdo que passam respectivamente
ao lado direito e esquerdo do corpo. Os planos de secção paralelos e contidos
entre esses dois planos de delimitação são chamados planos sagitais. O plano
sagital, que passa exatamente pelo meio do corpo, dividindo-o em duas meta-
des, direita e esquerda, chama-se plano mediano, enquanto os planos paralelos
a esse são chamados paramedianos. Esses planos de secção são referenciais
imprescindíveis para o estudo da anatomia, tanto sistêmica como topográfica
e, mais recentemente, para o estudo através de imagens.

Figura 1.2- A- Planos de delimitação; 8- Planos de secção

Termos de posição
São termos organizados a partir da posição anatômica, pares em
sua grande maioria e com significados opostos. O termo mediano refere-se a
uma estrutura situada ao longo do plano mediano. O termo media/ indica uma
estrutura mais próxima ao plano mediano enquanto o lateral indica que
a estrutura está mais afastada do plano mediano. O termo intermédio é
utilizado para designar uma estrutura que se encontra entre a lateral e me-

29
Anatomia Humana Básica

dia!. O termo superior (cranial) refere-se a uma estrutura próxima ou vol-


tada para a região mais alta da cabeça (calvária), enquanto o termo inferior
(caudal) trata-se de uma estrutura mais próxima da planta do pé. Os ter-
mos interno e externo referem-se, respectivamente, a estruturas situadas por
dentro e por fora de uma cavidade. O termo anterior (ventral) indica o que
está mais próximo da frente do corpo, enquanto o termo posterior (dorsal)
refere-se ao que está em direção ao dorso (costas). O termo proximal indica
uma estrutura situada mais próxima da região de implantação do membro
(raiz) ao tronco e o termo distai significa mais distante da raiz do membro.
O termo médio (a) é complexo, usado mais frequentemente para designar
o que está entre uma estrutura proximal e outra distai, sendo também uti-
lizado para designar estruturas situadas entre anterior e posterior, superior
e inferior, interna e externa. Os termos superficial e profundo descrevem
estruturas situadas mais próximas ou mais afastadas da pele, levando em
consideração a fáscia muscular.

A B

o
-~
a.
:J
C/)

Anterior
(ventral)

Posterior
(dorsal)

Inferior
(caudal)

Figura 1.3- Termos de posição e direção;


A - Vista anterior e 8 - Vista lateral

30
Introdução ao Estudo da Anatomia Humana

Normal e variações em anatomia


Ao observarmos nossos semelhantes, podemos verificar que apresenta-
mos diferenças na anatomia externa. Do mesmo modo, a anatomia interna
também as apresenta. Estômago e fígado, por exemplo, podem apresentar
formas muito distintas de um indivíduo para outro e devemos considerar
esse aspecto ao estudá-los.
Conceito de normal: é um conceito estatístico e funcional. Normal, emana-
tomia, ocorre quando uma estrutura aparece mais frequentemente e encontra-
-se apta para a função (Ex. ápice do coração, dirigido para o lado esquerdo).
Variação é o termo que indica uma estrutura que se apresenta com pouca fre-
quência, porém encontra-se apta para a função (Ex. fabela). Já anomalia é uma
situação em que uma estrutura é pouco frequente e não apta para a função
(ex. polidactila e costelas supranumerárias). O termo monstruosidade descreve
uma situação onde, em geral, a estrutura apresenta graves anomalias que tor-
nam a vida incompatível (ex. anencefalia).

Figura 1.4- A- Variação anatômica (cor dos olhos):


8- Anomalia (polidactilia)

Fatores gerais de variação


Os fatores que influenciam o aparecimento de variações no ser humano são
os seguintes: Idade: modificações anatômicas influenciadas pela idade, ex. timo,
laringe. Sexo: além do evidente dimorfismo sexual (caracteres sexuais primá-
rios e secundários), há variações que podem surgir de acordo com o sexo, por
exemplo, tamanho de determinado órgão. Grupo étnico: brancos, negros e ama-

31
Anatomia Humana Básica

relos podem apresentar variações relacionadas ao seu grupo étnico, p. ex., o


músculo piramidal no abdome é mais comum em brancos. Biotipo: a forma de
determinados órgãos pode estar relacionada ao biotipo, p. ex., o estômago, mais
vertical no longilíneo. Lado: podem aparecer diferenças de trajeto de algumas
estruturas em função do lado, por exemplo, a artéria branquial que pode se
dividir acima do cotovelo. Evolução: diante de sucessivas mudanças na civiliza-
ção, podem surgir novas adaptações anatomofuncionais. Meio ambiente: clima,
alimentação, altitude etc. podem também ser condicionantes de variações.

32
Introdução ao Estudo da Anatomia Humana

REFERÊNCIAS

DRAKE, R. L.; VOLGL, W A.; MITCHELL, A. W M. Gray's anatomia clínica


para estudantes. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 1103p.

LAROSA, P. R. R. Anatomia humana: texto e atlas. São Paulo: Guanabara


Koogan,2016.276p.

MARIEB, E. N.; WILHELM, P. B.; MALLAT. J. Anatomia Humana. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2014. 890p.

MO ORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 1101p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatômica. Terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001. 248p.

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14.


ed. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 2016. 1222p.

33
Ricardo Augusto Rotter Montibeller
Graduado em Fisioterapia pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de
Presidente Prudente. Mestre em Morfologia pela Universidade Federal de São
Paulo - Escola Paulista de Medicina. Atualmente é fisioterapeuta da Prefeitura
Municipal de São Paulo. Coordenador da unidade de referência à saúde do ido-
so (URSI). Tem experiência na área de Fisioterapia, com ênfase em Morfologia.

Valdemir Rodrigues Pereira


Graduado em Fisioterapia pela Fundação de Educação e Cultura de Santa
Fé do Sul. Mestre em Morfologia pela Universidade Federal de São Paulo. Do-
cente do Centro Universitário São Camilo- São Paulo. Ministra as disciplinas
de Anatomia Humana, Neuroanatomia, Anatomia em Imagens, Biomecânica
e Cinesiologia nos cursos de Graduação e Pós-graduação.
CAPÍTULO 3

Sistema Esquelético
Ricardo Augusto Rotter Montibeller
Valdemir Rodrigues Pereira

Sistema esquelético
É formado por unidades dinâmicas e em constante desenvolvimento de-
nominadas ossos. Com admirável arquitetura e composição, são capazes de
oferecer a resistência necessária para exercer a sua função de sustentação e
suportar as forças tensivas que lhe são aplicadas pelos músculos. O conjunto
destas unidades articuladas constitui o nosso esqueleto, que por estar situado
internamente é um endoesqueleto, portanto o seu desenvolvimento e cresci-
mento ocorrem concomitantemente com os demais tecidos, podendo hiper-
trofiar-se em resposta à atividade física.

Funções

Entre as funções do sistema esquelético, podemos destacar as seguintes:


+ Sustentação dos órgãos e tecidos;
+ Participação na formação do aparelho locomotor;
+ Proteção de órgãos vitais e tecidos moles vulneráveis aos impactos
como, por exemplo, o encéfalo protegido pelo crânio;
+ Depósito de sais minerais (fosfato de cálcio e carbonato de cálcio)
que representam cerca de 70% do osso e servem de suprimento para
o organismo;
+ Formação de células sanguíneas na medula óssea vermelha (hematopoiese).

Tipos de ossificação

O processo de ossificação (formação do osso) pode ocorrer de dois modos:


+ A partir de uma membrana (tecido conjuntivo denso altamente
vascularizado), tem-se a ossificação intramembranácea, como por exemplo
a formação dos ossos da calvária.
+ A partir de um modelo de cartilagem hialina, a ossificação endocondral;
como por exemplo o fêmur e o úmero.

37
Anatomia Humana Básica

Tipos de substâncias ósseas


O osso é constituído por dois tipos de substâncias ósseas:
Substância óssea esponjosa: apresenta pequenas traves, as trabéculas ósseas,
que se entrelaçam e deixam espaços entre elas, o que torna o tecido ósseo
semelhante a uma esponja.
Substância óssea compacta: onde as trabéculas ósseas estão dispostas ver-
ticalmente e de forma circular, não se observa espaços entre as mesmas,
formando um tecido mais denso.

Revestimento dos ossos


Os ossos podem ser revestidos por duas membranas:
Periósteo: reveste externamente os ossos, com exceção das superfícies articula-
res (face articular), pois, por ser áspero causaria atrito indesejado. É muito
vascularizado e inervado, importante na nutrição óssea e responsável pela
sensação de dor. Os músculos se fixam nesta membrana. Possui capacidade
osteogênica, ou seja, é capaz de produzir células ósseas, portanto é impor-
tante no crescimento do osso em espessura e para a regeneração de fraturas.

As superfícies articulares das articulações sinoviais são revestidas por car ti-
!agem articular (cartilagem hialina) e serão estudadas no capítulo 4.
Endósteo: fina membrana que reveste a cavidade medular (ossos longos) e
tem capacidade tanto osteogênica quanto hematopoiética.

Classificação morfológica
Quanto à forma, os ossos são classificados de acordo com a relação entre
as três dimensões: comprimento, largura e espessura. Desse modo temos os se-
guintes tipos de ossos:
Ossos longos: o comprimento é maior, em relação às demais dimensões. São
encontrados nos membros, como por exemplo o fêmur, o úmero e a tí-
bia. Possuem duas extremidades denominadas epífises (proximal e distai),
onde há predomínio de substância óssea esponjosa internamente, uma fina
camada de osso compacto externamente e um corpo (parte central), a di-
álise, onde há predomínio de substância óssea compacta de forma tubular,
formando uma cavidade medular, preenchida por tecido adiposo, a medula
óssea amarela. Na transição entre as epífises e a diálise durante a fase de

38
Sistema Esquelético

crescimento, existe um disco cartilagíneo denominada cartilagem epifisial.


Esse disco permite o crescimento do osso em comprimento e ao final do
crescimento o mesmo é completamente substituído por osso, mas perma-
nece uma linha como vestígio dessa região, denominada linha epifisial.
Ossos alongados: (não existem pela nomenclatura) semelhantes aos ossos
longos, porém não possuem uma cavidade medular e são curvos. Como
exemplo temos as costelas.
Ossos curtos: neste tipo, as três dimensões se equivalem. Como exemplos po-
demos citar os ossos carpais: escafoide, pisiforme e os tarsais: cuneiformes,
cuboide. A substância óssea esponjosa está localizada internamente e a
compacta por fora.
Ossos sesamoides: são ossos situados no interior de alguns tendões ou ainda
nas cápsulas articulares, portanto periarticulares. Delega-se aos maiores a
função de alterar o ângulo de tração do tendão, como por exemplo a patela.
Ossos planos: das três dimensões, a espessura é menor em relação às demais.
Como exemplo temos os ossos que formam a calvária. A substância óssea
esponjosa que se encontra entre as duas lâminas de substância compacta é
denominada díploe.
Ossos irregulares: não possuem uma forma geométrica bem definida em re-
lação às três dimensões. São ossos tortuosos com expansões e como ex em-
pios temos as vértebras e o osso do quadril. A distribuição das substâncias
ósseas assemelha-se aos ossos curtos e planos.
Ossos pneumáticos: possuem em seu interior cavidades cheias de ar. São exemplos
os ossos que constituem os seios da face: maxila, esfenoide, etmoide e frontal.

Acidentes ósseos
Os ossos não apresentam uma superfície regular, mas sim depressões e sa-
liências, denominadas acidentes ósseos, que de acordo com o formato e tama-
nho recebem diferentes nomes que seguem os seguintes critérios:
+ As saliências são denominadas: tubérculo, trocanter, cabeça,
tuberosidade, crista, espinha, côndilo, entre outros nomes. Em geral as
saliências de um osso servem como pontos de inserção aos músculos e
ligamentos ou encaixe nas cavidades articulares.
+ As depressões são denominadas: fossa, meato, foram e, cavidade, entre
outros nomes. Em geral oferecem os encaixes às saliências dos ossos nas
articulações ou passagem para as estruturas vasculares e para os nervos,
quando estas depressões são perfuradas, como é o caso dos forames.

39
Anatomia Humana Básica

Número de ossos
No total, o esqueleto humano tem aproximadamente 206 ossos, distribuí-
dos da seguinte maneira: esqueleto axial, formado pelos ossos da cabeça, co-
luna vertebral, costelas e esterno e esqueleto apendicular, formado pelos ossos
dos membros superiores e membros inferiores com seus respectivos cíngulos.

Esqueleto axial
Os ossos da cabeça são divididos em ossos do crânio, formado por 8 ossos
no interior dos quais está situado parte do sistema nervoso central, o encéfalo
e ossos da face, formada por 14 ossos que abrigam os órgãos dos sentidos: vi-
são, audição, olfato e paladar. São considerados ainda os ossículos da audição
(três pares), situados na orelha média e o osso hioide, no pescoço.

Ossos do crânio:
2 Temporais - laterais e inferiores.
2 Parietais - laterais e superiores.
1 Frontal - anterior.
1 Occipital - posterior.
1 Esfenoide - no interior do crânio.
1 Etmoide - no interior do crânio anteriormente ao esfenoide.

Ossos da face:
2 Nas ais - no dorso do nariz.
2 Conchas nasais inferiores - no interior da cavidade nasal.
2 Maxilas - participam da formação da cavidade oral, nariz e órbita.
2 Palatinos - formam a parte posterior do palato duro.
2 Zigomáticos - formam os arcos zigomáticos, junto com os temporais.
2 Lacrimais - nas paredes mediais das órbitas.
1 Vômer - forma a parte inferior do septo nasal ósseo.
1 Mandíbula - único osso móvel da face.

40
Sistema Esquelético

Nasal

Esfenoide

Zigomático
Vômer
Mandíbula Maxila

Figura 3.1- Ossos do crânio e da face - vista anterior

Figura 3.2- Ossos do crânio e da face - vista lateral

Ossículos da audição:
Martelo, bigorna e estribo, todos pares situados no interior do osso tem-
poral (orelha média).

41
Anatomia Humana Básica

Figura 3.3- Ossículos da audição (orelha média)

Osso do pescoço:
No pescoço existe um único osso situado na região anterior, o osso hioide
que não se articula com outro osso e se prende ao processo estiloide do osso
temporal através de um ligamento. As vértebras cervicais (pescoço) serão des·
critas por ocasião do estudo da coluna vertebral.

Hioide

Figura 3.4- Osso hioide

Principais acidentes ósseos da cabeça (crânio e face)

Vista inferior:
+ Forame magno - o maior orifício da cabeça, situado no osso occipital.
+ Côndilo occipital- situados lateralmente ao forame magno.
+ Processo estiloide - projeção pontiaguda do osso temporal.
+ Processo mastoide - saliência óssea do osso temporal, em forma de
mama, palpável posteriormente a orelha.
+ Processo pterigoide - situado posteriormente ao arco dental da maxila,
formado por duas lâminas e uma fossa entre elas, pertencente ao osso
esfenoide.
+ Canal carótico (abertura externa)- orifício circunscrito, situado no osso
temporal.
+ Fossa e forame jugular- situado posteriormente ao canal carótico.

42
Sistema Esquelético

Arco zigomático Zigomático

Processo pterigoideo
Palatino

Processo estiloide

Canal carótico

Côndilo occiptal

- - Parietal
Fora me magno

~ Occipital
Figura 3.5- Ossos e principais acidentes ósseos
do crânio e da face- vista inferior.

Vista anterior:
+ Abertura piriforme - abertura óssea anterior do nariz, em forma de pera
+ Órbita - abriga o bulbo do olho.
+ Lâmina perpendicular do etmoide - forma a parte superior do septo
nasal ósseo.

Lâmina perpendicular
do etmoide
Arco zigomático

Processo estiloide
Ângulo da mandíbula

Figura 3.6- Principais acidentes ósseos


do crânio e da face- vista anterior.

43
Anatomia Humana Básica

Vista lateral:
• Arco zigomático - formado por partes do osso zigomático e do osso
temporal.
• Meato acústico externo - situado anteriormente ao processo mastoide.
• Processo condi/ar da mandíbula - projeção posterior do ramo da
mandíbula, articula-se na fossa mandibular do osso temporal,
formando a articulação temporomandibular (ATM).
• Ângulo da mandíbula - seguindo em direção inferior ao processo
condilar.

Processo condilar
Arco zigomático da mandíbula
Meato acústico externo
Pocesso estiloide
-~'---- Pocesso mastoide

Ângulo da mandíbula

Figura 3_7- Principais acidentes ósseos


do crânio e da face- vista lateral.

Vista interna:
• Crista etmoidal- projeção óssea no centro da fossa anterior do crânio.
• Sela turca - situada no centro da fossa média do crânio, apresenta uma
depressão denominada fossa hipofisial que abriga a glândula hipófise.
• Asa maior do esfenoide - situada lateralmente à sela turca, colabora na
formação da fossa média do crânio.
• Parte petrosa do osso temporal - parte mais espessa do osso que se
interpõe entre a fossa média e a fossa posterior do crânio.
• Sulco do seio transverso - depressão situada na fossa posterior do crânio.
• Sulco do seio sigmoide - dá continuidade ao sulco do seio transverso e
termina no forame jugular.

44
Sistema Esquelético

Crista etmoidal

Asa maior
do esfenoide

·- - - Parte petrosa
do osso temporal
Fora me magno

Figura 3.8- Principais acidentes ósseos


do crânio- vista interna.

Coluna vertebral:
A coluna vertebral é formada por 33 vértebras distribuídas em regiões, po·
rém com algumas características que lhe são comuns e outras que são próprias
de cada segmento. Com exceção da primeira vértebra cervical denominada
atlas (não possui corpo) e da segunda vértebra, denominada áxis (possui um
dente que se projeta superiormente), as demais vértebras não possuem nomes
próprios e se assemelham quanto aos seus acidentes. Podem ser nomeadas
considerando a primeira letra de cada segmento e o número de cada uma de·
las. Exemplos: C 3 (para a terceira vértebra cervical); T 11 (para décima primeira
vértebra torácica); L4 (para a quarta vértebra lombar).

Atlas Áxis

Figura 3.9- A) primeira vértebra cervical, vista superior;


B) Segunda vértebra cervical, vista posterior.

45
Anatomia Humana Básica

Região torácica
Costelas

Figura 3.10- Coluna vertebral, tórax e pelve- vista anterior.

Regiões e características
+ Cervical - 7 vértebras. Curvatura apresenta concavidade posterior,
denominada lordose cervical.
+ Torácica- 12 vértebras, todas articuladas com as costelas.
A curvatura deste segmento apresenta convexidade posterior,
denominada cifose torácica.
+ Lombar - 5 vértebras. A curvatura é de concavidade posterior,
denominada lordose lombar.
+ Sacra/- 5 vértebras fundidas, que na contagem geral dos ossos são
consideradas como único osso (sacro). A curvatura deste segmento
unido ao segmento coccígeo apresenta convexidade posterior,
denominada cifose sacra!.
+ Coccígea - 4 vértebras também fundidas, que também são
consideradas como único osso (cóccix).

46
Sistema Esquelético

Figura 3.11 -Vértebras sacrais (Sacro) e coccígeas (Cóccix),


fundidas- vista anterior.

Principais acidentes ósseos das vértebras:


+ Corpo vertebral- parte volumosa e anterior da vértebra.
+ Processo espinhoso - projeção óssea posterior.
+ Processo transverso - projeções ósseas laterais.
+ Forame vertebral - situado posteriormente ao corpo vertebral.
+ Lâmina do arco vertebral - situada posteriormente ao forame vertebral.
+ Processos articulares - são quatro expansões ósseas com faces
articulares, duas superiores e duas inferiores.

47
Anatomia Humana Básica

Foram e
transversário
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ç_A( "o--~
(- \ vertebral
Corpo

""'-
C'
)
'· - ~~A. ~~ Processo
'

\::::: .,__~
/(.:::__~ transverso
1
í:< ~ Processo
·'/ '>J articular
Corpo
A Processo vertebral
espinhoso

Processo
espinhoso

Figura 3.12- Vértebra cervical (A), torácica (B)


e lombar (C)- vista superior.

As características próprias das vértebras de cada segmento devem ser ob-


servadas para que estas possam ser identificadas, assim como as curvaturas
fisiológicas que a coluna vertebral apresenta quando vista de lado.

48
Sistema Esquelético

Quadro 3.1 Características das vé rte bras das dife rentes reg iões

Cervical A primeira vértebra é atípica e denominada atlas, não possui


corpo e nem processo espinhoso.
A segunda vértebra também é atípica e se chama áxis, possui uma
ponta na parte superior de seu corpo denominada dente do áxis.
As vértebras típicas possuem o foram e transversário no
seu processo transverso e uma massa lateral em seu corpo
denominada unco do corpo.
Torácica Seu processo espinhoso pontiagudo projeta-se posterior e
inferiomente; possuem em seu corpo. lateralmente as fóveas
costais superiores e inferiores para articular-se com as costelas.
Lombar Tem o maior corpo em relação às vértebras das demais regiões,
seu processo espinhoso é largo e. em vez de processos transversos.
encontramos os processos costiformes.

Sacra! Cinco vértebras fundidas (osso sacro); tem formato triangular.


Articula-se com os ossos do quadril.
Coccígea Três a quatro vértebras fundidas (osso cóccix) que diminuem de
tamanho quanto mais distalmente se encontram.

Entram ainda na composição dos ossos do tronco as costelas e o esterno,


este último localizado anteriormente, no tórax, divide-se em três regiões: o
manúbrio do esterno (parte superior), o corpo do esterno (par te média) e o pro-
cesso xifoide (parte inferior). As costelas são classificadas em: verdadeiras (7 ou
8 primeiras), quando suas car tilagens costais chegam ao osso esterno;falsas (3
ou 2 seguintes), quando suas cartilagens chegam a cartilagem da última costela
verdadeira e flutuantes, por terem suas extremidades anteriores livres.

Principais acidentes ósseos das costelas:


+ Cabeça da costela - parte que se ar ticula com o corpo ver tebral.
+ Tubérculo da costela - parte que se articula com os processos
transversos das vértebras torácicas.
+ Corpo da costela - parte curva adiante do tubérculo da costela.
+ Su lco da costela - situado na face interna e inferior do corpo da costela.

49
Anatomia Humana Básica

Cabeça da costela

Processo xifoide

Figura 3.13- Esterno e costela -vista anterior.

Esqueleto apendicular

Membros superiores

Os membros superiores apresentam 64 ossos distribuídos em quatro regiões:

Cíngulo do membro superior

Escápula - posterior ao tronco.

Principais acidentes ósseos da escápula:

+ Espinha da escápula - saliência óssea alongada situada


posteriormente, palpável no dorso.
+ Fossa supraespinal - depressão situada acima da espinha da escápula.
+ Fossa infraespinal - depressão situada abaixo da espinha da escápula.
+ Acrômio - projeção óssea lateral contínua à espinha da escápula.
+ Processo coracóide- projeção óssea anterior.
+ Fossa subescapular- situada na face anterior, direcionada para as costelas.
+ Cavidade glenoidal- situada lateralmente recebe a cabeça do úmero
para formar a articulação do ombro.

Clavícula - anterior ao tronco.

Principais acidentes ósseos:

+ Extremidade esternal- mais volumosa, mediai e articula-se com o


osso esterno.
+ Extremidade acromial- mais achatada, lateral e articula-se com o
acrômio da escápula.
50
Sistema Esquelético

Parte livre do membro superior

Braço
Úmero - único osso do braço.

Principais acidentes ósseos:


+ Cabeça do úmero - saliência esférica direcionada medialmente situada
na extremidade proximal.
+ Colo anatômico - estreitamento abaixo da cabeça.
+ Tubérculo maior - saliência lateral à cabeça do úmero na
extremidade proximal.
+ Tubérculo menor- saliência anterior na extremidade proximal.
+ Sulco intertubercular- depressão situada entre os tubérculos maior e menor.
+ Tróclea do úmero - saliência em forma de carretel situada na
extremidade distai.
+ Capítulo do úmero - saliência lateral à tróclea do úmero.
+ Epicôndilo mediai - saliência mediai pronunciada na extremidade distai.
+ Epicôndilo lateral- saliência lateral, menos pronunciada em relação à
mediai na extremidade distai.

Espinha da escápula
supraes~al/
/!C-
Fossa / Acrômio
Tubérculo maior \ _ ~ · y
---------A ../ 1'\ Cavidadeglenoidal
Sulco _
lnt~rtubercular 7 "\
\,· ~
Cabeça do úmero

Tuberculo menor ) 1\ ~ Fossa do olécrano


.
Cap1tulo do umero
. J Fossa infraespinal
~ Tróclea do umero
.

~
1 / Fossa coronoide
Epicôndilo lateral y . _ . . _ .
------ , Ep 1condllo _ - - EpKond1lo lateral
~ mediai
Figura 3.14- Clavícula, escápula e úmero-
A) vista anterior e B) vista posterior

51
Anatomia Humana Básica

Antebraço
Rádio - osso lateral.

Principais acidentes ósseos:


+ Cabeça do rádio - situada na extremidade proximal.
+ Colo do rádio - estreitamento abaixo da cabeça
+ Tuberosidade do rádio - saliência rugosa anterior e mediai na
extremidade proximal.
+ Processo estiloide do rádio - projeção óssea lateral na extremidade distai.
+ Incisura ulnar - depressão mediai em forma de C na extremidade distai.

Ulna - osso mediai.

Principais acidentes ósseos:


+ Olécrano - projeção óssea posterior na extremidade proximal
+ Processo coronoide- projeção óssea anterior na extremidade proximal.
+ Tuberosidade da ulna - saliência óssea anterior, rugosa, na
extremidade proximal.
+ Incisura troclear - depressão anterior em forma de C na
extremidade proximal.
+ Incisura radial - depressão lateral em forma de C na extremidade proximal.
+ Cabeça da ulna - situada na extremidade distai.
+ Processo estilóide da ulna - projeção óssea em ponta na extremidade distai.

Cabeça do rádio Processo coronoide


Tuberosidade
do rádio lncisura radial

Cabeça da ulna

Processo estiloide Processo estiloide


do rádio ~ da ulna

Figura 3.15- Rádio e ulna- Vista anterior.

52
Sistema Esquelético

Mão
Dividida em três regiões: ossos carpais, ossos metacarpais e falanges.
A região carpa! é composta por 8 ossos dispostos em duas fileiras. Descritos
de lateral para mediai, observamos, em cada fileira, os seguintes ossos:

+ Fileira proximal- escafoide; semilunar; piramidal; pisiforme;


+ Fileira distai - trapézio; trapezoide; capitato; hamato.

A região metacarpal é composta por 5 ossos e numerados de lateral para


mediai: I, II, III, IV e V metacarpal.
Os dedos são compostos por falanges: proximal, média e distai, com exce-
ção do polegar, que possui apenas as falanges proximal e distai.

Falange proximal

Falange média
Falange distai
Falange distai

Figura 3.16- Ossos carpais, metacarpais e falanges- Vista anterior.

53
Anatomia Humana Básica

Membros Inferiores
Os membros inferiores apresentam 62 ossos distribuídos em quatro regiões:

Cíngulo do membro inferior

Osso do quadril - considerado como único elemento ósseo na contagem


geral. Formado pela fusão de três ossos: ílio (superior), ísquio (inferior e pos-
terior) e púbis (inferior e anterior) . Principais acidentes ósseos:

+ Crista ilíaca - extensa crista arqueada na parte superior do osso ílio.


+ Fossa ilíaca - depressão na face mediai da asa do osso ílio.
+ Espinha ilíaca anterossuperior- saliência óssea que marca o limite
anterior da crista ilíaca.
+ Espinha ilíaca anteroinferior- saliência óssea situada abaixo da espinha
ilíaca anterossuperior.
+ Face auricular - superfície na face mediai e posterior, em forma de orelha.
+ Acetábulo - cavidade esferoide na face lateral formada pelos três
ossos do quadril.
+ Forame obturado - grande abertura na parte inferior do osso do quadril
+ Espinha isquiática - projeção óssea posterior ao acetábulo.
+ Túber isquiático - saliência óssea rugosa abaixo da espinha isquiática.

Asa do sacro Crista ilíaca


Espinha ilíaca
Anterossuperior \
Cabeça do fêmur'0-
Colo do fêmur ~
t"'
Trocanter maior ~ Túber _ _~..,
isquiático

A
Patela

Côndilo
mediai

Figura 3.17- Pelve (ossos do quadril e sacro) e fêmur- A) Vista


anterior e B) vista posterior.

54
Sistema Esquelético

Parte livre do membro inferior

Coxa

Fêmur - maior osso do corpo humano.

Principais acidentes ósseos:

+ Cabeça do fêmur- saliência óssea esférica situada na extremidade


proximal, direcionada para o plano mediano.
+ Colo do fêmur- estreitamento abaixo da cabeça.
+ Trocanter maior - saliência óssea lateral situada na extremidade proximal.
+ Trocanter menor - saliência óssea póstero-medial situada na
extremidade proximal.
+ Linha áspera - situada posteriormente no corpo do fêmur.
+ Côndilo mediai- saliência óssea mediai que se projeta posteriormente
na extremidade distai.
+ Côndilo lateral- saliência óssea lateral que se projeta posteriormente
na extremidade distai.
+ Face patelar - superfície lisa anterior na extremidade distai.

Perna

Tíbia - osso volumoso e mediai.

Principais acidentes ósseos:

+ Côndilo mediai- situado na extremidade proximal, apresenta uma face


articular superior para o côndilo mediai do fêmur.
+ Côndilo lateral - situado na extremidade proximal, apresenta uma face
articular superior para o côndilo lateral do fêmur.
+ Eminência intercondilar - situada entre os côndilos tibiais.
+ Tuberosidade da tíbia - saliência óssea anterior situada na
extremidade proximal.
+ Maléolo mediai - projeção óssea mediai situada na extremidade distai.
+ Incisura fi bula r - concavidade lateral na extremidade distai.

Fíbula - osso delgado e lateral.

Principais acidentes ósseos:

+ Cabeça da fíbula - situada na extremidade proximal.


+ Maléolo lateral - situado na extremidade distai.
55
Anatomia Humana Básica

Patela- é o maior osso sesamoide e o único entre estes que entra na conta-
gem geral dos ossos do esqueleto, está situada no joelho.

Côndilo lateral
Côndilo mediai

Cabeça da fíbula / Tuberosidade


da tíbia

I
Maléolo lateral '-.....J. Maléolo mediai

Figura 3-18- Tíbia e fíbula- Vista anterior.


Dividido em três regiões: ossos tarsais, ossos metatarsais e falanges.
A região tarsal é composta por 7 ossos: calcâneo (posterior e inferior), tâlus
(posterior e superior), navicular (anterior ao tálus), cuboide (anterior ao calcâ-
neo), cuneiformes lateral, intermédio e mediai (anteriores ao navicular).
A região metatarsal é composta por 5 ossos, contados de lateral para mediai:
I, II, III, IV e V metatarsal.
Os dedos são compostos por falanges: proximal, média e distai, com exce-
ção do hálux, que possui apenas as falanges proximal e distai.

56
Sistema Esquelético

Cubo ide Navicular

Cuneiforme intermédio
Cuneiforme lateral

-+- - - Cuneiforme mediai

Falange proximal

Falange média
Falange proximal

Falange distai

Figura 3.19- Ossos tarsais, metatarsais e falanges - Vista superior.

57
Anatomia Humana Básica

REFERÊNCIAS

DRAKE, R. L.; VOLGL, W A.; MITCHELL, A. W M. Gray's anatomia clínica


para estudantes. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 1103p.

LAROSA, P. R. R. Anatomia humana: texto e atlas. São Paulo: Guanabara


Koogan,2016.276p.

MARIEB, E. N.; WILHELM, P. B.; MALLAT. J. Anatomia Humana. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2014. 890p.

MO ORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio


de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 1101p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatômica. Terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001. 248p.

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14.


ed. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 2016. 1222p.

58
Sérgio Ricardo Rios Nascimento
Mestre em Morfologia -Departamento de Biologia Estrutural e Funcional pela
UNIFESP/EPM, São Paulo - SP Especialista em Anatomia Macroscópica e por
Imagens pelo Centro Universitário São Camilo. Tecnólogo em Radiologia atuan-
do com Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM) no
Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Docente no Centro Universitário São Camilo nas
disciplinas de Anatomia humana, Anatomia Seccional por TC e RM, e Técnicas
Anatômicas, nos cursos de graduação e pós-graduação.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
As articulações são uniões entre os ossos que permitem movimentos, se-
jam amplos ou mínimos, de acordo com a função destinada. Para isto, elas
possuem características próprias para permitir o movimento adequado de
cada região. Por exemplo: as articulações do crânio de adultos são imóveis,
pois se permitissem movimentos amplos seriam prejudiciais ao encéfalo
contido internamente, já as articulações dos ossos do joelho, além de serem
fortes para sustentar o peso corporal, precisam permitir os movimentos
amplos para poder caminhar, correr e flexionar. Assim, ao longo da nossa
existência, as articulações que unem os ossos de cada região do corpo foram
desenvolvidas para desempenhar da melhor forma o seu papel, de acordo
com as necessidades fisiológicas da região.
Com o envelhecimento, o desgaste das articulações, juntamente com
as alterações do metabolismo das células do local, propicia o desenvolvi-
mento de doenças articulares. O conhecimento anatómico e fisiológico
das articulações constitui a base teórica para o diagnóstico, além de nor-
tear o regime terapêutico para cada tipo de problema articular.

Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre- Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre - Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

62
CAPÍTUL04

SISTEMA ARTICULAR
Sérgio Ricardo Rios Nascimento

Articulações são regiões do esqueleto onde duas ou mais estruturas rí-


gidas se encontram e se articulam. Estas junções podem ocorrer entre dois
ou mais ossos, entre ossos e dentes, ossos e cartilagens, ou entre cartilagens.
As funções das articulações incluem a facilitação do crescimento, e a distri-
buição do peso e das forças mecânicas entre os ossos, funcionando também
como alavancas durante os movimentos do corpo. Entretanto, uma articula-
ção não é necessariamente sinônimo de movimento, pois muitas articulações
permitem apenas movimentos muito limitados ou tão somente vibrações. A
estrutura de uma determinada articulação está diretamente relacionada com
seu grau de movimento.
As articulações são classificadas estruturalmente de acordo com o teci-
do interposto e o formato das superfícies que se articulam. As articulações
também podem ser classificadas de acordo com seu grau de movimento,
em sinartroses (articulações imóveis), anfiartroses (levemente móveis), ou
diartroses (livremente móveis), porém esta classificação funcional não será
abordada nesta obra.

CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES

ARTICULAÇÕES FIBROSAS

Nas articulações fibrosas o tecido interposto é do tipo conjuntivo fibroso e o


grau de movimento dependerá do comprimento das fibras que unem as partes,
entretanto a grande maioria das articulações fibrosas não permitem movimen-
tos amplos. A maior parte deste tipo de articulação é encontrada no crânio.
As articulações fibrosas são subdivididas em suturas, gonfoses e sindesmoses.

Articulação Fibrosa Sutura

As suturas são como emendas entre os ossos do crânio, entre os quais há


interposição de tecido conjuntivo fibroso. No crânio de um recém-nascido os
ossos estão mais afastados sendo separados por uma membrana fibrosa deno-
minada fontículo. Esta membrana torna o crânio do neonato flexível durante o

63
Anatomia Humana Básica

processo de nascimento (passagem pelo canal de parto) e também permite o


crescimento e desenvolvimento da cabeça e do encéfalo após o nascimento.
No crânio adulto esta membrana ossificou-se, estando os ossos separados por
uma fina camada de tecido fibroso. As margens dos ossos dentro destas suturas
sofrem ossificação intramembranácea contínua, sendo que muitas suturas se
tornarão finalmente ossificadas em um só osso. Quando uma sutura se torna
totalmente ossificada ela é chamada de sinostose.
As suturas são classificadas quanto ao formato de encaixe entre os ossos.

+ Articulação fibrosa sutura plana - o formato das superfícies que se


articulam é plano. Exemplo: sutura internasal (entre os ossos nasais), e
sutura intermaxilar (entre as maxilas).
+ Articulação fibrosa sutura serrátil - o formato das superfícies que se
articulam é serrilhado, como os dentes de uma serra. Exemplo: sutura
sagital (entre os ossos parietais), sutura coronal (entre os ossos frontal
e parietais), e sutura lambdoidea (entre os ossos occipital e parietais).
+ Articulação fibrosa sutura escamosa- o formato das superfícies que se
articulam é em bisei, e as margens ósseas que se articulam estão sobre-
postas como as escamas de um peixe. Exemplo: sutura escamosa (entre
os ossos temporal e parietal).
+ Articulação fibrosa sutura esquindilese - a crista de um osso se en-
caixa na depressão em forma de calha de outro osso. Exemplo: sutura
esfenovomeral (entre os ossos vômer e esfenoide).

Figura 4.1 -A- Articulação fibrosa sutura plana, B- Articulação


fibrosa sutura serrátil, C- Articulação sutura escamosa

64
Sistema Articular

Fontículo - - - -r'F
anterior
Fontículo
posterior

Fontículo
anterior - -+----c---:-=7.;J
lateral ,1·-+--~'----- Fontículo
posterior
lateral

Figura 4.2- Crânio fetal (vista superolateral)

Articulação fibrosa gonfose


A gonfose é uma articulação especializada encontrada somente entre os
dentes e os alvéolos dentais da mandíbula e das maxilas. As superfícies de jun-
ção são como pinos em um soquete, possuindo tecido conjuntivo fibroso in-
terposto. Esta articulação possui grau de movimento muito leve, permitindo
leve acomodação e vibração dos dentes durante a mastigação.

Articulação fibrosa sindesmose


A sindesmose é uma articulação onde as estruturas que se articulam estão
unidas por ligamentos ou por uma membrana. O grau de movimento desta
articulação é restrito a pequenos movimentos uma vez que o tecido interposto
é flexível, como por exemplo a sindesmose radiulnar, na qual uma membrana
fibrosa une os ossos rádio e ulna.

65
Anatomia Humana Básica

Figura 4.3- A- Articulação fibrosa esquindilese, B- Articulação


fibrosa gonfose, C- Articulação fibrosa sindesmose

ARTICULAÇÕES CARTILAGÍNEAS

Nas articulações cartilagíneas a união entre os ossos é feita por cartilagem,


podendo ser classificadas como primárias (sincondroses) ou secundárias (sín-
fises), dependendo do tipo de cartilagem interposta. Estas articulações tendem
a ser menos rígidas que as articulações fibrosas, permitindo pequenos movi-
mentos ou certa flexibilidade.

Articulação cartilagínea sincondrose

A cartilagem existente entre os ossos neste tipo de articulação é do tipo


hialina. A maioria das sincondroses é temporária e estão associadas ao cresci-
mente longitudinal dos ossos. Estas lâminas cartilagíneas são denominadas car-
tilagens epifisiais e estão entre as epífises e diálises dos ossos, sendo nomeadas
clinicamente por cartilagens de crescimento, e ao final do período de crescimen-
to ósseo estas cartilagens sofrem sinostose, unindo a diálise e a epífise do osso.
Outro exemplo de sincondrose é a articulação esfenoccipital (entre os ossos es-
fenoide e occipital).

