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Livro “UNIVERSIDADE
E PSICANÁLISE - A escrita das psicanalistas”

“Como por acaso" – A experiência de análise como criação de


mundos

Eliana Schueler Reis

Existem certas situações na prática clínica que desafiam os limites do trabalho terapêutico,
constituindo momentos em que podemos perceber os fluxos de emergência de algo novo. São
momentos em que o analista se vê frente à inquietante estranheza da transferência, no que ela se
apresenta com a potência do vínculo no qual se fazem e desfazem ligações. Gostaria de falar sobre
essa estranheza utilizando o relato de uma experiência clínica, que durou alguns anos.
Neste texto, me baseio principalmente no trabalho de Sándor Ferenczi, pois foi ele que, ao
retomar a noção de trauma como elemento primordial na clínica psicanalítica, pôs em cheque certos
temas centrais na teoria e na prática clinica. Destaco especialmente a postulação do recalque como a
pedra angular dos processos psíquicos e, portanto, a matéria prima da clínica psicanalítica centrada
na interpretação. Com Ferenczi entendemos que o traumático permanece numa dimensão de não
inscrição, não obedecendo à ordem do recalque e sim a da repetição. Para alcançá-lo precisamos de
novos instrumentos e temos que aprender como “sentir com” (Einfühlung) nossos pacientes
(Ferenczi, 1928, p. 31- 32 ).
Segundo Ferenczi, acontecimentos muito intensos que se expressam no campo da
transferência, geralmente trazem à tona vivências traumáticas jamais inscritas, mas não esquecidas.
Elas permanecem num plano de existência submetido a clivagens sucessivas, no qual o sentido não
se produz como representações e sim como memória corporal e sensória, apresentando-se nas
repetições que incessantemente revivem marcas traumáticas atualizadas no momento presente. No
entanto, diversamente do sintoma, que pode aparecer como um corpo estranho provocando angústia,
a repetição traumática não é prenunciada como estranha. Ela irrompe aliada ao fator de surpresa e
despreparo psíquico; é só repetição e traz consigo o afeto do terror (Schreck), como foi assinalado
por Freud em Alem do princípio do prazer (1920, p. 12-13).
Para desenvolver esse tema trarei o relato de um atendimento que se iniciou em meados dos
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anos 1980 e perdurou por muitos anos. Rita chegou ao meu consultório aparentemente por acaso:
morava na mesma rua onde ficava a clínica em que eu trabalhava na época e um dia entrou e falou
com a secretária que precisava de atendimento. Quando a vi pela primeira vez, fiquei impressionada
com o seu modo de falar, num tom monótono, sem colorido afetivo, sem interesse, somente uma
agonia surda. Ela me pedia que a ajudasse a não enlouquecer sua filha de três anos do mesmo modo
que sua mãe fizera com ela e, antes disso, sua avó fizera com sua mãe.
– E você, o que quer para você?
– Nada, não espero nada, só não queria fazer tanto mal à minha filha, eu tenho muita raiva e
não consigo gostar dela nem tratá-la bem. Faço com ela o mesmo que minha mãe fazia comigo.
Com o meu filho eu não sinto tanta raiva, mas com ela é demais.
Refletindo depois sobre esse pedido, percebi que ela se sentia como que impossibilitada de
realizar identificações com a figura feminina em seus múltiplos aspectos: mulher, mãe, filha etc.;
estando fixada à transmissão transgeracional dessa figura de mãe destruidora que se repete sem
cessar. Rita relatou que sua família é composta só de mulheres, não há homens; eles desaparecem e a
cadeia de mulheres se desdobra pelas gerações, avó, mãe, irmãs e filha. Mulheres que fazem mal
umas as outras. Para ela ser mulher era necessário se identificar negativamente, ou seja, negar tudo
que pudesse ligá-la a essa cadeia mortífera de figuras femininas. Acredito que vinha daí a
dificuldade afetiva com a filha, mais uma mulher a partilhar esse destino.
Rita me disse que era casada, que seu marido era um bom marido e um bom pai, ela não
podia se queixar. Essas palavras me surpreenderam, pois não correspondiam ao que se espera de
uma mulher jovem. Era como se ela tivesse abandonado toda a possibilidade de ter sonhos e
esperanças. Rita estava nessa época, com 24 anos, e, como pude descobrir mais tarde, é uma mulher
interessante, inteligente e bonita. É importante ressaltar aqui, que estou levando em conta as
percepções que tive tanto nesses primeiros encontros, quanto ao longo de nosso trabalho em comum,
tomando como base as palavras de Nelson Coelho Jr sobre a percepção: Segundo o autor a
percepção é “o espaço intermediário, o lugar da ambiguidade entre o virtual e o atual, entre o
subjetivo e o objetivo, entre o psiquismo e a realidade externa” (Coelho Jr, 1999, p.98). O autor
emprega a noção de percepção no sentido atribuído a ela pelos “psicanalistas marginais” (Ferenczi
seria o primeiro dentre eles) como uma dimensão relacional inconsciente atuando no trânsito entre
transferência e contratransferência.
Para complementar essa abordagem sobre a percepção, acrescento as noções de afetos de
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vitalidade e formas de vitalidade formulada por Daniel Stern (1985, 2010) em suas investigações
