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— O que você quer dizer? — ela respondeu. — O julgamento que faço dos
outros tem um impacto sobre você?.
— Acho que me faz ser cauteloso em revelar coisas demais sobre mim
mesmo. Se tivéssemos uma relação de amizade, eu teria cautela em
mostrar a você o meu lado mais sombrio.
— Bem, esta questão me parece ser bem uma questão de preto ou branco.
Qual a sua opinião sobre sexo casual? Você, pessoalmente,
conseguiria imaginar separar sexo de amor?
— É claro que consigo. Faz parte da nossa natureza humana.
— Isso me causa repugnância.
Eu te adoro, mas também te odeio porque você parte, não apenas para
Argentina e Nova York e, até onde sei, para o Tibete e Timbuktu,
mas porque toda semana você parte, fecha a porta e,
provavelmente, liga a tevê para ver o jogo de beisebol ou checar o
índice Dow e fazer uma xícara de chá assobiando uma música
alegre e não pensa nem um pouco em mim — e por que deveria?
Estou na minha velha escola fundamental e converso com uma garotinha que
está chorando e saiu correndo da sua sala de aula. Eu digo: "Você
deve se lembrar que existem muitas pessoas que te amam e seria
melhor não fugir de todo mundo."
Sugeri que ela era tanto a pessoa que falava quanto a garotinha,
e que o sonho se equiparava e ecoava o próprio assunto que
tínhamos discutido na nossa última sessão. Ela respondeu: "É
claro."
Isso me exasperou: o típico era que ela não reconhecesse meus
comentários úteis e, portanto, insisti em analisar o comentário dela,
"É claro." Mais tarde, quando pensei sobre essa sessão insatisfatória,
percebi que o problema entre nós era devido principalmente à
minha obstinada determinação de esvaziar o "É claro" para obter o
crédito total por meu insight d o sonho.
Iniciei a sessão seguinte admitindo meu comportamento
imaturo e, então, fomos em frente e tivemos uma das nossas sessões
mais produtivas, na qual ela revelou vários segredos importantes que
há muito estava guardando. A revelação do terapeuta gera revelação
do paciente.
Os pacientes às vezes são importantes o bastante para entrar
nos meus sonhos, e, se acredito que de alguma forma facilitará a
terapia, não hesito em compartilhar o sonho. Certa vez, sonhei que
encontrei uma paciente num aeroporto e tentei lhe dar um abraço,
mas fui obstruído pela grande bolsa que ela estava carregando.
Contei-lhe o sonho e o vinculei com nossa discussão na sessão
anterior sobre a "bagagem" que ela tinha trazido em seu
relacionamento comigo — isto é, seus sentimentos fortes e
ambivalentes para com o pai. Ela ficou comovida por eu ter
compartilhado o sonho e reconheceu a lógica de eu o ter conectado
com sua fusão entre o pai e mim, mas sugeriu um outro significado
convincente para o sonho — a saber, que o sonho expressa o fato
de eu lamentar que nosso contrato profissional (simbolizado pela
bolsa, um porta-dinheiro, ou seja, os honorários da terapia)
impossibilite um relacionamento plenamente consumado. Não pude
negar que a sua interpretação fazia sentido, era convincente e refletia
os sentimentos que se escondiam em algum lugar bem fundo dentro
de mim.