66
Sistema Articular

Articulação cartilagínea sínfise

É a articulação na qual as superfícies ósseas contíguas são unidas por car-


tilagem do tipo fibrosa (fibrocartilagem). Todas as sínfises estão localizadas
no plano sagital mediano do corpo. Os discos localizados entre cada um dos
corpos vertebrais das vértebras da coluna vertebral são exemplos de arti-
culações cartilagíneas do tipo sínfise, sendo cada disco denominado sínfise
intervertebral. Outro exemplo desta articulação é o disco que une os dois
ossos púbis, chamado de sínfise púbica.

Figura 4.4- A- Sínfise intervertebral (corte sagital), B- Sínfise púbica

ARTICULAÇÕES SINOVIAIS
As articulações sinoviais são anatomicamente mais complexas que as ar-
ticulações fibrosas e cartilagíneas, e constituem a grande maioria das articu-
lações presentes no esqueleto apendicular. Nestas articulações as estruturas
envolvidas não são contíguas em sua união como ocorre nas articulações
fibrosas e cartilagíneas.
Nas articulações sinoviais as estruturas que se articulam estão envoltas por
uma cápsula de tecido fibroso denominada cápsula articular composta por
duas camadas, externamente pela membrana fibrosa e revestida interna-
mente pela membrana sinovial.
A cápsula articular contém em seu interior (denominado cavidade arti-
cular) um líquido viscoso chamado sinóvia, que lubrifica as partes móveis
facilitando o deslizamento entre as superfícies que se articulam, sendo tam-
bém responsável pela manutenção e nutrição da cartilagem hialina que reveste
as superfícies articulares dos ossos, chamada de cartilagem articular, a qual
possui importante papel na redução do atrito durante o movimento.
67
Anatomia Humana Básica

A cápsula articular é também responsável por manter a junção entre as es-


truturas envolvidas, e para auxiliar esta função ela é reforçada por ligamentos.
Os ligamentos servem ainda para limitar os movimentos dentro das amplitu-
des consideradas normais, e são classificados quanto à sua posição em relação
à cápsula. Aqueles situados internamente são denominados ligamentos intra-
capsulares, os situados externamente são ligamentos extracapsulares, e os
situados na própria cápsula e considerados como espessamentos da cápsula
são denominados ligamentos capsulares.

Membrana sinovial

(preenchida por sinóvia)

_l_o_s_so_l_ ____..l~ 1o_s_so_l__


___,____
Tecido interposto

Figura 4.5- A- Articulação sinovial, B- Articulação fibrosa

Em algumas articulações sinoviais onde as superfícies articulares dos ossos


são desiguais ou pouco congruentes, existem estruturas fibrocartilagíneas seme-
lhantes a uma almofada ou coxim, denominadas discos articulares. Um tipo
específico destas estruturas, semelhante a um disco incompleto em formato de
meia lua, é denominado menisco articular. A função destas estruturas é ainda
incerta e discutida entre diversos autores, sugestões a partir de dados estruturais
e analogias mecânicas incluem: fornecer melhor adaptação entre as superfícies
que se articulam, aperfeiçoando o encaixe, absorção de impactos e distribuição
do peso, facilitar determinados movimentos e proteger as margens articulares.
Além destas estruturas, as articulações do ombro e do quadril possuem,
em suas margens articulares, um anel fibrocartilagíneo que serve para apro-
fundar as cavidades articulares aumentando o contato entre as superfícies, de-
nominado lábio articular e nomeados respectivamente como lábio glenoidal
e lábio do acetábulo.

68
Sistema Articular

EIXOS DO CORPO HUMANO

Eixos são linhas imaginárias traçadas no indivíduo em posição anatômica.


+ Eixo sagital (anteroposterior)- une o centro do plano frontal anterior
ao centro do plano frontal posterior.
+ Eixo longitudinal - une o centro do plano horizontal superior ao cen-
tro do plano horizontal inferior.
+ Eixo transversal - une o centro do plano lateral direito ao centro do
plano lateral esquerdo.

A B c
Figura 4.6- A- Eixo sagital, B- Eixo longitudinal, C- Eixo transversal

Considerando a capacidade de realizar movimentos que as articulações si-


noviais possuem, faremos aqui uma breve descrição dos principais movimen-
tos do corpo:

+ Flexão - movimento onde ocorre a aproximação de um segmento do


corpo em relação a outro, diminuindo o ângulo entre eles. Movimento
realizado em torno do eixo transversal.
+ Extensão - é o movimento oposto à flexão, ocorre o aumento do ângulo
e da distância entre os segmentos. Movimento realizado em torno do
eixo transversal.
69
Anatomia Humana Básica

• Abdução- o segmento corpóreo se distancia do plano mediano. Movi-


mento realizado em torno do eixo sagital.
• Adução - é o movimento oposto à abdução, ou seja, o segmento do
corpo se aproxima do plano mediano. Movimento realizado em torno
do eixo sagital.
• Rotação mediai - o segmento do corpo roda em direção ao plano me-
diano. Movimento realizado em torno do eixo longitudinal.
• Rotação lateral - é o movimento oposto à rotação mediai, ou seja, o
segmento corpóreo roda em direção ao plano lateral. Movimento reali-
zado em torno do eixo longitudinal.
• Circundução - movimento resultante da somatória dos movimentos
de flexão, abdução, extensão e adução, e cujo segmento corpóreo que se
move descreve a figura de um cone.

Figura 4.7- A- Rotação (eixo longitudinal),


B- Abdução (eixo sagital), C- Flexão (eixo transversal)

70
Sistema Articular

CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS

As articulações sinoviais são classificadas de acordo com o formato de suas


superfícies articulares e o tipo de movimento permitido. O grau de liberdade
de uma articulação está relacionado ao número de eixos com os quais se per-
mite a realização de movimentos. Quando a articulação permite movimento
em torno de um único eixo dizemos que seu grau de liberdade é um, se em tor-
no de dois eixos seu grau de liberdade será dois, e se o movimento é permitido
nos três eixos seu grau de liberdade será três.

Articulação sinovial plana: articulação na qual as superfícies que se articulam


são planas ou ligeiramente curvas, e o movimento ocorre por deslizamento
entre estas "placas'; portanto não possui um eixo de movimento e o grau de
liberdade é zero. Exemplo: articulação acromioclavicular.

Figura 4.8- Articulação sinovial plana

Articulação sinovial trocoidea: neste tipo de articulação um pivõ ósseo se


encaixa em um anel fibroso permitindo apenas movimentos de rotação em
torno do eixo longitudinal, sendo, portanto, o grau de liberdade um. Ex em-
pios: articulações atlantoaxial mediana e radiulnar proximal.

Figura 4.9- Articulação sinovial trocoidea

71
Anatomia Humana Básica

Articulação sinovial gínglimo: articulação onde uma superfície em forma


de carretel encaixa-se em uma incisura, semelhante a uma dobradiça per-
mitindo movimentos somente em torno do eixo transversal, ou seja, grau
de liberdade um. Exemplos: articulações umeroulnar e interfalângicas das
mãos e dos pés.

Figura 4.10- Articulação sinovial gínglimo

Articulação sinovial selar: as superfícies que se articulam são cõncavo-conve-


xas, ou seja, ao mesmo tempo convexas em um plano e cõncava em outro
plano, ocorrendo o ajuste recíproco entre elas permitindo movimentos ao
redor dos eixos sagital e transversal, portanto seu grau de liberdade é dois.
Exemplo: articulação carpometacarpal do polegar.

Figura 4.11 -Articulação sinovial selar

Articulação sinovial elipsoidea: uma saliência oval se encaixa em uma cavi-


dade elíptica permitindo movimentos ao redor dos eixos sagital e transver-
sal, portanto o grau de liberdade é dois. Exemplo: articulação radiocarpal.

72
Sistema Articular

Figura 4.12- Articulação sinovial elipsoidea

Articulação sinovial esfeoidea: as superfícies que se articulam. cabeça e ca·


vidade, possuem o formato esférico e permitem movimentos ao redor dos
três eixos, sendo, portanto, o grau de liberdade três. Este tipo de articula·
ção sinovial é a única que realiza o movimento de circundução completo.
Exemplos: articulações do ombro e do quadril.

Figura 4.13- Articulação sinovial esferoidea

73
Anatomia Humana Básica

Quadro 4.1 Principais articulações do corpo humano

74
Sistema Articular

30 Metatarsofalângicas Entre os metatarsais e as falanges


proximais do pé
31 lnterfalângicas do pé (proximal e Entre as falanges do pé
distai)

RESUMO DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS


DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS

+ Cápsula articular: tecido conjuntivo denso que envolve as regiões que se


articulam, protegendo a articulação e limitando seu movimento em sua
amplitude normal. Contém em seu interior a sinóvia.
+ Membrana sinovial: membrana fina que reveste internamente a cápsula
articular sendo responsável pela produção e reabsorção da sinóvia.
+ Sinóvia: líquido viscoso responsável pela lubrificação da articulação e
nutrição da cartilagem articular.
+ Ligamento intracapsular: ligamento que se prende aos ossos no interior
da cápsula articular.
+ Ligamento extracapsular: ligamento que se prende aos ossos no exterior
da cápsula articular.
+ Cartilagem articular: camada lisa de cartilagem que reveste a região dos
ossos que se articulam, evitando o atrito entre eles.
+ Disco articular: coxim fibrocartilagíneo que atuam no amortecimento
de impactos e compatibilizam os ossos que se articulam. Estrutural-
mente divide a cavidade articular em dois compartimentos.
+ Menisco articular: disco fibrocartilagíneo incompleto com funções seme-
lhantes ao disco articular. Não divide a cavidade articular por serem dis-
cos incompletos, semelhantes a um disco articular com uma abertura no
centro, ou em formato de meia lua (Meniscus (L) = meio disco).
+ Lábio articular: borda circular de fibrocartilagem que circunda a mar-
gem óssea da cavidade glenoidal na escápula e do acetábulo no osso
do quadril, aprofundando as cavidades articulares das articulações do
ombro e do quadril, aumentando a área de contato e melhorando o
encaixe ósseo.

75
Anatomia Humana Básica

ilagem

articular+
Membrana
sinóvia
sinovial

Figura 4.14- Articulação do ombro (corte coronal)

Figura 4.15- Articulação do joelho (corte sagital)

76
Sistema Articular

REFERÊNCIAS

MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. Anatomia orientada para a


clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatômica. Terminologia Anatômica Internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

STANDRING, S. GRAY'S Anatomia: A base anatômica da prática clínica. 40.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

VANPUTTE, C. L.; REGAN, J. L.; RUSSO, A. F. Anatomia e Fisiologia de


Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14.


ed. Rios de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.

77
Ricardo Augusto Rotter Montibeller
Graduado em Fisioterapia pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de
Presidente Prudente. Mestre em Morfologia pela Universidade Federal de São
Paulo - Escola Paulista de Medicina. Atualmente é fisioterapeuta da Prefei-
tura Municipal de São Paulo. Tem experiência na área de Fisioterapia, com
ênfase em Morfologia.

Eduardo Pereira
Graduado em Educação Física pelas Faculdades Integradas de Guarulhos.
Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo. Tem experiência
em cursos da área da saúde, nas disciplinas de Anatomia do Aparelho Lo-
comotor, Neuroanatomia e Anatomia Humana Geral. Docente do curso de
especialização em Anatomia Macroscópica e Recursos Técnicos Laboratoriais
aplicados à Morfologia do Centro Universitário São Camilo.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
O homem é constituído, em grande parte, de músculos que representam
40% do peso corporal. Por meio da contração muscular, podemos realizar nu -
merosas funções no organismo, dentre as quais a locomoção, a produção de
calor do corpo, o processo de progressão alimentar dentro dos tubos do sis-
tema digestório, a condução da urina formada pelos rins até a bexiga para ser
eliminada, o processo do controle da pressão arterial pela contração ou relaxa-
mento dos músculos da parede das artérias, entre outras numerosas funções.
Os músculos também proporcionam forma ao indivíduo e constituem uma
barreira de defesa aos órgãos vitais.
Assim sendo, os músculos, que por meio de suas contrações proporcionam
desde a defesa contra agressões externas como também a homeostase (equilí-
brio) interna do corpo humano, constituem-se de elementos essenciais para a
manutenção da vida e consequente perpetuação da espécie humana.

Ivan Hong Jung Koh '

1 Graduado em Medicina pela Unive rsidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias
e Cirurgia Experimental pela Universidade Federa l de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre-Doce nte pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre-Doce nte
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

80
CAPÍTULO 5

SISTEMA MUSCULAR
Ricardo Augusto Rotter Montibeller
Eduardo Pereira

Os músculos realizam importantes funções, como movimento, postura,


sustentação do corpo e produção de calor. Existem três tipos de músculos:

1 -Músculo esquelético
Também chamados de músculos estriados, porque tem estrias quando vis-
tos ao microscópio. São os músculos que se fixam principalmente no esque-
leto, mas podem se fixar também na pele, cartilagens, cápsula articular ou em
outros músculos esqueléticos. São músculos voluntários e recebem inervação
do sistema nervoso somático. Suas células musculares, ou fibras musculares,
são multinucleadas e alongadas, estando entre as maiores células do corpo,
podendo passar dos 30cm de comprimento. Possui receptores para dor e pro-
prioceptores que nos permite, mesmo de olhos fechados, saber se o músculo
está contraído ou relaxado, e a contração é brusca.

2- Músculo liso
São os músculos encontrados nas paredes das vísceras, vasos sanguíneos,
vias respiratórias, pele. O controle destes músculos é feito pelo sistema ner-
voso autônomo que se divide em duas porções antagônicas: a parte simpá-
tica e a parte parassimpática.
Quando observamos as fibras musculares ao microscópio, notamos que seu
aspecto é de densidade óptica uniforme, ou seja, é liso, sem estrias. Suas células
são fusiformes, uninucleadas, possuem receptores para dor, mas não possuem
proprioceptores e a contração é lenta.

3- Músculo cardíaco
Outro tipo de músculo encontrado no corpo humano é o cardíaco que
apresenta semelhanças estruturais com o músculo esquelético por ser estriado,
e semelhanças funcionais com o músculo liso por ser involuntário.

81
Anatomia Humana Básica

O conteúdo, que se segue, refere-se ao músculo estriado esquelético.

Componentes anatômicos
Observando macroscopicamente um músculo esquelético, pode-se facil-
mente identificar uma parte central denominada ventre muscular, que é ver-
melha no indivíduo vivo devido à presença de mioglobina, onde predominam
fibras musculares com capacidade de contração.
Nas extremidades, encontram -se os tendões, estruturas anatômicas muito
resistentes e esbranquiçadas que servem para fixar o músculo aos ossos. Uma
variedade de tendão de forma laminar está presente em alguns músculos e
é denominado aponeurose. E certos tendões são conhecidos como bainhas
tendíneas, pois tem uma camada interna e uma externa, com uma camada de
líquido sinovial entre elas, para reduzir o atrito. Encontram-se principalmente
no punho e tornozelo.

Fáscia muscular
Um tecido conjuntivo denominado fáscia muscular envolve os músculos
como uma bainha elástica, permitindo a movimentação dos músculos e con-
tendo nervos, vasos sanguíneos e linfáticos. Septos oriundos de espessamentos
desta fáscia projetam-se para planos profundos e fixam-se aos ossos, separan-
do os segmentos corpóreos em compartimentos que contêm, em seu interior,
os grupos musculares que em geral recebem a mesma inervação e realizam as
mesmas ações.

Origem e inserção
Para mover um segmento do corpo, o músculo precisa ligar-se no míni-
mo a dois ossos diferentes pelas duas pontas e atravessar pelo menos uma
articulação. Ao se contrair, a força de tração exercida pelos tendões é igual
em ambas as pontas, porém pela diferença de massa ou por estabilização,
um dos ossos não se move ou o seu deslocamento é mínimo. O local onde
o músculo se fixa a este osso denomina-se origem. Em contraposição, o
ponto onde o músculo se fixa ao osso, que se desloca, denomina-se inser-
ção. Existem várias situações físicas em que o músculo pode inverter a par-
te que se move com a que se mantém fixa, mas em geral as origens são
proximais nos membros e mediais no tronco, enquanto as inserções
são distais nos membros e laterais no tronco.

82
Sistema Muscular

lnervação e suprimento sanguíneo


A contração do músculo esquelético ocorre devido ao estímulo veiculado
pelo nervo que penetra no músculo e se divide em vários ramos terminando
em placas motoras situadas nas fibras musculares. O número de fibras mus-
culares inervadas por uma única fibra nervosa denomina-se unidade motora
que varia de unidades quando o músculo realiza trabalho de grande precisão;
até centenas, quando o trabalho realizado pelo músculo exige potência. Além
das fibras motoras, o nervo contém fibras sensitivas que veiculam, por exem-
plo, a dor e a propriocepção.
Uma artéria e uma veia podem acompanhar o nervo que chega em cada
músculo e levam o oxigênio e nutrientes para as fibras musculares e recolhem
os produtos residuais e calor resultantes do metabolismo.

Classificação
Considerando como critério os componentes anatômicos:

+ Número de tendões de origem (cabeças):


Bíceps - duas cabeças
Tríceps - três cabeças
Quadríceps - quatro cabeças

+ Número de inserções (caudas):


Unicaudado - uma cauda
Bicaudado - duas caudas
Policaudado - mais de duas caudas

+ Número de ventres:
Univentre- um ventre
Biventre ou digástrico - dois ventres
Poliventre - mais de dois ventres

Classificação de acordo com a forma do músculo:


+ Músculos planos: suas fibras são paralelas. Ex. m. sartório
+ Músculos peniformes: semelhantes a penas. Podem ser
semipeniformes (m. extensor longo dos dedos), peniformes (m. reto
femoral), multipeniforme (M. deltoide)
+ Músculos fusiformes: formato de fuso, com ventre largo e
extremidade estreita. Ex.: m. bíceps braquial

83
Anatomia Humana Básica

• Músculos triangulares (convergentes): Ex.: m. peitoral maior


• Músculos quadrados: Ex.: m. quadrado femoral
• Músculos circulares ou esfincterianos: circundam uma abertura ou
orifício. Ex.: m. orbicular do olho

Considerando como critério o papel que o músculo


desempenha:

• Agonista - é quando o músculo sofre contração concêntrica (encurta-


mento) e resulta em movimento articular desejado. Por exemplo, o mús-
culo bíceps braquial é agonista para o movimento de flexão do antebraço.
• Antagonista - é aquele que se opõe ao movimento realizado pelo ago-
nista. Por exemplo, o músculo tríceps braquial é antagonista para o mo-
vimento de flexão realizado pelo bíceps braquial. O músculo que atua
como antagonista tem um importante papel na coordenação motora,
freando e reduzindo a velocidade do movimento realizado pelo agonis-
ta e por este motivo está mais susceptível às lesões, pois a contração é
excêntrica (alongamento).
• Sinergista -é aquele que auxilia o agonista ou se contrai para neutralizar
um movimento indesejado. Por exemplo, ao contrairmos o músculo ex-
tensor dos dedos da mão que é poliarticular, a tendência é que o punho
também seja estendido, isto não ocorre porque os músculos flexores do
carpo se contraem e neutralizam o movimento indesejado.
• Fixador- ao se contrair estabiliza uma parte do corpo, oferecendo assim
uma base firme para que outros músculos realizem o seu trabalho.

Considerando como critério a ação do músculo

As ações musculares estão relacionadas aos movimentos, portanto pode-


mos dizer que, quanto à ação, os músculos podem ser: flexores, extensores,
abdutores, adutores, rotadores mediais, rotadores laterais, pronadores, supi-
nadores etc.

84
Sistema Muscular

Músculos do esqueleto apendicular

Membro Superior

Ombro:

+ Músculo deito ide - formato de delta, dá a forma arredondada ao


ombro.
+ Músculo supraespinal- localizado na fossa supraespinal.
+ Músculo infraespinal- localizado na fossa infraespinal.
+ Músculo subescapular - localizado na fossa subescapular.

Braço:

+ Músculo bíceps braquial - localizado no compartimento anterior.


+ Músculo braquial- localizado no compartimento anterior, abaixo do
bíceps braquial.
+ Músculo tríceps braquial- localizado no compartimento posterior.

Músculo
deito ide

Figura 5.1- Músculos do braço

85
Anatomia Humana Básica

Antebraço:

• Músculo flexor ulnar do carpo - localizado no compartimento


anterior, medialmente.
• Músculo flexor radial do carpo - localizado no compartimento
anterior, lateralmente.
• Músculo palmar longo - localizado no compartimento anterior entre
os flexores radial e ulnar do carpo.
• Músculo flexor superficial dos dedos - localizado no compartimento
anterior abaixo do palmar longo.
• Músculo flexor profundo dos dedos - localizado no compartimento
anterior abaixo do flexor superficial dos dedos.
• Músculo pronador redondo - localizado no compartimento anterior
• Músculo pronador quadrado - localizado no compartimento anterior
• Músculos extensores radiais (longo e curto) do carpo - localizados no
compartimento posterior, lateralmente.
• Músculo extensor ulnar do carpo - localizado no compartimento
posterior, medialmente.
• Músculo extensor dos dedos - localizado no compartimento posterior
entre os extensores radiais e ulnar do carpo.
• Músculo abdutor longo do polegar, músculo extensor curto do polegar
e músculos extensor longo do polegar: localizados no compartimento
posterior, seguindo esta mesma ordem, de lateral para mediai.

86
Sistema Muscular

Músculo
palmar longo
Músculo flexor
ulnar do carpo

Figura 5.2- Membro superior direito:


músculos do antebraço vista anterior

Mão (intrínsecos):

Região lateral da palma da mão (eminência tenar):

+ Músculo abdutor curto do polegar


+ Músculo oponente do polegar
+ Músculo flexor curto do polegar
+ Músculo adutor do polegar

87
Anatomia Humana Básica

Região mediai da palma da mão (eminência hipotenar)

• Músculo abdutor curto do dedo mínimo


• Músculo flexor curto do dedo mínimo
• Músculo oponente do dedo mínimo
• Músculo braquiorradial- localizado no compartimento posterior,
lateralmente aos extensores radiais do carpo.

M. abdutor curto
do dedo mínimo _,.' f - - - M . abdutor curto
do polegar

Figura 5.3- Mão direita- músculos profundos

Músculos da
1--....;hL._- Músculos da
eminência hipotenar eminência tenar

Figura 5.4- Mão direita- músculos superficiais

88
Sistema Muscular

Membro Inferior

Quadril:
+ Músculo glúteo máximo - músculo volumoso, dá as nádegas a forma
arredondada.
+ Músculo glúteo médio - localizado abaixo do glúteo máximo.
+ Músculo glúteo mínimo - localizado abaixo do glúteo médio.
+ Músculo piriforme - abaixo dele emerge o nervo isquiático.
+ Músculo quadrado femoral - localizado na região posterior, atrás do
trocanter maior do fêmur.
+ Músculo tensor da fáscia lata - localizado na região anterolateral
+ Músculo ilíaco - localizado na fossa ilíaca.
+ Músculo psoas maior - localizado na fossa ilíaca, medialmente ao m.
ilíaco, juntos formam o m. iliopsoas.

M. semitendíneo

M. semimembranáceo

Fig. S.S- Músculos da parte posterior do quadril, coxa e perna

89
Anatomia Humana Básica

Coxa:

• Músculo quadríceps femoral - localizado no compartimento anterior


da coxa, formado por quatro cabeças: m. vasto mediai, m. vasto lateral,
m. vasto intermédio e m. reto femoral.
• Músculo sartório - músculo longo que cruza, de lateral para mediai, o
compartimento anterior da coxa.
• Músculo grácil - localizado no compartimento mediai da coxa.
• Músculos adutores - localizados no compartimento mediai da coxa,
abaixo do grácil. São eles: m. adutor magno, m. adutor longo, m. adutor
curto e m. adutor mínimo.
• Músculo semitendíneo -localizado medialmente no compartimento posterior
• Músculo semimembranáceo -localizado medialmente no compartimen-
to posterior, abaixo do m. semitendíneo
• Músculo bíceps femoral - localizado lateralmente no compartimento
posterior.

Músculos
adutores

Músculo grácil

Figura S-6- Músculos da coxa direita- vista anterior

90
Sistema Muscular

Perna:

+ Músculo tibial anterior- localizado no compartimento anterior.


+ Músculos jibulares - localizados no compartimento lateral
+ Músculo tríceps sural- formado por três cabeças: m. gastrocnêmio:
cabeça lateral e cabeça mediai e m. sóleo.

Pé (intrínsecos):
Região dorsal:
+ Músculo extensor curto dos dedos
+ Músculo extensor curto do hálux

Região plantar:
Primeira camada (superficial):
+ Músculo abdutor do hálux
+ Músculo flexor curto dos dedos
+ Músculo abdutor do dedo mínimo

Segunda camada (média):


+ Músculo quadrado plantar
+ Músculos lumbricais

Terceira camada (profunda):


+ Músculo flexor curto do hálux
+ Músculo adutor do hálux
+ Músculo flexor curto do dedo mínimo

Quarta camada (interóssea):


+ Músculos interósseos dorsais
+ Músculos interósseos plantares

91
Anatomia Humana Básica

Vasto lateral

Figura 5.7- Músculos da coxa e perna direita- vista anterior

92
Sistema Muscular

Músculos fibulares

Músculo
tibial anterior

Figura 5.8- Músculos da perna direita- vista anterior

Músculos do esqueleto axial:

Músculos da expressão facial:


+ Músculo orbicular do olho - localizado ao redor dos olhos.
+ Músculo orbicular da boca - localizado ao redor da boca.
+ Músculo bucinador - músculo da bochecha.

Músculos da mastigação:
+ Músculo masseter - localizado entre o ramo da mandíbula e o arco
zigomático.
+ Músculo temporal- músculo largo em forma de leque localizado
lateralmente na cabeça

93
Anatomia Humana Básica

Figura 5.9- Músculos da expressão facial

Figura 5.10- Músculos da mastigação e expressão facial

94
Sistema Muscular

Músculos do pescoço:
+ Músculo esternocleidomastoideo - percorre um trajeto oblíquo no
pescoço desde o esterno e a clavícula inferiormente e o processo
mastoide superiormente.
+ Músculo digástrico - músculo supra-hioideo, com dois ventres
separados por um tendão, localizado na região submandibular.
+ Músculo omo-hioideo- músculo infra-hioideo, com dois
ventres intersectados por um tendão situado abaixo do m.
esternocleidomastoideo.
+ Músculos escalenos - localizados abaixo do m. esternocleidomastoideo,
em número de três: anterior, médio e posterior.

Músculos do tórax:
+ Músculo peitoral maior - músculo largo em forma de leque, localizado
na região anterior do tórax.
+ Músculo serrátil anterior- localizado na parede mediai da axila. Sua
inserção, nas costelas, possui a forma de dentes de serra.
+ Músculos intercostais - localizados nos espaços entre as costelas.

Músculos do abdome:
+ Músculo reto do abdome - músculo poliventre, localizado na região
anterior do abdome
+ Músculo oblíquo externo do abdome- localizado na parede
anterolateral do abdome
+ Músculo oblíquo interno do abdome- localizado na parede
anterolateral do abdome, abaixo do m. oblíquo externo do abdome.
+ Músculo transverso do abdome - localizado na parede anterolateral do
abdome, abaixo do m. oblíquo interno do abdome.

95
Anatomia Humana Básica

Músculo
peitoral maior

Músculos obliquo
f - - - - interno e externo
do abdome
Músculo transverso
do abdome

Figura 5.11- Músculos do tórax e abdome

Músculos do dorso:
+ Músculo trapézio - músculo superficial na parte superior do dorso, em
forma de trapézio.
+ Músculo latíssimo do dorso - músculo amplo e superficial na parte
inferior do dorso.
+ Músculo eretor da espinha - localizado no plano profundo, formado
por um grupo longitudinal de músculos que se estendem do sacro até
o crânio.

96
Sistema Muscular

REFERÊNCIAS

MARTINI, F. et ai. Anatomia e fisiologia humana. São Paulo: Pearson Edu-


cation do Brasil, 2014.

MOORE, K.; DALLEY, A. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatômica. Terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

TORTORA, GERALD J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e


fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

97
Eduardo Pereira
Graduado em Educação Física pelas Faculdades Integradas de Guarulhos.
Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo. Tem experiência
em cursos da área da saúde, nas disciplinas de Anatomia do Aparelho Locomo-
tor, Neuroanatomia e Anatomia Humana Geral. Docente do curso de especiali-
zação em Anatomia Macroscópica e Recursos Técnicos Laboratoriais aplicados
à Morfologia do Centro Universitário São Camilo.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
O ser humano é considerado um animal aeróbio por necessitar de
oxigênio para processar a nutrição celular; assim, é um ser totalmente de-
pendente do meio externo do planeta Terra que possui na sua atmosfera
21% de oxigênio. Desta forma, o homem desenvolveu estruturas para o
transporte do oxigênio do ar até os seus pulmões que por sua vez trans-
ferem para a circulação sanguínea o sistema incumbido de distribuir o
sangue para todos os tecidos e células.
O processo de aquisição de oxigênio é realizado pelo sistema respira-
tório que possui meios para transportar o ar via narinas e subsequentes
cavidades e tubos, até alcançar os pulmões.
Assim, a integridade dos elementos que constituem o sistema respi-
ratório é fundamental para a vida sadia e as alterações destes elementos
provocam dificuldades na obtenção de oxigênio. Portanto, entre outras
causas, as infecções de pulmão ou dos tubos que conduzem o ar provo-
cam dificuldades na obtenção de oxigênio pelo corpo, denominadas de
doenças respiratórias.
Além disso, os pulmões são capazes de remover o gás carbônico do
nosso corpo, resultante do metabolismo de oxigênio pelas células, e re-
move-o do sangue que passa em seu interior (parede alveolar) e transpor-
ta- o para o ar atmosférico.
Por meio de captação de oxigênio e excreção de gás carbônico ade-
quado, o sistema respiratório mantém constante a quantidade de oxigê-
nio e gás carbônico no sangue que circula por todo o corpo, em níveis
considerados ideais.
O estudo anatômico do sistema respiratório constitui a etapa essen-
cial para adicionar os conhecimentos da fisiologia respiratória. Somente
assim, podemos realizar o diagnóstico das doenças respiratórias e propor
tratamentos adequados ao paciente.

Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre- Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre - Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

100
CAPÍTUL06

SISTEMA RESPIRATÓRIO
Eduardo Pereira

Funções do sistema respiratório:


+ Fornecer oxigênio para as células e remover o gás carbônico;
+ Fonação;
+ Auxiliar na compressão abdominal durante a micção, a defecação e o parto;
+ Olfativa;
+ Através da expiração, ajuda a eliminar pequenas quantidades de água e calor.

Divisão estrutural:
1. Sistema respiratório superior: nariz, faringe, estruturas associadas
2. Sistema respiratório inferior: laringe, traquéia, brônquios e pulmôes

Divisão funcional:
+ Parte condutora: nariz, cavidade nasal, seios paranasais, faringe, lar in-
ge, traqueia, brônquios. Esses órgãos são responsáveis por levar e trazer
os gases dos alvéolos pulmonares;
+ Parte respiratória: alvéolos pulmonares, pulmôes e pleuras. Os alvéolos
pulmonares são as unidades funcionais do sistema respiratório e ficam
no interior dos pulmôes.

101
Anatomia Humana Básica

Figura 6.1 -Sistema respiratório visão geral

Parte condutora:
Nariz
O termo nariz inclui uma porção externa. que se projeta na face. e uma
porção interna, que é a cavidade nasal.
As estruturas externas são cobertas por pele e formadas pela raiz do nariz,
que o prende ao osso frontal, o dorso do nariz, o ápice do nariz, que é a ponta
do nariz, as narinas, que são as duas aberturas para o meio externo, as asas do
nariz, que são as expansões laterais e o septo nasal, que é a separação entre as
duas cavidades nasais.
As estruturas internas do nariz incluem a cartilagem do septo nasal, que é a
parte anterior do septo nasal, os processos laterais da cartilagem do septo nasal
e as cartilagens alares, que ficam ao redor das narinas. Os ossos dessa região
são os nasais, frontal, maxilas, võmer, esfenoide e etmoide.

102
Sistema Respiratório

Cartilagem
Cartilagem ( ; , . lateral
alar menor

--- Cartilagem
alar maior

Figura 6.2- Nariz

Cavidade nasal
A cavidade nasal inclui duas cavidades, as cavidades nasais. Ela é separada
pelo septo nasal, formado pelo vômer, a lâmina perpendicular do etmoide e a
cartilagem do septo nasal. O vestíbulo do nariz é a parte anterior da cavidade.
O teto da cavidade nasal é formado pelos ossos frontal, nasais, etmoide e es-
fenoide, enquanto o assoalho é formado pelos ossos palatinos e maxilas. Cada
cavidade nasal se abre anteriormente através da narina e posteriormente atra-
vés dos cóanos, que são a comunicação com a parte nasal da faringe.
A parede lateral da cavidade nasal possui três saliências ósseas, que são as
conchas nasais superior, média e inferior. Entre as conchas nasais encontram-
-se os meatos nasais superior, médio e inferior.
As conchas nasais aumentam a superfície dentro do nariz e são revestidas por
epitélio, que servem para aquecer, umidificar e limpar o ar. O ar é filtrado de duas
maneiras: pelas vibrissas, que filtram as partículas maiores e pela túnica mucosa
umedecida dos meatos, que retiram as partículas finas, como poeira e fumo.
Outra função importante da cavidade nasal relaciona-se com a identifica-
ção dos odores, que acontece na sua porção mediai superior.

103
Anatomia Humana Básica

Seio esfenoidal
Vestíbulo
do nariz Tonsila faríngea
Concha nasal
média
Concha nasal
inferior

Figura 6.3- Cavidade nasal: corte sagital

Figura 6.4- Septo nasal

Seios paranasais

São cavidades que contêm ar e se comunicam com a cavidade nasal. São de·
nominados de acordo com os ossos onde se localizam: seio frontal, seio maxilar,
seio esfenoidal e células etmoidais. Eles podem servir para aquecer e umidificar
o ar, como caixa de ressonância para o som, e tornar mais leve o crânio.
O seio esfenoidal desemboca acima da concha nasal superior; as células
etmoidais, nos meatos nasais superior e médio; e os seios frontal e maxilar
desembocam no meato nasal médio.
104
Sistema Respiratório

Seio frontal
Células etmoidais

Seio maxilar

Figura 6.5- Seios para nasais

Faringe

A faringe é um tubo musculomembranáceo de aproximadamente 13 em de com-


primento, estendendo-se da base do crânio até o esôfago. Ela possui três partes:

+ A parte nasal, onde passa apenas ar e está localizada posteriormente à


cavidade nasal e acima do palato mole. Ela está separada da cavidade
nasal pelos cóanos e nela encontra-se o óstio faríngeo da tuba auditiva,
105
Anatomia Humana Básica

que é uma abertura que comunica essa região com a orelha média, para
fazer o equilíbrio das pressões externa e interna. Na sua região superior
encontra-se a tonsila faríngea, uma estrutura do sistema linfático, res-
ponsável pela produção de linfócitos.
• A parte oral, onde passa ar e alimento. Fica localizada entre o palato mole
e o nível do osso hioide. Comunica-se com a cavidade oral através do
istmo das fauces. Nessa parte da faringe encontramos as tonsilas palati-
nas, que ficam na fossa tonsilar e são limitadas pelos arcos palatoglosso e
palatofaríngeo, além da tonsila lingual, localizada na base da língua.
• A parte laríngea, que é a porção mais inferior da faringe, estende-se do
nível do osso hioide à laringe. Nessa parte passa ar e alimento, que aí são
separados, onde o ar é dirigido anteriormente à laringe e os alimentos e
líquidos são levados ao esôfago.

Parte oral
da faringe
Parte laríngea --~.....::;~-.tc-:;r,
da faringe Epiglote

Figura 6.6- Corte sagital da cabeça e pescoço

Laringe
A laringe é um órgão tubular, situado no plano mediano e anterior da
região cervical, que tem como funções permitir a passagem do ar durante a
respiração, impedir o alimento de alcançar a traqueia e pulmões e também
participa da fonação.

106
Sistema Respiratório

Ela é formada por nove cartilagens unidas por músculos extrínsecos e intrín-
secos, assim como por ligamentos. Das cartilagens, três são ímpares, maiores
e mais importantes: tireoidea, cricoidea e epiglótica; e seis são pares, menores:
corniculadas, cuneiformes e aritenoideas.
A maior das cartilagens é a tireoidea, que tem o formato de um escudo
e apresenta duas lâminas que se unem anteriormente para formar a proemi-
nência laríngea. Ela apresenta ainda os cornos superiores e inferiores. A car-
tilagem cricoidea tem formato de anel, onde sua parte anterior é o arco e a
posterior, a lâmina; ela se localiza entre a cartilagem tireoidea e a traqueia.
A cartilagem epiglótica tem forma de folha, situa-se posteriormente à raiz da
língua e cartilagem tireoidea; na sua parte posterior fica o pecíolo epiglótico e
ela é a responsável por fechar o ádito da laringe durante a deglutição.
As cartilagens aritenoideas são pequenas e estão ligadas à porção posterior
da lâmina da cartilagem cricoidea. As corniculadas e cuneiformes são peque-
nas e acessórias, situadas próximas às cartilagens aritenoideas.

Osso hioide

.d:---- Cartilagem cricoidea


- ; - - - - - Cartilagem traqueal

Figura 6.7- Cartilagens da laringe: vista anterior

107
Anatomia Humana Básica

Figura 6.8- Cartilagens da laringe: vista posterior

Na cavidade da laringe ficam as pregas vocais, estendendo-se da cartilagem


tireoidea anteriormente aos pares das cartilagens aritenoideas, posteriormen-
te; e também as pregas vestibulares, acima das vocais. São as pregas vocais que
vibram para produzir o som e as pregas vestibulares dão suporte a elas. Entre a
prega vestibular e a prega vocal fica uma fenda, o ventrículo da laringe. A cavi-
dade da laringe é dividida em três partes: o vestíbulo da laringe (superior), que
vai do adito da laringe à prega vestibular; a glote ou rima da glote (média),
que fica entre as pregas vocais; e a cavidade infraglótica (inferior), da prega
vocal à cartilagem cricoidea.
A laringe possui dois grupos de músculos: os intrínsecos, que abrem e fe-
cham a glote e regulam a tensão das pregas vocais e os músculos extrínsecos,
responsáveis pela elevação da laringe durante a deglutição.
Podemos observar também na laringe a presença de ligamentos para unir as
cartilagens, como o ligamento cricotireoideo mediano (da cartilagem cricoidea
até a tireoidea), o ligamento cricotraqueal (da cartilagem cricoidea até a tra-
queia) e a membrana tireohioidea (da cartilagem tireoidea até o osso hioide).

108
Sistema Respiratório

Cartilagem
epiglótica

Figura 6.9- Laringe, secção transversal

Traqueia

A traqueia é um tubo formado por 16 a 20 cartilagens traqueais em forma


de "C", sobrepostos e ligados entre si pelos ligamentos anulares. Tem aproxi-
madamente de 9 a 12 em de comprimento por 2,5cm de diâmetro e estende-se
da 6' vértebra cervical até a 6' vértebra torácica, onde se divide nos dois brôn-
quios principais. As cartilagens impedem o fechamento completo da traqueia
e elas estão unidas posteriormente por músculo liso e fibras de tecido conjun-
tivo. A traqueia é revestida por uma túnica mucosa que secreta muco, propor-
cionando proteção contra pó e carregando partículas e secreção excessiva até a
faringe, onde podem ser deglutidas.
A divisão no final da traqueia é a bifurcação da traqueia, onde, em seu
interior, existe uma lâmina de cartilagem em forma de quilha chamada carina
da traqueia.