sobre a construção dos “Sensos de Eu” nos bebês desde seu nascimento. Os afetos de vitalidade ou
formas de vitalidade são os diferenciais intensivos que se expressam corporalmente, em nossos
gestos, expressões e ritmos. Configuram-se assim como as primeiras dimensões perceptivas
constituindo a base das diversas formas de “sintonia afetiva” (Stern, 1985) que se criam entre o bebê
e os adultos que o cercam e que norteiam nossos vínculos afetivos por toda a vida. É a percepção dos
afetos de vitalidade que nos guia nos contatos com nosso entorno.
Venho utilizando a noção de “afetos de vitalidade” juntamente com o conceito de “pequenas
percepções” formulado por Leibniz (1750) e retomado pelos filósofos Gilles Deleuze (A dobra) e
José Gil (1996) na compreensão dos modos de percepção estética, seja ela da obra de arte ou dos
modos com que nos relacionamos com os outros numa dimensão de afetações inconscientes atuando
num plano de intensidades. Nesse sentido, as pequenas percepções carregadas de afetos de vitalidade
que me marcaram no primeiro encontro com Rita entram em cena como elementos relacionais
fundamentais. Nesse dia ela me pareceu uma coisa indefinida, como se sua imagem estivesse
enevoada. Não poderia nem mesmo dizer se era gorda ou magra. Em tudo que falou nesse primeiro
contato não havia nenhuma referência a prazer ou desejo, somente a urgência em resolver um
problema, que se colocava na ordem da loucura, sua ou da filha. Tinha a voz monocórdia, algo que
me impressionou e incomodou, não parecia a voz de uma pessoa viva. Será que os mortos falam?
Durante alguns dias, fiquei em dúvida se teria condições de atendê-la, pois me pareceu tão
inacessível, que cheguei a pensar numa psicose, numa esquizofrenia. Tal foi a impressão de
fragmentação, que me causou sua fala, sua voz e postura corporal. Não podia entender o que o seu
pedido implicava para mim, e, naquele momento, não tinha clareza se naquele momento específico
de minha vida eu teria disponibilidade para estar com alguém que trazia a presença de algo
extremamente arcaico. A impressão de morte que me causou, vinha daí, como se os fantasmas
estivessem mais presentes do que a própria pessoa de Rita.
Na segunda vez que a vi, ela parecia ter um contorno mais definido, mais intenso, me
trazendo a impressão de alguma vitalidade. Disse que precisava me dizer uma coisa que tinha tido
vergonha de dizer na primeira vez. Começava a surgir algum afeto: a vergonha tão nossa conhecida!
Queria contar que seu marido era vinte anos mais velho do que ela. Tinha sido seu patrão e depois de
um breve namoro ela engravidara e passaram a viver juntos. Rita tinha dois filhos, uma menina de
três anos e um menino com oito meses. A primeira associação que fiz, foi de uma figura paterna
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sendo buscada nesse casamento, já que ela havia dito que não existiam homens na família. Eu não
estava totalmente enganada, porém as questões envolvidas nessa relação não diziam respeito
somente à situação edípica.
Rita disse também, que há muito tempo passava pela porta da Clínica e pensava que devia
entrar, mas não tinha coragem. Até que, naquele outro dia, havia entrado sem pensar e quando se viu
lá dentro ainda tentou voltar atrás, mas não houve tempo, a secretária veio falar com ela. Foi como
se ela se dividisse para realizar essa ação de trazer para a análise uma parte de si que se encontrava
muito doente, muito debilitada. Ao mesmo tempo, sentia-se ali em meu consultório, como que presa
numa armadilha. Aqui me reporto à referência de Winnicott a um “falso self ama-seca” que se
incumbe de descobrir a psicanálise e trazer a paciente para a análise. Depois de um tempo ele delega
sua função ao analista, mas fica por perto e retoma os cuidados de ama-seca nas ocasiões em que o
analista venha a faltar (Winnicott, 1960, p. 130). Relaciono a situação também à clivagem
traumática tematizada por Ferenczi na qual o eu se divide em um ser debilitado que sente tudo, mas
nada sabe e nada pode fazer e outro que tudo sabe ao preço de nada sentir. Esse eu que sabe tem a
incumbência de cuidar para que nada de mal aconteça com sua outra parte. Essa fragmentação atua,
segundo Ferenczi como uma defesa em que a multiplicação de superfícies ameniza a violência do
impacto traumático (Ferenczi, 1932, p.72). Minhas percepções iniciais sobre Rita, seu tom de voz
inexpressivo, seu tônus corporal quase fantasmagórico, sinalizavam algo da ordem do traumático,
que excedia o disfarce do recalcado. Na verdade, indicavam a presença de um trauma devastador.
Voltando a Rita, qual era a sua queixa? A raiva, uma raiva tão violenta que tinha medo de
fazer alguma coisa ruim demais com os filhos. A sua inexpressividade e o pouco tônus corporal
pareciam ser defesas contra isso. Como se qualquer gesto ou expressão pudesse vir tão carregada de
ódio, que tornava necessária essa espécie de névoa, usada como medida protetora, para si própria e
para os que a cercavam. Lembro-me até hoje de como ela produzia em mim, nesses primeiros
encontros, uma sensação de gelo, como se trouxesse a morte consigo. Na verdade, era como ela se
sentia; congelada para não sentir e com isso proteger a si e aos outros de suas possíveis ações
violentas.