109
Anatomia Humana Básica

Bifurcação da
traqueia

segm entar

Figura 6.1 O- Laringe, traqueia e brônquios: A - Vista anterior e B - Vista posterior

110
Sistema Respiratório

Brônquios
Os brônquios principais resultam da divisão da traqueia, que também são
formados por anéis de cartilagem e levam o ar até os pulmões. O brônquio
principal direito é mais curto, mais vertical e mais calibroso, enquanto o brôn-
quio principal esquerdo é mais longo, mais horizontal e mais fino.
Cada brônquio principal se divide em brônquios lobares e levam o ar para
os lobos dos pulmões. O brônquio principal direito tem três divisões: brôn-
quios lobares superior, médio e inferior, enquanto o brônquio principal es-
querdo tem apenas duas divisões: brônquios lobares superior e inferior.
Os brônquios segmentares resultam da divisão dos brônquios lobares e se
dirigem aos segmentos broncopulmonares (10 para o pulmão direito e 9 para o
esquerdo). Esses brônquios segmentares continuam se dividindo até formar os
finíssimos bronquíolos, que formam os bronquíolos terminais conectados com
os respiratórios, que se dirigem aos duetos alveolares e em seguida aos sacos al-
veolares, onde ficam os alvéolos pulmonares, responsáveis pela hematose.

Figura 6.11 -Alvéolos pulmonares

Parte respiratória:
Pulmões

No vivo, são normalmente leves, macios e esponjosos. Têm forma seme-


lhante a um cone, com o ápice do pulmão pontiagudo na sua parte superior
e a base do pulmão, mais larga e inferior, em cima do músculo diafragma.
Eles têm três faces: a mediastinal, na sua parte mediai; a costal, arredondada,

111
Anatomia Humana Básica

em contato com as costelas; e a face diafragmática, em cima do músculo dia-


fragma. Ambos os pulmões têm duas margens, uma anterior e uma inferior,
o hilo do pulmão, que é a abertura na face mediastinal para a passagem dos
brônquios, artérias e veias pulmonares, vasos linfáticos e nervos. Essas estru-
turas presentes no hilo formam a raiz do pulmão.
O pulmão direito é mais pesado, mais curto e mais largo que o esquerdo. Ele
apresenta três lobos: superior, médio e inferior e duas fissuras que o separam,
a oblíqua e a horizontal. A fissura oblíqua separa os lobos superior e médio do
inferior, enquanto a fissura horizontal separa o lobo superior do médio. Cada
lobo do pulmão direito se subdivide em unidades menores que são os 10 seg-
mentos bronco pulmonares, onde cada um dos segmentos tem o seu próprio
brônquio segmentar.

Ápice

Fissura
t---!4~ Hilo do
oblíqua pulmão
Fissura
horizontal

Base

Figura 6.12- Pulmão direito: A- Face costal, B- Face mediastinal

O pulmão esquerdo é mais leve, mais longo e mais estreito que o direito. Ele
apresenta dois lobos: superior e inferior e apenas uma fissura para separá-los,
a fissura oblíqua. O pulmão esquerdo apresenta 9 segmentos broncopulmona-
res: a impressão cardíaca, que é a marca deixada pelo coração; ela está presente
também no pulmão direito, mas é menor. Observa-se ainda uma incisura cardí-
aca do pulmão esquerdo, na parte inferior da margem anterior, que é uma con-
cavidade para o coração e também a impressão da aorta, na face mediastinal.

112
Sistema Respiratório

Ápice

Hilodo
Fissura pulmão
oblíqua

Incisura
cardíaca
Língula

Figura 6.13- Pulmão esquerdo: A- Face costal, B- Face mediastinal

Os pulmões estão separados por um espaço chamado mediastino, onde


importantes estruturas estão localizadas, como o coração, a aorta, as veias ca·
vas, os vasos pulmonares, o esõfago, parte da traqueia e dos brõnquios.

Figura 6.14- Pulmões In situ

113
Anatomia Humana Básica

Pleuras

São membranas serosas duplas que envolvem os pulmões, a cavidade torá-


cica e o diafragma. A pleura mais interna é a visceral, que fica bem aderida aos
pulmões, fornecendo uma superfície deslizante lisa, e a mais externa é a pleu-
ra parietal, que reveste a parede torácica, o mediastino e o diafragma. Entre
as pleuras existe uma cavidade muito delgada, a cavidade pleural, preenchida
pelo líquido pleural, que é uma substância lubrificante para reduzir o atrito
entre as pleuras durante os movimentos respiratórios.
A pleura parietal pode ser dividida em três partes: a costal, a mediastinal
e a diafragmática. Entre essas partes ficam espaços, como o recesso costome-
diastinal (entre as pleuras costal e mediastinal, pequeno) e o recesso costo-
diafragmático (entre as pleuras costal e diafragmática, grande, circundando a
convexidade superior do diafagma).

visceral

Pleura Pleura
pari e tal visceral
Pleura
pari e tal

Figura 6.15- Esquema- pleuras

Mecânica da respiração

A respiração, em repouso, é realizada pela contração e relaxamento alternados


dos músculos diafragma e intercostais externos. Uma inspiração ou expiração
mais profundas podem ser forçadas pelas contrações dos músculos respiratórios
acessórios. A respiração consiste em duas fases: a inspiração e a expiração.

114
Sistema Respiratório

+ Inspiração: Quando o diafragma se contrai, ele abaixa suas cúpulas, au-


mentando o diâmetro vertical da cavidade torácica. Ao mesmo tempo,
os músculos intercostais externos elevam as costelas, aumentando o di-
âmetro ântero-posterior. Quando o tórax se alarga, o colabamento das
pleuras visceral e parietal causa a expansão de ambas as camadas, alar-
gando assim também os pulmões. Isso reduz a pressão intrapulmonar e
como ela fica mais baixa que a pressão atmosférica, o ar consegue entrar
nos pulmões. Os músculos escalenos e o m. esternocleidomastoideo são
envolvidos na inspiração profunda, elevando as costelas. Ao final da ins-
piração, a pressão entre os pulmões e a atmosfera está equalizada.
+ Expiração: A expiração é um processo passivo que ocorre quando os
músculos inspiratórios relaxam, retornando a caixa torácica e os pul-
mões à sua posição original. Os pulmões se retraem durante a expiração,
quando as fibras elásticas no interior do tecido pulmonar encurtam e os
alvéolos pulmonares encolhem juntamente. O abaixamento da tensão
superficial, que leva ao recuo, é devido a uma substância lipoproteica
chamada surfactante. A tensão superficial é resultante da contração da
fina camada de água que umedece as superfícies alveolares na interface
ar-água. Essa tensão é poderosa na retração pulmonar e o surfactante
evita justamente o colapso do pulmão devido à excessiva tensão superfi-
cial. Em uma expiração forçada, há a atuação de vários músculos, como
os mm. intercostais internos, m. transverso do tórax, mm. oblíquos ex-
terno e interno do abdome.

REFERÊNCIAS

MARTINI, F. et ai. Anatomia e Fisiologia Humana. São Paulo: Pearson, 2015.

MO ORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia orientada para a


clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da


Terminologia Anatômica. Terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 12.


ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

115
Valdemir Rodrigues Pereira
Graduado em Fisioterapia pela Fundação de Educação e Cultura de San-
ta Fé do Sul. Mestre em Morfologia pela Universidade Federal de São Paulo.
Docente do Centro Universitário São Camilo - São Paulo onde ministra as
disciplinas de Anatomia Humana, Neuroanatomia, Anatomia em Imagens,
Biomecânica e Cinesiologia nos cursos de Graduação e Pós-graduação.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
A vida humana só é possível mediante o consumo de energia. Sem
a energia não podemos contrair músculos para locomover, mastigar,
respirar, urinar, defecar, reproduzir e nem se defender de agressões ex-
ternas. O processo inicial para obtenção de energia se realiza no sis-
tema digestório ao ingerir, digerir e absorver os alimentos adquiridos
do meio externo. Considerando que os alimentos sólidos precisam ser
transformados em moléculas como glicose, proteína e lipídios para a
obtenção de energia, o sistema digestório tem capacidade para transfor-
mar o alimento sólido ingerido em moléculas que o corpo pode absor-
ver e processar, transformando-os em energia necessária à manutenção
da função celular e vitalidade de todos os 100 trilhões de células que
compõem o nosso organismo.
Sem a presença do sistema digestório, ocorreria a desnutrição pro-
gressiva e morte em todos nós.
Outra importante função deste sistema está na excreção de metabóli-
tos não mais necessários ao organismo e substâncias tóxicas.
Para realizar estas funções, este sistema é composto de órgãos, tubos
ocos e órgãos acessórios que secretam substâncias necessárias aos inú-
meros processos que ocorrem durante a digestão, absorção e eliminação.
Assim, o estudo anatômico do sistema digestório permite a compre-
ensão dos elementos que compõem o sistema tão essencial à vida, além de
permitir a especulação de possíveis disfunções nutricionais decorrentes
de alterações dos seus componentes. Como exemplo pode-se conjecturar
sobre as possíveis implicações clínicas decorrentes da perda parcial ou
total de estômago, duodeno, jejuno, íleo, intestino grosso e órgãos aces-
sórios como glândula salivar, fígado e pâncreas. Além disso, imaginar as
implicações de uma possível infecção no apêndice vermiforme, pâncreas
e vesícula biliar. Estas hipóteses somente serão possíveis mediante aos co-
nhecimentos anatômico e fisiológico, que serão abordados nos primeiros
semestres da vida universitária.

Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre- Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre - Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

118
CAPÍTULO 7

SISTEMA DIGESTÓRIO
Valdemir Rodrigues Pereira

O sistema digestório é constituído por órgãos que apresentam forma tu-


bular, por onde os alimentos devem passar para que sejam transformados em
moléculas menores e os nutrientes possam chegar ao sistema circulatório e,
desse modo, serem transportados a todos os órgãos para que haja a produção
de energia. São funções do sistema digestório: a mastigação, a deglutição, a di-
gestão, a absorção dos nutrientes e a excreção dos restos metabólicos da diges-
tão. Os alimentos passam pela cavidade oral, faringe, esôfago, estômago, intes-
tino delgado (duodeno, jejuno e íleo ), intestino grosso (c eco, colo ascendente,
colo transverso, colo descendente, colo sigmoide, reto e canal anal). Os órgãos
anexos incluem as glândulas da boca, o fígado e o pâncreas, responsáveis pela
produção de enzimas que facilitam a digestão.

Figura 7,1 -Sistema digestório: disposição geral dos órgãos

119
Anatomia Humana Básica

Cavidade oral
A cavidade oral comunica-se anteriormente com o meio externo através da
rima da boca, fenda limitada pelos lábios e, posteriormente, com a parte oral da
faringe, através do istmo das fauces. Seu limite lateral é determinado pelas bo-
chechas, enquanto no limite superior encontramos o palato duro (formado por
parte das maxilas e dos ossos palatinos) e o palato mole (muscular) que separam
a cavidade oral da cavidade nasal. Do palato mole, que está posteriormente ao
palato duro, projeta-se uma saliência cônica, a úvula palatina. Lateralmente, na
transição da cavidade oral para a parte oral da faringe, duas pregas musculares
de cada lado denominadas arco palatoglosso, anteriormente, e arco palatofarín-
geo, posteriormente, delimitam a fossa tonsilar, ocupada pela tonsila pala tina.
Inferiormente, a cavidade oral é delimitada pelos músculos que formam o soa-
lho da boca. O espaço fissurallimitado pelos lábios, bochechas e arcos dentais
denomina-se vestíbulo da boca. A gengiva é o revestimento mucoso dos arcos
dentais e também reveste duas pregas medianas que se prendem os lábios supe-
rior e inferior e são denominadas de frênulos dos lábios.

Palato mole

úvula
pai atina

Lábios superior
e inferior

Língua Parte oral


da faringe

Figura 7.2- Cavidade oral. A- Vista mediai

120
Sistema Digestório

úvula palatina

Tonsila
palatina

Arco palato
grosso

Arco palato
faríngeo Língua

Figura 7.3- B- Vista anterior

Dentes

Os dentes são estruturas rijas e esbranquiçadas que estão fixadas aos alvé-
olos dentais das maxilas e da mandíbula e são recobertos parcialmente pela
gengiva e contribuem para delimitar a cavidade própria da boca, espaço que
abriga a língua. Apresentam a coroa do dente, o colo do dente e a raiz do
dente. No infante, os dentes decíduos chegam ao número de 20. No adulto os
dentes permanentes são geralmente, 32, sendo 8 incisivos, 4 caninos, 8 pré·
-molares e 12 molares.
+ Incisivos: localizados anteriormente, apresentam coroa com margem
cortante e uma raiz. Prendem e cortam o alimento.
+ Caninos: situados ântero-lateralmente, possuem coroa cônica, e uma
raiz, perfuram e arrancam o alimento.
+ Pré-molares: têm posição lateral e coroa com dois tubérculos. Uma ou
duas raízes, trituram o alimento.
+ Molares: localizados lateralmente, posteriormente aos pré-molares,
apresentam coroa que geralmente têm quatro tubérculos, duas ou três
raízes e também trituram o alimento.

121
Anatomia Humana Básica

Incisivos

Figura 7.4- A- Vista lateral dos dentes; B- Dentes superiores

Língua
É um órgão muscular situado na cavidade própria da boca e revestida por
mucosa. Participa da mastigação. deglutição, gustação e da fala. É dividida em
corpo da língua situado mais anteriormente (formado pelo ápice da língua, mar-
gens da língua, dorso da língua e face inferior da língua) e pela raiz da língua,
posteriormente. Sua face superior é denominada dorso da língua e em que se
encontram a tonsila lingual e as papilas linguais descritos do seguinte modo:

+ Papilas circunvaladas: maiores, dispostas em V no dorso da língua e es-


tão próximas à raiz da língua;
+ Papilas fungiformes: presentes no dorso são mais salientes e têm forma
de cogumelo;
+ Papilas filiformes: as mais numerosas, estão situadas no dorso e no ápice
da língua.
+ Papilas falhadas: situadas nas margens da língua e separadas por sul-
cos longitudinais.

A tonsila lingual é um órgão linfático, que se encontra posteriormente às


papilas circunvaladas e ao sulco terminal, próximo à raiz da língua. Na face
inferior da língua, encontra-se na linha mediana o frênulo da língua, que se
prende ao soalho da cavidade oral.
Os músculos da língua podem ser intrínsecos (ex.: m. longitudinal superior e m.
longitudinal inferior), situados na própria língua e extrínsecos (ex.: m. hioglosso em.
genioglosso ), que prendem a língua ao osso hióide e a mandíbula, respectivamente.
A valécula epiglótica é uma depressão bilateral situada entre a cartilagem
epiglótica e o dorso da língua, delimitada pela prega glossoepiglótica mediana e
pelas pregas glossoepiglóticas laterais.

122
Sistema Digestório

Cartilagem
epiglótica
Valécula
epiglótica

Tonsila palatina

Papilas
circunvaladas

Dorso
Papilas da língua
folhadas

Ápice
da língua

Figura 7.5- Vista superior da língua

Glândulas da boca
Responsáveis pela secreção de saliva que contém a amilase salivar. São
classificadas em menores (labiais. molares. palatinas, linguais e da bochecha)
e maiores (três pares) que são: parótidas, submandibulares e sublinguais. A
glândula parótida é a maior, tem forma triangular, localiza-se anterior e infe-
riormente à orelha externa e sobre o ramo da mandíbula. O dueto parotídeo
abre-se no vestíbulo da boca, na altura do segundo molar superior. A glândula
submandibular localiza-se medialmente ao ângulo da mandíbula. O dueto sub-
mandibular abre-se lateralmente ao frênulo da língua, no soalho da cavidade
oral. A glândula sublingual está localizada no soalho da cavidade oral e seus
duetos sublinguais que são muito curtos, se abrem nesse soalho.

123
Anatomia Humana Básica

Abertura do
~ dueto parotídeo

Glândula

Glândula
parótida

Dueto Músculo
parotídeo masseter

Figura 7.6- A- Glândula sublingual e glândula submandibular em


corte paramediano; B- Glândula parótida, vista lateral

Faringe
É um tubo muscular que se estende desde a base do crânio (posteriormente
à cavidade nasal) até o esôfago. Apresenta três partes: a parte nasal da faringe,
que se comunica com a cavidade nasal através dos cóanos e com a orelha média
através das tubas auditivas; a parte oral da faringe, que se comunica com a cavi·
dade oral; a parte laríngea da faringe, que se comunica com a laringe através do
ádito da laringe e termina no esôfago. A parte oral e a parte laríngea compõem
o sistema digestório. Na parte laríngea, próximo à transição com o esôfago,
está situado o recesso piriforme.

124
Sistema Digestório

úvula
palatina

Cartilagem
epiglótica

Ádito da
laringe

Arco
da aorta

Esôfago
parte abdominal
Músculo
diafragma
Cárdia

Veia cava
inferior Fundo gástrico

Figura 7.7- A- Vista posterior da faringe - partes e relação com outros órgãos;
B- Vista anterior do esôfago - partes e relação com outros órgãos

125
Anatomia Humana Básica

Esôfago
É um tubo muscular que conecta a faringe com o estômago e impele o
bolo alimentar através de sua contração. Quando vazio, o esôfago apresenta-se
colabado. Está localizado posteriormente a traqueia e anteriormente à região
cervical da coluna vertebral, continua-se no mediastino onde desvia-se para
a esquerda e atravessa o diafragma (hiato esofágico ), terminando na cárdia,
início do estômago, na cavidade abdominal. Apresenta, portanto, as partes:
cervical, torácica (a maior parte) e abdominal (a menor parte).

Estômago
É o órgão mais dilatado do sistema digestório interposto ao esôfago supe-
riormente e ao duodeno (primeira parte do intestino delgado), inferiormen-
te. Situado na cavidade abdominal, à esquerda do plano mediano, abaixo do
diafragma no epigastro e hipocôndrio esquerdo, apresenta a parede anterior e a
parede posterior. A abertura do esôfago no estômago é chamada óstio cárdico
que está na região da cárdia. O fundo gástrico é a parte mais superior e está si-
tuado acima da junção com o esôfago. Essa região encontra-se frequentemente
vazia. O corpo gástrico é a maior parte do órgão e continua com a parte pilá-
rica, parte mais estreita e inferior. Na saída do estômago está o óstio pilórico.
A transição entre o estômago e o duodeno pode ser observada externamente
como um espessamento muscular denominado pilara. A curvatura menor está
localizada à direita (côncava) e se prende à face visceral do fígado (região da
porta do fígado) através do omento menor. A curvatura maior está situada à
esquerda (convexa), prende-se ao omento maior que é formado pelas duas lâ-
minas do peritônio visceral e que descem recobrindo as vísceras abdominais,
anteriormente. O estômago tem como principal função a digestão através do
suco gástrico (HCl, muco, enzimas), transformando o bolo alimentar em qui-
mo (massa semilíquida) para facilitar a digestão e a absorção nos intestinos.

126
Sistema Digestório

Cárdia

Baço
Parte Pilórica inferior

Corpo
- ----,I""''IIE'- - - gástrico
Duodeno
Rim
parte superior
esquerdo
Jejuno
parte descendente

parte ascendente

Duodeno
parte horizontal

Figura 7.8- Esôfago e duodeno- partes e relação com outras vísceras

Intestino delgado
Continuação do estômago. que se estende até o intestino grosso. É a mais
sinuosa porção do sistema digestório. Participa da digestão e da absorção de
nutrientes e. está dividido em duodeno, jejuno e íleo.
Duodeno: primeiro e menor segmento (30 em aproximadamente), conti-
nua no jejuno na jlexura duodenojejunal. Apresenta quatro partes:
+ Parte superior: em que se destaca a ampola do duodeno.
+ Parte descendente: onde se encontra a papila maior do duodeno (que
será melhor descrita juntamente com as vias biliares).
+ Parte horizontal: é a continuação da parte descendente em direção ao
lado esquerdo do abdome.
+ Parte ascendente: que termina na flexura duodenojejunal.

O duodeno encontra-se, em grande parte, atrás do peritônio (retroperito-


neal) e está firmemente aderido à parede posterior do tronco.

127
Anatomia Humana Básica

Jejuno e íleo: porções mais móveis do intestino delgado, não apresentam limites
fixos entre si, sendo descritos como um todo. O jejuno se inicia na flexura duode-
nojejunal, continua com o íleo e termina no intestino grosso através do ás tio ileal. O
jejuno e o íleo estão presos à parede posterior do abdome por uma prega peritoneal
denominada mesentério. O mesentério contribui para o aspecto pregueado forman-
do as alças (dobras) do jejuno e do íleo, que juntas medem cerca 4 a 5 metros.

Jejuno

Íleo

Figura 7_9 -Intestino delgado- duodeno e alças do jejuno e íleo


(em destaque) e suas relações com outros órgãos

Intestino grosso
É a continuação do intestino delgado, última porção do sistema digestório.
Tem início no ceco e se comunica com o exterior através do canal anal. Apresen-
ta maior calibre que o intestino delgado sendo possível observar três estruturas
importantes: dilatações limitadas por sulcos transversais denominadas sacula-
ções do colo, formações em fita que são as tênias do colo e acúmulo de gordura
em suas paredes, os apêndices omentais do colo. É dividido em ceco, colo ascen-
dente, colo transverso, colo descendente, colo sigmoide, reto e canal anal.

128
Sistema Digestório

+ Ceco: é o segmento inicial, situado à direita e inferiormente na cavidade


pélvica e continua no colo ascendente. O apêndice vermiforme é um tubo
estreito e em fundo cego que se estende para baixo a partir do ceco.
+ Colo ascendente: é a continuação do ceco, que se encontra preso à
parede posterior do abdome à direita. Dobra-se para a esquerda (jlexura
direita do colo) sob o fígado para continuar no colo transverso.
+ Colo transverso: bastante móvel, estende-se da flexura direita do colo à
flexura esquerda do colo, onde continua com o colo descendente.
+ Colo descendente: também fixado à parede posterior do abdome, com
início na flexura esquerda do colo e término na altura da crista ilíaca,
após um trajeto aproximadamente vertical.
+ Colo sigmoide: é a continuação do colo descendente, apresenta trajeto
sinuoso, dirige-se para o plano mediano da pelve onde é continuado
pelo reto.
+ Reto: anteriormente ao sacro, dá continuidade ao colo sigmoide e sua
porção mais dilatada é denominada ampola do reto. Apresenta pregas
musculares (geralmente três), as pregas transversas do reto.
+ Canal anal: parte final do tubo digestório, atravessa o conjunto de partes
moles que oblitera inferiormente a pelve óssea (períneo) e abre-se para
o meio externo através do ânus. O músculo esfíncter interno do ânus
(involuntário) envolve intimamente o canal anal, enquanto o músculo
esfíncter externo do ânus (voluntário) encontra-se mais externamente,
contorna o músculo esfíncter interno e se prende à pelve.

129
Anatomia Humana Básica

Colo Colo
ascendente descendente

Tênia
do colo

Apêndice
vermiforme

Figura 7.1 O- Vista anterior do intestino grosso e estruturas que nele se destacam

Fígado
É a glândula mais volumosa do sistema digestório e o segundo maior órgão
do corpo. localiza-se imediatamente abaixo e à direita do diafragma, embora
uma pequena parte também ocupe a metade esquerda do abdome. Apresenta
duas faces: diafragmática, em contato com o diafragma e visceral, em contato
com as vísceras. Na face visceral distinguem-se 4 lobos: lobo hepático direito,
lobo hepático esquerdo, lobo quadrado e lobo caudado. Ainda nessa face, entre
o lobo hepático direito e o lobo quadrado, situa-se a vesícula biliar e entre o
lobo hepático direito e o lobo caudado, há um sulco que aloja a veia cava infe-
rior. A fenda entre esses quatro lobos denomina-se a porta do fígado, por onde
passa a artéria hepática própria, a veia porta e o dueto hepático comum . Na
face diafragmática os lobos direito e esquerdo são separados por uma prega de
peritônio, o ligamento falciforme. O ligamento falciforme envolve o ligamento
redondo que está situado entre o logo hepático esquerdo e o lobo quadrado e
representa um dos vestígios de circulação fetal (veia umbilical).

130
Sistema Digestório

Lobo
hepático
esquerdo

Ligamento
Lobo falciforme
hepático
direito

Veia cava
inferior

Lobo
hepático
direito
Lobo
hepático Vesícula
esquerdo biliar

Figura 7.11- Fígado A- Face diafragmática; B- Face visceral

Vesícula biliar e vias biliares

A vesícula biliar é um pequeno órgão sacular na face visceral do fígado que


armazena a bile produzida pelo mesmo. A bile é drenada para os duetos bilí-
feros intra-hepáticos e desses para os duetos hepáticos direito e esquerdo que se
unem para formar o dueto hepático comum. O dueto hepático comum conflui
com o dueto cístico (que se une a vesícula biliar), formando o dueto colédoco.
Muito frequentemente, o dueto colédoco junta-se com o dueto pancreático para
formar a ampola hepatopancreática, que se abre na papila maior do duodeno na
parte descendente desse órgão. A bile pode fluir diretamente do fígado para o
duodeno, mas há um dispositivo muscular que controla a abertura e o fecha-

131
Anatomia Humana Básica

mento dos duetos, o que permite que a bile reflua para a vesícula biliar. Quan-
do a vesícula biliar se contrai o dueto cístico leva a bile até o dueto colédoco e
dele para o duodeno.

Pâncreas
Está localizado inferiormente ao estômago e tem trajeto quase horizontal
na parede posterior do abdome (retroperitoneal). A cabeça do pâncreas está
envolta pelo duodeno, enquanto o corpo do pâncreas dirige-se para a esquer-
da e a cauda do pâncreas fica próxima ao baço. Secreta o suco pancreático
que contém enzimas digestivas. O suco é transportado ao duodeno pelo dueto
pancreático. O pâncreas funciona também como glândula endócrina, secre-
tando principalmente insulina e glucagon.

Vesícula
biliar
Dueto hepático
esquerdo

Dueto

Papila
maior do
duodeno

Figura 7-12- Vesícula biliar, pâncreas, duodeno e vias biliares

Peritônio e cavidade peritoneal


A mais extensa e complexa das membranas que reveste as cavidades cor-
póreas é o peritônio que está localizado na cavidade abdominopélvica. É uma

132
Sistema Digestório

membrana serosa, lisa, delgada e contínua que recebe nomes distintos de


acordo com sua localização. O peritônio víscera! recobre a superfície da maio-
ria das vísceras (órgãos) dessa cavidade. O peritônio parietal recobre aspa-
redes da cavidade e o diafragma. Ao espaço entre essas lâminas de peritônio
(peritônio parietal e peritônio visceral) damos o nome de cavidade peritoneal,
sendo esta preenchida por uma pequena quantidade de líquido denominado
líquido peritoneal. O peritônio possibilita deslizamentos entre as vísceras di-
minuindo o atrito e consequentemente o desgaste pela ação lubrificante do
líquido peritoneal. Mantém as vísceras em posição, pois as prende nas pare-
des da cavidade abdominopélvica ou umas às outras e as protege, mediante
mecanismos de secreção e absorção.
Para facilitar a compreensão do peritônio podemos descrever essa comple-
xa membrana da seguinte maneira: o peritônio parietal que reveste as paredes
ântero-laterais da cavidade abdominopélvica e sobe dessas paredes para re-
vestir o diafragma, desprendem-se desse músculo para revestir o fígado tor-
nando-se, desse modo peritônio visceral ao envolver esse órgão, mesmo que
parcialmente. Ao destacar-se do diagrama para o fígado o peritônio parietal
forma o ligamento coronário (ligamento: peritônio que une a parede da cavida-
de abdominopélvica a víscera ou uma víscera à outra; apresenta vasos em seu
interior) cujas extremidades constituem os ligamentos triangulares que pren-
dem o fígado ao músculo e o ligamento falciforme que prende o fígado ao dia-
fragma e à parede anterior do abdome. Após revestir o fígado as duas lâminas
do peritônio visceral (uma anterior e outra posterior) se encontram na região
da porta do fígado e se dirigirem à curvatura menor do estômago para forma-
rem o omento menor (omento: peritônio que une uma víscera à outra; apresen-
ta vasos em seu interior). Ao atingir a curvatura menor separam-se novamente
para revestir as paredes anterior e posterior do estômago até a curvatura maior,
onde outra vez se juntam e descem até a altura das cristas ilíacas. Nesse ponto
as duas lâminas de peritônio voltam-se sobre si mesmas e sobem em direção
ao colo transverso e formam o omento maior (quatro lâminas- duas quedes-
cem e duas que sobem). As duas lâminas posteriores envolvem o colo transver-
so e se dirigem a parede posterior como mesocolo transverso (mesa: peritônio
que prende a víscera à parede da cavidade abdominopélvica; apresenta vasos
em seu interior). As duas margens do omento menor são espessas e denomi-
nadas de ligamento hepatogástrico e hepatoduodenal. O cólo sigmoide está pre-
so a uma certa distância da parede da cavidade, formando o mesossigmóide.
O colo ascendente e o colo descendente são recobertos por peritônio apenas
anteriormente, portanto, parcialmente peritonizados. O ceco é peritonizado
mas não possui meso. O apêndice vermiforme apresenta o mesoapêndice. A
cauda do pâncreas pode estar parcialmente revestida por peritônio, enquanto
o corpo do pâncreas e a cabeça do pâncreas estão posteriormente ao peritônio
o que também ocorre com a parte descendente do duodeno. O jejuno e o íleo

133
Anatomia Humana Básica

estão presos à parede posterior da cavidade abdominopélvica pelo mesentério.


Classificado recentemente como órgão, sua raiz que é obliqua se estende da
flexura duodenojeunal até o nível da segunda vértebra lombar (L2 ), mede cerca
de 15 em e envolve as alças do jejuno e do íleo. Os ovários e as partes das tubas
uterinas (infundíbulo e fímbrias) são os únicos órgãos situados no interior da
cavidade peritoneal. Os rins são órgãos retroperitoniais.

Omento
maior

Intestino
delgado

Bexiga
urinária

Figura 7.13- Peritônio e cavidade peritoneal

134
Sistema Digestório

REFERÊNCIAS

DRAKE, R. L.; VOLGL, W. A.; MITCHELL, A. W. M. Gray 's anatomia clínica


para estudantes. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 1103p.

LAROSA, P. R. R. Anatomia humana: texto e atlas. São Paulo: Guanabara


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MARIEB, E. N.; WILHELM, P. B.; MALLAT. J. Anatomia Humana. São Paulo:


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MO ORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio


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SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatômica. Terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001. 248p.

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14.


ed. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 2016. 1222p.

135
Cristiane Regina Ruiz
Doutora em Ciências (Morfologia). Mestre em Morfologia e graduada em
Educação Física. Docente do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo,
ministrando as unidades curriculares Morfologia Humana e Morfofisiologia
Humana, nos cursos de graduação. Coordenadora do Curso de Especializa-
ção em Anatomia Macroscópica e Recursos Técnicos Laboratorias Aplicados a
Morfologia do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
O sistema circulatório é constituído de vasos, cuja função é distribuir oxigênio e nu-
trientes para todos os tecidos do organismo e recolher os restos do metabolismo celular.
Para o funcionamento deste sistema, há a necessidade de uma bomba propulsora, incum-
bida de dar a força indispensável para que o sangue possa circular e chegar aos locais mais
distantes do corpo. Esta bomba, conhecida como coração, é um órgão vital, que através
da sua contração muscular, impulsiona o sangue para alcançar todos os órgãos e tecidos
do corpo. Somente assim, todas as células do corpo conseguem receber os nutrientes e
oxigênios fornecidos pela circulação sanguínea e, ao mesmo tempo, eliminar os produtos
do metabolismo resultantes do uso destes nutrientes.
Este conjunto de vasos é composto de artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias,
com tamanhos, calibres e funções diferentes. Além disso, os vasos linfáticos também
estão incluídos neste sistema.
Para fluir o sangue pelo corpo todo, os músculos cardíacos têm de ser fortes suficientes
para gerar uma pressão com consequente ejeção do sangue (fluído da vida), por meio de
contrações conhecidas como batimentos cardíacos (frequência cardíaca). Assim, o sangue
arterial, (rico em oxigênio) propelido pelo coração, flui para todo corpo para proporcionar
a nutrição celular e, obrigatoriamente, retoma para o coração como sangue venoso (pobre
em oxigênio), que necessita ser reoxigenado pelos pulmões. Por isso, o sangue venoso que
retornou ao coração é impulsionado para os pulmões para ser oxigenado e retoma para o
coração como sangue arterial (rico em oxigênio), estando novamente apto para ser impul-
sionado para todo corpo.
O sistema circulatório é basicamente composto do coração e dos vasos sanguíneos. Está
também interligado a um sistema especial de vasos denominados de sistema linfático.
Os vasos linfáticos não carregam o sangue, mas um líquido transparente, de colora-
ção leitosa, coletado de todos os tecidos do corpo, que é devolvido para a circulação san-
guínea. A composição da linfa se constitui de líquidos e substâncias, tais como proteínas
de alto peso molecular, água e eletrólitos que normalmente se acumulam nos espaços
entre as células (espaço intersticial) após terem sido fornecidas pelo sangue para a nu-
trição das células. Assim, os vasos linfáticos têm a função de transportá-las e devolvê-las
à circulação sanguínea.
Portanto, quando se fala em sistema circulatório, faz-se referência ao coração e ar-
térias que levam sangue arterial às células e veias que trazem de volta o sangue venoso
para o coração, juntamente com a linfa trazida pelos vasos linfáticos, completando-se
assim a circulação de líquidos pelo nosso corpo.
O perfeito funcionamento da bomba cardíaca e dos vasos sanguíneos assegura a nutri-
ção e excreção das células vivas, deste modo, as alterações circulatórias de origem vascular
ou cardíaca podem propiciar doenças que resultam na morte celular dos tecidos e órgãos,
tais como decorrentes de trombose venosa, obstrução arterial e infarto do miocárdio.

Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias e Ci -


rurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade de Toronto e
Livre-Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre -Docente da UNIFESP. A linha de
pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes temas: translocação bacteriana,
sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

138
CAPÍTULOS

SISTEMA CIRCULATÓRIO
Cristiane Regina Ruiz

Funções do sistema circulatório


Nutrição e excreção: O sistema circulatório transporta oxigênio e nutrientes
para todas as células do organismo, transportando também os produtos
residuais do metabolismo celular desde onde foram produzidos até os
órgãos encarregados de eliminá-los. O coração bombeia sangue rico em
oxigênio, vindo dos pulmões, para o restante do corpo, através de uma
rede de tubos chamados artérias, e ramos de menor calibre, as arteríolas.
O sangue inicia seu retorno ao coração através de pequenos vasos, as
vênulas, as quais vão desembocando em tubos cada vez maiores, as veias.

Defesa do organismo: Neste sistema são produzidas as células de defesa do or-


ganismo: glóbulos brancos, linfócitos e anticorpos.

Correlação humoral: é também por meio do sistema circulatório que se conse-


gue enviar os hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas ao corpo.

Divisões:
O sistema circulatório pode ser dividido da seguinte forma:

1. Sistema cardiovascular: é um sistema fechado e inclui o coração, que fun-


ciona como bomba propulsora para o sangue, e os vasos sanguíneos, que
transportam o sangue através do corpo. Este sistema funciona da seguinte
forma: contido no coração e no interior de numerosos vasos, o sangue
percorre ininterruptamente um trajeto circular do coração para as arté-
rias, depois para os capilares e em seguida para as veias, de onde retoma
ao coração.
2. Sistema linfático: formado pelos vasos condutores da linfa e por órgãos
linfáticos.
3. Orgãos hematopoiéticos: representados pela medula óssea e pelos ór-
gãos linfáticos.

139
Anatomia Humana Básica

Coração
Orgão muscular oco (músculo estriado cardíaco), com função de bomba
hidráulica aspirante (pelos átrios) e impulsora (pelos ventrículos) que se si-
tua na cavidade torácica, no espaço entre os dois pulmões, na região chama-
da mediastino médio, atrás do esterno e acima do diafragma. O mediastino
médio contém o pericárdio, o coração, as raízes dos grandes vasos, a parte
ascendente da aorta, o tronco pulmonar e a veia cava superior que entram
e saem do coração, o arco da veia ázigo e os brônquios principais. O coração é
ligeiramente maior do que um punho cerrado tendo o formato de um cone
com a base para cima no vivo e no cadáver em forma de uma pirâmide trian-
gular com a base para cima.
Suas paredes são constituídas por três camadas:

+ endocárdio (interna): composto por tecido conjuntivo com uma cama-


da superficial de células pavimentosas; suas dobras formam as valvas,
enquanto o revestimento interno do coração é constituído do endotélio
que reveste todos os vasos do corpo.
+ miocárdio (média): constituído por músculo cardíaco, é revestido inter-
namente pelo endocárdio e é a camada mais espessa do coração.
+ pericárdio (externa): é um envoltório fibroseroso que se compô e de duas
partes: pericárdio fibroso: mais externo, rugoso, opaco e resistente; e pe-
ricárdio seroso (duas lâminas): mais interno, liso, transparente e brilhante
que é dividido em lâmina parietal (intimamente aderida ao pericárdio fi-
broso, internamente) e lâmina visceral (intimamente aderida ao coração).

Veia cava
superior
Tronco
pulmonar

Pericárdio
fibroso

Figura 8.1 -Pericárdio fibroso

140
Sistema Circulatório

O eixo do coração vai do centro da base até o ápice. Orienta-se para baixo,
para a esquerda e para diante. Também podemos orientá-lo dizendo que seu
ápice está para baixo, para a esquerda e para diante. O coração se mantém fixo
ao tórax pela sua continuidade com as veias cavas e pulmonares que formam a
cruz venosa do coração.
O coração tem uma porção central que é o esqueleto fibroso do coração,
constituído por tecido conjuntivo denso, dividindo-o em quatro câmaras: duas
superiores, os átrios e duas inferiores, os ventrículos. O átrio direito se comunica
com o ventrículo direito através da valva atrioventricular direita (tricúspide), en-
quanto o átrio esquerdo se comunica com o ventrículo esquerdo através da valva
atrioventricular esquerda (bicúspide). O átrio direito constitui a porção superior
direita do coração. A veia cava superior e a veia cava inferior desembocam no
átrio direito que traz sangue venoso de todo o corpo, exceto dos pulmões.
O ventrículo direito constitui a porção inferior direita do coração. O tronco
pulmonar divide-se nas duas artérias pulmonares (direita e esquerda) e conduz
o sangue venoso do ventrículo direito aos pulmões. O átrio esquerdo constitui
a porção superior esquerda do coração e recebe as quatro veias pulmonares
que drenam o sangue arterial dos pulmões. O ventrículo esquerdo constitui a
porção inferior do coração. A aorta sai do ventrículo esquerdo e leva sangue
arterial para todo o corpo, exceto para os pulmões.