Trauma e identificação com o agressor


Em nosso trabalho como analistas a figura da morte nos aparece em muitos momentos, seja
no sentido mais literal da ameaça de morte física, seja no sentido figurado como morte subjetiva.
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Escolhi este exemplo clínico, na medida em que desejo explicitar a ligação entre os temas do trauma
e da morte como silenciamento, partindo de uma inspiração ferencziana. Ferenczi nos diz que a
experiência traumática não se resume a um abuso sexual pontual praticado contra uma criança por
um adulto tomado pela virulência de seus desejos deixando uma marca de violência. O abuso pode
se dar por outras vias que não a estritamente sexual. Ferenczi (1931, p. 105) se refere ao amor
excessivo e aos castigos desmedidos dirigidos às crianças pelos seus familiares, e no quanto esses
atos correspondem a um abuso do adulto, ao usar a criança como um objeto capaz da dar conta de
suas paixões. Aqui opera o que Ferenczi (1931, p. 103) denominou “confusão de língua entre os
adultos e a criança” afirmando que a vivência libidinal infantil se dá no regime da ternura, na
dimensão do amor objetal passivo (Ferenczi, 1931, p. 78) em que o objeto está próximo da ilusão e
da experiência lúdica. Enquanto os adultos (tanto o que seria o agressor quanto aquele para o qual a
criança se voltaria em busca de acolhimento) são regidos pela linguagem da paixão, submetida ao
recalque e à culpabilidade, que os obriga a desconhecer seus sentimentos, ficando impedidos de
perceber a alteridade singular da vivência infantil.
Ferenczi (1931, p.103) acrescenta que o trauma tem a sua virulência marcada pela ausência
de sentido que se produz quando a criança procura no mundo adulto a reverberação de seu
sentimento de dor e não é acolhida, ao contrario: o outro significativo para ela, seja a mãe ou outro
adulto em quem ela confie, desmente seu relato, desautoriza o seu pedido e nega a ela a efetividade
do acontecimento. O desmentido faz cair o silêncio sobre a vivência infantil, deixando como marca a
morte do sentido. O "terrorismo do sofrimento" (1931, p. 105) é outro modo de atrair uma
criança, causando um efeito traumático sobre o processo de seu desenvolvimento subjetivo,
produzindo um amadurecimento precoce, como acontece com o fruto bicado pelo passarinho, que
também amadurece mais rápido e a partir do lugar em que foi ferido (1931, p 104). A criança se
torna o bebê sábio real (Ferenczi, 1923), o psiquiatra da família, aquele que tem a missão
salvadora de preencher os vazios infantis de seus pais (Ferenczi, 1931, 105). A confusão de língua
e o desmentido deixam a criança desamparada em um sofrimento cujo sentido ela não pode
engendrar sozinha. O desmentido impede que o vivido possa fazer parte de uma historia que integre
sofrimento e acolhimento e como tal venha a ser evocada. Nestas circunstâncias, resta à criança,
como estratégia de sobrevivência subjetiva, a identificação com o adulto encarnado na figura do
agressor (Ferenczi, 1933, p. 102). É um paradoxo que a criança para se proteger, tenha que
assumir como parte de seu eu a figura temida do agressor.
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E isso aparece, no caso de Rita, na identificação com dois aspectos da experiência vivida
de agressão: a violência e a culpabilidade. Ferenczi se refere às pessoas que viveram traumas
precoces e que se constituíram em função disso, dizendo que a criança é posta fora de si pelo
choque e a clivagem é o resultante desse acontecimentoo. O espaço vazio criado pela clivagem
do eu será ocupado pelo agressor por identificação” (1932, p. 259). Sendo assim:

A pessoa divide-se em um ser psíquico de puro saber que observa os eventos a partir de fora,
e num corpo totalmente insensível. Na medida em que o ser psíquico ainda é accessível aos
sentimentos, incide todo o interesse no único sentimento que subsiste de todo o processo,
isto é, o que o agressor sente. Tudo se passa como se o psiquismo, cuja única função consiste
em reduzir as tensões emocionais e evitar as dores no momento da morte de sua própria
pessoa, transferisse sua função de apaziguamento do sofrimento automaticamente para as
tensões e paixões do agressor, a única pessoa que sente alguma coisa – isto é, a identificar-se
com aqueles (p. 142)
No caso de Rita veremos como a experiência traumática exigiu dela um esforço psíquico a
mais nos sentido de sobreviver e sobrepujar a dor e de como a clivagem lhe possibilitou identificar-
se pelo não; isto aparecia em sua negatividade frente a qualquer risco de afirmação de sua
subjetividade. Ela não podia ser nada, ter nenhuma identidade reconhecida socialmente, ter nenhum
sucesso. Nenhuma alegria lhe era permitida, sob o risco de desencadear um terror mortal, seguida de
uma descarga sob a forma de crise de fúria.
Rita não é esquizofrênica, e depois de um tempo trabalhando juntas eu me desinteressei por
definir uma hipótese diagnóstica razoavelmente satisfatória. O que tivemos foram anos de trabalho
calcado mais em intuições baseadas nas percepções que tínhamos de seus ritmos e dos modos pelos
quais ela se aproximava de suas lembranças e as trazia para mim. Muitas vezes ela fazia isso através
de sonhos, e mesmo de relatos de livros ou filmes que assistira e que adquiriam um caráter onírico.
O início de nosso trabalho se deu exatamente quando eu estava começando a conhecer a obra de
Ferenczi e devo dizer que movida por essa relação comecei a me perceber como uma analista que se
afastava aos poucos dos cânones freudianos para experimentar a elasticidade da técnica proposta por
este autor.
Desde nosso primeiro encontro ficou claro que Rita precisava urgentemente de algo que
sustentasse os afetos aterrorizantes causados pela ausência, quase completa, de experiências
relacionais subjetivadoras. As mulheres da família se apresentavam como destruidoras (inclusive
dos homens, que ou morriam ou iam embora), causando pavor a ideia que pudesse ser como elas, e,
ao mesmo tempo, a certeza de que estava repetindo tudo com sua filha. O ódio pela filha era a
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expressão do ódio pela mãe e por si própria. As figuras masculinas compunham o circuito de
desaparecidos ou então, de perseguidores, através da figura do padrasto, cujo papel foi crucial em
uma família sem homens.
Rita sofreu abusos sexuais da parte de seu padrasto, durante os anos de sua infância, assim
como ele a submetia a castigos cruéis e insanos. Isto só cessou no início da puberdade quando,
segundo ela, o padrasto passou a atacar a sua irmã mais nova. Temos aqui uma violência real que, no
entanto não basta para explicar o vazio de representações erotizadas ao qual ela se obrigou. Rita
realizou investimentos, pois tem seus filhos e conseguiu cuidar bem deles, apesar de suas fantasias
de destruição. Mas isso não adquiria o sentido de prazer ou de realização narcísica. Pelo contrário,
aparecia sempre como um risco. Ela me perguntava às vezes: "o que faz com que eu não jogue os
meus filhos pela janela, se eu penso tanto nisso?”.
Sua percepção de si, enquanto mãe que cuidava e brincava com os filhos, estava separada da
mãe que odiava. As duas não se conheciam, não se comunicavam, uma não podia informar a outra.
Os investimentos feitos, o prazer que experimentava, na convivência com os filhos, era
desconhecido por outra Rita, que desejava matá-los.
Esse é um efeito da clivagem do eu que não institui tópicas psíquicas, mas afeta ao eu em sua
constituição. Quando o adulto deixa de cumprir sua função de mediador, a criança tomada pelo
terror experimenta uma situação próxima ao transe, estado de comoção psíquica em que se
rompem os elos com a realidade (Ferenczi, 19.9.1932, p. 109,110) Frente ao risco eminente é
obrigada a realizar, por clivagem, uma identificação prematura com o papel de adulto, passando a
cuidar de um eu ferido.