Anatomia externa
O coração possui três faces: esternocostal (formada principalmente pelo
ventrículo direito), pulmonar esquerda (formada principalmente pelo ventrí-
culo esquerdo e ocupando a impressão cardíaca do pulmão esquerdo) e dia-
fragmática (formada principalmente pelo ventrículo esquerdo e parcialmente
pelo ventrículo direito, relacionada com o centro tendíneo do diafragma). Es-
tas faces ficam situadas abaixo do sulco coronário, estrutura responsável pela
separação entre os átrios e os ventrículos.
A base do coração situa-se acima do sulco coronário e é constituída pelos
átrios direito e esquerdo, aurícula direita e aurícula esquerda, veias cava (su-
perior e inferior), as quatro veias pulmonares (duas direitas e duas esquerdas),
aorta e tronco pulmonar.
O átrio direito recebe sangue venoso proveniente das veias cava superior
e inferior e do seio coronário. O átrio esquerdo recebe os dois pares de veias
pulmonares (direitas e esquerdas) que conduzem sangue arterial oriundo
dos pulmões.
Os átrios são separados externamente pelo sulco interatrial que pode ser
indicado superficialmente na base, imediatamente à direita das veias pulmo-
nares direitas. Anteriormente os átrios se continuam de cada lado da aorta e

141
Anatomia Humana Básica

do tronco pulmonar como um apêndice em forma de orelha, as aurículas. O


sulco coronário separa os átrios dos ventrículos e é bem marcado atrás, mas
interrompido na frente pela aorta e pelo tronco pulmonar.
Os ventrículos separam -se externamente pelo sulco interventricular an-
terior na porção esquerda da face esternocostal e pelo sulco interventricular
posterior, presente na face diafragmática. A margem direita do coração é o
encontro da face esternocostal com a face diafragmática e o ápice é a ponta do
coração, formado principalmente pelo ventrículo esquerdo.

Veia cava
superior
Tronco
Aorta pulmonar

Auricula
direita
Sulco
interventricular
anterior

Ventrículo
direito Ventrículo
esquerdo

Margem
direita
Ápice

Figura 8.2- Coração: face esternocostal

142
Sistema Circulatório

Anatomia interna
Internamente no átrio direito, encontram-se os músculos em forma de tre-
liça, denominados músculos pectíneos. No septo interatrial, encontramos uma
depressão oval que é um remanescente do forame oval do feto. Esta depressão
é denominada fossa oval. Na vida fetal, o forame oval permite que o sangue
oxigenado que entra no coração pelo átrio direito passe diretamente ao átrio
esquerdo e, portanto, desvie dos pulmões que não são ainda funcionais. Ao
nascimento, esse foram e desaparece permanecendo apenas a marca desse o ri-
fício, ou seja, a fossa oval.
Nos ventrículos as superfícies internas são irregulares devido à projeção de fei-
xes musculares, as trabéculas cárneas. São três os tipos de trabéculas: cristas, pontes
e músculos papilares (estes últimos fazem parte do aparelho valvar). No ventrículo
direito, encontra -se a valva atrioventricular direita (tricúspide) e, no ventrículo es-
querdo, a valva atrioventricular esquerda (bicúspide ou mitral).

Válvula semilunar

Valva atrioventricular Cordas


esquerda tendíneas
Valva atrioventricular
direita

Miocárdio

Figura 8.3- Coração. Anatomia interna

143
Anatomia Humana Básica

Aparelho valvar - O aparelho valvar, em cada ventrículo, consiste em


válvulas (cúspides) inseridas no anel fibroso que circunda o óstio atrio-
ventricular, cordas tendíneas e músculos papilares. Os músculos papilares
apresentam forma cônica e suas bases são implantadas na parede ventricu-
lar. Seus ápices são continuados por cordas tendíneas, que se inserem nas
valvas atrioventriculares.
Os músculos papilares e as cordas tendíneas associadas mantém as valvas
fechadas durante as alterações dos ventrículos que ocorrem durante a contra-
ção. Isso impede que o sangue dos ventrículos reflua para os átrios.
A diferença entre valva e válvula é de simples compreensão. Cada válvula
equivale a uma cúspide, e o conjunto de válvulas ou cúspides corresponde a
uma valva. Pode-se dizer que o termo valva é utilizado como plural de válvula.
A valva atrioventricular direita que também é chamada de tricúspide é com-
posta de três válvulas ou cúspides (anterior, septal e posterior). A valva atrio-
ventricular esquerda também chamada de bicúspide ou mitral é composta de
duas válvulas ou cúspides (anterior e posterior).
As válvulas semilunares consistem em cúspides de formato semilunar que
em conjunto originam a valva da aorta e a valva do tronco pulmonar, cada uma
delas com três cúspides.

Valva Valva do tronco


atrioventricular pulmonar
esquerda
Valva da aorta

Valva
atrioventricular -\--lr-'i1\o;;:------,P.r:---=-
direita

Figura 8.4- Valvas

144
Sistema Circulatório

Ciclo cardíaco
O coração exibe um ciclo rítmico definido de contração e relaxamento. Na
sístole, ocorre a contração e o coração expulsa o sangue de suas cavidades.
Na diástole, o músculo cardíaco relaxa e suas cavidades se enchem de sangue.
Estes movimentos são sincronizados e enquanto os átrios se enchem, os ven-
trículos se esvaziam e vice-versa.

Tipos de circulação:
+ circulação pulmonar ou pequena circulação: tem início no ventrículo direi-
to, de onde o sangue é bombeado para a rede capilar dos pulmões. Depois
de sofrer a hematose (troca de C02 por 0,), o sangue oxigenado retoma
ao átrio esquerdo. Em síntese, é uma circulação coração-pulmão-coração.
+ circulação sistêmica ou grande circulação: tem início no ventrículo es-
querdo, de onde o sangue é bombeado para a rede capilar dos tecidos do
organismo. Após as trocas, o sangue retoma pelas veias ao átrio direito.
Em resumo, é uma circulação coração-tecidos-coração.
+ circulação portal: neste tipo de circulação, uma veia interpõe-se entre
duas redes de capilares, sem passar por um órgão intermediário. Isto
acontece na circulação portal hepática, provida de uma rede capilar no
intestino (onde há absorção dos alimentos) e outra rede de capilares
sinusoides no fígado (onde ocorrem complexos processos metabólicos),
ficando a veia porta interposta entre as duas redes.

145
Anatomia Humana Básica

Veias pulmonares

SANGUE
ARTERIAL

SANGUE
VENOSO

Veia
mesentérica
superior

Figura 8.5- Circulação- esquema: A- Circulação sistêmica


B- Circulação portal

146
Sistema Circulatório

Sistema de condução do coração


O sistema estimulante e condutor de impulsos do coração é composto por
4 componentes básicos:
- nó sinoatrial
- nó atrioventricular
- feixe atrioventricular com seus ramos direito e esquerdo
- plexo subendocárdico de células de condução (células de Purkinje)

De maneira resumida, o funcionamento do sistema de condução é o se-


guinte: o nó sinoatrial inicia um impulso que é conduzido para as fibras do
miocárdio situadas nos átrios, levando à sua contração. Esse impulso se espa-
lha e é transmitido do nó sinoatrial para o nó atrioventricular que o distribui
através do feixe atrioventricular e seus ramos de cada lado do septo interven-
tricular fornecendo ramos subendocárdicos para os músculos papilares e pa-
redes ventriculares que então contraem.

Nó sinoatrial

atrioventricular

atrioventricular

Atrioventricular
(ramo esquerdo)

Fascículo
Atrioventricular
(ramo direito)

Figura 8-6- Sistema de condução do coração

147
Anatomia Humana Básica

Artérias
São vasos que se originam nos ventrículos do coração (aorta e tronco pul-
monar), e quando se ramificam, distribuem o sangue a todas as partes do cor-
po humano; nelas o fluxo sanguíneo é centrífugo.

QUADRO 8. 1 -CARACTERÍSTICAS MORFOLOGICAS


DAS ARTÉRIAS

DIFERENÇAS COM
AS VEIAS
I CALIBRE I ELASTICIDADE I RAMOS ISITUAÇÃO
Paredes mais Elásticas Mantém TERMINAIS: SUPERFICIAIS:
resistentes (grande o fluxo quando a ar- geralmente
calibre) sanguíneo téria principal são oriundas
constante, deixa de existir das artérias
durante a (divisão) musculares e se
diástole, Ex. artéria destinam à pele.
através da radial e ulnar
energia (ramos termi-
potencial nais da artéria
da sístole braquial).
ventricular.

Forma Distri- Tensão COLATERAIS: PROFUNDAS:


regularmente buidoras longitudinal. quando a quase a totalidade;
cilíndrica (médio artéria emite encontram-se
calibre) ramos e o protegidas. São
tronco de ori- acompanhadas
gem continua por uma ou duas
a existir. veias. Algumas
apresentam
pequenos trajetos
superficiais
(pulsação).

Localização Arteríolas
sempre profunda (pequeno
calibre)

Não apresentam
válvulas

No cadáver: vazias
e esbranquiçadas

No vivo: pressão
do sangue maior,
pulsação, cor
avermelhada.

148
Sistema Circulatório

Veias
Vasos que recolhem o sangue dos tecidos, confluindo umas com as outras
até a formação das veias cava; nelas, o fluxo sanguíneo é centrípeto (coração).

QUADRO 8. 2- CARACTERÍSTICAS MORFOLOGICAS DAS VEIAS

DIFERENÇAS COM
ASARTERIAS
ICALIBRE ISITUAÇÃO
Têm paredes mais Grande, médio, pequeno; SUPERFICIAIS:
frágeis vênulas subcutâneas; mais
calibrosas nos membros
e no pescoço. Auxiliam a
circulação profunda. Não
acompanham as artérias;

Têm pressão mais Possuem , em geral, maior PROFUNDAS: podem


baixa calibre que as artérias e ser solitárias ou satélites.
grande capacidade de Acompanham as artérias.
aumentá-lo.

Não pulsam e possuem As veias recebem numerosas COMUNICANTES:


válvulas tributárias e seu calibre Quando unem uma veia à
aumenta à medida que se outra, ex., v. intermédia do
aproximam do coração cotovelo.

Podem ser superficiais SATÉLITES (veias


ou profundas acompanhantes): se
situam uma de cada lado
de algumas artérias,
sendo o conjunto
envolvido em uma
única bainha de tecido
conjuntivo.

Forma achatada

Cor azulada (parede


fina, transparente).

149
Anatomia Humana Básica

Fluxo de sangue

Figura 8.7- Válvulas venosas

Principais artérias e veias do corpo humano

Artérias
O vaso que ascende do ventrículo esquerdo do coração chama-se parte
ascendente da aorta, da qual se originam as artérias coronárias direita e es·
querda. A aorta forma um arco para a esquerda chamado arco da aorta, dela
originam-se o tronco braquiocefálico (à direita), a artéria carótida comum es·
querda e a artéria subclávia esquerda. As artérias carótida comum direita e a
artéria subclávia direita se originam do tronco braquiocefálico. Cada artéria
carótida comum divide-se em artérias carótida interna e externa no pescoço.

150
Sistema Circulatório

Figura 8.8- Vascularização da cabeça e pescoço

Para o encéfalo. o suprimento sanguíneo chega através de quatro vasos: o


par de artérias carótidas internas e o par de artérias vertebrais dando origem
ao círculo arterial do cérebro. Este circuito é composto pelas seguintes arté·
rias: artéria basilar. artérias cerebrais anteriores. artérias cerebrais médias.
artérias cerebrais posteriores, artérias comunicantes anteriores e artérias co·
municantes posteriores.

[ A. Comunicanle An terior ]

Figura 8.9- Circulação do encéfalo

151
Anatomia Humana Básica

Nos membros superiores, cada artéria subclávia passa profundamente pela


clavícula dando origem à artéria axilar que continua na região do braço como
artéria braquial, que se divide próximo à fossa cubital em artéria radial e artéria
ulnar que irão formar os arcos arteriais superficial e profundo do mão. Das arté-
rias subclávias originam-se também as artérias vertebrais direita e esquerda, que
sobem pelo pescoço por dentro dos forames transversários das vértebras cerví-
cais e penetram no crânio onde se juntam para formar a artéria basilar.

Figura 8.10- Vascularização dos membros superiores

Para o coração a distribuição de artérias é a seguinte: a artéria coronária di-


reita se origina da parte ascendente da aorta e dá os seguintes ramos principais:
ramo do cone arterial, ramo do nó sinoatrial, ramo marginal direito, ramo inter-
ventricular posterior e ramo do nó atrioventricular. A artéria coronária direita
e seus ramos irrigam o átrio direito e o ventrículo direito, os nós sinoatrial e
atrioventricular, o septo interatrial, uma parte do átrio esquerdo e do septo inter-
ventricular e uma parte da região superior do ventrículo esquerdo.
A artéria coronária esquerda se origina também da parte ascendente da
aorta e dá os seguintes ramos principais: ramo interventricular anterior, ra-
mo do cone arterial, ramo circunflexo, ramo marginal esquerdo e ramo pos-
terior do ventrículo esquerdo. Ela irriga a maior parte do átrio esquerdo, o
ventrículo esquerdo e a maior parte do septo interventricular, incluindo o feixe
atrioventricular e seus ramos.
Ocorrem muitas variações nos padrões de distribuição básica das artérias co-
ronárias, sendo que, no padrão mais comum a artéria coronária direita é domi-
nante, sendo dela que se origina o ramo interventricular posterior nestes casos.
Em casos onde a dominância é da artéria coronária esquerda (porcentagem me-
nor de casos) o ramo interventricular posterior se origina do ramo circunflexo.
152
Sistema Circulatório

Ramo
Marginal
Direito

A. Coronária
Esquerda

Ramo Int én,entri<:ul:~r Ramo Marginal


Anterior Esquerdo

Figura 8.11- Artérias coronárias direita e esquerda e seus ramos

153
Anatomia Humana Básica

As partes torácica e abdominal da aorta fornecem ramos aos órgãos e mús-


culos dessas regiões. Como exemplos desses vasos, podemos citar as artérias
intercostais, artérias frênicas, artérias renais, artéria mesentérica superior e ar-
téria mesentérica inferior. Destacamos o calibras o tronco celíaco (que significa
relativo ao ventre), um vaso ímpar que se divide imediatamente em três arté-
rias: artéria esplênica (que se dirige ao baço), artéria gástrica esquerda (que se
dirige ao estômago) e artéria hepática comum (que se dirige ao fígado).
A parte abdominal da aorta termina na parede posterior da pelve quando
se bifurca nas artérias ilíacas comuns direita e esquerda. Esses vasos dividem-se
em artérias ilíacas interna e externa.

A. Esplfnka
A. Hepjtica Comum
A. G'st rica Esque rda

A. lllae~~lnte rnil

A. maca Externa

Figura 8-12- Vascularização do abdome e pelve

A artéria ilíaca interna dirige-se aos órgãos da região pélvica e aos mús-
culos glúteos enquanto a artéria ilíaca externa encaminha-se ao membro
inferior. Ao passar pelo ligamento inguinal ela passa a se chamar artéria
femoral, vaso este que forma um ramo importante denominado artéria fe-
moral profunda . A artéria femoral se torna artéria poplítea quando passa
para a face posterior do joelho. Esta artéria, então, divide-se em artéria ti-
bial anterior e artéria tibial posterior sendo que da artéria tibial posterior
origina-se a artéria fibular.

154
Sistema Circulatório

Figura 8.13- Vascularização dos membros inferiores

Veias

As veias de todo o corpo (exceto dos pulmões) convergem para a veia cava
superior e a veia cava inferior. Assim como as artérias. as veias são denominadas
de acordo com a região na qual elas se encontram ou o órgão que elas drenam, po·
dendo ser superficiais (sob a pele) ou profundas (próximas das artérias principais).
O sangue do couro cabeludo, da face e da região superficial do pescoço é
drenado pelas veias jugulares externas que descem pela lateral do pescoço até
alcançar as veias subclávias direita e esquerda, atrás da clavícula. O par de veias
jugulares internas drena o sangue do encéfalo e das regiões profundas da face e
do pescoço. Essas veias originam-se dos seios venosos da dura-máter, uma sé-
rie de canais entre as duas camadas da dura-máter. As veias jugulares internas
encontram-se com as veias subclávias formando as veias braquiocefálicas di-
reita e esquerda. A união das veias braquiocefálicas forma a veia cava superior
que desemboca no átrio direito do coração.

v. cavaSupedor ] ~
-~
A
------
Figura 8.14- Principais veias da cabeça e pescoço

155
Anatomia Humana Básica

O membro superior tem como principais veias superficiais a veia cefálica


(que drena a porção lateral do membro), a veia basílica (que drena a porção
mediai do membro) e a veia intermédia do cotovelo (uma veia comunicante que
une a veia cefálica com a basílica). Como drenagem profunda, as veias radiais
(lateralmente no antebraço) se juntam com as veias ulnares (medialmente no
antebraço) na fossa cubital e formam a veia braquial (no braço) que continua
subindo para formar a veia axilar que a partir da margem lateral da 1' costela
passa a se chamar veia subclávia.

Termin1çio

Figura 8.15- Drenagem superficial do membro superior

No tórax, é importante destacar a veia ázigo (que significa ímpar) que se


estende superiormente ao longo da parede abdominal posterior e parede torá·
cica no lado direito da coluna vertebral. Ela sobe pelo mediastino e desemboca
na veia cava superior.

V•
Intercostais
Posteriores
E.s.q uerdlls

Figura 8.16- Principais veias do tórax

Os membros inferiores também têm veias superficiais: veia safena parva


(região posterior da perna) e veia safena magna (região mediai da perna e
coxa). Profundamente as veias tibiais posteriores e anteriores originam-se no

156
Sistema Circulatório

pé e seguem para cima, formando a veia poplítea. A veia poplítea torna-se a


veia femoral na região anterior da coxa e segue até atravessar o ligamento in-
guina! onde passa a se chamar veia ilíaca externa. A veia ilíaca externa une-se
à veia ilíaca interna, que vem do interior da pelve, e ambas formam a veia ilíaca
comum. A união das duas veias ilíacas comuns forma a veia cava inferior que
irá subir e desembocar no átrio direito do coração.

Figura 8.17- Drenagem superficial do membro inferior

No abdome, encontra-se uma grande quantidade de veias. A veia cava infe-


rior recebe as seguintes tributárias do abdome: veias renais, veia gonadal direita
(a veia gonadal esquerda, desemboca na veia renal), veias lombares, veias frêni-
cas, veias hepáticas, porém a veia cava inferior não recebe sangue diretamente do
trato gastrintestinal, do pâncreas ou do baço.

Figura 8.18- Principais veias do abdome e pelve

157
Anatomia Humana Básica

Em vez disso, o fluxo venoso desses órgãos passa primeiramente através dos
capilares do fígado. A esse sistema dá -se o nome de sistema porta hepático ou
circulação portal (já explicada anteriormente). Ele é constituído pela veia me-
sentérica superior (intestino delgado e lado direito do intestino grosso), veia
mesentérica inferior (intestino grosso) e veia esplênica (baço). Essas veias con-
fluem para um único vaso denominado veia porta que penetra no fígado. Esse
sangue depois de ser trabalhado pelos capilares do fígado é enviado pelas veias
hepáticas para a veia cava inferior.

Figura 8.19- Formação e drenagem da veia porta

No que diz respeito à drenagem do coração, em geral as veias cardíacas


confluem para uma veia maior chamada seio coronário, que se acomoda no
sulco coronário, visto anteriormente na anatomia externa do coração.

Sistema linfático
O sistema linfático está intimamente relacionado com o sistema circulató-
rio, estrutural e funcionalmente. Uma rede de vasos linfáticos drena o excesso
de líquido intersticial e devolve-o à corrente sanguínea pelo fluxo em um só
sentido que se movimenta lentamente em direção à junção das veias subclá-
vias com as jugulares. Além disso, o sistema linfático funciona na absorção de
gordura e na defesa do corpo contra micro-organismos e outras substâncias
estranhas. Em resumo, o sistema linfático tem três funções principais:
1. Transporta o excesso de líquido intersticial, que se formou inicialmente
como filtrado do sangue.
2. Serve como rota através do qual as gorduras absorvidas e algumas vita-
minas são transportadas do intestino delgado para o sangue.

158
Sistema Circulatório

3. Suas células (linfócitos) ajudam a proporcionar as defesas imunológicas


contra doenças causadas por agentes infecciosos.

Componentes:

Capilar linfático: podem ser abertos na extremidade intersticial com fibras


elásticas regulando a entrada da linfa ou fechados "em dedo de luvà'.
Vasos Linfáticos: paredes mais finas do que as veias, possuem as três ca-
madas (íntima, média e adventícia), e numerosas válvulas. Podem ser aferen-
tes quando penetram em um linfonodo o que fazem por sua curvatura maior
(convexidade) ou eferentes quando saem de um linfonodo que é feito pela cur-
vatura menos (concavidade).
Troncos Linfáticos: condutos de calibre maior, formados pela reunião de
vasos linfáticos.
Coletores Linfáticos: são os condutos de maior calibre formados pela reu-
nião de troncos e vasos linfáticos e através deles a linfa é lançada nas grandes
veias do pescoço.

No organismo humano existem 2 coletores linfáticos: o dueto torácico e o


dueto linfático direito.

Dueto torácico:

Formação: na cisterna do quilo, que é uma dilatação linfática situada por


diante e do lado direito da segunda vértebra lombar.
Terminação: como ampola o dueto torácico desemboca na junção das
veias: subclávia e jugular interna do lado esquerdo.
Drenagem: os dois lados do corpo situados abaixo do diafragma, mais os
lados esquerdos do tórax, pescoço, cabeça e membro superior esquerdo.

Dueto Linfático Direito:

Formação: na base do lado direito do pescoço, posteriormente às inserções


inferiores do músculo esternocleidomastóideo
Terminação: junção das veias subclávia e jugular interna do lado direito.
Drenagem: lado direito do tórax, pescoço, cabeça e membro superior direito.

O líquido que circula no interior dos condutos linfáticos é a linfa que pro -
cede do líquido intersticial assimilado pelos capilares linfáticos. É de cor le-
vemente amarelada, transparente, faz exceção a linfa intestinal que é branca e
leitosa pelo alto teor em gorduras e se chama quilo.

159
Anatomia Humana Básica

A composição química da linfa é semelhante a do sangue, mas os elemen-


tos celulares são diferentes, pela quantidade insignificante de hemácias e pelo
número maior de linfócitos. Da fusão dos capilares linfáticos, a linfa é carrega-
da para os vasos linfáticos e finalmente para vasos maiores chamados duetos
linfáticos que desembocam em um dos 2 principais duetos: o dueto torácico e
o dueto linfático direito.

Linfonodos - a linfa é filtrada dentro dos linfonodos que se agrupam ao longo


dos vasos linfáticos. Os linfonodos são pequenos corpos em forma de feijão, que
geralmente se apresentam em agrupamentos em regiões específicas do corpo.
Alguns dos agrupamentos principais de linfonodos são: os linfonodos in-
guinais, os linfonodos lombares, os linfonodos axilares, os linfonodos do tórax
e os linfonodos cervicais.

Figura 8.20- Território de drenagem dos duetos linfático direito e torácico


-Cinza claro- dueto linfático direito, Cinza escuro- dueto torácico.

160
Sistema Circulatório

Órgãos linfáticos:

+ Medula óssea: são extremidades dos ossos longos das costelas, do


esterno, do quadril, que produz linfócitos.
+ Tonsilas: formam um anel protetor de tecidos linfáticos em torno das
aberturas entre as cavidades nasal e oral e a faringe. São elas: tonsila
faríngea, tonsilas palatinas e tonsila lingual.
+ Baço: localizado no lado esquerdo da cavidade abdominal, auxilia
na produção de linfócitos, na filtração do sangue e na destruição de
hemácias velhas.
+ Timo: localizado no tórax anterior, profundamente ao manúbrio do
esterno. Desempenha um papel importante no sistema imunológico.
+ Linfonodos: produtores de linfócitos

REFERÊNCIAS

DRAKE, R. L.; VOLGL, W A.; MITCHELL, A. W M. Gray's anatomia clínica


para estudantes. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

MO ORE, K. Fundamentos de anatomia clínica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guana-


bara Koogan, 2013.

MOORE, K.; DALLEY, A. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

NETTER, F. Atlas de anatomia humana. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatômica. Terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

161
Renato Murcia
Graduação em Odontologia pela Universidade de Mogi das Cruzes - UMC.
Especialista em Ensino Odontológico, pelo Centro de Pós-Graduação da Uni-
versidade de Mogi das Cruzes - UMC. Nível de Especialização em Iniciação
Didática e Científica em Anatomia Humana, na disciplina de Anatomia da Fa-
culdade de Ciências Médicas de Santos da Fundação Lusíadas - FCMS. Mestre
em Morfologia Aplicada, ênfase em Anatomia Humana, pelo Programa de Pós-
-Graduação da Universidade Cidade de São Paulo- UNICID. Docente do Cen-
tro Universitário São Camilo de São Paulo, na disciplina de Anatomia Humana.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
Enquanto o sistema digestório elimina por si só os dejetos alimenta-
res, os produtos do metabolismo de todas as células do corpo humano são
constantemente lançados no sangue e precisam ser eliminados antes que o
nosso sangue se torne um lixo metabólico cumulativo. A eliminação dos
metabólitos celulares é realizada principalmente pelo sistema urinário me-
diante a seleção de elementos a serem desprezados na urina. Dessa forma,
a partir do sangue circulante, estruturas especializadas internas dos rins
realizam a filtração, reabsorção e excreção (eliminação) por via urinária,
por meio de estruturas tubulares, para o meio externo (micção).
Além disso, os rins podem secretar, diretamente na urina, os produtos
do metabolismo que existem em excesso no sangue, como elementos bá-
sicos e ácidos, que podem modificar profundamente o equilíbrio ácido-
-básico do organismo e provocar doenças graves.
Dentre as múltiplas funções do rim, a função principal é a manu-
tenção do equilíbrio de água e eletrólitos, elementos essenciais da com-
posição sanguínea. Assim sendo, o exagero na ingestão de água e ou de
sal, ao ser absorvido pelo sistema digestório e alcançar a circulação san-
guínea, é eliminado para não haver edema e nem a elevação da pressão
sanguínea. Esta manutenção do equilíbrio ideal de água e eletrólitos é
realizada ininterruptamente pelos rins durante toda a nossa existência.

Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre- Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre - Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

164
CAPÍTUL09

SISTEMA URINÁRIO
Renato Murcia

O sistema urinário é constituído por um conjunto de órgãos responsáveis


pela manutenção da constância do meio interno do corpo, denominada home-
ostasia, bem como, outros sistemas, também atuam com essa responsabilida-
de, eliminando vários produtos (água, sais e demais substâncias).
Dessa forma, se mantém a estabilidade interna do organismo, sendo, en-
tretanto, a principal ação desempenhada pelo sistema urinário, a excreção de
muitos e variáveis produtos, conservando ou eliminando substâncias, confor-
me a necessidade, conseguindo, assim, o equilíbrio interno orgânico.

Composição anatômica

O sistema urinário é composto por:


+ Rins: órgãos pares produtores da urina, por meio da filtragem do
sangue;
+ Ureteres: dois condutores da urina dos rins para a bexiga urinária;
+ Bexiga urinária: reservatório único, que se continua na uretra;
+ Uretra: canal único de comunicação com o meio externo, que conduz
a urina para sua eliminação.

165
Anatomia Humana Básica

Rim

Ureter

Bexiga urinária

Uretra

Figura 9.1 -Sistema urinário: visão geral

RINS

Orgãos pares, direito e esquerdo, situados ao lado da coluna vertebral na


altura da décima primeira ou décima segunda vértebra torácica, até a terceira
vértebra lombar.
Estão localizados próximo da parede posterior da cavidade abdominal e,
dorsalmente ao peritônio parietal, sendo, portanto, retroperitoneais. Dessa
forma, situam-se próximo dos músculos dorsais e atrás da cavidade peritoneal,
ficando, então, fora dessa.
O rim direito está posicionado pouco abaixo do rim esquerdo, em conse-
quência da presença do fígado, que ocupa o quadrante superior direito.

Anatomia Externa

Os rins, em seu formato, são semelhantes a um grão de feijão, com coloração


marrom avermelhada. Em suas extremidades superiores encontram-se, encaixa-
das, como chapéus, as glândulas suprarrenais, pertencentes ao sistema endócrino.

166
Sistema Urinário

Apresentam dimensão média de 11 em de comprimento, no sentido lon-


gitudinal, com suas extremidades denominadas polos superior e inferior;
duas faces, sendo a anterior mais abaulada e convexa e a posterior mais pla-
na; duas margens, lateral e mediai, com formas curvas, convexa na margem
lateral e côncava na margem mediai, essa interrompida pelo hilo renal, que
é uma abertura em forma de fenda, como uma porta que dá passagem às
estruturas que entram e saem de cada órgão.

Glândula suprarrenal

Margem lateral I
I

Figura 9.2- Rim direito

Pelo hilo renal entra a artéria renal e saem a veia renal e a pelve renal, jun-
tamente nervos e linfáticos. Todas essas estruturas, consideradas em conjunto,
formam o pedículo renal, com a pelve posicionada posteriormente aos vasos
sanguíneos.
A pelve é uma dilatação, em forma de funil, coletora da urina proveniente
do interior do rim, que se continua no ureter, ainda na região do hilo renal,
com direção inferior.
O hilo dá continuidade a um espaço interno e central, como uma fossa
escavada, no interior do rim, denominada seio renal, ocupada pelo pedículo
renal, pelos cálices renais e por razoável quantidade de gordura.
Cada rim é envolvido por um tecido fibroso que reveste sua superfície, a
cápsula fibrosa, sendo essa, a camada mais interna de revestimento do órgão.

167
Anatomia Humana Básica

Por fora dessa cápsula, encontramos uma camada média de tecido gorduroso,
a cápsula adiposa. A camada mais externa, dupla, é a fáscia renal, que atua
como elemento de fixação na parede posterior do abdome.

Cápsula
fibrosa

Pedículo
renal

Figura 9.3- Rim direito- cápsula fibrosa, h i lo renal e pedículo renal

Anatomia Interna

A estrutura interna é observada partindo de um corte coronal, onde a re-


gião mais externa, abaixo da cápsula fibrosa é o córtex renal. Consiste de uma
camada com 1 em de espessura, aproximadamente, formada por glomérulos e
túbulos contorcidos dos néfrons, unidades funcionais dos rins. O córtex renal
se prolonga e ocupa os espaços existentes abaixo dele, entre as pirâmides da
região seguinte, a medula renal. Esses prolongamentos são as colunas renais.
Abaixo do córtex renal, temos a medula renal, formada, por várias estru-
turas triangulares, as pirâmides renais, de formato piramidal invertido, com
a base voltada externamente e o vértice direcionado para o centro do rim. A
pirâmides renais, em número de 8 a 15 aproximadamente, tem aspecto estria-
do, devido à presença dos túbulos retos dos néfrons e duetos coletores, que
convergem para o vértice denominado papila renal, na qual os duetos se abrem
em minúsculos forames papilares, através dos quais, a urina produzida goteja
para o interior de coletores, os cálices renais menores.
As papilas renais ficam encaixadas nos cálices renais menores que, devido
a sua forma de copo, coletam a urina. Os cálices renais menores, em número

168
Sistema Urinário

variável, 8 a 12, nem sempre compatível com as pirâmides renais, confluem


para formar dois ou três cálices renais maiores que, por sua vez, se unem, for-
mando a pelve renal, dilatação afunilada, já descrita anteriormente, e que dá
continuidade ao ureter.
Os cálices renais menores e maiores, e a pelve renal, ocupam o seio renal
e constituem um sistema de coletores que recebem e conduzem a urina, do
interior dos rins para o ureter.

Papila renal

Pirâmide
renal
Cálices renais
Coluna
renal

Córtex - ---<WI-- Cálices renais


renal

Ureter - parte
abdominal

Figura 9.4- Corte coronal do rim direito

169
Anatomia Humana Básica

URETERES
Os ureteres, um para cada rim, são tubos musculomembranáceos, es-
treitos e longos, com 25 em de comprimento, que descem junto à parede
posterior do abdome e da pelve, divididos em partes abdominal e pélvica,
conforme a região que percorrem, penetram nas faces posterolaterais da be-
xiga urinária, onde percorrem, por curto trajeto, a sua parede, como parte
intramural, desembocando no interior da bexiga, no óstio do ureter (direito
e esquerdo). Nesta parte intramural, a musculatura da parede da bexiga, du-
rante o seu enchimento, pode fazer uma compressão, impedindo um possí-
vel refluxo ureteral.
Suas paredes são formadas por 3 túnicas: adventícia (fibrosa), muscular e
mucosa, com a muscular realizando movimentos peristálticos, induzindo a
condução da urina.

BEXIGA URINÁRIA
Orgão ímpar, cavitário, musculomembranáceo, também retroperitoneal,
atuante como um reservatório temporário da urina. Constitui a porção mais
dilatada das vias urinárias. Está localizada posteriormente à sínfise púbica, na
região anterior da pelve.
Mantém relações topográficas, no homem, com o reto posteriormente,
com a próstata, inferiormente as ampolas dos duetos deferentes e as glândulas
seminais, inferoposteriormente. Na mulher, relaciona-se com a vagina poste-
riormente, a qual se interpõe entre a bexiga e o reto, e com o útero, superior-
mente, que se projeta para cima e para frente da bexiga.
Quando está vazia, sua forma é semelhante à uma pirâmide invertida, prin-
cipalmente na mulher, devido à presença do útero, acentuando o achatamento
superior. Quando está cheia, assume forma esférica, se expandindo para a ca-
vidade abdominal, pois, mesmo sendo mantida na sua posição pelo peritônio,
a distensão das suas paredes lhe confere certa mobilidade.
Apresenta capacidade de armazenamento em torno de 800 ml de urina,
embora, quando atinge a média de 300 ml, já ocorrem estímulos que desenca-
deiam a ação reflexa neurológica necessária para o seu esvaziamento. Impulsos
nervosos determinam contração da musculatura esfinctérica da bexiga, reten-
do a urina no seu interior, ou o relaxamento dessa musculatura e a contração
da musculatura de suas paredes, o músculo detrusor da bexiga, ocorrendo,
assim, o seu esvaziamento. À ação excretora, dá-se o nome de micção.
A mucosa da bexiga, quando está vazia, apresenta-se pregueada, frouxa,
devido à sua condição retraída, vez que trata-se de órgão que sofre dilatação
e retração. Na sua base, região inferior, abrem-se os dois óstios dos ureteres,

170
Sistema Urinário

pósterolaterais, com a mucosa, formando uma prega interuretérica, entre os


dois óstios, que funciona como um dispositivo valvular, para prevenir o reflu-
xo ureteral, durante o esvaziamento.
Com posição mais anterior, uma outra abertura, o óstio interno da uretra,
consiste no início da uretra, por onde a urina será conduzida para o exterior.
Esta área compreendida entre os três óstios, com formato triangular, é de-
nominada trígono da bexiga, apresentando a mucosa com aspecto mais liso e
bem aderida à musculatura.
Na região do óstio interno da uretra, a musculatura lisa da bexiga continua
ao redor dessa abertura, constituindo o esfíncter interno da uretra, com con-
trole involuntário da sua contração. Mais abaixo, há uma musculatura estriada,
proveniente do assoalho pélvico, que constitui o esfíncter externo da uretra,
com controle voluntário, o que nos possibilita reter o conteúdo da bexiga por
algum tempo, adequado a sua excreção.

URETRA
Componente final das vias urinárias, estabelecendo a comunicação com o
meio externo. Em ambos os sexos, a uretra se inicia em seu óstio interno e ter-
mina se abrindo para o exterior no seu óstio externo. Apresenta, também, os
esfíncteres, interno e externo, já descritos. As características aqui apresentadas
são comuns para a uretra masculina e a uretra feminina, diferindo, apenas, nas
suas localizações e aspectos morfofuncionais.
Podemos, assim, estabelecer um estudo comparativo entre ambas:

Uretra Feminina

Quanto aos aspectos anatômicos, tem posição posterior à sínfise púbica e ante-
rior à vagina. É relativamente curta e reta, com 4 em de comprimento. Sua abertura
para o exterior se dá no óstio externo da uretra, localizado na região do vestíbulo
da vagina, acima do óstio da vagina.
Quanto ao aspecto funcional, desempenha somente função urinária, con-
duzindo a urina para sua eliminação.

Uretra Masculina

Quanto aos aspectos anatômicos, se estende da bexiga até o óstio externo


da uretra, no ápice da glande do pênis, num trajeto longo e sinuoso, com 20 em
de comprimento. Distinguimos várias partes conforme a região percorrida:
considerada, primeiramente, a parte intramural, com 1,5 em, ao atravessar a
parede da bexiga; a seguir, a parte prostática, com 3 a 4 em, percorre o interior
da próstata, no sentido longitudinal, indo da base ao ápice, onde recebe os

171
Anatomia Humana Básica

dúctulos prostáticos e os duetos ejaculatórios em um relevo chamado colícu-


lo seminal, que conduzem o esperma para esta parte da uretra; continua seu
trajeto como parte membranácea, com 2 em de comprimento, ao atravessar a
membrana do períneo, em direção ao pênis; tem início, então, a última por-
ção, a parte esponjosa, com 15 em de comprimento e, ao penetrar no bulbo do
pênis, recebe os dutos das glândulas bulbouretrais, segue percorrendo todo o
corpo esponjoso, até a sua extremidade distai mais volumosa, a glande, onde
a uretra sofre uma dilatação, a fossa navicular da uretra, terminando no óstio
externo da uretra, localizado no ápice da glande.
Quanto aos aspectos funcionais, serve tanto ao sistema urinário, quanto ao
sistema reprodutor, desempenhando dupla função: transporte de urina para
excreção e transporte de esperma para a reprodução.

URETRA URETRA
MASCULINA FEMININA

Figura 9.5- Aparelho urogenital masculino e feminino

172
Sistema Urinário

REFERÊNCIAS

LAROSA, P. R. R. Anatomia humana: texto e atlas. São Paulo: Guanabara


Koogan, 2016.

MARIEB, E.; WILHELM, P. B.; MALLATT, J. Anatomia humana. 7. ed. São


Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014.

MO ORE, K. L.; DALLEY, A. F. Anatomia orientada para clínica. 7. ed. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatômica. Terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

TORTORA, G. J.; NIELSEN, M. T. Princípios de anatomia humana. 12. ed.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

173
Sérgio Ricardo Rios Nascimento
Mestre em Morfologia pelo Departamento de Biologia Estrutural e Fun-
cional pela UNIFESP/EPM, São Paulo - SP Especialista em Anatomia Ma-
croscópica e por Imagens pelo Centro Universitário São Camilo. Tecnólogo em
Radiologia atuando com Tomografia Computadorizada e Ressonância Mag-
nética no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Docente no Cen tro Universitário
São Camilo nas disciplinas de Anatomia humana, Anatomia Seccional por
TC e RM, e Técnicas Anatômicas, nos cursos de graduação e pós-graduação.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
Qualquer sociedade dos animais é constituída de elementos da mes-
ma espécie e esta relação permite a proteção do grupo perante as outras
espécies. Portanto, quanto maior a população maior é a sua sobrevivência
no meio em que vive. Assim, a reprodução dos seres da mesma espécie é
considerada como sendo um fator relevante em qualquer espécie animal.
Biologicamente, a evolução dos seres fez com que o cruzamento entre
diferentes espécies não produzisse proles.
O ser humano, como qualquer outra espécie animal, perpetua a sua
espécie pelo processo de reprodução sexuada.
Quando se analisa a anatomia do sistema reprodutor, observa-se a
existência de órgãos de cópula (pênis e vagina), órgãos de produção de
óvulos (testículo e ovário) e tubos de transporte dos óvulos (duetos defe-
rentes e tubas) e somente no sexo feminino observa-se um órgão reserva-
tório para o desenvolvimento do feto (útero).
Nos órgãos de cópula, ocorrem eventos que facilitam a cópula, tais
como glândulas que produzem líquidos lubrificantes, estruturas que pro-
movem a ereção do pênis, todos destinados a promover uma adequada
cópula e fecundação entre os gametas masculinos e femininos.
Quando se associa a anatomia à função fisiológica, torna-se completa
a compreensão da existência das estruturas que compõem os sistemas,
além de possibilitar a compreensão das possíveis doenças dos órgãos se-
xuais e sexualmente transmissíveis.
Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre- Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre - Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

176
CAPÍTULO 10

SISTEMA GENITAL
MASCULINO
Sérgio Ricardo Rios Nascimento

Sendo o sistema corpóreo essencial à sobrevivência da espécie, o sistema


genital é singular em dois aspectos; não é plenamente funcional até ser ativado
na puberdade pela ação de hormônios e, dentre os demais sistemas do corpo,
nenhum outro apresenta níveis de diferença entre os gêneros tão grande.
O sistema genital masculino é responsável pela produção, transporte, e li-
beração dos gametas masculinos, os espermatozoides. Além disso também é
função deste sistema a produção de hormônios sexuais masculinos, que con-
tribuem para a libido sexual e para o desenvolvimento dos caracteres típicos
masculinos, como o tom de voz e os pelos no corpo e face.
Os órgãos do sistema genital masculino podem ser divididos em internos
e externos. Os órgãos internos incluem os testículos, epidídimos, duetos defe-
rentes e ejaculatórios, uretra, próstata e glândulas seminais e bulbouretrais. Os
órgãos externos são constituídos pelo escroto e pelo pênis.

Escroto

O escroto é uma estrutura sacular fibromuscular formada por duas cama-


das intimamente aderidas; externamente pela pele intensamente pigmentada
contendo pelos esparsos, e internamente pela túnica dartos, uma fina camada
de musculatura lisa. É dividido em duas metades, direita e esquerda, por uma
rafe cutânea (raphe [grego}: costura) denominada septo do escroto interna-
mente, e externamente como rafe do escroto. Cada compartimento do escroto
abriga um testículo, e além de servir como uma espécie de "bolsa'' (scrotum
[latim}: pequena bolsa de couro) para estes órgãos atua também na regulação
da temperatura dos testículos. Para não prejudicar a produção dos espermato-
zoides os testículos devem permanecer a uma temperatura cerca de dois graus
Celsius abaixo da temperatura corporal, a fim de manter os testículos nesta
temperatura ideal o escroto adapta-se em relação ao corpo: torna-se curto e
enrugado nos dias frios, e liso, alongado e flácido em dias mais quentes, e isso
é possível graças à ação muscular da túnica dartos.

177
Anatomia Humana Básica

Testículos
São os órgãos reprodutores masculinos primários, ou gônadas, sendo os
ovários o seu homólogo no corpo feminino. Constituem dois órgãos elipsoides
(direito e esquerdo) medindo cerca de 5 em por 2,5 em, estão contidos no in-
terior do escroto, suspensos pelo músculo dartos e pelo funículo espermático
(um tubo de fáscia contendo vasos e nervos testiculares e o dueto deferente).
Possui uma cápsula externa fibrosa resistente, denominada túnica albugínea,
que envolve uma massa de túbulos seminíferos enrolados e agrupados que
correspondem a cerca de 80% da massa testicular e são o local de produção
dos espermatozoides. Entre os túbulos seminíferos existe um tecido intersti-
cial, onde localizam-se os vasos sanguíneos e as células intersticiais de Leydig,
produtoras do hormônio testosterona. Os túbulos seminíferos deixam os testí-
culos e se unem, formando o epidídimo.

Pênis

Coroa da glande

Glande do pênis

Figura 10.1 -Órgãos genitais masculinos

178
Sistema Genital Masculino

Epidídimo
Localizado na margem posterior de cada testículo, o epidídimo é o local de
armazenamento e maturação dos espermatozoides produzidos pelo respectivo
testículo. Cada epidídimo é dividido súpero-inferiormente em cabeça, corpo e
cauda. A continuação de sua cauda é o início do dueto deferente .

.,----Dueto deferente

Túbu los
semi níferos

Figura 10.2- Esquema dos túbulos seminíferos,


epidídimo e dueto deferente.

Dueto deferente
Os duetos deferentes emergem da cauda de cada epidídimo, tendo cada um
cerca de 45 em. Cada dueto sobe pela parte posterior de seu funículo esper-
mático atravessando o canal inguinal e seguindo até a face posterior da bexiga
unindo-se ao dueto da glândula seminal (dueto excretor), formando o dueto
ejaculatório. Tem como função transportar os espermatozoides produzidos
pelos testículos e armazenados no epidídimo, até o dueto ejaculatório, quedes-
te seguirá até a uretra. Em sua porção final seu lúmen torna-se dilatado e tor-
tuoso, sendo denominado ampola do dueto deferente, tornando-se novamente
reduzido antes de se encontrar com o dueto excretor da glândula seminal.

179
Anatomia Humana Básica

Glândula seminal
São glândulas exócrinas de cerca de 5 em com formato sacular posiciona-
das entre a bexiga e o reto. Terminam em um dueto excretor o qual une-se
ao dueto deferente dando origem ao dueto ejaculatório. O líquido produzido
por elas participa da composição do sêmen (mistura resultante da união dos
espermatozoides com o líquido produzido pelas glândulas acessórias masculi-
nas - seminais, próstata, e bulbouretrais, que é ejaculado durante o ato sexual)
fornecendo nutrientes aos espermatozoides.

Dueto ejaculatório
Dueto formado pela união do dueto excretor das glândulas seminais com a
extremidade terminal do dueto deferente, possuindo cada um cerca de 2,5 em
de comprimento. Eles se projetam na próstata terminando em uma abertura
na parte prostática da uretra em uma região chamada de colículo seminal.

Próstata
A próstata é uma glândula fibromuscular de formato semelhante a uma noz
medindo cerca de 4 em de comprimento por 2 em de largura, está localizada
na base da bexiga anteriormente à ampola reta!, envolvendo a parte prostá-
tica da uretra e ambos os duetos ejaculatórios. O líquido produzido por ela
contribui para a nutrição dos espermatozoides além de agir com um tampão,
neutralizando a acidez da vagina.

Bexiga
urinária

Ureter

Glândula seminal
Ampola do
dueto deferente
Próstata

Figura 10-3- Bexiga urinária masculina, vista posterior.

180
Sistema Genital Masculino

Glândulas bulbouretrais
Constituem um par de pequenas glândulas semelhantes a ervilhas localiza-
das lateralmente à parte membranácea da uretra, acima do bulbo do pênis. Cada
uma possui um dueto que segue obliquamente até abrir-se na parte esponjosa
da uretra em um minúsculo orifício no qual secreta um muco que antecede a
ejaculação, lubrificando e diminuindo a acidez da uretra, preparando-a para
a passagem dos espermatozoides.

~ Bexiga urinária

~ / Parte prostática
da uretra
Próstata

Glândula seminal

Parte Dueto
membranácea ejaculatório
da uretra

Corpo Reto
cavernoso

Parte Glândula
esponjosa bulbouretral
da uretra

Figura 10.4- Detalhe da pelve masculina, corte sagital

Pênis
É o órgão sexual masculino, através do qual os espermatozoides são transfe-
ridos do homem para a mulher durante o ato sexual. Consiste de uma raiz fixa
no períneo, e um corpo livre e pendente, completamente recoberto por pele.
É composto por três massas de tecido erétil, dois corpos cavernosos (direito
e esquerdo) e um corpo esponjoso. O enchimento deste tecido com sangue au-
menta o tamanho do pênis tornando-o firme, este processo é chamado de ereção.
A raiz do pênis é formada pelos ramos do pênis (extremidade posterior dos
corpos cavernosos) e pelo bulbo do pênis (extremidade posterior do corpo

181
Anatomia Humana Básica

esponjoso. Os ramos seguem dorsalmente formando os corpos cavernosos en-


quanto que o bulbo segue sua porção ventral formando o corpo esponjoso (o
qual é atravessado pela uretra, parte esponjosa), expandindo-se na extremida-
de distai em um formato semelhante a um cogumelo, denominada glande do
pênis. A junção da glande com os corpos cavernosos forma uma saliência em
seu entorno denominada coroa da glande. A fossa navicular da uretra encon -
tra-se na glande, abrindo-se em uma fenda sagital, o óstio externo da uretra.
A pele que recobre o corpo do pênis é frouxamente ligada a ele por tecido
conjuntivo e firmemente fixada à base da glande. Uma dobra de pele solta cha-
mada prepúcio recobre a glande do pênis, presa ventralmente por um pequeno
ligamento, chamado frênulo do prepúcio.

A B

Corpo
cavernoso - -fT-rf!lla\"0::4

esponjoso

Parte esponjosa da uretra

Figura 10.5- A- Pênis, B- Corpo do pênis, corte transversal.

Os espermatozoides são produzidos pelos testículos e armazenados no epi-


dídimo, de onde seguirão pelo dueto deferente até a sua junção com o dueto
excretor da glândula seminal passando pelo dueto ejaculatório desembocando
na parte prostática da uretra, seguindo viagem até as partes membranácea e
esponjosa da uretra, adiante pela fossa navicular, sendo ejaculados através da
abertura do óstio externo da uretra no canal vaginal. O sêmen é o líquido eja-

182
Sistema Genital Masculino

culado resultado da mistura dos espermatozoides com os líquidos produzidos


pelas glândulas seminais, bulbouretrais e pela próstata. Além de fornecer um
meio de transporte líquido para os espermatozoides, as secreções produzidas
por estas glândulas ajudam a proteger o sistema genital masculino de patóge-
nos, lavando a uretra com compostos de ação antibacteriana.

REFERÊNCIAS

MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. Anatomia orientada para a


clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2017.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatõmica. Terminologia Anatômica Internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

STANDRING, S. GRAY'S Anatomia: a base anatômica da prática clínica. 40.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

VANPUTTE, C. L.; REGAN, J. L.; RUSSO, A. F. Anatomia e Fisiologia de


Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.

183
A/ex Kors Vidsiunas
Doutor em Biologia Celular e Tecidual (USP). Mes tre em Biologia Celu-
lar e Estrutural (Unicamp). Graduado em Ciências Biológicas (Unicamp).
Especialista em Anatomia Humana Macroscópica (Centro Universitário São
Camilo ). Atua como professor de diferentes disciplinas dentro da Morfologia
para cursos de Graduação e de Pós-Graduação.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
Qualquer sociedade dos animais é constituída de elementos da mes-
ma espécie e esta relação permite a proteção do grupo perante as outras
espécies. Portanto, quanto maior a população maior é a sua sobrevivência
no meio em que vive. Assim, a reprodução dos seres da mesma espécie é
considerada como sendo um fator relevante em qualquer espécie animal.
Biologicamente, a evolução dos seres fez com que o cruzamento entre
diferentes espécies não produzisse proles.
O ser humano, como qualquer outra espécie animal, perpetua a sua
espécie pelo processo de reprodução sexuada.
Quando se analisa a anatomia do sistema genital, observa-se a exis-
tência de órgãos de cópula (pênis e vagina), órgãos de produção ovócitos
(ovários) e espermatozoides (testículos) e tubos de transporte destes ga-
metas (tubas uterinas e duetos deferentes) e somente no sexo feminino
observa-se um órgão reservatório para o desenvolvimento e crescimento
do embrião e, depois feto (útero).
Nos órgãos de cópula, ocorrem eventos que facilitam a cópula, tais
como glândulas que produzem líquidos lubrificantes, estruturas que pro-
movem a ereção do pênis, destinados a possibilitar uma adequada cópula
e fertilização entre os gametas masculino e feminino.
Quando se associa a anatomia à função fisiológica, torna-se completa
a compreensão da existência das estruturas que compõem os sistemas,
além de possibilitar a compreensão das possíveis doenças sexuais e sexu-
almente transmissíveis.
Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre- Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre - Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

186
CAPÍTULO 11

SISTEMA GENITAL
FEMININO
A/ex Kors Vidsiunas

Principais funções do sistema genital feminino


Assim como para o sistema genital masculino, a principal função desempenha-
da pelo sistema genital feminino é produzir o gameta sexual feminino (o ovócito) e
garantir as estruturas que propiciem a fertilização, a implantação embrionária, o
desenvolvimento e o crescimento do concepto (embrião e depois,feto) e, finalmen-
te a expulsão do mesmo para o meio externo durante o parto. Adicionalmente,
dois importantes hormônios sexuais femininos são sintetizados e secretados por
órgãos pertencentes a este sistema corporal: o estrógeno e a progesterona (ver o
capítulo referente ao Sistema Endócrino para mais informações).

Divisão do sistema genital feminino


Os órgãos do sistema genital feminino são divididos em internos (genitália
interna) e externos (genitália externa).

Genitália interna

Ovários
Na mulher adulta, em estado não gravídico, estão presentes dois ovários
de formato ovoide, apresentando as seguintes dimensões médias: 4,0 x 2,0 x
3,0 em (comprimento x largura x espessura), localizados na cavidade pélvica,
de coloração branca pardacenta, sua superfície externa apresenta-se lisa e se
localizam, cada um, lateralmente em relação ao útero.
É no interior de cada um dos ovários que ocorrem o desenvolvimento, o
crescimento e a maturação dos folículos ovarianos, cada qual contendo um
ovócito (nome dado ao gameta sexual feminino) e demais células que o circun -
dam. Após a puberdade os ovários tornam-se rugosos e acinzentados devido à
expulsão dos ovócitos através do processo de ovocitação (antigamente, ovula-

187
Anatomia Humana Básica

ção). Isto ocorre porque os ovários não possuem um local próprio para a saída
dos ovócitos, que rompem a superfície destes órgãos, deixando cicatrizes.
Os ovários, também descritos no capítulo referente ao sistema endócrino
(capítulo 14), são os órgãos responsáveis pela síntese e secreção de dois hor-
mônios sexuais femininos importantes: o estrógeno e a progesterona.
Trata-se de um órgão maciço cuja parte interna é dividida em córtex, porção
mais superficial (próxima à superfície do ovário) e que contém os folículos ovaria-
nos e; medula, porção mais profunda (distante da superfície do ovário), que recebe
os vasos sanguíneos e linfáticos, além de nervos que se relacionam com o órgão.
Cada um dos ovários é mantido em suas respectivas posições devido à pre-
sença de algumas estruturas ligamentares, tais como o ligamento útero-ovárico
(que une o útero ao ovário), o ligamento suspenso r do ovário e o mesovário
(situado entre o ovário e a tuba uterina), que é uma parte do peritônio .

Tubas uterinas
Cada uma das tubas uterinas apresenta formato tubular com a extremidade
lateral dilatada. Medem, em média, 10-ll em de comprimento e apresenta as
seguintes partes anatômicas, de lateral (onde se encontra o ovário) para mediai
(onde se encontra o útero): infundíbulo da tuba uterina que contém as fímbrias
da tuba uterina e a fímbria ovárica, ampola da tuba uterina (porção maior e
mais dilatada da tuba uterina e onde, normalmente, ocorre a fertilização do
ovócito pelo espermatozoide), istmo da tuba uterina e parte uterina da tuba ute-
rina (parte intramural, que atravessa a parede do útero) . Abrem-se na cavidade
do útero por meio de uma abertura denominada óstio uterino da tuba.
A tuba uterina pode captar e conduzir o ovócito até o útero, além de propi-
ciar o local onde ocorre a fertilização (encontro entre o ovócito e o espermato-
zoide) . O órgão é mantido em sua posição por meio de uma parte do peritônio
que é denominado mesossalpinge.

útero
O útero, situado medianamente na cavidade pélvica, entre a bexiga uriná-
ria e o espaço uterovesical (anteriormente) e, o reto e a escavação retouterina
(posteriormente) . Conecta-se com cada uma das tubas uterinas, situadas late-
ralmente. Apresenta o formato semelhante ao de uma pera invertida e possui
uma cavidade, a cavidade do útero (uterina). O útero de uma mulher adulta
nulípara (que nunca teve uma gestação) mede cerca de 6,0-8,0 em de compri-
mento, pesando entre 50 a 70 g. Em mulheres adultas que tiveram ao menos
uma gestação apresenta comprimento entre 9,0-10,0 em e peso de 80 g.

188
Sistema Genital Feminino

Anatomicamente, apresenta duas grandes partes desiguais: uma porção su-


perior de aspecto triangular conhecida como corpo do útero e, outra porção
inferior, de aspecto cilíndrico denominada colo do útero. Entretanto, o corpo
ainda apresenta uma porção localizada acima da inserção de cada tuba uterina
lateralmente, ou seja, a parte superior do corpo do útero é conhecido como
fundo do útero .
O útero é o órgão que recebe e protege o embrião e, permite o desenvolvi-
mento e crescimento do embrião (nome dado ao produto da fertilização até o
final da 8' semana de desenvolvimento) e, em seguida, do feto (nome dado ao
produto da fertilização do início da 9' semana de desenvolvimento até o parto).
A parede uterina é formada por três camadas ou túnicas histológicas:
a) endométrio, a mais interna, em contato com a cavidade do útero e que
sofre alterações acentuadas durante o ciclo endometrial. O endométrio é a ca-
mada na qual ocorre a implantação do embrião (chamado, nesta fase de desen-
volvimento, de blastocisto);
b) miométrio, a camada média, mais espessa, formada por tecido muscular
liso e responsável pelas contrações uterinas;
c) perimétrio, a camada mais externa, formada por parte do peritônio, en-
volve boa parte da superfície externa do órgão. Este perimétrio é contínuo com
o ligamento largo do útero (nome dado à duas pregas peritoniais laterais de
peritônio parietal) que é responsável pela fixação do útero à parede da cavidade
pélvica e aos órgãos adjacentes.
A parte inferior do colo do útero projeta-se para a vagina abrindo-se no
interior deste órgão.

189
Anatomia Humana Básica

Fundo do útero
Cavidade do

Fórnice
da vagina Colo do útero

Vagina

Ostio do útero

Figura 11.1 -útero e vagina- corte coronal

Vagina
A vagina é um órgão interno e apresenta formato tubular e é oco. Comuni-
ca-se superiormente com a parte inferior do colo do útero e inferiormente com
o meio externo através da abertura conhecida como óstio da vagina, abrindo-
-se em um espaço conhecido como vestíbulo da vagina, situado entre os dois
lábios menores do pudendo (ver adiante).
É o órgão da cópula feminino e como o próprio nome sugere é a bainha
que recebe o pênis (órgão da cópula masculino) durante a relação sexual. Além
disso, a vagina é responsável pela eliminação dos produtos menstruais e pela
saída do feto durante o parto. Sua parede anterior mede cerca de 7,5 em de
comprimento, enquanto a posterior, 9,0 em de comprimento.
A associação entre a vagina e o colo do útero é denominada canal do parto.
Já o encontro entre ambas estruturas, ou seja, entre a vagina e o colo do útero,
forma uma cavidade conhecida como fórnice da vagina. Esta cavidade, isto é,
o fórnice da vagina, torna o colo do útero mais visível, o que facilita as punções
quando necessárias.

190
Sistema Genital Feminino

A vagina abre-se no meio externo através do óstio da vagina, que já per-


tence ao pudendo (antiga vulva), onde se encontra o hímen. O hímen pode
apresentar diversas variações anatômicas em seu aspecto morfológico (forma)
e, que, ao ser rompido, deixa vestígios denominados carúnculas himenais.

Infundibulo e fímbrias
Ampola da da tuba uterina
tuba uterina -------"--
Ovário

Fórnice da
vagina

Cavidade Ostio do
do útero útero

Vagina

Figura 11.2- Órgãos internos do sistema genital feminino (genitália interna)

Genitália externa
Pudendo Feminino
Pudendo feminino é o nome dado ao conjunto de estruturas que constituem
a genitália externa feminina e que estão localizados a partir da região púbica,
caminham posteriormente no períneo sem chegar, no entanto, à região anal.
O pudendo feminino é constituído pelas seguintes estruturas: monte do pú-
bis, lábios maiores do pudendo, lábios menores do pudendo, vestíbulo da vagina
e clitóris. Cada uma dessas estruturas será mais bem descrita a seguir.
Anteriormente à sínfise púbica, encontra-se o monte do púbis, que é uma
região mais alta, pois é rica em tecido adiposo e revestida por pele e pelos pu-
bianos grossos.

191
Anatomia Humana Básica

Descendo e indo posteriormente, encontra-se uma fenda vertical que tem,


lateralmente, duas pregas revestidas por pele pigmentada e pelos grossos que
são os lábios maiores do pudendo. A distância horizontal entre estas duas pre-
gas é denominada rima do pudendo.
Medialmente a cada um dos lábios maiores do pudendo, outras duas pre-
gas, delgadas, revestidas por pele fina, pigmentada e sem pelos, denominadas
lábios menores do pudendo, no mesmo sentido das anteriores. A cavidade de-
limitada pelos lábios menores do pudendo é denominada vestíbulo da vagina.
No vestíbulo da vagina encontram-se, a partir da região púbica, o clitóris,
que corresponde aos corpos cavernosos do homem, o óstio externo da uretra, o
ás tio da vagina, os óstios das glândulas vestibulares maiores, de cada lado do ás-
tio da vagina, além do hímem que se encontra logo no início do ás tio da vagina.
Mantendo a mesma direção e sentido dos lábios maiores do pudendo, si-
tuado profundamente à pele, encontra-se o músculo bulboesponjoso e, em uma
camada ainda mais profunda em relação a este músculo, localiza-se o bulbo
do vestíbulo. O bulbo do vestíbulo é um órgão erétil e corresponde ao corpo
esponjoso no homem. Ao lado do bulbo do vestíbulo encontram-se as glândulas
vestibulares maiores.

Clitóris

Lábio maior
/ ~------~-- do pudendo
/

Lábio menor
do pudendo

Ostio da vagina

Figura 11.3- Órgãos externos do sistema genital feminino (genitália externa)

192
Sistema Genital Feminino

REFERÊNCIAS

MO ORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia humana orienta-


da para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2014.

DRAKE, R. L.; VOGL, W; MITCHELL, A. W M. Gray's anatomia clínica


para estudantes. 3. ed. São Paulo: Elsevier, 2015.

NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Elsevier, 2015.

PUTZ, R.; PABST, R. Sobotta - Atlas de anatomia humana. Órgãos Internos:


órgãos do tórax; órgãos do abdome; pelve e espaço retroperitoneal. 23. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2013. Volume 2.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Termi-


nologia Anatômica. Terminologia Anatômica. 1. ed. São Paulo: Manole, 2001.

193
Magno César Vieira
Graduado em Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado) pela Uni-
versidade de Taubaté. Mestre em Morfologia pela Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP). Docente da Disciplina de Anatomia Humana e Neuroa-
natomia na Universidade Federal de São Paulo, Universidade de Taubaté e
Centro Universitário São Camilo.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
Qualquer animal multicelular precisa coordenar precisamente as uni-
dades celulares que, em conjunto, constituem o seu organismo. Para que as
funções específicas atribuídas às células sejam executadas de forma precisa,
é necessário um sistema que coordene os múltiplos grupos celulares. Esta
função foi atribuída ao sistema nervoso com a finalidade de controlar o
meio interno do organismo, além de possibilitar o estabelecimento da inte-
ração adequada do organismo com o meio externo onde vive.
O controle do meio interno pode ser exemplificado como sendo a
adequação de batimentos cardíacos e da frequência respiratória durante
exercício físico, produção de calor para manter a temperatura corporal
adequada nos dias frios, coordenação do ritmo de digestão do alimento
quando a comida é deglutida entre outras numerosas funções.
Quanto à interação com o meio externo, pode-se exemplificar com
a captação de estímulos sensoriais de visão, olfato, audição, gustação e
também de situações de emergência, tais como, o incêndio, presença de
animais perigosos, quando é necessária a percepção do perigo associada
à liberação de adrenalina para uma fuga efetiva.
O nosso sistema nervoso utiliza células nervosas (neurônios) para efetuar
esta coordenação do corpo, seja de forma voluntária, como quando quere-
mos andar ou correr, ou de forma involuntária, como no controle da respira-
ção durante o sono e aceleração do batimento cardíaco, durante o exercício,
ambos os controles realizados de forma independente da nossa vontade.
Todas as coordenações desempenhadas pelo sistema nervoso são to-
talmente dependentes da integridade de suas unidades celulares e dos
neurotransmissores por elas produzidos e as alterações destes podem
provocar grandes distúrbios no bom funcionamento do corpo ou na boa
interação com o meio externo.

Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre- Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre - Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

196
Sistema Nervoso

Ca ítulo 12

SISTEMA NERVOSO
Magno César Vieira

INTRODUÇÃO

O sistema nervoso origina-se por volta do 2Qo dia de gestação, por meio de
um espessamento do ectoderma situado acima da notocorda, formando a pla-
ca neural que se espessa e nesta, aparece um sulco longitudinal, o sulco neu-
ral, que se aprofunda para constituir a goteira neural. As margens da goteira
neural se aproximam e se fundem para formar o tubo neural. Neste ponto, ao
longo do tubo neural desenvolvem-se células que formam uma lâmina longi-
tudinal, a crista neural.
A parte cranial do tubo neural dilata-se para dar origem ao encéfalo primi-
tivo e a porção mais caudal permanece uniforme originando a medula espinal.
O encéfalo primitivo apresenta três dilatações, denominadas prosencéfalo,
mesencéfalo e rombencéfalo. Do prosencéfalo, desenvolvem-se duas outras
vesículas, o telencéfalo e diencéfalo e, do rombencéfalo originam-se o meten-
céfalo e o mielencéfalo.

Divisões do sistema nervoso


Para o estudo do sistema nervoso é necessária à compreensão dos termos
utilizados a partir de suas divisões que são: anatõmica, embriológica, funcio-
nal e segmentar.

Divisão anatômica (Quadro 12.1)

O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (=SNC) ou


neuroeixo, contido no interior do estojo ósseo, tendo o encéfalo na cavida-
de craniana e a medula espinal no canal vertebral (sobreposição dos forames
vertebrais), ambos originados a partir do desenvolvimento do tubo neural e,
sistema nervoso periférico (=SNP), cujos constituintes tem origem na crista
neural e por característica, situam-se fora do esqueleto.
O sistema nervoso central é constituído pelo encéfalo e medula espinal (o
neuroeixo) . O encéfalo é subdividido em cérebro (telencéfalo e diencéfalo),
cerebelo e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo).

197
Anatomia Humana Básica

O sistema nervoso periférico é formado pelos 12 pares de nervos cranianos


e os 31 pares de nervos espinais (8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais
e 1 coccígeo ); os gânglios sensitivos e os gânglios viscerais do sistema nervoso
autônomo e as terminações nervosas que podem ser motoras, as placas moto-
ras, e as sensitivas, denominadas de receptores .

.L. NERVOS (ESPINAIS E CRANIANOS)

S. N.P. ~ GÂ NGLIOS

TERMINAÇÕ ES NERVOSAS

Quadro 12.1 -Divisão anatômica do sistema nervoso

Divisão embriológica

Nesta divisão, as partes do sistema nervoso central do adulto recebem a de-


nominação das vesículas primordiais que lhes deram origem. Do prosencéfalo
desenvolvem-se duas vesículas, o telencéfalo e o diencéfalo. O mesencéfalo não
sofre alteração durante o desenvolvimento. Do rombencéfalo originam o meten-
céfalo que se desenvolve no cerebelo e ponte e o mielencéfalo que origina o bulbo.

198
Sistema Nervoso

Diencéfalo

Figura 12.1 -Corte sagital do sistema nervoso central

Divisão funcional (Quadro 12.2)

Neste critério, o sistema nervoso pode ser dividido em sistema nervoso so-
mático, que relaciona o organismo com o meio externo, e o sistema nervoso
visceral, que controla as atividades viscerais, ou seja, relaciona o organismo com
o seu meio interno. Em ambos os tipos, podemos identificar um componente
aferente e outro eferente. Os componentes aferentes do sistema nervoso somá·
tico e visceral conduzem impulsos originados, respectivamente, em receptores
periféricos que geram estímulos mediante alterações do meio ambiente e, em
receptores viscerais devido às modificações do meio interno. O componente efe-
rente do sistema nervoso somático leva impulsos do sistema nervoso central aos
órgãos efetuadores (músculo estriado esquelético) e, aquele do sistema nervoso
visceral conduz impulsos ao músculo estriado cardíaco, músculo liso da pare-
de visceral e dos vasos e glândulas. O componente eferente do sistema nervoso
visceral é conhecido como sistema nervoso autônomo que se divide em partes
simpática e parassimpática.

199
Anatomia Humana Básica

IAFERENTE : Exterocepçã o
S. N. SOMÁTICO
(VIDA DE RELAÇÃO)

< EFERENTE: Músc ulo


Estria do Esquelético

<
I AFERENTE Noc•ce pção

S. N. VISCERAL
(VIDA VEGE TATIVA)

EFERENTE (SNA): Glândulas


Mú sc ulo Li so e Estriado
Cardíaco

Quadro 12.2- Divisão funcional do sistema nervoso

Divisão segmentar

A segmentação do sistema nervoso é evidenciada pela conexão com os nervos.


O sistema nervoso segmentar é constituído pela medula espinal e tronco encefáli ·
co, devido às suas conexões respectivamente, com os nervos espinais e cranianos,
. O sistema nervoso suprassegmentar é constituído pelo cerebelo e cérebro.

TECIDO NERVOSO
A Histologia é a disciplina que aborda, de maneira sistemática, as estrutu-
ras constituintes do tecido nervoso. Neste capítulo, faremos uma abordagem
bastante simplificada para melhor compreensão do conteúdo anatômico. O
tecido nervoso compreende, basicamente, dois tipos celulares, os neurônios e
as células da glia ou neuroglia.
Os neurônios são células excitáveis capazes de gerar e responder a estí-
mulos. Estes estímulos podem ser conduzidos para outros neurônios e/ou
células efetuadoras (secretoras e musculares) por meio de impulso nervoso,
uma onda de atividade elétrica gerada por despolarização da membrana (al-
teração do potencial de ação) . Os neurônios detectam, conduzem, analisam
e controlam os estímulos, coordenando e regulando as funções orgânicas
por meio de sinapses excitatórias e inibitórias. Estas células são constituídas
pelas seguintes partes:
+ Corpo ou pericário: é o centro trófico da célula com capacidade de re-
ceber e processar estímulos. É constituído pelo núcleo e pelo citoplasma
que o envolve. Deste partem os seus prolongamentos, dendritos e axônio.

200
Sistema Nervoso

+ Dendritos: são prolongamentos, geralmente curtos e numerosos, que


se ramificam amplamente a partir do corpo celular. São especializados
em receber estímulos, principalmente, de outros neurônios (sinapses
axodendríticas).
+ Axônio: prolongamento único especializado na transmissão do impul-
so nervoso para outro neurônio e/ou células secretoras e musculares
por meio de sinapses. Os axônios são envolvidos por bainha de mielina
(formado pela célula oligodendrócito no SNC e célula de Schwann no
SNP), desta maneira, podemos ter, fibras nervosas mielínicas com vá-
rias voltas de citoplasma destas células e, fibras nervosas amielínicas
com um único envoltório citoplasmático.

A morfologia dos neurônios (corpo celular e prolongamentos) é variável,


desta forma, eles podem ser classificados em: Neurônios multipolares (com
vários dendritos e um axônio), Neurônios bipolares (com um dendrito e um
axônio) e Neurônios pseudounipolares (apresenta um prolongamento curto
que se ramifica em dois, um periférico e outro central).
Segundo a função do neurônio, eles podem ser classificados em: Neurô-
nios motores ou eferentes (aqueles que transmitem impulsos às células efetu-
adoras que são secretoras ou musculares), Neurônios sensitivos ou aferentes
(aqueles que recebem estímulos do meio ambiente ou do meio interno) e In-
terneurônios ou neurônios de associação (aqueles que estabelecem conexões
entre os neurônios).
As Células da glia (=cola) ou neuroglia são células do tecido nervoso asso-
ciadas aos neurônios. Com cerca de 100 bilhões e classificadas em vários tipos,
as células da glia, em geral, desempenham as seguintes funções: sustentação,
controle da composição iônica e molecular do espaço extracelular, cicatrização,
metabolismo da glicose, barreira hematoencefálica, isolante e defesa. São elas:
+ Macróglia: as células da macróglia não realizam sinapses e se multiplicam
durante toda a vida e podem ser: astrócitos protoplasmáticos (substância
cinzenta) e astrócitos fibrosos (substância branca), oligodendrócitos
(presentes na substância branca e cinzenta) formam a bainha de mielina
dos axônios (fibras nervosas mielínicas) e células ependimárias que
revestem as cavidades encefálicas (ventrículos laterais, terceiro e quarto
ventrículos) e o canal central da medula espinal, participam da formação
do plexo corioide que produz o líquido cerebrospinal.
+ Micróglía: são células pequenas derivadas dos monócitos e representam
o sistema mononuclear fagocitário do sistema nervoso central.

A substância cinzenta do sistema nervoso central é constituída por corpos


de neurônios, fibras nervosas amielínicas e células da glia e, a substância bran-
ca por fibras nervosas mielínicas e células da glia.

201
Anatomia Humana Básica

MEDULA ESPINAL

A medula espinal, parte caudal do SNC, é uma massa cilíndrica achatada


anteroposteriormente, situada no interior do canal vertebral sem ocupá-lo to-
talmente. Possui um comprimento médio de 45 em no indivíduo adulto e seu
calibre não é uniforme, pois apresenta duas dilatações denominadas intumes-
cências cervical e lombossacral. A medula espinallimita-se superiormente
com o bulbo por meio do plano transverso que passa pela margem do forame
magno na base do crânio e, inferiormente, afunila-se para formar o cone me-
dular, cujo ápice termina, no adulto, ao nível do disco intervertebral entre as
vértebras L1 e L" ou da vértebra Lir Ao longo da medula espinal conectam-se
31 pares de nervos espinais, estas conexões marcam a segmentação da medu-
la espinal, que é determinada pela emergência e penetração, respectivamente,
das radículas anteriores e posteriores que entram na composição deste nervo.
Existem 31 pares de nervos espinais, sendo, portanto, 31 segmentos medulares:
cervicais (8); torácicos (12); lombares (5); sacrais (5) e coccígeo (1). (Fig. 12.2)
As Intumescências cervical e lombossacral são dilatações situadas, res-
pectivamente, em níveis dos segmentos cervicais e lombares e sacrais; for-
madas por apresentarem maior número de neurônios motores somáticos
( =motoneurônios inferiores) na coluna anterior do "H" medular, cujos axô-
nios constituem as fibras motoras ou eferentes que vão formar os plexos
braquial e lombossacral, responsáveis pela inervação, respectivamente, dos
membros superiores e inferiores.
No adulto, a medula espinal não ocupa todo o canal vertebral, pois termina
ao nível da L" vértebra lombar. Abaixo deste nível o canal vertebral contém as
meninges e as raízes nervosas dos últimos nervos espinais lombares e sacrais;
estas raízes estão dispostas em torno do cone medular e filamento terminal
(prolongamento da pia-máter), constituindo em conjunto, a cauda equina.
A superfície da medula espinal é percorrida longitudinalmente em toda
sua extensão por sulcos e fissuras a saber: fissura mediana anterior (que
abriga a artéria espinal anterior); sulco lateral anterior (onde emergem as
radículas anteriores ou motoras ou eferentes); sulco lateral posterior (onde
penetram as radículas posteriores ou sensitivas ou aferentes e passa a artéria
espinal posterior) e sulco mediano posterior.
Nos segmentos cervicais, encontramos o sulco intermédio posterior que
continua no interior do funículo posterior através do septo intermédio posterior.

202
Sistema Nervoso

Figura 12.2- Medula espinal e encéfalo

Num corte transversal da medula espinal (Fig. 12.3). observamos:


+ Substância cinzenta: situada profundamente à substância branca. com
a forma de uma borboleta. ou da letra "H", o "H medular': Nela distin·
guimos três colunas que aparecem em cortes transversais como cornos
e que são as colunas anterior, lateral e posterior.
+ Coluna anterior: possui neurônios motores somáticos (=motoneurô·
nios inferiores) responsáveis pela inervação motora da musculatura es·
triada esquelética do pescoço, tronco e membros superiores e inferiores.

203
Anatomia Humana Básica

• Coluna lateral: presente nos segmentos medulares torácicos e lomba-


res altos (L, e L2 ), possui neurônios motores viscerais (=neurônios pré-
-ganglionares) da parte simpática do sistema nervoso autônomo que se
destinam à inervação dos músculos liso, estriado cardíaco e glândulas.
• Coluna posterior: apresenta vários núcleos formados por neurônios
que recebem impulsos aferentes que penetram na medula espinal via
raiz dorsal ou sensitiva do nervo espinal.
• Canal central da medula (=canal do epêndima)
É o resquício da luz do tubo neural do embrião.

Substância branca
Situada perifericamente ao "H" medular (substância cinzenta), e forma-
da por fibras nervosas mielínicas que se agruopam em tratos e fascículos por
onde passam os impulsos nervosos sensitivos (ascendentes) e motores (des-
cendentes) localizadas de cada lado, nos funículos anterior, lateral e posterior.

• Funículo anterior: Situado entre a fissura mediana anterior e o sulco


lateral anterior, neste encontramos os tratos corticospinal anterior (mo -
tor) e espinotalâmico anterior (sensitivo- pressão e tato protopático).
• Funículo lateral: Situado entre os sulcos lateral anterior e lateral pos-
terior, neste funículo passam tratos sensitivos (tratos espinocerebelares
anterior e posterior- propriocepção inconsciente e trato espinotalâmi-
co lateral - temperatura e dor) e tratos motores (tratos corticospinal
lateral e rubrospinal) .
• Funículo posterior: Situado entre o sulco lateral posterior e o sulco
mediano posterior. Nos segmentos medulares cervicais, este funículo
é dividido pelo sulco intermédio posterior em fascículo grácil (mediai)
e fascículo cuneiforme (lateral). Ambos os fascículos levam impulsos
sensitivos (propriocepção consciente, tato epicrítico, cinestesia, sensibi-
lidade vibratória e estereognosia). O fascículo grácil, presente em toda
extensão da medula espinal traz informações dos membros inferiores e
porção baixa do tronco, enquanto o fascículo cuneiforme traz informa-
ções da porção alta do tronco e membros superiores.