Catástrofes e subjetivação
Apesar dos abusos do padrasto, a grande violência de que Rita se ressentia, mesmo sem
poder formular, causadora do vazio nas experiências relacionais, era a do desmentido da mãe. Ela
não sabia o nome de seu pai, nem do pai de duas outras irmãs. A única fotografia que existe de sua
infância é disputada pela mãe como sendo dela (mãe), não se sabendo a quem pertencia aquela
imagem. Durante a sua análise, Rita formulou a dúvida, que se transformou em certeza, de que a
sua mãe tinha conhecimento do que acontecia com as filhas. Além do abuso sexual, o padrasto as
espancava por qualquer pequena falta, sem que a mãe viesse defendê-las. A mãe sabia e não dizia
nada, condenando o acontecimento a um silêncio mortal. Quando começamos nosso trabalho, Rita
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repetia que estava errada, que era louca e má como sua mãe, pois não conseguia saber se gostava de
seus filhos. E afirmava: “Uma mãe gosta dos filhos”!
Ferenczi pensa a repetição como um funcionamento que tem duas direções: a da fixação do
trauma e a da possibilidade de resolução. O sonho que repete a vivência traumática é uma tentativa
de liquidação do trauma, tanto pelo gasto energético quanto pela possibilidade de criar uma nova
ligação e um novo sentido para o evento traumático. Segundo Ferenczi,
“a tendência à repetição na neurose traumática também tem uma função intrinsecamente útil:
ela vai conduzir o trauma a uma resolução, se possível definitva; (..)É de se supor que essa
tendência também exista mesmo onde não vinga, ou seja, onde a repetição não leva a
qualquer resultado melhor do que o traumatismo originário (Ferenczi, 26.3.1931).
É na repetição que o trauma se fixa e é pela repetição que o psiquismo pode liquidar o
trauma. O trauma originalmente é um acontecimento e a primeira repetição vem com o desmentido
que fixa o não sentido do acontecimento. A violência da experiência traumática é reafirmada pela
ausência do reconhecimento de outro significativo que daria ao acontecimento seu estatuto de
realidade e ao mesmo tempo teria a função de interditar o adulto tomado pela paixão. O desmentido
repete e fixa o trauma, tendo como consequência a condenação ao silêncio de uma parte do eu que
permanece apartada dos processos identificatórios, deixando como sucedâneo um arremedo de
super-eu extremamente rígido, resultante da identificação com o adulto agressor (Ferenczi, 1931. ).
A repetição das vivencias traumáticas durante a análise trouxe a possibilidade de uma nova
experiência. Ferenczi formulou a ideia da regressão que permite reviver situações infantis na análise
e essa repetição realizada em companhia do analista que testemunha o sofrimento da criança
inscreve uma diferença. A semelhança e a diferença na semelhança, entre a situação analítica e a
situação infantil, permite o processo de transformação que se produz na cura analítica (Ferenczi,
1928).
Aqui é importante fazer uma colocação que é tanto clínica quanto teórica e metodológica: no
entender de Ferenczi, o psiquismo se constitui através de vivências catastróficas, de rupturas que
rompem com um equilíbrio existente. Ferenczi considera o tempo em que o feto vive no interior do
corpo da mãe e do qual todos nós guardamos uma memória residual e sensória. Com o nascimento,
passamos a viver num mundo em que a necessidade nos impele a desejar trazendo a nostalgia de um
estado perdido. Mas esse trauma organiza nossa vida no mundo, todas as exigências feitas ao bebê e
à criança para sua existência atuam como traumas estruturadores. Como contrapartida a esse
percurso oscilante, Ferenczi considera que mantemos a memória sensória de uma vivência de
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satisfação irrestrita, presente nas marcas deixadas pelo tempo passado no interior do corpo da mãe.
Essa concepção se refletiu em sua clínica quando passou a considerar legítimo que os analisandos
reivindicassem a atenção plena do analista, pois através dessa demanda de ligação total o analista
tem acesso ao que se encontra clivado (Ferenczi, 1931, p. 78).

O analista como objeto


O vinculo que se criou entre nós era muito intenso e ultrapassava a dimensão da
transferência como reprodução de cenas infantis recalcadas. Havia algo de novo sendo gerado nesse
encontro tanto para Rita quanto para mim. Tanto ela quanto eu vivíamos um tipo de relação inédita
para nós, pois eu acreditei na realidade de sua história, quando os cânones psicanalíticos vigentes
diziam que era para tratar todos os relatos de abuso infantil como fantasias recalcadas de desejo. No
que me dizia respeito, me via aprendendo novas formas de relação clínica ao dar o testemunho da
legitimidade de sua dor. Esse vínculo se expressou num sonho relatado alguns meses depois de
iniciada a análise.