204
Sistema Nervoso

Substância ----,.....;:;:c-'-'\,. Radículas posteriores


cinzenta
Raiz posterior
Substância Raiz anterior
Gânglio sensitivo
~ do nervo espinal
~- ~ Tronco do
~ nervo espinal

Radículas anteriores

Figura 12.3- Medula espinal e formação do nervo espinal

Nervos
Constituídos por feixes de fibras nervosas mielínicas reforçadas por tecido
conjuntivo que unem o sistema nervoso central aos órgãos periféricos, podem
ser espinais ou cranianos, conforme esta união se faça com a medula espinal ou
com o encéfalo. A função dos nervos é conduzir, através de suas fibras, impulsos
nervosos da parte central do sistema nervoso para a periferia (impulsos eferen-
tes) e da periferia para a parte central do sistema nervoso (impulsos aferentes).

Nervo espinal (fig. 12.3)

Cada nervo espinal é formado pela união da raiz posterior, sensitiva, com
a raiz anterior, motora, sendo funcionalmente misto. A raiz anterior eferente
ou motora é formada pela união das radículas anteriores que se originam nos
neurônios motores somáticos e neurônios motores pré-ganglionares e, a raiz
posterior, aferente ou sensitiva é formada pela união das radículas posteriores
que correspondem aos prolongamentos central e periférico do axônio do neu-
rônio pseudounipolar situado no gânglio espinal. O gânglio sensitivo do nervo
espinal (=gânglio espinal), localizado na raiz posterior, possui corpos dos neu-
rônios sensitivos pseudounipolares, cujos prolongamentos central e periférico
constituem a raiz dorsal. São 31 os pares de nervos espinais, sendo, 8 cervicais
(C, - C8 ), 12 torácicos (T, - T12 ), 5 lombares (L, - L5), 5 sacrais (S, - S5 ) e 1
coccígeo (Co). Cada tronco do nervo espinal divide-se em ramos igualmente
mistos, um anetrior, com maior contingente de fibras nervosas e, outro poste-
rior. Os ramos posteriores dos nervos espinais inervam a musculatura paraver-
tebral e pele suprajacente, os ramos anteriores, excetuando aqueles dos nervos
espinais torácicos, se intercruzam para constituir os plexos nervosos, cervical,
branquial, lombar e sacra!.

205
Anatomia Humana Básica

Envoltórios da medula espinal- Meninges e espaços


As meninges são membranas conjuntivas que envolvem o SNC e podem ser:

• Dura-máter: É a meninge mais externa, espessa e resistente. A dura-


-máter espinal envolve toda a medula espinal, inferiormente termina
em fundo cego, o saco durai, ao nível da 2' vértebra sacra!.
• Aracnoide-máter: Situada entre a dura-máter e a pia-máter.
• Pia-máter: É a meninge mais interna e delicada; está aderida intima-
mente ao tecido nervoso da superfície da medula espinal. A partir
do ápice do cone medular, a pia-máter continua inferiormente, for-
mando o filamento terminal, que perfura o saco durai e continua
até o hiato sacra!.
• Espaço extra-durai (=peridural): Situa-se entre a dura-máter e o peri-
ósteo do canal vertebral. Contém tecido adiposo e inúmeras veias que
constituem o plexo venoso vertebral interno.
• Espaço subdural: Situa-se entre a dura-máter e a aracnoide-máter, é um
espaço virtual contendo uma película de líquido cerebrospinal (=liqu-
or), suficiente apenas para evitar a aderência entre as meninges.
• Espaço subaracnóideo: Situa-se entre a aracnoide-máter e a pia-máter,
é o mais importante e contém líquido cerebrospinal em quantidade ra-
zoável. A exploração clínica deste espaço é facilitada por certas parti-
cularidades anatômicas; sabe-se que a medula espinal termina ao nível
da 2' vértebra lombar e o saco durai ao nível da 2' vértebra sacra!; entre
estes dois níveis, o espaço subaracnóideo é maior, contem maior quan-
tidade de líquido cerebrospinal e nele encontra-se o filamento terminal
e a cauda equina, não há risco de lesão da medula espinal durante a
introdução de uma agulha.

PLEXOS NERVOSOS E NERVOS INTERCOSTAIS

Os plexos nervosos são formados pelo intercruzamento dos ramos anterio-


res dos nervos espinais, sendo: cervical, braquial, lombar, sacra! e coccígeo. Os
ramos anteriores dos nervos espinais torácicos, excetuando o ramo anterior de
T 1, não constituem plexo.

206
Sistema Nervoso

Plexo Cervical (Fig. 12.4)

É constituído pelos ramos anteriores dos nervos espinais C 1 -C,, eventual-


mente, o ramo anterior de C,.
+ Alça cervical: é constituída por fibras nervosas de C 1, C 2 e C 3; seus
ramos destinam-se, principalmente, aos músculos infra-hióideos.
+ Nervo frênico: constituído principalmente por fibras nervosas de C,.
No pescoço, situa-se anteriormente ao músculo escaleno anterior. Na
cavidade torácica é observado, em ambos os lados, entre a pleura e
pericárdio. Inerva o músculo diafragma além de pleura e pericárdio.

A inervação sensitiva do pescoço é dada por ramos deste plexo, tais como, ner-
vos occipital menor, auricular magno, cervical transverso e supraclaviculares.

Figura 12.4- Plexo cervical

Plexo Braquial (Fig. 12.5)

É constituído pelos ramos anteriores dos nervos espinais C 5 - C8 e pela maior


parte do ramo anterior de T 1, eventualmente, por fibras nervosas provenientes
dos ramos anteriores dos nervos espinais C, e/ou T 2; estes ramos anteriores for-
mam as raízes do plexo braquial, que passam entre os músculos escalenos an-

207
Anatomia Humana Básica

terior e médio. Na região cervical lateral, as raízes do plexo braquial unem-se


para formar os troncos do plexo braquial, constituindo a parte supraclavicular
doplexo.

• Tronco superior: formado pela união das raízes C 5 e C,.


• Tronco médio: formado pela continuidade da raiz C 7 •
• Tronco inferior: formado pela união das raízes C8 e T,.

Em seu trajeto sob a clavicula, cada tronco do plexo braquial bifurca-se em


divisões anterior e posterior que formam os fascículos do plexo braquial. As divi-
sões anteriores e posteriores suprem, respectivamente, os compartimentos ante-
riores (flexores) e compartimentos posteriores (extensores) do membro superior.

• Fascículo lateral: formado pela união das divisões anteriores dos tron-
cos superior e médio.
• Fascículo mediai: formado pela continuidade da divisão anterior do
tronco inferior.
• Fascículo posterior: formado pela união das divisões posteriores dos
três troncos.

Os fascículos lateral, mediai e posterior constituem a parte infraclavicular


do plexo braquial, e apresentam esta nomenclatura devido à relação íntima
com a terceira parte da artéria axilar.

Principais ramos do plexo braquial

• Nervo torácico longo: origina-se dos ramos ventrais de C5, C, e C7•


Inerva o músculo serrátil anterior.
• Nervo toracodorsal: origina-se do fascículo posterior, formado por fi-
bras nervosas de C,, C 7 e C8 • Inerva o músculo latíssimo do dorso.
• Nervo musculocutâneo: um dos ramos terminais do fascículo lateral;
recebe fibras nervosas de C5 , C, e C 7 • Inerva músculos do compartimen-
to anterior do braço.
• Nervo ulnar: um dos ramos terminais do fascículo mediai recebe fibras
nervosas de C8 e T,. No compartimento anterior do antebraço, inerva
o músculo flexor ulnar do carpo e parte do músculo flexor profundo
dos dedos para o 4° e 5° dedos; na mão, inerva os seguintes músculos
região hipotênar, interósseos dorsais e palmares, 3° e 4° lumbricais e
adutor do polegar.

208
Sistema Nervoso

+ Nervo mediano: Formado por um ramo terminal do fascículo lateral


e outro do fascículo mediai. No antebraço, inerva os músculos do
compartimento anterior do antebraço exceto aqueles inervados pelo
nervo ulnar, na mão in erva músculos da região tenar e os músculos 1º
e 2º lumbricais.
+ Nervo axilar: ramo terminal do fascículo posterior e recebe fibras
nervosas de C, e C,. Inerva os músculos deltoide e redondo menor.
+ Nervo radial: ramo terminal (o maior) do fascículo posterior e recebe
fibras nervosas de C5 - T,. Inerva os músculos dos compartimentos
posteriores do braço e antebraço.

Figura 12.5- Plexo braquial

Nervos Intercostais

Os ramos anteriores dos 12 pares de nervos espinais torácicos suprem as


paredes torácica e abdominal. Os ramos anteriores de T , - T,, formam os ner·
vos intercostais que seguem ao longo da extensão dos espaços intercostais. O
ramo anterior de T 12 , que segue inferior á 12' costela, é o nervo subcostal.

209
Anatomia Humana Básica

Plexo Lombar (Fig. 12.6}

É constituído pelos ramos anteriores dos nervos espinais L1, L2, L3, L4 de
onde emergem os seguintes nervos:

Ramos sensitivos do plexo lombar

+ Nervo ilio-hipogástrico: inerva a pele sobre a crista ilíaca, região inguinal


e hipogástrio.
+ Nervo ilioinguinal: inerva a pele da região inguinal, monte do púbis,
parte anterior do escroto (gênero masculino) e lábio maior (gênero
feminino) e face mediai da coxa adjacente.
+ Nervo genitofemoral: os ramos femoral e genital suprem, respectiva-
mente, a pele sobre o trígono femoral e a porção anterior do escroto ou
lábio maior.
+ Nervo cutâneo femorallateral: supre a pele nas regiões anterior e lateral
da coxa.

Ramos motores do plexo lombar

+ Nervo obturatório: constituído pelas fibras nervosas de L2 - L4, iner-


va os músculos do compartimento mediai além do músculo pectíneo
(compartimento anterior da coxa).
+ Nervo femoral: constituído pelas fibras nervosas de L2 - L4 , supre os
músculos do compartimento anterior que são flexores do quadril e ex-
tensores do joelho.

210
Sistema Nervoso

~ )
\(
Figura 12.6- Plexo lombossacral

Plexo Sacral (Fig. 12.6)

Localizado na parede póstero-lateral da cavidade pélvica. É constituído por


ramos anteriores dos nervos espinais L4 , L5 , S,, S2 e S3; o tronco lombossacral
formado por um contingente de fibras nervosas de L4 que se une ao ramo ven-
tral de L5 penetra na cavidade pélvica, onde se une aos ramos ventrais sacrais,
desta forma, há continuidade entre os plexos lombar e sacra!, razão pela qual, os
autores referem-se ao Plexo lombossacral. Os principais ramos deste plexo são:

+ Nervo isquiático (n. ciático): maior nervo do corpo, formado por fi-
bras nervosas de L4 - S3 ; atravessa o forame isquiático maior e emerge
na região glútea inferiormente ao músculo piriforme, desce pela região
posterior da coxa e no ápice superior da fossa poplítea divide-se nos
nervos tibial e fibular comum. O nervo isquiático emite ramos para
suprir os músculos posteriores da coxa (extensores do quadril e flexores
do joelho) e através de seus ramos terminais in erva a musculatura da
perna e pé.
+ Nervo tibial: atravessa a fossa poplítea e penetra na região posterior da
perna profundamente ao músculo sóleo, passa posteriormente ao ma-

211
Anatomia Humana Básica

léolo mediai e penetra na planta do pé onde emite os nervos plantares


lateral e mediai. O nervo tibial inerva a musculatura posterior da perna
e através dos nervos plantares, inerva os músculos da planta do pé.
• Nervo fibular comum: acompanha o tendão do músculo bíceps fem oral,
contorna o colo da fíbula e divide-se nos nervos fibulares superficial
e profundo. O nervo fibular superficial inerva os músculos fibulares
longo e curto. O nervo fibular profundo inerva os músculos do compar-
timento anterior da perna e dorso do pé.
• Nervo pudendo: formado por fibras nervosas de S2 - S,. Inerva órgãos
genitais, musculatura do períneo, músculos esfíncteres externos da ure-
tra e ânus.

Plexo Coccígeo
É uma pequena rede de fibras nervosas formadas pelos ramos anteriores
dos nervos espinais S,, S5 e Co. Situa-se na face pélvica do músculo isquiococ-
cígeo. Supre este músculo, parte do músculo levantador do ânus e através dos
nervos anococcígeos inerva a pele entre o cóccix e o ânus.

TRONCO ENCEFÁLICO (Fig. 12.7)

O tronco encefálico (TE) está situado na fossa posterior do crânio, sobre


a parte basilar do osso occipital, e estende-se da medula espinal até o dien-
céfalo. Posiciona-se inferiormente ao cérebro e anteriormente ao cerebelo,
com o qual delimita o quarto ventrículo. O bulbo constitui sua porção mais
inferior e continua-se inferiormente com a medula espinal; a ponte possui
posição intermédia, entre bulbo e mesencéfalo; o mesencéfalo, sua porção
mais superior, limita-se superiormente com o diencéfalo por meio de um
plano transverso que passa pela comissura posterior.
A substância cinzenta do TE diferencia-se de outras partes do SNC por
estar espalhada em diversos núcleos (agrupamentos de corpos celulares no
SNC), tais como:
a) núcleos próprios do TE, cujos neurônios por meio de suas conexôes,
participam de várias funçôes do SNC;
b) núcleos dos nervos cranianos, possuem neurônios cujas fibras ner-
vosas entram na composição dos 10 pares de nervos cranianos com
origem no TE, exceto os nervos olfatório (I par) e óptico (II par) e;

212
Sistema Nervoso

c) núcleos da formação reticular, são dezenas de núcleos que se interco-


nectam por fibras nervosas gerando um aspecto difuso que assegura a
atividade básica do SNC.

A substância branca do TE apresenta inúmeras fibras nervosas mie-


línicas reunidas em tratos, fascículos e lemniscos. Muitas destas fib ras
possuem trajeto ascendente, outras descendentes, que atravessam o TE
em toda sua extensão conectando, respectivamente, medula espinal com
cérebro e cerebelo e hemisférios cerebrais com medula espinal. Há fibras
nervosas de associação que possuem origem e término nos limites do TE,
outras com origem em núcleos de nervos cranianos possuem parte do seu
trajeto no interior do TE.

BULBO

O bulbo, porção caudal do TE, limita-se inferiormente com a medula es-


pinal por meio de um plano transverso que passa pelo forame magno na base
do crânio; superiormente, está separado da ponte por meio de um sulco trans-
versal e anterior, o sulco bulbopontino; observa-se neste sulco a emergência
(origem aparente) de cada lado do plano mediano, de mediai para lateral, os
nervos abducente (VI par), facial (VII par) e vestibulococlear (VIII par).
A superfície do bulbo é percorrida longitudinalmente por sulcos que con-
tinuam com os sulcos da medula espinal, são eles: fissura mediana anterior,
sulco lateral anterior, sulco lateral posterior e sulco mediano posterior.
A fissura mediana anterior termina superiormente em uma depressão
mediana no sulco bulbopontino, o forame cego. De cada lado da fissura me-
diana anterior há uma eminência alongada, a pirâmide, formada por um
feixe compacto de fibras nervosas descendentes que ligam a área motora do
giro pré-central (neurônios motores superiores) do cérebro aos neurônios
motores inferiores situados na coluna anterior do "H medular'; denominado
trato corticospinal.
Na parte caudal do bulbo, fibras nervosas do trato corticospinal cruzam
obliquamente o plano mediano que obliteram a fissura mediana anterior e
constituem a decussação das pirâmides; cerca de 75%-90% das fibras nervo-
sas decussam e constituem o trato corticospinallateral, os 10%-25% das fibras
nervosas que não decussam constituem o trato corticospinal anterior.
A oliva, lateralmente à pirâmide, é uma eminência oval situada entre os
sulcos laterais anterior (local de emergência do nervo hipoglosso [XII par])
e posterior (local de emergência dos nervos glossofaríngeo [IX par], vago (X
par) e acessório [XI par]), formada por uma grande massa de substância cin-

213
Anatomia Humana Básica

zenta, o núcleo olivar inferior; devido suas conexões aferentes com o córtex
cerebral, medula espinal e núcleo rubro, e eferentes com o cerebelo, este núcleo
está envolvido com o aprendizado motor, fenômeno que nos permite realizar
tarefas com velocidade e eficiência cada vez maiores.
A porção fechada do bulbo, posteriormente, é percorrida pelo sulco me-
diano posterior, contínuo com o homõnimo da medula espinal, termina a
meia altura do bulbo, em virtude do afastamento de seus lábios, que contri-
buem para formar os limites laterais do quarto ventrículo. Entre este sulco e
o sulco lateral posterior situa-se a área posterior do bulbo que é continuação
do funículo posterior da medula espinal e como este, dividida em fascículos
grácil e cuneiforme. Os fascículos grácil e cuneiforme - Situados em posição,
respectivamente, mediai e lateral; são formados por feixes de fibras nervosas
ascendentes, provenientes da medula espinal. As fibras destes fascículos fazem
sinapses com neurônios que se agrupam em massas de substância cinzenta, os
núcleos grácil e cuneiforme, responsáveis por formarem duas eminências, os
tubérculos grácil e cuneiforme.
Funcionalmente, o bulbo está relacionado, por intermédio de seus agru-
pamentos neuronais (núcleos) com controle motor, deglutição, tosse, vômi-
to, salivação, movimentos da língua, controle visceral, respiração e controle
vasomotor.

PONTE

A ponte é a porção intermédia do TE, situada entre o bulbo inferiormente,


do qual está separada pelo sulco bulbopontino, e mesencéfalo superiormen-
te. Localiza-se anteriormente ao cerebelo e apoia-se sobre a parte basilar do
occipital. A ponte é constituída por uma parte ventral, a base da ponte, e uma
parte dorsal, o tegmento da ponte. A face anterior da ponte é percorrido lon-
gitudinalmente pelo sulco basilar, o qual aloja a artéria basilar.
A base da ponte desenvolveu-se com o neocórtex e o neocerebelo, com os
quais possui amplas conexões. Os núcleos pontinos da base recebem aferências
de áreas motoras do córtex cerebral (=trato corticopontino) e suas conexões
eferentes se fazem com o cerebelo por meio das fibras pontocerebelares que
possuem direção transversal (=fibras transversais da ponte) que constituem o
pedúnculo cerebelar médio ou braço da ponte. Esta via cortico-ponto-cere-
belar está relacionada com o aprendizado motor e coordenação motora fina.
A ponte possui núcleos de diversos nervos cranianos (trigêmeo, abducente,
facial e vestibulococlear), porém, somente o nervo trigêmeo (V par) emerge
em sua superfície, numa posição anterolateral, limitando ponte e pedúnculo
cerebelar médio.

214
Sistema Nervoso

Diversos núcleos da ponte estão associados ao controle motor, controle da


mastigação, sensibilidade da cabeça, movimentos oculares, expressão facial,
lacrimejamento, salivação, equilíbrio, audição e respiração.

QUARTO VENTRÍCULO (FOSSA ROMBOIDE) (Fig. 12.7)

É uma cavidade situada entre o bulbo e a ponte ventralmente, e o cerebelo,


dorsalmente. Continua inferiormente com o canal central do bulbo e superior-
mente com o aqueduto do mesencéfalo. O quarto ventrículo comunica-se com
o espaço subaracnóideo por meio de duas aberturas laterais e uma abertura
mediana permitindo a circulação do líquido cerebrospinal da cavidade ventri-
cular para o espaço subaracnóideo.
O assoalbo do quarto ventrículo, com formato de um losango, é subdivi-
dido em dois trígonos, o superior, posteriormente à ponte, e o inferior, poste-
riormente ao bulbo. O sulco mediano percorre toda a extensão do assoalho do
quarto ventrículo, perde-se superiormente no aqueduto do mesencéfalo e in-
feriormente no canal central do bulbo. Situada de cada lado do sulco mediano,
a eminência mediai é uma elevação alongada longitudinalmente que possui
uma dilatação arredondada, o colículo facial, formado pela inflexão das fibras
do nervo facial. Lateralmente, a eminência mediai é delimitada pelo sulco li-
mitante, que separa os núcleos motores dos nervos cranianos, medialmente,
dos núcleos sensitivos dos nervos cranianos, lateralmente. A porção caudal
da eminência mediai termina em uma área triangular com vértice inferior, o
trígono do nervo hipoglosso que corresponde ao núcleo do nervo hipoglosso;
lateralmente a este trígono, existe uma área triangular com vértice superior,
o trígono do nervo vago que corresponde ao núcleo do nervo vago. A área
vestibular é uma grande área triangular que se estende lateralmente ao sulco
limitante em direção aos recessos laterais, esta área corresponde aos núcleos
vestibulares do nervo vestibulococlear.
O teto do quarto ventrículo, em sua metade superior, é constituído pelo
véu medular superior, que é uma fina lâmina de substância branca que se es-
tende entre os pedúnculos cerebelares superiores. A metade inferior deste teto
é constituída pelo nódulo do cerebelo, véu medular inferior e a tela corioidea.

215
Anatomia Humana Básica

Figura 12.7- Tronco encefálico e quarto ventrículo- corte sagital

MESENCÉFALO
O mesencéfalo situa-se entre a ponte, inferiormente, e diencéfalo, superiormen ·
te; é atravessado longitudinalmente por um canal, o aqueduto do mesencéfalo,
que comunica o terceiro ventrículo ao quarto ventrículo. Este canal é circundado
por substância cinzenta, denominada substância cinzenta periaquedutal. A parte
do mesencéfalo situada dorsalmente ao plano transverso que cruza este aqueduto
denomina-se teto do mesencéfalo e, ventralmente, os pedúnculos cerebrais.
O teto do mesencéfalo, numa visão posterior, apresenta quatro eminên-
cias, os colículos superiores e inferiores. O colículo superior é formado por
uma série de camadas constituídas alternadamente de substância cinzenta e
substância branca. Dentre suas conexões aferentes, o braço do colículo supe-
rior reúne fibras nervosas oriundas da retina.
Basendo-se em suas conexões eferentes, podemos afirmar que o colículo
superior está relacionado, respectivamente, com a motricidade da muscula-
tura postura! e certos reflexos que movimentam o bulbo do olho no sentido
vertical. O colículo inferior contém o núcleo do colículo inferior. Este núcleo
recebe fibras nervosas auditivas, sendo um importante relé intermediário das
vias auditivas. Suas conexões eferentes se fazem com o corpo geniculado me-
diai por meio do braço do colículo inferior. O nervo troclear (IV par) emer-
ge inferiormente ao colículo inferior.
Os pedúnculos cerebrais, situados anteriormente ao plano transverso que
passa pelo aqueduto do mesencéfalo, aparecem ventralmente como dois pila-

216
Sistema Nervoso

res de fibras nervosas que surgem na margem superior da ponte para penetrar
profundamente no diencéfalo.
Entre os pedúnculos cerebrais existe uma depressão profunda, a fossa in-
terpeduncular, onde emerge o nervo oculomotor (111 par). Numa secção
transversa do mesencéfalo (Fig. 11.8), os pedúnculos cerebrais são subdivi-
didos em base do pedúnculo cerebral, que reúne fibras nervosas descenden-
tes dos tratos corticospinal, corticonuclear e corticopontino, que formam um
conjunto compacto de fibras, e tegmento do mesencéfalo que além de núcleos
da formação reticular, núcleos de nervos cranianos (oculomotor, troclear e tri-
gêmeo), apresenta o núcleo rubro e a substância negra.
A substância negra é um núcleo compacto, situado entre a base do pedún-
culo cerebral e o tegmento, formado por neurônios que apresentam inclusões
de melanina (razão da coloração escura). São neurônios dopaminérgicos (uti-
lizam a dopamina como neurotransmissor) que apresentam conexões com-
plexas; destacamos aquelas feitas com o corpo estriado em ambos os sentidos
(fibras nigro-estriatais e fibras estriato-nigrais).
A degeneração neuronal deste núcleo está associada à doença de Parkinson.
O núcleo rubro aparece com formato circular nos cortes transversais, mas sua
forma é oblonga no sentido longitudinal. As fibras que chegam neste núcleo
são oriundas do cerebelo e áreas corticais motoras. Os neurônios deste núcleo
participam do controle da motricidade somática; seus axônios conectam-se aos
neurônios motores inferiores da coluna anterior do "H medular" (trato rubros-
pinal) e aos neurônios do núcleo olivar inferior (fibras rubro-olivares).

Figura 12.8- Mesencéfalo- corte transversal

217
Anatomia Humana Básica

CEREBELO

Etimologicamente, cerebelo significa pequeno cérebro, provavelmente em


razão de sua semelhança com o cérebro; ambos pertencem ao sistema ner-
voso suprassegmentar e por isso apresentam substância cinzenta periférica,
o córtex cerebral e cerebelar (Figura 12.9), que envolve um centro de subs-
tância branca, o centro branco medular do cérebro e corpo medular do ce-
rebelo, no qual situam núcleos de substância cinzenta, os núcleos da base no
cérebro e núcleos centrais no cerebelo. O cerebelo está situado dorsalmente
ao bulbo e à ponte, contribuindo para a formação do teto do quarto ventrí-
culo. Repousa sobre a fossa cerebelar do osso occipital e está separado do
lobo occipital por uma prega da dura-máter denominada tenda do cerebelo.
Por meio dos pedúnculos cerebelares inferior, médio e superior conecta-
·se, respectivamente, ao bulbo, ponte e mesencéfalo. O cerebelo é constituído
por uma região mediana, o verme do cerebelo, e por duas massas laterais, os
hemisférios cerebelares.

Núcleo do Núcleo
fastígio globoso

Núcleo
Núcleo denteado
emboliforme

Verme do
cerebelo

Figura 12.9- Corte transversal do cerebelo

A superfície do cerebelo apresenta sulcos e fissuras de orientação transver-


sal, que delimitam, respectivamente, as folhas do cerebelo e lóbulos cerebe-
lares. No interior do corpo medular do cerebelo (substância branca), existem
4 pares de núcleos (substância cinzenta), do fastígio, globoso, emboliforme e
denteado; funcionalmente, os núcleos globoso e emboliforme são semelhan-
tes, sendo denominados em conjunto de núcleo interpósito (Figura 12.9).
218
Sistema Nervoso

O cerebelo é dividido, por duas fissuras, em três lobos cerebelares: o lobo


floculonodular, o lobo anterior e o lobo posterior. O lobo floculonodular
está separado do corpo do cerebelo (lobos anterior e posterior) pela fissura
posterolateral, e os lobos anterior e posterior estão separados entre si pela
fissura primária (Figuras 12.10 e 12.11)
Evolutivamente, o lobo floculonodular e o núcleo do fastígio, a parte mais
antiga do cerebelo, surgiram em conexão com o sistema vestibular, o cerebelo
vestibular ou arquicerebelo, para propiciar o controle do equilíbrio do animal
no meio aquático. Este lobo é constituído pelo flóculo, pequena estrutura que
corresponde ao hemisfério cerebelar, situado abaixo do pedúnculo cerebelar
médio, e o nódulo, porção mediana que corresponde ao verme.
O lobo anterior e o núcleo interpósito surgiram com os peixes em conexão
com a medula espinal, o cerebelo espinal ou paleocerebelo, para receber infor·
mações oriundas da musculatura e propiciar a regulação do tônus muscular e
postura. O cerebelo espinal é constituído pelo lóbulo quadrangular anterior
e uma porção inferior do verme do cerebelo denominada úvula e pirâmide.
O lobo posterior e o núcleo denteado representam a parte mais recente
do cerebelo e desenvolveram em conexão com o córtex cerebral, o cerebe-
lo cortical ou neocerebelo, permitindo assim, um controle motor de movi-
mentos voluntários complexos (planejamento e correção dos movimentos). O
lobo posterior é subdividido pelas fissuras do cerebelo nos seguintes lóbulos:
lóbulo quadrangular posterior, fissura pós-diva!, lóbulo semilunar supe-
rior, fissura horizontal, lóbulo semilunar inferior, fissura pré-piramidal,
lóbulo biventre e tonsila do cerebelo. A tonsila do cerebelo, presente em
ambos os hemisférios cerebelares, é uma saliência na porção inferior que se
relaciona medialmente com o bulbo, sua importância clínica consiste na pos-
sibilidade de herniar-se para o interior do canal vertebral comprimindo bulbo
e medula espinal.

Lobo

Lobo
posterior

Figura 12.1 O- Cerebelo- face superior

219
Anatomia Humana Básica

Flóculo Pedúnculo
~...-!:...c----- cerebelar
(seccionado)

Tonsila do
cerebelo

Figura 12.11 -Cerebelo- face inferior

DI ENCÉFALO

O diencéfalo, parte integrante do cérebro, possui posição mediana, poden·


do ser visto na face inferior do cérebro ou em cortes sagital e frontal, já que
é quase completamente encoberto pelo telencéfalo súpero-lateralmente. O
diencéfalo compreende as seguintes partes: tálamo, hipotálamo, epitálamo,
metatálamo e subtálamo; as três primeiras guardam estreita relação com a
cavidade do diencéfalo, o terceiro ventrículo (Figura 12.12).

Tâlamo

Sulco Epitálamo

Glândula
Hipotálamo pineal

Glândula -----t.-
hipófise

Figura 12.12- Diencéfalo: corte sagital

220
Sistema Nervoso

TERCEIRO VENTRÍCULO

É a cavidade do diencéfalo. Comunica-se com o quarto ventrículo atra-


vés do aqueduto do mesencéfalo e com os ventrículos laterais dos hemisfé-
rios cerebrais através dos forames interventriculares. Suas paredes laterais são
constituídas pela face mediai do tálamo e hipotálamo, separados pelo sulco
hipotalâmico, que se entende, de cada lado, entre os forames interventricu-
lares e aqueduto do mesencéfalo; o epitálamo constitui seu limite posterior
e a porção inferior e mediana do hipotálamo seu limite inferior; a parede
anterior é delimitada por estruturas telencefálicas, a comissura anterior e a
lâmina terminal; superiormente, o teto do terceiro ventrículo é formado pela
tela e plexo corioide.

EPITÁLAMO

Pequena porção do diencéfalo situado entre o pulvinar do tálamo de cada


lado, mesencéfalo inferiormente e esplênio do corpo caloso superiormente.
Nesta região se destacam as seguintes estruturas:

+ Glândula pineal (=corpo pineal, epífise): glândula endócrina, pirifor-


me, ímpar e mediana, que repousa sobre o teto mesencefálico. Suas cé-
lulas, os pinealócitos, sintetizam melatonina a partir da serotonina. O
nível de melatonina diminui durante o dia (luz) ou aumenta durante a
noite (escuro), desta forma, a síntese de melatonina e suas concentra-
ções não são contínuos, seguindo um ritmo circadiano.
+ Comissura posterior: situa-se na fronteira entre o terceiro ventrículo
e o aqueduto do mesencéfalo, sendo considerada como limite entre o
mesencéfalo e diencéfalo. Nesta comissura encontramos fibras nervosas
que estão envolvidas na transmissão de estímulos relacionados ao refle-
xo consensual.
+ Trígono das habênulas: área triangular situada entre a glândula pine-
al e o tálamo. Nesta área encontramos núcleos habenulares associados
com o sistema límbico por meio de ação inibitória dos neurônios do-
paminérgicos do sistema mesolímbico (área de prazer do cérebro). A
comissura das habênulas conectam os núcleos habenulares de ambos
os lados.

221
Anatomia Humana Básica

TÁLAMO

São duas massas ovoides de substância cinzenta (núcleos talâmicos) que


ocupa, estrategicamente, uma posição central no encéfalo, pois, funcional-
mente, está relacionado com a passagem de importantes vias nervosas em
conexão com as áreas funcionais do córtex cerebral. Além de ser um relé in-
termediário de integração dos impulsos sensitivos (dor, pressão, temperatura
e tato), o tálamo também possui núcleos relacionados com o controle motor
e com o sistema límbico (emoções), em sua superfície pode-se identificar as
seguintes estruturas:

+ Aderência intertalâmica: trata-se de uma trave de substância cinzenta,


que atravessando em ponte o terceiro ventrículo, une os dois tálamos.
+ Tubérculo anterior do tálamo: é uma eminência localizada na região
anterior do tálamo que participa na delimitação do forame interven-
tricular. Neste tubérculo encontra-se os núcleos anteriores do tálamo
associado ao sistema límbico.
+ Pulvinar do tálamo: é uma grande eminência situada na região pos-
terior do tálamo que se projeta sobre os corpos geniculados lateral e
mediai. Nesta região temos os núcleos posteriores do tálamo.

METATÁLAMO

Alguns autores consideram o metatálamo como parte integrante do tálamo.


Situado ínfero-lateralmente em relação ao pulvinar do tálamo, o metatálamo
é formado pelos corpos geniculados laterais e mediais. O corpo geniculado
mediai contém núcleo que recebe informações oriundas do núcleo do colí-
culo inferior, através do braço do colículo inferior. Está relacionada com a via
auditiva e, o corpo geniculado lateral contém núcleo que recebe informações
oriundas da retina, através do trato óptico e conecta-se ao córtex visual primá-
rio nos lábios do sulco calcarino, faz parte da via óptica.

HIPOTÁLAMO

Área relativamente pequena do diencéfalo, localizada inferiormente ao


tálamo. Apresenta importantes funções, relacionadas em sua maioria com a
atividade visceral. Entre suas principais estruturas destacam-se:

222
Sistema Nervoso

+ Quiasma óptico: limita anteriormente o hipotálamo. Formado pelo cru-


zamento parcial das fibras nervosas do nervo óptico (=11 par craniano)
+ Trato óptico: situado posteriormente ao quiasma óptico limitando la-
teralmente a porção inferior do hipotálamo. Suas fibras dirigem-se aos
corpos geniculados laterais, após contornar os pedúnculos cerebrais.
+ Infundíbulo: é uma formação nervosa em forma de funil que em sua ex-
tremidade superior dilata-se para formar a eminência mediana do túber
cinéreo; sua extremidade inferior continua-se com a neurohipófise, que
armazena e libera, na corrente sanguínea, os hormônios sintetizados por
neurônios hipotalâmicos, o antidiurético (=ADH) e o oxitocina.
+ Corpo mamilar: são duas eminências de forma arredondada constituí-
da de substância cinzenta, os núcleos mamilares, visualizadas anterior-
mente à fossa interpeduncular do mesencéfalo. Os núcleos mamilares
recebem informações oriundas do hipocampo, através das fibras nervo-
sas do fórnice, e enviam informações aos núcleos anteriores do tálamo
através das fibras mamilo-talâmicas. Compondo desta maneira, parte
do circuito de Papez, que está relacionado com o sistema límbico.

SUBTÁLAMO

É uma pequena área de difícil visualização situada abaixo do tálamo, entre


o diencéfalo e o mesencéfalo. O grupo neuronal do núcleo subtalâmico, em
conexões com o globo pálido (núcleo da base), exercem influência no contro-
le dos movimentos voluntários automático.

TELENCÉFALO

O telencéfalo, parte constituinte do cérebro, é a região mais desenvolvida


e mais importante do encéfalo, ocupando aproximadamente 80% da cavida-
de craniana. O telencéfalo compreende os dois hemisférios cerebrais e uma
pequena parte que delimita anteriormente o terceiro ventrículo, a lâmina ter-
minal. A exemplo do cerebelo, o telencéfalo apresenta uma camada periférica
de substância cinzenta, o córtex cerebral, que em sua maior parte possui 6
camadas celulares, e substância branca profundamente, o centro branco me-
dular do cérebro, com agrupamentos de neurônios, os núcleos da base. No
interior dos hemisférios cerebrais, observam -se cavidades denominadas ven-
trículos laterais. A superfície do telencéfalo no homus sapiens e em vários

223
Anatomia Humana Básica

animais apresenta sulcos que delimitam os giros cerebrais. A existência dos


sulcos permite aumento da superfície cerebral sem grande aumento do seu
volume. Os dois hemisférios cerebrais são incompletamente separados pela
fissura longitudinal do cérebro, cujo assoalho é formado por fibras comissu-
rais que constituem o chamado corpo caloso, principal meio de união entre
os dois hemisférios. Cada hemisfério possui três pólos: frontal, temporal e
occipital; e três faces: súperolateral (convexa), mediai (plana) e inferior ou
base do cérebro (irregular) que repousa anteriormente, nos soalhos das fossas
anterior e média do crânio e posteriormente sobre a tenda do cerebelo.

FACE SÚPEROLATERAL DO HEMISFÉRIO CEREBRAL

Observando o telencéfalo pela face súperolateral, identificamos o sulco la-


teral que se inicia na base do cérebro e dirige-se para cima como uma fenda
profunda entre os lobos frontal e temporal; termina dividindo-se em três ra-
mos: anterior, ascendente e posterior.
O ramo posterior é longo e dirige-se para trás e para cima, terminando no
lobo parietal, separando o lobo temporal, abaixo, dos lobos frontal e parietal,
acima; e o sulco central, profundo e geralmente contínuo que se inicia na face
mediai, percorre obliquamente para baixo e para frente a face súperolateral,
terminando próximo ao ramo posterior do sulco lateral.
Os sulcos lateral e central ajudam a delimitar os lobos cerebrais (Figura
12.13). A divisão em lobos, embora de grande importância clínica, não cor-
responde a uma divisão funcional, excetuando, o lobo occipital que direta e
indiretamente está relacionado com a visão.
O lobo frontal situa-se acima do sulco lateral e adiante ao sulco central; o
lobo parietal está localizado acima do ramo posterior do sulco lateral e pos-
terior ao sulco central; o lobo temporal é inferior ao sulco lateral e seu ramo
posterior; o lobo occipital delimita-se anteriormente com os lobos temporal e
parietal por meio de uma linha imaginária que une o término do sulco parie-
toccipital à incisura pré-occipital e o lobo da ínsula ou insular (Figura 12.14)
situado na profundidade do sulco lateral.

224
Sistema Nervoso

~~-------- Lobo
parietal
Lobo
frontal

Lobo
occipital

Figura 12.13- Telencéfalo: lobos

Figura 12.14- Lobo da insula ou insular

Sulcos e giros do lobo frontal (Figura 12.15}

+ Giro pré-central: S~ntre os sulcos central e pré-central. A área


cortical da parte posterior deste giro é a área motora primária. Esta
área motora foi mapeada de acordo com a representação cortical das
diversas partes do corpo (=somatotopia), denominada de homúnculo
motor. Suas fibras eferentes dão origem aos tratos corticospinal e cor ti-
conuclear, responsáveis pela motricidade voluntária.

225
Anatomia Humana Básica

• Giro frontal superior: perpendicular ao giro pré-central; situado entre


o sulco frontal superior e a margem anterossuperior do hemisfério
cerebral, através da qual, continua-se pela face mediai, constituindo o
giro frontal mediai.
• Giro frontal médio: Paralelo ao giro frontal superior; situa-se entre os
sulcos frontal superior e frontal inferior.
• Giro frontal inferior: Paralelo ao giro frontal médio; situa-se entre os
sulcos frontal inferior e lateral. Este giro é subdividido nas partes or-
bital, triangular e opercular. As áreas corticais das partes triangular
e opercular, principalmente as do hemisfério cerebral esquerdo estão
associadas com a atividade motora relacionada com a expressão da lin-
guagem (=área de Broca). Lesões da área de Broca resultam em altera-
ções da linguagem denominadas afasias.

Adjacentes à área motora primária, existem áreas motoras secundárias com


as quais ela se relaciona. São consideradas áreas motoras secundárias, as áreas
de Broca, motora suplementar e pré-motora.

Sulcos e giros do lobo parietal (Figura 12.1 5}

• Giro pós-central: situado entre os sulcos central e pós-central. Neste


localiza-se a principal área cortical da sensibilidade somática geral, a
área somestésica primária. Nesta área chegam as radiações talâmicas
que se originam em núcleos talâmicos e trazem impulsos nervosos re-
lacionados à temperatura, dor, tato, pressão e propriocepção consciente
do lado oposto do corpo. A área somestésica primária foi mapeada de
acordo com a representação cortical das diversas partes do corpo (=so-
matotopia), denominada de homúnculo sensitivo.
• Sulco intraparietal: variável e perpendicular ao giro pós-central, es-
tende-se posteriormente e delimita no lobo parietal os lóbulos parie-
tal superior (área somestésica secundária) e parietal inferior, no qual
encontramos os giros supramarginal e angular. A área cortical do
lóbulo parietal inferior é a área temporoparietal (área de associação
terciária), situada entre as áreas secundárias (somestésica, auditiva e
visual), funcionando como centro de integração das informações destas
três áreas. Esta área é importante para a percepção espacial dos objetos
no espaço extrapessoal e permite que se tenha uma imagem das partes
componentes do próprio corpo (área do esquema corporal).

226
Sistema Nervoso

Sulcos e giros do lobo temporal (Figura 12.1 S}

+ Giro temporal superior: localizado entre os sulcos lateral e temporal


superior; sua porção mais posterior, próxima ao lóbulo parietal inferior,
corresponde à área posterior da linguagem, também conhecida por
área de Wernicke, relacionada com a percepção da linguagem. Na por-
ção média deste giro junto ao sulco lateral é a área auditiva secundária.
+ Giro temporal médio: situado entre os sulcos temporais superior e
inferior.
+ Giro temporal inferior: situado entre os sulcos temporal inferior e oc-
cipitotemporal na face inferior do cérebro. Este giro forma a margem
ínfero-lateral do hemisfério cerebral.
+ Giros temporais transversos: para observar estes giros, afastamos os
lábios do sulco lateral, e identificamos a continuidade do giro temporal
superior atravessada pelos giros temporais transversos, sendo o mais
evidente, o giro temporal transverso anterior (=giro de Heschl), que
corresponde área cortical auditiva primária.

Giro pré-central Giro pós-central

G1rnfrontol / J'r ~
S"Icopo•<eot"l
médio _r J y \--.. ._ te~:ral
Glto ftontol .J..... sopen:"o

--::::::.· ( 2_ -(.-) ~ )o 'L '='


S"koftoot~l
)_
Inferior ) _
/ ~-/ / ·

Gltoftontol
inferior
---= ~'/ -
. . .
G1ro temporalmfenor
Sulco temporal sup or

Sulco temporal inferior

Figura 12.15- Telencéfalo: face supero lateral

227
Anatomia Humana Básica

Sulcos e giros do lobo occipital (Figura 12.15)

O lobo occipital na face súperolateral é delimitado por uma linha imagi-


nária que une a terminação do sulco parietoccipital à incisura pré-occipital.
Nesta face, o lobo occipital apresenta pequenos sulcos e giros inconstantes,
associados às áreas visuais primária e secundária.

Sulcos e giros do lobo da ínsula ou insular (Figura 12.14)

A observação deste lobo é feita após afastarmos os lábios do sulco lateral.


Este lobo cresce menos durante o desenvolvimento, sendo portanto, envolvido
pelos demais lobos cerebrais. O lobo insular apresenta sulcos e giros longo e
curtos da ínsula. O córtex insular anterior é área de associação terciária
e está envolvido com as seguintes funções: empatia, conhecimento da própria
fisionomia como diferente da dos outros, sensação de nojo e percepção dos
componentes subjetivos das emoções, e o córtex insular posterior está asso-
ciado à área gustativa primária.

FACE MEDIA L DO HEMISFÉRIO CEREBRAL (Figura 12.16)

Nesta face do hemisfério cerebral temos a exposição de estruturas telence-


fálicas inter-hemisféricas como o corpo caloso, a comissura anterior, a lâmina
terminal, o fórnice e o septo pelúcido; observamos também, dois sulcos im-
portantes que passam do lobo frontal para o parietal.

+ Corpo caloso: é a maior das comissuras inter-hemisféricas, formado


por um feixe de fibras mielínicas que cruzam o plano mediano e pene-
tram no centro branco medular do cérebro conectando áreas corticais
simétricas. O corpo caloso possui as seguintes partes: rostro, joelho,
tronco e esplênio.
+ Comisssura anterior: formada por feixe de fibras de associação inter-
-hemisféricas que conectam os lobos temporais e áreas olfativas.
+ Lâmina terminal: situada entre a comissura anterior, acima, e quiasma
óptico, abaixo. É uma delgada lâmina de substância branca que une os
dois hemisférios e constitui o limite anterior do terceiro ventrículo.

228
Sistema Nervoso

+ Fórnice: é um feixe de fibras que dificilmente é visualizado em toda


sua extensão, conectao córtex do hipocampo aos núcleos mamilares do
hipotálamo, integrando o circuito de Papez, parte do sistema límbico
(controle das emoções).
+ Septo pelúcido: situado entre o corpo caloso e o fórnice. É constituído
por duas delgadas lâminas de tecido nervoso que separa os cornos ante-
riores dos ventrículos laterais, constituindo seus limites mediais.

Sulcos e giros interlobares da face mediai

+ Sulco do corpo caloso: começa abaixo do rostro do corpo caloso, con-


torna o joelho, tronco e esplênio do corpo caloso, onde continua, no
lobo temporal com o sulco do hipocampo.
+ Sulco do cíngulo: tem curso paralelo ao sulco do corpo caloso, do qual
é separado pelo giro do cíngulo. Termina bifurcando-se em dois ramos:
ramo marginal do sulco do cíngulo que se dirige em direção à margem
superior do hemisfério cerebral, e o sulco subparietal que é a continui-
dade do sulco do cíngulo posteriormente.
+ Giro do cíngulo: contorna o corpo caloso, entre o sulco do corpo caloso
e os sulcos do cíngulo e subparietal, sua porçâo anterior situa-se no lobo
frontal e seu córtex cingular anterior está associado com o processa-
mento das emoções, e sua porção posterior situa-se no lobo parietal e
seu córtex cingular posterior integra o circuito de Papez e está relacio-
nado com a memória topográfica (capacidade de se orientar no espaço
e memorização de caminhos novos ou conhecidos). O giro do cíngulo
está ligado ao giro parahipocampal pelo istmo do giro do cíngulo.
+ Sulco paracentral: é perpendicular ao sulco do cíngulo e anterior e pa-
raleio ao seu ramo marginal.
+ Lóbulo paracentral: delimitado pelo sulco paracentral, anteriormente,
sulco do cíngulo, inferiormente, e ramo marginal do sulco do cíngulo,
posteriormente. O lóbulo paracentral pertence aos lobos frontal e parie-
tal e está relacionado com a área motora primária da perna e pé (giro
paracentral anterior), e área somestésica primária da perna e pé e
genitália (giro para central posterior).

229
Anatomia Humana Básica

Sulcos e giros do lobo frontal

• Área subcalosa ou septal: é a região situada abaixo do rostro do corpo


caloso, adiante da comissura anterior e lâmina terminal. Compreende
grupos de neurônios, conhecidos como núcleos septais. Esta região é
considerada uma área límbica relacionada com o centro do prazer.
• Giro frontal mediai: é a face mediai do giro frontal superior, que nesta
face mediai é delimitado pelo sulco do cíngulo, inferiormente, e o sulco
paracentral, posteriormente. A porção posterior deste giro é contínua
com a homóloga na face súperolateral, estando associada com a área
motora suplementar que é uma área motora secundária, relacionada
com o planejamento motor.

Sulcos e giros do lobo parietal

• Pré-cúneo: região situada entre o ramo marginal do sulco do cíngulo,


anteriormente, sulco subparietal, inferiormente, e sulco parietoccipital,
posteriormente. Está relacionada em sua porção anterior com a área so-
mestésica secundária que é contínua com a homóloga no lóbulo parietal
superior na face súperolateral.

Sulcos e giros do lobo occipital

• Sulco parietoccipital: é o limite entre os lobos parietal e occipital e for-


ma um ângulo agudo com o sulco calcarino.
• Sulco calcarino: inicia-se inferiormente ao esplênio do corpo caloso
e possui um trajeto arqueado em direção ao polo occipital. Na pro-
fundidade deste sulco e em seus lábios, encontramos a área cortical
visual primária.
• Cúneo: giro complexo, de forma triangular, situado entre os sulcos pa-
rietoccipital e calcarino. Seu córtex está associado em grande parte com
a área cortical visual secundária.
• Giro occipitotemporal mediai: localizado entre os sulcos calcarino
e colateral. Este giro continua-se anteriormente com o giro parahi-
pocampal. Seu córtex está relacionado com a área cortical visual
primária e secundária.
230
Sistema Nervoso

Giro do
cíngulo

Corpo
caloso

Cúneo

Sulco
calca ri no

Figura 12.16- Face mediai do hemisfério cerebral:


secção sagital mediana do encéfalo

FACE INFFERIOR OU BASE DO HEMISFÉRIO CEREBRAL

Sulcos e giro interlobares da face inferior (Figura 12.17}

+ Giro occipitotemporal lateral: localizado entre os sulcos colateral e


occipitotemporal. Este giro do lobo occipital continua-se anterior-
mente no lobo temporal, lateralmente ao giro parahipocampal. Seu
córtex está relacionado em sua porção occipital, com a área cortical
visual secundária.

Sulcos e giros do lobo temporal


+ Giro temporal inferior: situado entre os sulcos temporal inferior na
face súperolateral e occipitotemporal na face inferior. Este giro forma a
margem ínferolateral do hemisfério cerebral.
+ Sulco colateral: inicia-se próximo ao polo occipital e se dirige para fren-
te, delimitando com o sulco calcarino, o giro occipitotemporal me-
diai, e com o sulco do hipocampo, o giro parahipocampal.

231
Anatomia Humana Básica

• Giro parahipocampal: situado entre os sulcos colateral e do hipocam-


po, sua porção anterior curva-se sobre o sulco do hipocampo, consti-
tuindo o unco. A área cortical olfativa situa-se na parte anterior do
unco e do giro parahipocampal.
• Hipocampo: o hipocampo não é visualizado pela superfície do hemisfé-
rio cerebral. É profundo ao giro parahipocampal e faz parte do sistema
límbico, tendo importantes funções psíquicas relacionadas com o com-
portamento emocional e memória. O hipocampo liga-se ao fórnice por
um feixe de fibras, a fímbria do hipocampo.

Sulcos e giros do lobo frontal (Figura 12.17}

• Sulco olfatório: sulco profundo e de direção anteroposterior, aloja o


bulbo e trato olfatórios, pertencentes à via olfatória.
• Giro reto: situado entre a fissura longitudinal do cérebro e o sulco olfatório.
• Sulcos e giros orbitários: são sulcos e giros irregulares situados
lateralmente ao sulco olfatório, recebem esta denominação por
estarem relacionados com a parte orbital do osso frontal, que constitui
o teto da órbita.

Bulbo olfatório
Trato olfatório

Quiasma óptico

Unco

Mesencéfalo

Giro
parahipocampal

Fissura
longitudinal
do cérebro

Figura 12.17- Face inferior do cérebro

232
Sistema Nervoso

Lobo límbico
Alguns autores consideram como lobo límbico, a disposição continuada
das seguintes formações telencefálicas que circundam estruturas inter-hemis-
féricas: giro do cíngulo - istmo do giro do cíngulo - giro parahipocampal
- unco, e que estão relacionadas com o comportamento emocional, memória
e o controle do sistema nervoso autônomo.

VENTRÍCULOS LATERAIS (Figura 12.18}

Os hemisférios cerebrais possuem cavidades preenchidas por líquido cerebros-


pinal (=líquor), os ventrículos laterais direito e esquerdo, que se comunicam
com o terceiro ventrículo pelos respectivos forames interventriculares. Exceto
por este foram e, cada ventrículo é uma cavidade completamente fechada revesti-
da pelo epêndima, apresentando uma parte central e três cornos que correspon-
dem aos três polos do hemisfério cerebral. As partes que se projetam nos lobos
frontal, occipital e temporal são, respectivamente, os cornos anterior, posterior e
inferior. Com exceção do corno inferior, todas as partes do ventrículo lateral têm
o teto formado pelo corpo caloso, cuja remoção expõe a cavidade ventricular. O
plexo corioide da parte central do ventrículo é contínuo com àquele do terceiro
ventrículo através do forame interventricular, e atinge o corno inferior.

Ventrículo Aqueduto do
lateral ------=- mesencefalo
--====
!li ventrículo

IV ventrículo

Figura 12.18- Ventrículos laterais e terceiro e quarto ventrículos

233
Anatomia Humana Básica

LÍQUIDO CEREBROSPINAL (=LÍQUOR} (Figura 12.19}

O líquido cerebrospinal é produzido no plexo corioide situado no teto dos


ventrículos laterais, terceiro e quarto ventrículos. O líquido dos ventrículos
laterais circula para o terceiro ventrículo através dos forames interventricu-
lares, e deste, para o quarto ventrículo através do aqueduto do mesencéfalo;
do quarto ventrículo, o líquido alcança o espaço subaracnóideo por meio das
aberturas laterais e mediano. Neste espaço, o líquido circula para atingir as
granulações aracnoideas, que são projeções da aracnoide-máter para o interior
dos seios da dura-máter, onde é absorvido para a corrente sanguínea. Há reno-
vação do líquido cerebrospinal cerca de três vezes por dia.

Espaço
subaracnóideo

Cisterna
interpeduncular

Cisterna
Cisterna cerebelobulbar
pré-pontina posterior
(Magna)

Figura 12-19- Circulação do líquido cerebrospinal

Núcleos da base (Figura 12.20}

São agrupamentos de neurônios (substância cinzenta) localizados na base


dos hemisférios cerebrais. São visualizados apenas em imagens ou secções
transversais e frontais do cérebro.

234
Sistema Nervoso

• Núcleo caudado: é uma massa alongada de substância cinzenta que está


relacionado em toda a sua extensão com os ventrículos laterais, possui ca-
beça, corpo e cauda. Tem como principal função a influência no controle
da motricidade voluntária;
• Núcleo lentiforme: é dividido em putame e globo pálido, e este em glo-
bo pálido lateral e globo pálido mediai. O núcleo lentiforme está separado,
media/mente, do núcleo caudado e tálamo, pela cápsula interna (substáncia
branca que reúne fibras de projeção sensitivas e motoras), e lateralmente, rela-
ciona-se com substância branca e claustro que o separa do córtex da ínsula;
• O corpo estriado (núcleo caudado + núcleo lentiforme): está associado por
meio do circuito córtex-estriado-tálamo-cortical com o controle da motri-
cidade, que é modulado pelas conexões com a substância negra (no mesen-
céfalo) e núcleo subtalâmico (no subtálamo).
• Claustro: está localizado entre o córtex da ínsula e o núcleo lentiforme. Sua
função está relacionada com o sistema límbico;
• Corpo amigdaloide ou amígdala: é uma massa esferoide de substância
cinzenta (cerca de 12 núcleos) situada no polo temporal do hemisfério ce-
rebral, em relação com a cauda do núcleo caudado; fazendo parte do siste-
ma límbico, é um importante centro regulador do comportamento sexual e
da agressividade, assim como, o processamento do medo;
• Núcleo accumbens: estrutura de difícil visualização nas peças anatõmicas.
O núcleo accumbens, entre a cabeça do núcleo caudado e o putame, é o
principal componente do sistema mesolímbico, que é o sistema de recom-
pensa ou de prazer do cérebro.

Núcleo {Puta me
lenti forme Globo
pálido

Plexo
corioide

Figura 12.20- Núcleos da base: secção transversal do cérebro


235
Anatomia Humana Básica

NERVOS CRANIANOS

São doze pares de nervos (Figura 12.21) que recebem esta denominação
por estarem conectados com o encéfalo. Normalmente são estudados associa-
dos ao tronco encefálico, pois dez dos doze pares de nervos cranianos possuem
sua origem real em núcleos situados em suas partes (mesencéfalo, ponte e bul-
bo), excetuando os dois primeiros pares de nervos, o olfatório e o óptico, que
se ligam, respectivamente, com o telencéfalo e diencéfalo. Serão relacionados
os pares de nervos cranianos, descrevendo sua origem real e origens aparentes,
no encéfalo e no crânio, e seus principais aspectos funcionais.

+ Nervo olfatório (I par): é constituído por feixes de fibras nervosas que


se originam no terço superior da mucosa da cavidade nasal (=mucosa
olfatória), penetram na fossa anterior do crânio atravessando a lâmina
cribriforme do osso etmoide e terminam no bulbo olfatório. É um ner-
vo sensitivo e conduz impulsos relacionados ao olfato (fibras aferentes).
+ Nervo óptico (11 par): é um grosso feixe de fibras nervosas que se ori-
ginam nas células ganglionares da retina, penetram na fossa média do
crânio pelo canal óptico. Cerca de 50% das fibras dos nervos ópticos
cruzam o plano mediano, constituindo o quiasma óptico e continuam
no trato óptico até o corpo geniculado lateral, a partir do qual, origi-
nam fibras nervosas (fibras geniculocalcarinas) que terminam na área
visual primária nos lábios do sulco calcarino no lobo occipital. É um
nervo exclusivamente sensitivo e conduz impulsos relacionados com a
visão (fibras aferentes) .

Nervos oculomotor (111 par), troclear (IV par)


e abducente (VI par):
+ Nervo oculomotor: origina-se no núcleo do nervo oculomotor situa-
do no mesencéfalo; sua origem aparente é no sulco mediai do pedún-
culo cerebral: que delimita a fossa interpeduncular;
+ Nervo troclear: possui origem real no núcleo do nervo troclear situado
no mesencéfalo e aparente no encéfalo ao emergir inferiormente aos
colículos inferiores;
+ Nervo abducente: sua origem real é no núcleo do nervo abducente situ -
ado na ponte e origem aparente no sulco bulbopontino.

São nervos motores (fibras eferentes somáticas) que penetram na órbi-


ta pela fissura orbital superior (origem aparente no crânio) para inervar os

236
Sistema Nervoso

músculos extrínsecos do bulbo do olho (retos superior, inferior, lateral e me-


diai e oblíquos superior e inferior) e o músculo levantador da pálpebra supe-
rior. O nervo oculomotor possui fibras eferentes viscerais (parassimpáticas)
para a inervação do músculo ciliar que acomoda o cristalino e o músculo
esfíncter da pupila que regula a entrada de luz no interior do bulbo do olho.
Nervo trigêmeo (V par) é um nervo misto. Sua raiz sensitiva, maior, e mo-
tora emergem na superfície do tronco encefálico entre a ponte e o pedúnculo
cerebelar médio. Os prolongamentos periféricos dos neurônios sensitivos lo -
calizados no gânglio trigeminal dividem-se em três ramos: o nervo oftálmico
(Vl) sensitivo, nervo maxilar (V2) sensitivo, e o nervo mandibular (V3) mis-
to (sensitivo e motor). Estes ramos do nervo trigêmeo emergem da cavidade
craniana, respectivamente, pela fissura orbital superior, forame redondo e
forame oval.
O nervo trigêmeo, a partir de seus três ramos, é responsável pela sensibili-
dade geral da cabeça, suas fibras aferentes conduzem impulsos exteroceptivos
(temperatura, dor, pressão e tato), da pele da face e fronte, da conjuntiva ocu-
lar, da cavidade oral, nariz e seios paranasais, dos dentes, dos 2/3 anteriores da
língua e da maior parte da dura-máter encefálica, e impulsos proprioceptivos
originados nos músculos da mastigação e articulação temporomandibular.
As fibras motoras nervo mandibular originam no núcleo motor situado na
ponte e inervam os músculos da mastigação (temporal, masseter, pterigoideos
mediai e lateral, milo-hioideo e ventre anterior do músculo digástrico).
Nervo facial (VII par) possui uma raiz motora e uma raiz sensitiva (ner-
vo intermédio), que se originam em núcleos situados na ponte, sua origem
aparente no encéfalo é no sulco bulbopontino, lateralmente ao nervo abdu-
cente. Penetra no meato acústico interno ao lado do nervo vestibulococlear,
atravessa as orelhas interna e média para emergir do crânio pelo forame
estilomastóideo, divide-se, no interior da glândula parótida, nos seus cin-
co ramos terminais (temporal, zigomático, bucal, marginal da mandíbula e
cervical) responsáveis pela inervação da musculatura da expressão facial,
ventre posterior do músculo digástrico e músculo estilo- hioideo. O nervo
facial é predominantemente motor, mas funcionalmente é classificado como
um nervo misto devido sua inervação gustativa dos 2/3 anteriores da língua.
Suas fibras eferentes viscerais (parassimpáticas) inervam as glândulas lacri-
m ais, submandibulares e sub linguais.
Nervo vestibulococlear (VIII par) é exclusivamente sensitivo, composto
por uma parte vestibular, cujas fibras nervosas originam-se no gânglio ves-
tibular e conduzem impulsos nervosos relacionados com o equilíbrio, e ou-
tra parte coclear, constituída por fibras nervosas que se originam no gânglio
espiral e conduzem impulsos nervosos auditivos. O nervo vestibulococlear

237
Anatomia Humana Básica

penetra na fossa posterior do crânio pelo meato acústico interno e no tronco


encefálico, pelo sulco bulbopontino lateralmente ao nervo facial.

Nervo glossofaríngeo (IX par) origina-se no sulco lateral posterior do


bulbo e emerge do crânio pelo forame jugular. É misto, seu componente
eferente (motor) inerva os músculos estilofaríngeo e constritor superior da
faringe que atuam na deglutição e suas fibras eferentes viscerais (parassim-
páticas) inervam a glândula parótida; seu componente aferente (sensitivo)
conduzem impulsos relacionados com a sensibilidade geral e gustativa do 1/3
posterior da língua e sensibilidade geral da faringe, tonsila palatina, úvula,
tuba auditiva e do seio e corpo carotídeos.

Nervo vago (X par) origina-se no núcleo do nervo vago no bulbo e sua


origem aparente é no sulco lateral posterior, abaixo do nervo glossofarín-
geo. É misto (sensitivo e motor), essencialmente visceral, caracterizado como
o maior dos nervos cranianos. Após atravessar o forame jugular, desce pelo
pescoço onde emite ramos para a faringe (músculos constritores médio e infe-
rior) e laringe (músculos intrínsecos), penetra no tórax e termina no abdome,
onde entra na composição dos plexos viscerais autônomos (parte parassimpá-
tica) promove a inervação de vísceras torácicas e abdominais.
Nervo acessório (XI par) constituído por duas raízes, uma craniana que se
origina no sulco lateral posterior do bulbo, e outra, a raiz espinal, com origem
nos primeiros segmentos medulares cervicais da medula espinal. O nervo aces-
sório emerge do crânio através do forame jugular em conjunto com os nervos
glossofaríngeo e vago, e divide-se em dois ramos, o interno (componente cra-
niano) acompanha o nervo vago e in erva a laringe e vísceras torácicas, o externo
(componente espinal) inerva os músculos trapézio e esternocleidomastóideo.
Nervo hipoglosso (XII par) origina-se no núcleo do nervo hipoglosso
e emerge na superfície do bulbo adiante da oliva, no sulco lateral anterior e
deixa a fossa posterior do crânio através do canal do hipoglosso. É o nervo
motor da língua, ou seja, suas fibras eferentes inervam sua musculatura in-
trínseca e extrínseca.

238
Sistema Nervoso

Trato olfatório (I)

Nervo
vestibulococlear (VIII)
Nervo vago (X)

Nervo acessório
(XI)

Figura 12.21 -Nervos cranianos

REFERÊNCIAS

MACHADO, A.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Pau-


lo: Atheneu, 2014

MARTINEZ, A. M. B.; ALLODI, S.; UZIEL, D. Neuroanatomia essencial. 1.


ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

MENESES, M. S. Neuroanatomia clínica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2011.

MOORE, K. Anatomia: orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Gua-


nabara Koogan, 20 14.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Ter-


minologia Anatômica. Terminologia anatômica internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

239
Lisley Alves de Oliveira
Fisioterapeuta. Professora de Anatomia Humana de Centro Universi tá-
rio São Camilo. Professora convidada do curso de pós-graduação em ana-
tomia humana latu-senso do Centro Universitário São Camilo. Especialista
em Didática do Ensino Superior e Mestre em Morfologia pela Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP). Membro da Sociedade Brasileira de Ana-
tomia (SBA).
Anatomia Humana Básica

Apresentação
O sistema auditivo nos seres humanos é fundamental para a comuni-
cação e também para ouvir os sons de alerta de um perigo. Sem este sis-
tema, os seres humanos certamente não teriam desenvolvido o principal
instrumento de comunicação: a comunicação verbal. Da mesma forma,
poder enxergar é um fato tão importante para a defesa como para a co-
municação não visual.
No mundo animal onde o ser humano é um dos integrantes, os sen-
tidos especiais proveem a sobrevivência e perpetuação da espécie, sem os
quais estariam extintos. Assim, os animais predadores possuem "sentidos
especiais" altamente desenvolvidos, sendo superiores aos de ser humano,
no entanto, os animais humanos suprem estas deficiências com a inteligên-
cia, ocupando cada vez mais o planeta Terra em relação aos outros seres.
Estudar os elementos anatômicos dos sentidos especiais é o início da
compreensão destes sentidos maravilhosos e possibilita juntamente com
a fisiologia, a compreensão das alteraçôes dos mesmos, auxiliando tanto
na terapêutica como na profilaxia das doenças dos "sentidos especiais".

Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre- Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre - Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

242
CAPÍTULO 13

SISTEMAS AUDITIVO,
VISUAL E TEGUMENTAR
Lisley Alves de Oliveira

Nosso corpo busca trabalhar em harmonia interna e com o meio externo.


A maneira como ele recebe informações do meio e as leva até o sistema nervoso cen-
tral, que processa e reage a essas informações, é através de órgãos especializados de-
nominados órgãos dos sentidos: tato (receptores táteis por todo corpo); olfato (órgão
olfatório); gustação ou paladar (órgão gustatório); audição (orelhas) e visão (olho).
Grande parte do estúnulo tátil está localizado no maior órgão do corpo: a pele e
seus anexos que formam um sistema complexo denominado de sistema tegumentar.
Neste capítulo estudaremos, mais detalhadamente, três desses sistemas.

Sistema auditivo
Além de ser responsável por receber os estúnulos sonoros através dos órgãos da
audição, a orelha 1 também é responsável pelo equilibrio, recebendo estúnulos sobre
o posicionamento da cabeça; a orelha, portanto, contém os órgãos da audição e do
equilibrio. Ela é dividida em três partes: orelha externa, orelha média e orelha interna.

orelha externa orelha interna

Figura 13.1 -Divisões da orelha

1. Ant igamente era utilizado e até hoje muitos utilizam o termo "ouvido'~ porém este é o particí-
pio passado do verbo "ouvir".

243
Anatomia Humana Básica

Orelha externa

Compreende a orelha, o me ato acústico externo e se extende até a mem-


brana timpânica:

Orelha: é a parte mais externa e visível; se assemelha a uma concha, possui


superfície irregular e tem como função captar e direcionar o som para o meato
acústico externo até a membrana timpânica. É formada, em grande parte, por
cartilagem do tipo elástica recoberta por pele. Na sua superfície irregular po-
demos identificar, facilmente, uma série de saliências e depressões:

+ Hélice : a borda mais externa e curvada da orelha, formada por


cartilagem. Sua porção mais anterior possui uma projeção denominada
ramo da hélice.
+ Antélice: saliência, formada por cartilagem, que segue paralela à
hélice mais anteriormente. Na sua porção mais superior ela se bifurca
em duas saliências, os ramos da antélice e o espaço entre eles é
denominado fossa triangular.
+ Anti trago: proeminência bem visível localizada na porção mais inferior
da antélice.
+ Trago: porção de cartilagem que se extende da face em direção à
concha da orelha, oposta ao antitrago, localizada anteriormente ao
poro acústico externo - abertura do meato acústico externo. Entre o
trago e o antitrago existe uma depressão, a incisura anti trágica.
+ Escafa 3 : é uma depressão entre a hélice e a antélice.
+ Concha da orelha: é uma depressão anterior à antélice onde localiza-se
a abertura do meato acústico externo, e o poro acústico externo.
+ Lóbulo da orelha: projeta-se como uma "porção terminal" da hélice, é a
parte mais inferior da orelha e não possui cartilagem.

2. Hé lice: Do grego (G) Elix (=caracol) ou EILEIN (=e nrola ) (Fernandes, 1999).
3. Escafa: Do Latin (L) SCAPHA (=ca noa ) ou (G) SCAPHE (=ca noa ) (Fernandes, 1999).

244
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

hélice

escafa

incisura intertrágica

lóbulo da orelha

Figura 13.2- Orelha

Meato4 acústico externo: é um canal não retilíneo, recoberto por pele, de


aproximadamente 2,5 em, que tem como principal função a condução do som
da orelha até a membrana timpânica, que é o limite entre a orelha externa e
a orelha média. O terço mais lateral é cartilaginoso (meato acústico externo
cartilagíneo), com diâmetro maior, rico em glândulas sebáceas e ceruminosas,
onde se encontra sua abertura - o poro acústico externo e os dois terços mais
mediais são formados pelo osso temporal com diâmetro cada vez mais estreito
à medida que se aproxima da membrana timpânica.

Membrana timpânica: uma membrana fina que separa as orelha externa e


média. Apesar de delgada, possui três camadas: externamente é revestida por
pele, a camada média é fibrosa e a mais interna é uma membrana mucosa que se
continua com a da cavidade timpânica na orelha média. Um anel jibrocartilagí-
neo localiza-se em torno de toda a membrana timpânica auxiliando sua fixação
ao sulco timpânico na parte timpânica do osso temporal. Da porção central em
direção superior destaca-se uma saliência formada pela fixação do cabo do mar-
telo, a proeminência malear e em sua extremidade inferior localiza-se o umbigo
da membrana timpânica. Logo acima da proeminência malear, está a parte flá-
cida da membrana timpânica, que se distingue do restante que é a parte tensa.

4. Meato: (L) Meatus (=estrada, passagem) (Fernand es, 1999).

245
Anatomia Humana Básica

Irrigação e drenagem: a irrigação da orelha externa advém de algumas


fontes: artéria auricular posterior - ramo da artéria carótida externa; ramos
auriculares anteriores - ramos da artéria temporal superficial e ramo auricular
- ramo da artéria occipital. As veias que drenam são as que seguem as artérias.

Inervação: a sensibilidade da orelha externa é bem complexa e é trans-


mitida por vários nervos: n. auricular magno e n. occipital menor - ramos do
plexo cervical; n. auriculotemporal- ramo no n. mandibular [V 3]; n. auricular
posterior - ramos do nervo facial [VII]; ramo auricular - do nervo vago [X].

Orelha média

Também chamada de cavidade timpânica, é uma cavidade pequena e cheia


de ar, revestida por mucosa, localizada na parte petrosa do osso temporal que
contém em seu interior os ossículos da audição (martelo, bigorna e estribo).
Apesar de pequena possui muitas estruturas importantes para a audição, já que
sua função básica é transmitir vibrações da membrana timpânica até a orelha
interna. Nela podemos identificar seis paredes:

+ Parede tegmental (superior): formada pelo tegme timpânico do osso


temporal, que separa a orelha média da fossa média do crânio.
+ Parede jugular (inferior): uma fina camada de osso que separa a orelha
média da veia jugular interna.
+ Parede mastóidea (posterior): onde localiza-se o âdito ao antro
mastóideo que fornece comunicação com as células mastóideas do
processo mastoide.
+ Parede carótida (anterior): nesta parede está o óstio timpânico da tuba
auditiva, abertura da tuba auditiva que conecta a orelha média à parte
nasal da faringe (ósteo faríngeo da tuba auditiva) e tem a função de
equilibrar a pressão atmosférica na orelha média.
+ Parede membranâcea (lateral): formada, predominantemente,
pela membrana timpânica; a porção mais superior dessa parede é
denominada recesso epitimpânico.
+ Parede labiríntica (mediai): separa a orelha média da orelha interna.
Nela observamos uma grande elevação, o promontório - protuberância
criada pela cóclea (estrutura da orelha interna) e duas aberturas: janela
do vestíbulo - oval e onde se localiza a base do estribo e janela da cóclea
- abertura redonda e menor.

246
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

Ossículos da audição: são os menores ossos do corpo e articulam-se em


cadeia por meio de articulações sinoviais unindo a orelha externa à orelha
interna.
Martelo: o maior dos três ossículos. Um osso irregular onde podemos
identificar: cabeça do martelo - mais superior e arredondada; cabo do mar-
telo - projeção que segue inferiormente à cabeça do martelo; colo do martelo
- região de estreitamento entre a cabeça e o cabo do martelo; processo ante-
rior - uma projeção óssea delgada e longa perpendicular ao cabo do martelo;
processo lateral - uma projeção óssea menor localizada logo abaixo do colo do
martelo. O cabo do martelo se fixa à membrana timpânica; a cabeça do martelo
articula-se com a bigona. Possui um músculo fixado à ele que o tensiona, o m.
tensor do tímpano.
Bigorna: o osso intermediário na cadeia óssea, localizado entre o martelo
e o estribo. Possui: ramo curto - mais volumoso; ramo longo - mais estreito;
corpo da bigorna - região mais central entre os dois ramos. Se articula com
o martelo através do corpo da bigorna e com o estribo através do ramo longo.
Estribo: é o menor e mais mediai dos ossículos. Nele identificamos: cabeça
do estribo - pequena projeção na porção mais superior; ramo anterior e ramo
posterior - duas projeções que formam um arco em direção à base do estribo;
base do estribo - porção achatada onde de fixam os ramos. A cabeça do es-
tribo se articula à bigorna enquanto a base do estribo se encaixa na janela do
vestíbulo na transição para a orelha interna. O músculo que atua sobre este
ossículo é o m. estapédio.

face articular
para a bigorna

cabo do martelo

Figura 13.3- Martelo

247
Anatomia Humana Básica

ramo curto

processo lenticular

Figura 13.4- Bigorna

cabeça do estribo

ra mo anterior ramo posterior

base do estribo

Figura 13.5- Estribo

martelo

Figura 13.6- Ossículos da audição articulados

248
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

Irrigação e drenagem: a irrigação da orelha média advém, principalmente:


artérias timpânica anterior e superior- ramos da artéria maxilar; e ramo mas-
tóideo - da artéria occipital e diversos ramos menores das artérias faríngea as-
cendente e auricular posterior - ramos da artéria carótida externa. A drenagem
acontece pelo plexo pterigóideo.

Inervação: apesar de ser atravessada pelo nervo corda do tímpano - entre o


martelo e a bigorna, esse não tem ramificações na orelha média. A sensibilidade
da orelha média e da tuba auditiva se dá por ramos do n. glossofaríngeo [IX].

Orelha interna

Localizada na parte petrosa do osso temporal, é a mais complexa em fun-


ções, distribuição e estruturas; talvez, por sua complexidade receba o nome
de labirinto. Contém estruturas da audição e do equilíbrio. Formada por dois
labirintos: um labirinto ósseo e um labirinto membranáceo.

Labirinto ósseo: formado por uma série de canais e câmaras ósseos revestido
por periósteo, contém um líquido claro chamado de perilinfa; em seu interior
está inserido o labirinto membranáceo que acompanha, em grande parte, o seu
formato. O labirinto ósseo é formado por três partes: vestíbulo, canais semicir-
culares e côdea.

Vestíbulo: dilatação na porção média do labirinto ósseo; é onde se abre


a janela do vestíbulo e a janela da côdea; interliga os canais semicirculares
com a côdea. Em seu interior estão o sáculo e o utrículo - partes do labirinto
membranáceo. Nele também está localizada a abertura interna do canalículo
do vestíbulo.

Canais semicirculares: situados na porção mais póstero-superior do la-


birinto ósseo. São três canais - canal semicircular anterior, canal semicircular
posterior e canal semicircular lateral - em forma de círculo incompleto, for-
mando um ângulo reto com os outros dois e suas extremidades se abrem no
vestíbulo: os canais semicirculares anterior e posterior possuem um pilar ósseo
comum que se abre no vestíbulo; em uma das extremidades, cada canal se dila-
ta formando uma ampola óssea denominadas, respectivamente, ampola óssea
anterior, ampola óssea posterior e ampola óssea lateral.

249
Anatomia Humana Básica

Cóclea 5 : situada na porção mais anterior do labirinto se assemelha muito


à uma concha marinha ou à casa de um caracol, torcendo-se em espiral em
torno de um centro: modíolo da cóclea. É dividida por uma lâmina espiral
óssea que forma duas rampas: rampa do vestíbulo - mais superior e com re-
lação com o vestíbulo e rampa do tímpano - mais inferior e com relação com
a janela da cóclea, nela encontra-se a abertura interna do canalículo da cóclea,
por onde passa o aqueduto da cóclea que permite a drenagem da perilinfa
para o líquido cerebrospinal.

canais semicirculares

me ato
acústico
externo

tuba au ditiva

Figura 13.7- Corte frontal mostrando as orelhas externa,


média e interna.

Labirinto membranáceo: conjunto de estruturas de tecido conjuntivo fibro-


so, formado por duetos e sacos; está localizado dentro do labirinto ósseo, contém
a endolinfa em seu interior e está circundado pela perilinfa. Constituído por:

+ Utrículo e sáculo: dilatações localizadas na porção média do labirinto,


dentro do vestíbulo; utrículo tem relação direta com os duetos semicir-

S. Cóclea: (L) COCHLEA (= ca racol), de (G) Kochlías (= concha em esp iral) (Ferna nd es, 1999).

250
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

culares enquanto o sáculo intercomunica o utrículo com o dueto cocle-


ar. Ambos tem relação com o equilíbrio.
+ Duetos semicirculares: localizados dentro dos canais semicirculares re-
cebendo os mesmos nomes, suas extremidades são denominadas ampo-
las e se comunicam com o utrículo: dueto semicircular anterior e ampola
membranácea anterior; dueto semicircular posterior e ampola membra-
nácea posterior; e dueto semicircular lateral e ampola membranácea late-
ral. Tem relação com o equilíbrio.
+ Dueto coclear: estrutura em espiral, de formato triangular, localizada
dentro da côdea; inicia-se em fundo cego e termina próximo ao ves-
tíbulo onde se comunica com o sáculo através do dueto de união. Tem
relação direta com a audição.

Figura 13.8- Orelha interna

Portanto, podemos observar que as estruturas da orelha interna estão dis-


postas na seguinte sequência de externo para interno:
+ labirinto ósseo (no osso temporal) revestido de periósteo
+ perilinfa
+ labirinto membranáceo
+ endolinfa

251
Anatomia Humana Básica

Irrigação e drenagem: podemos dividir a irrigação da orelha interna em


duas: a do labirinto ósseo, que advém da irrigação do osso temporal - prin-
cipalmente ramos das artérias maxilar e auricular posterior; e a do labirinto
membranáceo que advém, principalmente, da artéria do labirinto - ramo da
cerebelar inferior anterior. Ela entra na orelha interna através do meato acústi-
co interno - abertura no osso temporal que, além de vasos, dá passagem a ner-
vos. A drenagem acontece por veias que seguem as artérias de mesmo nome e
que drenam para o seio petroso inferior.