"Era o fim do mundo, eu queria ir para a Bahia, mas não conseguia. Fui para o aeroporto
tentar pegar um avião para a Itália. No meio da confusão sentei perto de uma freira e
pensei: se eu segurar a mão dessa freira talvez eu consiga me salvar. Segurei a mão dela e
acordei".
As associações que o sonho lhe trouxe foram extremamente aguçadas para alguém que
estava em análise há poucos meses. O fim do mundo era o modo como se sentia. Bahia é o estado de
origem do marido. A Itália é o país de origem de sua família de mulheres. A freira sou eu. Se ela
conseguisse voltar às suas origens poderia se salvar. Mas isso só seria possível com a ajuda de uma
pessoa sem história, sem sexo, sem desejo. Para ela, era como se eu vivesse ali no consultório. Se
me imaginasse fora, tendo família e filhos, ficava desorientada. Eu tinha que existir só para ela,
como se fosse uma criação sua. Na verdade, como fui percebendo ao longo do tempo, a minha
existência, foi a primeira criação que se permitiu fazer em muitos anos. Os filhos, inicialmente
considerados como posse do marido, foram se constituindo em outra experiência criativa, na medida
em que ela pode experimentar a relação como eles como possível e mesmo prazerosa.
Uso o termo criação, pois entendo que o rompimento com o ciclo de repetições do mesmo (a
cadeia de mulheres loucas e más), só pode ser efetivado por uma invenção do sujeito, utilizando a
presença do analista como suporte do ato criador. O deserto afetivo em que ela se sentia obrigada a
se manter servia de proteção contra a violência dos sentimentos que só podiam se expressar através
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de um agir, de uma descarga, pelas crises de raiva, que a faziam sentir-se louca e perigosa. Nesse
deserto, a inserção da minha presença só podia se dar me identificando à figura do “bem absoluto”,
simétrico à figura da mãe destruidora e má. Eu era boa, tinha que ser. Tinha que sustentar sua
afirmação "uma mãe gosta dos filhos!"
A atmosfera que predominou em nossa relação durante um tempo (os primeiro três anos),
foi, basicamente, de idealização do objeto, com um sentimento de dependência semelhante ao do
bebê em relação à sua mãe. Na verdade, me ocorria a imagem de que eu mastigava e colocava em
sua boca, como passarinho, as palavras que porventura viesse a dizer. Ferenczi (1909, p.79), ao
formular o conceito de introjeção vinculando-o ao conceito de transferência, utiliza a noção de
investimento como uma articulação dos aspectos tópicos, dinâmicos e econômicos, no sentido de
anexação, de apropriação e construção de espaços psíquicos. 1 O processo de introjeção
caracteriza o crescimento do psiquismo através das ligações que vão sendo realizadas. Através da
introjeção dá-se um alargamento da esfera de interesses do Eu pela extensão ao mundo externo
do interesse originalmente auto-eróticos. Ferenczi considera “todo amor objetal (ou toda
transferência) como uma extensão do ego ou introjeção (Ferenczi,1913, p. 181) e o vínculo
transferencial que se criou entre nós propiciou que isso acontecesse. Não me refiro somente ao
que se passou com ela, mas também o que se passou comigo, pois me tornei uma analista capaz
de viver essa experiência na medida em que ia acontecendo. O alargamento da esfera de
interesses do Eu através da introjeção vivida na transferência foi um processo mútuo.
Tudo isto se passava no espaço do consultório que nos primeiros anos era uma sala situada
em cima da garagem de uma casa, apartado do resto da construção, como uma torre isolada na qual
eu existia só para ela. Durante muitos anos, Rita não quis saber o número do telefone de minha casa.
O risco de mergulhar numa relação fusional era por demais presente e o consultório funcionava
como espaço protegido, um espaço virtual, que impedia a ação violenta das pulsões. Considerei um
sinal de sua autonomia quando, finalmente, aceitou anotar o número do meu telefone para poder me
avisar de uma mudança em seus horários. Mas usou esse recurso somente em situações

1
A palavra “investimento” que estou utilizando corresponde à tradução do termo usado por Freud em
alemão "Besetzung". Segundo o tradutor da edição castelhana da Editora Amorrortu das "Obras
Completas de Freud", a melhor tradução para esse termo é "ocupação militar de um território ou de um
posto telegráfico". A ideia de ocupação implica no estabelecimento de um território, isto é, de um espaço;
implica também em um período de tempo e numa certa quantidade de elementos (forças) para ocupar esse
espaço (Etcheverry, J. L. 1978) O investimento confere um valor ao território ocupado, ou seja, implica
em dotá-lo de uma qualidade que o diferencia dos outros espaços. Para se realizar uma ocupação são
requeridas quantidades, mas também uma "estratégia de posições".
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extraordinárias, pois "não queria abusar". Vemos como a marca do “abuso” era algo que poderia ser
ativado a qualquer momento; se ela abusasse eu poderia me tornar abusiva também. Medidas de
segurança que faziam parte desse universo marcado pelo desmentido da sua condição de existente
enquanto sujeito.
Se pensarmos a transferência como um processo introjetivo e não só de repetição de cenas
passadas percebemos que o espaço da análise funcionou como espaço transicional de
experimentação e de criação (Winnicott, 1951, p. 15). Nesse caso, minha presença assegurava-a,
dando-lhe vontade de conhecer novas coisas. Durante um bom período, Rita me falava sobre as
coisas que estava descobrindo: os pensamentos, os livros, os filmes, suas opiniões sobre política.
Eram conversas que aconteciam num espaço/tempo em que a presença do analista funcionava como
barreira protetora contra a vivência violenta da repetição traumática. Até então, Rita não se arriscava
a ir ao cinema, porque se misturava no filme e ficava desorientada. Quando viu A Rosa Púrpura do
Cairo, de Woody Allen, ficou chocada, pois lhe parecia impossível que alguém pudesse perceber
as coisas daquele jeito, isto era segredo seu. Da mesma forma, não conseguia pensar sobre as outras
coisas sem se sentir misturada e tomada pelas emoções mais intensas.
Sentia-me um pouco como a mãe benevolente que assiste a filha crescer e se diferenciar.
Esse lugar era desafiador e me perturbava, na medida em que me via sempre pondo à prova os
modelos de como ser analista, precisando refletir a cada momento sobre o que estava se passando,
para evitar um retraimento ou um excesso de cuidados. Tanto um quanto o outro eram detectados
por ela quase imediatamente, causando uma reação, inicialmente de angústia e mesmo pânico, mas,
com o tempo, transformando-se em denúncia da minha escorregadela.

Separação como um silêncio de vida


No início do quarto ano de análise, depois de um período de muita resistência, mau-humor e
reclamações, Rita me comunicou que tinha decidido interromper a análise. Alegou inicialmente falta
de dinheiro, mas depois disse que não podia continuar porque precisava ficar só. Precisava saber se
podia viver sem mim. Parece que as dificuldades dos últimos tempos deviam-se à angústia com os
movimentos que ela realizava para se sentir “vivendo a sua vida” e a ameaça que a minha presença
lhe trazia. Ela se constituíra em grande parte por identificação ao agressor e a força do vínculo que
nos unia fazia com que a minha figura ficasse também ameaçadora. Era difícil distinguir o agressor
do protetor. Podemos pensar que a separação dessas figuras pudesse se fazer no trabalho de
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interpretação e não tivesse que ser agida. Mas, me pareceu que ela precisava da ação para que a
interdição viesse como algo de fora, usando o analista como figura de ancoragem que ela poderia
abandonar sem temer uma destruição.
Rita foi embora com muito sofrimento, mas com alívio. Passados dois anos voltou a me
procurar, e sua posição em relação a mim e ao processo de analise havia mudado. Não se encontrava
mais sujeita aos terrores causados pelos afetos em ebulição. Considero que esse movimento de se
afastar possibilitou um reasseguramento de sua existência autônoma e não submetida à minha
presença concreta. Na verdade, assim como a duração de uma analise não se mede pelo tempo
cronológico, o tempo do afastamento também decorreu nesse registro. Como se ela, como o bebê,
precisasse ir ao outro cômodo brincar sozinha, sabendo que a mãe permaneceria fazendo suas coisas.
Depois a criança voltaria e reencontraria a figura da mãe, mas tendo tido experiências singulares no
seu percurso solitário.
A retomada do trabalho implicou numa nova articulação do vínculo transferencial: o
fantasma de não poder viver sem mim já não era tão presente, assim como a impossibilidade de
conviver com a percepção de que eu tinha uma vida fora da relação com ela. Isto tinha sido provado
na prática, pois ela não retornou à análise porque estava mal, mas, porque estava bem e podia então
desejar alguma coisa. A nova posição ocupada por ela na transferência tornou possível outro modo
de relação com sua mãe. Durante anos Rita teve um sonho recorrente no qual se encontrava num
ônibus ou qualquer veículo, elevador, por exemplo, tentando voltar para sua casa atual. Geralmente
vinha de sua cidade de origem. Porém, nunca conseguia chegar ao seu destino. Podemos ver nesse
sonho a característica dos sonhos traumáticos, que repetem sem cessar uma vivência, no caso a
irresolução do vivido pelo desmentido expresso em uma frase sua: “Quem ouve uma criança?”
Pouco mais de um ano depois da retomada da análise, Rita teve uma conversa com sua mãe
em que esta lhe disse que sabia o que acontecia com ela e o padrasto. Mas que nunca fez nada
porque tinha medo do marido. Rita não aceitou esta justificativa, no entanto, falou de um alivio, pois
“Agora ela sabia que era verdade”. Pela primeira vez a realidade traumática que moldou a história de
sua vida foi confirmada por uma palavra da mãe. Logo depois ela teve um sonho:

"Sonhei que estava havendo um bombardeio, durante uma guerra. Entrei num abrigo
antiaéreo e percebi que meu pai verdadeiro estava comigo. Ele estendeu a mão e segurou
em meu braço. Fiquei gelada e pensei: será que vai começar tudo de novo? Esperei para
ver o que ia acontecer. Mas, ele só segurou o meu braço para me ajudar a achar o
caminho para um lugar mais protegido dentro do abrigo. Senti um alívio enorme, uma
sensação boa e pensei: é mesmo o meu pai e ele só quer cuidar de mim.”
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Neste sonho, vemos se repetirem os mesmos elementos do primeiro: uma ameaça de