Inervação: o meato acústico interno - abertura no osso temporal- dá passagem


aos nervos facial [VII] e vestibulococlear [VIII] . O n. vestibulococlear [VIII] ao
passar pelo meato acústico interno, se divide em dois: n. vestibular que inerva os
canais semicirculares, o utrículo e o sáculo e n. coclear que in erva órgão espiral.

Sistema visual

Responsável pela visão, este sistema complexo vai muito além de estudar ape-
nas o bulbo do olho, denominado popularmente de "olho': Na realidade, a anato-
mia do olho inclui, além do bulbo do olho, a órbita e estruturas oculares acessó-
rias: as pálpebras, o supercílio, a túnica conjuntiva, o aparelho lacrimal, músculos
extrínsecos do bulbo do olho, além de nervos, artérias, veias e tecido adiposo.

Órbitas

São duas cavidades ósseas de formato piramidal localizadas na parte ante-


rior do crânio. Cada órbita é formada por parte de sete ossos que se articulam
formando um estojo ósseo que auxilia na proteção do bulbo do olho. São eles:
etmoide, frontal, lacrimal, maxila, esfenoide, zigomático e palatino. Nela po-
demos identificar uma série de orifícios (duetos, forames, fissuras, canais) que
dão passagem à estruturas importantes como nervos, artérias e veias, como, por
exemplo, o canal óptico- abertura na parte posterior da órbita que dá passagem
para o nervo óptico [II] ou a fissura orbital superior - abertura maior, irregular,
lateralmente ao canal óptico que dá passagem a uma série de nervos e veias.

252
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

canal óptico face orbital do osso frontal


fissura orbital superior

face orbital da lâmina orbital do


asa maior do osso etmoide
osso esfenoide

face orbital do
osso zigomático osso lacrimal

fissura orbital
inferior

face orbital do osso maxila processo orbital do osso pala tino

Figura 13.9- Órbita direita em detalhe

Bulbo do Olho

O bulbo do olho ocupa a maior parte da porção anterior da órbita e contém


o aparelho óptico do sistema visual. Ele é formado por três camadas denomi-
nadas túnicas.

Túnica fibrosa do bulbo: é a camada mais externa, formada pela esclera 6 e


córnea. A esclera, que constitui 2/3 do bulbo do olho, é o esqueleto fibroso que
lhe confere a forma, é opaca e resistente, nela se inserem os músculos extrínse-
cos do bulbo do olho e na parte posterior é atravessada pelo nervo óptico [II] . A
córnea, que constitui o 1/3 restante do bulbo do olho, é a parte transparente da
túnica fibrosa e está localizada anteriormente. Na transição entre a esclera e a
córnea encontra-se o seio venoso da esclera que drena o humor aquoso.

Túnica vascular do bulbo: é a camada média, formada pela corioide, pelo


corpo ciliar e pela íris. A corioide é uma camada fina marrom-avermelhada,
altamente vascularizada e reveste a esclera por dentro. O corpo ciliar, também
escuro, é formado pelo músculo ciliar situado entre a corioide e a íris e por fi-

6. Esclera: (G) SKLEROS (= duro, rígido) (Fernandes, 1999),

253
Anatomia Humana Básica

lamentos concêntricos, escuros, os processos ciliares, que se prendem à zônula


ciliar auxiliando-a na fixação da lente, são vistos na parte periférica e posterior
da íris. A ação do músculo ciliar interfere na forma da lente, sua contração
relaxa a zônula ciliar e a lente dilata, quando o músculo ciliar relaxa, a zônula
ciliar distende e a lente estreita. A íris, pigmentada, muscular, funciona como
um diafragma que dilata e diminui a abertura central chamada pupila, contro-
lando a entrada de raios luminosos. Sua cor depende da quantidade de mela-
nina que possua*. Entre a córnea e a íris existe um espaço, a câmara anterior
preenchido por um líquido chamado humor aquoso que também preenche a
câmara posterior situada entre a íris e o corpo ciliar e a lente. O humor aquoso
é produzido por vasos no corpo ciliar e reabsorvido pelo seio venoso da esclera.

Túnica interna do bulbo: é formada pela retina cujos 2/3 posteriores cons-
titui a parte óptica da retina onde se encontram: os receptores fotossensíveis
(cones e bastonetes), a mácula lútea com a fóvea central (foco de melhor visão
com numerosos cones), e o disco do nervo óptico (ponto cego). O terço anterior
é a parte cega da retina, pela ausência de fotorreceptores. O limite entre estas
duas partes: óptica e cega forma a ora serrata. A parte óptica da retina é cons-
tituída por duas subcamadas: o estrato pigmentoso - que contém pigmentos
e o estrato nervoso - formado por uma série de estratos ou camadas onde se
encontram as células nervosas que participam da via da visão.

Lente: a lente é transparente, biconvexa e está fixada à retina - por uma


espécie de ligamento chamado zônula ciliar- e ao corpo ciliar auxiliada por fi-
lamentos deste- os processos ciliares. Por diante da lente e atrás do corpo ciliar
encontra-se a câmara posterior contendo humor aquoso. O espaço entre a lente
e a retina (4/5 do bulbo) constitui o corpo vítreo que é preenchido por uma
massa gelatinosa e transparente, o humor vítreo. A lente estreitada possibilita
visão à distância, lente dilatada possibilita visão próxima.

* A íris contém 2 tipos de fibras musculares: fibras musculares - que, quando contraem, dimi-
nuem a abertura da pupil; fibras radiadas - produzem o efeito contrário, quando contraem, au -
mentam a abertura da pupila.

254
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

córnea câmara anterior do bulbo

ora serrata

fibras
zonulares

camara retina
postrema do
bulbo

fóvea central na
disco do nervo mácula lútea
óptico

Figura 13.1 O- Olho: corte horizontal

Estruturas oculares acessórias

O bulbo do olho possui estruturas anexas que são: supercílio, pálpebras, cílios,
túnica conjuntiva, aparelho lacrimal e músculos, que serão descritas a seguir:

Supercílio: também denominado sobrancelha. São duas eminências dérmi-


cas em formato de "meia luà' recobertas por pelos curtos e grossos, situadas
acima de cada uma das órbitas. Além da estética facial, atuam como protetores
oculares, dificultando, p. ex., entrada de partículas de pó nos olhos ou até mes-
mo, gotas de suor.

Pálpebras: são duas pregas finas e móveis, sendo uma superior, maior e mais
móvel e uma inferior. Elas limitam a órbita anteriormente, protegendo o bulbo do
olho com seu fechamento reflexo rápido e controlando a exposição da parte ante-
rior do bulbo do olho. A união das margens das pálpebras forma a rima das pálpe-
bras. Os pontos mediai e lateral onde se unem as pálpebras superior e inferior são,
respectivamente, denominados ângulo mediai do olho e ângulo lateral do olho.

255
Anatomia Humana Básica

Cílios: são pelos curvos e curtos que crescem nas margens das pálpebras
distribuídos em duas ou três fileiras. Os superiores são maiores e mais nume-
rosos e também servem para proteger o bulbo do olho.

Túnica conjuntiva: é uma membrana mucosa transparente, bastante vas-


cularizada, que reveste a face posterior das pálpebras, dobra-se e reveste a face
anterior do bulbo do olho (parte anterior da esclera e córnea).

Aparelho lacrimal: compreende uma série de estruturas que fabricam e


recolhem o líquido lacrimal. A glândula lacrimal é quem secreta um líqui-
do complexo, chamado líquido lacrimal, que é uma solução salina fisiológica
aquosa que umidifica e lubrifica a superfície da túnica conjuntiva e córnea.
Possui ação bactericida e fornece alguns nutrientes e oxigênio dissolvido para
a córnea. Os canalículos lacrimais, o saco lacrimal e o dueto lacrimonasal reco-
lhem este líquido e o conduzem para o interior da cavidade nasal, abrindo-se
abaixo da concha nasal inferior.

Músculos extrínsecos do bulbo do olho: são sete músculos, compreen-


dendo o m. levantador da pálpebra superior, e outros seis músculos que se
prendem à esclera e são capazes de movimentar os olhos em quase qualquer
direção, que são: quatro retos (m. reto superior, m. reto inferior, m. reto media/ e
m. reto lateral) e dois oblíquos (m. obliquo superior em. oblíquo inferior). Cada
músculo é responsável por um movimento do bulbo do olho, sendo:
+ M. levantador da pálpebra superior: levanta a pálpebra superior
+ M. reto superior: elevação, deslocamento para cima
+ M. reto inferior: abaixamento, deslocamento para baixo
+ M. reto media/: adução, deslocamento mediai
+ M. reto lateral: abdução, deslocamento lateral
+ M. oblíquo superior: intorção, deslocamento para baixo e lateralmente;
seu tendão passa através da tróclea, uma estrutura fibrocartilaginosa
fixa no osso frontal.
+ M . oblíquo inferior: extorção, deslocamento para cima e lateralmente

256
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

músculo obllquo superior

Figura 13.11 -Olho e músculos extrínsecos do olho

Sistema tegumentar

Denominamos tegumento comum a pele, suas camadas e suas estruturas as·


saciadas (anexos) como: pelos, unhas, mamas, glândulas sudoríferas e sebáceas.
Muitas estruturas são estudadas microscopicamente, porém estudamos muitas
referências macroscópicas que serão abordadas neste capítulo.

Pele

A pele é o maior órgão do corpo · cobre toda a sua superfície externa · e


dentre as principais funções, podemos destacar: protege os tecidos mais pro·
fundos de abrasões mecânicas, lesões biológicas e químicas, fornecer ao siste·
ma nervoso central informações sobre o ambiente, excreção e absorção, além
de auxiliar na regulação da temperatura corporal e em alguns processos meta·
bólicos, como a síntese de vitamina D, por exemplo.
Sua espessura é bastante variável - aproximadamente 0,5 mm nas pálpe·
bras, variando até 4 mm nos calcanhares, porém sua espessura média é de 1
a 2 mm na maior parte do corpo. Pode ser considerada um importante órgão

257
Anatomia Humana Básica

dos sentidos visto que possui muitas terminações nervosas e receptores para
temperatura, dor, toque dentre outros.
A pele é composta, basicamente, por duas camadas: epiderme e derme.
Abaixo da derme, porém não fazendo parte da pele, encontra-se a hipoderme
ou tela subcutânea. Apesar do nome sugerir ser uma terceira camada, esta últi-
ma consiste, principalmente, de tecido adiposo de espessura variável. As fibras
que se estendem da derme em direção à hipoderme servem para ancorar a pele
à hipoderme e esta se fixa aos órgãos e tecidos subjacentes.

Epiderme: camada mais superficial, avascular e é formada por uma série de


células que são distribuídas em camadas. Apresenta duas partes: zona córnea -
estrato mais superficial de células queratinizadas que descama continuamente;
zona germinativa - de produção de células para regeneração. É na epiderme
que se abrem os poros sudoríferos (provenientes das glândulas sudoríferas) e
os poros por onde saem os pelos.

Derme: camada de tecido conjuntivo contendo fibras elásticas e colágenas,


subjacente à epiderme sustentando-a. É ricamente vascularizada e, além dos
vasos, contém glândulas sudoríferas e sebáceas, folículos pilosos e termina-
ções nervosas: terminações nervosas livres (Ruffini) e corpúsculos táteis (ou
corpúsculos de Meissner).

Anexos da pele

Pelos
Estão presentes na maior parte das superfícies corporais. Possuem recepto-
res de tato associados aos folículos pilosos que são ativados cada vez que um
pelo é movido, mesmo que muito sutilmente, desse modo os pelos atuam na
percepção do tato discriminativo. Eles têm algumas funções, dentre elas pro-
teção, por exemplo, na cabeça (proteção do couro cabeludo dos raios solares),
nos genitais externos (principalmente na mulher), nas narinas (vibrissas), so-
brancelha e cílios (protegem os olhos contra entrada de partículas estranhas).
Cada pelo é formado basicamente por células queratinizadas mortas. Pode-
mos identificar em cada pelo as seguintes partes:
+ Haste: é a parte superficial do pelo que se projeta à partir da superfície
da pele.
+ Raiz: é a parte que penetra na derme e, algumas vezes, na tela
subcutânea.
+ Folículo piloso: envolve a raiz do pelo.

258
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

+ Bulbo: localiza-se na base de cada folículo piloso, e aloja a papila


dérmica, que nutre o folículo piloso em crescimento.

Glândulas sebáceas
Geralmente estão conectadas aos folículos pilosos. Sua parte secretora situa-se
na derme e, normalmente, se abre no colo do folículo piloso. Em locais que não
apresentam pelos, como lábios, glande do pênis, lábios menores, dentre outros, se
abrem diretamente na superfície da pele (palmas das mãos e plantas dos pés não
apresentam estas glândulas). Secretam uma substância oleosa chamada sebo que,
além de recobrir a superfície dos pelos evitando que ressequem e fiquem que-
bradiços, também impede a evaporação excessiva de água da pele, mantendo-a
macia, flexível e evitando o crescimento de determinadas bactérias.

Glândulas sudoríferas
Presentes em grande quantidade no corpo (de três a quatro milhões) e pro-
duzem o suor, ou transpiração, e sua principal função é auxiliar na regulação
da temperatura corporal por meio da evaporação. Existe um tipo de glândula
sudorífera modificada presente na orelha externa - as glândulas ceruminosas
- que produzem uma secreção semelhante à cera, o cerume.

folículo piloso

Figura 13. 12- Corte ilustrativo das camadas da pele e anexos

259
Anatomia Humana Básica

Unhas
São placas de células epidérmicas queratinizadas. Cada unha possui:
• Corpo da unha: é a parte visível, abaixo dele está o vale da unha;
• Raiz da unha: parte inserida na pele, abaixo dela está a matriz da unha;
• Margem livre: parte que pode se estender além da extremidade do dedo.

Além desses, podemos identificar ainda:


• Lúnula: uma parte esbranquiçada semilunar abaixo do corpo da unha,
na sua porção mais proximal;
• Hiponíquio: uma região espessada abaixo da margem livre;
• Eponíquio (cutícula proximal junto à pele) e Perioníquio (cutícula
lateral): uma faixa estreita de epiderme que se estende desde a margem
proximal e margem lateral da unha, respectivamente, e se fixam nela.

Figura 13.13- Dedo: corte sagital

Mamas
As mamas localizam-se na parte anterior do tórax, sobre o músculo pei-
toral maior, entre a linha mediana do esterno e a prega anterior da axila
(formada pelo músculo peitoral maior) horizontalmente e entre as II e VI
costelas verticalmente. São constituídas de glândulas mamárias, pele e tecido
conjuntivo associado. Entre as duas mamas, na parte mediana, encontra-se
o sulco intermamário.
Externamente possuem característica bem marcantes, tanto em homens
quanto em mulheres:

260
Sistemas Auditivo, Visual e Tegumentar

+ Aréola da mama: uma região circular na porção mais anterior, geral-


mente mais pigmentada que o restante da pele;
+ Tubérculos areolares: encontrados na aréola como pequenas saliências
responsáveis pela hidratação desta região;
+ Papila mamária: localizada na porção mais central da aréola; é uma es-
trutura proeminente, na maioria das vezes bem definida e saliente, onde
se abrem os duetos lactíferos, também conhecida como mamilo.

Nas estruturas internas, as mamas masculina e feminina são bastantes dis-


tintas. Abordaremos as mamas femininas. A maior parte das estruturas inter-
nas são glândulas mamarias, tecido adiposo e tecido conjuntivo:

+ Glândulas mamárias: consistem em uma série de duetos lactíeferos e


lóbulos secretores associados que se convergem para formar de 15 a 20
duetos lactíferos em cada mama, que se abrem de forma independente
na papila mamária.
+ Duetos lactíferos: duetos que drenam para o meio externo a secreção
das glândulas mamárias, o leite materno. Em sua porção mais distai,
na região da aréola da mama, apresentam uma dilatação denominada
seios lactíferos.
+ Ligamentos suspensores das mamas: o tecido conjuntivo circunda os
duetos dos lóbulos das glândulas mamárias e em certas regiões ele se
condensa para formar estes ligamentos bem definidos, os ligamentos
suspensores das mamas que são contínuos com a derme da pele e
sustentam a mama.

Como a mama está relacionada com a parede torácica e com estruturas do


membro superior, podem ser irrigadas e drenadas por várias vias. Geralmente
a irrigação arterial se dá por três vias: ramos da artéria axilar (porção late-
ral), ramos da artéria torácica interna (porção mediai) e ramos das segunda a
quarta artérias intercostais (distribuição mais irregular, mas geralmente para a
porção mais intermédia). E a drenagem venosa é realizada pelas veias parale-
las às artérias que irrigaram.
Outra importante drenagem é a linfática na qual 75% da linfa é drenada
para os linfonodos axilares e os outros 25% são drenados, na sua maioria, para
linfonodos paraesternais e uma pequena parte para vasos linfáticos intercos-
tais que se conectam com linfonodos intercostais posteriores (próximos às ca-
beças das costelas).

261
Anatomia Humana Básica

REFERÊNCIAS

DRAKE, R. L. Gray's Anatomia para estudantes. 2. ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2010.

FERNANDES, G. J. M. Eponímia: glossário de termos epônimos em


anatomia e Etimologia - dicionário etimológico da nomenclatura ana-
tômica. São Paulo: Plêiade, 1999.

GILROY, A. M. Anatomia: texto e atlas. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-


gan, 2015.

NORTON, N. S. Netter: atlas de cabeça e pescoço. 2. ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2012.

SBA. Sociedade Brasileira de Anatomia. Comissão Federativa da Termi-


nologia Anatômica. Terminologia Anatômica Internacional. São Paulo:
Manole, 2001.

262
A/ex Kors Vidsiunas
Doutor em Biologia Celular e Tecidual pela Universidade de São Paulo
(USP). Mestre em Biologia Celular e Estrutural pela Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp). Graduado em Ciências Biológicas (Unicamp). Es-
pecialista em Anatomia Humana Macroscópica pelo Centro Universitário São
Camilo. A tua como professor de diferentes disciplinas dentro da Morfologia
para cursos de Graduação e de Pós-Graduação.
Anatomia Humana Básica

Apresentação
O sistema endócrino é formado pelo conjunto de glândulas que têm
a função de produzir hormônios. Os hormônios produzidos são lança-
dos na circulação sanguínea que por sua vez transporta-os até ao órgão
ou tecido específico (alvo). As células destes órgãos ou tecidos alvo, ao
incorporarem o hormônio, vão desempenhar uma ação específica. Por
exemplo, o hormônio insulina produzido no pâncreas, alcança as cé-
lulas musculares por meio da circulação sanguínea e a incorporação
de insulina nas células determina o processo de incorporação e utili-
zação da glicose necessária para a contração muscular. Por outro lado,
em situação de estresse, a produção de hormônio catecolamina pelas
glândulas suprarrenais alcança as células musculares por via circulação
sanguínea determinando um aumento na força contrátil das fibras mus-
culares e possibilitando uma fuga mais rápida e eficiente.
Normalmente, o sistema endócrino interage com o sistema nervoso
formando mecanismos reguladores coordenados e eficientes. Por exemplo,
o sistema nervoso fornece informação de que o meio externo está frio, as-
sim o sistema endócrino regula a necessidade de aumentar a temperatura
corporal por meio do aumento do metabolismo das células. Desta forma,
os dois sistemas em conjunto atuam na coordenação e regulação de todas
as funções do corpo humano, tais como, a sensação de fome e saciedade,
controle de excreção de sal pela urina, controle de pressão e da temperatura
corporal, o crescimento e desenvolvimento do corpo entre outros.
Desta forma, todos os sistemas do corpo humano dependem destes
dois sistemas para a vida. No entanto, de um modo geral, a velocida-
de de coordenação do sistema endócrino é mais lenta comparada à do
sistema nervoso, pois existem adaptações que precisam ser reguladas
lentamente e outras de forma mais imediata.

Ivan Hong Jung Koh'

1 Graduado em Medicina pela Universidade de Brasília. Doutor e mestre em Técnicas Operatórias


e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutor pela Universidade
de Toronto e Livre-Docente pela UNIFESP-EPM. Atualmente é professor adjunto Livre-Docente
da UNIFESP. A linha de pesquisa envolve microcirurgia, atuando principalmente nos seguintes
temas: translocação bacteriana, sepse, imunologia de intestino associada à infecção.

266
Sistema Endócrino

CAPÍTULO 14

SISTEMA ENDÓCRINO
A/ex Kors Vidsiunas

Funções do sistema endócrino

O sistema endócrino é um sistema complexo de glândulas. Glândulas são ór-


gãos pequenos, mas importantes, cuja função é produzir hormônios. Os hormô-
nios são substâncias que ajudam a controlar as atividades corporais e controlam
o metabolismo celular, a reprodução, o desenvolvimento e o crescimento do
organismo. Dessa maneira, contribuem para a manutenção da homeostasia.
Este capítulo visa descrever as glândulas endócrinas que constituem o siste-
ma endócrino abordando, principalmente, a localização, a forma, as dimensões
e citar os principais hormônios que cada uma delas sintetiza (produz) e secreta
(libera). Entretanto, também serão mencionados outros órgãos e tecidos que,
classicamente, não são classificados como órgãos endócrinos, mas, que pos-
suem células com funções endócrinas, tais como, por exemplo: a placenta, a
pele, os rins, o fígado, o estômago, o intestino delgado, coração e tecido adiposo.
As glândulas endócrinas serão abordadas de acordo com a região na qual
estão localizadas.

Constituição das glândulas endócrinas

As glândulas endócrinas são formadas, principalmente, por tecido epitelial


do tipo glandular (secretor). Ao contrário das glândulas exócrinas, que apre-
sentam dueto excretor, que libera o produto de secreção ou para o interior de
uma cavidade ou para a superfície externa do corpo, as glândulas endócrinas
não apresentam dueto excretor. Portanto, os produtos elaborados por esse tipo
de glândula, ou seja, os hormônios, são liberados diretamente na corrente san-
guínea ou nos espaços encontrados no tecido conjuntivo e transportados para
todo o corpo através dos vasos sanguíneos.
Geralmente, os hormônios são sintetizados em pequenas concentrações e
atuam à distância em células-alvo que possuam receptores específicos, alte-
rando suas funções metabólicas, sexuais, reprodutivas e ativando ou inibindo
genes específicos.
267
Anatomia Humana Básica

As glândulas endócrinas estão espalhadas e localizadas em quase todas as


regiões do corpo, não havendo nem nos membros superiores e nem nos mem-
bros inferiores. As demais regiões do corpo, isto é, cabeça, pescoço, tórax, ab-
dome e pelve, apresentam pelo menos uma glândula endócrina.

Região da cabeça

Hipotálamo
Localizado na parte inferior do tâlamo, que por sua vez, pertence ao dien-
céfalo (parte central do cérebro), une-se à hipójise através do infundíbulo. Ele
encapsula a porção ventral do terceiro ventrículo. Alguns neurônios do hipotála-
mo sintetizam e liberam mediadores químicos denominados neuro-hormônios
ou hormônios hipotalâmicos que coordenam a maioria das funções endócrinas.
Atua como um dos principais centros de controle do sistema nervoso autônomo.

Figura 14.1 - Hipotálamo- vista mediai

Pineal
A glândula pineal apresenta forma ovóide e dimensões semelhantes aos de
um caroço de uma azeitona ou uma pinha achatada. Mede entre 5,0 a 8,0 mm
de altura e entre 3,0 a 5,0 mm de diâmetro, pesando entre 100 e 200 mg. Está

268
Sistema Endócrino

localizada na parede posterior do teto do diencéfalo e está ligada ao terceiro


ventrículo. Suas células, os pinealócitos são responsáveis pela síntese e liberação
do hormônio chamado melatonina, o qual é produzido durante a noite, perío-
do que coincide com a ausência de luz.
A secreção de melatonina acompanha o ritmo circadiano (ciclo que dura
cerca de 24 horas), sendo liberada no período escuro e inibida pela claridade.
Age sobre a hipójise e está envolvida na indução do sono REM (rapid eye mo-
vements- sigla em língua inglesa- movimentos rápidos dos olhos).

Figura 14.2- Glândula Pineal- vista mediai

Hipófise
A hipójise, antigamente conhecida como pituitária, está situada na fossa hi-
pojisial, que, por sua vez, encontra-se na sela turca do osso esfenoide. Conec-
ta-se ao hipotálamo, que está localizado superiormente em relação à hipófise,
através de uma haste denominada infundíbulo. Seu formato e tamanho são
semelhantes ao de uma ervilha, apresentando cerca de 1,4 em de diâmetro,
pesa 0,5 g nos homens e 1,5 g nas mulheres multíparas (que pariram duas ou
mais vezes). É formada por três partes denominadas:

1. Neurohipójise;
2. Parte intermédia e;
3. Adenohipójise.

269
Anatomia Humana Básica

As partes neurohipójise e adenohipójise, que correspondem às partes fun-


cionais, apresentam função endócrina e, portanto, sintetizam e secretam uma
porção de hormônios que agirão, em outras glãndulas endócrinas e em outros
órgãos-alvos, controlando as ações de cada uma delas.
Os principais hormônios produzidos e liberados pela adeno-hipófise são:
+ Hormônio do crescimento ( GH) : regula o crescimento de todas as
células do corpo;
+ Hormônio tireotrófico (TSH): regula a atividade da glândula tireoide;
+ Hormônio folículo estimulante (FSH): regula e estimula os testículos a
produzirem espermatozoide e regula o desenvolvimento do ovócito pelo
ovário e a produção de estrógeno, hormônio feminino;
+ Hormônio luteinizante (LH): regula a ovocitação e a produção e a
liberação de progesterona e de estrógeno, ambos na mulher; no homem,
estimula a liberação de testosterona;
+ Hormônio prolactina (PRL): secretado por ambos os sexos, porém
eficiente apenas na mulher após o parto, estimulando a síntese de leite;
+ Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH): regula o funcionamento da
glãndula suprarrenal.

A porção neurohipójise sintetiza e libera dois hormônios:


+ Hormônio antidiurético (ADH): inibidor da formação da urina
(vasopressina);
+ Hormônio ocitocina: provoca as contrações uterinas durante o parto,
somente é liberado ao final da gestação, estimula também a contração
dos duetos lactiferos, facilitando a amamentação.

Hipófise

Figura 14-3 - Hipótise- vista media i

270
Sistema Endócrino

Região do pescoço

Tireoide
A glândula tireoide é formada por duas partes chamadas de lobos direito e
esquerdo, unidos entre si através de um istmo. Localizada anteriormente em
relação à traqueia e lateralmente à laringe. Cada um de seus dois lobos mede
cerca de 5,0 em de comprimento, 2,5 em de largura e com peso entre 20 e 30 g.
Sintetiza, armazena e libera os hormônios tireoideanos chamados tri-iodotiro-
nina (T,) e tetra-iodotironina (T,), que em conjunto controlam o metabolismo
corporal. Estes dois hormônios estimulam o aumento da síntese protéica e li-
beração de energia.

Cartilagem
tireoidea

Lobo esquerdo
Lobo direito
Istmo da
glândula tireoide

Traqueia

Figura 14.4- Glândula tireoide- vista anterior

Paratireoides
São quatro as glândulas paratireoides, um par de paratireoides superiores e
outro par de inferiores. Elas apresentam, cada uma, as dimensões e o formato
semelhantes aos de ervilhas. Todas elas estão situadas posteriormente à glân-
dula tireoide. Apesar de estarem intimamente relacionadas à glândula tireóide,
as paratireóides apresentam funções diferentes. Elas secretam o hormônio co-
nhecido como paratormônio, que controla os níveis de cálcio e fosfato, man-
tendo a concentração sanguínea destes íons dentro de valores que permitam o
bom funcionamento dos sistemas muscular e nervoso.

271
Anatomia Humana Básica

Glândula
Glândula
tire o ide
~l-----t- paratireoide
Glândula superior
paratireoide Glândula
superior -"~:!----+- paratireoide
Glândula inferior
paratireoide
inferior

Figura 14.5- Glândulas paratireoides- vista posterior

Região do tórax
Ti mo
O timo está situado no mediastino superior, anteriormente à traqueia e
aos grandes vasos da base do coração, localizado imediatamente posterior ao
manúbrio do osso esterno. Consiste em dois lobos, atingindo seu maior peso
relativo no fim da vida fetal, porém seu peso absoluto continua a aumentar,
alcançando 30 a 40 g na época da puberdade. Em seguida, o timo começa a
involuir e, no idoso, pesa entre 5 a 15 g, apresentando grande quantidade de
tecido adiposo. Sua principal função está associada à maturação dos linfócios T
através da liberação de fatores humorais, dentre os quais, hormônios tímicos.

Região do abdome

Pâncreas

O pâncreas encontra-se próximo à parede posterior do abdome e está situa-


da à esquerda do duodeno (primeira parte do intestino delgado, que envolve a
cabeça do pâncreas), inferior e posteriormente ao estômago e à direita do baço.
Apresenta entre 12 e 15 em de comprimento e tem o formato que se assemelha
ao de uma "línguà:
O pâncreas é classificado como uma glândula mista, pois apresenta fun-
ções exócrina (produção e liberação do suco pancreâtico, o qual atua na diges-
tão química dos alimentos - proteínas, carboidratos e lipídios) e endócrina.
272
Sistema Endócrino

A parte endócrina é a responsável pela síntese (produção) e secreção (libe-


ração) de dois hormônios: a insulina e o glucagon pelas células presentes nas
ilhotas pancreáticas:

+ Insulina: tem a função de diminuir os níveis (concentração) de glicose


no sangue (efeito hipoglicemiante), atuando como facilitadora de entra-
da de glicose na célula, permitindo seu funcionamento;

+ Glucagon: estimula o fígado a converter glicogênio em glicose, aumen-


tando a concentração de glicose no sangue (efeito hiperglicemiante).

Dueto
pancreático

Cauda do
pâncreas

Corpo do
pâncreas

Figura 14.6- Pâncreas

Suprarrenais
Existem duas glândulas suprarrenais, cada uma situada superior e ligeira-
mente anteriormente ao polo superior de cada rim, de coloração amarelo-dou-
rada. A glândula suprarrenal esquerda apresenta formato semilunar, enquanto
que a glândula suprarrenal direita possui forma piramidal e é mais larga.
Ambas glândulas suprarrenais possuem uma região medular, denomi-
nada medula (da glândula suprarrenal) (localizada no centro das glândulas) e
uma região cortical (da glândula suprarrenal), chamada córtex (localizado na
periferia das glândulas). Cada uma dessas duas regiões, na verdade, é uma
glândula distinta.
Suas dimensões transversais médias são: - glândula suprarrenal direita:
60 x 30 mm e; -glândula suprarrenal esquerda: 80 x 35 mm. Ambas pesam
273
Anatomia Humana Básica

cerca de 5,0 g (a região medular corresponde a um décimo, em média, do


peso total da glândula).
Anteriormente à glândula suprarrenal direita encontram-se uma parte do
lobo direito do fígado e da veia cava inferior, enquanto anteriormente à glându-
la suprarrenal esquerda encontram-se uma parte do estômago, do pâncreas e,
eventualmente, do baço.
Os hormônios do córtex das glândulas suprarrenais sâo essenciais à manu-
tenção da vida; os hormônios da medula das glândulas suprarrenais, não.
O córtex da suprarrenal produz e libera os seguintes hormônios:
+ Cortisol (glicocorticoide): controla os níveis de glicose no sangue,
aumentam a metabolização de lipídios e de proteínas para produção de
energia e aumentam na vigência de estresse;
+ Aldosterona ( mineralocorticoide): controle o volume de sangue e
auxílio na regulação da pressão arterial, agindo nos rins para estimulá-
los a reter sódio e água;
+ Andrógenos adrenais: importantes para algumas características sexuais
secundárias, tanto em mulheres como em homens.

A medula da glândula suprarrenal sintetiza e secreta os seguintes hormônios:


+ Adrenalina (também conhecida como epinefrina);
+ Noradrenalina (também conhecida como norepinefrina).

Estes hormônios promovem taquicardia (aumento da frequência de bati-


mentos cardíacos), bronquiodilatação (dilatam as vias aéreas para melhorar
a entrada de oxigênio), e aumentam o fluxo sanguíneo para os músculos. Em
situações de medo e/ou de intenso estresse, esses hormônios preparam o indi-
víduo ou para a luta ou para a fuga.

274
Sistema Endócrino

Glândula suprarrenal

Figura 14.7- Glândula suprarrenal

Região da pelve

Testículos
Existem dois testículos localizados no interior do escroto e associados, cada
um, a um epidídimo e a um dueto deferente. Apresentam formato ovoide (se-
melhante a um ovo), tendo, em média, cerca de 4,0-5,0 em de comprimento,
2,5 em de largura e 3,0 em de diâmetro anteroposterior, pesando entre 10-14 g.
São importantes na produção dos gametas sexuais masculinos denomi-
nados espermatozoides. As células intersticiais (de Leydig) do testículo são as
responsáveis pela síntese e secreção da testosterona, hormônio sexual mascu-
lino que promove a maturação e o aumento de tamanho dos órgãos genitais
masculinos; promove o surgimento dos caracteres sexuais secundários tais
como o aumento da massa muscular e da densidade óssea, o surgimento
de pelos na face (barba), acúmulo de gordura na região abdominal, o sur-
gimento e distribuição androcoide de pelos púbicos, aumento da laringe e a
alteração do timbre da voz masculina.

275
Anatomia Humana Básica

Ovários
Estão presentes dois ovários nas mulheres. Estão ambos localizados na pel-
ve menor ou verdadeira. Situados posterior e inferiormente a cada uma das
duas tubas uterinas e, lateralmente ao útero. Possui forma de uma amêndoa
(de aspecto ovoide), apresentando as seguintes dimensões médias: 4,0 x 2,0 x
3,0 em (comprimento x largura x espessura), de coloração branco pardacenta
(veja outras informações sobre os ovários no capítulo referente ao sistema ge-
nital feminino, Capítulo 11).
Apresenta função importante na produção do gameta sexual feminino, o
ovócito e, também, importante função endócrina, pois sintetiza e secreta dois
hormônios:

+ Estrógeno: envolvido no desenvolvimento e função da sexualidade, alte-


rações menstruais e regulação do impulso sexual;

+ Progesterona: está diretamente ligado à gestação, preparando o útero


para a implantação do embrião e prevenindo abortos.

Os hormônios sexuais femininos, assim como a testosterona no homem, pro-


moverão a maturação e o aumento do tamanho dos órgãos genitais femininos,
além de contribuírem no surgimento de caracteres sexuais secundários femi-
ninos tais como o surgimento e desenvolvimento das mamas, a distribuição
ginecoide dos pelos pubianos.

Placenta
A placenta é um órgão híbrido que consiste de uma porção fetal, for-
mada pelo cório (constituído de: sincíciotrofoblasto, citotrofoblasto e mesoder-
ma extra-embrionário), e uma porção materna, formada pela decídua basal.
As duas partes estão diretamente envolvidas nas trocas de substâncias que se
observam entre as circulações materna e fetal.
A placenta apresenta duas faces:
1. a face materna, voltada para o organismo materno e;
2. a face fetal, voltada para o embrião, que a partir do início da 9' semana
de desenvolvimento, passa a chamar-se feto.

É na face materna da placenta que ocorrem os fenômenos de transporte


de substâncias entre os organismos materno e fetal. O cordão umbilical im-
planta-se junto à face fetal da placenta, levando e trazendo sangue do e para
o feto à placenta.

276
Siste ma En dócrino

A placenta possui a forma parecida à de um bolo, daí a origem de seu nome.


Apresenta cerca de 25 em de diâmetro e pode chegar a pesar cerca de 1,5 kg.
A placenta é considerada o principal órgão endócrino produtor de esteroides
e hormônios proteicos durante a gestação. Esses hormônios, ou seja, a gona-
dotrofina coriônica humana (hCG) - também conhecida como lactogênio pla-
centário humano (hPL), o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), a
relaxina, a leptina, o estrógeno, a progesterona e outros fatores de crescimento
são importantes para a manutenção e o sucesso da gestação.

Outros órgãos que também apresentam


funções endócrinas

Pele, rins e fígado

Estes três órgãos agem conjuntamente para sintetizar e secretar a 1,2,5-di-hi-


droxi-vitamina D (forma ativa da vitamina D). Esta vitamina, juntamente com
o paratormônio (produzido e liberado pelas glândulas paratireoides), agem na
manutenção dos níveis de cálcio e fósforo no sangue.
As funções endócrinas realizadas pelo fígado são representadas pela sua c a-
pacidade de modificar a estrutura e a função de muitos hormônios (vitamina
D, tiroxina, hormônio do crescimento- GH -,insulina e glucagon) liberados por
outros órgãos.

Estômago e intestino delgado

As células enteroendócrinas, localizadas nas mucosas gástrica e entérica,


sintetizam e secretam diversos hormônios (pelo menos mais de 20), dentre os
quais a gastrina, a colecistoquinina (CCK), peptídeo intestinal vasoativo ( VIP), a
secretina, o peptídeo inibitório gástrico (GIP), a motilina e a somatostatina, que
agem de maneira parácrina (atuação em células vizinhas) e endócrina (atuação
em células distantes) . Alguns desses hormônios controlam o metabolismo cor-
poral e podem, também, estar envolvidos na regulação do peso corporal e no
surgimento da obesidade.

277
Anatomia Humana Básica

Coração
O coração sintetiza e secreta o hormônio denominado peptídeo natriurético
atrial, que promove aumento da excreção renal de sódio e dilatação dos vasos
sanguíneos em resposta a situações de aumento do volume de sangue circulan-
te e aumento da pressão arterial.

Tecido adiposo
O tecido adiposo produz várias substâncias importantes para a regulação
dos estoques de energia no corpo, dos quais um dos mais estudados é o hor-
mônio leptina, que pode ter ação ainda na regulação da ação da insulina em
diversos tecidos.

Referências

MO ORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R. Anatomia humana orienta-


da para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2014.

DRAKE, R. L.; VOGL, W; MITCHELL, A. W M. Gray's anatomia clínica


para estudantes. 3. ed. São Paulo: Elsevier, 2015.

PAWLINA, W; ROSS, M. H. Histologia: texto e atlas. 5. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara-Koogan, 2016.

NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. 6. ed. São Paulo: Elsevier, 2015.

PUTZ, R.; PABST, R. Sobotta - Atlas de anatomia humana. Órgâos internos:


órgãos do tórax; órgãos do abdome; pelve e espaço retroperitoneal. 23. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2013. Volume 2.

PUTZ, R.; PABST, R. Sobotta- Atlas de anatomia humana. Cabeça, pescoço e


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SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA. Comissão Federativa da Termi-


nologia Anatômica. Terminologia anatômica. 1. ed. São Paulo: Manole, 2001.

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FICHA TÉCNICA

Editora
Michelle Fernandes Aranha

Gerente de produção
Genilda Ferreira Murta

Assistente editorial
Roberta Almeida

Organizadora
Cristiane Regina Ruiz

Preparação e revisão
Difusão Editora

Revisão técnica (terminologia anatômica):


Cristiane Regina Ruiz

Capa
Matuza Ruiz

Projeto gráfico e editoração


Matuza Ruiz (Farol Editorial e Design)

Ilustrações
Sérgio Ricardo Rios Nascimento

Assessoria editorial
Bruna San Gregório (Centro Universitário São Camilo)

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