destruição e a procura por um abrigo. Mas, enquanto no primeiro a salvação viria da volta à origem,
às raízes familiares através de uma fuga, no segundo sonho, o abrigo antiaéreo se colocava como um
lugar social, onde várias pessoas buscam refúgio. A diferença primordial entre os dois sonhos está
em que, no segundo sonho, o pai aparece como figura protetora, quebrando com a cadeia de
mulheres em que ela se encontrava presa. Ambos os sonhos falam da morte, do desespero e da
busca pela salvação. Porém, no primeiro, a salvação só pode vir pela redenção das mulheres, através
da figura ideal da freira, mulher sem sexo, sem história pessoal. No segundo, a figura masculina é
introduzida, quebrando um círculo fechado de ancestralidade feminina, possibilitando que a sedução
possa aparecer na fantasia, como ameaça e como desejo, não mais referida ao real. A partir desse
momento, Rita não sonhou mais com os veículos e os temas de seus sonhos se diversificaram, apesar
de ainda retornarem amiúde à figura da mãe.
O processo de análise, iniciado "como por acaso", tornou possível a passagem da repetição
traumática, que retorna de modo alucinatório, como ameaça real, para a repetição do trauma, como
aquilo que desfaz as ordens existentes e fixadas, trazendo a possibilidade de uma nova experiência.
Em muitos momentos, meu papel como analista foi equivalente ao de um cuidado materno,
sustentando um vínculo transferencial, em que a "pessoa da analista” era tomada como objeto,
superposta ao objeto materno investido negativamente. Através do investimento no vínculo comigo,
Rita pode tomar contato com um objeto-mãe todo esburacado, fedido, rabiscado, como vemos nos
desenhos em análises de crianças. Nessa relação intensa e árdua para nós duas, esse objeto foi sendo
restaurado, até chegarmos ao ponto de Rita poder ouvir alguma coisa de sua mãe. Pode ouvir que,
mesmo tendo sido conivente, sua mãe sabia que aquilo estava errado, conferindo assim um sentido,
um valor às experiências traumáticas de sua infância.
Retomando Ferenczi, considero que o processo de análise de Rita operou por meio de
desintrincações e intrincações pulsionais, implicando a destrutividade em ação no psiquismo como
possibilidade de criar um devir (Ferenczi, 1926). Nesse processo a ação de Eros liberada pela
desintrincação pulsional foi o motor de novas ligações e novos sentidos. A polissemia das línguas
faladas em vários momentos da existência humana encontra na experiência psicanalítica um lugar de
expressão. Na experiência clínica não há certeza, nem conhecimento prévio. O ato analítico
preconizado por Ferenczi é uma surpresa para ambos, analista e analisando. É com a surpresa que se
pode realizar uma nova ligação, um sentido, uma nova visão da história pessoal. O surpreender-se se
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assemelha ao traumático e o risco da morte, pelo despreparo que experimentamos. É uma


experiência de separação, de corte, que faz com que a pulsão circule. É a oscilação entre
desintrincação e intrincação pulsional. É traumático como tudo que altera, rompe um equilíbrio
preexistente. O trauma é desestrurador e estruturador do psiquismo, enquanto aquilo que se impõe
como diferença pura e como possível sentido, através da repetição. Isto se dá num turbilhão de
línguas diferentes, faladas por vozes diferentes, que habitam o mesmo espaço subjetivo, mas,
determinam diferentes modos de subjetividade. A língua da boca, do olhar, da pele, dos buracos de
entrada e saída. A língua da ternura, da paixão, do ódio, da revolta, do ressentimento, do medo, da
submissão. O ato analítico se define nessa multiplicidade: pode ser uma palavra, um gesto, uma
presença, uma ausência.
Ser analista é poder escutar e falar essas línguas desfazendo o silêncio mortífero instalado
pelo desmentido. O instrumento usado para essa tarefa é o tato, a "capacidade de sentir com"
(Ferenczi, 1928, p.27, 32). Em seu Diário Clínico, anotações clínicas e teóricas, feitas em seu último
ano de vida, Ferenczi discute a questão dos pacientes traumatizados; aqueles que não têm como
fazer um pedido de análise, porque se veem como desvalidos. Esses pacientes se utilizam da
transferência como repetição da situação traumática. Na verdade, não esperam mais nada, não se
sentem dispostos a tentar mais nada. O lugar da transferência corre o risco de se tornar,
simplesmente, o palco de mais uma cena traumática, que tende a se repetir sempre igual porque
haveria somente uma língua para traduzir os afetos. O analista que percorre, em sua análise, essa
multiplicidade de lugares, de histórias, fala as línguas mais diversas, adquirindo um saber sobre si,
sobre a experiência da loucura, que lhe dá a possibilidade de sentir junto com o outro e ouvir essa
criança que “ninguém escuta”. Rita rompeu o silêncio quando entrou por aquela porta e iniciamos
sua análise, num processo pelo qual foi conquistando cada vez mais a força de sua voz como a poeta
que veio a se tornar.

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